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Zoologia dos Invertebrados Asquelmintos e Filo Mollusca Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profª Ms. Adriana Maria Giorgi Barsotti Revisão Textual: Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco 5 Nesta Unidade discorreremos brevemente sobre os vermes cilíndricos, conhecidos também como asquelmintos e sobre os moluscos, como polvos, lulas, caramujos e mexilhões. Leia com atenção o material teórico, se necessário faça resumos ou esquemas como auxílio em seu aprendizado e memorização do conteúdo abordado. Pesquise outras fontes além das indicadas. Assista aos vídeos sugeridos e procure relacioná-los com seus estudos. O objetivo desta unidade é compreender alguns aspectos fisiológicos e ecológicos desses dois táxons, bem como sua classificação. Compreender as doenças causadas pelos asquelmintos, esses que igualmente aos platelmintos, possuem importância médica e veterinária. Asquelmintos e Filo Mollusca · Introdução · Filo Mollusca · Classificação do Filo Mollusca 6 Unidade: Asquelmintos e Filo Mollusca Contextualização Os filos que compreendem os asquelmintos possuem certas similaridades e anteriormente foram classificados como Filo Aschelmintes. Entretanto, possuem grandes diferenças em suas relações filogenéticas e por isso mais recentemente passaram a ser tratados como filos separados. O Filo de maior importância é o Nematoda, pois suas espécies podem ter impacto sobre o homem e seus animais de estimação, devido à ocorrência de graves doenças. O desenvolvimento de um celoma foi o principal passo na evolução de formas mais complexas, e os moluscos foram um dos primeiros animais a apresentarem essa característica. Atualmente, o Filo Mollusca possui cerca de cinquenta mil espécies vivas, é um táxon diverso, incluindo formas conhecidas como lulas, polvos, mexilhões e caramujos. O grupo varia de formas mais simples até organismos com as formas mais complexas entre os invertebrados. 7 Introdução O nome asquelmintos é um termo conveniente e que engloba nove filos, os quais possuem animais marinhos e de água doce, sendo a maioria de vida livre, variando de um tamanho microscópico de até um centímetro de comprimento. Um celoma bem desenvolvido e um sistema sanguíneo vascular estão ausentes. Muitos grupos possuem cílios que auxiliam na locomoção, entretanto, há grupos que apresentam uma cutícula espessa, e nessas formas a locomoção é praticamente muscular. Os protonefrídeos são órgãos excretores típicos para esse grupo. Esse tamanho pequeno apresentado significa também que o corpo desses animais é composto por um número reduzido de células, no entanto, existem espécies de asquelmintos que possuem um número fixo de células, a mitose cessa após o desenvolvimento embrionário e o crescimento ocorre somente através do aumento no tamanho das células, fenômeno esse conhecido como eutelia. Na região anterior desses animais se encontram a boca e órgãos sensoriais, embora não seja bem formada. Alguns filos apresentam uma cutícula externa, mas em outros essa está ausente. O trato digestório consiste basicamente de um tubo completo, que possui boca e ânus e, na maioria das vezes, há presença de uma região faringiana. Historicamente os asquelmintos foram descritos como animais pseudocelomados, ou seja, possuíam uma cavidade preenchida por fluidos e revestida por um epitélio celômico, que surgiu como uma blastocele embrionária. Entretanto, pesquisas mais recentes demonstraram que muitos asquelmintos não possuíam cavidade corporal, assim como os animais acelomados (Figura 1). No entanto, alguns asquelmintos possuem, de fato, essa cavidade de tecido conjuntivo expandida e preenchida por fluido, sendo essa denominada de pseudocele (Figura 1). Esse fluido pseudocélico funciona como um esqueleto hidrostático e como um meio para o transporte interno. Figura 1 – Plano corpóreo acelomado, pseudocelomado e eucelomado. Fonte: Hickman, Larson e Roberts (2001). A seguir descreveremos brevemente os filos representantes do grupo asquelmintos. » Filo Rotifera: esse nome é derivado da coroa ciliada, característica que, ao bater frequentemente, dá a impressão de rodas girando. Os rotíferos variam de quarenta micrometros a três milímetros de comprimento. Algumas espécies possuem formas bizarras e frequentemente estão associadas com seu modo de vida. Esse táxon possui cerca de 1.800 espécies, que podem habitar ambientes marinhos, de água doce, terrestre ou podem até ser epizoicos. Os rotíferos são adaptados a muitos tipos de condição ecológica. 