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Obstetrícia Carolina Ferreira -Definição: é o sangramento genital puerperal considerado anormal, ou seja, + de 500 mL no parto vaginal ou + de 1.000 mL no parto cesárea. Clinicamente, a hemorragia pós-parto pode ser definida como perda sanguínea suficiente p/ causar instabilidade hemodinâmica. -A hemorragia puerperal está associada a altas taxas de morbidade, sendo uma emergência médica e uma das principais causas de morte materna, sobretudo nos países subdesenvolvidos. -Complicações associadas a ela: anemia, cansaço, fadiga, infarto hipofisário, distúrbio de lactação, transfusão sanguínea, choque hipovolêmico, necrose tubular aguda e morte. -Exame físico: pode diagnosticar algum tipo de trauma no canal de parto, responsável por 20% dos casos de hemorragia puerperal. Lacerações no canal de parto, hematoma de episiotomia, inversão uterina ou rotura uterina podem ser diagnosticados e devem ser prontamente corrigidos c/ técnica cirúrgica adequada. ETIOLOGIA -Fatores predisponentes p/hemorragia puerperal são: gemelaridade, polidrâmnio, macrossomia fetal, multiparidade, hemorragia pós-parto e parto cesárea em gestação prévia, dequitação prolongada, parto assistido (fórcipe, vacuoextrator), trabalho de parto prolongado etc. -4 fatores podem ser responsáveis pela etiologia da hemorragia puerperal: alteração no tônus uterino (hipotonia, atonia uterina), trauma de canal de parto (lacerações, hematoma de episiotomia, inversão uterina, rotura uterina), retenção do tecido placentário ou de membranas e coagulopatias. -A deficiência no miotamponamento causada pela hipotonia ou atonia uterina no puerpério corresponde até 70% dos casos de sangramento de 4º período → Uma vez identificada alteração do tônus uterino, deve-se proceder à massagem uterina bimanual; ñ havendo resposta satisfatória, podem ser prescritas drogas que ajudam na contratilidade das fibras musculares do útero → A 1º droga de escolha é a ocitocina intravenosa ou intramuscular. Na sequência, podem ser usados os derivados do “ergot” (metilergonovina/ergometrina) pela via intramuscular ou diretamente na musculatura uterina. As prostaglandinas de uso intramuscular ñ estão disponíveis no mercado brasileiro, devendo ser utilizadas por via retal, preferencialmente → Medidas cirúrgicas, ligaduras de arterias, hipogástricas ou histerectomia devem ser realizadas quando falham todas as alternativas citadas -Retenção placentária ou acretismo placentário de algum grau podem ser responsáveis por até 10% dos casos de hemorragia puerperal -Fatores de risco p/ acretismo placentário são: cesárea em gestação prévia, placenta prévia, curetagem uterina prévia, idade materna avançada, multiparidade → Extração manual da placenta (retenção placentária), curetagem uterina puerperal ou histerectomia (acretismo placentário) são tratamentos disponíveis p/ essas situações. -Os distúrbios de coagulação podem interferir no mecanismo de trombotamponamento e ser causa de hemorragia puerperal em até 1% das vezes. Muitas coagulopatias podem ser diagnosticadas antes da gestação ou do parto, permitindo melhor planejamento terapêutico. → Púrpura trombocitopênica idiopática, doença de von Willebrand e hemofilias são algumas doenças capazes de causar sangramento puerperal significativo Obstetrícia Carolina Ferreira -Drogas como ácido acetilsalicílico e situações obstétricas como descolamento prematuro de placenta, óbito fetal e toxemia gravídica grave podem causar coagulação intravascular disseminada e predispor à hemorragia puerperal -Devem ser realizados tratamento da doença de base, avaliação do status de coagulação e contagem de plaquetas. A avaliação de médico clínico é desejável nesses casos. SÍNDROME DE SHEEHAN -A síndrome de Sheehan é caracterizada por hipopituitarismo pós-parto secundário a necrose hipofisária decorrente de choque hemorrágico maciço que pode ocorrer durante o parto ou no puerpério imediato -Devido à melhora nos cuidados obstétricos, observa-se atualmente uma da sua frequência, especialmente em países desenvolvidos, atualmente, considerada consequência pouco comum dos quadros de hemorragia obstétrica. Em países em desenvolvimento, onde a assistência obstétrica é precária, ainda é uma frequente complicação advinda das hemorragias de parto e puerpério. -Costuma ser diagnosticada tardiamente, pois, mesmo que sinais de insuficiência hipofisária estejam presentes, estes são frequentemente pouco valorizados. