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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS CCSA – Centro de Ciências Sociais Aplicadas DPCS – Departamento de Política e Ciências Sociais Curso de Graduação em Ciências Sociais Tamires Clei Nunes Politica IV: Modelos de democracia – Arend Lijphart Montes Claros Fevereiro de 2018 DEMOCRACIA MAJORITÁRIA X DEMOCRACIA DE CONSENSO CAPITULO 1 – INTRODUÇÃO: Logo de inicio, na pagina 17, Lijphart tenta definir os dois modelos de democracia trabalhados ao longo da obra. O contraste entre o modelo majoritário e o consensual surge a partir da definição mais básica e literal de democracia: governo pelo povo ou, no caso da democracia representativa, governo pelos representantes do povo – e, também, a partir da famosa frase de Abraham Lincoln segundo a qual democracia significa governo, não apenas pelo povo, mas também para o povo -, ou seja: governo de acordo com a preferencia popular. Para melhor evidenciar os contrates entre os modelos, vamos organiza-los na seguintes tabelas: AS CINCO DIFERENÇAS NA DIMENSÃO EXECUTIVOS-PARTIDOS MAJORITÁRIA CONSENSUAL Concentração de poder executivo em gabinetes monopartidários de maioria. Distribuição de poder executivo em amplas coalizões multipartidárias. Relações entre executivo e legislativo em que o executivo é dominante. Relações equilibradas entre ambos os poderes. Sistemas bipartidários. Sistemas multipartidários. Sistemas eleitorais majoritários e desproporcionais. Representação proporcional. Sistemas de grupos de interesses pluralistas, com livre concorrência entre grupos. Sistemas coordenados e “corporativistas” visando ao compromisso e à concertação. AS CINCO DIFERENÇAS NA DIMENSÃO FEDERAL - UNITÁRIA MAJORITÁRIA CONSENSUAL Governo unitário. Governo federal e descentralizado. Concentração de poder legislativo numa legislatura unicameral. Divisão do poder legislativo entre duas casas igualmente fortes, porem diferentemente constituídas. Constituições flexíveis, que podem receber emendas por simples maioria. Constituições rígidas, que só podem ser modificadas por maiorias extraordinárias. Sistemas em que as legislaturas têm a palavra final sobre a constitucionalidade da legislação. Sistemas nos quais as leis estão sujeitas à revisão judicial de sua constitucionalidade, por uma corte suprema ou constitucional. Bancos centrais dependentes do executivo. Bancos centrais independentes. Ao longo de sua obra “Modelos de democracia”, Arend Lijphart apresenta vários dados obtidos de estudos de diversos pesquisadores sobre as diferentes formas de democracia em 36 países e a suas eficácias de acordo com os cruzamentos dos dados levantados. Ao fim do capitulo 16 intitulado A qualidade da democracia e uma democracia “mais generosa e benevolente”: A democracia de consenso faz a diferença, a partir da página 325, Lijphart apresenta as hipóteses de John Stuart Mill, da qual levanta duas variáveis que medem a qualidade da democracia, afirmando “de que a regra majoritária é a exigência mais fundamental da democracia, e que combinação de eleições por maioria simples ou maioria absoluta com governo parlamentarista pode levar ao governo de minoria.” Na página seguinte (326) Mill afirma que a melhor solução é usar a representação proporcional para a eleição de legislatura, e obviamente ele está persuadido de que, sob um sistema perfeitamente proporcional, não pode ocorrer o problema do controle da maioria. Seu argumento significa, ainda, que as democracias de consenso, que frequentemente empregam a RP e que, além disso, costumam ter gabinetes de coalizão mais inclusivos, têm uma inclinação maior do que as democracias majoritárias para praticar a verdadeira regra da maioria. Duas medidas podem ser tomadas para testar esta hipótese, derivada de Mill. Uma é o apoio popular ao gabinete: a percentagem média dos eleitores que dão seu voto ao partido ou aos partidos que formaram o gabinete ou, nos sistemas presidencialistas, a percentagem dos eleitores que votaram no candidato presidencial vitorioso, ponderado pelo tempo em que cada gabinete ou presidente permaneceu no cargo. A segunda medida pode ser chamada de Critério de John Stuart Mill: a percentagem de tempo em que foi cumprido o requisito da regra da maioria – o requisito de que o gabinete, ou o presidente, seja apoiado por maiorias populares. Ambas as medidas podem ser calculadas para o período inteiro de 1945-96, para todas as democracias, exceto Papua-Nova Guiné, devido ao grande número de independentes eleitos para sua legislatura e frequentemente participando de seus gabinetes. Após mostrar as percentagens das médias onde há apoio popular ao gabinete, as mais altas foram na Suíça e a mais baixa na Espanha, o critério de Mill sempre foi satisfeito em países específicos, mas outros estudos comprovaram que as correlações eram fracas para sustentar sua hipótese. Portanto, a evidencia não confere um apoio maior a linha de pensamento de Mill por três motivos: O primeiro é que as menores democracias majoritárias têm alto apoio popular ao gabinete, em consequência de seu sistema bipartidário quase puro, no qual o partido vitorioso usualmente também ganha a maioria popular ou, pelo menos, uma forte maioria simples. O segundo motivo é que os sistemas presidencialistas se situam na metade majoritária do espectro, mas costumam sair-se bem ao garantir apoio popular para o executivo: a competição costuma ser entre dois fortes candidatos presidencialistas, e o apoio da maioria é assegurado – ou talvez, falando de forma mais realista, planejado – quando o método de dois turnos é empregado. O terceiro é que as democracias de consenso com gabinetes minoritários frequentes, em especial nos países escandinavos, têm um apoio popular ao gabinete baixo. Ainda há uma grande diferença, é claro entre os gabinetes que têm apenas o apoio popular minoritário, mas também status minoritário na legislatura e os gabinetes com apoio popular minoritário no Parlamento. A falta de apoio popular é nitidamente mais séria no ultimo caso. Além disso, o apoio popular ao gabinete baseia-se na votação de fato, e não leva em consideração o voto estratégico, ou seja, a tendência de votar num partido não por ele encarnar a preferencia real dos eleitores, mas porque parece ter mais possibilidade de vencer. Por isso, se o apoio popular ao gabinete pudesse ser calculado com base nas sinceras preferencias dos eleitores, em vez de sua votação de fato, as democracias de consenso se sairiam muito melhor com esse indicador de qualidade de democracia. A conclusão geral é que as democracias de consenso têm um melhor resultado que as democracias majoritárias, em todas as medidas de qualidade da democracia na tabela 16.1; que todas – exceto duas - são estatisticamente significativas. É importante ressaltar no último tópico do capitulo 16, Lijphart destaca que é possível pensar a democracia de consenso como o modelo mais feminino de democracia, e a majoritária, como o modelo mais masculino. Dentre a democracia de consenso há quatro áreas de atividade governamental em que há a probabilidade de se manifestarem as características d generosidade e benevolência: o bem estar social, a proteção ao meio ambiente, a justiça criminal e a ajuda externa. Levantando a hipótese de que a democracia de consenso seja associada com melhores, mais generosas e benevolentes politicas governamentais. A conclusão final é que a democracia de consenso faz a diferença, na dimensão executivos – partidários, e faz uma grande diferença em relação a quase todos os indicadores da qualidade democrática, e com relação a todas as qualidadesde generosidade e benevolência. Além disso, quando se introduzem os controles apropriados, a diferença positiva que a democracia de consenso faz se torna, geralmente, ainda mais impressionante. BIBLIOGRAFIA: LIJPHART, Arend. Modelos de Democracia, 2003, p. 9-23; 309-335.
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