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PARIYATTI
867 Larmon Road Onalaska, 
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Pariyatti é uma organização sem fins lucrativos dedicada a 
enriquecer o mundo por intermédio das seguintes ações: 
v Disseminar as palavras do Buda
v Oferecer apoio à jornada do buscador
v Iluminar o caminho do meditador 
Manual de um 
meditador
Como desatar nós
Bill Crecelius
Vipassana Research Publications
Vipassana Research Publications
uma publicação da
Pariyatti Publishing 
867 Larmon Road, Onalaska, WA 
98570
www.pariyatti.org
© 2015 Bill Crecelius
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro 
pode ser utilizada ou reproduzida em qualquer forma sem 
a permissão por escrito do editor, exceto no caso de breves 
citações incluídas em artigos críticos e em resenhas.
Capa & ilustrações dos nós por
www.danielhaskett.com
http://www.pariyatti.org/
http://www.danielhaskett.com/
Sumário
Prefácio 1
Agradecimentos 4
Introdução 6
Esclarecimentos 11
Começando 13
Meditação diária 17
Uma grande distração 27
Apoio no Dhamma 31
Amigos no Dhamma 37
Fazendo escolhas 41
Apenas continue a conhecer Anicca 45
Bingo Bango Bhaṅga 50
O paradoxo das Pāramīs 54
Mettā e você 65
O que podemos aprender nos livros 69
Resumindo 72
Apêndice I - Desenvolvendo uma área de meditação em casa 76
Apêndice II - Livros de Dhamma recomendados 79
Prefácio
Chegamos a Bombaim por volta das 19h00, depois de um voo tranquilo vindo de Dubai. Nossos amigos nos receberam no aeroporto para nos levar 
ao seu restaurante favorito. Era uma noite encantadora. 
Minha esposa Anne, que não estava se sentindo bem, 
foi para o apartamento descansar. O restante do grupo 
seguiu o seu caminho. Apesar do trânsito muito 
pesado, era uma noite suave. Depois de 45 minutos no 
trânsito complicado, ficamos todos revigorados e de 
bom humor quando chegamos ao restaurante. Havia 
uma fila enorme na porta esperando por mesas. Não 
importava o que acontecesse—fosse o calor ou os 
mendigos nos incomodando enquanto esperávamos—
estávamos completamente otimistas, apesar de todos os 
inconvenientes. A noite toda continuou dessa maneira.
Na manhã seguinte, acordei com uma sensação 
semelhante de boa vontade. Entrei na sala de estar e Anne 
e nosso amigo estavam tomando chá. Sentei-me e eles 
me disseram: “Goenkaji faleceu ontem à noite às 22h40”. 
Mettā simplesmente começou a jorrar. Não precisei fazer 
nada.
Decidimos meditar e ir até a sua residência para 
prestar nossa homenagem. A disposição suave da noite 
anterior continuou, mas agora acompanhada por esta 
mettā. Quando chegamos ao prédio, as pessoas tinham 
obviamente estado acordadas desde muito cedo naquela 
1
manhã, cuidando dos preparativos para acolher uma 
multidão enorme de pessoas. Por termos chegado tão 
cedo, por volta das 10h30, havia provavelmente apenas 
cerca de 50-60 pessoas. A sala estava muito sossegada 
e as pessoas se sentavam em cadeiras e em tapetes de 
algodão no chão para prestar sua homenagem. Todo 
mundo parecia muito calmo e tranquilo. Alguns estavam 
obviamente meditando. Eles eram um exemplo do que 
Goenkaji tinha ensinado durante toda a sua vida.
Fomos levados de elevador da grande sala de 
espera no 8º andar até o 13º andar, onde Goenkaji e sua 
família moravam. Ele estava deitado em um caixão de 
vidro. Esta seria a última vez que veria o homem que 
mudou a minha vida. Estava deitado coberto apenas 
com um xale. Prestamos nossa homenagem e mettā 
simplesmente fluiu. 
Soubemos através dos membros da família que 
ele estava de humor jovial até o fim e seu falecimento foi 
tranquilo e sem incidentes. Ele estava cercado por sua 
família naquele momento.
O motivo de eu ter escrito este livro é 
essencialmente para ajudar os outros de alguma pequena 
maneira como ele tão grandiosamente fez por mim. Ele 
me iniciou no caminho do Dhamma e me inspirou a fazer 
tantas coisas que jamais pensei pudesse fazer na vida. 
Não atingi grandes níveis de introspecção (insight), mas 
fiz o que pude por causa de Goenkaji e de outros com 
Manual de um meditador
2
quem tive contato ao caminhar por esta trilha. Por isso, 
sou muito grato.
Prefácio 
3
Agradecimentos
Gostaria de agradecer àqueles que ajudaram com a edição e a inspiração. Primeiramente, minha esposa Anne, que leu o manuscrito 
diversas vezes. Kim Johnston, minha velha amiga da 
Austrália, também me ajudou e fez um ótimo trabalho de 
edição. Quando recebi o manuscrito de volta e algumas 
das palavras haviam sido alteradas para ortografia 
australiana/britânica, tive de sorrir, mas sem ter certeza 
de como faria para mudá-las de volta.
Por muitos anos, Robin Curry tem sido minha 
leal colaboradora sempre que precisava de alguma coisa 
editada. Ela, às vezes, ralhava diante do meu pedido, 
quando pensava nas muitas maneiras que eu poderia 
desfigurar o inglês gramaticalmente correto, mas sempre 
fazia o que era preciso. Nem preciso dizer que ela estava 
lá novamente para me apoiar neste momento. Obrigado 
Robin.
Bharathram Sundararaman, um voluntário da 
Pariyatti que foi meu editor oficial e que ofereceu muitas 
sugestões úteis para melhorar este livro. Apesar de muito 
ocupado com a vida profissional e familiar, como outros 
tantos voluntários de Dhamma, dedicou tempo para 
editar este manual para meditadores. Também Brihas 
Sarathy e Adam Shepard da Pariyatti e Virginia Hamilton. 
Agradeço ao Daniel Haskett pela criação da capa e das 
ilustrações do nó.
4
Agradeço também ao Rick Crutcher e ao Paul e à 
Susan Fleischman por examinarem as primeiras versões 
do manuscrito e por me colocarem em uma trilha melhor.
Agradecimentos 
5
Introdução
Aprendi a manter a minha prática e a fazê-la crescer. Gostaria de compartilhar isso com você. Primeiramente, como um homem solteiro 
morando em uma área sem outros meditadores, depois 
morando em uma área com muitos amigos meditadores 
de Vipassana e, finalmente, como um homem casado 
com uma parceira no Dhamma, adaptei minha vida para 
viver continuamente no Dhamma.
O caminho do monge é elevado e sublime. Diz-
se que o caminho para o monge é livre e suave e fácil de 
trilhar. Está elevado acima da sujeira e da lama. Não há 
pedras, seixos, rochas afiadas ou espinhos. Infelizmente, 
para nós pobres chefes de família este não é o caso. Nossas 
vidas estão estreitamente ligadas às responsabilidades 
mundanas, empregos, laços familiares e pagamentos de 
hipoteca. Ao contrário dos monges, o nosso caminho está 
cheio de obstáculos mundanos e distrações. É por esta 
razão que acho poder o Manual de um Meditator ajudar 
os alunos de Vipassana em sua caminhada ao longo desta 
trilha de purificação.
6
Uma vez que está lendo este livro, suponho 
que tenha feito um curso de meditação Vipassana com 
Goenkaji ou com um dos seus professores assistentes. 
Nas páginas a seguir espero oferecer-lhe maneiras para 
estabelecer a sua prática na meditação Vipassana. Você 
pode ter concluído recentemente um curso, ou pode ter 
participado de um ou de mais cursos há alguns anos atrás, 
mas não conseguiu manter a sua prática. De qualquer 
maneira, este livro lhe deve ser útil. Lê-lo será mais útil, 
no entanto, se decidir fazer esforços sérios para praticar 
esta meditação.
Quando jovem, era escoteiro, e vou sempre me 
lembrar do Manual do Escoteiro. Continha tudo o que 
precisava saber para ser um bom escoteiro. Quando 
adulto, tornei-me um mestre escoteiro e tive contato com 
este manual novamente. Percebi que era uma grande 
ferramenta para todo escoteiro. Todo o conhecimento 
necessário estava naquele livrinho.
Como tenho refletido ao longo dos anos sobre 
trabalhar e caminhar na trilha do Dhamma, pensei: não 
seria ótimo ter um livro como esse? Não seria sobre 
como atar nós, mas como desatar os nós do desejo, da 
aversão e da ignorânciadas nossas mentes. Isso seria 
uma ferramenta muito mais prática para alguém que 
esteja caminhando na trilha do Dhamma.
Felizmente, ou você poderia dizer por causa do 
meu karma positivo, tive contato com muitas pessoas 
Introdução 
7
que me ajudaram muito ao longo dos anos da minha 
formação inicial. A primeira e a mais importante foi o 
meu pai no Dhamma, Goenkaji, que me apresentou a 
trilha do Dhamma e me guiou até sua morte em 2013. 
Então, também tive muita sorte de encontrar vários 
alunos de Sayagyi U Ba Khin que igualmente se tornaram 
professores. Alguns me deram uma mão neste projeto de 
uma vida inteira de desatar nós. Que grande variedade de 
lições aprendi com eles.
Além disso, tive muita sorte de entrar em contato 
com muitos dos outros alunos de Sayagyi, que, apesar de 
suas altas realizações, não foram nomeados professores. 
Eles também me regaram com o que tinham aprendido 
aos seus pés. Não de qualquer maneira formal, mas 
através de conversas e exemplos ao longo dos anos.
É claro que havia meus companheiros 
meditadores também. Foram tantos que não há condições 
de mencioná-los ou até mesmo de filtrar as lições que 
tinham para compartilhar. De alguns, aprendi coisas 
positivas, mas, de outros, aprendi coisas através de seu 
mau exemplo, como é, às vezes, o caminho. Lamento por 
eles, mas agradeço-lhes mesmo assim.
O maior professor de todos os tempos foi o Buda. 
Ele descobriu esta trilha em que caminhamos e, em vez 
de mantê-la para si mesmo, compartilhou com todos os 
que até ele vieram. Agora, depois de todos estes anos, 
esta linhagem de professores ainda transmite seu mesmo 
Manual de um meditador
8
ensinamento.
Mesmo ao longo de tantos séculos e de tantas 
gerações, tantas pessoas preservaram o ensinamento, 
direta e indiretamente, para o benefício das gerações 
futuras! Quantos professores existiram? Sabemos 
que nos últimos 100 anos ou mais, houve quatro 
(Ledi Sayadaw, Saya Thetgyi, Sayagyi U Ba Khin e 
Goenkaji), então provavelmente teriam existido, pelo 
menos, 100 professores nesta linhagem abrangendo os 
últimos 2.500 anos. Este seria o número aproximado de 
ācariyas (professores) que nos separam do Buda. Quão 
afortunados somos por estas pessoas maravilhosas, de 
coração puro, terem compartilhado esta joia para que 
possamos tê-la hoje.
