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LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Me. Paula de Freitas Denari GUIA DA DISCIPLINA 2021 1 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. ESTRATÉGIAS PARA LER “A leitura do mundo precede a leitura da palavra. ” “Se for capaz de escrever minha palavra estarei, de certa forma transformando o mundo. ” “O ato de ler o mundo implica uma leitura dentro e fora de mim. Implica na relação que eu tenho com esse mundo”. Paulo Freire – (Abertura do Congresso Brasileiro de Leitura – Campinas, novembro de 1981). Objetivo Compreender a forma como lemos e quais as etapas no processo de compreensão de um texto. Introdução Muitas pessoas não conseguem entender aquilo que leem. Desconhecem que não compreendem um texto porque, na verdade, nem sabem o que é um texto efetivamente. São capazes de decodificar as palavras em sequência, mas não entendem o todo. Muitas até querem compreendê-lo, porém só são capazes de leituras superficiais, ou seja, não mergulham nas inúmeras camadas que permeiam um texto. De acordo com Solé (1998), poder ler, isto é, compreender e interpretar textos escritos de diversos tipos com diferentes intenções e objetivos contribui de forma decisiva para autonomia das pessoas, na medida em que a leitura é um instrumento necessário para que nos manejemos com certas garantias em uma sociedade letrada. A leitura é um processo que se movimenta entre o que se reconhece no texto e o que se expropria dele, revelando estratégias dinâmicas de produção de sentido que possibilitam as várias condições de interação entre sujeito e linguagem, deve então, ser entendida como habilidade fundante do ser humano, como prática social e como ato de co- produção do texto. O sujeito faz uma leitura textual com todo seu ser e sua bagagem sociocultural, o leitor constitui-se, identifica-se e projeta-se no texto, aproximando-se e distanciando-se das ideias que o texto sugere, mesclando às suas ideias, as saliências textuais que lhe 2 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância sobressaem, o que lhe é permitido pela incompletude do texto, pelas lacunas deixadas pelo autor. Nessa relação que, a princípio parece-nos tão simples, há inúmeros fatores a ser considerado: o texto, o discurso, os interlocutores. Falaremos deles nas próximas aulas. Nesse momento, vamos centrar nossos estudos nas estratégias de leitura. Para isso, vamos fazer uma síntese do que é texto. Voltaremos a esse assunto mais adiante, nesse momento compreenda apenas o aspecto global desse conceito. 1.1 Conceito de texto A palavra texto vem do latim textum que significa tecido, entrelaçamento. O texto seria então o resultado de uma combinação perfeita de “fios” (orações) tendo como resultado uma costura (texto propriamente dito). O conceito de texto varia nas muitas teorias que o tem como objeto de estudo porque parte de lugares diferentes. Assim sendo, podemos afirmar que não existe uma única definição sobre o que é um texto. A conceituação considera determindados aspectos sendo o principal o embasamento teórico de estudo. Texto em sentido lato, designa toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano (…) isto é, qualquer tipo de comunicação realizada através de um sistema de signos. (…) Em sentido estrito, o texto consiste em qualquer passagem, falada ou escrita, que forma um todo significativo, independente de sua extensão. Trata-se, pois de uma unidade de sentido, de um contínuo comunicativo contextual que se caracteriza por um conjunto de relações responsáveis pela tessitura do texto – os critérios ou padrões de textualidade, entre os quais merecem destaque especial a coesão e a coerência. (Fávero & Koch, 1994:25) Para os autores, o conceito de texto envolve um ato comunicativo. Ou seja, um gesto, uma fotografia, são texto, já que comunicam. É importante compreender que para esses autores, o texto não é um objeto. É o processo que envolve interlocutores, sujeitos que participam do ato. (…) o texto deve ser visto como uma sequência de atos de linguagem (escritos e falados) e não uma sequência de frases de algum modo coesas. Com isto, entram, na análise do texto, tanto as condições gerais dos indivíduos como os conceitos institucionais de produção e recepção, uma vez que estes são responsáveis pelos processos de formação de sentidos comprometidos com