8 Unidade: Asquelmintos e Filo Mollusca Glossário Espécies espizoicas são aquelas que vivem sobre o corpo de outro animal (HICKMAN; LARSON; ROBERTS, 2004). O corpo de um rotífero (Figuras 2 e 3) é composto por uma cabeça, onde se encontra a coroa ciliada, um tronco e uma cauda posterior, cobertos por uma cutícula. A boca se situa na coroa e os cílios coronais são utilizados tanto na locomoção como na alimentação. O tronco contém os órgãos viscerais e possui antenas sensoriais. Todos os rotíferos apresentam uma camada fibrosa dentro da epiderme, sendo essa bastante espessa em algumas espécies, formando uma lorica envolvente. O pé é mais fino e possui quatro artelhos. É um órgão de adesão e contém glândulas pedais que secretam um material adesivo. A pseudocele é ampla, preenchida por fluido. O sistema digestivo é completo. Os rotíferos se alimentam com auxílio dos cílios. A faringe, denominada de mástax possui uma porção muscular equipada com mandíbulas duras, chamada de trofos, para sucção e trituração das partículas alimentares. Acredita-se que as glândulas salivares e gástricas secretem enzimas para a digestão. A absorção ocorre no estômago. O sistema excretor consiste em um par de túbulos protonefridiais com células-flama que se ligam a uma bexiga, a qual se esvazia em uma cloaca, onde os intestinos e ovidutos também se abrem. Os protonefrídeos ainda participam da osmorregulação. O sistema nervoso consiste em um cérebro bilobado que envia nervos pares aos órgãos dos sentidos, mástax, músculos e vísceras. Os órgãos sensoriais incluem ocelos, cerdas e papilas sensoriais, poros ciliados e uma antena dorsal. Figura 3 – Fotomicrografia de um rotífero de água doce. Fonte: <http://www.sciencephoto.com>. Figura 2 – Estrutura do rotífero Philodina. Fonte: Hickman, Larson e Roberts (2001). 9 Os rotíferos são dioicos, ou as fêmeas são partenogenéticas (Figura 4) e apresentam dimorfia sexual – os machos geralmente são menores que as fêmeas. De forma geral, o sistema reprodutivo das fêmeas possui dois ovários localizados no pseudoceloma e desembocam na cloaca ou em um poro genital, caso não possua intestino. Os machos apresentam testículo ligado a um duto espermático terminando em um órgão copulatório. Observe a seguinte Figura, a qual esquematiza de forma simples a reprodução partenogenética que ocorre em algumas espécies de rotíferos: Figura 4 – Esquema da reprodução partenogenética. Fonte: Hickman, Larson e Roberts (2001). Glossário Partenogênese é um tipo de reprodução assexuada onde um ovo não fecundado origina um novo indivíduo. Explore Saiba um pouco mais sobre os rotíferos em: http://ecologia.ib.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=167&Itemid=469 http://ecologia.ib.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=167&Itemid=469 10 Unidade: Asquelmintos e Filo Mollusca » Filo Gastrotricha: este filo inclui animais pequenos, medindo cerca de 65 a 500 micrômetros (Figura 5). São achatados ventralmente e arqueados dorsalmente, não possuem coroa nem mástax como os rotíferos. Possuem um corpo cerdoso ou escamoso. As células na superfície ventral podem ser dotadas de cílios. A cabeça é lobulada e ciliada. O sistema digestivo é completo, sendo composto por boca, faringe, um estômago-intestino e um ânus. A digestão perece ser extracelular. Os protonefrídeos possuem solenócitos em vez de células-flama. O sistemanervoso inclui um cérebro e um par de troncos nervosos laterais. As estruturas sensoriais se assemelham às dos rotíferos, exceto pelos ocoelos, que geralmente estão ausentes. A reprodução ocorre por partenogênese em algumas espécies e outras são hermafroditas. Figura 5 – Representante de gastrótricos. Fonte: <http://www.sciencephoto.com>. » Filo Nematoda: seus integrantes são popularmente chamados de vermes redondos. Esse Filo o maior número de representantes, cerca de doze mil espécies descritas. Os nematódeos de vida livre são encontrados no mar, na água doce ou solo. Aparecem seja em regiões polares até os trópicos em todos os tipos de ambientes, incluindo desertos. Os nematódeos também parasitam virtualmente todos os tipos de animais e muitos tipos de plantas. 