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Ordem Vocacional Hereditária

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DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES 
 
Módulo: 
Sucessão Legítima 
 
TEMA 02 – Ordem Vocacional Hereditária – 
Sucessão dos Descendentes; Sucessão dos 
Descendentes em concorrência com o Cônjuge 
ou Companheiro Sobrevivente. 
 
1. ORDEM VOCACIONAL HEREDITÁRIA 
 
Mencionamos em estudos recentes sobre os conceitos e disposições gerais do 
direito das sucessões. Neste momento, observaremos sobre alguns aspectos 
específicos, tal como a ordem vocacional hereditária. O doutrinador Carlos Roberto 
Gonçalves: 
 
Quando o de cujus falece ab intestato, a herança, como foi dito, é 
deferida a determinadas pessoas. O chamamento dos sucessores é 
feito, porém, de acordo com uma sequência denominada ordem da 
vocação hereditária. Consiste esta portanto, na relação preferencial pela 
qual a lei chama determinadas pessoas à sucessão hereditária. 
(GONÇALVES, 2012)1 
 
Assim, é preciso observar que o chamamento dos sucessores será realizado, 
com efeito, por classes, sendo que a mais próxima exclui a mais remota, nos termos 
dos artigos 1.833, 1.836, § 1º, e 1.840, todos do Código Civil. 
O Código Civil dispõe sobre a ordem da sucessão legítima em seu artigo 1.829: 
 
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (Vide 
Recurso Extraordinário nº 878.694) 
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, 
salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, 
ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou 
se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver 
deixado bens particulares; 
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; 
 
1 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil Brasileiro: Direito de Família, Vol. 7. 15ª Ed. 
Saraiva. 2012. Pág.63. 
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III - ao cônjuge sobrevivente; 
IV - aos colaterais. 
 
 
Assim, percebe-se que o legislador elegeu 4 (quatro) classes de sucessores: 
 
1ª Classe: Descendentes e 
Cônjuge/Companheiros em 
concorrência. 
3ª Classe: Cônjuge/Companheiro. 
2ª Classe: Ascendentes e 
Cônjuge/Companheiro em 
concorrência. 
4ª Classe: Colaterais até 4º grau – 
irmãos, sobrinhos, tios, primos, tio-avô, 
sobrinhos netos. 
 
É preciso observar que essa ordem é preferencial; e pode-se ver três 
importantes inovações apresentadas pelo Código Civil de 2002 no capítulo concernente 
à ordem da vocação hereditária: 
 
a retirada do Estado do rol de herdeiros legítimos, uma vez que não adquire, 
somente os recolhendo depois de verificado o estado de jacência da herança e de 
sua conversão em patrimônio vago 
 
a colocação do cônjuge no elenco dos herdeiros necessários, concorrendo com os 
herdeiros das outras ordens de vocação para suceder 
a ausência de previsão do benefício do direito real de usufruto em favor do cônjuge 
sobrevivo, como consequência da aludida concorrência com os demais herdeiros 
destinada à aquisição de direito mais amplo sobre uma parte do acervo, que é o 
direito de propriedade, malgrado a manutenção do direito real de habitação sobre a 
residência familiar, limitado ao fato de ser este o único bem com tal destinação. 
 
 
 
2. SUCESSÃO DOS DESCENDENTES 
 
Conforme dispõe o artigo 1.829, I do Código Civil, a primeira classe a ser 
chamada é a dos descendentes; portanto havendo alguém que pertença a essa classe, 
afastados ficam todos os herdeiros pertencentes às subsequentes, salvo a hipótese de 
concorrência com cônjuge sobrevivente ou com companheiro. 
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A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: 
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, 
salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, 
ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou 
se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver 
deixado bens particulares; 
 
Como ensina Carlos Roberto Gonçalves: 
 
Dentro de uma mesma classe, a preferência estabelece-se pelo grau: o 
mais afastado é excluído pelo mais próximo. Se, por exemplo, 
concorrem descendentes, o filho prefere ao neto. O princípio não é, 
todavia, absoluto, comportando exceções fundadas no direito de 
representação (...) (GONÇALVES, 2012)2 
 