Ao longo destes anos, o ensino se adaptou aos 
tempos. Quando o Buda estava vivo e, por pouco tempo 
depois, havia muitos arahants, seres totalmente libertos, 
que mantiveram os ensinamentos ultra puros. Com 
o passar do tempo, os leigos apoiaram os monges de 
maneira mais formal o que veio a ser conhecido como 
a religião budista formada. Contudo, ainda eram quase 
inteiramente monges ensinando meditação aos monges. 
Na nossa linhagem, foi o Venerável Ledi Sayadaw que 
transmitiu os ensinamentos ao agricultor Saya Thetgyi, 
que se tornou o primeiro professor leigo. Acabou sendo 
uma jogada brilhante, porque o século XX estava 
amanhecendo e um novo mundo, baseado na revolução 
industrial e na tecnologia da computação, estava prestes 
Introdução 
9
a surgir. Uma nova maneira de transmitir o Dhamma 
seria necessária. Saya Thetgyi, Sayagyi U Ba Khin e S. 
N. Goenkaji fizeram o trabalho que lhes fora designado 
em estilo e em substância surpreendentes e o mundo se 
tem beneficiado disso enormemente.
Agora somos afortunados por haver centros 
em todo o mundo, onde as pessoas podem obter os 
ensinamentos do Buda em lugares confortáveis, de fácil 
acesso, próximos da maioria das grandes cidades do 
mundo. A apresentação do ensino é fácil de entender e um 
grande número de servidores de Dhamma compartilham 
seu tempo e sua mettā para que mais pessoas possam 
obter o Dhamma.
Que o seu caminho seja tranquilo e livre 
de obstáculos. Que você seja feliz. Que se torne 
completamente iluminado!
Manual de um meditador
10
Esclarecimentos
Em recente conversa com um amigo, percebi que este livro pode dar a impressão de que tudo o que faço é meditar. Talvez como uma espécie de 
quase-monge. A realidade está longe disso, embora eu 
seja muito sério sobre reservar tempo para meditar.
Desde que comecei a meditar, tive três fases 
na minha vida. A primeira fase foi de viajar, meditar e 
imergir-me no serviço de Dhamma. Descobri a trilha 
enquanto era um viajante e, durante este tempo, grande 
parte da minha vida era dedicada à meditação e a viagens 
para a Índia e para a Birmânia para frequentar cursos e 
para servir o Dhamma.
Em seguida, casei-me e tivemos um filho. Isso 
iniciou a segunda fase, em que trabalhei em vários 
empregos durante os 27 anos seguintes. Fiz tudo o que 
um marido normal e um pai normal fazem, exceto por 
ter incluído sessões de meditação duas vezes por dia e, 
geralmente, um curso de 20, de 30 ou de 45 dias a cada 
ano. Também reformei totalmente algumas casas, construí 
alguns edifícios e tive muitos interesses, incluindo 
11
jardinagem, carpintaria, marcenaria, páli, etc. Então, eu 
não estava sentado olhando para o meu umbigo.
Além disso, havia todas as atividades da família, 
como ir a jogos de futebol, dever de casa, escoteiros, 
acampamentos, projetos escolares, etc.
A terceira fase começou, quando me aposentei e 
começamos a servir o Dhamma em tempo integral, além 
de todas as coisas acima continuarem como antes.
Não é preciso ser um recluso para ser um 
meditador. Aprecie as coisas mundanas e mantenha suas 
responsabilidades, mas mantenha seu foco em incorporar 
o Dhamma à sua vida. Você consegue fazê-lo. O Dhamma 
lhe dará a energia para fazer tudo o que precisa e muito 
mais além.
Manual de um meditador
12
Começando
Você a essa altura já experimentou as sutilezas da mente e do corpo que lhes estão disponíveis graças a apenas um curso de dez dias de 
meditação Vipassana.
Embora possa ter começado a trabalhar em um 
nível que era tanto superficial, no início, em apenas 
dez dias você foi capaz de mover a mente de um nível 
grosseiro para um muito mais sutil. Você experimentou 
outra coisa também. Pela prática de estritas regras de 
moralidade, conseguiu acalmar a mente para que lhe 
permitisse uma investigação interior mais profunda.
Quem diria que isso poderia acontecer? 
Bem ali do lado de fora dos portões, todo o caos e o 
comportamento indisciplinado do mundo cotidiano 
ainda estava acontecendo. Mas você estava vivendo em 
um casulo, que escolheu habitar com a esperança de 
aprender algo que fosse ajudá-lo. Quem diria que este 
estilo de vida virtuoso, combinado com uma técnica de 
meditação de 2.500 anos atrás, teria lhe proporcionado 
esses sentimentos de contentamento, de tranquilidade, de 
13
alegria e de compaixão pelos outros que você sentiu no 
final do curso. 
Pode ser que faça algum tempo desde que você 
sentou um curso e aqueles sentimentos que experimentou 
no dia de mettā podem não ser tão proeminentes em sua 
mente agora. Se você pensar sobre isso com cuidado, 
porém, podem voltar. Lembro-me de um dia em que 
estava dirigindo com um cliente e ele me disse, sabe, você 
me parece muito familiar. Eu disse sim, você também. 
Comparando notas, descobrimos que ele frequentou um 
dos primeiros cursos realizados nos Estados Unidos, 
quando Goenkaji veio da Índia, mas tinha parado de 
praticar, desde então. Ele disse: “Sabe, foi a experiência 
mais profunda de toda a minha vida.” Eu ouvi isso muitas 
vezes no passado de pessoas que sentaram um curso, 
mas deixaram a prática se perder. Elas ainda sentem essa 
experiência firmemente estabelecida em suas mentes, 
como algo tão especial que se destaca de todas as outras 
coisas que fizeram, desde então.
Em outro caso, estava almoçando com uma aluna 
antiga e ela estava reclamando sobre não conseguir manter 
a sua prática. Ela tinha esquecido o quão profundamente 
benéfica a prática é. As distrações da vida diária e os 
velhos padrões de hábitos interferiam. Percebendo o 
quão superficial suas queixas eram, ela disse, “Às vezes, 
simplesmente me esqueço de como praticar é bom e dos 
benefícios que obtenho disso.”Manual de um meditador
14
Vipassana o integra na sociedade de uma forma 
que é positiva, consciente, moralmente sã, e leva a amar 
outras pessoas tanto quanto você ama a si mesmo. Para 
adquirir a sabedoria da impermanência (anicca), você 
deve se esforçar e isso acabará por levá-lo à meta final.
A razão mais comum pela qual as pessoas 
param de sentar depois de um curso é a de que a forte 
consciência da natureza mutável das sensações (anicca) 
se dissipa lentamente, à medida que nos integramos 
de volta à sociedade. Todos os estímulos externos nos 
estão constantemente subjugando e logo anicca é 
esquecida. Também a sua moralidade fica mais fraca e, 
consequentemente, a sua consciência de anicca sofre. 
Se você deixar esta anicca escapar, estará enfrentando 
sessões que são como “eca.” Será um trabalho árduo 
durante todo o tempo, como aquelas no início de um 
curso. Se não for cuidadoso, deixará essa joia preciosa 
escapulir.
Quando comecei a praticar, era como se tivesse 
estado vivendo com uma nuvem diante de meus olhos. 
Depois de concluir um curso de Vipassana, a nuvem 
começou a se dissipar. Há luz através dessas nuvens e 
você pode vê-la. Tal como quando esteve voando em 
uma altitude elevada e seu avião começa a descer através 
das nuvens e começa a ficar escuro e nublado, mas você 
sabe que, para além dessas nuvens, encontra-se a luz 
solar intensa. Agora você tem a ferramenta para remover 
aquelas nuvens.
Começando 
15
A fim de chegar a essa luz solar brilhante, você 
pode facilitar o seu trabalho se tentar viver sua vida 
livrando-se de distrações que tornariam mais difícil trilhar 
este caminho de Dhamma. Existem várias maneiras de 
fazer isso e você poderá achar útil para o seu trabalho, 
se começar de imediato, enquanto a experiência do curso 
ainda é recente. No entanto, se você não sentou um curso 
por um longo tempo, ainda assim, dê este primeiro passo, 
talvez dedicando mais tempo a ānāpāna. Faça outro 
curso; isto o estabelecerá em seu caminho.
Durante um curso em um centro, tudo é 
controlado e configurado de forma ordeira, porque a 
meditação é a única atividade que ocorre ali. Muito 
planejamento é investido no funcionamento do centro, 
com base na experiência de muitos alunos. Seria útil para 
você se uma pequena parte desta experiência do centro 
puder ser transferida para sua vida cotidiana normal, para 
que haja algo em que possa se agarrar, apesar de toda a 
agitação de ser um chefe de família, um leigo. Um lugar 
que você possa tocar, com vistas a se lembrar daquela 
experiência.
Manual de um meditador
16
Meditação diária
Estas duas sessões diárias são muito importantes. Não é possível enfatizá-las o suficiente porque, quando você começa a perder sessões, fica cada 
vez mais difícil meditar. Quando você vem a um curso 
pela primeira vez, pode ser muito inexperiente, mas, 
até o final dos dez dias, terá visto uma transformação 
em si mesmo. Você agora é capaz de sentir sensações 
internamente, com facilidade, ao passo que, antes do 
curso, provavelmente estava totalmente inconsciente de 
que tais sensações sequer existiam. A fim de manter um 
nível de consciência Dhammica dentro de si mesmo, você 
precisa destas sessões de meditação regularmente. Elas 
mantêm viva a pureza que estabelecemos. Estas duas 
horas por dia, de manhã e à noite, são absolutamente 
necessárias.
Você pode achar que não é tão fácil meditar, 
quando voltar para casa. Pode notar, mesmo enquanto 
seu carro se afasta do centro, que a atmosfera mudou. 
Você já não está em um lugar onde milhares de pessoas 
têm meditado por muitos anos. Distrações surgirão quase 
17
imediatamente. 
Quando parar para abastecer ou talvez pegar um 
jornal, comprar um sorvete ou um refrigerante, poderá 
não haver mais quaisquer pensamentos do Dhamma. 
Todas essas coisas são normais, mas você pode ver que 
a atmosfera do centro pode ser imediatamente esquecida. 
Se estiver determinado a desenvolver uma prática, deve 
encontrar um lugar para estar no espírito do Dhamma que 
seja separado da corrente principal do mundo cotidiano.
