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1 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ Curso de Serviço Social MARCOS ODALMIR DE OLIVEIRA A EVASÃO DOS USUÁRIOS JUNTO AOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL - CAPS RIO DE JANEIRO 2018 2 MARCOS ODALMIR DE OLIVEIRA A EVASÃO DOS USUÁRIOS JUNTO AOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL - CAPS Trabalho apresentado à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientador: Prof. Mestre Taciana Lopes Bertholino. RIO DE JANEIRO 2018 3 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ Curso de Serviço Social MARCOS ODALMIR DE OLIVEIRA A EVASÃO DOS USUÁRIOS JUNTO AOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL - CAPS Trabalho apresentado à Universidade Estácio de Sá, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Banca Examinadora: _______________________________ TACIANA LOPES BERTHOLINO Professora(s) Orientadora(s) _______________________________ DRA. VÂNIA C. S. CARAN Professor (a) 2º membro da banca _________________________________ ADRIANA FERREIRA Professor (a) 3º membro da banca Rio de Janeiro 2018 4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiro a DEUS, pois todas as vezes que me peguei pensando negativamente que não conseguiria, entreguei-me em suas mãos, e fui conduzida por “Ele” não desistindo. Ao minha esposa Alice, pela parceria e compreensão, pois foi de quem mais cobrei apoio e atenção, que mesmo ficando muitas vezes em segundo plano, não deixou de me apoiar e ainda embarcou no mesmo sonho entrando também para o mesmo curso e Universidade. A amiga Telma Milagres, quem foi a pessoa que me colocou nessa caminhada de sonhos. Pois foi quando ela buscava seu sonho que iniciei a busca pela realização do meu. A minha Supervisora de Campo de Estágio, Thaiane Almeida Ferreira, por seu apoio sempre, pela paciência, confiança, força e principalmente inspiração no amadurecimento dos meus conhecimentos e conceitos que me fizeram a chegar até aqui. Sem palavras para agradecer as orientações e os momentos de troca. Aos diretores e funcionários do CAPS – A/D, que do inicio ao término do meu estágio, não mediram esforços em me auxiliar, orientar, incentivar em todos os momentos. A minha família por entender a minha ausência e me apoiar neste projeto e por terem participação direta na torcida. A eles agradeço pelo colorido a mais que deram a minha vida, e pelo sentido desta que me fizeram encontrar. A minha coordenadora do Polo EAD, Professora Nancy Palma, que sempre me atendeu com muita técnica, paciência, tirando as minhas duvidas e coordenando o meu curso. Aos professores, orientadores e supervisores de todos os períodos, agradeço pela capacidade de ensinar, incentivar dando um exemplo de profissionais a serem seguidos. A todos aqueles que se fizeram presente e jamais deixaram de acreditar na minha vitória. Muito Obrigado! 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 07 1 ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ............................................................................ 10 1.1 Conceito de atenção psicossocial .................................................................. 10 1.2 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)...................................................... 12 1.3 Dependência ao álcool ................................................................................... 14 1.4 Aspectos relevantes sobre a dependência química ....................................... 16 2 O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – A/D ..................................................................................... ... 20 2.1 Serviço Social ................................................................................................ 20 2.2 Elementos que constituem o processo de trabalho do Serviço Social .......... 23 2.3 Políticas Públicas Antidrogas ......................................................................... 26 3 A EVASÃO DOS USUÁRIOS NO CAPS AD ................................................... 29 3.1 Tratamento dos usuários no CAPS AD .......................................................... 29 3.2 Evasão dos usuários no CAPS AD ................................................................ 31 3.3 Ações do Assistente Social no CAPS AD para minimizar a evasão dos usuários ................................................................................................................ 34 CONCLUSÕES ............................................................................................. ....... 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 41 6 RESUMO O estudo ora realizado versas sobre o tema “a evasão dos usuários junto aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)”, com ênfase na modalidade álcool e drogas e para tanto, foi escolhida a metodologia qualitativa, com pesquisa bibliográfica e descritiva, que contou com a consulta, leitura, interpretação e reflexão dos diferentes aspectos que norteiam o tema. O objetivo do estudo é identificar as principais ações promovidas pelo assistente social no Centro de Atenção Psicossocial - AD para reduzir a evasão. Foram apresentados alguns aspectos sobre a atenção psicossocial que é oferecida ao dependente de álcool e outras drogas, em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), como forma de reverter o quadro da dependência química e promover a reintegração social dos usuários e para tanto, o assistente social exerce um papel fundamental, especialmente pelo fato de que muitos usuários desistem do tratamento logo no início e o trabalho deste profissional, junto com uma equipe multidisciplinar, pode colaborar para reduzir as taxas de evasão dos usuários no Centro de Atenção Psicossocial - AD, por meio de ações organizadas, que foquem, prevenção, informação, orientação e ressocialização dos mesmos, com a participação ativa da família neste processo. Palavras-chave: Usuários. Centros de Atenção Psicossocial. Álcool. Drogas. 7 INTRODUÇÃO Sabe-se que o problema de dependência química atinge todas as esferas da sociedade, gerando muita preocupação, pois motiva o alcance de determinadas consequências que podem ser graves, com danos ao dependente, sua família e até à sociedade, uma vez que esse problema atinge aspectos físicos, psíquicos e sociais relacionados ao usuário. Trata-se de algo que não surgiu na atualidade, mas em tempos remotos, mas nos últimos anos tem acometido um número cada vez maior de pessoas, tornando-se um problema de saúde pública, o que motiva o surgimento de vários estudos sobre o tema. A dependência química não ocorre de imediato, é preciso a utilização gradativa das substâncias, ocorrendo vários fatores que contribuem para que o indivíduo não consiga se controlar e consuma cada vez mais as mesmas. Pode-se dizer que a dependência química se caracteriza por uma série de sintomas que tornam possível a identificação do consumo de determinadas substâncias, merecendo destaque o tripé que envolve este problema, ou seja, é preciso a substância, a pessoa e o ambiente, de modo que a ausência de qualquer um dos três descaracterizaria a dependência química. É necessário que se demande atenção especial à questão da dependência química, não apenas de drogas, mas também de álcool, que passou a ser um problema social, já que não é só o dependente que sofre as consequências, mas sua família, amigos e toda a sociedade, o que mostra a importância da intervenção do assistente social,realizando um trabalho em conjunto com profissionais de outras áreas, que em conjunto melhor atendem às necessidades do dependente. Em função da gravidade do problema, foram criados Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) específicos para tratar de dependentes de álcool e outras drogas, que objetivam oferecer um atendimento às pessoas que, em função do consumo dessas substâncias, apresentam transtornos mentais e demandam um processo de reabilitação psicossocial. 