11 Possuem forma cilíndrica com as extremidades afiladas (Figura 6), cutícula flexível, ausência de cílios, flagelos e protonefrídeos. Seu sistema excretor consiste em uma ou mais células glandulares que se abrem por um poro excretor. A faringe dos nematódeos é muscular. O uso da pseudocele como um órgão hidrostático é bem desenvolvido nesse grupo. A superfície corporal externa é espessa com uma cutícula acelular secretada pela hipoderme, a qual possui núcleos localizados em cordões hipodérmicos. Esses cordões possuem nervos longitudinais e os cordões laterais possuem os canais excretores. A cutícula, composta por colágeno, serve para conter a grande pressão hidrostática gerada pela pseudocele. Os músculos se contraem apenas longitudinalmente, dado que não há presença de músculos circulares. O tubo digestivo (Figura 6) dos nematódeos possui uma boca, uma faringe muscular, intestino não muscular, um reto e um ânus. A defecação é realizada por músculos que mantêm o ânus aberto e sua força de expulsão é fornecida pela alta pressão pseudocelomática que envolve o intestino. Os nematódeos não apresentam nenhum sistema complexo para trocas gasosas e circulação, essas funções são realizadas por difusão e pelo fluido da cavidade corporal. Seu sistema excretor é formado por uma ou duas células renete que se conectam diretamente a um poro excretor ventral. Esse arranjo também é único entre os metazoários. O sistema nervoso (Figura 6) é composto por um anel nervoso circunfaringial e vários glânglios associados, os quais se conectam aos nervos longitudinais, esses que passarão por dentro dos cordões epidérmicos. Possuem órgãos dos sentidos que constituem-se de papilas e cerdas táteis, além de dois órgãos quimiorreceptores, os anfídeos e os fasmídeos. A maioria dos nematódeos é dioica (Figura 6), os machos são menores que as fêmeas e suas extremidades posteriores possuem um par de espículas copulatórias. A fertilização é interna e os ovos são armazenados no útero até a postura. Figura 6 – A) Nematódeos fêmeas em vista lateral e cortes transversais (C, D); B) Nematódeo macho em vista lateral. Fonte: Ruppert, Fox e Barnes (2005). Muitos vertebrados e invertebrados são parasitados por nematódeos. A seguir descreveremos brevemente algumas doenças causadas por esses animais, entretanto, é importante você se aprofundar nesse assunto: 12 Unidade: Asquelmintos e Filo Mollusca » Ascaris lumbricoides: causador da doença popularmente conhecida como ascaridíase (Figura 7), sendo o parasita mais comum encontrado no homem. Uma fêmea dessa espécie pode botar até duzentos mil ovos por dia, transmitidos através das fezes do hospedeiro. Esses ovos têm uma tolerância a condições adversas, como falta de oxigênio e dessecação; A infecção ocorre normalmente quando os ovos são ingeridos com vegetais crus, ou quando crianças colocam seus dedos ou brinquedos sujos de terra na boca. Os hábitos de defecação anti-higiênicos fazem com que ovos viáveis permaneçam no solo por muitos meses. Quando o hospedeiro ingere os ovos, jovens eclodem perfurando a parede intestinal, atingindo veias ou vasos linfáticos e sendo levados para os pulmões. Nos pulmões, arrombam os alvéolos e são levados para a traqueia. Quando alcançam a faringe, os jovens são engolidos, passam pelo estômago e amadurecem dois meses após a ingestão dos ovos. Figura 7 – Ciclo da doença ascaridíase lumbricoide. Fonte: slideplayer.com.br » Wuchereria bancrofti: causador da doença popularmente conhecida como elefantíase (Figura 8). Os vermes vivem no sistema linfático. As fêmeas liberam microfilárias jovens no sangue e no sistema linfático. Quando se alimentam, os mosquitos ingerem as microfilárias e essas se desenvolvem nos mosquitos até atingirem a fase infecciosa. Contaminam então outro hospedeiro através da picada do mosquito contaminado. As manifestações dramáticas de elefantíase ocasionalmente são produzidas depois de uma longa e repetida exposição aos vermes. A condição é marcada por um crescimento excessivo de tecido conjuntivo junto com inchaço das partes afetadas (Figura 9). 