Com isto em mente, a primeira coisa a fazer 
é organizar o seu lugar de meditação. Como Goenkaji 
menciona na palestra final do curso de dez dias, é bom 
ter um lugar para meditar que seja sempre o mesmo. Se 
for um pouco quieto e longe do tráfego habitual na casa, 
ajudará. Uma sala separada seria ideal. Um cômodo que 
não esteja sendo usado funciona muito bem, apesar de isso 
ser coisa muito rara, pelo menos, na minha casa. Se algo 
tão óbvio não estiver disponível, então, um lugar em seu 
quarto ou escritório que não seja muito usado funcionará. 
Um bom lugar é aquele em que você pode colocar suas 
almofadas, xale, alarme, etc. e não serão perturbados. 
Para obter uma lista de ideias, veja o Apêndice 1.
É muito importante criar um espaço no qual você 
possa meditar duas vezes por dia. O lugar se preencherá de 
vibrações de Dhamma e de sentimentos de mettā. Tornar-
se-á mais forte ao longo dos anos e você descobrirá ser 
mais fácil meditar ali.
Manual de um meditador
18
Você está fazendo uma mudança importante 
em sua vida. Ao ter um local de meditação designado, 
estará criando um hábito. Este é o lugar onde você vem 
para purificar sua mente. Este é o lugar onde não será 
perturbado, a fim de trilhar o caminho do Dhamma. 
Este lugar o ajudará a se manter na linha e a não deixá-
lo esquecer suas sessões de meditação. Tudo está bem 
ali, pronto para ser utilizado. É uma sala de meditação 
instantânea.
Você deve ter notado no dia dez, que chamamos 
dia de mettā, que, tão logo começou a falar, tudo mudou. 
Você estava extrovertido e os pensamentos de sentar 
foram embora. Às 14h30, no entanto, houve uma sessão de 
meditação em grupo. Esta é uma sessão muito importante 
e você deve refletir sobre isso, quando voltar para casa e 
perceber quão difícil pode ser meditar. Quando começou 
esta sessão de meditação em grupo das 14h30, você pode 
ter percebido imediatamente que a sua meditação foi 
diferente. Sua mente estava provavelmente distraída ou 
agitada e foi difícil se acalmar. Pode ter havido dores e 
desconfortos. Sua meditação mudou e você só tinha falado 
por pouco tempo. Lá pelo final da sessão de meditação 
de uma hora, no entanto, sua mente provavelmente se 
acalmou um pouco e você estava praticamente de volta 
onde estava às 9h00, antes de aprender a prática de mettā. 
E na sessão de meditação em grupo das 18h00, teria visto 
isso acontecer novamente.
Se você não for cuidadoso, não perceberá, mas 
Meditação diária 
19
essa é uma lição muito importante. Deve dar-lhe uma 
visão interior sobre o que está acontecendo no mundo 
exterior e porquê suas sessões diárias de meditação 
são tão importantes. Verá também que aquilo com que 
está lidando é natural e não é que esteja fazendo algo 
errado. É fácil pensar que não é capaz de fazer isso ou 
que seja difícil demais. Esta é realmente uma situação 
muito perigosa e uma das mais difíceis que pode 
enfrentar, porque você pode ser tentado a parar de sentar 
quando confrontado com estas sensações confusas ou 
desagradáveis ou quando a mente estiver divagando. 
Se você parasse de sentar, apenas agravaria 
as coisas. É sentando que se consegue manter sua 
consciência da natureza impermanente das sensações e, 
assim, meditar da maneira adequeada. Você tem de estar 
preparado para aceitar quaisquer sensações que surjam, 
sem ter preferências por uma ou por outra.
Darei um exemplo. Quando voltei para os 
Estados Unidos, após meus anos de viagem, decidi viver 
em Berkeley, na Califórnia, onde sabia que havia muitos 
outros meditadores que também tinham voltado da Índia 
recentemente. Sabia que esses amigos de caminhada 
apoiariam a minha prática. Aluguei um apartamento 
e estabeleci-me para viver a vida de leigo. Uma noite, 
enquanto estava meditando, parecia que tinha sentado 
por, pelo menos, uma hora. 
Olhei para o meu relógio. Dez minutos tinham 
Manual de um meditador
20
passado, nem perto de uma hora. Comeceia minha 
prática novamente e parecia que uma outra hora tinha 
passado. Estava tão agitado e distraído. Olhei para o 
relógio novamente e só mais cinco minutos tinham 
passado. Isto aconteceu mais algumas vezes. Felizmente, 
percebi que estava em uma encruzilhada; se deixasse 
minha mente jogar este jogo comigo e me levantasse 
e parasse de meditar depois de apenas quinze minutos, 
estaria perdido. Aquela sessão de meditação continuou e 
continuou. Pensei que nunca acabaria. Vidas inteiras se 
passaram, mas não desisti. Isso nunca voltou a acontecer 
com tamanha intensidade. Tinha subjugado essa mente 
que não quer mudar. Este é o tipo de coisa da qual você 
tem que se proteger, quando iniciar a sua prática em casa. 
A mente trabalhará contra você e não será a mesma que 
era no curso.
Outros obstáculos podem aparecer em suas 
sessões de meditação, quando começar a praticar em casa 
e à medida que continuar sua prática dia após dia. Às 
vezes, descobrirá que, quando estiver meditando durante 
suas sessões de uma hora, está em um nevoeiro. Pode ser 
que você até caia no sono durante as suas sessões. Isso 
pode acontecer pela manhã ou à noite ou, possivelmente, 
nos dois casos. Não é possível prever quando isso 
acontecerá ou mesmo se acontecerá. Pode lhe parecer, 
como para outros, que quando isso acontece está perdendo 
seu tempo meditando. Gostaria de assegurar-lhe que não 
está desperdiçando seu tempo. Embora possa parecer que 
Meditação diária 
21
está tentando caminhar na lama ou nadar no melaço, isso 
só passará se perseverar. Como você faz isso? 
Quando isso acontece e você se der conta de que 
perdeu a atenção, comece de novo com uma mente tão 
calma quanto for capaz. Tente ānāpāna por um tempo e 
um pouco de respiração intencional. Torne a respiração 
um pouco mais forte para que possa senti-la. Você de 
tempos em tempos subirá à tona desta mente entorpecida, 
sem rumo, e trabalhará com a consciência das sensações 
conhecendo continuamente a sua natureza impermanente.
Descobrirá que isto eventualmente passará. É 
possível que haja apenas alguns minutos nesta hora em 
que estará bem acordado, afiado, e sua mente estará 
penetrante, mas estes são minutos muito valiosos. Não 
os desconsidere. Use-os com sabedoria e não se preocupe 
com o que pensa ter perdido. Você esteve trabalhando 
durante todo o período de meditação, embora possa não 
ter sido o que esperava. Se a sua agenda não exigir que 
esteja em algum outro lugar logo após sentar-se e se nesse 
momento a sua mente estiver clara, então, permaneça 
sentado um pouco mais de uma hora. Cada momento 
sentado sobre a almofada será valioso, se trouxer sua 
mente de volta para o objeto da meditação sem reagir. 
Então, estará fazendo a coisa certa.
Só mais uma coisa: algumas pessoas têm 
exatamente a experiência oposta. Acham que, nos 
primeiros dez minutos da hora, estão muito afiados, muito 
Manual de um meditador
22
alertas e, em seguida, são arrastados para este nevoeiro 
onde sequer sabem distinguir se estão sentados ou 
deitados. Isso não importa. Continue a sentar, complete 
a hora. Não é possível saber o que experimentará em 
suas sessões de meditação. O objetivo é o de fazer uma 
observação sem escolha de qualquer sensação que surgir. 
A mesma coisa se aplica em todas as sessões. Observe as 
sensações que surgem, não importa o que estiver sentindo 
naquele momento. 
Tente prolongar o período de tempo em que se 
mantém consciente. Estas situações grosseiras são uma 
manifestação do que está dentro de si. Se continuar a 
observá-las com equanimidade, estará fazendo o seu 
trabalho. Se parar para pensar, depois de ter passado o 
dia todo fora de casa na rua lidando com a loucura que se 
apresenta, não é à toa que o seu corpo se sente como um 
bloco de cimento e é difícil sentir sensações.
Se a sua mente não estiver afiada e penetrante, 
dedique mais tempo a praticar ānāpāna, antes de mudar 
para Vipassana. Uma mente afiada o ajudará a se acalmar. 
Da mesma forma, uma mente calma afiará seu samādhi. 
Quando se der conta de que a mente está divagando, 
tente a respiração intencional por um tempo. Se nenhuma 
das coisas acima funcionar, tente meditar com os olhos 
abertos por alguns minutos e deixe um pouco de luz 
entrar. 
Seja o que for o que fizer, não se sinta derrotado, 
Meditação diária 
23
nunca pense que tudo está perdido. Simplesmente use 
o esforço correto para tornar cada sessão de meditação 
bem-sucedida. Elas serão todas diferentes e, quando você 
passar a aceitar isso, e não esperar algo que julgar ser 
“meditação”, terá dado um grande passo na direção certa.
Então, uma vez tendo estabelecido seu espaço, 
agora deve discutir este assunto com sua família ou com 
seus companheiros. Isso pode ser fácil para eles aceitarem, 
mas também pode ser difícil e eles podem ter inveja desse 
tempo que dedica a si mesmo. Diga-lhes que encontrou 
esta prática de meditação, que é muito importante para 
você. De agora em diante, pretende meditar duas vezes 
por dia, de manhã e à noite, uma hora cada vez. Isso o 
ajudará a não se sentir culpado, quando tiver de se afastar 
para meditar. Uma vez que todos saibam o que está 
fazendo, passarão a respeitá-lo por isso, especialmente 
quando virem mudanças positivas acontecendo em você.
É bom tentar meditar no mesmo horário todos 
os dias. Você pode optar por fazê-lo imediatamente ao se 
levantar ou logo após a sua rotina matinal. Talvez precise 
primeiro de um pouco de energia na barriga e medite 
logo depois de tomar o seu café da manhã. Seja qual for 
sua decisão, é melhor manter o mesmo horário todos os 
dias, porque, dessa forma, estabelecerá uma rotina. Se 
deixar isto ao acaso, terá sorte se durar uma semana.
Se morar com outras pessoas, é provavelmente 
melhor meditar antes de acordarem. Dessa forma, a casa 
Manual de um meditador
24
ou o apartamento estará bem tranquilo e você não vai 
se distrair conversando ou passando tempo com alguém. 
Outras pessoas serão uma grande distração. Portanto, 
tenha cuidado.
Por outro lado, se eles também forem meditadores, 
podem lhe dar força e deve usar a força deles para se 
ajudar. Meditem juntos sempre que possível. Tente 
meditar, pelo menos, uma sessão de meditação em grupo 
por dia com eles.
