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A regulação da função do córtex das adrenais se dá pelo ACTH, secretado pela hipófise (que estimula a secreção de cortisol e androgênios) e pelo sistema renina-angiotensina (que estimula a secreção de aldosterona). A secreção de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) pela medula adrenal é regulada em grande parte pelo sistema nervoso autônomo. A insuficiência adrenal primária também é conhecida como Doença de Addison, sendo um distúrbio relativamente raro. INSUFICIÊNCIA ADRENAL Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO 1.Fisiologia As suprarrenais são glândulas retroperitoneais responsáveis pela síntese de substâncias essenciais. 2.Insuficiência adrenal É um distúrbio causado pela redução ou perda da função do córtex adrenal, causando deficiência de glicocorticoides, associada ou não à deficiência da secreção de mineralocorticoides e androgênios. A insuficiência adrenal apresenta, muitas vezes, quadro inespecífico, gerando atraso no reconhecimento diagnóstico. Causas primárias: Causas secundárias 3.Etiologia da insuficiência adrenal Adrenalite autoimune (isolada, SPA tipo I, SPA tipo II) é a causa mais comum de insuficiência adrenal primária. Tuberculose é a 2ª maior causa de insuficiência adrenal primária no brasil (de 17 a 20% dos casos) e ainda é a principal etiologia em países subdesenvolvidos. Podem ser de origem adquirida, como a corticoterapia prolongada, ou de origem congênita, como a deficiência isolada de ACTH. 4.Insuficiência adrenal primária a) Adrenalite autoimune Resultante da destruição autoimune das glândulas adrenais. As adrenais, neste caso, têm aparência atrófica, com perda da maior parte das células corticais, mas com a camada medular mantida intacta na maioria dos casos. Em 70 a 100% dos casos, autoanticorpos contra o córtex adrenal (ACA) ou contra enzimas esteroidogênicas são encontrados. Síndrome Poliglandular Autoimune do tipo 1 (SPA-I): associação de adrenalite autoiumune a hipoparatireoidismo e candidíase mucocutânea na infância. Síndrome Poliglandular Autoimune do tipo 2 (SPA-II): associação de adrenalite autoimune e hipotireoidismo autoimune e/ou tireoidite crônica autoimune. Síndrome Poliglandular Autoimune do tipo 3 (SPA-III): associação de tireoidite crônica autoimune com diabetes mellitus tipo 1 (e, eventualmente, com anemia perniciosa, vitiligo ou alopecia), na ausência de insuficiência adrenal (síndrome de Carpenter). b) Causas infecciosas Os principais agentes são a tuberculose, infeções fúngicas e infecção por citomegalovírus (CMV). sensação de fraqueza mais acentuada nos MMII a anorexia é um sintoma precoce e precede o aparecimento de manifestações do trato gastrintestinal náuseas, vômitos, diarreia com menor frequência, dor abdominal, costumeiramente na região dos flancos febre baixa perda de peso 5.Causas secundária e terciárias Podem ser causadas por qualquer processo que envolva o hipotálamo ou a hipófise e altere o eixo hipotalâmico- hipofisário-adrenal. Os pacientes apresentam deficiência de glicocorticoides e, eventualmente, de androgênios, mas não de mineralocorticoides (os quais são regulados pela renina, não pelo ACTH). A causa mais comum é a parada abrupta do uso de corticosteroides. 6.Fisiopatologia da insuficiência adrenal É necessária a perda de cerca de 90% do córtex adrenal para que as manifestações clínicas de insuficiência adrenal se manifestem completamente. Na maioria das vezes, esse acometimento é gradual, levando a sintomas de insuficiência crônica. Porém, pode ocorrer destruição abrupta das glândulas, ocasionando apresentações agudas e severas ("crises adrenais"). Na fase inicial (pré-clínica) se observa apenas a diminuição da reserva de glicocorticoides. Com a evolução do dano às adrenais, mesmo a secreção basal dos glicocorticoides e mineralocorticoides acabam de tornando deficientes, e o quadro clínico aparece mesmo fora de situações de estresse. Na insuficiência adrenal primária, acontece uma marcante elevação nos níveis de ACTH, devido à falta de feedback negativo do cortisol sobre o eixo hipotalâmico-hipofisário- adrenal. 7.Diagnósotico clínico O quadro clínico depende da extensão da destruição das suprarrenais, do tempo de instalação da insuficiência (se aguda ou insidiosa) e do tipo de esteroides que estão deficientes (se apenas os glicocorticoides, ou também os androgênios e mineralocorticoides). a) Insuficiência adrenal primária crônica INSUFICIÊNCIA ADRENAL Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO A doença de Addison causada por tuberculose ocorre devido à disseminação hematogênica da infecção. Inicialmente, as suprarrenais apresentam-se aumentadas com granulomas extensos e caseificação, sendo o córtex e a medula afetados (Figura 3). Durante a evolução, a fibrose aparece, com diminuição do tamanho das suprarrenais, ficando estas normais ou diminuídas, com calcificações em cerca de 50% dos casos (Figura 4). Raras vezes, o tratamento da tuberculose leva à melhora da insuficiência suprarrenal. A insuficiência adrenal pode ocorrer associada à síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). É duvidoso que a infecção pelo HIV apresente papel direto como causa de doença de Addison, mas outros fatores podem levar ao aparecimento da doença. Outras causas: c) Infarto adrenal d) Medicações e) Adrenoleucodistrofia f) Metástases tumorais g) Hipoplasia suprarrenal congênita h) Deficiência familiar de glicocorticoide A hipotensão, principalmente