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Capítulo2 TEORIAS BIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO EmilioAntonioJeckel-Netoe GilsonLuis da Cunha INTRODUÇÃO A Biologiado Envelhecimento Duranteséculos,o estudodalongevidadee doenvelhecimen- toemseresvivosfoirelegadoaumpapelmeramenteacessórionas diferentesdisciplinasdaBiologia.Estudosdegenética,bioquími- ca,fisiologiaeecologiaabordavamsuperficialmentetemasligados aoenvelhecimento,sem,contudo,seocuparemdaelaboraçãode convençõesinstrumentaisou determinologiaquepudessemser usadasparafacilitaraexploraçãodosmesmos.Atéentão,estudos sobremudançasnaspropriedadesmorfofuncionaisdeindivíduos oudepopulaçõescomopassardotempoconstituíampoucomais doqueumacuriosidade,exploradamaispordiletantismodoque porqualqueroutrarazão. O séculoXX viriaamudaressecenárioradicalmentepordois motivos:primeiro,nuncaemtodaahistóriadahumanidade,po- pulaçõesapresentaramexpectativasdevidatãoaltas,fruto,princi- palmente,daimplantaçãodepolíticasdesaúdepúblicaedeme- dicinapreventiva,taiscomovacinaçãocontradiversasmoléstias infecto-contagiosaseplanejamentoecontrolesanitário;segundo, coincidentemente,nunca,emtodaa históriadaBiologia,o ins- trumentaldisponívelparapesquisafoi tãoavançado,permitin?o aosinvestigadoresníveisdeabordagemimpossíveisatéentão.E o . casodabiologiamolecular.Essesforamosprincipaisfatoresque impulsionaramo desenvolvimentodaassimchamadaBiologiado Envelhecimento.Essajovemdisciplinafloresceu,muitorecente- mente,comopartedoesforçoparaintegrarcontribuiçõesvindas dediferentescamposdaBiologia. Inicialmente,aabordagembiológicadoprocessodeenvelhe- cimentodeu-sedo pontodevistafisiológicoe, maistarde,bio- químico.Como avançodoconhecimentogenético,cresceutam- bémabuscapor padrõesdehereditariedadeda longevidade.A partirdadécadade40, abordagensa partirdosconhecimentos sobreaevoluçãodosseresvivosforamincorporandoumasériede novosconceitos,permitindoumaavaliaçãomaisprofundadotema doenvelhecimento.Issoocorreuemgrandepartedevidoaodile- maimpostopelopensamentoevolutivo:seaseleçãonaturalatua nosentidodeprovermaiorsucessoreprodutivoaosindivíduosmais bemadaptados,qualo papeldosindivíduosdeidadeavançadano contextoevolutivo?Esseavançoconceitual,combinadocomo conhecimentobásicojáacumuladoembioquímicaefisiologiade eucariontes,somadoao adventodabiologiamolecular,deuum impulsomuitograndeà formulaçãodeteoriase hipótesesque tentamexplicaro fenômenodoenvelhecimentodosseresvivos. ConceitosFundamentais. Dadaavariedadedeabordagensaostemasenvelhecimentoe longevidade,é importanteestabeleceralgunsconceitosbásicos. Porém,devidoàsuabreveexistência,apesquisabiogerontológica enfrentaadificuldadedeestabelecerconvençõesarespeitodater- minologiaempregadapordiferentesautores. Apesardenãoestarestabelecidooficialmente,otermoenvelhe- cimentoéfreqüentementeempregadoparadescreverasmudanças morfofuncionaisaolongodavida,queocorremapósamaturação sexuale que,progressivamente,comprometema capacidadede respostadosindivíduosaoestresseambientaleàmanutençãoda homeostasia.Porém,váriospesquisadoresdefinemenvelhecimento como"o queacontececomumorganismocomo passardotem- po". Se,porumlado,existemfunçõesquenãosãosignificativa- mentealteradaspelaidade,comoa trocade célulasdo epitélio intestinal,é necessáriolembrarqueo envelhecimentoapresenta comoúnicacaracterísticauniversalaocorrênciademudançasao longodotempo,independentementedeteremounãoefeitode- letériosobreavitalidadee alongevidade. Do pontodevistado rigorcientífico,surge,então,aseguinte pergunta:asimilaridadeentreaspalavrasempregadasparades- creverenvelhecimentogaranteaprecisãodoconceito?Essaques- tãoé defundamentalimportância,poisa articulaçãoentrecon- ceitose definiçõesé quepossibilitao estabelecimentodeuma estruturalógicadeconhecimentoscapazde explicar,elucidar, interpretarouunificarumdadoconjuntodefenômenospormeio deumateoria. O envelhecimentonãoé sóa somadepatologiasagregadase de danosinduzidospor doenças.Inversamente,nemtodasas mudançasemestruturaefunçãodependentesdaidadepodemser consideradascomoalteraçõesfundamentalmenteligadasà idade por si só.Numesforçoparaincorporaresserigordentrodeuma definiçãooperacional,foi propostoqueasmudançasfundamen- taisrelacionadascomaidadedevemobedeceraquatrocondições: 1. Devemserdeletérias,ouseja,devemreduzirafuncionalidade. 2. Devemserprogressivas,istoé,devemseestabelecergradual- mente. 14 / Teorias8iolóIZicasdo Envelhecimento 3. Devemserintrínsecas,istoé,nãodevemseroresultadodeum componenteambientalmodificável.Caberessaltar,aqui,que o ambientetemforteinfluênciasobreo aparecimentoevelo- cidadedessasmudanças,apesardenãoserasuacausa. 