Assim, se transmite a herança em primeiro lugar à classe dos descendentes, e 
por expressa disposição legal do artigo 1.833 os mais próximos excluem os mais 
remotos; salvo no direito de representação. 
Portanto, a sucessão dos descendentes podem se dar por cabeça por estirpe. 
A sucessão por cabeça é aquela que o por direito próprio, ou seja, quando os 
descendentes são do mesmo grau, a herança lhes é dividida em partes iguais, conforme 
o número de herdeiros; conforme se verifica do Artigo 1.834 do Código Civil. 
Já a sucessão será por estirpe quando herdeiros de graus distintos herdam por 
direito de representação. Isso em virtude da existência de um herdeiro pré-morto (vide 
Anexo 01). 
 
2.1. DO DESCENDENTE SOCIOAFETIVO 
 
Antes de adentrarmos sobre a temática do descendente socioafetivo, devemos 
compreender sobre a filiação socioafetiva. Determinada revista jurídica conceitua: 
A filiação socioafetiva é certificada pelos laços de afeto, e apoio 
emocional, entre pais e filhos que não possuem ligação sanguínea. Por 
ser um fato já comum na sociedade, como em casos de adoção, a 
Constituição Federal de 1988, junto ao Código Civil, trouxeram respaldo 
jurídico para essa modalidade familiar. 
Em outras palavras, a filiação afetiva busca dar o devido 
reconhecimento jurídico da maternidade e paternidade para a família 
constituída. (REVISTA BOSQUÊ ADVOCACIA)3 
 
2 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil Brasileiro: Direito de Família, Vol. 7. 15ª Ed. Saraiva. 2012. 
Pág.63. 
3 Revista Bosque advocacia. O que é filiação socioafetiva? Disponível em: 
<https://bosqueadvogados.com.br/o-que-e-filiacao-socioafetiva/> Acesso: 22.ago.22 
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Portanto, como explicado no artigo acima, a filiação socioafetiva é aquela que 
não possui laços sanguíneos, mas afetivos – deixando claro que, ambos possuem os 
mesmos direitos. 
No âmbito do Supremo Tribunal Federal foi reconhecida a repercussão geral da 
matéria, especialmente a respeito da colisão entre o vínculo socioafetivo e o biológico, 
no ARE 692186 RG/DF da relatoria do Min. Luiz Fux, em 29.11.2012; como a 
repercussão geral no (RE 898.060/SC, da relatoria também do Min. Luiz Fux; em 
21.09.2016, com fixação da tese segundo a qual um vínculo parental não exclui o outro. 
Assim, a regra passou a ser a multiparentalidade, abrigando a tutela jurídica 
concomitante, para todos os fins de direito, os vínculos parentais de origem afetiva e 
biológica, promovendo a mais completa e adequada tutela frente os princípios 
constitucionais da dignidade da pessoa humana (art. 1.º, III) e da paternidade 
responsável (art. 226, § 7.º). 
E, assim, os tribunais têm se manifestado: 
 
