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ISBN 978850263522-7 Teixeira, Tarcisio Direito empresarial sistematizado : doutrina, jurisprudência e prática / Tarcisio Teixeira. – 5. ed. – São Paulo : Saraiva, 2016. Bibliografia. 1. Direito empresarial 2. Direito empresarial - Brasil I. Título. 14-08893 CDU-34:338.93(81) Índices para catálogo sistemático: 1. Brasil : Direito empresarial : Direito 34:338.93(81) 2. Direito empresarial : Brasil : Direito 34:338.93(81) Diretor editorial Luiz Roberto Curia Gerente editorial Thaís de Camargo Rodrigues Assistente editorial Daniel Pavani Naveira Coordenação geral Clarissa Boraschi Maria Preparação de originais Maria Izabel Barreiros Bitencourt Bressan e Ana Cristina Garcia (coords.) | Adriana Maria Cláudio Arte e diagramação Jessica Siqueira Revisão de provas Amélia Kassis Ward e Ana Beatriz Fraga Moreira (coords.) | Cecília Devus Conversão para E-pub Guilherme Henrique Martins Salvador Serviços editoriais Elaine Cristina da Silva | Kelli Priscila Pinto | Camila Artioli Loureiro Capa Estúdio Insólito Data de fechamento da edição: 1-10-2015 Dúvidas? O art. 108 do projeto define comércio eletrônico como a relação cujas partes se comunicam e contratam por meio de transmissão eletrônica de dados, abrangendo a comercialização de mercadorias, insumos e prestação de serviços. Já o seu art. 111 prevê que se o site for destinado tão somente a possibilitar a aproximação entre potenciais interessados na concretização de negócios entre eles, o empresário que o mantém não terá responsabilidade pelos atos praticados pelos vendedores e compradores de produtos ou serviços por ele intermediados. Para tanto, caberá ao empresário titular do site o dever de: retirar do site as ofertas que lesem direito de propriedade intelectual alheio, no prazo de vinte e quatro horas do recebimento da notificação emitida por quem seja comprovadamente o seu titular; disponibilizar no site um procedimento de avaliação dos vendedores pelos compradores, acessível a qualquer pessoa; e manter uma política de privacidade na página inicial do site, a qual deve mencionar claramente a instalação de programas no computador de quem o acessa, bem como a forma pela qual eles podem ser desinstalados. Como se pode perceber, há uma clara intenção de afastar a responsabilidade objetiva para os intermediários de negócios pela internet, ainda que os requisitos previstos para tanto não sejam os melhores, especialmente o da exigência de manter um sistema de avaliação dos vendedores, por se tratar de clara intromissão na liberdade de organizar a empresa, sem dizer que, na prática atual, o que se observa é uma falta de fidelidade desses dados, sendo, portanto, muito discutível. 1.2. EMPRESÁRIO 1.2.1. Conceito de empresário Empresário é aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, de acordo com o art. 966 do Código Civil de 2002. O art. 966 do Código Civil brasileiro de 2002 é reflexo do art. 2.082 do Código Civil italiano de 1942, que dispõe: “É empreendedor quem exerce profissionalmente uma atividade econômica organizada para o fim da produção ou da troca de bens ou de serviços” (tradução livre). É correto afirmar que o empresário é um ativador do sistema econômico. Ele é o elo entre os capitalistas (que têm capital disponível), os trabalhadores (que oferecem a mão de obra) e os consumidores (que buscam pro�dutos e serviços). Ainda pode-se dizer que o empresário funciona como um intermediário, pois de um lado estão os que oferecem capital e/ou força de trabalho e de outro os que demandam satisfazer suas necessidades. Vale ressaltar que o conceito de empresário, a princípio, compreende a figura do empresário individual (uma só pessoa física) e da sociedade empresária (pessoa jurídica com dois ou mais sócios), que também pode ser denominada de empresário coletivo. Mais recentemente foi criada a figura da EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada), a qual pode ser tida como a terceira espécie de empresário. Esses temas serão tratados mais à frente. Sequencialmente, serão estudados a ME (Microempresa), a EPP (Empresa de Pequeno Porte), o MEI (Microempreendedor Individual), o empresário rural e o empresário irregular, mas que não são enquadráveis perfeitamente como espécies de empresário, uma vez que estas figuras podem se encaixar como empresário individual, sociedade empresária ou empresa individual de responsabilidade limitada. 