ou exclusivamente, na posição ortostática também sugere uma causa primária para a IA. Outro sintoma específico é a avidez por sal, que ocorre em até 20% dos casos. Hiponatremia e hipercalemia são achados clássicos da IA. A deficiência de glicocorticoides acarreta anormalidades hematológicas: leucopenia com linfocitose relativa, eosinofilia e anemia normocrômica normocítica. b) Insuficiência adrenal primária aguda (crise adrenal) Emergência médica que pode ser a 1ª manifestação de uma IA aguda ou ser precipitada por algum agente estressor em pacientes com insuficiência adrenal crônica. trauma cirurgia infecções desidratação por diarreia ou vômitos interrupção abrupta do uso de glicocorticoides hemorragias queimaduras A crise adrenal é característica da insuficiência adrenal primária, rara em portadores de insuficiência adrenal secundária ou terciária. A principal manifestação clínica é a hipotensão, que pode ser grave e refratária e o principal determinante da crise adrenal é a deficiência de mineralocorticoides. A maioria dos pacientes apresenta fatores precipitantes, que aumentam agudamente a necessidade de corticosteroides, como: Outras manifestações clínicas incluem taquicardia, vertigens, náuseas e vômitos, com rápida evolução para choque hipovolêmico. Dor abdominal pode ser um queixa predominante. Febre baixa pode ocorrer, mas, quando há infecção associada, há possibilidade de temperaturas maiores. A hiperpigmentação sugere o diagnóstico, indicando IA de longa data. E o achado laboratorial de hiponatremia e hipercalemia (ou de eosinofilia e hipoglicemia em pacientes criticamente enfermos) é, costumeiramente, uma das principais pistas diagnósticas. c) Insuficiência adrenal secundária e terciária Apresentam quadro semelhante ao dos pacientes com insuficiência suprarrenal crônica, mas não apresentam depleção de volume, hipercalemia ou hiperpigmentação, e hipotensão pode estar presente, mas não tão severa (já que a secreção de mineralocorticoides é preservada). O ACTH está diminuído, e não como nas formas primárias, que é aumentado. A hiponatremia pode ocorrer por secreção inapropriada de ADH. A causa mais comum desses distúrbios é a parada abrupta do uso de glicocorticoide exógeno, em pacientes que vinham fazendo uso crônico desse tipo de medicação. INSUFICIÊNCIA ADRENAL Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO A presença de hiperpigmentação se deve ao aumento secundário de ACTH, que apresenta afinidade pelo receptor MC1 dos melanócitos. Esse é o melhor sinal clínico para a diferenciação de insuficiência adrenal primária e secundária,pois a hiperpigmentação só está presente nos casos primários. Dosar cortisol sérico (08:00h-09:00h) ≤ 3µg/dL 3-19µg/dL ≥ 19µg/dL IA confirmada dosar ACTH IA descartada IA confirmada dosar ACTH Dosar ACTH elevado normal ou baixo IA primária IA secundária INSUFICIÊNCIA ADRENAL Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO 8.Diagnóstico laboratorial A confirmação do diagnóstico de insuficiência adrenal pode ser feita de 2 formas: pela dosagem de cortisol basal ou pelo teste de estímulo. Um cuidado a ser tomado antes da coleta dos exames é a pesquisa do uso de corticoides exógenos (sistêmicos ou tópicos), pois o seu uso crônico vai levar À redução dos níveis de cortisol plasmáticos, dificultando a interpretação dos testes. Insuficiência Adrenal? Teste da cortrosina (ACTH sintético) O teste mais utilizado é o de estímulo com ACTH, que consiste na administração de ACTH sintético (Cortrosina®), 250mcg IV ou IM, com coletas de sangue aos zero, 30 e 60 minutos para dosagem de cortisol (ou, alternativamente, apenas aos 60 minutos). Teste da cortrosina (ACTH sintético 250 ou 1 µg) CS <18µg/dL (anormal) CS ≥ 18µg/dL (normal) descartada atrofinal adrenal, mas não baixa reserva de ACTH teste de tolerância à insulina (ITT) normal: IA 2ª descartada IA confirmada Outros testes que podem ser utilizados são a hipoglicemia induzida por insulina, o teste do glucagon, o bloqueio com metirapona e o estímulo com CRH. Quanto aos pacientes graves (crise adrenal), não é possível esperar pela realização de um teste dinâmico. Recomenda-se iniciar, imediatamente, o tratamento da provável insuficiência adrenal com dexametasona (um glicocorticoide sintético que não interfere nas dosagens de cortisol sérico) e realizar um teste dinâmico no dia seguinte. 9.Tratamento a) Tratamento emergencial (crise adrenal) Idealmente se deve colher e armazenar amostra de sangue para posterior dosagem do cortisol plasmático, antes de iniciar a reposição de glicocorticoide. Hidrocortisona 100mg IV (ataque), seguido por 50mg 4/4 ou 6/6h. A reposição volêmica deve ser realizada com solução salina; repor glicose conforme o resultado dos exames laboratoriais. Quando da interrupção da infusão salina, provavelmente será necessária a reposição de mineralocorticoides em doses usuais para insuficiência adrenal crônica. b) Tratamento crônico (manutenção) Prednisona 2,5 - 7,5mg/dia (dose matinal maior). A reposição de mineralocorticoide é, usualmente, necessária nos casos de IA 1ª e pode ser realizada com a fludrocortisona (Florinef®) em doses de 0,05 a 0,2mg/dia. Mulheres jovens podem beneficiar-se da reposição do androgênio dehidroepiandrosterona (DHEA), na dose de 50mg/dia. NOTA: Todos os pacientes devem ser orientados a aumentar a dose de corticoide em situações de estresse e a levar consigo um cartão/bracelete de identificação!
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