Família. Filiação. Civil. Recurso especial. Ação de investigação de 
paternidade e petição de herança. Vínculo biológico. Paternidade 
socioafetiva. Identidade genética. Ancestralidade. Direitos sucessórios. 
Artigos analisados: arts. 1.593; 1.604 e 1.609 do Código Civil; art. 48 do 
ECA; e do art. 1.º da Lei 8.560/92. 1. Ação de petição de herança, 
ajuizada em 07.03.2008. Recurso especial concluso ao Gabinete em 
25.08.2011. 2. Discussão relativa à possibilidade do vínculo socioafetivo 
com o pai registrário impedir o reconhecimento da paternidade biológica. 
3. A maternidade/paternidade socioafetiva tem seu reconhecimento 
jurídico decorrente da relação jurídica de afeto, marcadamente nos 
casos em que, sem nenhum vínculo biológico, os pais criam uma criança 
por escolha própria, destinando-lhe todo o amor, ternura e cuidados 
inerentes à relação pai-filho. 4. A prevalência da 
paternidade/maternidade socioafetiva frente à biológica tem como 
principal fundamento o interessedo próprio menor, ou seja, visa garantir 
direitos aos filhos face às pretensões negatórias de paternidade, quando 
é inequívoco (i) o conhecimento da verdade biológica pelos pais que 
assim o declararam no registro de nascimento e (ii) a existência de uma 
relação de afeto, cuidado, assistência moral, patrimonial e respeito, 
construída ao longo dos anos. 5. Se é o próprio filho quem busca o 
reconhecimento do vínculo biológico com outrem, porque durante toda 
a sua vida foi induzido a acreditar em uma verdade que lhe foi imposta 
por aqueles que o registraram, não é razoável que se lhe imponha a 
prevalência da paternidade socioafetiva, a fim de impedir sua pretensão. 
6. O reconhecimento do estado de filiação constitui direito 
personalíssimo, indisponível e imprescritível, que pode ser exercitado, 
portanto, sem qualquer restrição, em face dos pais ou seus herdeiros. 7. 
A paternidade traz em seu bojo diversas responsabilidades, sejam de 
ordem moral ou patrimonial, devendo ser assegurados os direitos 
 
 
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sucessórios decorrentes da comprovação do estado de filiação. 8. Todos 
os filhos são iguais, não sendo admitida qualquer distinção entre eles, 
sendo desinfluente a existência, ou não, de qualquer contribuição para 
a formação do patrimônio familiar. 9. Recurso especial desprovido. (STJ, 
REsp 1.274.240/SC, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 08.10.2013, 
DJe 15.10.2013). 
 
Portanto, proibido está a distinção entre os filhos do falecido, todos herdando 
de forma igualitária. 
 
2.2. DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO 
 
Prescreve o artigo 1.835 do Código Civil o direito de representação, ou seja, se 
um dos filhos do falecido é pré-morto, e deixou dois filhos, netos do falecido, haverá 
diversidade em graus, e a sucessão será por estirpe, dividindo-se a herança em três 
quotas iguais: duas serão atribuídas aos filhos vivos e a última será deferida aos dois 
netos, depois de subdividida em partes iguais; por estarem representando o pai pré-
morto. 
Código civil 
Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros descendentes, 
por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau. 
 
Outra regra sucessória importante é aquela que atribui aos descendentes o 
direito à legítima, pertencendo-lhes, pleno jure, metade da herança; portanto o 
ascendente não pode dispor senão da outra metade. 
Prejudicando, em testamento, a legítima dos descendentes, reduzem-se as 
liberalidades até o limite da integridade da parte indisponível. 
 
3. DA SUCESSÃO DOS DESCENDENTES EM CONCORRÊNCIA COM O 
CÔNJUGE SOBREVIVENTE. 
 
O artigo 1.829, I do Código Civil de 2002 introduziu a concorrência do cônjuge 
do falecido com os descendentes na ordem de vocação hereditária; e conforme se 
verifica, a sucessão do cônjuge sobrevivente dependerá do regime de bens adotado 
entre o falecido e ele (vide anexo 02). 
Não se pode esquecer, mais uma vez, da inclusão do cônjuge homoafetivo, para 
todos os fins, inclusive de concorrência sucessória. 
Conforme ensina Flavio Tartuce: 
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Reafirme-se, mais uma vez para que não pairem dúvidas, que os 
descendentes e o cônjuge são herdeiros de primeira classe, em um 
sistema de concorrência, presente ou não de acordo com o regime de 
bens adotado no casamento com o falecido (...) (TARTUCE, 2017)4 
 
 
Portanto, o fato de ter que se verificar o regime de bens para fins de sucessão, 
não modifica a classe da sucessão; mas não pelo sistema instituído, quando o cônjuge 
é meeiro, não é herdeiro; quando é herdeiro, não é meeiro. 
É importante ressaltar que, a meação não se confunde com a herança. A 
meação é instituto de Direito de Família, que depende do regime de bens adotado e da 
autonomia privada dos envolvidos, que estão vivos; já a herança é instituto de Direito 
das Sucessões, que decorre da morte do falecido. 
Assim, é preciso estudar as principais consequências teóricas e práticas da 
concorrência do cônjuge com os descendentes em virtude do regime de bens escolhido 
pelo casal: 
Regime da comunhão parcial de bens (artigo 1.640, caput, CC): haverá concorrência 
sucessória do cônjuge, se o falecido deixar bens particulares. 
 
