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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA 
 
 
 
 
 
 
FELIPE PEREIRA LINHARES 
Nº USP 11285569 
 
 
 
 
 
TRABALHO FINAL 
No Brasil, partidos importam? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2020 
No Brasil, partidos importam? 
 
Na história política do Brasil, partidos das mais diferentes posições no espectro político foram 
criados, extintos ou fundidos. O PCB (Partido Comunista Brasileiro), por exemplo, diversas 
vezes esteve na ilegalidade, assim como outras agremiações que também foram jogadas à 
clandestinidade nas ditaduras de Vargas e na militar de 1964. Entretanto, pode-se dizer que, 
desde que surgiu o primeiro, nunca mais o país ficou sem um partido político. 
A lei que regulamenta o artigo 17 da Constituição de 1988, descreve partido político como 
pessoa jurídica de direito privado destinado a assegurar, no interesse do regime democrático, a 
autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na 
Constituição Federal1. 
Como apontam Freitas e Guarnieri (2018), o sistema político brasileiro é organizado, 
constitucionalmente, sob um regime presidencialista multipartidário, em que ocorrem tanto 
eleições majoritárias (para cargos do poder executivo, nas três esferas, e para o Senado), quanto 
eleições proporcionais de lista aberta (para os cargos de deputados federais, estaduais, distritais 
e vereadores). 
Conforme Amaral (2013), é por meio dos partidos políticos que a democracia se estrutura e a 
competição política se organiza. Apresentando-se muito mais robustos com relação ao 
legislativo do que a cargos do executivo, inclusive Freitas e Guarnieri (2018) levantam a 
hipótese de os partidos serem fortes no Legislativo, mas fracos na arena eleitoral. 
E é sobre essa fraqueza que Samuels e Shugart (2010, apud Amaral, 2013, p. 21) tratam, ao 
sugerirem que o fato do presidente da República ser eleito em uma eleição direta, e que sua 
manutenção no poder não depender diretamente do Parlamento, faz dos partidos políticos 
menos capazes de controlarem suas lideranças, que adquirem autonomia em relação à base 
partidária. Os autores ainda apontam que a distinção na lógica eleitoral para Executivo e 
Legislativo abre espaço para conflitos intrapartidários, entre lideranças partidárias e postulantes 
de diferentes cargos. 
 
1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9096.htm 
Os estudos de Amaral (2013) descrevem uma tendência do declínio de partidos de massa, que 
passam a atuar segundo os modelos catch-all e/ou partidos cartéis, de acordo com as teorias 
propostas respectivamente por Otto Kirchheimer em 1966 e Katz e Mair (1995). Inclusive no 
Brasil, onde praticamente apenas o Partido dos Trabalhadores (PT) pode ser considerado um 
partido de massa na sua criação, talvez porque as demais organizações partidárias brasileiras 
quase sempre estiveram relacionadas às elites políticas do país e ao próprio Estado, tornando-
as de fraco enraizamento social. 
Essa fraqueza partidária ainda é apontada como fruto de diversos outros fatores. Nicolau (2017), 
por exemplo, traz à tona alguns percalços enfrentados pelos partidos brasileiros. Entre eles 
destaca o quociente eleitoral, que em muitos casos acaba eliminando votos de partidos que não 
atingem o número mínimo, além de serem impedidos de disputar as sobras de cadeiras. O autor 
ressalta que “quanto menos cadeiras tem o estado, mais difícil é para o partido (em termos 
proporcionais) conquistar uma cadeira”. 
A dificuldade na obtenção de cadeiras nas eleições legislativas e a rigidez do quociente eleitoral 
faz com que os partidos busquem coligações, pois, de acordo com NICOLAU (2017), “coligar-
se aumenta as chances de um partido ultrapassar a barreira do quociente eleitoral”. Neste caso, 
candidatos com poucos votos de um partido, acabam eleitos pelos votos excedentes ao 
quociente de puxadores de outros partidos. Todavia, os estudos de Jairo Nicolau demonstram 
que esta forma de concorrer pode acabar enfraquecendo partidos maiores, que veem sua 
representação desidratada em favor da fragmentação nos parlamentos com partidos menores 
ocupando cadeiras mesmo com votos próprios insuficientes. 
Além destas duas questões, Nicolau (2017) ainda incluiu a questão das eleições proporcionais 
de lista aberta para cargos legislativos, que fazem a disputa ter mais valor individual do que 
partidário, uma vez que os candidatos do mesmo partido disputam entre si pelos mesmos votos, 
buscando chegar na frente e conseguir uma das cadeiras. Nessa corrida personalista, os estudos 
indicam que o partido do candidato importa pouco. 
O instituto de pesquisas Datafolha fez em abril de 2019 seu levantamento mais atual sobre a 
preferência partidária dos eleitores brasileiros. De acordo com a pesquisa2, 65% dos 
entrevistados não se identificam com nenhum partido específico; daqueles cidadãos que 
 