13 Figura 8 – Ciclo da doença elefantíase. Fonte: Wikimedia Commons Figura 9 – Perna afetada por um crescimento excessivo de tecido conjuntivo, elefantíase de perna. Fonte: Wikimedia Commons Explore Consulte os livros citados nas referências bibliográficas desta Unidade. Desse modo, poderá se aprofundar na diversidade de formas e funções fisiológicas, além de doenças importantes sob o ponto de vista médico e veterinário. 14 Unidade: Asquelmintos e Filo Mollusca Filo Mollusca Os membros desse filo incluem formas como ostras, lulas, polvos e caramujos. Depois dos artrópodes, esse é o maior filo encontrado, com cerca de cinquenta mil espécies vivas. Apesar de mostrarem grande diversidade de formas, os moluscos são construídos no mesmo plano fundamental (Figura 10). O plano corporal dos moluscos consiste em uma porção cefalopediosa, contendo órgãos de alimentação, sensoriais cefálicos e de locomoção, além de uma massa visceral, a qual contém os órgãos dos sistemas digestivo, circulatório, respiratório e reprodutivo. A partir da epiderme duas pregas se projetam, formando o manto protetor ou pálio, o qual circunda um espaço entre o manto e a parede do corpo, sendo denominado de cavidade do manto, que abriga as brânquias (ctenídeos) ou um pulmão. Em algumas espécies de moluscos o manto secreta uma concha protetora sobre a massa visceral, composta por carbonato de cálcio (CaCO3) e uma substância orgânica denominada de conchiolina. Algumas espécies apresentam cromatóforos na epiderme. Glossário Cromatóforos são células responsáveis pela mudança de cor do corpo. Explore Leia mais sobre a formação e a função das conchas em: http://www.planetainvertebrados.com.br/index.asp?pagina=artigos_ver&id=75 A cabeça tem uma boca, a qual possui em seu interior uma estrutura denominada rádula, um órgão linguiforme raspador e protrátil. A rádula consiste de uma membrana com fileiras de dentes diminutos fixadas, flexionados em direção posterior (Figura 11) e está estendida sobre o odontóforo. A rádula tem dupla função: raspar, arrancando finas partículas de superfícies mais rígidas e que servem como uma esteira condutora para o transporte de partículas em direção ao trato digestivo. Além da boca, na cabeça estão presentes órgãos sensoriais, como fotorreceptores e tentáculos. Figura 10 – Molusco generalizado, vista lateral. Fonte: Ruppert, Fox e Barnes (2005). http://www.planetainvertebrados.com.br/index.asp?pagina=artigos_ver&id=75 15 Figura 11 – Seção longitudinal da rádula. Fonte: Hickman, Larson e Roberts (2001). O pé do molusco está adaptado para fixação a um substrato ou uma combinação de funções. É uma estrutura em forma de sola, na qual ondas de contração muscular promovem uma locomoção por rastejamento. O muco secretado é utilizado para auxiliar a adesão ou como uma esteira viscosa. As trocas gasosas ocorrem através do manto e de órgãos especializados, como os ctenídeos, brânquias e pulmão. A circulação ocorre por meio de um sistema circulatório aberto, o qual possui um coração propulsor,vasos e seios sanguíneos. O coração dorsal é envolto pelo pericárdio e apresenta duas ou três câmaras – um par de aurículas e um ventrículo. Nos cefalópodes há ainda os corações branquiais. Esses são vasos dilatados que bombeiam o sangue para as brânquias e daí ao coração, que o distribui já oxigenado para os tecidos. No sangue da maioria dos moluscos existe como pigmento respiratório, a hemocianina. O sistema digestivo é completo. Algumas espécies filtram nas brânquias algas microscópicas, protozoários e bactérias, e possuem no interior do ceco intestinal um estilete cristalino que secreta enzimas digestivas. Os animais não filtradores utilizam a rádula para raspar superfícies e se alimentar. Há glândulas salivares que se abrem sobre a parede interior da cavidade bucal e secretam muco para lubrificar a rádula e envolver partículas alimentares ingeridas. O alimento envolvido pelo muco passa para o esôfago