Como ensina Flavio Tartuce: 
 
Como bens particulares entendem-se justamente os bens que não se 
comunicam nesse regime, como aqueles anteriores ao casamento ou 
que o cônjuge recebeu por doação ou herança, além de outros descritos 
no art. 1.659 do Código Civil. (TARTUCE, 2017) 
 
 
Isso porque nesse regime de bens não se comunicam os bens que os cônjuges 
tinham antes do casamento, e que são denominados de bens particulares. 
Mas surge dúvida concernente aos bens sobre os quais há concorrência 
sucessória; e nesse sentido três são as correntes encontradas. 
A primeira corrente entende que na comunhão parcial de bens a concorrência 
sucessória somente se refere aos bens particulares, aqueles que não entram na 
meação. 
Esse é o entendimento de Christiano Cassettari, Eduardo de Oliveira Leite, 
Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, Gustavo Nicolau, Jorge Fujita, José 
 
4 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 6: direito das sucessões– 10. ed. rev., atual. e ampl. – Rio 
de Janeiro: Forense, 2017. Pág. 106. 
 
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Fernando Simão, Maria Helena Daneluzzi, Mário Delgado, Rodrigo da Cunha Pereira, 
Rolf Madaleno, Sebastião Amorim, Euclides de Oliveira, Zeno Veloso, Pablo Stolze 
Gagliano e de Flavio Tartuce. 
Portanto, o argumento dessa premissa é que a concorrência sucessória deve 
ocorrer justamente naqueles bens sobre os quais não há meação; isto porque o cônjuge 
herda onde não meia, conforme a conhecida frase de Cláudio Luiz Bueno de Godoy. 
Essa primeira corrente é a que prevalece na doutrina e é adotado em vários 
julgados nos tribunais: 
Agravo de instrumento. Sucessão. Partilha dos bens do inventariado. 
Viúva. Regime de casamento. Comunhão parcial de bens. Direito à 
meação em relação aos bens adquiridos na constância do casamento. 
Direito de herança, em concorrência com os descendentes, em relação 
aos bens particulares do inventariado. Decisão mantida. 1. No regime da 
comunhão parcial de bens, o cônjuge supérstite tem direito à sua 
meação, em relação aos bens adquiridos na constância do casamento 
e direito de herança, em concorrência com os descendentes do de cujus, 
dos bens particulares do inventariado, consoante a ordem de vocação 
hereditária estabelecida no artigo 1.829, I, do Código Civil. 2. Recurso 
conhecido e desprovido. Unânime” (TJDF, Recurso 2013.00.2.014096-
8, Acórdão 708.581, 3.ª Turma Cível, Rel. Des. Otávio Augusto, DJDFTE 
09.09.2013, p. 211). 
 
Portanto, é no sentido da primeira corrente que os tribunais vêm decidindo, 
assim como o Superior Tribunal de Justiça- STJ: 
 
“Civil. Sucessão. Cônjuge sobrevivente e filha do falecido. Concorrência. 
Casamento. Comunhão parcial de bens. Bens particulares. Código Civil, 
art. 1.829, inc. I. Dissídio não configurado. 1. No regime da comunhão 
parcial de bens, o cônjuge sobrevivente não concorre com os 
descendentes em relação aos bens integrantes da meação do falecido. 
Interpretação do art. 1.829, inc. I, do Código Civil. 2. Tendo em vista as 
circunstâncias da causa, restaura-se a decisão que determinou a 
partilha, entre o cônjuge sobrevivente e a descendente, apenas dos 
bens particulares do falecido. 3. Recurso especial conhecido em parte 
e, nesta parte, provido” (STJ, REsp 974.241/DF, 4.ª Turma, Rel. Min. 
Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJAP), 
Rel. p/ Acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, j. 07.06.2011, DJe 
05.10.2011). 
 