1.2.2. Caracterização do empresário Para melhor entender o conceito de empresário, bem como analisar os elementos que o caracterizam (atividade econômica, organização, profissionalidade e produção ou circulação de bens ou de serviços)23, seguir-se-á um estudo dividido em cinco grupos: 1º) o exercício de uma atividade; 2º) a natureza econômica da atividade; 3º) a organização da atividade; 4º) a profissionalidade no exercício de tal atividade; 5º) a finalidade da produção ou da circulação de bens ou de serviços. Atividade – Para sabermos o que é uma atividade, é necessário fazer a distinção entre ato e atividade. Ato é cada parte de uma peça; significa algo que se exaure, que é completo e alcança o resultado pretendido. Ele atinge a finalidade para a qual foi praticado sem a necessidade de outro ato. Já a atividade é o conjunto de atos coordenados para alcançar um fim comum. Não é uma mera sequência de atos; é necessária a coordenação, como ocorre, por exemplo, com as linhas de produção de automóveis. Por sua vez, a atividade pode envolver atos jurídicos e atos materiais. Os atos jurídicos são aqueles que têm efeito na esfera do Direito (p. ex., a venda de mercadorias gera uma obrigação de pagar tributo). Os atos materiais são aqueles que não geram efeitos jurídicos (p. ex., o deslocamento de mercadorias dentro da empresa de um almoxarifado para outro). Atividade pressupõe uma habilidade do sujeito que a exerce ou a organiza, assumindo o seu risco econômico. É o empresário (às vezes, com ajuda de auxiliares) quem exerce a empresa, ou seja, quem exerce a atividade, pois, no âmbito dos negócios, atividade é sinônimo de empresa. Ele coordena os atos que formam a atividade (p. ex., em uma confecção). Econômica – É a atividade que cria riqueza por meio da produção ou circulação de bens e de serviços. A atividade econômica tem como fim o lucro. Quem explora a atividade objetiva o lucro, ainda que às vezes experimente prejuízos. Se o lucro for meio – por exemplo, no caso de uma associação ou fundação na qual o lucro é todo destinado a programas assistenciais –, não é atividade econômica. O bazar realizado por uma igreja visa arrecadar fundos que serão empregados em suas obras; logo, não há lucro, pois a igreja não tem a finalidade de obter lucro na sua atividade principal, que é religiosa. “Econômica” é uma expressão que aqui está relacionada ao fato de a atividade apresentar “risco”. A atividade é exercida com total responsabilidade do empresário, pois há o risco de perder o capital ali empregado, o que justifica o proveito que ele tem em retirar o lucro decorrente da atividade. Organização – O empresário é quem organiza a atividade. Ele combina os fatores de produção de forma organizada. Os fatores de produção são: 1) natureza (matéria-prima); 2) capital (recursos financeiros, bens móveis e imóveis etc.); 3) trabalho (mão de obra); e 4) tecnologia (técnicas para desenvolver uma atividade). O empresário, ao combinar os fatores de produção, cria riquezas e atende às necessidades do mercado. Pode o empresário contar com auxiliares, mas não há necessidade do concurso do trabalho de pessoas além dele, já que é possível ele ter uma firma individual ou uma sociedade em que somente os sócios trabalham (p. ex., uma lavanderia). A organização da atividade pressupõe um estabelecimento, que será estudado adiante (CC, art. 1.142). Estabelecimento é o complexo de bens para o exercício da atividade e, na maioria das vezes, inclui um ponto físico,mas não necessariamente. Por exemplo, um carrinho de pipoca pode ser considerado o estabelecimento de um empresário. Cabe esclarecer que “organização” não significa necessariamente “regularização”. Isso porque, um empresário irregular (sem inscrição na Junta Comercial) poderá desenvolver de forma organizada sua atividade em um estabelecimento