4. Devemseruniversais:todososmembrosdeumaespéciede- veriammostrartaismudançasgraduaiscomo avançodaidade. Por essesmotivos,surgeo termosenescênciaparadescreveras mudançasqueocorremnumorganismo,relacionadascomaida- de,afetandoadversamentesuavitalidadee funções,porém,mais significativamente,aumentandoataxademortalidadeemfunção dotempo.Senilidadeseriao estágiofinaldasenescência,quandoo riscodemortalidadebeiraos 100%. É precisoressaltar,porém,queo tempoé umavariávelinde- pendente.Emvezdeusaro calendárioparamediro envelheci- mento,éprecisoencontrarmaneirasdeusarasmudançasemva- riáveisfisiológicasimportantesparamediro envelhecimento (Arking,1998). Quantoaotermoloneevidade,apresentacomodificuldadeprin- cipalaexistênciadediversidadedepadrõesdedesenvolvimentoe o tempodematuraçãoemdiferentesorganismos.Emboraalite- raturaembiogerontologiafreqüentementetomecomolongevidade o tempotranscorridoentreo nascimentoeamorte,muitasespé- ciespossuemdesenvolvimentoespecialmenteprolongado,oulonga existênciaem estágiosjuvenise brevesperíodosdevidaadulta seguidosderápidasenescência. o Fenômenodo Envelhecimento A percepçãodo fatodequeosorganismosvivosenvelhecem nãogeracontrovérsias.A partirdasimplesobservaçãodarealida- de,épossívelperceberessefenômeno.Pode-se,também,plane- jareexecutarestratégiasdeinvestigaçãoparaidentificareanalisar váriosaspectosdoenvelhecimento.Porém,váriospontosdecon- trovérsiasurgemnomomentodeestabelecerindicadoresparaas variáveisenvolvidasnoprocesso.Aosurgirdiscordânciasobrequais seriamosindicadorescapazesdeidentificaroumensurarasvari- áveisenvolvidasnofenômeno,estabelece-seadificuldadedecons- truirconceitosfundamentaisquepossamserarticuladosemcons- truçõeslógicasexplicativasdoenvelhecimento. Essavariedadedeconceitos,muitasvezesconflitantes,quepro- curamrepresentarasvariáveisenvolvidasnoprocessodeenvelhe- cimentopormeiodesuascaracterísticasgerais,provocaaformu- laçãodeumagrandevariedadededefiniçõesparaummesmoas- pectodo fenômeno.Assim,a inclusãodedeterminadofat9,ca- racterísticaoufunçãoemclassesquepermitamorganizá-Iosnum sistematoma-seextremamentedifícildentrodaáreadeconheci- mentodenominadadeGerontologiaouCiênciasdoEnvelhecimen- to.Comoresultantedisso,surgeumgrandenúmerodeteoriasque sepropõemaexplicaro fenômeno,porémcadaumacomo pró- prio conjuntodeconceitos,fatose indicadores. Outroaspectoquetemforteinfluêncianadeterminaçãodessa variedadedeteoriasé o fenômenodo envelhecimentoemsi.Os organismosvivossãosistemasinterativosdesubsistemase,por- tanto,complexos,hierárquicosenão-lineares.Formam,figurati- vamente,umgrandemosaicodeprocessosou umgrandefractal dinâmico.Assim,algumasteoriastêmdificuldadedesesustentar, poisapóiam-senumaconcepçãoingênuasegundoaqualumadada alteraçãobiológicaqueocorrecomo passardotempopoderiaser provocadapor umacausaparticul~r,o quecontrariaa noçãode sistemashierárquicosinterativos.E por issoquenãohápossibili- dadede interviremalgumpontodo sistemademodoa afetá-Io demaneiraglobalealterarocursodasmudançasaolongodotem- po.Emoutraspalavras,époressemotivoque,dificilmente,exis- tiráo elixirdajuventude,o genequecontrolao envelhecimento ou o tratamentorejuvenescedor. Frenteà complexidadeinerentea um sistemahierárquico interativo,apareceadificuldadedeinvestigaro fenômenodoenve- lhecimentocomoumtodoe, emconseqüência,dedemonstrara validadedashipótesesformuladasatravésdemetodologiacientífica rigorosa.Essadificuldadepodeserresumidanospontosqueseguem: 1. A testagemdamaioriadasteoriasdemandaumgrandeaporte financeiro,muitotempoparaasuaexecuçãoeautilizaçãodetécnicassofisticadas,muitasdelasaindanãoestabelecidas. 2. A ausênciadeumadefiniçãoclaraedeaceitaçãogeraldopró- prio processodeenvelhecimento. 3. A formulaçãodasteoriasémuitorecentee poucodiscutida. 4. O pequenonúmerodecientistasenvolvidosnainvestigaçãodo processodeenvelhecimentocontribuiparaapoucadiscussão dasteorias,bemcomoparao pequenonúmerodepesquisas voltadasparaacomprovaçãodehipótesesquepoderiamvali- darourefutarasteoriaspropostas. 5. O estudodoprocessodeenvelhecimentodossereshumanosé fortementeinfluenciadopelocontextoculturaldaspopulações investigadasedosprópriospesquisadores. 6. Apesardeo processodeenvelhecimentoevocarcuriosidadee expectativasindividuaisaltas,muitosinvestigadoreseagências defomentodepesquisanãodemonstrammuitointeressepelo tema,poisasinvestigaçõessãocomplexas,carasedemoradas, combaixoretomoemtermosdenúmerodepublicaçõesede aplicabilidadeimediata. 7. Por sercomplexoe envolvertodososaspectosdo servivo,o estudodo envelhecimentoexigequeeleocorra,no mínimo, deformamultidisciplinar.No casodatestagemdeteoriasvai além,exigindoqueseatinjaainterdisciplinaridade.Do ponto devistadeumainvestigação,toma-senecessáriaaconstituição deequipesdepesquisadoresdediversasáreasatuandodema- neiraintegrada,o que,namaioriadasvezes,émuitodifícilde . organizar. A conjunçãodosfatoresexpostos,emespecialo último,con~ duza formulaçõesteóricassintéticas,limitadasavisõespróprias deumapessoaougrupo,que,poressemotivo,setomamparci- ais,dentrodeumaabordagemrestrita.Tudo issolevaaproposi- çõescomalgumviésdeorigem,geralmenteunidimensionais,con- trariandoamultidimensionalidadedoenvelhecimentoegerando sistemasteóricosnão-preditivos. Visão