8 O assistente social atua junto ao dependente químico e sua família, realizando um trabalho de orientação e intervenção que tem como intenção ressocializar, reintegrar e inserir o dependente no convívio social, de modo que em função da relevância desse profissional, se trata de um dos integrantes da equipe multidisciplinar que atende os usuários nos Centro de Atenção Psicossocial - AD. A dependência química pode se referir a várias substâncias e uma delas recebeu destaque especial neste estudo, por ser lícita e muito comum, acometendo um número muito grande de pessoas: o álcool. O alcoolismo é um sério problema social e sozinho, o indivíduo encontrará muita dificuldade de resolvê-lo, precisando da orientação e apoio de profissionais como os assistentes sociais que têm conhecimentos, habilidades e experiências que tornarão mais tranquilo o processo de recuperação do alcoólatra. Ocorre, que o maior problema enfrentado pelos dependentes de álcool e outras drogas, não é o primeiro passo para iniciar o tratamento, mas a permanência do mesmo até o seu término, pois são elevados os índices de evasão de usuários no Centro de Atenção Psicossocial - AD, revelando a necessidade do desenvolvimento de projetos e ações para minimizar esses problemas. A evasão de usuários ao tratamento oferecido pelo Centro de Atenção Psicossocial - AD ocorre por diferentes motivações, podendo chegar a um montante de 90,4% dos usuários, o que demanda a criação de estratégias bem definidas, como forma de reverter esse quadro e contribuir para que os mesmos concluam o tratamento e se recuperem totalmente. Isto posto, é importante entender que o estudo ora apresentado foi organizado em quatro capítulos distintos: o primeiro tratou da atenção psicossocial, em seguida foram trazidos alguns aspectos relevantes sobre o papel do serviço social no Centro de Atenção Psicossocial - AD e, por fim, o último capítulo focou a evasão dos usuários no Centro de Atenção Psicossocial - AD. O objetivo proposto neste estudo é identificar as principais ações promovidas pelo assistente social no Centro de Atenção Psicossocial - AD para reduzir a evasão. Para tanto, foi adotada a metodologia qualitativa, com 9 predominância da pesquisa bibliográfica como instrumento para a seleção, leitura e reflexão de vários textos publicados na literatura nacional. 10 1 ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 1.1 Conceito de atenção psicossocial A atenção psicossocial é assunto que passou a se destacar com a promulgação, no ano de 2001, da Lei n. 10.216, intitulada Lei de Saúde Mental e que iniciou um processo de reforma psiquiátrica no país, rompendo com preceitos de exclusão e segregação dos usuários que enfrentam algum tipo de sofrimento psíquico (MIRANDA ET. AL. 2017). Sobre a Reforma Psiquiátrica ocorrida no Brasil, Miranda et. al. (2017, p. 2) esclarece: O movimento trouxe para o debate o rompimento com a lógica asilar de segregação e exclusão do sujeito com sofrimento psíquico, propondo práticas pautadas na perspectiva da atenção psicossocial. Tal processo teve importância para a inserção do assistente social nos serviços substitutivos de saúde mental. Sendo assim, é indispensável a discussão da temática no processo de formação da categoria profissional, pois, a todo o momento esse profissional é convocado atuar frente às expressões da questão social relacionadas aos sujeitos com sofrimento psíquico. Pode-se perceber que a Reforma Psiquiátrica promoveu importantes mudanças no processo de atenção à saúde mental, motivando em 2011, a criação da chamada Rede de Atenção Psicossocial, com objetivo de oferecer um acolhimento e atendimento à pessoas que enfrentam algum tipo de sofrimento psíquico (SILVA ET. AL. 2015). É válido observar ainda que a Rede de Atenção Psicossocial passou a representar algo tão fundamental na atualidade, que é considerada a principal diretriz aplicada para a prestação da assistência pública oferecida no âmbito da saúde mental, envolvendo intervenções para minimizar o sofrimento psíquico do usuário, através de uma equipe multidisciplinar que une conhecimentos teóricos e vivências alcançadas através da prática profissional (SILVA ET. AL. 2015). 11 Ainda com base nos autores supramencionados, o Sistema Único de Saúde, por meio da Rede de Atenção Psicossocial, tem a responsabilidade de prestar uma atenção especializada a usuários que apresentam diagnóstico de algum tipo de transtorno mental ou mesmo problemas oriundos de dependência química e uso abusivo de álcool (SILVA ET. AL. 2015). Viana (2016) traz uma noção conceitual para atenção psicossocial, partindo-se da ideia de que se trata de uma série de ações bem organizadas, com característica assistencial, em que são realizadas práticas em substituição ao modelo asilar e excludente, para uma nova perspectiva voltado para o cuidado e acolhimento dos usuários que apresentam algum tipo de sofrimento psíquico. Como bem explica Viana (2016, p. 18): [...] psicossocial significa: a aglutinação de psico e social, atividade ou estudo relacionando aspectos psicológicos conjuntamente com aspectos sociais; e atenção significa: aplicação cuidadosa da mente a alguma coisa, concentração, reflexão, aplicação, demonstram consideração, amabilidade, urbanidade, cortesia ou devoção para com alguém. [...] o termo atenção apresenta-se de um modo surpreendentemente muito próximo dos sentidos que pretende assumir como conceito, no contexto da reforma psiquiátrica. Assim sendo, justificam que a atenção psicossocial é o termo que incorpora as inovações principais das experiências históricas alternativas à psiquiatria e que engloba os conceitos e práticas do apoio psicossocial e da reabilitação psicossocial. Há de se observar que a atenção psicossocial representa um modelo muito atual que promove ações terapêuticas que se afastam das historicamente aplicadas e que focavam práticas asilares e para tanto, adota ações éticas, focadas na dignidade da pessoa humana, englobando uma série de conhecimentos e práticas que focam uma recuperação ou controle do sofrimento psíquico, através de profissionais devidamente preparados, que apliquem técnicas e métodos eficientes (VIANA, 2016). Moura (2014) entende que a ideia de atenção psicossocial tem estreita ligação com questões éticas, que focam a dignidade humana, levando-se em conta toda a diversidade das ações que precisam ser planejadas, determinadas e 12 aplicadas para potencializar as terapias escolhidas para cada caso específico e assim, colaborar para um processo de reabilitação psicossocial. Conforme Brasil (2018) existe sete componentes da Rede de Atenção Psicossocial: o primeiro deles envolve a Atenção Básica em Saúde; o segundo refere-se à Atenção Psicossocial Estratégica; em seguida, destaca-se a Atenção de Urgência e Emergência; destaca-se ainda a Atenção Residencial de Caráter Transitório; há a atenção hospitalar em alguns casos específicos; é também um componente desta rede as estratégias de desinstitucionalização e, por fim, as estratégias de reabilitação psicossocial. Para o presente estudo, destaca-se o segundo componente, ou seja, a Atenção Psicossocial Estratégica, que tem por base os chamados Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que serão tratados no próximo tópico. 1.2Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) A atenção psicossocial é realizada em instituições que têm o objetivo primordial de promover o atendimento a demandas que apresentam algum tipo de sofrimento psíquico e por isso, precisam de uma assistência de profissionais devidamente preparados, que compõem uma equipa multidisciplinar capaz de unir diferentes conhecimentos para um atendimento integral e eficiente. Sobre os Centros de Atenção Psicossocial, conhecidos como CAPS, é relevante trazer os estudos de Muhl (2012, p. 61): Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) têm como objetivo proporcionar um atendimento diurno às pessoas que sofrem com transtornos mentais severos e persistentes, oferecendo cuidados clínicos e de reabilitação psicossocial, evitando as internações e favorecendo o exercício da cidadania e da inclusão social dos usuários e de suas famílias. Conforme se percebe, o CAPS atende pessoas com vários transtornos mentais e precisam de assistência, oferecendo atendimento especializado a elas, inclusive havendo alguns desses centros que focam especificamente usuários 13 que apresentam algum tipo de dependência química ou ao álcool e que demandam cuidados para suprir várias necessidades que podem ser identificadas em cada caso, individualmente. Não há uma faixa etária determinada para os assistidos, havendo pessoas de várias idades, sejam homens ou mulheres, sendo oferecido atendimento especializado aos dependentes, valendo destacar que a demanda atendida no CAPS é grande, sendo muitos desses indivíduos excluídos da sociedade, estigmatizados e marginalizados, referindo-se a pacientes desamparados e que buscam sua reintegração na sociedade (MUHL, 2012). Silva et. al. (2015) observam que os CAPS representam um lugar considerado pela Política de Saúde Mental do Brasil, como de referência e atenção aos usuários que apresentam algum tipo de sofrimento psíquico, independência do nível de risco e gravidade, que exijam um cuidado permanente e personalizado que minimize os efeitos maléficos da patologia psíquica específica e possibilite a reintegração do usuário ao ambiente social e também familiar. Como objetivo primordial dos Centros de Atenção Psicossocial - AD, Silva et. al. (2015) destacam o acolhimento de usuários com diagnóstico de transtorno mental e a partir disso, aplicação de uma terapia e apoio