empresarial. Profissionalidade – Significa que o empresário é um profissional/expert naquele ofício; faz do exercício da atividade econômica a sua profissão. A profissionalidade do empresário pressupõe: 1) habitualidade (continuidade; atuação contínua do empresário no negócio); 2) pessoalidade (o empresário é quem está à frente do negócio, diretamente ou por meio de contratados que o representam); 3) especialidade (o empresário é quem detém as informações a respeito do negócio; o conhecimento técnico, por exemplo, de como produzir linguiças aromatizadas). Toda atividade negocial é de risco, então, poder-se-ia dizer que o empresário é um profissional em correr riscos. Produção ou circulação de bens ou de serviços – Para compreendermos melhor este ponto, ele será dividido em quatro possibilidades: 1ª) Produzir bens é sinônimo de fabricar mercadorias. É acrescentar valor a elas por meio de processo de transformação, como ocorre em fábricas de sapatos, padarias, metalúrgicas, montadoras de veículos etc. 2ª) Produzir serviços é prestar serviços em geral (exceto intelectuais), como acontece com bancos, seguradoras, locadoras, lavanderias, encadernadoras etc. Trata-se de prestação de serviços em geral, exceto os de caráter intelectual. 3ª) Circular bens é adquirir bens para revendê-los (em regra, sem transformá-los). É apenas uma intermediação. É a típica atividade do comerciante (p. ex., lojas de sapatos e de roupas, farmácias etc.). 4ª) Circular serviços é fazer a intermediação entre o cliente e o fornecedor do serviço a ser prestado, como o corretor de seguros e o agente de viagens. Assim, a partir da produção e da circulação, seja de bens ou de serviços, estão-se gerando riquezas. Frise-se que tais modalidades podem ser desenvolvidas individualmente ou concomitantemente pelo empresário. Hipoteticamente, uma empresa pode produzir e circular bens ao mesmo tempo (como uma fábrica que mantém loja varejista na porta do seu estabelecimento industrial); ou pode circular bens e prestar serviço concomitantemente (por exemplo, uma concessionária que vende veículos e realiza assistência técnica). 1.2.3. Conceito de empresa e mercado. Perfis da empresa e teoria poliédrica O italiano Alberto Asquini foi quem melhor já escreveu sobre o conceito de empresa, em seu texto “Perfis da empresa”, ao ponderar que empresa é um negócio econômico que se apresenta de diversas maneiras24. De acordo com Alberto Asquini, a empresa pode ser entendida em quatro perfis, por isso a expressão “teoria poliédrica”, que serão discorridos sucintamente: 1) objetivo – a empresa significa patrimônio, ou melhor, estabelecimento, enquanto conjunto de bens destinados ao exercício da empresa (nesse sentido: art. 1.142 do Código Civil); 2) subjetivo – a empresa é entendida como sujeito de direitos, no caso o empresário, individual (pessoa natural) ou sociedade empresária (pessoa jurídica), que possui personalidade jurídica, com a capacidade de adquirir direitos e contrariar obrigações (nesse sentido: arts. 966 e 981 do Código Civil); 3) corporativo – a empresa significa uma instituição, como um conjunto de pessoas (empresário, empregados e colaboradores) em razão de um objetivo comum: um resultado produtivo útil; 4) funcional (ou dinâmico) – a empresa significa atividade empresarial, sendo uma organização produtiva a partir da coordenação pelo empresário dos fatores de produção (capital, trabalho, matéria-prima e tecnologia) para alcançar sua finalidade (que é o lucro). Diante do exposto, pode-se dizer que, a princípio, a palavra empresa significa atividade, que por sua vez é exercida pelo empresário. Essa atividade é o conjunto de atos coordenados pelo empresário. Mas, modernamente, a expressão empresa, como atividade econômica, contempla a soma de todos os perfis apontados por Alberto Asquini. Não se pode deixar de mencionar que Ronald H. Coase, em seu texto “The nature of the firm”, datado inicialmente de 1937, apontou para o fato de que as empresas são constituídas por agentes econômicos, que são maximizadores de utilidades e riquezas, a fim de reduzir os custos de transação (custos para se