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PAPER- A CONCEPÇÃO DE MODERNIDADE DE ACORDO COM A TRADIÇÃO SOCIOLOGICA ALEMÃ

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A CONCEPÇÃO DE MODERNIDADE DE ACORDO COM A TRADIÇÃO 
SOCIOLOGICA ALEMÃ 
Tamires Clei Nunes1 
Resumo: A tradição do pensamento sociológico alemão compõe uma das mais 
importantes matrizes da sociologia. Durante seu processo de formação foram contidas 
diversas singularidades que remeteram um olhar completamente inédito acerca da 
realidade diante de um processo modernidade. Sob o olhar sociológico dos três 
principais fundadores dessa tradição sociológica alemã, entederemos a concepção de 
cada um a respeito deste processo. 
Palavras-chave: Modernidade. Natureza humana. Sociedade. 
Abstract: The tradition of German sociological thought compose one of the most 
important matrices of sociology. During its formation process were contained several 
singularities that sent a completely unprecedented look at reality before a process 
modernity. Under the sociological gaze of the three main founders of this German 
sociological tradition, we will enlighten the conception of each one on this process. 
Keywords: Modernity. Human nature. Society. 
1 INTRODUÇÃO 
Durante o processo de formação da tradição do pensamento sociológico alemão que 
compõe uma das mais importantes matrizes da sociologia foram contidas diversas 
singularidades que remeteram um olhar completamente inédito acerca da realidade 
diante do processo modernidade. A partir disso, esse trabalho objetiva analisar 
brevemente os elementos comuns que unem os pensadores clássicos do surgimento da 
sociologia moderna na Alemanha: Ferdinand Tönnies (1855-1936), Georg Simmel 
(1858-19180) e Max Weber (1864-1920), e que se estende até o círculo interno da 
Escola de Frankfurt. 
Antes de adentrarmos nas teorias de cada sociólogo sobre a dita modernidade é 
importante entendermos, quem foram eles e quais suas influências. 
 
1 Bacharel em ciências sociais – Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) 
 
2 
 
Max Weber, mais popular dos três que iremos trabalhar, foi um importante sociólogo e 
destacado economista alemão. Suas grandes obras são, “A Ética Protestante e o Espírito 
do Capitalismo” e "Economia e Sociedade". 
Desenvolveu importantes trabalhos na Sociologia, foi considerado um dos fundadores 
da Sociologia Moderna. Sua grade obra chama-se "Economia e Sociedade”, onde traça 
um quadro do poder e da política, ou seja, das relações de dominação. Defendia a tese 
de que a forma de legitimação de um poder é decisiva para se compreender que tipo de 
poder é aquele. 
Em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, o sociólogo realizou importante 
estudo sobre como a religião, especialmente o protestantismo nos EUA, foi um fator 
importante para a consolidação do capitalismo. 
Em contrapartida, Weber achava que o catolicismo tradicional poderia ser um fator 
impeditivo para o desenvolvimento e prosperidade econômica de países que praticavam 
aquela religião. Isso se devia ao fato do ideário católico pregar a condenação do lucro. 
Já a religião protestante possuía maior identificação com a produção de riquezas, 
justamente, por valorizar o mérito pessoal e o trabalho como meios de valorização 
espiritual. 
A influência de Weber nas ciências sociais é imensa, comparável a do francês Emile 
Durkheim e Karl Marx. Max Weber morreu em Munique, Alemanha, vítima de 
pneumonia, no dia 14 de junho de 1920. 
 
Ferdinand Tönnies foi um sociólogo alemão, atualmente esquecido no meio acadêmico. 
Sua obra principal “Comunidade e Sociedade”, publicada em 1887, tornou-se no século 
XX de importância fundamental para o desenvolvimento da Sociologia na Alemanha. 
Tönnies nasceu em Oldenswort, Schleswig, Alemanha, no dia 26 de julho de 1855. 
Dedicou-se grande parte e sua vida aos estudos, foi aluno das universidades de 
Estrasburgo, Jena, Bonn, Leipzig e Tübongen. Doutorou-se em Filosofia Clássica em 
Tubinga, em 1877. Estudou Filosofia Política e Social em Londres e Berlim. 
Em 1881 habilitou-se como livre-docente de Filosofia na Universidade de Kiel. De 
1891 em diante, foi professor de Ciência Política na mesma universidade. Em 1891 
publicou “Comunidade e Sociedade”, que não despertou interesse no começo, mas no 
século seguinte, foi de fundamental importância para o desenvolvimento da Sociologia 
na Alemanha. 
3 
 