Você também deve avaliar seu estilo de vida. 
No final da tarde, quando sai do trabalho, você para na 
academia a caminho de casa ou joga uma partida de 
tênis ou algum outro esporte? Quando chega em casa 
você costuma sair para correr ou afunda em sua poltrona 
favorita para viajar em frente da TV? Independentemente 
do que faça, pense sobre seu final de dia. 
Quando será melhor para encaixar esta uma 
hora de meditação? Algumas pessoas gostam de sentar 
imediatamente após chegarem em casa. Outros podem 
optar por fazê-lo depois do jantar ou antes de ir para a 
cama. Você tem de tomar essas decisões sozinho, mas 
decida o que vai fazer, assim que chegar em casa depois 
do curso e ter criado o seu espaço de meditação. Você tem 
de ser hábil. Você deve ter as intenções corretas. Quando 
se preparar desta maneira, conseguirá realizá-las.
Em Berkeley, meu colega de quarto e eu 
costumávamos sentar às 6h00 e às 18h00. Isso funcionou 
muito bem, uma vez que muitos amigos sabiam disso 
Meditação diária 
25
e apareciam nesses horários para se juntar a nós. 
Independentemente do que decidir, atenha-se ao seu 
plano.
O mais importante é se esforçar para meditar 
naquela primeira noite, quando chegar em casa depois de 
um curso. Você acabou de ser bombardeado por tamanha 
variedade de estímulos pelas últimas 8-10 horas, desde 
que deixou o curso. Precisa voltar para onde estava 
quando saiu do centro. Sentando-se nesta primeira noite, 
estará construindo o ambiente favorável para estabelecer 
um padrão que o levará a fortalecer sua prática.
Manual de um meditador
26
Uma grande distração
Tem uma coisa que você deve considerar que é tão contra a corrente da nossa cultura nacional, que vou prefaciar esta parte com a minha experiênciae deixá-lo decidir por si mesmo. Pode ser a pedra preta 
no kheer (arroz doce) que Goenkaji cita em sua última 
palestra, onde a criança jogou fora todo o doce por causa 
de um pedaço de cardamomo na sobremesa. Esta grande 
distração são os intoxicantes. 
Quando saí do meu primeiro curso, notei que 
alguns alunos jogaram fora seu haxixe e assumiram o 
compromisso com um novo modo de vida, enquanto 
outros iam acender um baseado. Drogas e álcool têm 
tamanha relevância na cultura ocidental e se tornaram 
algo que muitas pessoas inicialmente se recusam a 
abandonar. E, o que é mais importante, não veem razão 
alguma para isso.
O que descobri durante os primeiros anos, 
quando ingeria álcool e, em seguida, tentava meditar, era 
parecer como se uma lente tivesse sido besuntada com 
vaselina.
27
A droga ou o álcool age como um filtro. No ramo 
do entretenimento, usam um filtro de lente de câmera 
dessa maneira, o que torna a modelo ou a atriz que já 
ultrapassou seu ápice, ainda parecer muito bonita. Esta é 
a falsa impressão criada pelo uso de drogas.
Outra analogia é quando se anda na rua e se vê 
uma vitrine que foi revestida de branco, enquanto está 
sendo remontada, de modo a não se poder enxergar com 
clareza seu interior. Você pode vislumbrar algumas coisas 
lá dentro, mas tudo é pouco nítido. É assim que as drogas 
e o álcool afetam nossa percepção. São uma máscara que 
impede que vejamos o que está realmente acontecendo.
A outra impressão equivocada é a de que as 
drogas expandem a consciência. Isso é totalmente 
falso. Algumas drogas proporcionam uma alteração da 
consciência e outras proporcionam uma modificação da 
consciência. Nada que jamais ajudará um meditador, 
pois, para experimentar a verdade, a realidade deve ser 
vista tal qual é.
Alguém que esteja se entorpecendo para afogar 
alguma mágoa do passado pode ser feliz vivendo dessa 
maneira. Mas aliviar dores do passado experimentadas 
como sensações é do que trata a meditação. Encontramos 
uma ferramenta para lidar com as vicissitudes da vida, 
mas, em vez de colocar uma lâmina bem afiada nessa 
ferramenta, para cortar a confusão, cegamos a ferramenta 
até se tornar praticamente inútil.
Sendo um aluno recente, você tem de tomar essa 
Manual de um meditador
28
decisão sozinho. Nunca fui muito bom em pedir conselho 
àqueles que eram mais espertos do que eu, até conhecer 
Goenkaji. Se meu pai ainda estivesse vivo quando 
comecei a meditar, provavelmente teria ficado chocado 
por eu dar ouvidos a alguém mais sábio do que eu, mas 
também teria ficado muito feliz.
Se achar que está pronto para dar tal passo neste 
momento—e espero que considere seriamente essa 
possibilidade—listei algumas orientações, a seguir, para 
ajudá-lo a navegar a tarefa diante de si. Caso contrário, 
não jogue fora o delicioso doce kheer por causa de um 
pequeno pedaço de cardamomo. Por favor, continue a 
meditar. É a coisa mais importante.
Se decidiu fazer uma tentativa, em primeiro 
lugar, veja o que tem na geladeira ou no armário. Tem 
algum álcool? Talvez esteja acostumado a tomar um 
copo de vinho no jantar ou uma cerveja gelada em um dia 
quente de verão. Se qualquer uma dessas coisas estiver 
lá, jogue fora. A resposta não é beber tudo para se livrar 
daquilo e, então, começar mais tarde. A mente é uma 
coisa escorregadia.
Há mais uma coisa para cuidar. Existe um 
suprimento secreto em algum lugar na casa? Plantas 
crescendo no quintal? Essas tentações têm de ser 
eliminadas ou o derrubarão e você não avançará no 
caminho.
Repare que eu não falei para dar essas coisas para 
Uma grande distração 
29
um amigo. Não. Não ajude outras pessoas a entorpecer 
suas mentes. Este não é o seu trabalho. Você decidiu 
mudar o seu comportamento para trilhar o caminho do 
Dhamma—só porque os outros ainda não tomaram essa 
decisão, não os incentive dando-lhes intoxicantes.
Se decidir, neste momento, incluir o quinto 
preceito em sua vida, existem algumas ocasiões onde as 
pessoas podem se tornar especialmente insistentes, ao 
tentar convencê-lo a tomar uma bebida alcoólica. Estas 
geralmente são ocasiões especiais, como casamentos, 
Ano Novo, etc. As pessoas, nessas ocasiões, sentem que 
deve haver um brinde. É uma tradição que está muito 
enraizada no Ocidente.
Haverá sempre uma ou duas pessoas que 
ultrapassam a linha do bom gosto e realmente o 
aborrecem para participar do brinde com algum tipo de 
bebida alcoólica. Será nessas horas que você deve ser 
extremamente habilidoso em fazer valer os seus direitos 
e não ser dominado. É geralmente útil ter um copo cheio 
de água com gás ou refrigerante, e apenas mostrá-lo e 
dizer que você está OK.
Lembre-se que você não está sozinho quando 
começa a tentar viver um estilo de vida mais Dhâmmico. 
O poder do Dhamma é muito forte. Ele o ajudará também.
Manual de um meditador
30
Apoio no Dhamma
Pode parecer muito difícil viver em uma sociedade que não respeita quem observa os cinco preceitos, mas você descobrirá que as forças da natureza 
virão ao seu auxílio. Por exemplo, uma das ajudas será 
a sua prática diária. Quando você se sentar toda vez 
no mesmo lugar, o local escolhido começará a ficar 
carregado com vibrações de Dhamma. Mesmo que seja 
bem pouco no começo, isso aumentará. Então, quando 
se sentar para meditar, saberá que está entrando em um 
lugar Dhâmmico, mesmo que seja apenas de um metro 
por um metro.
Para ajudar este lugar a ficar mais forte mais 
rapidamente, comece a convidar seus amigos que 
também são meditadores nessa tradição. Faça uma 
sessão de meditação em grupo, sentando-se com eles 
no lugar onde pratica meditação. Eles podem se reunir 
ao seu redor, enquanto vocês se sentam juntos. Todos 
vocês serão beneficiados. Convide-os talvez para jantar 
e converse com eles. Você descobrirá que todas aquelas 
preocupações com sīla (moralidade) não são mais 
31
preocupações com esses amigos. Será mais fácil viver 
uma vida de Dhamma.
Outra coisa útil a fazer seria obter cópias dos 
cânticos de Goenkaji. Quando os ouvir em sua área 
de meditação, tais palavras de Dhamma entoadas 
repetidamente irão ajudá-lo. As palestras noturnas 
também estão disponíveis. Toda vez que você as ouvir, 
aprenderá algo novo.
A próxima coisa a saber é sobre as sessões de 
meditação em grupo. Estas são atividades que você deve 
se esforçar para participar. Sentar-se com outras pessoas 
que praticam esta técnica recarregará suas baterias. Será 
quase tão bom quanto sentar-se em um centro. Estas 
sessões de meditação em grupo estão publicadas no 
site do seu centro local, ou você pode perguntar sobre 
as sessões de meditação em grupo onde você frequentou 
seu último curso. Estes não são eventos sociais, mas sim 
uma oportunidade para praticar com pessoas dotadas de 
mentes afins no sentido de construir sua prática juntos. 
Você se beneficiará com este impulso. Se não houver 
alguém perto de você e, se conhecer alguém em sua área 
que pratique Vipassana como ensinada por S. N. Goenka, 
reúna-se com ele, escolha um horário e local, e medite 
regularmente, semanalmente, se possível. Você será 
fortalecido com as sessões de meditação em grupo.
Cursos de um dia são outro suporte útil para a sua 
prática. Você pode procurar na internet para ver se reside 
Manual de um meditador
32
em uma área onde há cursos de um dia. Ao participar de 
um curso de um dia, você pode fortalecer sua consciência 
da natureza impermanente das sensações (anicca) que 
estiver sentindo e isso o ajudará a aproveitar melhor as 
sessões de meditação em grupo, a torná-las mais fortes. 
Um terço do tempo praticará ānāpāna e dois terços do 
tempo praticará Vipassana. Até o final do dia, o seu nível 
de anicca pode até estar de volta ao ponto onde estava 
quando saiu do seu último curso. Isto é muito importante, 
se quiser manter uma prática diária.
Se não houver cursos de um dia em sua área 
e se houver um professor assistente que resida nas 
proximidades, talvez, se perguntar, ele ou ela possa 
ajudá-lo a organizá-los de temposem tempos. Os outros 
meditadores em sua área lhe serão gratos. Se este não 
for o caso, então, você mesmo pode fazer autocursos 
regularmente. Durante os dois primeiros anos depois de 
ter voltado da Índia, eu sentava um autocurso de um dia 
em fins de semana alternados. 
