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CURSO DE PSICOLOGIA Disciplina: Psicologia Social ANÁLISE DO FILME Parasita (2019) Prof.ª Ms: Jéssica Rodrigues Alunos: Cauê Silva Campos Vasconcelos Felipe Freitas Bastos José Airton Alves da Costa Marilene Bezerra Aguiar Fortaleza, Maio de 2020 RESUMO Propõe-se uma análise cinematográfica do longa metragem sul coreano “Parasita” e ao mesmo tempo uma correlação com os estudos abordados na Disciplina de Psicologia Socail. Apresenta-se, portanto, um direcionamento analítico do filme, explicitando-se os elementos expostos no mesmo; construindo uma visão significativa com base nos conceitos científicos estudados em sala. O objetivo, neste trabalho, é analisar o filme, por meio de uma leitura crítica. O Método de pesquisa utilizado foi o método qualitativo/descritivo. Palavras-chaves: Luta de Classes; Nepotismo; Subjetividade. INTRODUÇÃO: O filme Parasita (PT-BR), Parasite (inglês) ou 기생충 (original coreano) é uma adaptação do roteiro de Bong Joo-ho, diretor e roteirista sul coreano. O filme retrata a vida de duas famílias de Seoul, uma sendo a família Kim, mais pobre e a outra, a família Park, os de classe alta. Todas as duas são compostas por um casal de pais e um casal de filhos. A vida da família Kim é a menos confortável. A família vive em um apartamento apertado chamado de semi porão. Em contrapartida, a família Park vive luxuosamente, pois o patriarca da família é CEO de uma grande empresa de informática. Após a recomendação de um amigo da família Kim, o filho dos Kim vai prestar tutoria a filha dos Park em sua luxuosa mansão. Rapidamente, os dois irmãos da família Kim encontram formas de fazer com que o motorista e a empregada doméstica sejam demitidos e os seus pais sejam contratados, para ocupar as funções. Sem que a família Park perceba, os Kim começam a ocupar o seu espaço, como um parasita, porém sob o álibi de não se conhecerem. DESENVOLVIMENTO: Antes de ser uma sátira, uma crítica a um sistema econômico vigente tanto no ocidente, como no oriente, o diretor quis apenas retratar, de modo fiel, que nós crescemos com o capitalismo, vivemos tão inseridos nele que suas engrenagens podem nem parecer existentes para nós. A economia flui de uma forma tão natural que parece sempre ter existido; o empresário, o sistema de saúde, o político otimista, são figuras tão recorrentes que parecem personagens míticos da nossa cultura. Nas palavras do diretor: “[o capitalismo] antes de ser um termo sociológico maciço, é apenas a nossa vida”. Esse foi um dos motivos que deu brilho ao filme, ele é uma sátira, uma comédia de humor negro, mas faz nós nos identificarmos com ambas as famílias, ele é real, é cru. Sangrento às vezes (de forma simbólica e literal), bizarro e desigual, assim como o sistema capitalista é. “Tenho 50 anos agora, então vou morrer em cerca de trinta anos. Meu filho tem 23 anos agora. Quando ele chegar à meia-idade, depois que eu morrer, [o mundo] terá melhorado? Não sei. Eu não tenho tanta esperança. (...) Não podemos chorar o dia todo.” Esta é uma fala de Kang Ho, o patriarca da família Kim, a família pobre. No filme ele não é apenas mais um homem, mas representa algo muito maior: o trabalhador injustiçado. Em seu momento final ele esfaqueia e mata seu patrão, mas naquele momento ele não está matando somente um homem, mas toda uma cadeia de eventos e injustiças que sofreu durante a vida toda, injustiças de um sistema com tantos contrastes e facetas; aquela atitude denota uma revolta e uma tentativa de matar um sistema inteiro, e não somente um alvo humano. Outro ponto importante é o do Nepostismo e a Meritocracia. Icart e Martín (2017) assinalam que, embora indivíduos de classes desfavorecidas tenham méritos e boa qualificação profissional, as posições de destaque na sociedade e no mercado laboral serão ocupadas não por questão de mérito e esforço pessoal, mas por meio de herança sócio familiar e relações sociais que se possa ter. No filme podemos ver que a família Kim conseguiu acesso à família Park por meio de uma indicação de um amigo do filho da família Kim, que depois de forma simulada, fingindo serem pessoas sem grau parentesco, conseguiram todos adentrar a casa Park. O filho da família kim indicou a irmã que fingiu ser outra pessoa e que tinha determinado currículo profissional. Que depois indicou o pai, que indicou a mãe. Nesse processo podemos ver ainda que não de forma clara a pratica de nepotismo e como a meritocracia