Como visto, até mesmo o tribunal superior adota a primeira corrente, contudo 
não se trata de um entendimento unânime, pois há quem entenda que a concorrência 
na comunhão parcial deve se dar tanto em relação aos bens particulares quanto aos 
comuns. 
Essa segundacorrente é partilhada por Francisco Cahali, Guilherme Calmon 
Nogueira da Gama, Inácio de Carvalho Neto, Luiz Paulo Vieira de Carvalho, Maria 
Helena Diniz e Mário Roberto Carvalho de Faria. 
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O argumento dessa corrente é que o legislador não limitou os bens sobre os 
quais há a concorrência; portanto, a concorrência sucessória deve abranger tanto os 
bens que eram somente do falecido quanto aqueles alcançados pela meação. 
Contudo, isoladamente tem a terceira corrente, defendida apenas por Maria 
Berenice Dias, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald que entendem que a 
concorrência somente se refere aos bens comuns. 
 Regime da separação de bens: o Código Civil ao tratar do afastamento da 
concorrência sucessória utilizou a expressão separação obrigatória, contudo, entre 
parênteses, o Artigo 1.640, parágrafo único regulou a separação convencional; 
fazendo o pacto antenupcial por escritura pública. 
 
Assim, fica claro perceber, esse último preceito não diz respeito à separação 
legal ou obrigatória, imposta pelo artigo 1.641 do Código Civil, mas à separação 
convencional, decorrente de pacto antenupcial. 
É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: 
 
I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas 
suspensivas da celebração do casamento; 
 
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 
12.344, de 2010) 
 
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial. 
 
Nesse regime sustenta a grande maioria da doutrina, nos termos da lei, que não 
haveria concorrência sucessória somente na separação legal ou obrigatória de bens. 
Já na separação convencional de bens, a concorrência sucessória está 
presente, pois esta não está abrangida pela exclusão que consta da parte final do artigo 
1.829, inciso I do Código Civil. 
Regime da comunhão universal de bens: de acordo com Código Civil não há a 
concorrência sucessória, uma vez que o cônjuge é beneficiado pela meação dos bens 
adquiridos durante o casamento e pelos bens anteriores ao casamento e outros 
particulares do outro cônjuge. Portanto não se justifica que, além desse montante, 
receba também a herança em conjunto com os descendentes do falecido. 
 
Nesse regime, em que se poderia supor não existir qualquer divergência, surge 
questão de debate relativa à possibilidade de concorrência sucessória do cônjuge com 
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os descendentes quanto aos bens particulares, que não se comunicam na comunhão 
universal, descritos no art. 1.668 do Código Civil: 
 
Bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados 
em seu lugar; 
Bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de 
realizada a condição suspensiva; 
Dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas relativas ao 
casamento em si, ou reverterem em proveito comum; 
Doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de 
incomunicabilidade; 
Bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; 
Proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge, previsão que sempre merece 
interpretação restritiva; as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas 
semelhantes. 
 