Geral das Teorias Correntes Existemdiversosmodosdeclassificareorganizarasdiferentes teoriasdo envelhecimento.Hart e Turturro (1983)sugerirama adoçãodeumaescalacrescentede abrangência:teoriasdebase celular,teoriasbaseadasemórgãosesistemas,teoriaspopulacio- naise,finalmente,teoriasintegrativas.Hayflick(1985)optoupor umaescalamaisrestrita:teoriasbaseadasemórgãos,debasefisi- ológicaedebasegenômica.Finch (1990)divideasteoriassobre o envelhecimentoem dois grandesgrupos:evolutivase não- evolutivas.Segundoesseautor,asteoriasevolutivasseocupariam dejustificaropapeldasenescênciaatravésdosgruposHlogenéticos, enquantoasnão-evolutivasseconcentrariamnosmecanismos celulares,fisiológicose ambientaisqueatuamsobreo processo. Numarevisãosobreo assunto,Arking(1998)sugeriuo em- pregodeumaclassificaçãodual,segundoaqualdeve-seconside- rarseateoriapropostasugerequeosefeitosporeladescritossão exercidosemtodasascélulasounamaioriadelas,constituindoo ramodasteoriasintracelulares,ou seosmesmossãoexercidos principalmentesobrecomponentesestruturaisousobremecanis- TeoriasBiológicasdo Envelhecimento/ 15 mosreguladores,interligandogruposdediferentescélulas(teori- asintercelulares).Dentrodessamesmaperspectiva,deve-selevar emconta,também,seosefeitospostuladosporcadateoriaaconte- cemacidentalmente(teoriasestocásticas)oucomoresultadodas cascatasderetroalimentaçãohierárquicascaracterísticasdasespé- cies(teoriassistêmicas).Assimsendo,umateoriapodesersimul- taneamenteintracelulare estocástica,ou intercelularesistêmica e vice-versa.O pontodevistaevolutivonãoconsistiriaemum conjuntodeteoriasàparte,fazendopartedecadateoriaindhidu- aiemfunçãodesuaabrangência. Apesardasdificuldadesemclassificarasteoriasdoenvelheci- mento,o méritomaiordaclassificaçãodeArkingé oferecerum painelanalíticoquepermiteodesenvolvimentodeumadiscussão linearsimples,adiandoa integraçãodostópicosatéo final.Essa integraçãoenvolveo conceitodequeo organismovivoénormal- mentemantidoporumarededeprocessosqueoperamparalela- mente e uns com os outros, constituindo-se num sistema homeostático.Portanto,nestetexto,optamospelasistematização de.Arkingparaapresentarosfundamentosdasteoriasqueprocu- rameJ.:plicaro fenômenodoenvelhecimentobiológico. TeoriasEstocásticas Pode-seconstatarcertaregularidadeprevisívelnoprocessode envelhecimento,tantonoqueserefereàlonge,idademáximade cadaespécie,comonosentidodaexistênciadeumdeterminado padrãode mudançasfisiológicaspassíveisdedescriçãoe quese esperaqueaconteçamcomo avançarda idade.Assim,parece improvávelqueumprocessotãoordenadocomooenvelhecimento sedevaafatoresaleatóriosouestocásticos.Contudo,essaidéiaé ." ~s-teorias quepostulamsera.deterioraçãoasso~ àida- '1 v deavançadade,idaàacumulaçãodedanosmolecularesqueocor- remaoacaso.Tais macromoléculasdefeituosaspoderiamseacu- mularatravésdediferentesmecanismos:falhaemreparardanos ou erroscausadosaleatoriamentenasíntesedemacromoléculas. Em ambososcasos,haveriaperdadefunçãoe deinformaçãovi- taisparaascélulas.A quantidadedessasmacromoléculasincorre- tasalcançariaumnívelemquealgumasoutodasascélulasdeum servivoestariamtãodeficientes,metabolicamente,apontodecau- saremamortedopróprioorganismo. Emborataisteoriasforneçammecanismosparaexplicaros declíniosfisiológicosobservadoscomaidade,duaspremissasadi- cionaisdevemserlevadasemcontaaosetentarcompreendercomo danosaleatóriosoriginammudançassistêmicas:primeiro,é ne- cessárioestabelecerquaiscélulas,tecidosou organismospossui- 'riamtiposespecíficosdemoléculasquesãoparticularmentesen- síveisa certostiposdedano;segundo,é necessárioassumirque espéciesde,ida longasãomaiscapazesdetolerartaisdanosque espéciesdevidacurta.Emoutraspalavras,ouespéciesde,idalonga têmsistemasdereparomelhores,outêmmaiorredundânciafun- cionaldo queespéciesdevidacurta. TEORIAS DE USO EDESGASTE Asteoriasclassificadascomo"usoedesgaste"são,provavelmen- te, asmaisantigasprecursorasdo conceitode falhade reparo. Emboradesatualizadas,elaspersistem,possivelmentepor serem reforçadasinconscientementeporobservaçõescotidianas.Nessa concepção,o acúmulodeagressõesambientaisnodia-a-dialeva- riaaodecréscimogradualdaeficiênciadoorganismoe,porfim,à morte.Todososorganismossãoconstantementeexpostosa-in- fecções,ferimentoseagressõesquecausamdanoslevesàscélulas, aostecidoseaosórgãos.Umafraturapodesarar,maso ossonão voltaráasertãoresistentequantoantesdeo ferimentoocorrer. /' Atualmente,trêsmotivoslógicoscontribuemparao descrédi- to dessateoria:primeiro,animaiscriadosemambienteslivresde patógenosoudeferimentosnãoapenasenvelhecem,comotam- bémnãoapresentamqualqueraumentoemsualongevidademá- xima;segundo,muitosdanosmenorespostuladospelateoriado usoedesgastesãomudançasdependentesdotempo,queprovo- camaumentonaprobabilidadedemorte,masnãoservemcomo mecanismoscausaisparaoprocessodeenvelhecimento.Porexem- plo,aperdadedentesemelefantespodelevaràmorteporinani- ção,semqueestesapresentem,contudo,mudançassignificativas