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MASTALGIA: - Condição que mais leva pacientes a procurarem mastologista. - Conhecida também como alteração fibrocística benigna das mamas (AFBM). Dor nas mamas (quase todas as mulheres já sentiram, pode ser frequente ou esporádica). - Antes chamavam de displasia mamária. Termo caiu em desuso pois possui conotação de condição pré-neoplásica, no entanto, quem possui mastalgia não tem risco aumentado ao câncer de mama. - AFBM → dor nas mamas, as quais podem estar mais densas (parênquima mamário possui mais glândula mamária do que gordura) e, muitas vezes, está associado a cistos. - Mastalgia (caracterizada por dor e/ou espessamento tecidual) tem início na menacme, piora no período pré-menstrual, melhora após início da menstruação e tende a desaparecer na menopausa. - Condição fisiológica, mas pode interferir nas atividades cotidianas (atividade sexual - 48%, atividade física - 37%, atividades sociais - 12% e atividades laborais/escolares - 8%), devendo o mastologista intervir. - Ocorre com grande frequência e possui alta prevalência. Possui intercâmbio com a esfera biopsicossocial (medo de ter câncer). ETIOLOGIA/FISIOPATOLOGIA DA MASTALGIA: - Fisiopatologia desconhecida. Pode ter relação com a disfunção hormonal. Em geral, os hormônios estão normais, mas a glândula responde mais ao estímulo hormonal. - Estrogênio age no tecido epitelial mamário, promovendo alongamento e dilatação dos ductos e, com isso, ocorre retenção hídrica e de sódio. Por isso as mulheres sentem edema nos períodos dolorosos. - A prolactina (hormônio que estimula a glândula mamária) possui relação desconhecida com essa condição. - Fatores genéticos provavelmente in�luenciam (se a mãe tem mastalgia, possui chance maior de ter). - Prostaglandinas provavelmente estão relacionadas. - Alguns trabalhos já relacionaram o quadro com hipoglicemia, mas não está confirmado. Aberração do perfil lipídico também não possui confirmação. - Outra hipótese são os níveis oscilantes de endorfina. CLASSIFICAÇÃO DA MASTALGIA: 1- CÍCLICA: característica, possui relação com o ciclo menstrual (piora no período pré-menstrual e melhora após a menstruação). 30 a 50% das pacientes com mastalgia cíclica procuram o mastologista, sendo que 70% possui mastalgia leve (não precisa de terapia medicamentosa, é feito orientação e afastada a possibilidade de câncer). As formas moderada a severa são quando interferem no cotidiano, duram mais de uma semana e precisam de medicamentos. 2- ACÍCLICA: não relacionada com o ciclo menstrual. Nesse caso, mulheres que entram na menopausa podem ter. 3- MASTALGIA NÃO MAMÁRIA: dor na região da mama não tem relação com a mama em si. Ex.: Síndrome de Tietze (osteocondrite de articulação costoesternal). Além de dor musculoesquelética por exercício físico, distensão de músculo, esforço excessivo. - Angina é um diagnóstico diferencial que requer cuidado, principalmente em idosas que referem dor na mama esquerda. Alterações do aparelho digestivo, como esofagite de re�luxo e epigastralgia podem referir na mama. Herpes-zóster (in�lamação que causa faixa de vesículas na pele) pode causar dor na região se acometer o dermátomo correspondente. TRATAMENTO DA MASTALGIA: 1) Afastar a hipótese de câncer e informar a pacientes, com isso, muitas já apresentam “melhora da dor” ou deixam de dar importância, não havendo necessidade de receitar medicamentos. 2) Relação médico-paciente e empatia: fundamental, pois a paciente precisa acreditar em você e que você reconhece que ela possui dor. Confortá-la no sentido de que isso não traz outro problema. 3) Mudanças nos hábitos podem surtir efeito. Orientar uso de sutiã mais ajustado para que a mama não fique pêndula e chacoalhe na atividade física; evitar modelos que apertem, principalmente os que têm aro de sustentação embaixo (pode aumentar o edema e piorar a dor). Diminuir gorduras na dieta. Se for possível, suspender o uso do anticoncepcional ou reposição hormonal (não é imprescindível), analisar se ela quer substituir o método contraceptivo hormonal por não hormonal. Alguns trabalhos mencionam que diminuir a ingesta de alimentos com metilxantina (como chá, café e chocolate) melhora a dor. Atividade física pode ajudar devido a liberação de endorfina. - Ao afastar a possibilidade de câncer e oferecer orientações, 85% das pacientes referem melhora e não