tubular, do qual se move para o estômago. Do estômago desembocam um par de glândulas digestivas laterais – fígado. A digestão é realizada intracelularmente e na cavidade gástrica. O intestino funciona na formação de pelotas fecais, que são despejadas na cavidade do manto e carreadas pelas correntes exalantes. O sistema nervoso consiste de vários pares de gânglios com cordões nervosos conectivos. É dotado de células neurossecretoras que produzem um hormônio de crescimento e auxiliam na osmorregulação. Há vários tipos de órgãos sensoriais especializados. A maioria dos moluscos é dioica, ou seja, possui sexos separados, porém algumas espécies são hermafroditas. A larva livre-natante do ovo é uma trocófora (Figura 12), a qual se metamorfoseia dando origem a um pequeno juvenil. Outro estágio larval livre-natante é o de véliger. 16 Unidade: Asquelmintos e Filo Mollusca Figura 12 – Larva trocófora generalizada. Fonte: Hickman, Larson e Roberts (2001). Classificação do Filo Mollusca Este filo compreende sete classes, a saber: Bivalvia; Gastropoda; Cephalopoda; Polyplacophora; Scaphopoda; Monoplacophora e Aplacophora, as quais serão brevemente descritas. » Classe Bivalvia: conhecidos como Pelecypoda, ou animais com “pé em forma de machadinha”. Os animais representantes dessa classe são dotados de duas valvas e incluem os mexilhões, ostras, vieiras e teredos. A cabeça dos bivalves não é bem desenvolvida, entretanto, a cavidade do manto é a mais espaçosa entre os demais moluscos. A maioria das espécies é marinha, sedentária e comedora de materiais filtrados, dependendo das correntes ciliares produzidas pelas brânquias para recolher material alimentar. Os bivalves são lateralmente comprimidos e suas valvas são unidas por dois grandes músculos chamados adutores, responsáveis pela abertura e fechamento da concha. Na superfície interna dessas valvas podemos evidenciar as cicatrizes de inserção desses músculos adutores – anterior e posterior –, além dos locais onde se prendem os músculos retratores – anterior e posterior –, responsáveis pelo recolhimento do pé e o protrator que auxilia o estendimento do pé. A parte mais velha da concha é denominada umbo e o crescimento se dá através de linhas concêntricas ao seu redor (Figura 13). 17 Figura 13 – Superfície interna da valva esquerda do marisco marinho Mercenaria. Fonte: seagrant.noaa.gov. Trocando Ideias A produção da pérola é um subproduto de um mecanismo preventivo usado pelos bivalves quando um objeto estranho aloja-se entre a concha e o manto (HICKMAN; LARSON; ROBERTS, 2004). Assim, você sabe como a pérola é formada? As margens posteriores dos lobos do manto estão modificadas para formar uma abertura exalante dorsal, denominada de sifão exalante e uma inalante ventral, denominada de sifão inalante (Figura 14). As trocas gasosas ocorrem através do manto e das brânquias, essas que são modificadas, grandes e laminares para a alimentação por filtração. As brânquias produzem um muco que aglutina as partículas alimentares, as quais são conduzidas através dos cílios das brânquias até a boca do animal. Os bivalves possuem três camadas distintas: a externa, denominada perióstraco, reveste o animal e é formada por material orgânico; a camada mediana, denominada de prismática, que é constituída de prismas calcários; e a camada mais interna, chamada de nacarada, que é constituída de material orgânico e calcário. O sistema nervoso possui três pares de gânglios e um sistema de nervos. Órgãos sensoriais são pobremente desenvolvidos, incluindo um par de estatocistos, um par de osfrádios, células tácteis e, às vezes, células pigmentares no manto. Os bivalves são dioicos, os gametas são eliminados para dentro da câmara suprabranquial e posteriormente arrastados para fora através de uma corrente exalante. Na maioria das espécies a fecundação é externa. O embrião desenvolve-se em trocófora, véliger e estágio juvenil. 