Foi especialmente sua concepção de comunidade que exerceu profunda influencia sobre 
a maioria dos sociólogos contemporâneos. Tönnies representa a comunidade como 
forma de convivência natural, orgânica, ao passo que a sociedade se lhe afigura como 
forma de vida social mecânica, artificial. A tendência do desenvolvimento social vai, no 
entender do sociólogo, da comunidade para a sociedade, da cultura para a civilização. 
Em 1909, junto com Georg Simmel, Werner Sombart e Max Weber, fundou da 
Sociedade Alemã de Sociologia. A partir de 1920 passa a lecionar Sociologia na 
Universidade de Kiel. Foi o presidente da Sociedade Alemã durante 24 anos. 
Em 1931 publicou “Introdução à Sociologia”, onde abandonou a rigidez da distinção 
entre a sociologia e a comunidade, fazendo acrescer outras noções como a relação 
social, unidade social e corporação, definindo doze tipos de sociabilidade. 
Em 1933 foi demitido e detido da Universidade de Kiel por se posicionar contra o 
nazismo e o antissemitismo. Ferdinand Tönnies faleceu em Kiel, Alemanha, no dia 9 de 
abril de 1936. 
 
Georg Simmel foi um sociólogo e filósofo alemão, considerado o fundador da 
Sociologia Formal ou Sociologia das Formas Sociais. 
Nasceu em Berlim, Alemanha, no dia 1º de março de 1858. Filho de próspero 
comerciante judeu que adotou o catolicismo, e de mãe luterana, de origem judaica. 
Simmel foi batizado como luterano, mas retirou-se da igreja, apesar de manter interesse 
filosófico na religião. 
Em 1874, ficou órfão de pai e viveu da herança herdada do pai e posteriormente de seu 
tutor, o que lhe permitiu que seguisse a carreira acadêmica por muitos anos. Estudou 
História e Filosofia na Universidade de Berlim, concluindo o doutorado em 1881, com a 
tese intitulada “A Natureza da Matéria Segundo a Nomadologia Física de Kant.” Entre 
1885 e 1900, foi professor na Universidade de Berlim. 
Simmel fundou a Sociologia das Formas Sociais, mostrando a relativa independência de 
forma e conteúdo social. Ao lado de Durkheim, com quem colaborou para a revista 
L’Anné Sociologique, Simmon é considerado o fundador da Sociologia como ciência 
autônoma das formas de associação. 
A investigação em torno da correspondência funcional na sociedade constituiu o tema 
central de seu trabalho, e por meio dela procurou desenvolver uma sistemática 
incondicionada do social, ou seja, atemporalmente válida e independente dos fatores 
4 
 
históricos. sua obra apresenta-se entremeada de ensaios escritos em estilo brilhante, que 
representam uma parte de sua vasta obra, onde se revela também como filósofo. 
Visava uma Sociologia pura, uma espécie de teoria formal da sociedade que ele 
procurou demonstrar como fenômenos grupais. Apesar da intenção formal, verifica-se 
que sua concepção está ricamente saturada da visão histórica, como na Filosofia do 
Dinheiro ou na Filosofia da Moda. 
Entre suas obras destacam-se: “Philosophie des Geldes”, (1900), “Soziologie”, (1908), 
“Der Konflikt der Modernem Kultur” (1918), “Zur Philosophie der Kunst” (1922) e 
“Fragment und Aufsätze”, (1923). 
Em 1910, Simmel contribuiu para a fundação da Associação Sociológica Alemã. Em 
1914, foi nomeado professor em Estrassburgo, na época pertencente ao Império 
Germânico. Faleceu em Estrassburgo, França, no dia 28 de setembro de 1918. 
 
