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das lutas democráticas e operárias. Por toda a Europa, triunfava a reação burguesa e aristocrática. Marx relacionou o refluxo à nova fase de prosperidade, que sucedia à crise econômica de 1847-1848, e con- siderou ser preciso esperar a crise seguinte a fim de recolocar na ordem do dia objetivos revolucionários imediatos. Com uma paixão obsessiva, entregou-se à tarefa que se tornaria a mais absorvente de sua vida: a de elaborar a crítica da Economia Política enquanto ciência mediada pela ideologia burguesa e apresentar uma teoria econômica alternativa, a partir das conquistas científicas dos economistas clássicos. A resi- dência em Londres favorecia tal empresa, pois constituía o melhor ponto de observação do funcionamento do modo de produção capitalista e de uma formação social tão efetivamente burguesa quanto nenhuma outra do continente europeu. Além disso, o British Museum, do qual Marx se tornou freqüentador assíduo, propiciava a consulta a um acervo bibliográfico de incomparável riqueza. Em contrapartida, as condições materiais de vida foram, durante anos a fio, muito ásperas e, às vezes, simplesmente tétricas para o líder revolucionário e sua família. Não raro, faltaram recursos para satisfação das necessidades mais elementares e o exilado alemão se viu às bordas do desespero. Sobretudo, não podia dedicar tempo integral às pesquisas econômicas, conforme desejaria, vendo-se forçado a aceitar tarefas de co- laboração jornalística, entre as quais a mais regular foi a correspondência política para um jornal de Nova York, mantida até 1862. Além disso, as intrigas que a seu respeito urdiam os órgãos po- liciais da Alemanha e de outros países obrigavam-no a desviar a atenção dos estudos teóricos. Durante quase todo o ano de 1860, por exemplo, a maior parte de suas energias se gastou na refutação das calúnias difundidas por Karl Vogt, que o acoimara de chefe de um bando de chantagistas e delatores. Ex-membro esquerdista do Parlamento de Frankfurt, em 1848, Vogt se radicou na Suíça como professor de Geo- logia e se tornou expoente da versão mais vulgar do materialismo mecanicista (é dele a célebre afirmação de que “os pensamentos têm com o cérebro a mesma relação que a bílis com o fígado ou a urina com os rins”). Envolvido em intrigas de projeção internacional nos meios democráticos e socialistas, aceitou — o que depois se comprovou — o papel de escriba mercenário pago pelo serviço secreto de Napoleão III. Apesar de calejado diante de insultos e calúnias, a dose passara, desta vez, a medida do suportável e Marx se esfalfou na redação de grosso volume, que recebeu o título sumário de Herr Vogt. À parte os aspectos polêmicos circunstanciais hoje sem maior interesse, o livro oferece um quadro rico da política internacional européia em meados do século XIX, tema explorado com os recursos exuberantes do estilo de um grande escritor. A situação de Marx seria insustentável e sua principal tarefa científica decerto irrealizável não fosse a ajuda material de Engels. MARX 15
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