Isso me deu muita força e produzirá o mesmo 
efeito em você. O melhor é começar às 4h30 e trabalhar 
até as 21h00, que é o que eu fazia, mas mesmo se não fizer 
isso você descobrirá que, mesmo se usar apenas o horário 
mais relaxado adotado nos cursos de um dia oficiais—
9h00 às 16h00 ou 17h00— será de grande ajuda.
Se for conveniente, você também pode ir ao 
centro para uma sessão de meditação em grupo, para um 
Apoio no Dhamma 
33
período especial de serviço de Dhamma, para um curso 
de curta duração, ou para outro evento.
O que você deve lembrar sobre os cursos de um 
dia e sobre as sessões de meditação em grupo é que o 
ajudam a ajustar a sua prática. As visões, os sons e as 
imagens que nos bombardeiam o dia todo nos empurram 
para baixo. Talvez não esteja muito consciente disso, 
talvez esteja, mas predominam o ódio, a ganância 
e o delírio o dia inteiro. Profissionais tornaram-se 
especialistas em desviar nossas mentes; universidades 
dão aulas sobre como chamar a atenção das pessoas, de 
forma consciente e até mesmo inconscientemente, para 
conseguir influenciá-las. Compre isso, deseje aquilo, 
isso é repetido sem parar. Quando saem do mosteiro, os 
monges circulam de cabeça baixa e sem desviar os olhos, 
a fim de evitar todo esse estímulo. 
Você será capaz de eliminar parte disso pelo que 
optar por ler e assistir na televisão e quais filmes assistir, 
mas, mesmo assim, isso permeia o ar. O estímulo também 
preenche os sites que visitamos, o nosso e-mail e agora 
até mesmo os nossos telefones. Então, esses cursos de 
um dia serão muito importantes para a sua mente voltar a 
focalizar a natureza da impermanência. Quando você se 
senta sobre a almofada, é como se estivesse se despejando 
através de um filtro; você passa, mas todo lixo fica no 
filtro. Você se levanta de sua almofada revigorado.
No dia onze, Goenkaji dá a instrução de que 
Manual de um meditador
34
os alunos devem tentar fazer um curso de dez dias por 
ano. Se seguir este conselho, será um benefício enorme. 
Durante esse um curso por ano será capaz de aprofundar 
sua prática.
Imagine que cavou uma trincheira pequena. 
Durante o ano, a trincheira continua acumulando sujeira 
e poeira em seu interior. Lá pelo fim do ano estará cheia 
ou quase cheia. No mesmo sentido, se você não for limpo 
pela sua prática diária, sessões de meditação em grupo, 
cursos de um dia e cursos de três dias, você ficará cheio 
e terá de começar tudo de novo. Para impedir que isso 
aconteça, você tem de continuar limpando o fosso. Se, 
então, fizer outro curso, será capaz de aprofundar essa 
trincheira. Com menos sujeira e menos poeira para 
remover, o seu trabalho no retiro de dez dias progredirá 
muito mais rapidamente com menos obstáculos. É claro 
que se sua sīla (moralidade) não tiver sido boa, ficará 
muito mais difícil. Mas se estiver se esforçando para 
manter uma boa sīla, estará em boa forma para progredir 
mais rápido e mais profundamente em seu curso anual.
Haverá algumas pessoas que verificam ter mais 
tempo para praticar meditação do que apenas duas horas 
por dia e um curso de dez dias por ano. Se este for o 
seu caso, não há nada de errado em fazer mais de um 
curso por ano. Muitos alunos constatam querer realmente 
estabelecer uma base forte e decidem ir a um centro a fim 
de meditar e servir durante um período de tempo.
Apoio no Dhamma 
35
Ao fazer isso, terá um lugar amigável para 
estabelecer a sua prática e aprofundá-la. Você será capaz 
de aplicar o que aprendeu enquanto viver no ambiente 
protegido do centro de Dhamma. E, depois, quando 
retornar à sua vida no mundo exterior, você levará 
consigo o hábito forte e sólido de sentar-se regularmente 
e experimentar anicca. Assim, você será capaz de dar 
continuidade à sua prática mais facilmente.
Na verdade, tenho observado uma correlação 
direta entre aqueles que dão serviço de Dhamma e 
aqueles que têm uma prática forte. A prática contribui 
para o serviço e vice-versa.
O Buda disse que não há campo mais fértil do 
que uma pessoa praticando meditação, por isso, é muito 
benéfico servir a estes alunos. Quando você ajuda a 
servir aqueles que têm a capacidade de se fortalecer na 
meditação, você os está ajudando, bem como a si mesmo.
Manual de um meditador
36
Amigos no Dhamma
Quando voltei da Índia, fui morar na área da Baía de São Francisco, porque sabia que ali havia outros meditadores que conhecera na Índia. 
Quando voltei para os Estados Unidos, a área onde 
minha família morava era um deserto, em termos de 
outros meditadores, então, fui para aonde sabia haver 
meditadores. No segundo dia depois de ter me mudado 
para Berkeley, participei de uma sessão de meditação 
em grupo e conheci pessoas com quem me relaciono até 
hoje.
Durante cerca de 20 anos depois disso, raramente 
perdia uma sessão de meditação em grupo semanal. 
Isso me ajudou tremendamente. A maioria das pessoas 
que conheci nessas sessões foram as que ajudaram 
a estabelecer o Dhamma na América do Norte e, em 
particular, na Califórnia. Tem sido um modo de vida 
enriquecedor devido a estas relações e por causa destas 
sessões de meditação em grupo.
 No meu caso, mudar para uma cidade onde 
37
conhecia poucas pessoas que não fossem meditadores 
facilitou as coisas para mim. Quase todos os meus amigos 
eram meditadores. Eu não era puxado em várias direções 
diferentes por todos os meus conhecidos. Íamos ao 
cinema juntos, praticávamos esportes juntos, comíamos 
juntos e assim por diante. Isso facilitou o progresso. A 
maioria das pessoas que vêm para o Dhamma terá uma 
experiência diferente. Será benéfico fazer alguns amigos 
que são meditadores Vipassana e que possam ser uma 
referência de Dhamma. Lentamente, à medida que uma 
das qualidades do Dhamma, ehi passiko (venha e veja), 
se manifesta, até mesmo membros de sua família e outros 
amigos podem vir para o Dhamma. Com o passar dos 
anos, descobrirá que os companheiros meditadores se 
tornam um imenso apoio para a sua prática.
Desenvolver amigos no Dhamma irá fortalecê-
lo no Dhamma, o que significa que você terá uma vida 
mais feliz. O Buda, na realidade, considerava esta uma 
das partes mais importantes da trilha do Dhamma. Isto é 
o que o Buda disse a Ānanda, quando procurou o Buda 
para discutir isso.
Em certa ocasião, o Buda estava vivendo entre 
os Sakyas em uma cidade chamada Sakkara. Ānanda, 
ao retornar de sua ronda matinal de esmolas na cidade, 
procurou pelo Buda. Saudou-o e sentou-se ao lado. 
Dirigiu-se ao Buda e disse que, durante sua ronda de 
esmolas, esteve pensando e se deu conta da importância 
Manual de um meditador
38
dos amigos, enquanto vivendo a vida santa. Disse: 
“Bhante, metade da vida santa é ter pessoas virtuosas 
como amigos, companheiros e colegas.”
O Buda respondeu: “Não diga isso Ānanda. 
Não diga isso. Ter pessoas virtuosas como amigos, 
companheiros e colegas é, na verdade, a totalidade da 
vida santa. Quando um bhikkhu tem pessoas virtuosas 
como amigos, companheiros e colegas, pode-se esperar 
que seguirá o Nobre Caminho Óctuplo e que nele se 
desenvolverá.”
Considero este conselho do Buda como sendo 
influente na minha vida. Estes kalyāna mittā (amigos no 
Dhamma) me ajudaram na trilha. Guiaram-me na trilha. 
Não tentaram me desencaminhar.
Pessoas tolas derrubam mais meditadores do que 
qualquer outro poder na Terra.
As palavras, “Não se relacione com tolos,” são, 
provavelmente, as palavras mais importantes que o Buda 
jamais dirigiu a um chefe de família que é novo na trilha 
do Dhamma. Isto pode aplicar-se ao aluno não-tão-novo 
também. Estas palavras são a primeira linha do Maṅgala 
Sutta, um sutra em que o Iluminado explicou as mais 
elevadas beatitudes de um meditador. O Buda pensou 
ser tão importanteque começou o sutra (discurso) com a 
seguinte advertência:
Amigos no Dhamma 
39
Asevanā ca bālānaṃ, 
 paṇḍitānañca sevanā; 
 pūjā ca pūjanīyānaṃ, 
etaṃ maṅgalamuttamaṃ.
Evitar os tolos, 
(cultivar) a companhia dos sábios; 
(prestar) honra onde a honra é devida, 
este é o bem-estar mais elevado.
Manual de um meditador
40
Fazendo escolhas
Depois de deixarmos o centro, tendo acabado de concluir um curso de meditação, temos muitas opções. O que eu vou fazer? Para onde vou? 
Uma das escolhas que as pessoas provavelmente deixam 
de considerar conscientemente é: irei frequentar os tolos?
Infelizmente, algumas das pessoas que 
conhecemos se comportam de maneiras tolas, que podem 
prejudicá-las e nos prejudicar também. São pessoas que 
não direcionam suas vidas por meio da ação correta. 
O que é ação correta? Ação correta é desenvolver suas 
forças e suas virtudes, vivendo de acordo com o Nobre 
Caminho Óctuplo do ensinamento do Buda e, neste caso, 
estamos falando principalmente de sīla (moralidade).
É claro que não podemos parar totalmente de 
nos dar com pessoas que sejam tolas ou que não tenham 
bom comportamento moral. Mesmo meditadores chefes 
de família, com a melhor das intenções, não são capazes 
de manter sīla (moralidade) perfeita, mas há gradações 
e isso é algo que você pode querer levar em conta nesta 
altura.
41
Tem sido minha experiência existirem pessoas 
que têm um baixo nível de moralidade. Às vezes, não 
podemos evitá-las. Será de ajuda se, pelo menos, você for 
cauteloso e vigilante na companhia delas. Não podemos 
abandoná-las e devemos, ainda, ter mettā por elas.
Você pode ter ouvido de alguém que a moralidade 
não é importante. Havia quem tivesse opiniões 
semelhantes durante a época do Buda. Ele explicou 
claramente que esse tipo de pensamento era prejudicial 
e que deveria ser evitado. Hoje, isso pode ser chamado 
de a escola do “se o faz sentir-se bem, faça-o.” Mas esta 
escola não é correta, pelo menos, não para alguém que 
está pensando em trilhar um caminho muito longo de 
pureza em ação. 