Agora que já foram devidamente apresentados, tentaremos entender um pouco sobre 
modernidade de acordo com os estudos e resultados obtidos por cada um deles. 
A questão central abordada neste artigo é a interpretação de mundo que aqui chamamos 
de “olhar sociológico alemão”. 
2 TRADIÇÃO SOCIOLOGICA ALEMÃ 
A sociologiaalemã surge como disciplina digna de crédito por volta de 1890. Para se 
configurar a tradição alemã, em papéis de sociólogos formuladores de programas no 
começo do século XX, Georg Simmel e Max Weber apresentaram-se como equivalentes 
alemães de Durkheim. Entretanto, o papel desempenhado por Durkheim como 
codificador e porta-voz de uma tradição nacional de pensamento social foi assumido na 
Alemanha por Wilhelm Dilthey. 
Na virada do século XIX para o XX, na Alemanha a ciência mais marginalizada talvez 
tenha sido a sociologia, devido às perseguições sofridas que desencadearam às 
transformações que delimitaram suas singularidades tão acentuadas em relação à 
contribuição da Europa ocidental. Em meio os sociólogos alemães, Georg Simmel 
sobressaiu-se como melhor representante desta nascente sociologia, que pouco se diferia 
entre poesia e filosofia. Um dos fatores que o afastou da universidade fora sua postura 
poética, já que este ambiente era considerado lugar por excelência de expressão 
intelectual. Sua escrita ensaística evidenciando a estética fez dele, um judeu-alemão, um 
5 
 
caso excepcional e ao mesmo tempo em que não era um poeta, também não era aceito 
no meio acadêmico. 
No pensamento tonnesiano há uma proximidade entre a psicologia e a sociologia, a 
segunda é sustentada pelos argumentos da primeira, e há um terceiro elemento, a 
filosofia, onde ambas (psicologia e sociologia) estão presentes. Tönnies demonstra no 
emprego recorrente da psicologia as marcas deixadas pela tradição alemã. Seus 
conceitos de vontade denotam a tentativa de achar na vida interior (psicológica) do 
individuo os pressupostos do desenvolvimento das formas de socialização. Divergindo-
se da sociologia francesa, que interpreta a sociedade como algo de caráter extra-
individual que guia os indivíduos, ele busca no próprio individuo a sustentação das 
configurações sociais. 
Max Weber encontra-se em posição maior distanciamento dos círculos poéticos, tendo 
em Simmel o elo que ligeiramente aproximava da figura de Stefan George – poeta do 
simbolismo alemão que formou um circulo em seu entorno, conhecido como circulo de 
George – Sua sociologia demonstrará a madureza do pensamento sociológico enquanto 
ciência. Em sua obra é consolidada a tradição do voluntarismo (sentido da ação social) 
unida a uma visão decadentista de mundo; o espírito trágico do processo da 
modernidade que marca a singularidade da sociologia alemã mostra, também, o 
caminho marginal que a Alemanha trilhou com sua modernidade. 
Contudo em relação ao inicio da sociologia alemã, podemos afirmar que a carência de 
hierarquias alicerçadas entre meio às causas econômicas e culturais, poderíamos incluir 
a tardia emergência da burguesia e a não divisão do trabalho intelectual como 
relacionados aos fatores do surgimento da sociologia alemã. Ao compararmos com a 
França, por exemplo, era explicita a divisão do trabalho intelectual, de maneira que a 
ciência era facilmente distinguida da filosofia; através do positivismo as ciências 
naturais implantaram métodos de observação e indução às ciências sociais que, embora 
objetivasse se consolidar enquanto ciência provando que possuía um objeto próprio de 
estudo, imbuí-as das noções oriundas da física e da biologia. Entretanto a Alemanha não 
vivenciava este experimento, mantendo unida a filosofia a qualquer dinâmica de 
pensamento, tanto na arte quanto na ciência. Isso resultou a sociologia alemã fortes 
traços de inquietudes no âmbito existencial. 
6 
 
 
Figura 1 – Ligações na tradição alemã. * 
Fonte: Levine (1997, p. 177) 
 
3 MODERNIDADE SEGUNDO A VISÃO WEBERIANA 
Um aspecto central da teoria weberiana é a indignação acerca do homem 
especificamente moderno, a qual se deve se compreendido, de forma geral, como uma 
tentativa de conceituação da especificidade do desenvolvimento ocidental. 
No que se refere aos níveis da sociedade e da cultura para Weber, a constituição das 
esferas racionalizadas segundo padrões formais da política e da economia, por um lado, 
e a diferenciação das esferas de valor culturais, por outro lado, formam conjuntamente 
os aspectos mais típicos da modernidade. Esta teoria da época weberiana permanece 
como principal e fundamental estímulo para o desenvolvimento societário e cultural da 
civilização ocidental. Essa afirmação não se aplica, no entanto, em relação ao assim 
chamado processo de individuação, ou seja, ao nível da personalidade. 
____________________________ 
Figura 1 – Ligações na tradição alemã. *marcações na imagem de autoria de Tamires C. Nunes 
7 
 
