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nha às duas teses sobre salários então dominantes, tanto nos círculos profissionais dos economistas quanto nos meios sindicais: a tese da lei de “ferro” ou de “bronze”, defendida por Lassalle, segundo a qual os salários deviam cair, de maneira inexorável, ao nível mínimo de sub- sistência física dos trabalhadores; e a tese do “fundo de salários” de- fendida por John Stuart Mill, segundo a qual, em cada situação dada, existe um fundo pré-fixado para os salários, sendo inútil tentar alterá-lo e obter maiores salários reais por meio do aumento dos salários no- minais. A história econômica desmentiu as formulações de Lassalle e de Stuart Mill e confirmou a de Marx, que chegou a intuir a elevação dos salários reais como tendência possível no capitalismo. De fato, nos países capitalistas desenvolvidos, a tendência secular tem sido a de elevação dos salários reais e, sob este ponto de vista estrito, não se pode falar em pauperização absoluta da classe operária, mas só relativa. Contudo, a elevação dos salários reais, embora tornada predominante pela luta de classes dos operários e pelo desenvolvimento das forças produtivas, não deixa de ser muito irregular, na medida em que a dinâmica dos salários depende do movimento da acumulação do capital e não o contrário. Em segundo lugar, Marx entendia a questão da acentuação da miséria dos trabalhadores numa perspectiva abrangente, que não se referia tão-somente aos operários regularmente empregados e aos seus salários reais, porém também devia incluir o que chamou de “tormentos do trabalho”, bem como as condições de existência da massa crescente de operários desempregados, cujos tormentos decorriam, não do tra- balho na empresa capitalista, porém da falta dele. Falta temporária, para o exército industrial de reserva, e falta permanente, para a su- perpopulação consolidada (aquela parte dos trabalhadores já sem pers- pectiva de ocupação regular). Assim, por outro lado, seja pelo processo espontâneo de desen- volvimento das forças produtivas, seja sobretudo por efeito da luta de classes, os trabalhadores conseguem incorporar ao seu padrão de vida a satisfação de novas necessidades. Já no seu tempo, Marx observava que a compra de um jornal diário fazia parte do valor da força de trabalho do operário inglês. O mesmo cabe ser dito, hoje, com relação ao aparelho de televisão, no caso do operário brasileiro. Por isso mesmo, podem vir a elevar-se os salários reais — medidos em termos de ca- pacidade aquisitiva de valores de uso — e o padrão de vida dos ope- rários, sem que daí resulte necessariamente o aumento do salário em termos de valor (medido em horas de trabalho necessárias à sua re- produção). Como é evidente, se a elevação da produtividade social do trabalho tiver provocado a queda do valor dos bens-salário em certa proporção, torna-se possível a elevação dos salários reais sem elevação qualquer ou sem elevação igualmente proporcional do valor do próprio salário. Mais ainda: os salários reais podem elevar-se e continuar abaixo MARX 43
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