2 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/04/65-dos-brasileiros-nao-se-identificam-com-partidos-diz-
pesquisa-datafolha.shtml 
possuem um partido pelo qual se sentem representados, a maior parte (14%) aponta o PT e o 
restante cita vários outros partidos, que acumulam preferência de no máximo 3%, daí podemos 
inferir um dos motivos para a alta fragmentação partidária no Congresso Nacional e 
parlamentos estaduais, distrital e municipais. 
Nicolau (2017) sugere 6 motivações principais, além da preferência partidária, para a escolha 
de candidatos pelos eleitores, que não são excludentes, ou seja, um eleitor pode escolher o seu 
deputado por conta de mais de um motivo, a saber: atributos pessoais, representação territorial, 
ligação por pertencimento as mesmas instituições sociais, proximidade pela ideologia, defesa 
dos interesses de grupos específicos e motivação em benefícios pessoais. O autor traz ainda o 
resultados da Eseb (Estudo Eleitoral Brasileiro) de 2014, mostrando que o voto para deputado 
além de não ser majoritariamente vinculado à partidos, ainda é, em sua maioria, incongruente 
com o voto para presidente da República, portanto, não centralizado em apenas um partido. 
Dentro desse cenário de personalismo, nos últimos anos vem surgindo uma onda diferente de 
negação à partidos políticos, que são as figuras outsiders, que disputam eleições apresentando-
se como de fora da política, nem de esquerda e nem de direita, criticando o jogo político 
tradicional, mas participando dele em todos os sentidos. Além disso, surgiram também os 
chamados “movimentos de renovação política”, como Acredito, Raps, RenovaBR, Agora, 
Livres e Ocupa Política, que organizados institucionalmente como escolas de formação ou 
coletivos de atuação política, buscam criar bancadas suprapartidárias nos parlamentos, ligadas 
aos valores e ideologias destas instituições de origem e não dos partidos aos quais estão filiados. 
Já no que tange ao financiamento eleitoral e partidário no país, também se observa uma maior 
vinculação ao Estado do que um interesse da sociedade em contribuir financeiramente. Speck 
(2015, p. 254) ressalta que, “do ponto de vista dos doadores (pessoas físicas e empresas) 
percebemos serem poucos em relação ao universo total, e dentre os poucos a concentração 
continua grande”. A maior parte dos recursos para financiamentos dos partidos e das eleições 
são provenientes de dinheiro público, via Fundo Partidário e Fundo Especial de Financiamento 
de Campanha, principalmente após a entrada em vigor da legislação que proíbe a doação de 
recursos por empresa, que mesmo antes doando quantias vultuosas, era direcionada a candidatos 
ou partidos bem específicos, com grandes chances de vencer as disputas, baseando-se em 
interesses futuros, não em fortalecer a representatividade partidária. 
Todas essas questões elencadas, pontos variados discutidos por diferentes autores, podem 
suscitar conclusões de que os partidos políticos no Brasilestão cada vez mais fragilizados, em 
processo de definhamento, no qual não possuem mais importância. Mas não é bem assim. Os 
próprios autores citados, que levantam fraquezas do sistema partidário, estabelecem também 
virtudes que podem ser somadas e ajudar numa conclusão mais categórica sobre a importância 
partidária. 
O primeiro ponto é que, claramente, os partidos possuem força no Legislativo. Freitas e 
Guarnieri (2018) destacam a capilaridade do sistema em manter e/ou obter novos filiados 
mesmo com a demonstrada falta de preferência da população. Bem como o traquejo 
coordenativo de conseguir arranjos que mantenham a centralidade de posicionamento nas 
pautas em debates e maioria para decisões que fogem do interesse do Executivo, exemplificado 
pelos processos de impedimentos presidenciais e de governadores de estados. Este poder dos 
partidos se solidifica ainda mais após a lei3 que os definem como verdadeiros detentores dos 
mandatos de deputados e vereadores, os quais até conseguem alguma liberdade para a troca de 
legenda mantendo a cadeira, mas apenas no curto período da janela partidária. 
Porém, a força não está apenas no Legislativo, mas também na arena eleitoral, manifestando-
se na coordenação e capacidade estrutural de lançar candidaturas nas milhares de cidades 
brasileiras e, sobretudo, em sua própria importância de ser o vetor obrigatório para participação 
de qualquer candidato, seja ao Legislativo ou Executivo, nas eleições do Brasil. Isto posto, 
mesmo os outsiders e os candidatos “pós-políticos” dos movimentos de renovação, que 
renegam o sistema partidário e o que chamam de velha política, precisam de toda a estrutura de 
um partido (filiação antecipada, número de urna, verba de financiamento de campanha e espaço 
no horário eleitoral gratuito) para que consiga seu objetivo de ser eleito. 
Sobre o financiamento, o modelo atual em que a União envia os recursos partidários e eleitorais 
diretamente aos partidos e estes administram da forma deliberada pelas lideranças internas, 
devendo apenas prestar contas posteriormente ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é mais um 
dos fatores que fortalecem a estrutura estabelecida. 
Os recursos do Fundo Partidários são alocados aos diretórios nacionais dos partidos. 
Estes, por sua vez, podem passar parte dos valores aos diretórios subnacionais. Os 
partidos devem estabelecer regras para a distribuição de recursos entre os diferentes 
diretórios subnacionais. Mas essa fórmula de alocação dos recursos ao diretório 
 