emestruturaefunçãodeoutrosórgãosetecidosnomesmoperí- odo;terceiro,ateoriaestádefasadaemrelaçãoaoconhecimento biológico.Os avançosatuaisem biologiacelulare molecular reformularamo conceitode"usoedesgaste",mostrandoqueele nãoconstituiumateoria,massimumcomponentedeoutras.Por exemplo,alteraçõesnatexturadacartilagemdasarticulaçõesem vertebradospodemserdescritascomousoe desgaste,masnão fornecemumaestruturaconceptualquepossibiliteentenderme- lhoro processoou intervirnele.Entretanto,conceberessasalte- raçõesnacartilagemcomosendoo resultadodemudançasrelacio- nadascomaidade,naexpressãodegenesquecodificamproteo- glicanas,podeguiarabordagensquepermitamumnívelmaiorde compreensão. PROTEíNAS ALTERADAS Essateoriaestabelecequemudançasqueocorrememmolécu- lasprotéicasapósa tradução,e quesãodependentesdo tempo, provocariamalteraçõesconformacionaise mudariamaatividade enzimática,comprometendoaeficiênciadacélula.Muitasevidên- ciasexperimentaismostramqueessasalteraçõesnãoenvolvemnem errosnaseqüênciadeseusaminoácidos,nemmudançascovalen- tesqueseseguiriamàsmodificaçõesquímicaseàsligaçõescruza- daspreexistentesnaproteína.Possivelmente,asenzimasaltera- dassãomoléculasdelongavida,istoé,combaixataxadeturnover, eresidemnacélulaporumtempolongoo bastanteparasofrerem umadesnaturaçãosutilnoambientecitoplasmático.Calcula-seque 30 a 50%do totaldeproteínaemumanimalidosopodemser compostosdeproteínaoxidada.Essedadoéreforçadopelofato dea atividadeenzimáticapoderdecrescerde25 a 50%emani- maisvelhos.Nessaconcepção,modificaçõesoxidativasseriamumconceitounificadorquepermitiriacompreenderasalterações protéicasduranteo envelhecimento.Proteínasalteradasrepresen- tariamumcasoespecialdo conceitodeligaçõescruzadas,envol- vendomudançasconformacionaisquepoderiamsertantorever- síveis(comonousodepontesdehidrogênioparaalteraraforma) comoirreversíveis(usodeligaçõescovalentesparaestabelecerli- gaçõescomoutrasmoléculas). Um outrofatoraserlevadoemcontanahipótesedeproteínas alteradasé o processamentodeproteínas.Essaatividadeparece ficarmaislentacoma idade,aparentementedevidoa mudanças desconhecidasnasviascitoplasmáticasdedegradação.A idéiade queproteínasanormaisseacumulamcomo passardo tempoé corroboradapeloaumentodaprobabilidadedeasproteínasdevida longasofreremumamodificaçãopós-traduçãoe desealterarem comaidade,aomesmotempoemqueataxadedegradaçãodimi- nui.Assim,aalteraçãodaspropriedadesenzimáticaspodeafetara célulademodomaisabrangentedo queo reduzidonúmerode enzimasmostraria. MUTAÇÕES SOMÁ TICAS O acúmulodemutaçõessomáticasaolongodavidaalterariaa informaçãogenéticaereduziriaaeficiênciadacélulaatéumnível 16 I TeoriasBiológicasdoEnvelhecimento I I incompatívelcomavida.Essaidéiasurgiuapartirdo postulado dequealongevidadeespecíficadecadaespécieresultariadetaxas dedanosaleatóriosquepoderiamtomarinativasgrandesporções decromossomos,oumesmocromossomosinteiros. Já foiobservadoqueo aumentonataxadeanormalidadesem linfócitoshumanosseriaumafunçãodaidadedodoador.Cromos- somosdehumanosidososparecemsermaisfrágeisdoqueosde humanosjovens,umavezquea taxade quebrasinduzidapela aminopterinaémaisaltanoscromossomosdosprimeiros.O caso daaneuploidia,entretanto,podeserdescartadocomotendoin- fluêncianoenvelhecimento,umavezquesuafreqüênciaébaixa, mesmoemdoadoresidosos.Alémdisso,taisperdasdecromos- somosnãosãoobservadasemoutrascélulassomáticas.Entretan- to,commuitopoucasexceções,taisanormalidadessurgemdedano aleatórioqueresultatantoemalteraçõesnuméricascomoestru- turaisnoscromossomos. Célulasobtidasde indivíduoscomprogeriae colocadasem culturacaracterizam-sepor terumalongevidademuitolimitada. O motivoparaesseencurtamentodavidainvitroestarialigadoao fatodequeoscromossomosdessascélulassãoextraordinariamente instáveisesofremperdaserearranjoscromossômicoscaracterís- ticos.A relaçãodessedadocomaspectosgeraisdasíndromenão é clara,embora,comrelaçãoà síndromedeWemer,tenhasido sugeridoqueo responsávelsejaumdefeitonogenequeseimagi- nacodificarumahelicaseenvolvidaemreparaçãodeDNA. Con- tudo,estudosfeitosemtecidosnormaisinvivonãorevelaramdano cromossômicovisível,mesmoemtecidosenvelhecidos.Ou seja, nemtododanocromossômicopoderesultaremanormalidades visíveis. A literaturamostraumaumentodecertasanormalidadescro- mossômicasemcélulassomáticasaolongodavida,principalmen- teemrespostaàradiaçãoouamutagênicos,masnãoháevidênci- asdequetaisalteraçõestenhamefeitosfuncionais.Asduasúnicas exceçõesconhecidasseriamaocorrênciadeaberraçõesedemu- taçõesafetandogenesespecíficosparareparaçãodeDNA edociclo celular,eainativaçãogênicaviaelementosdetransposição,resul- tandoemlongevidadereduzida.Mas,aoseconsideraro envelhe- cimentocomoum todo,hápoucosuporteexperimentalparaa teoriadamutaçãosomática. ERRO CATASTRÓFICO Processosincorretosdetranscriçãoe/oudetraduçãodosáci- dosnucléicosreduziriamaeficiênciacelularaumnívelincom- patívelcomavida.Essahipótesedivergedasteoriasdemutação somáticae dedanoao DNA, poispostulaqueo erro