Assim, é equivocada a ideia de que o cônjuge, casado pelo regime da 
comunhão universal de bens sempre recebe; portanto é preciso entender o dispositivo 
no sentido que ficará ele privado da sucessão concorrente se houver patrimônio comum. 
Mas não havendo, cabe-lhe quota na sucessão dos bens particulares do falecido. 
a) Regime da participação final nos aquestos: regime introduzido pela 
codificação de 2002, previsto nos artigos 1.672 a 1.686, e com pouca incidência prática. 
Art. 1.672. No regime de participação final nos aqüestos, cada cônjuge 
possui patrimônio próprio, consoante disposto no artigo seguinte, e lhe 
cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade 
dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do 
casamento. 
Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge 
possuía ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer título, na 
constância do casamento. 
Parágrafo único. A administração desses bens é exclusiva de cada 
cônjuge, que os poderá livremente alienar, se forem móveis. 
Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-
á o montante dos aqüestos, excluindo-se da soma dos patrimônios 
próprios: 
I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-
rogaram; 
II - os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade; 
III - as dívidas relativas a esses bens. 
Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos 
durante o casamento os bens móveis. 
Art. 1.675. Ao determinar-se o montante dos aqüestos, computar-se-á 
o valor das doações feitas por um dos cônjuges, sem a necessária 
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autorização do outro; nesse caso, o bem poderá ser reivindicado pelo 
cônjuge prejudicado ou por seus herdeiros, ou declarado no monte 
partilhável, por valor equivalente ao da época da dissolução. 
Art. 1.676. Incorpora-se ao monte o valor dos bens alienados em 
detrimento da meação, se não houver preferência do cônjuge lesado, 
ou de seus herdeiros, de os reivindicar. 
Art. 1.677. Pelas dívidas posteriores ao casamento, contraídas por um 
dos cônjuges, somente este responderá, salvo prova de terem 
revertido, parcial ou totalmente, em benefício do outro. 
Art. 1.678. Se um dos cônjuges solveu uma dívida do outro com bens 
do seu patrimônio, o valor do pagamento deve ser atualizado e 
imputado, na data da dissolução, à meação do outro cônjuge. 
Art. 1.679. No caso de bens adquiridos pelo trabalho conjunto, terá 
cada um dos cônjuges uma quota igual no condomínio ou no crédito 
por aquele modo estabelecido. 
Art. 1.680. As coisas móveis, em face de terceiros, presumem-se do 
domínio do cônjuge devedor, salvo se o bem for de uso pessoal do 
outro. 
Art. 1.681. Os bens imóveis são de propriedade do cônjuge cujo nome 
constar no registro. 
Parágrafo único. Impugnada a titularidade, caberá ao cônjuge 
proprietário provar a aquisição regular dos bens. 
Art. 1.682. O direito à meação não é renunciável, cessível ou 
penhorável na vigência do regime matrimonial. 
Art. 1.683. Na dissolução do regime de bens por separação judicial ou 
por divórcio, verificar-se-á o montante dos aqüestos à data em que 
cessou a convivência. 
Art. 1.684. Se não for possível nem conveniente a divisão de todos os 
bens em natureza, calcular-se-á o valor de alguns ou de todos para 
reposição em dinheiro ao cônjuge não-proprietário. 
Parágrafo único. Não se podendo realizar a reposição em dinheiro, 
serão avaliados e, mediante autorização judicial, alienados tantos 
bens quantos bastarem. 
Art. 1.685. Na dissolução da sociedade conjugal por morte, verificar-
se-á a meação do cônjuge sobrevivente de conformidade com os 
artigos antecedentes, deferindo-se a herança aos herdeiros na forma 
estabelecida neste Código. 
Art. 1.686. As dívidas de um dos cônjuges, quando superiores à sua 
meação, não obrigam ao outro, ou a seus herdeiros. 
 
Como regra fundamental, nesse regime cada cônjuge possui patrimônio próprio, 
cabendo-lhe na dissolução do casamento e da sociedade conjugal, direito à metade dos 
bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento; conforme o 
Artigo 1.672 do Código Civil. Portanto, durante o casamento há uma separação de bens. 
Mas em caso de dissolução, não há propriamente uma meação, como estabelece o 
Código Civil em vários de seus dispositivos, mas uma participação de acordo com a 
contribuição de cada um para a aquisição do patrimônio, a título oneroso. 
Pela regra do artigo 1.673 do Código Civil integram o patrimônio próprio os bens 
que cada cônjuge possuía ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer título, na 
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constância do casamento; e a administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge, 
que os poderá livremente alienar, se forem móveis, na constância da união. 
Assim, é correta, a previsão legal, que aponta a concorrência sucessória do 
cônjuge caso seja adotado tal novo regime. 
b) Regime de bens atípico misto: além dos regimes tipificados pelo Código 
Civil, pode ser que os cônjuges façam a opção por um regime atípico, não tratado em 
lei; surgindo então a possibilidade de que o casamento seja celebrado por um regime 
misto; devendo ser feito pacto antenupcial. 
Então surge a dúvida se haverá concorrência sucessória quando adotado um regime 
atípico e misto; nesse caso ensina Flavio Tartuce: 
 