A pessoa que diz a moralidade não ser importante 
é uma pessoa tola. Está dando maus conselhos. Parece 
que as pessoas que se sentem dessa forma costumam 
gostar de levar os outros para o rumo que estão tomando, 
mas a trilha do Dhamma diverge de qualquer caminho 
como este de maneira bastante acentuada.
Quando começou seu curso, foi convidado a 
tomar os cinco preceitos. Era uma das formalidades de 
abertura. Agora que o curso terminou, você está livre 
dessas formalidades, mas a prática de sīla, moralidade, 
ainda é a base da prática. A fim de progredir na trilha, 
será de grande ajuda se levar a sério esses cinco preceitos. 
Não haverá ninguém lhe pedindo para fazer isso, não 
haverá ninguém lhe vigiando para se certificar de que 
Manual de um meditador
42
está fazendo isso. Se quiser começar a praticar um modo 
de vida de Dhamma, este é o primeiro passo. Quando 
você vai fazer uma caminhada, tem de se certificar de que 
está preparado. Você precisa de seus tênis de caminhada, 
uma garrafa de água, talvez um pouco de protetor solar 
e uma barra de cereal para o caso de ficar com fome. 
Ninguém lhe diz que isso é o que precisará, é apenas 
bom senso. Para caminhar nesta trilha, o que precisa é de 
sīla, samādhi e paññā. Estes são os princípios para a sua 
caminhada nesta nova trilha.
Considere isto: quando pensa que deveria 
começar a se comportar de uma maneira apropriada, uma 
maneira moral? Existe algum momento a partir do qual 
você desiste de quebrar sīla e, então, de repente, você 
simplesmente começa a se comportar com habilidade? A 
resposta é a de que isto deve ser incutido desde o início. 
Se você não começar imediatamente, durante todo esse 
tempo estará gerando mais e mais saṅkhāras (reações 
mentais) e mais dukkha (sofrimento). Isso não ajuda o 
seu progresso.
Quebrar sīla lhe puxa para baixo. Irá preencher a 
sua mente com tormento e preocupação. Serei descoberto? 
O que acontecerá se as pessoas souberem desta ação que 
pratiquei? A mente equilibrada que é necessária para a 
meditação profunda será menos acessível a você. Isto 
também prejudica outras pessoas. Se roubar, então, 
alguém teve uma perda. Você teve um ganho, mas a um 
preço muito alto. E assim funciona com todas as cinco 
Fazendo escolhas 
43
sīlas. Não haverá paz de espírito para você.
Sīla perfeita só é possível para um arahant (um 
ser totalmente liberto), mas para um aluno na trilha, se 
estivermos tentando, fervorosamente, manter a nossa sīla 
esse esforço será o suficiente. Você deve tentar manter 
sua sīla e trabalhar com o esforço correto na direção 
desse objetivo. Você pode escorregar de vez em quando, 
mas, considere, você escorregou porque foi dominado 
pelo desejo ou pela aversão e reagiu cegamente? Ou será 
que escorregou porque simplesmente decidiu ceder dessa 
vez? Há uma diferença. Se tiver sido dominado, você se 
recuperará, mas se decidir simplesmente ceder desta vez, 
perceberá que isto ocorrerá uma outra vez e mais outra. 
Você será derrotado. Então, faça o melhor que puder, 
este é o caminho do meio.
Manual de um meditador
44
Apenas continue a conhecer Anicca
Se alguém fosse contar o número de vezes que Goenkaji menciona anicca (mudança, impermanência) durante um curso, ficaria 
impressionado. Ele diz isso repetidamente. Está 
tentando enfatizar um ponto, martelando, mas muitos 
alunos simplesmente passam por cima disso ou perdem 
por completo o significado. Ele repete isso porque é 
IMPORTANTE.
Uma das coisas mais importantes de se lembrar 
como aluno recente, ou mesmo como um aluno que 
fez dezenas de cursos, é anicca. Goenkaji observa 
continuamente, “mantenha a equanimidade e continue a 
conhecer anicca” ou “mantenha a equanimidade com a 
apreciação de anicca.” Ele termina as instruções no início 
de cada sessão de meditação com estas palavras depois 
de Vipassana ser apresentada. O que quer dizer com isso? 
Por que acha que continua dizendo isso repetidamente?
Continuar conhecendo anicca significa estar 
consciente das sensações que você está sentindo e saber 
que elas são mutáveis e impermanentes e continuar 
45
fazendo isso por tanto tempo quanto puder. Quando 
você perceber que parou de observar este objeto, então, 
comece novamente.
Cada momento, enquanto passa a sua atenção 
através de seu corpo, seja indo parte por parte, ou 
quando estiver trabalhando com o fluxo, a fim de obter 
o máximo benefício de seus esforços, você tem de estar 
continuamente ciente de que essas sensações estão 
mudando. Não há sequer um momento em que elas não 
estejam mudando. É mais provável que, até começar a 
praticar Vipassana, jamais estivesse consciente disso, ou 
talvez estivesse vagamente consciente intelectualmente, 
mas não o estava experimentando. 
Agora, você está consciente das sensações, mas 
isso não é suficiente. Você também deve estar consciente 
e tentar experimentar que, dentro dessa sensação, há uma 
oscilação que está mudando. É anicca. Não importa se a 
sensação é tão sutil que mal possa experimentar o surgir 
e o desaparecer dentro da sensação que está sentindo. 
Não importa se é dor grosseira ou uma área cega. Apenas 
esteja consciente, quando a sua atenção chegar a este 
ponto, de que está mudando.
O universo inteiro está mudando; você está 
mudando. Tudo é anicca. É o conhecimento que se 
deve ter, bem como dukkha (sofrimento) e anattā 
(insubstancialidade), para atingir o nibbāna. O Buda 
disse: “Se conhecermos anicca, então, conheceremos 
Manual de um meditador
46
dukkha e anattā”. A fim de fazer isso parte de você, 
precisará infundir esse estado de realidade em sua mente.
Em seu livro Satipaṭṭhāna, o Venerável Anālayo 
diz: “A continuidade no desenvolvimento da consciência 
da impermanência é essencial, se for realmente para 
afetar nossa condição mental. A contemplação sustentada 
da impermanência leva a uma mudança na nossa 
maneira normal de experimentar a realidade, que, até 
então, tacitamente presumia a estabilidadetemporal do 
observador e os objetos percebidos. Uma vez que ambos 
são experimentados como processos mutáveis, todas 
as noções de existência estável e de substancialidade 
desaparecem, assim reformulando radicalmente nosso 
paradigma da experiência.”
Parte do problema é que a consciência de anicca 
é difícil de implementar em sua prática. Outra parte 
do problema é que não se ouve o que Goenkaji está 
dizendo ou não se percebe que é importante. Os alunos 
são consumidos pelo esforço de tentar sentir a sensação. 
Você sentiu a sensação e também está ciente de que não 
importa qual o tipo de sensação que sente. Qualquer 
sensação serve. Grosseira ou sutil, não importa. Agora, 
lembre-se de que essa sensação está mudando. É anicca. 
Simples assim. Sentir a sensação ao mesmo tempo em 
que está consciente, de maneira equânime, do seu surgir 
e do seu desaparecer. É simples, mas não é fácil de fazer.
No início, você pode esquecer a toda hora que o 
Apenas continue a conhecer Anicca 
47
seu objetivo não é apenas o de estar consciente (sati) das 
sensações (vedanā), mas também o de permitir que uma 
parte da sua mente esteja ciente de que essas sensações 
estão mudando. Essa consciência escapará, mas, assim 
que perceber que se e esqueceu, em seguida, comece a 
conhecer anicca novamente. Claro que escapará de novo. 
Isto é um treinamento. Um treinamento da mente, por 
isso, quando você perceber, comece novamente a estar 
consciente do fato de que a sensação que você está 
sentindo é impermanente.
Apenas pense sobre isso: quando o seu professor 
mencionava a mesma coisa repetidas vezes em sala 
de aula, você não entendia que isso iria cair na prova? 
Quando seu professor na faculdade dizia: “Você poderá 
ver isso de novo.” Isso não era um sinal de que cairia na 
prova? Bem, a prova que você está fazendo se chama 
Vida e a resposta ao teste de Vipassana é “Apenas 
continue conhecendo anicca.” Se souber esta resposta, 
não será reprovado na prova. Não só isso, mas sua vida 
será bem-sucedida.
Dentro das sensações existe esse surgir e 
desaparecer. Pode estar acontecendo lentamente. 
Surgindo...desaparecendo. Ou pode estar acontecendo 
muito, muito rapidamente. Apenas observe isso. Esteja 
ciente disso. Não importa se é quente ou fria, coceira 
ou dolorosa, vibrante ou maçante. Apenas esteja ciente 
daquele surgir e desaparecer, anicca. Esse deve ser o 
seu objetivo. Isso é tudo o que você tem a fazer; sentir a 
Manual de um meditador
48
sensação e conhecer sua natureza impermanente. Senti-la 
continuamente, sem interrupção. Se tiver dúvidas sobre 
este ou outros aspectos da sua prática, entre em contato 
com o centro de Vipassana onde você fez o seu curso 
mais recente e solicite que um professor entre em contato 
com você. Você pode encontrar informações de contato 
dos centros de Vipassana em www.dhamma.org.
Lentamente, isso vai se tornar parte de sua prática. 
O primeiro passo é tentar. Você não terá de se preocupar 
porque o cântico de Goenkaji estará constantemente 
relembrando:
Aniccā vata saṅkhārā…
Impermanentes, realmente, são as coisas compostas… 
Apenas continue a conhecer Anicca 
49
Bingo Bango Bhaṅga
Uma das maiores armadilhas em que os alunos caem é o desejo pelas sensações sutis. A mente naturalmente tende a desejar sensações 
agradáveis e ter aversão às sensações desagradáveis. Este 
é o seu condicionamento. Esta é a causa de sofrimento. 
O treinamento é para sair do sofrimento. Logo após o 
início de Vipassana, Goenkaji começa a dizer para os 
alunos observar as coisas como elas são. Ele diz que 
independentemente de qual seja a sensação que surgir, 
você deve apenas observá-la. Em vez disso, muitos 
alunos querem algo que não têm e começam a desejar.
No nono dia do curso de dez dias, ele discute 
bhaṅga pela primeira vez. Bhaṅga é quando seu corpo 
se abre e toda a massa é preenchida por sensações muito 
sutis. Para que isso aconteça, você não tem de fazer nada, 
isso simplesmente acontece. A palavra soa tão atraente 
que, às vezes, cria confusão na mente dos alunos. 
Ela simplesmente vibra com o som de algo especial. 
Pensamos: “Oh, isso deve ser importante, devo conseguir 
isso. É isso que eu quero.”
