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Política Comercial Estratégica e Controvérsias sobre a Política Comercial Introdução Duas controvérsias surgiram durante os anos 80 e 90 sobre os efeitos do comércio internacional sobre o nível de bem estar nacional e elas permanecem até os dias de hoje. • Nos anos 80, surgiram, nos países desenvolvidos, argumentos sofisticados justificando a intervenção governamental no comércio internacional. Estes argumentos dão ênfase na proteção: – nas indústrias de alta tecnologia, ou seja, setores intensivos em pesquisa e desenvolvimento e – em setores oligopolizados. • Nos anos 90, surgiu, nos países em desenvolvimento, uma discussão sobre os impactos de uma crescente participação no comércio internacional sobre os trabalhadores. Adicionalmente passou se a incluir padrões ambientais e culturais na discussão. 2/37 Existem dois tipos de falhas de mercado que são relevantes para a política comercial ativa (subsídios à exportação), principalmente, em setores de alta tecnologia: • Externalidades tecnológicas, ou o problema da apropriabilidade. • A existência de lucros de monopólio em setores oligopolistas concentrados. • Em ambos os casos, o problema é de falha de mercado. Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 3/37 1. Tecnologia e Externalidades • Externalidades – Empresas em um setor produzem conhecimento que são apropriadas por outras empresas sem pagamentos por esse conhecimento. – Uma externalidade implica que o benefício social marginal do investimento não é representado adequadamente pelo excedente do produtor. • Em industrias high-tech é difícil se apropriar do conhecimento tecnológico. – Exemplo: No setor eletrônico, é comum a “engenharia reversa” (cópia do que foi desenvolvido pelos concorrentes) Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 4/37 • O Argumento para Políticas Governamentais em Indústrias de Alta Tecnologia – É difícil ao governo identificar e subsidiar as atividades com externalidades, não todas as atividades de um setor ou empresa. – Por exemplo, P&D (e não a produção) é que deve ser subsidiada. • Quão Importantes São as Externalidades? – Externalidades são difíceis de mensurar empiricamente. – Problemas de apropriação são importantes a nível do país que subsidia o setor. O benefício pode ser apropriado por outros países. Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 5/37 O subsídio do governo a setores considerados de alta tecnologia deveria considerar que: • A maior parte das atividades das empresas de alta tecnologia não geram novos conhecimentos; subsidiar as compras e os assalariados da empresa não geram novas tecnologias. • Muitas inovações são feitas em setores que não são classificadas de alta tecnologia. Em vez de subsidiar setores, o governo deve subsidiar as atividades de pesquisa e desenvolvimento. • O correto seria deduzir as despesas de P&D do imposto de renda das empresas. Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 6/37 2. Concorrência Imperfeita e Política Comercial Estratégica • Em algumas indústrias com pequena concorrência: – As empresas terão lucros elevados. – Haverá uma concorrência internacional por tais lucros. – Um subsídio do governo as empresas do país pode desviar os lucros das empresas estrangeiras para as empresas nacionais. Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 7/37 • O Modelo Brander-Spencer: Um Exemplo. –Existem duas empresas (Boeing e Airbus) concorrendo no mercado mundial, cada uma sediada em uma região (U.S.A. e Europa). –Existe um novo produto, um avião para 150 passageiros, que ambas são capazes de produzir. –Cada empresa decide produzir ou não o novo produto, dependendo do lucro estimado. Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 8/37 Airbus Boeing -$5B $0B $0B $100B -$5B $100B $0B $0B Produzir Não produzir Produzir Não Produzir A Boeing entra no mercado e decide investir e produzir primeiro Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 9/37 A resultado previsto depende de quem começa a produzir primeiro. • Se a Boeing produzir primeiro, a Airbus não entrará no mercado. O mesmo vale se a Airbus entrar primeiro. Mas um subsídio de $25 pela União Europeia pode alterar o resultado tornando rentável a produção da Airbus independente da decisão da Boeing. Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 10/37 Airbus Boeing -$5B $0B $0B +$100B $20B $125B $0B $0B Produzir Não produzir Produzir Não Produzir A UE subsidia a produção em $25B Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 11/37 Se a Boeing está convencida de que a UE vai subsidiar a produção da Airbus, ela se será inibida de entrar na produção. • O subsídio de $25, produzirá um lucro de $125 para a Airbus. • O subsídio aumento o lucro em uma proporção maior que o subsídio por reduzir a concorrência com a empresa estrangeira. • Essa é uma Política Comercial Estratégica. Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 12/37 Críticas a Política Comercial Estratégica: 1. Não existem informações suficientes sobre as empresas para implementar a política. • Se os dados forem diferentes, as previsões podem estar erradas. • É difícil prever os lucros das empresas. • Exemplo: se a Boeing tem uma tecnologia melhor, mesmo que a Airbus produza, a Boeing terá lucro produzindo. Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 13/37 Airbus Boeing $5B $0B $0B $125B -$20B $100B $0B $0B Produzir Não produzir Produzir Não Produzir Se a Boeing tem uma vantagem na produção mudam os lucros das empresas Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 14/37 Airbus Boeing $5B $0B $0B $125B $5B $125B $0B $0B Produzir Não produzir Produzir Não Produzir A vantagem da Boeing, faz com que o subsídio não retire a empresa do mercado e o custo é alto para a Europa Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 15/37 O resultado do modelo é de que as duas empresas produzirão e cada uma terá um lucro de $5, apesar do subsídio da UE. • O subsídio não aumenta os lucros em uma proporção maior que o subsídio porque a política não consegue evitar a entrada da empresa estrangeira. Não é claro que o subsídio é vantajoso: há desperdício de recursos que poderiam ser usados alternativamente em um setor competitivo. Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 16/37 2. Poderiam ocorrer retaliações dos parceiros comerciais: – Políticas estratégicas são políticas beggar-thy- neighbor (empobrecer o vizinho), que aumentam o bem estar de um país à custa de outros países. – Se os dois países subsidiarem a produção, haveria uma guerra comercial com desperdício de recursos. 3. A política comercial estratégica, como qualquer política pode ser manipulada politicamente por grupos poderosos. Argumentos Sofisticados para a Política Comercial Estratégica 17/37 A Indústria de Microprocessadores A indústria de semicondutores foi utilizada como um exemplo de política comercial estratégica bem sucedida. Argumentava-se que a proteção dada pelo Japão aos produtores domésticos incentivava os investimentos em uma indústria onde a curva de aprendizado era muito inclinada e favorecia a exportação. Não é claro se o sucesso do Japão esteve associado à política comercial ou ao controle de qualidade. O Japão ultrapassou os EUA na produção de um componente crucial: memórias RAMs, componente com externalidades tecnológicaspara a indústria como um todo e com capacidade de gerar lucros extraordinários (poucos produtores). Isto não aconteceu: as RAMs acabaram virando commodities e não geraram externalidades fortes nem lucros elevados. 18/37 Globalização e Mão-de-obra O crescimento das exportações de produtos manufaturados dos países em desenvolvimento representa uma das mudanças importantes da economia mundial a partir dos anos setenta. • A produção destes bens é feita com mão de obra que recebe baixos salários e em condições de trabalho precárias (em muitos casos, salários inferiores a US$ 1 por dia). • Isto se transformou em um dos principais argumentos do movimento antiglobalização. 19/37 O Movimento Antiglobalização • Tornou-se uma presença bastante visível ao longo das últimas décadas: – Anos 80 – Ameaça da concorrência do Japão, nos USA. – Começo dos Anos Noventa – Preocupação na Europa e nos USA com os efeitos das importações oriunda dos países mais pobres sobre o salário da mão de obra menos qualificada dos países ricos. – Segunda Metade dos anos Noventa – Ênfase nos danos que o comércio internacional estaria fazendo aos trabalhadores dos países mais pobres. – 1999 – Manifestantes impediram o início de uma rodada de negociações da OMC, em Seattle, USA. A reunião foi um fracasso independente dos protestos. Globalização e Mão-de-obra 20/37 Comércio e Salários Revisitados • Os ativistas argumentam que a globalização piora as condições dos trabalhadores nas industrias exportadoras dos países em desenvolvimento. – Exemplos: Os salários nas “maquiladoras” no México são inferiores a US$ 5 por dia e as condições de trabalho são muito ruins pelos padrões dos USA. Na China, os salários em muitos setores exportadores é de US$ 1 ao dia e as condições de trabalho precárias; o mesmo acontece na Índia. • Os economistas argumentam que apesar do salário ser baixo nos países em desenvolvimento, os trabalhadores estão em uma posição melhor do que se não existisse a globalização (comércio internacional). Globalização e Mão-de-obra 21/37 Salários Reais (A) Antes do Comércio bem de alta bem de baixa tecnologia/hora tecnologia/hora Estados Unidos 1 1 México 1/8 1/2 (B) Depois do Comércio bem de alta bem de baixa tecnologia/hora tecnologia/hora Estados Unidos 1 2 México 1/4 1/2 Globalização e Mão-de-obra 22/37 Há uma ideia equivocada sobre vantagens comparativas: exploração de trabalhadores nos países em desenvolvimento, já que eles recebem salários menores. Exemplo: 2 países (USA e México); duas indústrias (uma de alta tecnologia e outra de baixa tecnologia); trabalho é o único fator de produção e a produtividade da mão de obra é maior nos USA nas duas indústrias. É necessária uma hora para produzir cada um dos bens nos USA e duas horas para produzir o produto padrão e oito horas para produzir o produto high-tech no México. O salário real é igual a quantidade de cada bem que o trabalhador pode produzir em uma hora. Globalização e Mão-de-obra 23/37 Com livre comércio, os salários relativos dos trabalhadores dos dois países ficariam em algum ponto entre a produtividade relativa dos trabalhadores nas duas indústrias. Exemplo: o salário nos USA poderia ser quatro vezes o salário no México. Seria mais barato produzir o produto de baixa tecnologia no México. Um crítico da globalização