Na opinião deste autor, deve-se verificar qual a correspondência que se 
faz em relação aos regimes para constatar se haverá a concorrência 
sucessória ou não. Isso abre a possibilidade de uma concorrência 
fracionada de bens. (TARTUCE, 2017) 
 
 
Assim será preciso analisar quais os termos especificados no pacto antenupcial. 
 
3.1. DA RESERVA DA QUARTA PARTE DA HERANÇA PARA O CÔNJUGE 
NA CONCORRÊNCIA COM OS DESCENDENTES 
 
Consta do artigo 1.832 do Código Civil de 2002 mais uma novidade introduzida 
no sistema que, de início, a norma enuncia que o cônjuge supérstite terá direito ao 
mesmo quinhão que receberem os descendentes que sucederem por cabeça, ou seja, 
por direito próprio, e não por direito de representação; não importando se o filho é havido 
de ambos (filhos comuns) ou só do autor da herança (filhos exclusivos). 
Em suplemento, o comando consagra a reserva de 1/4 da herança ao cônjuge, 
se ele for ascendente dos descendentes com quem concorrer; e essa quarta parte da 
herança ou de vinte e cinco por cento sobre o patrimônio sucessível visa a manter um 
mínimo vital a favor do cônjuge, um patrimônio mínimo do sucessor. 
Acredita-se que essa novidade foi introduzida no Código Civil com o intuito de 
substituir o antigo usufruto legal vidual, tratado anteriormente no art. 1.611, § 1.º, do 
Código Civil de 1916. 
Na verdade, a questão de efetivar ou não a reserva da quarta parte somente 
ganhará relevo se houver a concorrência com mais de três descendentes do falecido, 
situação em que a reserva poderia ficar em xeque; ou sejam, quando o cônjuge concorre 
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com um, dois ou três descendentes do de cujus, a citada reserva já lhe é garantida pela 
obviedade da situação concreta, não havendo maiores dificuldades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
DIAS, Maria Berenice 
Manual de direito das famílias I Maria Berenice Dias. 10. ecl. rev., atual. e 
ampliada. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. 
 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil Brasileiro: Direito de Família, Vol.7. 
15ª Ed. Saraiva. 2012. 
 
TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 6: direito das sucessões– 10. ed. rev., atual. 
e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ANEXO 01 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 50 % 50 % 50 % 
 
 Sucessão por Cabeça 
 50 % 50% 
Pai 
t 2022 
Pai 
t 2022 
 
Filho 
1 
Filho 
2 
Filho 
1 
 
1 
 
Filho
2 
t 
2
0
2
1 
T 
2
0
2
1 
T 
2
0
2
1 
 
Neto 
1 
Neto 
2 
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Sucessão por 
Estirpe 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANEXO 025 
 
 
 
 
 
5 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 6: direito das sucessões– 10. ed. rev., atual. e ampl. – Rio 
de Janeiro: Forense, 2017. Pág. 106. 
 
 
Regimes em que o cônjuge herda em 
concorrência 
Regimes em que o cônjuge não herda 
em concorrência 
• Regime da comunhão parcial de bens, 
havendo bens particulares do falecido. 
• Regime da participação final nos aquestos. 
 
• Regime da separação convencional de 
bens, decorrente de pacto antenupcial. 
• Regime da comunhão parcial de 
bens, não havendo bens particulares 
do falecido. 
• Regime da comunhão universal de bens. 
 
• Regime da separação legal ou obrigatória 
de bens. 
Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663

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