realmente em meio a tanta exclusão e desigualdade não funciona. Percebe-se no filme também a questão da subjetividade, em que a objetividade da desigualdade social está inserida nas lutas de classe, e uma dimensão ética de injustiça que gera o sofrimento na subjetividade de cada indivíduo. Segundo Sawaia, na análise psicológica existe uma “dialética exclusão/inclusão. Ela afirma que esta concepção introduz a ética e a subjetividade na análise sociológica da desigualdade. Na análise psicológica essa lógica dialética inverte a ideia de inclusão social desatrelando a noção de adaptação e normalização bem como de culpabilização individual, para ligá-la aos mecanismos psicológicos de coação. A lógica dialética explicita a reversibilidade da relação entre subjetividade e legitimação social e revela as filigranas do processo que liga o excluído ao resto da sociedade no processo de manutenção da ordem social. (SAWAIA, 2012, p.8) O conceito ético político foi criado na interface entre subjetividade e sociedade. O sofrimento ético-político situa-se em uma sociedade conflituosa, especificamente na vivência dos sujeitos no processo de luta de classes. A forma de como os mecanismos psicológicos se apresentam no filme Parasita, inclui o sistema capitalista que reproduz e sustenta determinados fenômenos que se apresentam no decorrer do filme, como por exemplo a mentira, que revela que algo dentro da pessoa não estar bem. Essa atitude de mentir da família pobre pode desencadear outros sofrimentos, para além das dificuldades que a família já tem, como a miséria, que leva ao caminho que se configura dentro da psicologia sócio-historica, que analisa a relação entre subjetividade e desigualdade, tentando romper a dualidade social singular, entendendo que por trás da desigualdade social, há vida, sofrimento, medo, humilhação, porém existe também a vontade de um sujeito de ser feliz e de recomeçar em um lugar onde parece não existir qualquer esperança. Como é o caso da família pobre apresentado no filme. A essa máscara da inclusão, Sawaia denomina inclusão perversa, que provém da produção de ideias imaginativas, feitas pelo próprio sistema nos indivíduos. Na perspectiva de psicologia social construída por Silvia Lane, há um homem inteiro, de corpo e mente, emoção e razão, determinado e determinante da sociedade, e no caso do filme pode-se dizer que, em relação a família de classe pobre as ideias que surgiam faziam com que eles fossem determinados em adentrar na residência da família abastarda, e por conseguinte, o determinante da família Kim, poderia ser, viver de uma forma mais digna em sociedade (embora através de mentiras e nepotismo). [...] onde o grupo não é mais considerado como dicotômico em relação ao indivíduo (indivíduo sozinho X indivíduo em grupo), mas sim, como condição necessária para conhecer as determinações sociais que agem sobre o indivíduo, bem como a sua ação como sujeito histórico, partindo do pressuposto que toda ação transformadora da sociedade só pode ocorrer quando se agrupar (LANE, 1984, pg.78). CONCLUSÃO: Neste artigo foi abordado o filme "Parasita", o filme passa uma reflexão acerca do capitalismo e as várias mazelas trazidas pelo sistema. Antes de um sistema econômico complexo e consolidado, ele seria apenas nossa vida nas palavras dodiretor. O filme fala sobre diversos temas recorrentes na nossa sociedade, demos ênfase à luta de classes (o velho embate entre ricos e pobres), sobre o nepotismo presente e praticado pela família Kim, a meritocracia da família Park, e por último a subjetividade produzida nessa relação social e econômica entre as duas famílias. REFERÊNCIAS: ARAUJO, Ariella Silva. O Nepotismo no Brasil e alguns conceitos de Max Weber. Revista Urutágua, n. 18, p. 101-110, 2009. ICART, Ignasi Brunet; MARTÍN, David Moral. Narrativa meritocrática, sistema educativo y mercado laboral. BARATARIA. Revista Castellano-Manchega de Ciencias Sociales, n. 22, p. 33-49, 2017. LANE, S. T. M. (1984). A Psicologia social e uma nova concepção de homem para a "Psicologia". In S. T. M. Lane, & W. Codo (Orgs.), Psicologia social: o homem em movimento (pp. 10-19). São Paulo: Brasiliense. VIEIRA, Grazielli Padilha et al. Corpo e consumo: a mídia como mecanismo de produção de modos de subjetivação. Revista psicologia em foco, v. 9, n. 14, p. 3-16. 2017. SAWAIA, B. B. As artimanhas da exclusão (12ª ed.). Petrópolis, RJ: Vozes. 2012.
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