processos sociais e configurações ideológicas.” (Marcuschi, 1983:22) 3 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Quero que você compreenda que, para esses autores da Linguística Textual, uma folha de papel com frases escritas, um livro, esses objetos isolados não são textos. O processo comunicativo de alguém que os produziu com alguém que os leu, isso é texto. De acordo com as teorias que seguimos. Mais para frente voltaremos a esse assunto. Por outro lado, segundo Platão e Fiorin (2000, p. 17), apesar de ser difícil definir o que é um texto, esses autores dão algumas características do que um texto deve apresentar. Para eles, um texto deve conter coerência de sentido, pois não podemos apenas disponibilizar algumas frases sem conectá-las adequadamente umas às outras. Ao utilizarmos os conectivos adequados estaremos interligando as orações e diminuiremos o risco de comprometer a ideia central do texto. Além disso, devemos levar em consideração não só o indivíduo que produziu determinado texto, mas também o ambiente em que ele está inserido. Esses fatores terão uma grande influência no resultado final do trabalho. Vamos trabalhar com a ideia de que texto é uma forma de comunicação coerente dotada de sentido (que está ligada aos implícitos e pressupostos) e que possui um objetivo. Sendo assim, podemos considerar como texto: fábula, notícia, receitas, história em quadrinhos, entre outros, ou seja, adotamos a visão de que ao escrevermos, produzimos gêneros textuais específicos que cumprem funções comunicativas determinadas. Ressaltamos que existem os textos não verbais, tais como quadros, figuras, gráficos, gestos etc. Nessa relação entre o texto e seu leitor, podemos ter diferentes buscas e propósitos. Por exemplo, você pode ler por prazer, para obter informações ou para completar uma tarefa. A técnica escolhida irá depender do objetivo da leitura. Scanning, skimming, e leituras críticas são diferentes estilos de leituras. Se você está procurando por informação, deve-se usar scanning para uma palavra específica. Se você está explorando ou revendo um documento deve usar a skimming. Muitos admitem que scanning e skimming não são estratégias de leitura e sim estratégias de pesquisa, mas é interessante oferecer estas explicações já que no curso você fará pesquisas. 4 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1.2 Etapas da leitura Como já dissemos, quando falamos em leitura nos referimos ao ato de ler e também à apreensão do conteúdo de um texto escrito. Perceba que ler não significa apenas decodificar as letras que compõem o texto, pois o processo de leitura para ser completo exige que se apreenda o conteúdo do texto, ou seja, é necessário captar, assimilar, compreender a mensagem do texto. Para melhor compreender o processo de leitura consideremos as etapas apresentadas por Cabral (1986), identificadas como: decodificação, compreensão, interpretação e retenção. A decodificação resulta do reconhecimento dos símbolos escritos e da sua ligação com os significados; a compreensão ocorre quando o leitor capta do texto a temática e as ideias principais; a interpretação é a fase de utilização crítica do leitor, o momento em que faz julgamentos sobre o que lê e a retenção é o que o leitor absorve do que compreendeu ou interpretou sobre o texto. Parasua melhor compreensão, observe o esquema abaixo: DECODIFICAÇÃO - Decodificar é ser capaz de entender os símbolos escritos, relacionando-os a seus devidos significados. Essa é ainda a fase primária da leitura, o importante é que o leitor conheça o código usado e consulte no dicionário os vocábulos desconhecidos. Por exemplo, quando estamos aprendendo um novo idioma, temos muita dificuldade em decodificar as palavras. COMPREENSÃO - Após a decodificação, o leitor passa pela fase de compreensão, na qual ele deve ser capaz de identificar o sentido global do texto, a estrutura (começo, meio e fim), gênero (receita, carta) e em que contexto (um programa de TV, uma aula) está inserido. O leitor deve entender o que o autor do texto que dizer, além de ser capaz de resumir em poucas palavras ou frases a ideia central do texto, ou que tipo de mensagem o texto transmite. Enfatiza-se nessa fase os aspectos explícitos no texto. INTERPRETAÇÃO - A interpretação é uma fase mais profunda do que a compreensão. Aqui é necessário que o leitor seja capaz de interagir com