concluiria que o comércio prejudica os trabalhadores: na indústria de baixa tecnologia, os salários altos dos USA são substituídos por salários baixos do México. Além disso, os trabalhadores mexicanos recebem menos do que deviam: tem uma produtividade que é ½ dos USA e ¼ do salário. Globalização e Mão-de-obra 24/37 Erro da análise: o poder de compra dos salários aumentou nos dois países: Os americanos (trabalhando no setor high-tech) podem comprar mais bens de baixa tecnologia: duas unidades por hora de trabalho em vez de uma. Os mexicanos (trabalhando no setor de baixa tecnologia) podem comprar mais bens high-tech com uma hora de trabalho (1/4 em vez de 1/8). O comércio diminuiu o preço do bem importado de cada país em termos do salário desse mesmo país. Globalização e Mão-de-obra 25/37 Padrões Trabalhistas e Negociações Comerciais • Acordos comerciais internacionais podem melhorar as condições de trabalho e salários nos países mais pobres através da incorporação de: – Um sistema que monitore as condições de trabalho e salários e divulgue os resultados para os consumidores. – Essa política tem um efeito limitado porque a maioria dos trabalhadores não trabalha no setor exportador. – Padrões trabalhistas formais – São condições que as indústrias exportadoras devem cumprir como parte de acordos internacionais de comércio. – Eles tem apoio importante nos países desenvolvidos. – Há uma grande oposição à estes padrões na maioria dos países em desenvolvimento. Globalização e Mão-de-obra 26/37 Comércio Internacional e Meio Ambiente Os padrões ambientais nos países em desenvolvimento são muito mais baixos do que nos países desenvolvidos. Esse tem sido um argumento contra o aumento do comércio internacional. Esse não é um argumento razoável, pois na ausência de comércio internacional, a produção e o consumo nos países de renda baixa também degradam o meio ambiente. 27/37 Os ativistas da área ambiental desejam incluir padrões ambientais nas negociações comerciais. • Padrões ambientais definidos por países desenvolvidos tem forte oposição dos governos dos países em desenvolvimento. • Padrões internacionais de meio ambiente poderiam ser usados como instrumento protecionista, caso o país exportador não satisfaça critérios ambientais. • Os padrões definidos pelos países ricos seriam inviáveis (muito caros) para os produtores dos países em desenvolvimento. Comércio Internacional e Meio Ambiente 28/37 O crescimento dos países mais pobres, em parte devido a expansão do comércio internacional, leva a uma maior degradação do meio ambiente. Mas a medida em que vão ficando mais ricos, esses países estão dispostos a pagar mais pela proteção ambiental. Essas ideias são representadas pela curva de Kuznets do meio ambiente: • Uma relação de um “U-invertido” entre a degradação ambiental e a renda per-capita. Comércio Internacional e Meio Ambiente 29/37 A Curva de Kuznets do Meio Ambiente Dano ambiental Renda per capita 30/37 Emissão de Dióxido de Carbono Fonte: Agência de Energia dos USA Dióxido de Carbono Milhões toneladas USA Europa China 31/37 Como as regras de meio ambiente são mais rígidas nos países ricos do que nos países em desenvolvimento, muitas atividades poluidoras podem ser transferidas para os países pobres. • A evidência é que essa transferência não tem efeitos importantes, quando comparada com as demais atividades que não dependem do comércio internacional. Comércio Internacional e Meio Ambiente 32/37 A poluição de alguns países gera externalidades negativas em outros países. • Por exemplo a poluição atmosférica da China atinge a costa oeste dos USA e a Coréia. • Por essa razão, a poluição é incluída em negociações internacionais. As emissões de dióxido de carbono são um exemplo de externalidade negativa incluída em negociações internacionais (Protocolo de Kioto). Comércio Internacional e Meio Ambiente 33/37 Comércio Internacional e Cultura Alguns ativistas acreditam que o comércio internacional destrói a cultura de muitos países. • Essa visão esquece o princípio de que cada um deve adaptar sua cultura através de suas escolhas e não por padrões definidos por terceiros. • Qualquer mudança econômica, não só a participação no comércio internacional, leva à mudanças nos hábitos de vida. 34/37 Terceira pesquisa empírica Opção entre dois temas: • política comercial nos países em desenvolvimento;ou • Negociações comerciais multilaterais. 35/37 Resumo Nos anos 80 e 90, surgiram novos argumentos para a intervenção governamental no comércio internacional. Nos anos 80, a nova teoria da política comercial estratégica indicou motivos pelos quais os países podem obter ganhos promovendo determinadas indústrias. Na década de 1990, surgiu a crítica à globalização, concentrada nos efeitos da globalização sobre os trabalhadores dos países em desenvolvimento. 36/37 Existem dois argumentos sofisticados para políticas comerciais ativa: • O governo deve promover industrias que produzem externalidades tecnológicas. • A análise de Brander-Spencer, para a captura de lucros de monopólio. Com o aumento das exportações de manufaturados dos países em desenvolvimento, surgiu um novo movimento contra a globalização. • Os baixos salários pagos aos trabalhadores nas indústrias exportadoras nos países mais pobres. Resumo 37/37
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