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais p/ a redução da morbimortalidade das pacientes c/ essa síndrome. -Patogênese: ocorre o infarto da hipófise devido à do fluxo sanguíneo p/ essa glândula, podendo ser secundário a vasoespasmo, trombose ou compressão vascular. O lobo anterior costuma ser o + acometido. Graças à hiperplasia dos lactotrofos estimulada pelos estrogênios, há progressivo da glândula de 30 a 100% do seu peso durante a gestação. O da hipófise pode comprimir a artéria hipofisária superior, podendo levar a algum grau de isquemia. Por outro lado, acredita-se que o suprimento sanguíneo para a hipófise se mantenha inalterado em relação ao estado pré-gravídico. Pode-se observar a síndrome de Sheehan em puérperas sem história de hemorragia. A trombose primária é uma probabilidade causada pela agregação ou pelo sequestro de plaquetas ao longo de células endoteliais previamente lesadas. O que se observa nas pacientes c/ a síndrome são sintomas compatíveis c/ diferentes graus de hipofunção hipofisária que podem ser diagnosticados dias ou anos após o parto. A apresentação do quadro clínico pode ser dividida em forma aguda ou crônica. A forma aguda apresenta sintomas e sinais de insuficiência adrenal aguda e a forma crônica engloba características dos diversos déficits hipofisários coexistentes. Aspectos clínicos da síndrome de Sheehan -Quadro clínico: é formado pela presença de rugas finas ao redor dos olhos e lábios, sinais de envelhecimento precoce, pele seca e hipopigmentada, atrofia da mama e rarefação dos pelos axilares e pubianos. O distúrbio eletrolítico + comum é a hiponatremia e pode estar presente por + de 30 anos após o inicio da doença. A depleção de volume, deficiência de cortisol, hipotireoidismo e síndrome da secreção inapropriada de hormônio antidiurético são os fatores implicados nessa alteração. Obstetrícia Carolina Ferreira -A extensão da disfunção hipofisária varia, já que o principal acometimento foi o da secreção de prolactina e do hormônio do crescimento. Apesar de a agalactia ser o sinal clínico + comum nas pacientes c/ síndrome de Sheehan, existem pacientes que apresentam galactorreia e hiperprolactinemia → Apesar de a referência de amenorreia após o parto ser frequente, em muitas mulheres a função gonadotrófica pode estar preservada, c/ vários relatos de mulheres que mantiveram ciclos menstruais regulares e até engravidaram de maneira espontânea. -Níveis séricos de TSH normais ou levemente podem estar presentes e hipotireoidismo central apresentando ausência de resposta adequada após estímulo c/ TRH. A evolução do quadro de hipotireoidismo que pode ocorrer após a necrose hipofisária tende a ser lenta, c/ redução gradual do TSH e do T4 livre. Finalmente, os baixos níveis de cortisol e a possível redução no tônus hipotalâmico de somatostatina causada pela na secreção de GH podem ajudar no do TSH nessas mulheres -É pouco comum a ocorrência de diabetes insipidus em pacientes c/ síndrome de Sheehan → Entretanto, há indícios de que a forma parcial do diabetes insipidus nessas mulheres é + frequente do que se imaginavano passado -Uma história obstétrica completa e cuidadosa é fundamental p/ o diagnóstico -Diagnóstico: antecedentes de trabalho de parto difícil c/ hemorragia intensa durante ou logo após o parto e evolução p/ agalactia e amenorreia secundária -Podem estar presentes sinais clínicos agudos ou crônicos de hipopituitarismo e sela vazia ou parcialmente vazia à TC ou RM de sela túrcica -A avaliação de níveis hormonais basais, incluindo prolactina, T4 livre, TSH, ACTH, cortisol, FSH, LH, estradiol e IGF-1, geralmente é suficiente p/ o diagnóstico → Porém, em algumas situações, podem ser necessários testes dinâmicos da função hipofisária. -As deficiências hormonais em pacientes c/ síndrome de Sheehan devem ser tratadas como em qualquer outro paciente c/ hipopituitarismo. EMBOLIA AMNIÓTICA -A embolia de líquido amniótico é uma das principais causas de morte em bstetrícia nos países desenvolvidos; embora a situação seja rara, provoca elevadas morbidade e mortalidade. → O registro de mortes maternas no Reino Unido refere, entre 1997 e 2000, 30% de mortalidade associada a essa situação. -Deve ser considerada perante um quadro de súbito colapso cardiorrespiratório,especialmente se apresentar sintomas clínicos de reação anafilática -Diagnóstico: pode ser firmado quando o quadro clínico -É uma síndrome, que pode ser expressa por diversos quadros: cardiopulmonar, lesão neurológica, convulsão, coagulopatia e hemorragia. → Em cerca de 70% dos