concretizar os negócios), bem como atender às necessidades dos mercados em que pessoas buscam satisfazer suas necessidades e aumentar seu bem-estar. Para Ronaldo H. Coase a empresa é um feixe de contratos (nexo de contratos) coordenados pelo empresário ao estabelecer relações com fornecedores, empregados e clientes, visando a oferta de produtos ou serviços nos mercados25. P o r mercado, entenda-se o local onde os agentes econômicos (empresas, consumidores etc.) operam como vendedores ou compradores, efetuando assim trocas de bens e serviços por unidades monetárias ou por outros bens ou serviços. O mercado facilita o encontro desses operadores, diminuindo os custos de transação, ou seja, as despesas para se concretizar os negócios. 1.2.4. Empresa e atividade empresarial O conceito de atividade empresarial está diretamente relacionado com o conceito de empresário, previsto no caput do art. 966 do Código Civil. A atividade desenvolvida pelo empresário é empresarial, pois é exercida profissionalmente na busca de lucro. Pode-se dizer que a atividade é uma organização profissional para produção ou circulação de bens ou de serviços com a finalidade de lucro. Assim, a empresa é justamente a atividade econômica organizada, exercida profissionalmente. A empresa envolve a produção ou a circulação de bens ou de serviços (exceto os de natureza intelectual), sem prejuízo do que foi considerado anteriormente sobre os elementos que compõem o conceito de empresário, à luz do art. 966 do Código Civil. A princípio, a empresa pode ter natureza civil ou empresarial. As atividades intelectuais e rurais e as cooperativas podem ser tidas como exemplos da natureza civil da atividade. A indústria, o comércio e a prestação de serviços têm natureza empresarial. Rachel Sztajn afirma que empresa é gênero de atividade econômica que comporta algumas espécies, desde a produção de bens até a prestação de serviços ou atividades artesanais. A autora aponta que, neste aspecto, o Brasil não segue os modelos da doutrina e da legislação italianas, mantendo a separação entre atividade econômica de empresa e outras atividades econômicas26. Destaca-se que o empresário, titular da atividade empresarial, goza de alguns direitos, como a possibilidade de requerer a recuperação de empresa judicial ou extrajudicial; a autofalência; utilizar seus livros como prova judicial em seu favor, o que, por sua vez, não são direitos assegurados aos profissionais intelectuais. Mesmo que alguém exerça uma atividade que entenda não ser empresarial ela o será, em razão do exposto27. 1.2.5. Atividade intelectual A atividade intelectual difere da atividade empresarial, que está prevista no parágrafo único do art. 966 do Código Civil. Em regra, as atividades de natureza intelectual ficaram fora do campo da empresa e do Direito Empresarial. Isso foi uma mera opção do legislador considerando que, do ponto de vista organizacional (fatores de produção), econômico (busca de lucros) e de existência de estabelecimento(s), não há diferenças com relação à atividade empresarial. O vocábulo “intelectual” significa os dotes que vêm do intelecto (inteligência), da mente, e está relacionado à erudição, ao estudo, ao pensar. Assim, as atividades intelectuais são aquelas que necessitam de um esforço criador que, por sua vez, está na mente do profissional que a realiza, como no caso de médicos, arquitetos etc. São atividades personalíssimas, por não se admitir, via de regra, a fungibilidadedo devedor quanto à sua prestação, ou seja, o devedor não pode ser substituído. Geralmente as atividades intelectuais são realizadas por profissionais de atividades regulamentadas ou por profissionais liberais (sem vínculos). Porém, isso não é uma regra absoluta, como ocorre com o corretor de seguros, que pode ser um profissional liberal, mas não exerce atividade intelectual, e sim atividade empresarial. O mesmo vale dizer do representante comercial autônomo. Profissional liberal é aquele profissional independente que tem curso universitário. Mas existem casos em que se exerce uma atividade intelectual sem necessariamente se ter um curso universitário, como