3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13165.htm 
nacional fortalece a instancia nacional dos partidos e contribui para a centralização 
interna do poder. (SPECK, 2015, p. 252). 
Nos últimos anos algumas medidas foram tomadas tanto pelos legisladores, quanto pelos 
próprios partidos, para fortalecer o sistema, diminuindo a grande fragmentação partidária. A 
principal delas é a emenda constitucional4, que acaba com a possibilidade de coligações em 
eleições proporcionais a partir de 2020 e institui a cláusula de barreira progressiva, começando 
em 1,5% em 2018, que restringe acesso à estruturas partidárias nos parlamentos, fundo 
partidário e à propaganda gratuita no rádio e na televisão. 
Estas mudanças, bem como o rígido quociente eleitoral existente, contribuíram para que alguns 
pequenos e médios partidos já tenham recorrido a processo de fusão, que cria uma agremiação 
mais sólida e diminui a quantidade das chamadas “legendas de aluguel” ou partidos fisiológicos, 
que só existiam para entrar em coligações (e disponibilizar o tempo de propaganda nas chapas 
majoritárias) em troca de cargos e favores. Nas palavras de Borges (2019, p. 29), “é de se 
esperar que haja uma tendência de estabilização do quadro partidário, impondo um freio à 
fragmentação”. 
Em vista do exposto, é possível concluir que, na realidade brasileira, as agremiações políticas 
pouco importam aos cidadãos comuns, conforme já era esperado pela análise do perfil de votos 
realizada por diversos instituições e autores; contudo, os partidos estruturados e atuantes 
importam e ainda são tratados como imprescindíveis para o modelo de sistema representativo 
da democracia proposta pela Constituição Federal de 1988. 
 
 
 
 
 
 
 
4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc97.htm 
Referências Bibliográficas 
AMARAL, Oswaldo E. do. O que sabemos sobre a organização dos partidos políticos: uma 
avaliação de 100 anos de literatura. Revista Debates, Porto Alegre, v.7, n.2, p.11-32, maio - 
ago. 2013. 
BORGES, André. Razões da Fragmentação: Coligações e Estratégias Partidárias na Presença 
de Eleições Majoritárias e Proporcionais Simultâneas. Dados. 2019, vol.62, n.3. 
FREITAS, Andrea & GUARNIERI, Fernando. Neoinstitucionalismo na pós-Constituição de 
1988 e as duas visões sobre os partidos políticos no Brasil. In: Hollanda, C.B. Veiga, L.F. e 
Amaral, O. (orgs). A constituição de 88: Trinta anos depois. Curitiba, Editora UFPR, 2018. 
NICOLAU, Jairo. Representantes de quem? Os (des)caminhos do seu voto da urna à Câmara 
dos Deputados. Zahar, 2017. 
SPECK, Bruno Wilhelm. Recursos, partidos e eleições: o papel do financiamento privado, do 
Fundo Partidário e do horário gratuito na competição política no Brasil. In: Lúcia Avelar, 
Antônio Octavio Cintra (org.). Sistema político brasileiro: uma introdução. 3ª edição. São 
Paulo, Editora UNESP, 2015.

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