nainfor- maçãoincidesobreoutrasmoléculasquenãoo DNA. A idéia básicacontidanessateoriaé de quea.capacidadedacélulade produzirseuconjuntonormaldeproteínasfuncionaisdepende nãoapenasdacorretaespecificaçãogenéticadasseqüênciaspo- lipeptídicas,mastambémdafidelidadedo aparatode síntese protéica.Mesmoqueo genomanãocontenhanenhumamuta- çãosomáticaou danono DNA, errospoderiamacontecerdu- ranteo processodetradução. Seasproteínasou RNAs erroneamentetraduzidostivessem funçãonasínteseprotéica,esseserrosseriamtransmissíveisecu- mulativos,levandoa um efeitoexponencialchamadode "erro catastrófico".Um errocatastróficoaconteceriaquandoafreqüên- ciadeerrosalcançasseumvalornoqualumoumaisprocessosvitais paraacélulaassumissemumaineficiêncialetal.Semorreremcé- lulasemquantidadessuficientesparacausaresseefeito,o resulta- do seriao decréscimonacapacidadefuncionalquecaracterizao envelhecimento. DESDlFERENCIAÇÃO Essaabordagemsugerequeo envelhecimentonormaldeum organismoresultariadofatodeascélulasqueocompõemsedes- viaremdeseuestadoapropriadodediferenciação.Célulasdife- renciadascaracterizam-sepor suacapacidadedereprimirseleti- vamenteaatividadedegenesdesnecessáriosparaasobrevivência da célulae suasfunçõesparticulares.Assim, na hipótesede desdiferenciação,mecanismoserrôneosdeativaçãoe repressão gênicafariamacélulasintetizarproteínasdesnecessárias,diminu- indoaeficiênciacelularatéamorte.Qualquerdecréscimooual- teraçãodaespecificidadedosprocessosdeativação-repressão, originadostalvezdemudançasdependentesdo tempo,poderia, teoricamente,interferircomasfunçõescelularesatéesseponto. A teoriadadesdiferenciaçãosupõequemudançasestocásticas queocorremnoaparatoderegulaçãogênicaresultariamemmu- dançasnaexpressãogênica.Essasmudançaspodemsermaisbem detectadaspelapresença,emumtecido,deproteínasque,nor- malmente,pertencemaoutrotecido.Dadosexperimentaisobti- doscomcélulascultivadasindicamqueosmecanismosdecon- trolegenéticonãoparecemrelaxarcoma idade.A despeitoda ausênciadecomprovaçãoexperimental,essahipóteseaindaper- manecesobinvestigação,devidoàpossibilidadedetestesemnível molecular. DANO OXIDATIVO E RADICAIS LIVRES O princípiodessateoriaéquealongevidadeseriainversamen- teproporcionalàextensãododanooxidativoediretamentepro- porcionalàatividadedasdefesasantioxidantes.A teoriadodano oxidativopostulaquetodasasdeficiênciasfisiológicascaracterís- ticasdemudançasrealmenterelacionadascomaidade,ouamaioria delas,podemseratribuídasaosdanosintracelularesproduzidos pelosradicaislivres.Sabe-sequediversasbiomoléculasdiferentes sãoatacadasporradicaislivres.PeroxidaçãolipídicaedanoaoDNA são,provavelmente,osexemplosmaisimportantes.O dano"em rede"produzidoseriaoresultadodediversasvariáveiscomplexas, taiscomootipoderadicalpresente,suataxadeprodução,ainte- gridadeestruturaldascélulaseaatividadedosdiferentessistemas dedefesaantioxidantepresentesnoorganismo. Apesarde plausível,esseconceitonãopodeserclaramente provadoounegadoporumúnicoexperimento.Diversostiposde evidênciastêmsidolevantadosparatestaressateoria,masainda existemmuitascontrovérsias.Apesardisso,arelaçãoentreoxida- ção,substânciasantioxidanteseenvelhecimento,mesmosemcom- provaçãodefinitiva,temservidodesuporteparajustificaro uso defármacoseapráticadeterapiassupostamente"antienvelheci- mento". LlPOFUSCINA E O ACÚMULO DEDETRITOS Emsuaformamaissimples,ateoriadosdetritospropõequeo envelhecimentocelularé causadopeloacúmulointracelularde produtosdometabolismoquenãopodemserdestruídosoueli- minados,excetopeloprocessodedivisãocelular.Jáébemconhe- cidoo fatodequecélulaspós-mitóticas,comoneurôniosecélu- las de músculocardíaco,acumulamdepósitosde pigmentos castanho-amarelados,ricosemlipídios,duranteo processode envelhecimento.Essesgrânulosdelipofuscinaforamobservados inicialmenteem1842etiveramsuarelaçãocomo envelhecimen- to primeirosugeridaem 1886.Acredita-sequelipofuscinasge- ralmentesurgemcomoresultadodeauto-oxidaçãoinduzidapor radicaislivresemcomponentescelulares,principalmenteestru- turasdemembranaquecontenhamlipídiosinsaturados.Entre- tanto,nenhumaevidênciasugerequealipofuscinaemsisejadano- TeoriasBiológicasdoEnvelhecimento/ 17 sa,oumesmoquepossaservirderegistrodaatividademetabólica pregressadequalquerorganismo. Por outrolado,o processometabólicocelularpoderiaprovo- caraformaçãodeoutrassubstânciasaindanãoidentificadasque, damesmaformaquealipofuscina,seacumulariamnointeriorda célula.Duassituaçõespoderiamacontecerentão:umaseriaafor- maçãode substânciasque,mesmoinertese seminfluêncianos processos celulares, se acumulariamocupando espaçoe, gradativamente,prejudicariamasatividadesdacélula;naoutra situação,osprodutosnão-excretáveisteriamaçãotóxicaouper- turbariamdealgumaformaasatividadescelulares,provocandoodeclíniodasfunçõesdacélula,comreflexosnotecidodequefaz parte. MUDANÇAS PÓS-TRADUÇÃO EM PROTEíNAS Modificaçõesquímicasdependentesdotempoocorrendoem