18 Unidade: Asquelmintos e Filo Mollusca Figura 14 – Filhotes da espécie Panopea generosa, observe os sifões inalante e exalante. Fonte: seagrant.noaa.gov. » Classe Gastropoda: é a mais diversificada, com cerca de quarenta mil espécies viventes, incluindo caracóis, lesmas, lapas, lebres-do-mar etc. Possui espécies marinhas, de água doce e terrestres (Figuras 15, 16, 17 e 18). Esses moluscos apresentam basicamente simetria bilateral, mas devido à torção, um processo de rotação, a massa visceral é assimétrica. Quando há presença de concha, essa é sempre univalve e pode ou não ser enrolada. O ápice da concha é a parte mais velha e menor e as voltas tornam-se sucessivamente maiores e enrolam-se ao redor do eixo central ou columela (Figura 19). Figuras 15, 16, 17 e 18 – Diversidade de formas dos moluscos gastrópodes. Fonte: iStock / Getty Images. 19 Figura 19 – Corte longitudinal através de uma concha. Fonte: Ruppert, Fox e Barnes (2005). Os gastrópodes conquistaram todos os tipos de hábitats, lagos, florestas, pastagens, musgos, subsolo etc., ou seja, todos os modos de vida foram adotados com sucesso. Esses animais geralmente são sedentários ou vagarosos, pois carregam uma concha pesada. Algumas espécies possuem um opérculo que fecha a abertura da concha quando o corpo é recolhido para o interior. Entre todos os moluscos, apenas os gastrópodes sofrem torção, fenômeno esse que move a cavidade do manto, antes posterior, para frente do corpo, fazendo com que os órgãos e a massa visceral sofram uma rotação de 90º e posteriormente 180º. Algumas espécies sofrem enrolamento, um processo independente da torção. Na verdade, as evidências fósseis indicam que o desenvolvimento de uma concha planispiral – cada volta da concha exatamente em cima da anterior – tenha se desenvolvido anteriormente à torção. Assim como a torção, o enrolamento faz com que os órgãos sejam redistribuídos. Explore Leia nos livros relacionados nas referências bibliográficas mais detalhes sobre esse fenômeno. Os hábitos alimentares dos gastrópodes são variados, podendo ser herbívoros, predadores e carniceiros, entretanto, todos utilizam a rádula, a qual é adaptada para cada tipo de hábito alimentar. A respiração é realizada por um ctenídeo localizado na cavidade do manto, as espécies desprovidas dessa estrutura dependem do manto e epiderme do corpo. As espécies pulmonadas possuem uma área do manto altamente vascularizada e que serve como pulmão, o qual se abre para o exterior por meio do pneumostômio. 20 Unidade: Asquelmintos e Filo Mollusca A maior parte das espécies possuem nefrídio único. Os sistemas circulatório e nervoso são bem desenvolvidos. Órgãos dos sentidos incluem olhos ou fotorreceptores, estatocistos, órgãos tácteis e quimiorreceptores. » Classe Cephalopoda: inclui lulas, polvos, náutilos e sibas. Todos são marinhos e predadores ativos. O pé desses animais é modificado, tendo a forma de um funil para expelir água da cavidade do manto e está localizado na região cefálica. A margem anterior prolonga-se em braços ou tentáculos. As conchas dos nautiloides(Figura 20) foram transformadas para a flutuação, através de câmaras de gás, possibilitando ao animal nadar carregando sua concha. Figura 20 – Nautillus sp. Fonte: J. Baecker/Wikimedia Commons. Os cefalópodes nadam expelindo água da cavidade do manto através de um funil (Figura 21). O corpo da lula é hidrodinâmico e moldado para natação veloz. Figura 21 – Lula. Fonte: iStock/Getty Images. 21 Os polvos têm um corpo globular e não possuem nadadeiras. Apesar de poderem nadar através do lançamento de jatos de água, são mais adaptados para rastejar usando discos de sucção em seus braços (Figura 22). Figura 22 – Polvo. Fonte: iStock/Getty Images. Os cefalópodes têm um par de brânquias, músculos radiais na parede do manto comprimem a parede e aumentam a cavidade do manto, drenando água para dentro. Músculos circulares contraem e expelem a água através do funil. O sistema circulatório dos cefalópodes consiste em uma rede fechada de vasos e capilares que conduzem sangue através dos filamentos branquiais. Os cefalópodes possuem um sistema nervoso e sensorial mais complexo. Possuem um cérebro, que é o maior entre os invertebrados, consistindo de lobos e milhões de células nervosas. Esses animais possuem olhos complexos, com córnea, retina, lente e câmara. Seus braços possuem muitas células tácteis e quimiorreceptoras. Você Sabia ? Que aparentemente os polvos são incapazes de