para promoção de sua autonomia e reintegração social, o que segundo os autores, é alcançado através de uma política de saúde mental eficiente e concreta, que envolva equipes técnicas capazes de realizar um trabalho interdisciplinar de excelência e assim, colabore para a integração social do usuário. Segundo Lima et. al. (2017, p. 6-7): No Brasil, o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) é considerado um dos mais importantes serviços de saúde mental substitutivo à internação psiquiátrica. Reestruturado pela portaria 336/2, como principal instrumento de estabelecimento da política de saúde mental, o Caps deve ser entendido como uma estratégia de transformação de assistência que se concretiza na organização de uma ampla rede de cuidados em saúde mental. Os Caps têm papel estratégico na articulação da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), tanto no que se refere à atenção direta, visando à promoção da vida comunitária e da autonomia dos usuários, quanto na ordenação do cuidado, trabalhando em conjunto com 14 as equipes de Saúde da Família e agentes comunitários de saúde, articulando e ativando os recursos existentes em outras redes, assim como nos territórios. Lima et. al. (2017) observam também que no Centro de Atenção Psicossocial - AD a terapia medicamentosa é posta em segundo plano, ocorrendo à aplicação de terapias diversificadas, como é o caso de terapia ocupacional, socioterapia e ainda psicoterapia, havendo outras possibilidades que são priorizadas em detrimento de medicamentos, adotando-se critérios terapêuticos que englobam música, atividades artísticas e esportivas, visando estimular a autonomia e autoestima, que são fundamentais para sua reinserção social. Além de usuários que apresentam patologias psíquicas, o Centro de Atenção Psicossocial - AD apresenta modalidades que prestam assistência a usuários que possuem algum tipo de sofrimento psíquico motivado por dependências, como a química e álcool, que são responsáveis por inúmeros problemas e exclusões no ambiente social e, em função do elevado número de usuários que se encaixam nesses grupos, os próximos tópicos focaram os dois tipos de dependência supramencionada. 1.3 Dependência ao álcool São vários os tipos de substância que geram a dependência química, mas destaca-se o álcool, como uma das mais comuns, por se tratar de uma droga lícita, ou seja, permitida por lei e muitas pessoas o consomem de forma descontrolada, resultando em sérios problemas para elas, sua família e a própria sociedade. Mendonça et. al. (2018) observam que o álcool gera dependência, por ser uma substância psicoativa, dentre as quais, é considerada a mais consumida em todo o mundo e, sendo quando esse consumo ocorre de maneira abusiva, pode trazer sérias consequências para a saúde física e psíquica do usuário. É importante observar ainda que o uso abusivo do álcool forma um padrão de consumo, cabendo destacar as palavras Mendonça et. al. (2018, p. 2): 15 Este padrão de consumo de alto risco pode ser caracterizado pelo consumo de grande quantidade de álcool em uma única ocasião, o que corresponde a quatro ou mais doses de bebidas alcoólicas para mulheres e cinco ou mais doses para homens, independentemente da frequência deste consumo. Em termos de concentração alcoólica sanguínea, equivale a aproximadamente 80 mg/dl (0,08%) no indivíduo adulto. O uso abusivo frequente pode motivar o surgimento do alcoolismo, que afeta muitos indivíduos, refletindo em sua família e na sociedade, de forma que seus resultados se multiplicam rapidamente, gerando preocupação ao governo, uma vez que é um problema de saúde pública, devendo-se criar políticas públicas adequadas para seu enfretamento. Segundo Mendonça et. al. (2018, p. 2): O uso nocivo ou abusivo provoca complicações físicas e/ou psíquicas e pode ser definido como o padrão de beber que traz prejuízos e riscos à saúde, além de consequências sociais e econômicas para o indivíduo, para as pessoas ao seu redor e para a sociedade em geral. O alcoolismo crônico ou síndrome de dependência é caracterizado por um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após repetido consumo de bebida alcoólica. Muitas são as consequências que o alcoolismo pode trazer aos dependentes químicos, o que o torna um problema sério e preocupante, surgindo muitos estudos no país sobre este tema, que permanece atual, tratando-se de uma questão social, que atinge muitas pessoas e gera sofrimento, afetando a vida do usuário na sociedade (SEEGER, 2011). Alguns autores associam o alcoolismo ao sistema capitalista que estimula o consumo e promove a exclusão social, colaborando também para o aumento da desigualdade social, conforme explica Seeger (2011, p. 29): A problemática do álcool pode ser associada ao sistema capitalista, na sua forma de exclusão social, e caracterizado desta forma, como uma válvula de escape para uma sociedade tão desigual e desassistida. [...] além dos aspectos orgânicos, familiares e sociais, é necessário contextualizar outras dimensões, tais como as subjetivas, econômicas, políticas e sociais que contribuem na determinação dessa problemática. O alcoolismo é um problema social que está atrelado ao desenvolvimento 16 da sociedade, estando presente em cada momento da história, muitas vezes sendo considerado pelos dependentes como uma forma de aliviar os problemas que enfrentam, de maneira a esquecê-los (SEEGER, 2011). A questão é queo dependente de álcool pode até esquecer os problemas, mas momentaneamente, e quando se reestabelece após o consumo excessivo de álcool, novos problemas vão surgindo e o resultado é ainda pior do que antes, somando-se mais situações negativas às já existentes na vida dessa pessoa. Frente a tantos problemas originados pelo consumo excessivo de álcool, o dependente não consegue, muitas vezes, lidar com eles, sendo importante a ajuda de profissionais devidamente capacitados, que atuam em instituições que prestam atendimento ao usuário, como os CAPS, que exercem um papel essencial no processo de enfretamento do alcoolismo. 1.4 Aspectos relevantes sobre a dependência química As drogas representam um dos principais problemas existentes na sociedade atual e apresenta um elevado número de usuários, o que demanda atenção especial e, conforme a Organização Mundial de Saúde – OMS (apud FERRAZ, 2010, p. 14) define-se o termo drogas como: “[...] toda a substância que, introduzida no organismo, provoca alterações no seu funcionamento, modificando uma ou mais das suas funções”. As drogas podem ser lícitas, ou seja, permitidas por lei, ou ilícitas, que ao contrário das primeiras, referem-se às substâncias que não são permitidas, sendo, portanto, ilegais, representando as mais perigosas para o organismo humano (COSTA, 2010). O uso de drogas é um costume que remete a longa data, sendo utilizada por muitas pessoas como uma forma de fuga da realidade opressora e de sofrimentos gerados no ambiente social e por muito tempo vem sendo foco de vários estudos, como o apresentado a seguir: De logo, procurou-se caracterizar o uso de drogas como hábito associado à marginalização e à delinquência, causa de desastres 17 no plano individual e desordem e instabilidade no âmbito coletivo. Iniciou-se, por isso, um intenso movimento de repúdio moral e de demonização do uso de drogas, tratando-se de estigmatizar a figura do usuário. Seguiu-se, na linha cronológica, a organização da sociedade civil e do Poder Público em torno do objetivo de estabelecer métodos institucionais de repressão ao uso, culminando com a criação de leis, sobretudo penais, de proibição às drogas (BARRETO NETO, 2014, p. 11). Nota-se que em virtude dos prejuízos gerados pelo consumo de drogas ilícitas não só para o usuário e sua família, mas também para toda a sociedade, foram elaboradas várias leis que visam reforçar a proibição e coibir através de penas aplicadas a toda pessoa que porta-las (BARRETO NETO, 2014). O uso de drogas ilícitas tem crescido muito nos últimos anos, tornando-se uma preocupação de toda a sociedade, por promover grande impacto social, o que gera o aumento pelo interesse neste tema, a fim de se buscar alternativas para sanar o problema. Cabe ressaltar que de acordo com os estudos de Costa (2010), as drogas motivam uma dependência que pode ser física ou psicológica e, a partir de então, provoca o consumo repetido de determinada substância, em algumas vezes, havendo um descontrole neste consumo. Ferraz (2010, p. 15), a partir de uma nomenclatura apresentada pela OMS, distingue as drogas psicoativas e psicotrópicas: i. Drogas Psicoativas são aquelas que alteram comportamento, humor e cognição. Estas são drogas que atuam diretamente no Sistema Nervoso Central. ii. Drogas Psicotrópicas são aquelas que agem no Sistema Nervoso Central produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora sendo, portanto, passíveis de autoadministração. São então estas que geralmente conduzem a dependência. Independentemente do tipo de droga, seja psicoativa ou psicotrópica, há alteração no organismo do usuário, o que demanda preocupação e ações para reverter essa situação e seu uso abusivo pode motivar a dependência química, que é um sério problema que acomete os usuários, definido por Fernandes et. al. 18 (2017) como um transtorno heterogêneo em função de sua complexidade, atingindo as pessoas, podendo motivar a síndrome de dependência, que envolve uma série de fenômenos físicos e psíquicos, que afetam o comportamento humano. Pode-se dizer que a dependência química é um sério problema que atinge a sociedade moderna, sendo considerado um fenômeno devido ao grande número de pessoas que a enfrentam, o que motivou sua classificação como problema de saúde pública. Lopes (2008, p. 12) afirma: A dependência química representa a etapa final de um longo processo de uso de uma ou várias substâncias. Normalmente, o processo inicia-se de modo fortuito e esporádico e, algum tempo depois a pessoa pode estar imersa em um estágio de dependência de drogas. Para que um usuário torne-se um dependente químico, faz-se necessária uma certa experiência com a substância. A dependência química instala-se de forma lenta, progressiva e insidiosa. É um transtorno de evolução crônica, que quanto mais evolui, mais prejuízo, em todos os sentidos, promove aos dependentes químicos. Ao longo desta evolução observa-se que os fatores que serviram de pretexto para iniciar o uso, vão perdendo o significado, a importância e o valor, e vão sendo substituídos pela própria condição de dependência à substância. Outros fatores relacionados à vida perdem importância progressivamente. A dependência química não ocorre de imediato, é preciso a utilização gradativa das substâncias, ocorrendo vários fatores que contribuem para que o indivíduo não consiga se controlar e consuma cada vez mais as mesmas. Além disso, cada indivíduo tem uma fisiologia, bem como outros fatores que fazem com que a dependência ocorra de forma diferente de pessoa para pessoa. Masur (1987, p. 30) observa que existem dois tipos distintos de dependência química de drogas: física e psicológica, onde esta última ocorre quando a substância “ocupa um lugar central nos pensamentos, emoções e atividades da pessoa, de tal forma que não só se torna muito difícil parar de usá- la bem como prevalece um desejo intenso de usá-la constantemente”. 19 O autor supracitado deixa claro em seus estudos que toda a droga pode gerar dependência psicológica, mas nem sempre dependência física, o que chama atenção para o aspecto psíquico. Acrescenta que a dependência psicológica é mais difícil de ser identificada em comparação com a física, pois não fica tão evidente quanto esta última (MANSUR, 1987). Em relação à dependência física, Mendonça (2007, p. 11) explica que motiva alterações no funcionamento do organismo, que “passa a se fazer dentro das condições criadas pela droga. E isso se torna muito evidente quando se suspende subitamente o uso da droga”. O dependente de algum tipo de droga, diante da ausência da mesma, tem manifestação de vários efeitos em seu organismo, com destaque a um mal-estar físico denominado síndrome de abstinência, que contribui para a identificação da dependência física. Os sintomas mais comuns dessa síndrome são apresentados por Mendonça (2007, p. 11): “ansiedade, dores generalizadas, insônia, vômitos, diarreia, febre e alterações cardiovasculares”. 20 2 O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – A/D 2.1 Serviço Social O Serviço social apresenta uma história que tem início no Brasil ainda na década de 1920, em função de uma série de conflitos entre burguesia e classe operária, tendo marcante um período de industrialização, que por um lado, gerou novas vagas de emprego, mas por outro, aumentou a migração e motivou o crescimento da pobreza, pois não foi possível atender toda a demanda que chegava nos centros urbanos, vindos de várias regiões do país, tendo início um processo de aumento de problemas sociais (RIBEIRO, 2017). No Brasil, o Serviço Social surgiu com o objetivo de atender demandas variadas de excluídos da sociedade, tendo por base uma longa históriade lutas e movimentos envolvendo trabalhadores, apresentando diretrizes e valores que foquem a dignidade do ser humano, em especial, em princípios voltados para a liberdade, democracia, igualdade, cidadania entre outros (IAMAMOTO, 2017). Segundo Iamamoto (2017, p. 21-22): O pressuposto da análise é que a história da sociedade é o terreno privilegiado para apreender as particularidades do Serviço Social: seu modo de atuar e de pensar incorporados ao longo de seu desenvolvimento. Sendo um produto sócio-histórico, a profissão adquire sentido e inteligibilidade na dinâmica societária da qual é parte e expressão. Nesse sentido, decifrar essa especialização do trabalho supõe elucidar os processos sociais que geram a sua necessidade social, o significado de suas ações no campo das relações de poder econômico e político — das relações entre as classes e destas com o Estado —, assim como o envolvimento no debate teórico e cultural de seu tempo. Estabelece-se, pois, como quesito fundamental a indissociável articulação entre conhecimento e história, entre teoria e realidade (prática social). Nota-se que o Serviço Social representa uma ação propositiva capaz de enfrentar as expressões da questão social, realizando um trabalho de caráter 21 socioeducativo, possibilitando acesso aos direitos para a demanda atendida, suprindo determinadas necessidades e proporcionando maior autonomia às mesmas. Para Ribeiro (2017) é importante entender que o Serviço Social é uma área que tem relação com as condições econômicas dos cidadãos, conectadas à políticas sociais e culturais, sendo um grande desafio encontrado pelos assistentes sociais, atender as demandas e garantir o acesso aos direitos fundamentais para que seja possível uma vida digna a todos, indistintamente, sendo preciso que estes profissionais estejam devidamente preparados e habilitados para o enfrentamento e intervenção sistemática, quando necessário. Ao longo do tempo, o Serviço Social passou por um processo de reconceituação, sendo promovidas mudanças significativas em vários aspectos da área, inclusive em sua definição e inserção da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), promulgada no ano de 2004 e que trouxe o fortalecimento do trabalho realizado pelos assistentes sociais, criando-se inclusive o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que abrange uma série de serviços, programas e projetos que beneficiam a demanda foco do Serviço Social (YAZBEK, 2009). Yazbek (2009) explica que a partir do movimento de Reconceituação, surge então vertentes básicas que transformaram o Serviço Social: a vertente modernizadora, a vertente inspirada na fenomenologia e a vertente marxista. A primeira busca uma modernização conservadora que utiliza a mediação do desenvolvimento social e o enfretamento da marginalidade e da pobreza através da integração social. A segunda volta-se para uma metodologia dialógica, ligando a visão de pessoa e comunidade. A terceira, por fim, busca uma consciência da inserção da profissão na sociedade de classes. A vertente marxista se fortalece nas décadas de 1980 e 1990, tornando-se referencial básico do Serviço Social e determinando ações e formação dos profissionais, rompendo o conservadorismo imposto pela igreja católica e promovendo reflexões mais flexíveis sobre a profissão. Neste contexto, defende- se um conhecimento mais livre, sem a manipulação muito presente no modelo conservador da igreja católica, exaltando-se então a dinâmica das relações sociais (YAZBEK, 2009). 