acontece com artistas e escritores. Já profissão regulamentada é aquela com previsão legal, ou seja, com regramento na legislação, como ocorre com os advogados, contadores, economistas, médicos etc. O próprio corretor de seguros que desenvolve atividade empresarial também tem sua atividade regulamentada por lei. Atividade intelectual não se confunde necessariamente com prestação de serviços, pois esta é uma atividade empresarial, de acordo com a teoria da empresa e o conceito de empresário, estabelecido no caput do art. 966 do Código Civil. Por exemplo, o pedreiro não exerce uma atividade intelectual, mas, sim, uma atividade empresarial de prestação de serviços. O que aproxima a atividade intelectual da atividade empresarial é que ela também visa o lucro e tem estabelecimento para o desenvolvimento de sua atividade. Mas, a princípio, o volume de serviços prestados ou de bens produzidos não descaracteriza a atividade intelectual. A atividade intelectual, de acordo com o art. 966, caput, do Código Civil, pode ser uma atividade de natureza: científica, literária ou artística. 1.2.5.1. Científica, literária e artística A atividade de natureza científica está relacionada com quem é pesquisador ou cientista, ou seja, alguém especializado em uma ciência (conhecimentos sistêmicos). As atividades realizadas pelos profissionais de uma das áreas do conhecimento (humanas, exatas e biológicas) podem se enquadrar na atividade intelectual, citando-se, como exemplos, o preparador físico, o fisioterapeuta, o psicólogo, o químico, médico etc. Pode- se dizer que esses são cientistas nas suas respectivas áreas. Já a atividade de natureza literária está relacionada com a expressão da linguagem, ideias, sentidos e símbolos, especialmente por meio da escrita. Nesse sentido, o escritor, o compositor, o poeta, o jornalista etc. são exemplos de profissionais que exercem atividade de natureza literária. O literário é intelectual, mas pode não ser universitário. Por sua vez, a atividade de natureza artística está relacionada com a arte, que é a produção de algo extraordinário com a utilização de habilidades e certos métodos para a realização. Também está relacionada com a expressão de sentidos e símbolos por meio de linguagem não escrita. Exercem atividade de natureza artística o ator e o cantor (que são intérpretes), o desenhista, o fotógrafo, o artista plástico etc. 1.2.5.2. Concurso de auxiliares ou colaboradores Para o exercício da atividade intelectual, seja de natureza científica, literária ou artística, o profissional pode contratar auxiliares ou colaboradores para auxiliá-lo no exercício de sua atividade. A contratação de auxiliares ou colaboradores pelo profissional intelectual não caracteriza sua atividade como empresarial. Em outras palavras, tomando como exemplo o médico (profissional intelectual) que pode contratar uma secretária ou um mensageiro (que realizam serviços burocráticos e indiretos – atividade meio) como colaborador; ou contratar uma enfermeira ou outro médico para ser seu assistente/auxiliar (pois realizam serviços relacionados à atividade médica – atividade fim), sem que isso descaracterize sua atividade intelectual. 1.2.5.3. Elemento de empresa Conforme a parte final do parágrafo único do art. 966 do Código Civil, o profissional intelectual pode ser considerado um empresário se o exercício da sua profissão constituir elemento de empresa. Quer dizer que a atividade intelectual pode fazer com que seu titular seja considerado empresário se estiver integrada em um objeto mais complexo, próprio da atividade empresarial, ou seja, se a atividade intelectual for parte de uma atividade empresarial 28. O intelectual não é empresário, mas transforma-se em um quando desenvolve uma atividade empresarial, que vai além da atividade intelectual. Dessa forma, o profissional não é empresário quando realiza um serviço intelectual diretamente em favor de quem com ele contrata. Mas, quando o profissional intelectual oferece os serviços intelectuais de outras pessoas (que trabalham para ele) será considerado empresário29. Aqui o cliente procura o escritório (ou a