Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O CARÁTER POLÍTICO DO CICLO ORÇAMENTÁRIO Andressa Vieira Silva Este trabalho visa destacar as atribuições dos Poderes Executivo e Legislativo no ciclo orçamentário brasileiro e expor as implicações dessa divisão de responsabilidades. O ciclo orçamentário compreende o período de tempo em que as atividades relacionadas ao orçamento são realizadas, da concepção à apreciação. De acordo com Mendes (2016), o ciclo orçamentário é composto pelas etapas de elaboração e planejamento da proposta orçamentária, discussão, estudo e aprovação da lei de orçamento, execução orçamentária e financeira, e avaliação e controle. Dessa forma, considera-se o processo orçamentário como contínuo, dinâmico e flexível, e sua duração é maior do que a do exercício financeiro que corresponde ao ano civil. A etapa de elaboração é de responsabilidade do Poder Executivo e é quando são fixadas as metas de resultado fiscal para o período, são projetadas as receitas e as despesas obrigatórias e é feita uma apuração das despesas discricionárias. A etapa de discussão, estudo e aprovação acontece no Poder Legislativo, onde é apreciado o projeto orçamentário e os parlamentares propõem emendas e modificações ao projeto e, após, aprovam ou rejeitam a proposta. A seguir, acontece a arrecadação de receitas e a realização de despesas, ou seja, o orçamento é posto em prática. Essas ações compreendem a etapa de execução orçamentária e financeira, que é realizada pelo Poder Executivo. A avaliação e o controle constituem as etapas do ciclo orçamentário em que são avaliadas a eficácia e a eficiência das ações governamentais e seus resultados são usados para contribuir com a qualidade de novas propostas orçamentárias. O controle busca garantir que os atos de gestão serão legais, isentos de corrupção e que trarão bons resultados para a sociedade. Essa etapa é exercida pelo Poder Legislativo com o auxílio dos órgãos de controle. De acordo com Silva (2018), esse sistema já está consolidado no Brasil, entretanto pode apresentar falhas como inibir ações estratégicas referentes à implementação de políticas públicas. Além disso, esse tipo de processo pode fazer com que gestores públicos precisem manter seus lobbies anualmente ativos no Legislativo para garantir que as leis orçamentárias sejam cumpridas conforme o previsto, pois, por ser um processo flexível, ele pode ser revisto a qualquer momento alterando as receitas estimadas e as prioridades na alocação de recursos. Além disso, as emendas parlamentares também viraram um instrumento de barganha, sendo usadas indiscriminadamente; parlamentares de maior poder político, com o auxílio de seus apoiadores nos Ministérios, incluem no projeto orçamentário do Poder Executivo temas de seu interesse. Dessa forma, o processo orçamentário encontra-se em uma disputa política, em que os maiores beneficiários são uma pequena parte da população, pois, geralmente, os políticos com maior poder buscam beneficiar apenas suas bases eleitorais (GARCIA, 2010). O ciclo orçamentário previsto na Constituição Federal de 1988 foi pensado para evitar deixar o poder na mão de apenas um representante e que um Poder pudesse fiscalizar o outro, porém, atualmente, é preciso que haja mecanismos que expressem as demandas da sociedade. Para isso, é fundamental a democratização do orçamento através de incentivos à participação da sociedade ressaltando quais são as prioridades para o povo. Além disso, mecanismos de transparência e que possibilitem o controle social também são imprescindíveis para a modernização e aperfeiçoamento do processo orçamentário. REFERÊNCIAS GARCIA, Tatiana, Marselha Lins. Processo Orçamentário no Brasil: Uma breve reflexão. In: DireitoNet. 2010. Disponível em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6128/Processo-Orcamentario-no-Brasil- Uma-breve-reflexao. Acesso em: 17 ago. 2020. MENDES, Sérgio. Administração Financeira e Orçamentária: teoria e questões. 6 ed. São Paulo: Método, 2016. SILVA, Sandro Pereira. A política de economia solidária no ciclo orçamentário nacional (2004-2018): inserção, expansão e crise de paradigma. In: Texto para discussão. Brasília: Ipea, 2018. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=3442 7. Acesso em 17 ago. 2020.
Compartilhar