22 Mioto e Nogueira (2013) observam que o Serviço Social é uma área privilegiada, uma vez que pode realizar um trabalho transversal, com uma série de expressões relacionadas a questão social, visando proporcionar acesso aos direitos sociais e humanos a todas as pessoas, materializando as políticas públicas sociais. O Conselho Federal de Serviço Social (2012, p. 10) elenca as principais atribuições dos assistentes sociais, a saber: • Apreensão crítica dos processos sociais de produção e reprodução das relações sociais numa perspectiva de totalidade; • Análise do movimento histórico da sociedade brasileira, apreendendo as particularidades do desenvolvimento do Capitalismo no País e as particularidades regionais; • Compreensão do significado social da profissão e de seu desenvolvimento sócio-histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade; • Identificação das demandas presentes na sociedade, visando a formular respostas profissionais para o enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre o público e o privado. É importante entender que as políticas sociais envolvem vários programas e serviços voltados para o atendimento de demandas da sociedade, com a participação contínua de assistentes sociais, seja de maneira individualizada, seja integrado em uma equipe multidisciplinar, sendo identificadas várias atribuições, que podem ultrapassar o ordenamento legal, que são inerentes à profissão na busca pela efetivação de direitos fundamentais para os cidadãos (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2012). Conforme Iamamoto (2014) a atuação de profissionais no Serviço Social exige uma série de habilidades que lhes são inerentes, para que sejam capazes de negociar projetos e programas que foquem o atendimento das demandas sociais, sendo preciso ultrapassar os limites das rotinas institucionais, para transformar o trabalho dos assistentes sociais. Iamamoto (2014) esclarece ainda que são várias expressões sociais que competem aos assistentes sociais, envolvendo vários aspectos relacionados à matéria à qual todo o trabalho desses profissionais é moldado, com ênfase nas 23 políticas públicas e lutas sociais que servem de norte para suprir as necessidades dos usuários que apresentam necessidades sociais específicas que podem ser supridas com o auxílio do Serviço Social. Para Silveira (2017) o Serviço Social, apresenta uma história profissional de curta data, que motiva o número reduzido de produções intelectuais sobre sua prática, mesmo se tratando de um instrumento de suma importância para a transformação social, com vários pressupostos éticos capazes de contribuir com a satisfação das necessidades da classe trabalhadora. O desenvolvimento de pesquisas pelo Serviço Social é de fundamental importância, pois, o planejamento de estratégias de ação profissional carece do conhecimento da realidade, tanto das condições e modo de vida e de trabalho da população usuária, como das políticas públicas e serviços implementados para atendimento das necessidades da população. A execução da atividade investigativa supõe como imprescindível o processo de planejamento minucioso das etapas que constituirão a pesquisa, com o devido delineamento metodológico. Nota-se que é fundamental a proposição de estudos e pesquisas voltados para a prática do Serviço Social, como forma de fornecer suporte teórico- científico, de modo a tornar possível o planejamento de estratégias importantes para a ação do assistente social no atendimento das demandas. 2.2 Elementos que constituem o processo de trabalho do Serviço Social Os elementos que constituem o processo de trabalho do assistente social são inúmeros, envolvendo não apenas os instrumentos e técnicas utilizadas por este profissional, mas também a capacidade e habilidade que é construída no decorrer das experiências vivenciadas por ele. Segundo estudos de Guerra (2009), o Serviço Social tem uma importante capacidade instrumental alcançada gradativamente a partir do momento em que seus objetivos são alcançados, na qual permite que os assistentes sociais planejem e apliquem ações intencionais, promovendo a transformação necessária para o atendimento das demandas sociais, afetando as relações interpessoais 24 mas também nocontexto da sociedade, influenciando no cotidiano dos assistidos, bem como todos os envolvidos e na sociedade como um todo. Conforme se observa, o assistente social exerce um papel fundamental na sociedade, devendo fazer uso de alguns instrumentos indispensáveis à sua prática, especialmente, sua capacidade adquirida por meio de experiências que se iniciam com os estágios promovidos pelas universidades (GUERRA, 2009). Por meio de seu trabalho, o assistente social desenvolve atividades práticas e reflexivas, que corroboram para que possa alcançar os objetivos traçados em cada atendimento realizado, oferecendo esclarecimentos que são vitais para que os assistidos recebam o suporte necessário para viverem harmonicamente na sociedade (GUERRA, 2009). Conforme Silveira (2017), o assistente social não é inserido em um processo de trabalho específico, pois suas capacidades e conhecimentos, associados às suas possibilidades profissionais junto à demanda trabalhadora permite concluir que não existe um único processo, mas vários voltados para o trabalho, que caracteriza a atuação deste profissional como especializada. Ao se agregar aos diversos processos de trabalho inerentes aos assistentes sociais, eles realizam um trabalho capaz de promover o atendimento ao qual são requisitados, tendo por base projetos e programas variados no âmbito da sociedade, inclusive enfrentando questões sociais, como forma de motivar maior igualdade no acesso à direitos fundamentais (SILVEIRA, 2017). Em seus estudos, Guerra (2009, p. 6) apresenta algumas considerações que merecem destaque: A utilidade social da profissão está em responder às necessidades das classes sociais, que se transformam, por meio de muitas mediações, em demandas para a profissão. Estas são respostas qualificadas e institucionalizadas, para o que, além de uma formação social especializada, devem ter seu significado social reconhecido pelas classes sociais fundamentais (capitalistas e trabalhadores). Considerando que o espaço sócio ocupacional de qualquer profissão, neste caso do Serviço Social, é criado pela existência de tais necessidade sociais e que historicamente a profissão adquire este espaço quando o Estado passa a interferir sistematicamente nas refrações da questão social, institucionalmente transformada em questões sociais, através de uma determinada modalidade histórica de enfrentamento das 25 mesmas: as políticas sociais, pode-se conceber que as políticas e os serviço sociais constituem-se nos espaços sócio ocupacionais para os assistentes sociais. Ao profissional do serviço social cabe um trabalho que atenda à demanda social, realizando mediações, orientações e intervenções, quando necessárias, visando minimizar os problemas que surgem no contexto social, com ênfase, nos relacionados à demanda marginalizada, como dependentes químicos e de álcool, que já apresentam um histórico de exclusão que perpetua por longo período e que precisa ser modificado, o que não é tarefa fácil, frente à estigmatização existente. Conforme Yazbek (2009) o Serviço Social no Brasil tem apresentado profundas reflexões intelectuais, com diálogos contínuos que focam aspectos relacionados às ciências sociais internas ou externas, ocorrendo um desenvolvimento no que tange o trabalho de intervenção, bem como as ações que são desenvolvidas na prática profissional, de modo que o processo de trabalho dos assistentes sociais vem refletindo uma compreensão maior, revelando seu crescimento prático. Mioto e Nogueira (2013) explicam que atualmente, o Serviço Social atua em diferentes políticas setoriais, de modo que os profissionais que atuam nessa área, passam a desempenhar diferentes papeis em equipes multiprofissionais, que adotam a interdisciplinaridade, que exige amplos conhecimentos e afetam diretamente seus processos de trabalho. É importante entender que os processos de trabalho dos assistentes sociais envolvem antagonismos fundamentais, como explicam Mioto e Nogueira (2013, p. 67) ao afirmarem: [...] será possível debruçar-se sobre um velho problema da profissão: a recorrente indistinção entre objetivos institucionais e objetivos profissionais no âmbito dos serviços sociais. Os primeiros, mesmo quando caudatários dos objetivos expressos nas legislações que pautam a execução da política social, não deixam de expressar sua filiação a determinados valores e concepções que direcionam decisivamente a organização do processo de trabalho. Numa análise mais acurada pode não haver uma real sinergia entre os objetivos profissionais e os institucionais com as proposições constitucionais, marcadas pela 26 lógica da cidadania, e nem com o projeto defendido pelo conjunto profissional, expresso no seu código de ética. São os antagonismos entre as demandas institucionais e as demandas dos usuários que levam os profissionais a estabelecerem tensão com o instituído através de seus processos de trabalho. Como consequência, a análise dos processos institucionais que caracterizam os diferentes espaços sócio-ocupacionais, constitui uma segunda ordem de mediações necessárias para a intervenção profissional. Apropriar-se dos processos institucionais em curso é condição fundamental para planejar e decidir sobre ações profissionais e movimentar-se no apertado campo da autonomia profissional. É importante frisar que, de acordo com Iamamoto (2014), é crescente o número de estudos acerca dos processos de trabalho dos assistentes sociais, que realizam suas atividades profissionais de maneira diversificada, atendendo uma série de perfis de trabalhadores e estudam o mercado de