distinguir cores, mas podem ser ensinados a discriminar formas. Lembra-se do polvo da copa? Cefalópodes podem se comunicar através de sinais visuais, como movimentos dos braços, nadadeiras, corpo e mudanças de cores. Especificamente as mudanças de cores são realizadas pelos cromatóforos. Além disso, algumas espécies desenvolveram órgãos luminescentes. Um dispositivo protetor que os cefalópodes possuem é o saco de tinta, o qual contém uma glândula de tinta que secreta sépia, um fluido escuro contendo melanina. São dioicos e os machos possuem um braço modificado como órgão intromitente, denominado de hectocótilo, que é utilizado para introduzir o espermatóforo na cavidade do manto da fêmea. Os ovos são fecundados e em seguida aderidos às pedras. 22 Unidade: Asquelmintos e Filo Mollusca Assista ao vídeo disponível em: » https://www.youtube.com/watch?v=JvP0TD-Cr3o - e observe o grande poder de camuflagem dos cefalópodes. » Classe Aplacophora: os moluscos dessa classe são bênticos, marinhos, vermiformes e não possuem concha. Apresentam um pé rudimentar, representado por um longo sulco ventral. A epiderme é coberta por espículas de aragonita (Figura 23). A cavidade do manto nesses animais é reduzida. Não possuem olhos nem tentáculos ou nefrídeos. Figura 23 – Membro da Classe Aplacophora. Fonte: museum.wa.gov.au. » Classe Monoplacophora: os monoplacóforos possuem uma única concha cobrindo todo o corpo (Figura 24). O pé forma um disco muscular fraco, com oito pares de músculos retratores. Uma pequena cavidade do manto em torno do pé contém de três a seis pares de ctenídeos. Esses animais possuem rádula e uma cabeça reduzida e desprovida de olhos. Os tentáculos estão presentes somente ao redor da boca. Figura 24 – Representante da Classe Monoplacophora. Fonte: investigacion.izt.uam.mx. https://www.youtube.com/watch?v=JvP0TD-Cr3o 23 » Classe Polyplacophora: todos os representantes dessa classe são marinhos, apresentando um corpo elíptico, uma face ventral e um pé achatado e desenvolvido, rodeado por um sulco, no qual as brânquias estão inseridas. O corpo é protegido por uma concha dividida em oito peças transversais (Figura 25). O pé funciona como ventosa, permitindo a esses animais se fixarem nas rochas. Figura 25 – Representante da Classe Polyplacophora, Tonicella lineata. Fonte: Wikimedia Commons. 24 Unidade: Asquelmintos e Filo Mollusca Material Complementar MOLLUSCA. [20--]. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/24_05_ Mollusca.pdf>. Acesso em: 2 mar. 2015. MOLUSCOS – origens da vida – o jogo da sobrevivência, parte 1. 9 jul. 2011. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=io1fPFe_K_Q>. Acesso em: 2 mar. 2015. SANTOS, L. A. dos. Doenças causadas por Nematelmintos. [20--]. Disponível em: <http://www.dsc.ufcg.edu.br/~pet/ciclo_seminarios/nao_tecnicos/2011/CSNT2011_ DoencasCausadasPorNematelmintos_Leonardo.pdf>. Acesso em: 2 mar. 2015. VERMINOSES causadas por nematelmintos. 3 maio 2014. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=ODGZhPV_utc>. Acesso em: 2 mar. 2015. http://www.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/24_05_Mollusca.pdf http://www.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/24_05_Mollusca.pdf https://www.youtube.com/watch?v=io1fPFe_K_Q http://www.dsc.ufcg.edu.br/~pet/ciclo_seminarios/nao_tecnicos/2011/CSNT2011_DoencasCausadasPorNematelmintos_Leonardo.pdf http://www.dsc.ufcg.edu.br/~pet/ciclo_seminarios/nao_tecnicos/2011/CSNT2011_DoencasCausadasPorNematelmintos_Leonardo.pdf https://www.youtube.com/watch?v=ODGZhPV_utc https://www.youtube.com/watch?v=ODGZhPV_utc 25 Referências BRUSCA, R. C.; BRUSCA, G. J. Invertebrados. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. ______. Invertebrates. 2. ed. Sunderland: Sinauer Associates, 2002. HICKMAN, C. P.; LARSON, A.; ROBERTS, L. S. Princípios integrados de Zoologia. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. ______. Integrated principles of Zoology. 11. ed. New York: McGraw-Hill, 2001. RUPPERT, E. E.; FOX, R.; BARNES, R. D. Zoologia dos invertebrados. 7. ed. São Paulo: Roca, 2005. 26 Unidade: Asquelmintos e Filo Mollusca Anotações
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