50
Ah, isso é o que quer. Não se trata do que é, mas 
o que você quer. Isso se torna um problema para você, 
porque, como sabemos, assim que começa a desejar, você 
está correndo na direção oposta do Dhamma.
É melhor entender o que é bhaṅga. É um fenômeno 
natural que pode ocorrer na meditação. Quase todas as 
sensações que se manifestam em seu corpo, enquanto está 
meditando, são apenas os condicionamentos passados de 
sua mente expressos em seu corpo. Outras causas podem 
ser o alimento que come, a atmosfera em torno de si, 
ou seus pensamentos presentes. Você não tem nenhum 
controle sobre tais sensações porque não pode produzi-
las. Você na realidade as gerou no passado e agora, porque 
sua mente está calma e não-reativa, estão aparecendo na 
superfície e, às vezes, no interior do corpo. É a natureza 
se revelando.
Quando começamos Vipassana, muitas vezes 
sentimos sensações grosseiras, solidificadas. À medida 
que as horas e os dias passam, à medida que alcançamos 
maiores profundidades de consciência, percebemos 
sensações mais sutis aparecer em diferentes áreas do 
corpo. Pode ser que existam sensações sutis em toda a 
superfície do corpo. Quando isso acontece, chamamos 
isso fluxo livre e você pode facilmente passar a sua 
atenção em um movimento de varredura ao longo da 
superfície do corpo. Quando essas sensações penetram 
todo o corpo, dentro e fora, e não existem bloqueios, 
isto é bhaṅga. Os bloqueios são áreas cegas, em branco, 
Bingo Bango Bhaṅga 
51
embaçadas, nubladas ou densas.
As sensações associadas à bhaṅga são muito 
agradáveis. Devido a isso, muitos alunos pensam que 
este é o objetivo da meditação. No entanto, este não é 
o caso. As sensações estão mudando constantemente. 
Em um momento, pode haver dor, no seguinte, pode 
haver calor ou frio, etc, e no seguinte, pode haver 
uma sensação agradável. O problema surge quando o 
aluno gosta daquela sensação agradável, mas, como as 
sensações anteriores, esta também muda, anicca, anicca. 
No entanto, você quer essa sensação. Então, o jogo de 
sensações começa. É um jogo que não pode ser vencido.
Às vezes, os anos passam e os alunos continuam 
a jogar o jogo da sensação. Eles enganam a si mesmos 
e enganam o professor. Pensam que estão progredindo 
na trilha, mas estão empacados. Possivelmente, não 
acreditam no que o professor está dizendo ou acham 
que todo mundo tem sensação sutil e eles são os únicos 
que não têm. Ou ficam obcecados, pensando que este 
é o objetivo que estão buscando. Curso após curso, 
perseguem as sensações sutis. Você deve ter em mente 
que este não é o objetivo para o qual está trabalhando. 
Quando tiver alcançado o objetivo, não haverá sensações.
Imagine que está viajando em um trem e uma 
bela paisagem aparece fora da janela. Quando o trem 
se move você pensa “eu devo manter essa vista ao 
alcance da visão” e começa a correr pelo trem. Depois de 
Manual de um meditador
52
atropelar as mulheres e as crianças e tropeçar em malas, 
nos condutores e em todo o tipo de coisas, chegará na 
parte de trás do trem e, ainda assim, aquela paisagem 
desaparecerá. Se visse alguém fazendo isso, pensaria que 
era louco. No entanto, muitas pessoas fazem exatamente 
a mesma coisa tentando reter alguma sensação.
Você não tem qualquer controle sobre quando 
bhaṅga virá ou irá. É o mesmo com todas as sensações. 
Você não exerce qualquer controle sobre elas. Elas surgem 
por causa dos tipos de saṅkhāras que se manifestam 
no corpo ou por causa dos pensamentos presentes ou 
devido à atmosfera ou à comida que ingerimos. Como 
meditador, você tem apenas um trabalho, que é o de 
assistir as sensações à medida que surgem e continuar 
conhecendo anicca. Tomando o exemplo do trem, seria 
como se estivesse olhando pela janela, observando a 
paisagem passar. 
Você não gostará nem desgostarádo que vê, 
apenas observará. Quando fizer isso, todos os benefícios 
que derivam dessa meditação virão para você. Se optar 
pela direção oposta, estará apenas desperdiçando seu 
tempo e criando mais sofrimento para si mesmo.
Tendo em vista que não pode mudar as sensações, 
quanto mais cedo decidir aceitá-las, mais cedo começará 
a fazer progresso na trilha. Ao decidir pelo contrário, 
estará escolhendo automaticamente dukkha (sofrimento).
Bingo Bango Bhaṅga 
53
O paradoxo das Pāramīs
Uma situação incomum deve ser superada, a fim de progredirmos na trilha do Dhamma. Para alcançar a iluminação plena, existem dez 
qualidades mentais que devem ser desenvolvidas. Elas 
são conhecidas como pāramītas ou pāramīs, o que 
significa perfeições que devem ser realizadas
Estas pāramīs, quando desenvolvidas, nos dão a 
força para progredir no caminho da sabedoria. Quando 
as pāramīs são fracas, a nossa prática será igualmente 
fraca. Ter uma prática forte facilita desenvolver essas 
pāramīs, mas, se não as tiver, você terá problemas para 
progredir na trilha. Então, como obter pāramīs fortes? 
Este é o paradoxo.
Estas dez pāramīs são:
Generosidade (Dāna) 
Moralidade (Sīla) 
Renúncia (Nekkhamma) 
Sabedoria (Paññā) 
Esforço (Viriya) 
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Tolerância (Khanti) 
Verdade (Sacca) 
Forte Determinação (Adhiṭṭhāna) 
Amor Compassivo (Mettā) 
Equanimidade (Upekkhā)
Se repassar esta lista, verá que alguém com 
estas qualidades tem boa moral, uma mente equilibrada 
e a capacidade de trabalhar, apesar das dificuldades que 
devem ser superadas, quando meditamos no dia a dia. 
São as perfeições que um ser totalmente liberto (arahant) 
atinge para alcançar o objetivo final. Você também deve, 
eventualmente, possuir todas essas pāramīs, e, em 
quantidades suficientes também, antes de poder se tornar 
totalmente liberto.
Na verdade, você já possui pāramīs muito 
abundantes. Se não as tivesse, você não teria tido a 
curiosidade de dar sequer um passo na trilha. Quando 
ouviu as palavras “Vipassana”, “Goenka”, “insight”, 
você não teria tido o menor interesse ou inclinação para 
prosseguir. Você não iria querer saber mais. Reflita sobre 
as pāramīs e encontrará a direção necessária para seguir 
em frente.
Você precisa estar ciente do paradoxo das 
pāramīs, de modo a poder tomar a iniciativa, quando 
surgir uma oportunidade para desenvolver uma dessas 
pāramīs. Isso precisa ser feito tanto na vida cotidiana, 
quanto nos cursos. Estando consciente, você fortalecerá 
O paradoxo das Pāramīs 
55
a sua prática e se tornará uma pessoa mais feliz e um 
melhor meditador.
Recentemente, ouvi a história de um aluno que, 
ao concluir seu primeiro curso, começou a aparecer entre 
os cursos para ajudar a limpar o centro após o curso 
que acabava de ser concluído e, em seguida, ajudava 
no preparo para o próximo curso. Ele vinha a cada 
intervalo. Trabalhava desde o início da manhã até tarde 
da noite. Tinha quase setenta anos e havia se aposentado 
recentemente de um emprego corporativo. Algumas 
pessoas ficaram preocupadas com a possibilidade de se 
esgotar trabalhando tão duro. 
Quando um professor assistente falou com ele 
para ver como estava, ele disse: “Vocês todos começaram 
quando eram jovens e tiveram muitos anos acumulando 
suas pāramīs. Eu acabei de começar e tenho muito o que 
compensar. É por isso que eu tento servir tanto quanto 
possível.” Agora, esta é uma pessoa que tem uma boa 
compreensão do paradoxo das pāramīs e não vai permitir 
que qualquer obstáculo em seu caminho o impeça de 
alcançar o objetivo final.
Uma oportunidade para desenvolver a perfeição 
de dāna (generosidade) é no dia dez de um curso. 
Quando a folha de inscrição circula com as tarefas 
que são necessárias para limpar o centro, esta é a sua 
oportunidade de ajudar os outros.
Algumas vezes por ano, um aviso é enviado 
Manual de um meditador
56
sobre um fim de semana de serviço, período de serviço 
ou, possivelmente, uma escassez de servidores para 
o próximo curso. Agora, com esta compreensão do 
paradoxo das pāramīs, seria útil pensar, “Ah, esta é uma 
oportunidade para eu desenvolver minha dāna pāramī.”
Você pode ter um emprego muito exigente ou 
um monte de compromissos familiares que possam 
impedi-lo de servir. Em momentos como estes na vida 
pode ser mais fácil para você doar dinheiro em vez de 
serviço. Isso ajuda a dissolver o seu ego. Desta forma, 
você compartilha os benefícios que recebeu para ajudar 
os outros. Muitas pessoas doaram tudo o que você vê em 
um centro. Do terreno até as lâmpadas, algum aluno doou 
para aquilo. Devido à política de centros nesta tradição 
de apenas receber doações voluntárias daqueles que 
concluíram um curso de dez dias, o desenvolvimento de 
um centro é um processo lento.
Um bom exemplo é o centro em Massachusetts, 
o primeiro centro a surgir na América do Norte. Uma 
casa com alguns acres foi comprada por um punhado de 
alunos, em 1982. No início, todos ficavam amontoados 
na casa para os cursos e a sala de meditação era tão 
pequena que as pessoas se sentavam com seus joelhos 
quase encostados uns nos outros, porém, felizes por 
obter um assento. Cada canto e recanto era usado para 
alguma coisa, até mesmo o porão, que era um refeitório 
improvisado. Durante o verão, barracas permitiam que 
alunos adicionais se juntassem aos cursos e, no começo, 
O paradoxo das Pāramīs 
57
uma grande barraca era usada para uma sala de meditação 
maior. E agora, em 2015, há um grande complexo de 
edifícios, servindo a muitos alunos a cada ano. A maioria 
dos quartos conta com banheiros privativos e há um 
pagode com celas individuais para meditação. Desta 
forma, lentamente, todos os centros têm surgido. Os 
centros foram construídos um passo de cada vez de uma 
forma prática e financeiramente conservadora. Agora, 
existem quinze centros na América do Norte (que inclui 
o México, os EUA e o Canadá) com mais dois onde o 
terreno foi comprado, mas os prédios têm ainda de ser 
construídos.