trabalho para melhor atendê-los. 2.3 Políticas Públicas Antidrogas Existem políticas públicas em várias áreas, destacando-se as antidrogas, valendo-se dizer que em função da importância do tema, no ano de 2002 foi criado o Conselho Nacional Antidrogas (CONAD) como forma de se criar uma política nacional sobre as drogas, tendo como parte integrante um órgão do governo denominado Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) que acompanham, entre outras atividades, as de recuperação e tratamento de dependentes químicos (OLIVEIRA, 2007). Várias campanhas são colocadas em prática através do CONAD, como forma de apresentar esclarecimentos relacionados às drogas, incluindo-se o álcool, bem como criar programas voltados para assistências básicas que visam minimizar os danos aos usuários. Conforme dispõe a SENAD (apud PETRY, 2005, p. 42): é importante que sejam estabelecidas algumas estratégias de Saúde Pública que tenham como objetivo principal “minimizar as adversas consequências do uso indevido de drogas, visando reduzir as situações de risco mais constantes desse uso, que 27 representem potencial prejuízo para o indivíduo, para determinado grupo social ou para a comunidade”. Busca-se, portanto, a redução do dano causado pela dependência química, que na realidade, é a aplicação de estratégias de intervenção com aplicação de ações direcionadas aos dependentes químicos, assim como a sua família, pessoas próximas e a comunidade de modo geral. São promovidas atividades que visem reduzir a vulnerabilidade do consumo de drogas, contribuindo para a reinserção dos usuários no meio social, já que muitos deles se afastam do convívio social (PETRY, 2005). Petry (2005, p. 46) ressalta que a redução do dano ocorre com mais eficácia quando o indivíduo encontra-se em tratamento e observa que houve um aprimoramento nos tratamentos para dependência química, porém, “a maioria deles continua tendo base na abstinência, fazendo com que aqueles que não querem ou não são capazes de deixar o uso acabem abandonando os serviços”. Ainda com base nos estudos de Oliveira (2007), pode-se dizer que existe grande dificuldade na recuperação de dependentes químicos, revelando a necessidade cada vez maior de se promover reflexõesacerca dos modelos de assistência que existem atualmente. Para Neves (2018) é importante compreender que as políticas públicas voltadas para álcool e outras drogas, têm passado por um longo processo de reformulação, sendo a principal responsável por essas mudanças, a Coordenação Geral de Saúde Mental, que busca também implementar e avaliar a rede de atenção psicossocial que atende dependentes químicos e outros usuários que sofrem algum tipo de transtorno psíquico em função do uso de substâncias como álcool e drogas. Segundo Neves (2018, p. 13): Alguns marcos políticos institucionais foram importantes na constituição de uma política pública na área de álcool e outras drogas no Brasil a partir dos anos 2000. Ressalta-se que algumas mudanças vinham ocorrendo desde os anos 1990, onde iniciam- se transformações na política nacional e que vêm se aprofundando até os dias de hoje, como a criação do SUS, a implementação dos programas de redução de danos e a 28 reestruturação dos serviços substitutivos em saúde mental, em oposição a um cenário anteriormente marcado pela prevalência das internações psiquiátricas e privatização da assistência. Destaca-se ainda a Lei n. 10.216/2001 que tratou da proteção e dos direitos de pessoas que apresentam transtornos mentais, abrangendo neste contexto usuários de álcool e outras drogas, promovendo um processo de Reforma Psiquiátrica fundamental para a atualidade. Conforme Rocha (2017) o problema da dependência de álcool e outras drogas apresenta características de uma pandemia, em função do elevado número de usuários em todo o mundo, inclusive no Brasil, motivando a elaboração de políticas públicas antidrogas que trazem em seu bojo diretrizes importantes para o trabalho de profissionais como os assistentes sociais, na orientação, informação, prevenção e intervenção junto aos usuários. Somada à política pública antidrogas, o assistente social atua também a Política Nacional de Assistência Social, visando desenvolver vários programas e ações em conjunto com outros profissionais de diferentes áreas do conhecimento, para melhor atender os dependentes de álcool e drogas. 29 3 A EVASÃO DOS USUÁRIOS NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL- AD 3.1 Tratamento dos usuários no Centro de Atenção Psicossocial - AD É fundamental que os usuários de álcool e outras drogas tenham acesso a um tratamento eficiente, para reverterem seu quadro físico e psíquico, que é alterado pelas substâncias consumidas, de modo a se livrarem de seus efeitos e voltarem a ter uma vida normal, sendo reintegrados na sociedade, sem estereótipos que o marginalizam e cria preconceitos ao seu redor. Segundo Silva (2017, p. 9): [...] o tratamento para o uso de álcool e outras drogas conta atualmente com uma significativa diversidade, mas há um percentual importante no número de dependentes de substâncias psicoativas que ainda não se beneficiaram destes tratamentos. Atualmente no Brasil há diversos tipos de tratamentos para pessoas com problemas em decorrência do uso de álcool e outras drogas disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS), entre estes tratamentos destacamos os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). O Centro de Atenção Psicossocial- AD oferece aos usuários de álcool e drogas, um serviço de caráter especializado que visa minimizar a dependência química e promover uma reintegração dos usuários na sociedade, de modo a promover um tratamento que controle os transtornos comportamentais motivados pelo consumo dessas substâncias e para isso, é preciso reduzir o consumo ou mesmo, promover a abstinência da substância (GOMES, 2017). O tratamento aos usuários nos Centro de Atenção Psicossocial-AD é iniciado a partir do acolhimento, sendo realizado o diagnóstico, análise, determinação do tratamento adequado, encaminhamentos para diferentes profissionais da equipe, desenvolvimento de processos motivacionais para melhorar a autoestima etc. Segundo Gomes (2017, p. 28): 30 O acolhimento é, essencialmente, realizado pela equipe técnica, a equipe de apoio tem como principal função auxiliar na atenção às crises e surtos. No serviço também há programas destinados à família, como: orientação familiar individual sob a responsabilidade do assistente social, trabalhos em sala de espera, e quando há necessidade, atendimento familiar individual. O serviço atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam intenso sofrimento psíquico decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas. Proporciona serviço de atenção contínua, com funcionamento vinte e quatro horas, incluindo feridos de finais de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento noturno. É importante entender que através do acolhimento é possível criar um ambiente agradável e humanizado ao usuário, garantindo ao mesmo uma atenção, possibilitando que fale sobre seus conflitos, dúvidas e tudo que lhe motiva o consumo de álcool e drogas, para dessa forma, buscar meios de satisfazer suas necessidades emocionais e de saúde, para criar possibilidades do desejo e da continuidade do tratamento (SALLES E SILVA, 2017). Salles e Silva (2017) observam que um dos principais desafios identificados nos Centro de Atenção Psicossocial- AD é a adesão do usuário, o reconhecimento do mesmo da necessidade do tratamento, o que o torna complexo e muitas vezes, inacabado, pois muitos usuários o iniciam, mas não o concluem, sendo fundamental o papel dos profissionais que integram a equipe multidisciplinar da instituição, especialmente, os assistentes sociais, realizar um trabalho de estímulo à continuidade do tratamento. Realizado o acolhimento do usuário, em seguida, é realizada a abordagem clínica da dependência química, sendo realizada uma análise individual, para que seja verificado o grau de dependência, o tipo de droga, os efeitos que causam em cada pessoa, especificamente, para que o usuário possa superar o problema. Zoldan e Ribeiro (2017) explicam que após o acolhimento e uma atenção psicossocial, o usuário inicia um tratamento clínico, que tem como meta minimizar os dados físicos motivados pelo consumo de determinadas substâncias ao organismo, mas é tarefa dele aderir ao tratamento, aceitar as etapas que o envolvem, para que possa se recuperar, competindo à equipe multidisciplinar, várias tarefas, dentre as quais se destaca também um conhecimento mais 31 profundo do usuário, para realizar um tratamento eficiente, mantendo-o interessado na conclusão do mesmo, sem que ocorra sua descontinuidade. Para Zoldan e Ribeiro, é preciso que sejam desenvolvidos programas que visem prevenção do problema, assim como, redução dos danos gerados pelo consumo de álcool e drogas, além de tratamentos eficazes que possibilitem a diminuição da mortalidade dos usuários em função do consumo de substâncias danosas ao organismo, como as químicas. Prates e Wiese (2017) explica que após o acolhimento e o tratamento clínico, que tem por base inclusive recursos medicamentosos para inibir o desejo pelo consumo de álcool e drogas, é iniciado um terceiro momento, que volta-se para um projeto terapêutico pautado em reuniões entre os profissionais que compõem a equipe multidisciplinar, visando buscar melhores soluções para o tipo e grau de dependência de cada pessoa. Ocorre, que o maior problema identificado nos Centro de Atenção Psicossocial-AD é a descontinuidade do tratamento, uma vez que os usuários evadem da instituição e reiniciam o consumo de álcool e drogas, retroagindo à fase original e demandando reiniciar todo o processo de tratamento. 