empresa), e não necessariamente o profissional. No primeiro caso, o cliente procura diretamente o trabalho do profissional intelectual. Um bom exemplo é a situação de um médico. Quando recém-formado, num primeiro momento trabalhando sozinho, abre uma clínica e, com o passar do tempo, contrata uma secretária, depois uma enfermeira (para auxiliar nos curativos), e mesmo assim será considerado um profissional intelectual, pois é em razão dele que os pacientes vão ao consultório. Nesse caso, o médico ainda não é um desenvolvedor de atividade empresarial 30. No entanto, se ao longo dos anos esse consultório passar a ser uma clínica, e futuramente se transformar num hospital, os pacientes que ali vão muitas vezes sequer terão conhecimento daquele profissional, pois irão apenas pelo prestígio do hospital (empresa); aí, neste caso, a atividade médica será considerada atividade empresarial. Então, nesse exemplo, o papel do médico (fundador) passa a ser o de administrador, considerando os vários tipos de serviços que ali existem (laboratórios, serviço de remoção, lanchonetes, lojas etc.), além dos vários departamentos (contabilidade, jurídico, almoxarifado, expedição, administração etc.). Ele passou a ser um organizador dos fatores de produção (capital, trabalho, natureza e tecnologia), ou seja, a profissão intelectual deu lugar à atividade empresarial. Outro exemplo é o do professor: enquanto lecionar aulas particulares é um profissional intelectual. Mas, se constituir uma escola e passar a ser o diretor, isso poderá caracterizar a atividade como empresarial. Também pode ser uma hipótese o caso do químico, pois quando passa a ser sócio de uma indústria de reagentes sua atividade intelectual passa a ser considerada empresarial. Ainda, poderia se pensar no veterinário que passa a desenvolver o comércio de produtos para animais, no ramo que popularmente se denomina pet shop; ou o preparador físico pessoal (personal trainer) que monta uma academia de ginástica. Assim, o profissional intelectual se tornará empresário quando organizar sua atividade como empresa, com o objetivo de empresário: a produção ou circulação de bens ou de serviços para atender indistintamente os agentes econômicos do mercado, sobretudo os consumidores. Poder-se-ia também dizer que, quando a busca pelo lucro estiver à frente da intelectualidade e da pessoalidade no exercício profissional, como ocorre, por exemplo, em clínicas de cirurgia estética, construtoras ou farmácias convencionais, em que há padronização dos serviços e/ou produtos para o mercado, não importando quem está por trás da atividade. O produto ou serviço deixa de ter o caráter personalizado de uma atividade intelectual. A multiplicidade de filiais pode mudar a natureza jurídica da atividade, de intelectual para empresarial, como, por exemplo, tem ocorrido com clínicas odontológicas e escolas de ensino particular que são abertas na forma de franquia. Neste caso, a atividade intelectual é mero elemento de empresa. Contudo, a atividade será considerada empresarial quando a natureza de empresa se sobrepuser à natureza intelectual, ou seja, quando o exercício da profissãoconstitui elemento da atividade empresarial, o profissional será enquadrado no conceito jurídico de empresário, fazendo jus aos direitos de empresário, como a recuperação de empresas31. 1.2.6. Inscrição e obrigações Ao empresário é atribuída uma série de obrigações no Código Civil. A primeira obrigação é a sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis (de acordo com o art. 1.150 do Código Civil, o Registro Público de Empresas Mercantis está a cargo das Juntas Comerciais). Essa inscrição deve ser feita no órgão da respectiva sede (Estado-membro) do empresário, devendo ser realizada antes de o empresário iniciar sua atividade (CC, art. 967). Quanto à inscrição do empresário, deverá ser feita mediante requerimento (por meio de formulário disponibilizado pela Junta Comercial). Esse requerimento deverá conter seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil, regime de bens (se for casado), firma (nome
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