o texto. Além disso, é nessa fase que se apreende as informações que estão implícitas. Essa fase exige do leitor uma atitude mais crítica diante do texto. É a leitura dos “não-ditos”, dos aspectos de manipulação e idologias. É preciso que consigamos nos posicionar diante do texto, concordando ou não com ele, e sabendo argumentar por que concordamos ou não. Na interpretação nem sempre é possível que se marque no texto o que se quer dizer sobre ele, 5 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância exigindo que o interpretemos e o expliquemos com nossas palavras, por se tratar de algo que muitas vezes está implícito. RETENÇÃO - A última fase da leitura é a retenção. É importante você não confundir reter com memorizar. A fase de retenção exige que o leitor, após a leitura ou leituras do texto, seja capaz de reter as informações, conhecimentos ou ensinamentos apresentados. Essa retenção, porém, é ativa. Portanto o leitor deve ser capaz de assimilar o novo conteúdo apreendido a conhecimentos prévios. Outro fator importante é a aplicação daquilo que se reteve em outros contextos. Portanto, a retenção é a fase em que se assimila, relaciona, compara e aplica o conteúdo do texto lido 1.3 Técnicas de leitura Scanning Em português, é a habilidade de leitura em alta velocidade e ajuda o leitor a obter informação de um texto sem ler cada palavra. É uma rápida visualização do texto como um scanner faz quando, rapidamente, lê a informação contida naquele espaço. Scanning envolve mover os olhos de cima para baixo na página, procurando palavras chaves, frases específicas ou ideias, muitas vezes correndo o dedo em diagonal de cima para baixo, da esquerda para direita numa página. Ao realizar o scanning procure verificar se o autor fez uso de organizadores no texto, como: números, letras, passos ou as palavras primeiro, segundo... procure por palavras em negrito, itálico, tamanhos de fontes ou cores diferentes. O processo de scanning é muito útil para encontrar informações específicas de, por exemplo, um número de telefone numa lista, uma palavra num dicionário, uma data de nascimento, ou de falecimento numa biografia, um endereço ou a fonte para a resposta de uma determinada pergunta sua. Após “escanear” o documento, você deve usar a técnica de skimming. Skimming O uso do skimming é frequente quando a pessoa tem muito material para ler em pouco tempo. Geralmente a leitura no skimming é realizada com a velocidade de três a quatro vezes maior que a leitura normal. Diferentemente do scanning, skimming é mais abrangente; exige conhecimento de organização de texto, a percepção de “dicas” de vocabulário, habilidade para inferir ideias e outras habilidades de leitura mais avançadas. Existem muitas estratégias que podem ser usadas ao realizar o skimming. Algumas 6 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância pessoas leem o primeiro e o último parágrafo usando títulos, sumários e outros organizadores à medida que leem a página ou a tela do monitor. Você pode ler o título, subtítulo, cabeçalhos e ilustrações. Considere ler somente a primeira sentença de cada parágrafo. Esta técnica é útil quando você está procurando uma informação especifica em vez de ler para compreender, quando você sabe o que está procurando. Skimming funciona bem para achar datas, nomes, lugares e para revisar figuras e tabelas. Use skimming para encontrar a ideia principal do texto e ver se um artigo pode ser de interesse em sua pesquisa. E também para localizar conceitos, exemplos e citações. Para ser atingida a compreensão do texto lido, depende-se: da capacidade do leitor em relacionar ideias, estabelecer referências, fazer inferências1 ou deduções lógicas, achar palavras que sinalizam ideias, além da percepção de elementos que colaborem na compreensão de palavras, como os prefixos e sufixos e não simplesmente, como muitos acreditam, o conhecimento de vocabulário, ou seja, só o conhecimento de vocabulário é insuficiente para compreender um texto. Como a leitura é um processo, para ler de forma mais ativa, rápida e, desse modo, mais efetiva, procure: 1. Quebrar o hábito de ler palavra por palavra; 2. Usar seu conhecimento prévio sobre o assunto e caso não o tenha pesquise um pouco antes de ler 3. Dominar as estratégias que fortalecerão este processo; 4. Prestar atenção ao contexto em que o texto está inserido; 5. Fortalecer