macromoléculasimportantes(comoocolágenoeaelastina)com- prometeriamasfunçõesdostecidosereduziriamaeficiênciace- lular,culminandonamorte.Sabe-sequetaismodificaçõespós- traducionaisocorremtantoemproteínascomoemácidosnucléicos, e,logo,seusefeitosseriamlargamenteabrangentes.Asmudanças postuladaspor essateoriaparecemestarrelacionadascom a senescênciadapeleedeoutrostecidos.Emtecidocardíaco,aperda daintegridadeestruturaldasfibrasconjuntivascausariaumaumen- to dapressãosistólica,comefeitospleiotrópicosparao sistema circulatórioaolongodo envelhecimento. Já queumterçodoconteúdototaldeproteínasdeummamí- fero é compostopor colágeno,asmudançasnessamolécula,à medidaqueo indivíduoenvelhece,têmrepercussõesimportantes empraticamentetodososaspectosmorfológicosefisiológicosdo organismo.Ligaçõescruzadasentreproteínasformamumdossub- gruposdessateoria.Muitasformasdeligaçãocruzadaentremolé- culaspoderiamsurgircomoumefeitocolateraldosprodutosfor- madospelalipoperoxidação.O processoqueoriginaligaçõescru- zadasentreproteínasmaisconhecidoé a reaçãonão-enzimática de proteínascomaglicosein l'ivO(glicosilação),paraformaros produtosavançadosde glicosilação(AdvancedGlycosilationEnd Products,AGEProductsouAGEs).Essescompostossãomodificações pós-traduçãodo colágenopeloaçúcar.Sabe-sequeos níveisde AGEs aumentamsignificativamentecoma idadeemhumanose emanimais. Reaçõesnão-enzimáticasde ligaçõescruzadassimilaresocor- rementreaglicoseeproteínasintracelulares,comoahemoglobi- na.Outrasmacromoléculasintracelularesimportantescomoo DNA são,também,suscetíveisdedanopor ligaçãocruzadacom glicose.Contudo, diferentementedasmoléculasde colágeno extracelulares,o DNA tem mecanismosde reparaçãoque minimizamessesdanos. TeoriasSistêmicas Embiologiamolecularsãousadostermos,taiscomoprograma genéticoouprogramadedesenvolvimento,comoformasintética dedescreveroseventosseqüenciaisecoordenadosque,emcon- junto,constituemo desenvolvimentodosorganismos.O usode metáforaadvindadacibernéticatomafácilassumirqueorigorea precisãodotermoaplicadoàcomputaçãoéigualmenteválidopara processosbiológicos.Issonãoé correto,poisamaioriadospro- cessosatuantessobreo desenvolvimentonormaldeplantaseani- maisnãoé diretamentecodificadaporseqüênciasdenucleotíde- osnogenoma,como,porexemplo,éo casodocontatoedaco- municaçãoentrecélulas,queé vitalparaa formaçãode órgãos. Até ondesesabe,nenhumgenedirigeamigraçãodeumacélula ectodérmicaatéumaposiçãoespecíficaondeelainteragecom célulasmesodérmicascominstruçõescomplementares.Já queessas sãopropriedadesquenãosãocodificadascomprecisãoemqual- querfragmentodeDNA, nãoédesurpreenderquedoisorganis- mosdiferentesdeumamesmaespéciemostrem,como tempo, variaçõessignificativasmoduladaspeloambientee namaneira comoessasinteraçõesde organizaçãocomplexasãoexpressas. Tomemoso casodavelocidadededesenvolvimentoembrionário emhumanos.O "programade desenvolvimento"emhumanos originaumacriançaemtomode266dias.Entretanto,sabe-seque aproximadamente75%dascriançasnascementre252e278dias, e poucasnascemnosprazosmaiscurtose maislongos,sendoa diferençanataxadedesenvohimentosuperiora 10%.Assim,seo envelhecimentoocorredevidoaumtipodecascatasistêmicade interaçõesentreosgenese o ambiente,seriabastanteplausível admitirvariaçõescomparáveisquantoaotemponecessárioparaa manifestaçãodosdiferentesbiomarcadoresdoenvelhecimento. Apesardeexistiremgrandesdiferençasentreosmecanismos propostosporcadateoriasistêmica,todassãofundamentalmente enraizadasemumaabordagemgenéticaparaaanálisedoenvelhe- cimento.Elasnãosãopuramentedeterministas,umavezqueto- dasadmitem,emdiferentesgraus,amodulaçãoambientaldoen- velhecimentoedalongevidade. TEORIAS METABÓLICAS Sabe-se,jádelongadata,queanimaismaioresapresentamlon- gevidademaiordo queadeseusparentestaxonômicosdetama- nhomenor,equeataxametabólicaseriainversamenteproporci- onalaopesodocorpo.A ligaçãoentreessesdoisfatoslevouàidéia dequea longevidadee o metabolismoestariamunidosemuma relaçãocausal.Emalgunsorganismos,alteraçõesdataxametabó- licainduzidaspor temperaturae/oudietaproduziriammudanças correspondentesnalongevidade.Alémdisso,existemdadoscon- sistentesmostrandoqueataxametabólicatendeadeclinarcoma idadeavançada.Essase outrasobservaçõessimilareslevaramà hipótesesegundoaqualalongevidadepodesermaisbementendida comofunçãododeclíniometabólico. Os doisprincipaisgruposdeteoriasmetabólicas,o dataxade vidae do danoà mitocôndria,propõemdiferentesmecanismos parao declíniometabólico,originandoassimprevisõesteóricas diferentes.A teoriadataxadevidaestabelecequea longevidade seriainversamenteproporcionalàtaxametabólica.Esseconceito foi inspiradoemobservaçõesequivocadasnasquaisespéciesde mamíferoscomdiferenteslongevidadesespecíficasgastavamuma quantidadesimilardeenergiametabólicaporgramadepesocor- poralporumadadalongevidade.Issoequivaleriaadizerquecélu- lasanimaisteriamumaquantidadefixadecaloriasdisponíveispara gastaraolongodavida.Essasprimeirasinterpretaçõesforamdes- cartadasapósinvestigaçõesmostrarem,porexemplo,que77 