casos, o quadro clínico é dominado por manifestações cardiopulmonares, 18% por coagulopatia e 9% por convulsões. -Pode ocorrer no trabalho de parto espontâneo ou cirúrgico e mesmo no pós-parto -O feto pode sofrer bradicardia ou desacelerações variáveis de início súbito a que se segue a bradicardia, quando ocorre a embolia na grávida → Pode-se afirmar que a embolia é imprevisível e súbita, e nenhum dado sugere que a alteração na conduta clínica possa evitar esse quadro. -Tanto o colapso cardiopulmonar quanto a hemorragia podem ser rapidamente fatais p/ a mãe e p/ o feto. -Se a gestante sobrevive à agressão inicial, a coagulação intravascular disseminada sucede-lhe assim como outras disfunções de múltiplos órgãos. Estes efeitos são provavelmente mediados pela combinação de um efeito pressor marcado e resultante hipoperfusão de todos os tecidos, e posteriormente exacerbado pela queda do débito cardíaco e consequente hipoxemia. Isso se deve a um mediador presente no líquido amniótico em grande quantidade, e sobretudo no mecônio, a endotelina. Esta é um peptídeo vasoconstritor potente, c/ ação nas artérias Obstetrícia Carolina Ferreira coronárias e pulmonares, e propriedades broncoconstritoras. A endotelina a pressão no átrio esquerdo e o débito cardíaco; sendo observado na embolia de líquido amniótico -As contrações hipertônicas, frequentemente associadas à embolia de líquido amniótico, parecem ser o resultado da liberação de catecolaminas, e sobretudo de endotelinas, p/ a circulação como parte de uma resposta hemodinâmica inicial a uma agressão fisiológica maciça. A endotelina atua como potente uterotônico -Quadro clínico: por vezes é + sutil, detectando-se de início a deterioração do bem-estar fetal. -Tratamento: tem como objetivos: a) Manter pressão arterial sistólica > 90 mmHg b) Débito urinário > 25 mL/h c) pO2 > 60 mmHg d) Saturação da hemoglobina = 90% e) Corrigir as alterações da coagulação f) Monitorização fetal para detectar eventual sofrimento g) Vários trabalhos referem a plasmaférese como útil -Tratar a hipertonia uterina e realizar o parto de emergência podem melhorar o prognóstico SUTURA DE B-LYNCH -As técnicas hemostáticas de sutura de compressão uterina são ainda pouco divulgadas e aplicadas no Brasil. -A técnica de B-Lynch consiste em uma sutura compressiva p/ casos de hemorragia pós-parto secundária à atonia uterina que ñ responderam ao tratamento farmacológico, representando um tratamento cirúrgico c/ < morbidade em relação às técnicas tradicionais como a histerectomia. -A sutura pode ser realizada após parto vaginal ou cesárea -Se o nascimento ocorreu por via vaginal, a puérpera deverá ser submetida à laparotomia e histerotomia segmentar transversa p/ a realização da sutura. Aplicação de compressão bimanual (c/ 1 mão posicionada na parede posterior e as pontas dos dedos na altura do colo e a outra na parede anterior de forma que todo útero seja comprimido em sentido longitudinal) deve ser realizada após o útero ser exteriorizado. O útero permanecerá exteriorizado até o término da histerorrafia. Se a compressão for suficiente p/ estancar o sangramento, a aplicação da sutura deve ser eficaz. → Utilizando-se fio cromado categute 2 ou poliglactina 1 c/ agulha cilíndrica robusta de 70 mm, transfixa-se a parede anterior do útero 3 cm abaixo da borda inferior da histerotomia e a 3 cm da margem lateral direita do útero, emergindo 3 cm acima da borda superior da histerotomia e a 4 cm da borda lateral direita → O fio percorre externamente o corpo uterino e em sentido longitudinal, passando aproximadamente 3 a 4 cm do corno uterino direito, e desce longitudinalmente pela parede posterior até o nível da histerotomia, na qual se transfixa a parede posterior do lado direito na altura do primeiro ponto de entrada do fio na parede anterior. → No sentido horizontal, em um ponto simétrico do lado esquerdo, transfixamos a parede posterior. O fio sobe pela face posterior esquerda percorrendo externamente o trajeto inverso ao descrito no lado direito. → Após compressão manual do útero realizada pelo assistente, o fio é tracionado pelas suas extremidades pelo cirurgião, sendo aplicado um nó duplo seguido de 2 nós simples, para, em seguida, realizar a histerorrafia. Aplicação técnica de B-Lynch Obstetrícia Carolina Ferreira Vista anterior após sutura de B-Lynch Vista posterior após sutura de B-Lynch Sequência de procedimento em casos de hemorragia pós- parto Obstetrícia Carolina Ferreira
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