necessitam de medicamentos (apenas em 15% é necessário). - Há vários tipos de tratamentos medicamentosos, mas nenhum surte efeito muito adequado. Alguns dizem que o efeito placebo é maior que o do medicamento em si. - Medicamentos: Ácido Gamalinolênico (componente do óleo de prímula), fitoterápico com nome comercial de Gamaline V. Atualmente, é mais usada a Vitamina E, com nome comercial de Emama. Os outros podem possuir mais efeitos colaterais do que ação. - A Bromoergocriptina diminui a prolactina por ser dopaminérgico. Danazol diminui a produção de estrogênio. Gestrinoma é antiestrogênico, antiprogestagênico e androgênico. Extrato de Vitex Anus Castus (assim como óleo de prímula e vitamina E) possui mais efeito placebo. Medroxiprogesterona. Diuréticos podem diminuir edema da mama. Anticoncepcionais podem ser suspendidos por piorarem a dor ou prescritos para melhorar a dor. Analgésicos e anti-in�lamatórios podem ser utilizados na mastalgia cíclica (trata o sintoma e não a causa). Há os análogos de GnRh e LhRh, Leuprolide, Gasorelina. O Tamoxifeno atua na mama como bloqueador estrogênico seletivo e no endométrio estimulando, utilizado no tratamento do câncer de mama por seu efeito antiestrogênico. - Logo, vitamina E e óleo de prímula são mais utilizados, mas como não são instantâneos, anti-in�lamatórios podem ser indicados nas dores fortes. ACHADOS RADIOLÓGICOS: - Motivo frequente de consultas em Mastologia. - Em geral, a paciente faz exame de screening (rastreio) de câncer de mama e encontra algum achado. - Na mamografia, pode-se ver imagens nodulares, microcalcificações e densidade assimétrica. - USG geralmente é solicitada no pré-operatório de procedimentos estéticos e, às vezes, encontra-se nódulos ou cistos e a paciente é encaminhada para o mastologista antes da cirurgia. - RM de mama não é solicitada de rotina para rastreio de câncer, só em pacientes com alto risco e para avaliação de prótese. - Todos esses exames são classificados em BI-RADS (maneira de padronizar). Também há os PI-RADS de próstata e TI-RADS de tireoide. Quando se recebe um exame bem feito de mama, haverá no laudo qual o BI-RADS da paciente. ● BI-RADS 1: exame normal, sem achados. ● BI-RADS 2: achados benignos, como cistos ou calcificações benignas. ● BI-RADS 3: achados provavelmente benignos, como nódulo sólido. Repetir o exame em 6 meses. Categoria que vai frequentemente ao mastologista. ● BI-RADS 4: achados suspeitos. 20 a 70% dos casos nessa categoria podem ser câncer, investigar por meio de biópsia. ● BI-RADS 5: achados altamente suspeitos de câncer de mama, como nódulos espiculados ou microcalcificações. Necessário realizar biópsia. - BI-RADS 1 e 2 apenas acompanhamento habitual, o 3 faz seguimento semestral e 4 e 5 faz anatomopatológico. - A mamografia é um raio-X de mama realizado em duas incidências, craniocaudal e oblíquo. A parte mais escura demonstra a musculatura peitoral. Pode aparecer alguns linfonodos da axila, sendo os de coloração mais branca os de aspecto normal. - IMAGEM ACIMA → Há uma figura mais espiculada, classificando como BI-RADS 5, altamente suspeito de câncer de mama. A seguinte é um achado de microcalcificações com características pleomórficas, sendo BI-RADS 4. Nessas situações geralmente a lesão é impalpável e para biopsiar o radiologista deve fazer uma marcação, mostrada na última imagem (guia metálico ou agulha que o radiologista insere, fazendo a marcação da área a ser retirada). OBS: professor não apontou as imagens enquanto falava, dificultando a descrição de qual é qual. SCREENING DE CÂNCER DE MAMA: - Há diferença entre as orientações do Ministério da Saúde (MS) com a Sociedade Brasileira de Mastologia, o Colégio Brasileio de Radiologiae a FEBRASGO. - Segundo o MS, a mamografia deve ser feita entre os 50 e 69 anos, a cada 2 anos. As outras sociedades recomendam realização anual a partir dos 40 até os 75 anos. - Não possuem dados de USG para screening de câncer de mama, sendo apenas realizada de forma a complementar os achados na mamografia. - Tomossíntese mamária não é muito utilizada e também não há dados que suportem o rastreamento, assim como RM. Só se solicita RM em mulheres com altíssimo risco, como histórico familiar ou mutações genéticas (BRCA 1 e 2) - O MS defende que não é interessante fazer anualmente a mamografia, pois traz excesso de achados radiológicos que levam a biópsias desnecessária (maioria das biópsias que chegam com alterações radiológicas são achados benignos, ou seja, são desnecessária e geram ansiedade na paciente). Vários trabalhos científicos americanos também compartilham desse pensamento. - Segundo uma revisão bibliográfica publicada há 3 anos, fazer mamografia abaixo dos 50 anos apresenta mais danos do que benefícios. Autoexame de mama também é contraindicado, pois não trazem aumento do diagnóstico do câncer de mama (possíveis danos provavelmente superam possíveis benefícios). Ausência de recomendação do exame clínico por profissionais (balanço entre possíveis danos e benefícios é incerto), mas não é por isso que se deixa se palpar no exame físico. A USG, termografia e tomossíntese possuem contraindicação (danos maiores que benefícios). MASTITES: - Patologia benigna frequente. A mais comum é a mastite aguda puerperal (quem geralmente trata é o obstetra). - 1,5 a 9% são epidêmicas, que ocorrem no berçário, onde uma mulher pegou mastite e passou para a outra (surto). Agentes causais: S. aureus, S. epidermidis, Streptococcus do grupo B, E. Coli, Pseudomonos, Serratia. - Diagnóstico clínico: paciente refere dor na mama, hiperemia, edema e, às vezes, �lutuação (abscesso). Para confirmação do abscesso é realizado USG. - Tratamento: manter amamentação, utilizar compressas e administrar antibióticos (oxacilinas, cefalosporinas, clindamicina e vancomicina). - É importante fazer a profilaxia nas gestantes. - Outro tipo de mastite é o abscesso subareolar recidivante, relacionado ao tabagismo, associado a uma in�lamação subareolar, pode chegar ao ponto de fazer fístulas na pele. - Há a mastite granulomatosa idiopática (mastite crônica às custas de granuloma, tratada através de corticoides) e a mastite tuberculosa (rara, granulomatosa, o agente causal é a tuberculose e tratamento é o específico para a doença). FIBROADENOMA: - Tumor benigno da mama mais prevalente, possuindo um componente epitelial (lóbulos e ductos) e um estromal. Pode estar bilateralmente (nas duas mamas) em 10% dos casos e/ou em multicentralidade (mais de um na mesma mama) em 15%. Frequência grande, pode atingir 25% das mulheres, sendo a maioria assintomática com achados casuais. Idade do diagnóstico de 20 a 35 anos. - Nódulo palpável possui característica fibroelástica, móvel e indolor. - A ação estrogênica pode promover o crescimento do fibroadenoma, logo, pode aumentar na gestação ou na terapia de reposição hormonal. Na pós-menopausa o nódulo existente pode se tornar mais palpável devido a redução da densidade mamária (liposubstituição da mama). - Risco de câncer a princípio não existe, apenas no fibroadenoma complexo. - Diagnóstico é clínico nos casos palpáveis e nos impalpáveis através de exame de imagem. - No USG será visualizado imagem nodular com limites precisos, maior no sentido horizontal do que na profundidade. Pode ser feito a PAAF (punção aspirativa por agulha fina), mas com agulha guiada por USG nos impalpáveis. E há a biópsia com agulha “core” (não é muito utilizada), agulha grossa que tira fragmento do tecido mamário. A biópsia deve ser realizada no local correto, tomando cuidado com os tecidos adjacentes. Na mamografia pode não acontecer o diagnóstico, pois nas jovens o fibroadenoma é coberto de parênquima, passando despercebido. A RM não aumenta acurácia do diagnóstico. - A maioria são achados radiológicos devido a frequência dos nódulos impalpáveis. - É um diagnóstico de presunção se não retirado, só é confirmado com anatomopatológico pós-exérese. - Punção com agulha fina guiada por USG. Na imagem é visto a agulha adentrando o nódulo, onde aspira as células que serão encaminhadas para o patologista. - Imagem ao lado: RM de pessoa idosa, onde não é visto o tecido mamário, provavelmente um fibroadenoma antigo (já está calcificado). - Ao lado um fibroadenoma também de paciente idosa com mama liposubstituída. Imagem regular, com limites preciso, provavelmente seria BI-RADS 0 (mais frequente) ou 3. Classificação 0 porque precisa de mais um método diagnóstico para laudo definitivo, se for cisto é BI-RADS 2 e se for nódulo é 3. TRATAMENTO DO FIBROADENOMA: - Consiste na cirurgia, mas não quer dizer que é necessário operar em todos os casos. Na cirurgia faz-se ressecção marginal, sem tirar as margens, apenas enuclear (extrair) o nódulo. Feita apenas com anestesia e paciente vai embora no mesmo