di- ferentesespéciesde mamíferosnão apresentamum potencial metabólicodefinido,massimumespectrodepotenciais,varian- do de220a780KCalporgramapor tempodevida. Experimentoscominvertebradostambémtêmmostradoque diferentesespéciestêmdiferentespotenciaismetabólicos.Con- tudo,outrosdadossugeremque,dentrodecadaespécie,nãoha- veriadiferençasnopotencialmetabólico,equediferentespopu- laçõese indivíduosdamesmaespécieteriamosmesmosvalores potenciais. Observaçõescomanimaispecilotérmicos,cujataxametabóli- caé proporcionalàtemperaturaambiente,mostraramqueesses animaisvivemmaisàbaixatemperaturadoquequandomantidos sob temperaturasmaisaltas.Contudo, estudosmaisrecentes I I L 18 / TeoriasBiológicasdoEnvelhecimento mostramqueo potencialmetabóliconãosódifereentreespécies, mastambémnãosemantémemvaloresconstantesnemmesmo paradiferentespopulaçõesdeumamesmaespécie.Maisimpor- tantesdoqueataxametabólicaemsiseriamosdiferentespadrões decontroledometabolismoobservadosentreindivíduosselecio- nadosparalongevidadeaumentada,oumutantesparalongevida- deaumentadae suaspopulações-controle.O controledo meta- bolismoparecesero motivodasdiferençasnalongevidade. Asteoriasdedanomitocondrialsugeremqueosdanoscumu- lativosdooxigêniosobreamitocôndriaseriamosresponsáveispelo declínionodesempenhofisiológicodascélulasduranteoenvelhe- cimento.Esseefeitosefariasentirprincipalmentesobreascélu- lasdiferenciadas,quenãosedividem,ouqueo fazemlentamente, asquaisapresentamumabaixataxadeturnover,quandocompara- dascomascélulasnãodiferenciadasdedivisãorápida.A produ- çãodeenergiaseriagradualmentecomprometida,àmedidaque asestruturasresponsáveispelaproduçãodeenergia,namembra- namitocondrialinterna,fossemlesadaspelodanoperoxidativo. Issoexplicariaasbaixastaxasmetabólicasobservadasemcélulas envelhecidas. Umaconexãointeressanteentreateoriadodanooxidativonas mitocôndriascomateoriadataxametabólicafoibaseadanapre- missadequemitocôndriascomreduzidacapacidaderespiratória causadaporumadeleçãoou mutaçãonoDNA mitocondrialiri- am,conseqüentemente,infligirmenosdanosàsuasprópriasmem- branasdo queocorreriaemmitocôndriasnormais.Comoresul- tado,a mitocôndriamutadairia sofrerdegradaçõeslisossomais menosfreqüentesdo quea mitocôndrianormale, assim,teria maioreschancesdesobreviveredesereplicar.Casoessadeleção ou mutaçãoocorresseemumamitocôndriadeumacélulanão- divisível,elarapidamentepovoariaessacélulae,logo,destruiriaa capacidaderespiratóriadamesma.Essahip6tese,chamada"aso- brevivênciadomaislento",aindanãofoitestadaexperimentalmen- te.Contudo,suasimplicaçõessãoconsistentescommuitoscená- riosdedanooxidativoàmitocôndria,comonocasodateoriade danoexponencialpor déficitenergético,segundoaqualumnú- merocadavezmenordemitocôndriasfuncionaisprecisaarcarcom a demandaenergéticatotaldacélula,aumentandoexponencial- menteataxadedanooxidativoasimesmas.As disfunçõesmito- condriaistêmsuasfreqüênciasaumentadascomaidadeemmui- tosorganismos,incluindohumanos.Apesardea teoriado dano mitocondrialaindaestarsobavaliaçãoexperimental,elaperma-nececomoumapossibilidadeintrigante,dadasuacoerênciain- ternaesuaamplarelaçãocomdiversasoutrashipóteses,tantosis- têmicasquantoestocásticas. TEORIAS GENÉTICAS Asteoriasdessegruposugeremquemudançasnaexpressãogênica causariammodificaçõessenescentesnascélulas.Váriosmecanismos sãopropostos.As mudançaspoderiamsergeraisou específicas, podendoatuaremnívelintraou extracelular.O númeromínimo degenesnecessáriosparaestendersignificativamentealongevidade parecenãosermuitogrande,indodeumlocusemC.ele8ansadois emNeurosporaeDrosophila,e a seisoumaisno camundongo.Isso nãosignifica,logicamente,queumouseisgenessejamresponsáveis pelalongevidade.A interpretaçãomaisrealistadessecenárioseriaa deque,dentrodocontextodeumdadogen6tipocomumalonge- vidadeparticular,alteraçõesnaatividadedessespoucosgenesseri- amosuficienteparadeslocaroequilíbriodasfunçõesgenômicaspara umalongevidadeaumentada. Dadascertasdiferençasentreosgen6tiposdepopulaçõesdi- ferentesdemesmaespécie,nãoestáclarosealteraçõesnosmes- mosgenesproduziriamamesmamodulaçãonalongevidade.Deve- seteremmentequeestamoslidandocomredesgenéticas,con- juntosdegeneseviasdesinalizaçãounidasemumcircuitoque seriaanálogoaumcircuitoelétricoderetroalimentação.Quando fazemosumaperguntasobreascaracterísticasdessecircuito,a respostadepende,emgrandeparte,decomonossaperguntafoi formulada. De modoa sintetizaraomáximoo focode abordagenspara gruposdegenesespecíficos,forampropostoscomomecanismos genéticosbásicosatuantesnalongevidadeasenzimasde defesa antioxidante,ossistemasdecontroledasínteseprotéicaeasmu- dançasnaexpressãogênicainduzidaspelarestriçãocal6rica.Além darestriçãodecalorias,outrostiposdeinfluêncianutricionalso- brea expressãogênicapodemsercitados,comoa diferençade longevidadeemcastasdeabelhassociais:asrainhas,reprodutiva- menteativas,vivemmuitosanos,enquantoasoperárias,não-re- produtoras,vivemmenosdeumano.A