Considere os outros benefícios que irão entrar 
em jogo se você for ao centro para um fim de semana 
de serviço de Dhamma. Você vai sentar três vezes por 
dia. Você estará fazendo do centro um lugar mais forte 
e melhor para os outros virem. É uma oportunidade 
para desenvolver a sua prática. Esta é uma excelente 
oportunidade, se quiser superar este paradoxo das 
pāramīs. Você somente o superará com o seu esforço 
(viriya), que é outra pāramī em si.
Se decidir participar de um fim de semana de 
trabalho, você terá a oportunidade de praticar a pāramī 
nekkhamma. Você também renunciará ao mundo 
(nekkhamma) durante dois dias, assim como faz quando 
frequenta um curso. Você viverá das doações de outros. 
Você praticará o caminho do meio, sem extremos, um 
estilo de vida muito saudável. Nos países budistas 
Manual de um meditador
58
tradicionais, por 2.500 anos, as pessoas leigas têm 
reservado certos dias de cada mês chamados dias de 
uposatha, quando praticam as pāramīs com esforço mais 
extenuante. Observam oito ou até dez preceitos durante 
aqueles dias. Alguns deles praticam meditação também.
Tolerância (khanti) é uma qualidade que, quando 
encontrada nos outros, é muito apreciada. Estas são 
pessoas que não criticam, condenam ou reclamam. As 
pessoas tolerantes são geralmente queridas pelos outros 
e de fácil convívio.
Um curso de meditação oferece muitas 
oportunidades para praticar a tolerância. O meditador 
vizinho é quieto ou barulhento? Ele se movimenta 
muito? Talvez respirem ofegantemente. Talvez tenha 
faltado algum ingrediente na comida ou tenha sido 
acidentalmente queimada naquela manhã pela equipe 
de voluntários. Se a sua reação a estas situações for de 
aceitação e de não-julgamento, estará aumentando a sua 
pāramī de tolerância.
Todos os dias, deparamo-nos com oportunidades 
para fortalecer esta qualidade em nós mesmos ao longo 
da nossa vida. Especialmente no mundo de hoje, onde as 
pessoas são encorajadas a ser assertivas. Assertividade 
e intolerância podem facilmente se misturar.Se tiver de 
esperar na fila, passe o tempo sentindo a natureza mutável 
das sensações dentro de si mesmo, em vez de se preocupar 
ou ficar agitado. Os engarrafamentos são um excelente 
O paradoxo das Pāramīs 
59
lugar para praticar a consciência da mudança e para ser 
tolerante. Intolerância surge, principalmente, quando 
sentimos que alguém está nos afrontando pessoalmente. 
O mais provável é que não estejam conscientes desta 
afronta. Raiva e ódio costumam ser o resultado. Esses 
sentimentos contrariam os nossos esforços para caminhar 
na trilha e simplesmente acumulamos cada vez mais 
saṅkhāras (reações mentais).
Forte determinação (adhiṭṭhāna). Você leva isso 
a sério durante um curso? É importante porque, conforme 
a sua prática avança, haverá desafios que exigirão que 
esta pāramī seja desenvolvida a um alto grau, ou, então, 
você será facilmente derrotado. Você deve ser capaz de 
levar a cabo qualquer intenção que tiver. Em um curso, 
você é instruído a observar e não reagir. Durante uma 
hora, este é o seu objetivo. A razão disso é que estamos 
constantemente reagindo a cada situação na vida. Se 
você conseguir alterar esse padrão de hábito, verá que, 
em breve, irá parar de reagir cegamente ao longo da 
vida cotidiana. Em um curso, durante os votos de uma 
hora (adhiṭṭhāna), começamos a praticar isso três vezes 
por dia. A trilha do Dhamma é uma trilha que exige 
determinação. Se a desenvolver a cada passo do caminho, 
você a encontrará lá quando dela precisar.
Você completa todas as tarefas que começa 
a fazer ou começa as coisas e nunca as termina? Fora 
do curso, você também pode desenvolver a pāramī 
terminando as coisas que começar. Isto irá fortalecer a 
Manual de um meditador
60
sua pāramī de adhiṭṭhāna.
Equanimidade (upekkhā). Algumas pessoas têm 
dificuldade para entender esta palavra. “Equanimidade” 
ou “equânime” significa ser equilibrado e não reagir. 
Precisamos de uma mente equilibrada para progredir 
na trilha. Se ficarmos abalados pelo menor obstáculo ou 
agitados facilmente, teremos de encontrar uma maneira 
de trazer nossas mentes de volta a um estado em que 
possamos observar com equanimidade. Alguns alunos 
verificam que o seu problema é que são desviados do 
propósito porque se esforçam em excesso. Cerram os 
dentes, pensando “eu tenho de conseguir” e pensam 
que se esforçar cada vez mais ajudará. Não é verdade. É 
preciso equilíbrio, não força. Diversos alunos em cursos 
têm obtido muito benefício ao caminharem durante cinco 
minutos, em vez de tentar atravessar a sua dor ou a sua 
agitação. As histórias de monges que quebram os ossos 
do joelho e não se movem até se tornarem totalmente 
libertos se referem a pessoas cujas pāramīs estão 
realizadas e não àquelas que estão apenas começando na 
trilha.
Na Birmânia, em Kyaiktiyo, a Pedra Dourada, 
há um enorme rochedo equilibrado em apenas um ponto 
muito pequeno. Todo o peso desse rochedo, bem como o 
pagode que foi construído em cima dele, é equilibrado em 
apenas uma área muito pequena. O rochedo é inabalável. 
Se sua equanimidade fosse concentrada tal qual o peso 
O paradoxo das Pāramīs 
61
dessa rocha, você seria igualmente inabalável.
Moralidade (sīla). Há menos chance de você 
quebrar sua sīla, enquanto permanecer em um centro. 
Claro, sīla é algo que pode trabalhar tanto em um centro 
ou fora dele. Lembre-se daquelas cinco sīlas e aplique-
as o tempo todo. As verdadeiramente grosseiras, como 
matar e roubar, requerem uma quantidade razoável de 
esforço para implementar. Para alguém que sentou um 
curso ou alguns cursos, você teria de fazer algum esforço 
para ter problemas com estas. 
Espera-se que você tenha usado a sua consciência 
aumentada e sua compreensão dos ensinamentos do Buda 
para superá-las. Mas, há uma em que terá de realmente 
estar atento, que é a fala correta. Oh, esta é uma armadilha 
e tanto. Tão facilmente, tão rapidamente, a nossa boca se 
abre e quebramos essa sīla. Acontece todos os dias e tão 
rapidamente. As palavras saem e, pronto, fizemos isso 
novamente. O Buda considerava mentir particularmente 
desprezível. Isto é o que ele tinha a dizer.
As Consequências da fala incorreta
Isto foi dito pelo Bhagavā [o Buda], isso foi dito 
pelo Arahat e ouvido por mim. “Essa pessoa, ó Bhikkhus, 
que transgride esta única coisa, não existe, ouso dizer 
qualquer ação maligna que deixaria de realizar. O que é essa 
única coisa? Isso, ó Bhikkhus, é mentir conscientemente.” 
—Musāvādasuttaṃ de Saṃyutta Nikāya, Mahavagga, 
por Klaus Nothnagel
Manual de um meditador
62
Não se deixe cair nesta armadilha ou qualquer 
uma das outras formas de fala incorreta, tais como 
calúnia, falar mal dos outros pelas costas, fofocas, 
palavras ásperas ou jogar um contra o outro.
Esforço (viriya) deve ser feito para manter 
aquelas boas qualidades que já tem e tentar aumentar tais 
qualidades. Tente eliminar as más qualidades que tem e 
faça de tudo para evitar adicionar mais alguma. Esta é a 
essência de viriya.
Além disso, há um certo nível de diligência 
necessária para empreender esta longa jornada rumo 
ao objetivo final. Há o esforço para começar, o esforço 
para continuar, o esforço empregado de momento a 
momento para não retroceder. No momento em que o 
esforço for deixado de lado, a mente começará a vagar 
ou você adormecerá. Muito esforço, por outro lado é 
um outro problema, porque, então, você experimentará 
tensão. O esforço é um ato de equilíbrio. Digamos que 
tenha capturado uma borboleta. Se segurasse a borboleta 
com muita força, iria esmagá-la, se não a segurasse com 
esforço suficiente, voaria para longe. No meio está o 
equilíbrio.
Sayagyi U Ba Khin é citado como tendo dito 
que devemos ser tão suaves quanto uma flor e tão duros 
quanto uma pedra. Esforço (viriya) é uma pāramī muito 
importante.
Você está envolvido em um treinamento. Está 
O paradoxo das Pāramīs 
63
treinando para ser uma pessoa melhor e, eventualmente, 
um arahant. É um treinamento longo, muito longo, mas 
você já começou, portanto, tudo o que tem a fazer é 
trabalhar para melhorar seu desempenho na tarefa que 
tem em mãos.
Manual de um meditador
64
Mettā e você
Como pode uma coisa que você não vê, mas apenas sente, ajudá-lo e beneficiar todos os seres? O poder de mettā só será do seu conhecimento 
quando você o usar e experimentá-lo. 
Todos os dias, no final de suas sessões de 
meditação, é aconselhável praticar mettā por alguns 
minutos. Isto significa encher as sensações corporais que 
está sentindo com pensamentos de amor compassivo para 
com todos os seres, também para com os seres que lhe são 
próximos e queridos. Pode ser o seu companheiro, seus 
filhos, seus amigos ou outros membros da família. Eles 
são um bom ponto de partida, porque você já tem bons 
sentimentos em relação a eles. Às vezes, na agitação do 
dia, esquecemos a nossa consciência e podemos dizer ou 
fazer algo que poderia perturbar os nossos entes queridos 
ou nossos conhecidos. Pode ser que esta situação tenha 
acontecido no passado distante ou hoje mesmo, mas 
praticar mettā com essas pessoas em mente pode produzir 
resultados surpreendentes.
65
Eu já vi isso em minha própria vida e na vida 
dos meus amigos. Vi onde as relações atribuladas entre 
maridos e mulheres foram curadas ou onde as relações 
com outros membros da família, que eram distantes ou 
inexistentes, logo se restauraram novamente. Não há 
como subestimar este poder de mettā.
Além disso, não é apenas para uso no âmbito de 
sua própria família, mas também com colegas de trabalho 
e aqueles de fora. A Sra. Jocelyn King, uma das alunas 
de Sayagyi U Ba Khin, conta a história da situação de 
Sayagyi U Ba Khin: “Sayagyi tinha sido convidado para 
se tornar membro de um determinado comitê do governo. 
Os outros membros lhe eram muito hostis, quando se 
juntou ao grupo. Com o tempo, reverteu completamente 
esta situação”. Quando a Sra. King lhe perguntou como 
fez isso, ele disse: “com mettā”.
Neste mundo, com todas as suas forças negativas, 
alguém

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