Na discussão acerca da tese weberiana do mundo moderno como uma prisão de ferro 
habitada unicamente por homens do prazer sem coração. Neste contexto, constata-se o 
desaparecimento da ética vocacional protestante, mas também, da própria ideia de 
vocação enquanto tal, pouco importando se relativamente à certeza da salvação pessoal 
de fundo religioso ou com relação a formas de autorealização secular, restando 
meramente uma relação de complemento e compensação entre a atitude instrumental do 
especialista sem espírito e a atitude expressiva do homem do prazer. A perda do sentido 
seria para Weber, inevitável. 
Em acordo com essa analise, concluímos que Weber desenvolve uma reconstrução da 
natureza humana segundo sua preferência pelo tipo moral puritano. 
A simpatia de Weber em relação ao férreo homem de vocação 
puritana [...] para o nosso autor, a forma mais superior, até agora 
historicamente realizada, de “personalidade” ascética e intramundana, 
na media em que capacitava os homens “para a condução de uma vida 
clara, desperta e consciente” (SOUZA, 1997, p.116). 
 
4 O PENSAMENTO DE FERDINAD TÖNNIES SOBRE MODERNIDADE 
Podemos entender de forma clara o pensamento de Tönnies acerca de modernidade 
segundo Brand arenari 
Em Tönnies, as formas de superação da asfixia ao homem moderno, 
diante de um mundo de artificialismos, não desfrutam de uma 
sistematização na sua obra. A perspectiva de novos movimentos e 
interações aparece de forma implícita, em situações ou comentários, 
dentro de outras discussões que ocupam a centralidade de sua 
sociologia. No entanto, mesmo na periferia do seu pensamento, 
podemos perceber um otimismo no espírito humano, independente do 
pessimismo em relação à sociedade (Gesellschaft). 
Desse modo, Tönnies acreditava na superação dessa maneira de 
organização de vida que surgiria após o colapso de tais valores. 
Contudo, a teleologia tonnesiana, se assim podemos chamá-la, não 
ocorreria devido ao esgotamento de sistemas econômicos, como seria 
a superação das promessas do capitalismo prevista por Marx. A 
falência e a superação das promessas da modernidade ocorreriam, em 
ultima instância, devido a fatores psicológicos. Para Tönnies, a 
organização da vida na modernidade era castradora das orientações 
naturais do homem, mantendo-o num cárcere permanente, sufocando 
seus impulsos. Em algum momento, essas forças naturais reprimidas 
por um Estado que gradativamente controlava suas vidas, reclamarão 
por uma nova organização social. Entendendo que isso não ocorreria 
por meio de um enfrentamento político, Tönnies não deixa, contudo, 
claro como esse processo vingaria. 
A perspectiva otimista em relação à humanidade articula-se 
primeiramente na construção da imagem do homem em Tönnies, 
8 
 
tendo os filósofos contratualistas como fonte de inspiração. 
Poderíamos afirmar, de maneira genérica, que Rousseau é a base da 
construção de suas categorias psicológicas, enquanto Hobbes inspira a 
formação de suas categorias sociológicas. 
Tönnies constrói uma imagem humana recheada de aspectos 
românticos que confere ao homem uma essência de dignidade moral, 
uma tendência natural ao agir ético. Tal como Rousseau, poderíamos 
concluir que Tönnies afirma que o homem nasce bom, mas a 
sociedade (Gesellschaft) o corrompe. Para Tönnies, é a organização 
artificialda vida que deturpa as vontades e as relações humanas. 
Assim como Rousseau fala em resgatar os sentimentos perdidos de 
amor de si e piedade natural, Tönnies também apela para uma 
reconstrução da natureza humana. As transformações na ordem social 
não são suficientes para explicar todas as transformações da vida em 
sociedade. 
Para Tönnies, o espírito da comunidade (gemeinschaft) resgata-se 
também pela transformação das vontades humanas. Tönnies atribui 
juízo de valor em relação às suas categorias psicológicas, deixando 
claro que, a vontade essencial é a que contém verdadeira natureza 
moral do homem. Segundo ele, a vontade essencial expressa à 
bondade natural do homem, direcioná-lo à sociabilidade e ao 
altruísmo. 
[...] Como vimos, as causas centrais da superação do artificialismo da 
vida moderna dar-se-iam por questões primeiramente de natureza 
existencial e, num segundo momento, pelos impactos socais devido à 
universalidade desse fenômeno. As transformações na organização 
social circularmente também permitiram o aparecimento de um novo 
espírito comunitário latente nos homens. 
Tönnies acreditava que essa nova organização construir-se-ia a partir 
de transformações na organização social, em especial, mediante a 
entrada da mulher na política e em toda a vida publica. Influenciado 
pelo sentimentalismo romântico e, por muitas vezes, ingênuo, Tönnies 
tinha a esperança de que a mulher/feminino carregasse sentimentos 
comunitários mais fortes que os homens/ masculino, mais compelido 
pela rigidez das relações de hierarquia e poder. Supunha-o que as 
mulheres agiriam de modo mais cooperativo e não tão competitivo 
quanto os homens. A cooperação substituindo a competição era sua 
convicção para um projeto de modernidade não destinado a um trágico 
desfecho. Quanto a isso, Tönnies também se inspira nos movimentos 
sindicais que, tal como sua aposta no feminino, poderiam fazer 
aparecer na sociedade um novo espírito cooperativista. Isso deixa as 
influencias de um socialismo utópico claras, estabelecido em bases 
sentimentalistas e contrario ao pessimismo. Tönnies, mais uma vez 
depositava sua fé no gênero humano (RIBEIRO & ARENARI, 2004). 
 