3.2 Evasão dos usuários no Centro de Atenção Psicossocial- AD É objetivo de toda a equipe multidisciplinar que atua nos Centro de Atenção Psicossocial-AD estimular maior adesão do usuário no que se refere ao tratamento à dependência química, minimizando dessa forma,os elevados índices de evasão que tanto dificultam a solução do problema e reintegração do usuário, que é estigmatizado e marginalizado em função de sua dependência por substâncias como álcool e drogas (SALLES E SILVA, 2017). Fernandes et. al. (2017, 132) realizam alguns estudos sobre o problema da evasão dos usuários atendidos pelo Centro de Atenção Psicossocial-AD e traz algumas conclusões relevantes ao explicar: As taxas de abandono de tratamento em serviço psiquiátrico variam de 30% a 60%, dependendo das características do serviço. 32 Em particular, os pacientes com abuso de álcool e outras drogas estão em maior risco de abandono de tratamento. O tempo de tratamento é um pré-requisito para o seu sucesso. Há uma correlação, portanto, entre a duração do tratamento e a ocorrência de resultados positivos das intervenções, ressaltando-se a importância da análise de fatores que possam estar relacionados à aderência ou à não aderência. Ao se realizar a identificação de características que influenciam a adesão aos programas terapêuticos, pode-se desenvolver estratégias especificamente dirigidas. Os autores supracitados observam ainda que é preocupante os elevados índices de evasão ao tratamento do usuário de álcool e outras drogas, que no Brasil encontra-se em torno de 90,4%, ocorrendo, principalmente, no início do tratamento, valendo destacar que o atendimento oferecido ao usuário pode influenciar muito no aumento ou redução desses índices, cabendo aos profissionais atuarem de forma humanizada no acolhimento, oferecendo toda a informação necessária, não só ao usuário, mas também à sua família (FERNANDES ET. AL. 2017). Fundamental se torna a adesão do usuário ao tratamento, o que é aspecto marcante e demanda atenção, valendo destacar as palavras de Moreira (2017, p. 14) que dispõe: Sabe-se que a adesão depende da motivação do paciente para o tratamento. Sendo assim, há uma relação direta entre o que é proposto ao paciente, em termos de atendimento da equipe multidisciplinar do Centro de Atenção Psicossocial-AD (ad álcool e outras drogas), e o desempenho de sua adesão ao tratamento; há a necessidade do vínculo terapêutico com os profissionais da saúde, uma vez que a abrangência das múltiplas necessidades dos usuários de drogas a partir da proposta multidisciplinar, a motivação para o tratamento e a aliança terapêutica diminuem o índice de abandono ao tratamento. Silva (2017) explica que são elevados os índices de usuários em processo de tratamento que evadem em função de recaídas que são justificadas por eles como responsabilidade de terceiros, a quem atribuem a culpa por seus atos, de maneira a camuflar a fragilidade existente entre esse usuário e a substância à qual ele cria dependência. 33 Moreira (2017) explica que há várias maneiras de se aplicar o tratamento ao usuário de álcool e drogas, mas independentemente o modelo adotado, é preciso que ocorra um elo terapêutico entre usuário e profissionais, para promover estímulo à adesão e continuidade do tratamento, de forma a colaborar para a recuperação do mesmo e sua reintegração no ambiente social, sem estigmas e preconceitos. Há de se destacar que existem poucos dados relacionados à evasão dos usuários em tratamento nos Centro de Atenção Psicossocial-AD, conforme explica Moreira (2017, p. 16): Os Centro de Atenção Psicossocial-AD, como parte integrante do Sistema Único de Saúde (SUS), tem o dever de prestar assistência integral às pessoas em sofrimento em decorrência do uso de álcool ou de outras drogas, como preconiza a Lei nº 8.080/90 e a Portaria nº 3.088/11. Prestar assistência implica em oferecer recursos e possibilidades variadas para que essas pessoas sejam acolhidas em suas necessidades e que seja proporcionado o melhor atendimento possível, incluindo esforços para se evitar ao máximo o abandono ou a desistência do tratamento. Pouco se tem documentado a respeito das barreiras encontradas, bem como das motivações que levam as pessoas desistirem ou abandonarem o tratamento dos problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas nos dispositivos de atenção a essa população no âmbito do SUS, que são os Centro de Atenção Psicossocial-AD. Considerando diferentes comunidades terapêuticas que atendem usuários com dependência ao álcool e outras drogas no país, Brasil (2017) explica que os Centros de Atenção Psicossocial- AD representam instrumentos de grande importância, por apresentarem equipamentos, um ambiente propício, recursos materiais e uma equipe multidisciplinar preparada para oferecer toda a atenção necessária ao usuário, mas, apesar de toda a estrutura física, material e humana, ainda são elevados os índices de evasão ao tratamento. Brasil (2017) explica a dificuldade em obter dados mais precisos acerca da evasão de usuários em centros terapêuticos voltados para tratamento de usuários de álcool e outras drogas, ao esclarecer que cerca de 81,6% das instituições só registram a evasão do usuário após o contato do mesmo ou de sua família. 34 É importante buscar meios de minimizar a evasão dos usuários do Centro de Atenção Psicossocial-AD e segundo Fernandes (2017) através das chamadas redes de atenção, é possível desenvolver tratamentos terapêuticos de grande valor, por meio de instituições como os Centros de Atenção Psicossocial-AD, por exemplo, que permitem a promoção de uma atenção global, conforme demanda o dependente de álcool e outras drogas e para tanto, são necessárias ações bem organizadas e estratégias devidamente planejadas para um atendimento de qualidade, que atenda às necessidades dos usuários e colabore para que alcancem a devida recuperação almejada. Nota-se que frente ao elevado índice de evasão de usuários de álcool e outras drogas nos Centros de Atenção Psicossocial-AD, é preciso que algumas medidas sejam tomadas e ações sejam promovidas, com o objetivo de minimizar o problema e alcançar a redução dessas taxas, que são preocupantes e o assistente social exerce um papel fundamental neste processo, por se tratar de um profissional que tem habilidades e competências para realizar ações voltadas para este fim, tema que será tratado no próximo tópico. 3.3 Ações do Assistente Social no Centro de Atenção Psicossocial-AD para minimizar a evasão dos usuários: Como forma de minimizar a evasão dos usuários no Centro de Atenção Psicossocial-AD, Moreira (2017) propõe uma rede de apoio aos mesmos realizada por assistentes sociais, de modo a englobar várias relações significativas entre usuário, equipe e o próprio tratamento, para dessa forma estimular maior confiança e segurança do mesmo para que construa laços afetivos, reflita sobre valores e cria um vínculo com as pessoas para troca de experiências e convívio social. Moreira (2017) explica que usuários de álcool e drogas são muito suscetíveis de evadir do tratamento, especialmente os mais jovens e por isso, é preciso promover uma rede social de apoio para oferecer todo o suporte necessário para a permanência desse usuário no Centro de Atenção 35 Psicossocial-AD, sendo fundamental o acolhimento, atendimento humanizado e intervenções que abrangem a família como meio de estimula-lo a concluir todas as etapas do tratamento, o que não é tarefa fácil e demanda o trabalho integrado de profissionais, em especial, do Serviço Social. Em função da importância da rede de apoio aos usuários de álcool e outras drogas, ocorreu sua ampliação, inclusive no que se refere ao âmbito psicossocial, conforme esclarece Patriota (2011, p. 3-4): A ampliação da rede de atenção psicossocial no país vem proporcionando ampla presença dos assistentes sociais nos serviços substitutivos, alguns profissionais, inclusive, coordenando Centro de Atenção Psicossocial-AD. O assistente social é um dos profissionais que pode fazer parte da equipe multiprofissionaldos Centros de Atenção Psicossocial, conforme Portaria 336, de 19 de fevereiro de 2002 [...]