únicadiferençaentrees- sasfêmeas,geneticamenteidênticas,équeasrainhassãoalimen- tadascomgeléiarealduranteseudesenvolvimento.Essadiferen- çanaalimentaçãoinduzaumregimehormonaldiferentequere- sultanaativaçãodediferentespadrõesdeexpressãogênica,um levandoàesterilidadeeàvidacurta,o outroàfertilidadeeàlon- gevidadesuperior. Outrosmecanismospassíveisdeconstituirumabasegenômica parao envelhecimentoseriamo encurtamentodostelômeros,le- vandoàperdadeinformaçãogenéticaeàinstabilidadegenômica aolongodavida;atransduçãodesinaiseaatenuaçãodatransmis- sãode informações,comono casodamanutençãodoequilíbrio entreproliferaçãocelulare apoptose.Estaúltimaabordagemé muitoinstigante,umavezqueosdiversosefeitospleiotrópicos observadosnalongevidade,bemcomoinfluênciasambientaisdi- versas,apontamparaaexistênciadetodoumaparatoderecep- ção,codificaçãoetransmissãodeestímulosdoambienteaogeno- ma,desteàsfunçõescelularese,finalmente,entreasdiversasfun- çõesenvolvidasnocontroledahomeostasia.Contudo,suaavalia- çãoexperimentalé lentadevidoaoimensonúmerodevariáveise à limitaçãodastécnicasdeexploraçãodisponíveis. APOPTOSE A apoptose,tambémchamadade morteprogramadaou de "suicídio"decertascélulas,seriainduzidaporsinaisextracelulares. A despeitodaheterogeneidadedossinais,todosparecemdirigir- seaumalvo,umgeneouconjuntodegenesqueativaráumpro- gramadeapoptose.A falhaemreprimiroueminduzirapoptose provavelmenteé responsávelpor diversasdoenças.Contudo,o papeldaapoptoseno envelhecimentonão-patológicoaindanão foi esclarecido. FAGOCITOSE Nessecaso,célulassenescentesapresentariamproteínasde membranatípicas,queasidentificariameasmarcariamcomoalvo paraadestruiçãoporoutrascélulas,taiscomoosmacrófagos.Já foi comprovadaexperimentalmente,massuaaçãoémuitorestri- ta,comoocorrecomascélulasvermelhasdosangue. TEORIAS NEUROENDÓCRINAS Essegrupodeteoriaspostulaqueafalênciaprogressivadecé- lulascomfunçõesintegradorasespecíficaslevariaaocolapsoda homeostasiacorporal,àsenescênciaeàmorte.Devidoaoimpor- tantepapeldesempenhadopeloeixohipotálamo-pituitáriaepelo sistemalímbiconaregulaçãodasatividadesfisiol6gicas,quaisquer mudançasnaexpressãogênicanessasregiõesdo cérebroseriam '!!!!!' degrandeinteresse,umavezqueseriamtantodevidasamudan- çasnosníveisperiféricosdehormônioscomoamudançasnosníveis tróficosde hormônios.Algumasinvestigaçõesmostramqueas seqüênciasparagenesenvolvidosem funçõesneuroendócrinas podemserqualitativamentealteradascomaidadeequeafreqüên- ciadessasmutaçõessomáticaspodesermoduladapelaexposição crônicaadeterminadoshormônios. O exatopapeldocomplexoneuroendócrinoaindanãoestáclaro emcasosgerais,maspareceviraoencontrodaconcepçãosegun- doaqualoscircuitosreguladoressãocompostos,provavelmente, degenesemcascatae redesinterligadasdegenes. TEORIAS IMUNOLÓGICAS Do pontodevistaimunológico,alongevidadeseriadependen- te dasvariantesdecertosgenesparao sistemaimunepresentes nosindhlduos,algunsdelesestendendo,outrosencurtandoalon- gevidade.Supõe-sequetaisgenesregulariamumalargavariedade deprocessosbásicos,incluindoado sistemaneuroendócrino.A falhadessemecanismoderetroalimentaçãolevariaà falênciada homeostasiacorporaleàmorte.Estudoslongitudinaisdemudanças relacionadascomaidadeemprimatasdelaboratóriosugeremque o númeroeostiposdelinfócitosmudamcomaidade.A hipótese básicaéadequeessasreduçõesqualitativasequantitativasnares- postaimuneseriam,emparte,diretaou indiretamentedevidasà involuçãoinicialeaoenvelhecimentodo timo. O timopareceestarenvolvidonaregulaçãodaintensidadeda respostaimune.Entretanto,parecehaverevidênciasde queas perdasrelacionadascomaidadenafunçãoimunepodemserre- vertidas,ao menosparcialmente,como no casoda restrição calórica.Dadoscomoessessugeremque,pelomenos,algumasdas mudançasqueocorremnosistemaimunenãopoderiamserclas- sificadascomoenvelhecimento.Por outrolado,essateoriatem validadebastanterestrita,já quenãopodesergeneralizadapara todososseresvivos,poiso sistemaimuneorganizadoocorreso- mentenosgruposmaisevoluídosdaescalazoológica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Comestaapresentaçãosumáriadasprincipaisteoriasbiológi- cassobrefenômenobiológicodoenvelhecimento,ficaevidenteque existemváriasformasdeabordagemdomesmo.Issocorroboraas afirmaçõesiniciaisdestecapítulo,evidenciandoqueaindafalta muitainvestigaçãoparasechegaraumconsensosobreosconcei- tosbásicosquepossamdefiniro processodeenvelhecimento.A ausênciadessesconceitossedimentadosimpedeaformulaçãode umateoriafundamentalqueexplique,elucide,interpreteeunifi- queodomíniodefenômenosenvolvidosnoenvelhecimento.Muito provavelmente,nenhumadasteoriasaquiexpostasestejacomple- tamentecorreta.Talveztodascontenhamaexplicaçãodealguma partedo mosaico,masmuitaspesquisasaindaserãonecessárias paraquesetenhaumaexplicaçãounificadadessefenômeno instigantequeéo envelhecimentodosseresvivos. BIBLIOGRAFIA ArkingR.Biolo8YifAaina: Obsermtions and PrincipIes, 2nded. Massachusetts: SinauerAssociates,1998,570p. 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