5 DIAGNÓSTICO DA MODERNIDADE SEGUNDO SIMMEL 
Segundo G. Simmel, todo aquele que age não é pessimista. O agir já presume uma 
possibilidade de modificação, de transformação. A ação predispõe de algum impacto, se 
assim não fosse, nos depararíamos de uma completa contradição no comportamento 
humano. Seria de estranhar que homens que tiveram uma ativa vida política e 
9 
 
intelectual, como Tönnies e Weber, e, no caso particular de Simmel, uma vida intensa 
do ponto de vista intelectual e cultural, e que devotaram grande parte de sua existência 
aos estudos sobre os dramas da vida humana não tivessem, por menores que fossem, 
expectativas em relação à possibilidade de reversão do trágico diagnóstico da 
modernidade. 
A percepção de modernidade no pensamento de Georg Simmel não faz referência a uma 
estrutura social estática. A partir dessa concepção, a modernidade é assumida em seu 
pluralismo, no qual convivem unidades relacionais. Diferentemente de Tönnies, que vê 
apenas como uma “Leviatã” monolítico, opressor da vida natural, Simmel critica a 
concepção de que existe algo em si mesmo absoluto e opta, em seus ensaios, pela 
expressão absolutos relativos, admitindo, porém, que um dos lados da relação tende a 
dominar o outro, o que não implica negar a ideia de relação, visto que conflito, 
dominação e tensão exemplificam para Simmel, formas de interação social. 
Mesmo afirmando que o dinheiro é a força central do agir da modernidade, Simmel 
atenta para as formas de sociação na periferia da modernidade, e que se estabelecem a 
partir de outros conteúdos que não os do utilitarismo, do cálculo e da instrumentalidade. 
Por mais que o agir “calculativo” da lógica economicista tenda a se confundir com 
“genericamente humano”. 
Dois conceitos desenvolvidos por Simmel são as chaves para o entendimento da 
possibilidade de um reencantamento do mundo moderno. Os conceitos de círculos 
sociais (Kulturkreislehre) e vivências (Erlebnis) indicam os caminhos pelos quais se 
processa o enriquecimento subjetivo frente a um mundo objetificado. 
Na variedade dos círculos sociais de que participamos, nos quais cultivamos a 
nossa subjetividade, poderíamos desenvolver sentimentos e emoções que 
estariam excluídos de grande sociedade, caso nos rendêssemos a uma 
modernidade monolítica. Nos círculos de amizade, por exemplo, existe a 
possibilidade de se sobrepor as relações instrumentais a lógica fraterna. 
Segundo Simmel, é dada ao homem a possibilidade de construir micro-
sociedades, focos de cultivo de vida, de enriquecimento espiritual (subjetivo), 
em oposição ao espírito objetivo da modernidade. No seu entendimento, a 
periferia da modernidade ofereceria espaço para uma contra-resposta ao avanço 
da cultura objetiva. 
[...] O que mais se destaca na obra de Simmel, diferentemente da dos outros 
autores analisados, é sua recorrência as microssociedades, vivências fundadora 
e refundadoras dos círculos sociais, para s opor a “grande sociedade”. 
Também, nesse autor, notamos a esperança e uma redenção moral, de uma 
refundação da modernidade que recusa o modelo de “esferas separadas” 
(subjetividade e objetividade; individuo e sociedade). 
10 
 