. Suas ações nesses espaços devem contribuir para superação da estigmatização da loucura e garantir um atendimento digno e humanizado. É relevante esclarecer que nos Centro de Atenção Psicossocial-AD, há um trabalho integrado com os assistentes sociais, que buscam realizar um elo entre os assistidos, a família e a sociedade, com o objetivo de auxiliá-los na superação dos estigmas e em sua reintegração social. Vale ressaltar que o assistente social desenvolve uma série de ações em sua prática profissional e, em se tratando do enfrentamento da dependência química de álcool e outras drogas, exerce um trabalho muito complexo, pois essas pessoas encontram-se fragilizadas, algumas agressivas, com familiares enfrentando inúmeros problemas em face dos resultados de sua dependência, além, é claro, da sociedade que estigmatiza e passa a criar um preconceito não só com esse indivíduo, como também com sua família (ZOLDAN E RIBEIRO, 2017). Os assistentes sociais exercem um papel fundamental nos Centro de Atenção Psicossocial-AD, sendo comum a identificação majoritária desses profissionais, que segundo Gráfico 1, em uma distribuição frequente das instituições, encontram-se em segundo lugar em quantidade que atua junto aos dependentes de álcool e outras drogas, como é possível verificar por meio do 36 gráfico supracitado. Gráfico 1 – Média de trabalhadores por 100 vagas, segundo vínculo, para ocupações selecionadas Fonte: Brasil (2017, p. 28). Nota-se a prevalência dos assistentes sociais nas instituições que atendem dependentes de álcool e outras drogas, o que revela a relevância desses profissionais, que realizam um trabalho de acolhimento, orientação, além de ser parte ativa na reintegração desses usuários na sociedade, oferecendo apoio tanto aos assistidos, quanto aos seus familiares. Inúmeros programas e projetos são desenvolvidos pelo assistente social, visando minimizar os problemas trazidos pela dependência química dos assistidos, com ênfase ao alcoolismo, além de sua reintegração social, melhorando sua autoestima e buscando leva-los a se sentirem importantes e 37 úteis, sendo fundamental que os assistentes sociais pautem suas ações em três aspectos fundamentais: ressocialização, reintegração e inserção social do usuário (BARBOSA, 2006). Barbosa (2006) explica que o assistente social busca resocializar o usuário em processo de tratamento e para isso, precisa orientar a família e a comunidade da pessoa, para recebe-lo e apoia-lo. Precisa promover ações também de reintegração social, que significa verificar se o dependente químico de álcool está preparado para retornar ao convívio social, demonstrando à família e à sociedade que ele tem condições de manter atitudes harmônicas, vivendo bem no ambiente social. A inserção social refere-se ao retorno do dependente de álcool ao convívio social, sendo inserido em atividades cotidianas em vários ambientes como escolar, profissional, cultural etc. Petry (2005, p. 14) elenca as principais ações que competem ao assistente social no atendimento dos dependentes químicos: • Promover o resgate da autoestima dos indivíduos, bem como a valorização da vida; • desenvolvimento de uma compreensão acerca das consequências do consumo abusivo de drogas – conceituação e o poder destrutivo das substâncias psicoativas; • incentivo aos pacientes no que concerne à estabelecimentos de metas para o futuro; • realização de grupos de trabalho, que possam auxiliar a busca pela melhoria da qualidade de vida; • promoção de ações socioeducativas, destinadas aos pacientes e a seus familiares; • incentivo aos pacientes e familiares para ingressarem nos grupos de mútua-ajuda como os Alcoólicos Anônimos (AA) [...] para manutenção do tratamento pós-alta. Como se percebe são muitas as ações que são realizadas pelos assistentes sociais para auxiliar o dependente de álcool e outras drogas atendidos pelo Centro de Atenção Psicossocial-AD, como forma de leva-lo à reestabelecer sua vida, se resocializando, reintegrando e sendo inserindo na sociedade novamente. Outra questão importante que deve versar no trabalho do Assistente Social são ações voltadas para a prevenção, através de orientações aos indivíduos e suas famílias, evitando-se que uma situação inicial de consumo, se torne 38 excessiva e gere o alcoolismo. Para Kawall (2003 apud PETRY, 2005): O Serviço Social faz parte da base do processo de recuperação do dependente químico, tendo em vista que é o Assistente Social o responsável por grande parte dos trabalhos desenvolvidos com os pacientes e seus familiares, envolvendo não só o tratamento durante a internação, mas também os projetos de prevenção, recuperação e manutenção da abstinência. O Assistente Social exerce um papel de grande importância na recuperação do dependente de álcool e outras drogas, desenvolvendo vários trabalhos com os usuários e seus familiares, tornando-se essencial para o processo de prevenção, recuperação e manutenção da abstinência dessa pessoa, minimizando assim, o problema da evasão do usuário ao tratamento de sua dependência. Fernandes et. al. (2017) realizaram pesquisas junto a usuários de um Centro de Atenção Psicossocial-AD e concluíram que houve uma redução significativa na evasão de usuários que foram atendidos e conversaram no mínimo uma vez com a assistente social que atua na instituição, o que revela a importância deste profissional na redução da evasão do usuário, cabendo a ele realizar ações voltadas para o atendimento e motivação dos assistidos para que permaneçam o tratamento até o seu término. 39 CONCLUSÕES Conforme foi possível observar através da exposição de vários estudos publicados na literatura brasileira, a dependência química é um problema que demanda atenção especial devido ao elevado número de pessoas que acomete, tornando-se, nos últimos anos, um problema considerado de saúde pública e chamando a atenção do governo que busca alternativas para controlar seus efeitos que são encontrados em qualquer esfera da sociedade moderna. Trata-se de uma necessidade, seja fisiológica ou psíquica, de se utilizar substâncias com certa frequência, com destaque ao álcool, que é uma substância lícita e muito consumida no Brasil, além de outras drogas, que podem afetar, consideravelmente, o convívio social, podendo-se chegar até mesmo a um quadro de exclusão. O alcoolismo gera grande preocupação por parte da sociedade podendo causar sérios danos à saúde e até mesmo a morte dos dependentes, quando consumido em excesso, mas a preocupação maior não gira ao redor do simples consumo do álcool e outras drogas, mas sim, do seu abuso, o que torna mais fácil um quadro de dependência química entre os usuários, surgindo a necessidade de assistência de um conjunto de profissionais, com destaque ao assistente social. O assistente social pauta suas ações na ressocialização, reintegração e inserção social do alcoólatra e dependente de outras drogas, que são três objetivos muito importantes a serem alcançados para que ele volte a ter uma vida normal, dentro do ambiente social. Uma equipe multidisciplinar, como foi possível observar ao longo do estudo, atua nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) visando oferecer atendimento especializado ao usuário de álcool e outras drogas, destacando-se o assistente social, como profissional de suma importância neste contexto, pois ele pode investigar, analisar as situações e oferecer todo o suporte necessário não apenas para o usuário, mas também para toda a sua família. É certo que o assistente social precisa realizar um trabalho integrado com outros profissionais para melhor atender ao dependente químico, pautando suas 40 ações tambémnas políticas públicas voltadas para sua área de atuação, com destaque às orientações aos dependentes de álcool e outras drogas, assim como sua família, para prevenir novas situações e reestabelecer um harmônico convívio do mesmo na sociedade. Conclui-se finalmente, que há várias ações desenvolvidas pelos assistentes sociais no Centro de Atenção Psicossocial - AD, visando reduzir as taxas de evasão dos usuários, dentre as principais delas destaca-se o processo de ressocialização dos mesmos ao ambiente social, com a devida orientação ao usuário e à sua família. 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, Thaís Karina Guedes Bezerra de Melo. Saúde mental e demandas profissionais para o serviço social. Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 2006. BARRETO NETO, Heráclito Mota. 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