dia. É comum deixar dreno, pois pode fazer hematoma pós-operatório, se estiver secretando sangue ou serosidade deixa-se o dreno e rita no próximo dia. -É feito principalmente conduta expectante, principalmente se são pequenos e com característica de benignidade no exame. Para ter certeza, pode-se utilizar PAAF. A grande maioria estabiliza o tamanho, mas se crescer, o ideal é tirar. TUMOR FILODES (PHYLLODES): - Tumor fibroepitelial mais rado, possui aspecto de benignidade a malignidade, sendo diferenciado do fibroadenoma pela hipercelularidade do estroma (clinicamente pode ser semelhante, mas após remoção cirúrgica vai para exame anatomopatológico e vem o diagnóstico). - Costumam ser maiores e com crescimento mais rápido. Taxa de recorrência local de até 20% dos benignos. - Tratamento cirúrgico é uma tumorectomia com margem (retirada de pouca margem). Se o patologista confirmar o caráter benigno, dar a opção de fazer acompanhamento. Em casos volumosos deve ser feita a mastectomia (raro). Linfadenectomia será realizada somente em linfonodos clinicamente acometidos (somente em maligno). PAPILOMA INTRA-DUCTAL: - Tumor benigno, ocorre mais em mulheres de 30 a 50 anos. - Tumor cresce dentro dos ductos mamários, fazendo uma descarga papilar serosa ou sanguinolenta, pode ser uniductal ou multiductal (mais de um papiloma). - Característica sanguinolenta ou bem clara (cor água de rocha) é preciso investigar; se for serosa, láctea ou esverdeada é comum nas alterações fibrocísticas benignas (não há necessidade de grandes investigações). - Pode-se fazer mamografia, que geralmente não mostra nada, mas precisa ser feita para avaliação, além da USG que pode ou não mostrar nódulo dentro do ducto mamário. - Pode-se coletar o líquido e mandar para citologia oncótica, para o patologista verificar se há sangue e células malignas. Exame de sensibilidade baixa e, geralmente, não faz diagnóstico nenhum. Se o patologista afirmar que há sangue, fazer o anatomopatológico para investigar se precisa retirar os ductos da mama. - Alterações benignas geralmente são multiductais e bilaterais. Quando é uniductal e unilateral pode ser mais preocupante e ser uma patologia que precisa de tratamento. - Tratamento cirúrgico é a exérese dos ductos (quando se sabe que é apenas uma alteração em um ducto específico, pode ser retirado apenas ele; mas como muitas vezes não se sabe, retiram todos). - USG que expõe o papiloma dentro do ducto, geralmente são retroareolares, onde os ductos são mais alargados. Achado bem característico de papiloma intraductal. - Imagem ao lado mostra descarga papilar, uniductal e sanguinolenta. Bem característica de papiloma, raramente pode ser câncer de mama. OUTROS TUMORES BENIGNOS: LIPOMA - Tumor benigno de células adiposas, pode estar em qualquer lugar do corpo e também na mama. Geralmente faz-se apenas acompanhamento. Indicado retirar se estiver incomodando, crescendo, se o paciente quiser ou ficar mais endurecido e levantar dúvida quantoao diagnóstico. HAMARTOMA: - Neoplasia de elementos mesenquimais, raro, o diagnóstico é feito depois que se retira o nódulo e manda para anatomopatológico. Não tem nada, clinica e radiologicamente, que leva a crer que o nódulo possa ser um hamartoma. HEMANGIOMA: - Tumor benigno raro na glândula mamária, mais comum na pele da mama. São nódulos avermelhados, que quando apertados ficam mais claros. Pode estar dentro da glândula mamária. Diagnóstico pré-operatório difícil, geralmente é determinado após a retirada. Tem formato enovelado, é arroxeado, com proliferação de vasos sanguíneos. Resposta a dúvida de aluno: É frequente a descoberta de achados benignos nos exames pré-operatórios de cirurgia estética. Se for fibroadenoma, pode-se fazer a exérese antes da cirurgia (preferível para ter certeza com o anatomopatológico), no intra-operatório (pode ser feito, mas já ocorreu de fazer junto e no anatomopatológico constatar câncer de mama) ou acompanhar (nesse caso, solicitar pelo menos PAAF). Após a cirurgia estética, há chance maior de chegar perto da prótese e infectá-la. OBS: se for retirar no intra-operatório, o mais interessante é realizar um exame de congelação (anatomopatológico no intra-operatório), pois mesmo que seja um provável fibroadenoma pelas características macroscópicas, a confirmação é apenas com o anatomopatológico.
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