Simmel também vislumbra a representação de um estilo de personalidade 
típico da modernidade. Assim como os outros pensadores examinados, as 
relações sociais são retratadas na modernidade sob o aspecto da decadência, no 
que tange à moral. Para dar forma a essa abstração, Simmel constrói figuras do 
blasé e do cínico, mas não apela para a “regeneração” desses tipos de redenção 
da modernidade. 
Ele deposita sua esperança na superação da modernidade, no próprio devir da 
sociedade. Isso se deve ao fato de Simmel acreditar que a esfera da 
personalidade é constituída a partir das interações sociais, das quais o individuo 
participa, ou seja dos círculos sociais de que ele e faz parte. 
O modelo de esferas separadas não cabe no pensamento de Simmel. O caráter 
relacional e processual da formação da sociedade e da cultura a partir das 
associações, em contraste com as percepções cristalizadas da vida social, marca 
o pensamento desse autor, assim como os conceitos de cisão, oposição, relação, 
diferença, complementaridade, unidade, reciprocidade e círculos definem o 
modo especifico de observar a tragédia moderna. (RIBEIRO & ARENARI, 
2004). 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Nossos três sociólogos evidenciados neste trabalho, apresentam perspectivas distintas a 
propósito da modernidade. O que podemos ressaltar de semelhante entre eles é um teor 
trágico que permeia a vida moderna. Como Weber mesmo diz há um desencantamento 
de mundo, o mundo moderno remete a uma prisão de ferro. 
Entretanto no pensamento tonnesiano podemos captar certo otimismo na conduta 
humana, mesmo que seja pessimista em relação à sociedade, ele constrói uma imagem 
humana repleta de perspectivas românticas a essência de dignidade moral, acredita num 
agir ético do ser humano. 
Divergindo-se de Tönnies, Simmel se opõe a ideia de absolutos na natureza humana, 
opta por absolutos relativos. Entende que conflito, dominação e tensão elucidam formas 
de interação social. Em contraponto com Weber, ele consegue enxergar possibilidade de 
um reencantamento do mundo moderno. Que são indicados pelos conceitos de círculos 
sócias e vivências, capazes de processar o enriquecimento subjetivo frente a um mundo 
objetificado. 
Diante de tais argumentos, com estudos que levaram a diferentes olhares sociológicos 
acerca da modernidade, é valido a reflexão sobre nossa atualidade. Em qual corrente de 
pensamento pode nos guiar, diante de modificações tão repentinas no mundo moderno? 
Com o advento da tecnologia onde podemos considerar que em cinquenta anos o mundo11 
 
se tornou outro, as relações sociais e interpessoais vêm sofrendo drásticas mudanças. A 
sociedade atual está encantada ou desencantada do mundo? 
Levantamos essas questões com intuito de reflexão, salientamos que provavelmente não 
existam respostas corretas a essas perguntas, cabe a cada individuo fazer uma analise de 
sua realidade para considerar o que encara mais plausível, de acordo com seu 
entendimento. 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
MIRANDA, Orlando (Org.). Para Ler Ferdinand Tönnies. São Paulo: Edusp, 1995. 
LEVINE, Donald N. Visões da tradição sociológica. Tradução, Álvaro Cabral: 
consultoria Renato Lessa. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997. 
WAIZBORT, Leopoldo. As aventuras de Georg Simmel. São Paulo: Editora 34, 2000. 
SOUZA, Jessé. Patologias da modernidade: um diálogo entre Habermas e Weber. 
São Paulo: Editora Annablume, 1997. 
BRAND, Arenari. O pensamento de Ferdinand Tönnies na tradição sociológica 
alemã: um primeiro ensaio. XI Congresso Brasileiro de Sociologia. Sociólogos do 
Futuro. Campinas, 2003. 
RIBEIRO, Adélia M. Miglievich & BRAND, Arenari. A modernidade sob o prisma 
da tragédia: um ensaio sobre a singularidade da tradição alemã. Revista de 
Ciências Humanas, Florianópolis, n. 35, p.57-77, abril de 2004.