as estruturas gramaticais que sustentam a formulação das ideias apresentadas) mecanismos de coesão e coerência. Por fim, volto a lembrar que para vencer o cansaço, ou possível monotonia de leitura de um livro é deixar-se raptar pela leitura. Melhor explicando é interagir com ela, dialogar com ela. Enfim, é envolver-se e para se ter tal sensação/ ilusão pode-se experimentar duas outras estratégias. Outras estratégias de leitura Prever o conteúdo de um texto é a primeira coisa a fazer antes de começar a leitura do texto. É possível, muitas vezes, antecipar ou prever o conteúdo de um texto, através do 7 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância título, de um subtítulo, gráfico ou figura incluídos. O título, quando bem escolhido, identifica o assunto do texto. Também aconselho você a elaborar protocolos de leitura para garantir uma base de compreensão, pois os protocolos além de se constituírem uma estratégia valiosa pode ser também uma forma de incentivo para que se anote, às margens do texto ou na janela de comentários, perguntas, ideias ou outras marcas que auxiliem a retomada do texto. Ao ler, não se anda só para frente. Muitas vezes precisamos retomar dados anteriores para os relacionarmos com novas informações ou relembrar o que pode ter sido esquecido e mais ainda trocarmos: a suposição feita num protocolo anterior que foi destruído depois com uma releitura. Protocolo é um instrumento usado pelo interlocutor (leitor) que tem como objetivo definir quais interpretações são as corretas e também para o leitor conferir se está usando o texto de forma adequada há dois tipos de protocolos: o primeiro refere-se aos elementos determinados pelo autor conforme suas intenções. Por exemplo, quando ele usa itálicos, títulos ou negritos para chamar a atenção do leitor para algo que julga importante. São também protocolos: ilustrações que dialogam com o texto, a disposição do material, as fontes e as subdivisões do texto. Outro tipo de protocolo de leitura encontra-se na própria matéria tipográfica que é de responsabilidade do editor. Podem ser notas de rodapé, orelhas e capas. A estratégia de inferência permite perceber o que não está sendo dito pelo texto de forma clara. A inferência é aquilo que lemos, mas não está escrito.São adivinhações, baseadas tanto em pistas dadas pelo texto como em conhecimentos prévios. Às vezes as inferências se confirmam, às vezes não. Não importa acertar e sim fazer a inferência, dialogar com o texto. Um fato é certo: inferências não são “chutes”, ou melhor dizendo, não são adivinhações guiadas pela sorte. Inferência é uma estratégia a ser empregada com muita ética. Quando vejo alguém com o rosto vermelho, um pouco inchado, posso inferir que a pessoa chorou. Falaremos mais sobre inferência em outro momento, por hora é importante ressaltar que o hábito de leitura se constrói. Como já disse, ler é tão complexo que exige não apenas aspectos cognativos, como também físico. Por isso, assim como você se esforça para ir à academia e exercitar os músculos, faça o mesmo com seu cérebro e mantenha a leitura como rotina diária. Se ela ainda não faz parte do seu dia a dia, comece com textos mais 8 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância agradáveis ao seu estilo e mais curtos. Finalmente, deixe-se atrair pelo universo apaixonante das palavras. FIORIN, José Luiz, PLATÃO, Francisco. Para entender um texto- leitura e redação. SP: Ática, 16ª Ed. BORTOLLETO, Galaor "TÉCNICAS DE LEITURA: SKIMMING E SCANNING" ww.galaor.com.br acesso em 13 de fevereiro 2016 BERNÁRDEZ, Enrique. Introdución a la lingüística del texto. Madrid: Espasa- Calpe, 1982. FÁVERO, Leonor L.; KOCH, Ingedore G. V. Línguística textual:uma introdução.São Paulo: Cortez, 1994. KOCH, Ingedore; TRAVAGLIA, Luiz C. Texto e coerência.São Paulo: Cortez, 1992. MARCUSCHI, Luiz A. Linguística textual: o que é e como se faz. Recife, UFPE. Séries DEBATES.V1, 1983. VAL, M. G. Costa. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 9 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. A LEITURA DE DIFERENTES LINGUAGENS. Ler não é decifrar, escrever não é copiar. Emilia Ferreiro Objetivos Apresentar as diferentes linguagens. Refletir sobre a área de conhecimento: “Linguagens, Códigos e suas Tecnologias”. Compreender que a palavra “Linguagens” abarca não só a nossa língua materna como as línguas estrangeiras. Diferenciar a linguagem verbal, mas a musical, a gestual, a corporal, a literária, a plástica. Introdução A sociedade contemporânea exige o letramento. Vivemos imersos em imagens, fotografias, letreiros, manchetes de jornais, placas de rua, sinais de trânsito, cartões de crédito, cheques, notas fiscais, documentos, rótulos, revistas, livros, entre outros. Somos leitores em tempo integral, mas não lemos do mesmo jeito os diferentes textos que se apresentam e nem todos têm acesso ao letramento necessário para utilizar a leitura no enfrentamento aos desafios da vida em sociedade e fazer uso do conhecimento adquirido para continuar aprendendo e se desenvolvendo ao longo da vida. É papel da escola fornecer aos estudantes, através da leitura, os instrumentos necessários para que eles consigam buscar, analisar, selecionar, relacionar, organizar as informações complexas do mundo contemporâneo e exercer a cidadania. No entanto, deparamos no dia a dia escolar com alunos que não gostam de ler ou que dizem não entender o que leram, ou ainda, que apenas conseguem indicar informações presentes no texto, não é este o letramento necessário para o exercício da cidadania e para o combate aos desafios da vida. Por outro lado, as pesquisas atuais de educação apontam que fragmentar o conhecimento em professores diferentes, horários diferentes, e conteúdos igualmente fracionados, em nada contribui positivamente para a aprendizagem. Tanto que conceitos como interdisciplinaridade, temas transversais e áreas de conhecimento começaram a integrar, desde 1997, elementos do Sistema Nacional da Educação para os 16 anos de 10 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Educação Básica. Já está superada a discussão sobre a necessidade da apresentação dos saberes de forma integrada e contextualizada. A própria BNCC também aponta a necessidade de ser pensar o texto como um constructo multiosemiótico. As práticas de linguagem contemporâneas não só envolvem novos gêneros e textos cada vez mais multissemióticos e multimidiáticos, como também novas formas de produzir, de configurar, de disponibilizar, de replicar e de interagir. As novas ferramentas de edição de textos, áudios, fotos, vídeos tornam acessíveis a qualquer um a produção e disponibilização de textos multissemióticos nas redes sociais e outros ambientes da Web. (BNCC p. 68) Acredito, porém, que apesar de todas essas reflexões acerca da escola e do processo de leitura, muitos de vocês, estudantes do ensino superior ainda encontram enormes dificuldades em ler com autonomia, compreendendo as várias camadas de um texto. Na aula anterior, conversamos um pouco sobre as possíveis definições de texto e sobre algumas estratégias de leitura, vamos agora, compreender um pouco mais sobre esse nosso objeto de estudo: o texto e algumas ciências em torno dele. 2.1. Em primeiro lugar, o que é linguagem? A linguagem é considerada como a capacidade humana de articular significados coletivos e compartilhá-los, em sistemas arbitrários2 de representação, que variam de acordo com as necessidades e experiências da vida em sociedade. A principal razão de qualquer ato de linguagem é a produção de sentido. A linguagem é uma herança social, uma “realidade primeira”, que, uma vez assimilada, envolve os indivíduos e faz com que as estruturas mentais, emocionais e perceptivas sejam reguladas pelo seu simbolismo. A compreensão da arbitrariedade da linguagem pode permitir aos falantes a problematização dos modos de “ver a si mesmos e ao mundo”, das categorias de pensamento, das classificações que são assimiladas como dados indiscutíveis. 2Arbitrariedade do signo linguístico é dizer que as palavras não se inspiram nas coisas que elas representam e sim há um acordo entre membros de uma comunidade linguística para nomearem as coisas com um determinado signo que se consagra com o passar o tempo 11 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A linguagem permeia o conhecimento e as formas de conhecer, o pensamento e as formas de pensar, a comunicação e os modos de comunicar, a ação e os modos de agir. Ela é a “roda” inventada, que movimenta o homem e é movimentada pelo homem. Produto e produção cultural, nascida por força das práticas sociais, a linguagem é humana e, tal como o homem, destaca-se pelo seu caráter criativo, contraditório, pluridimensional, múltiplo e singular. Não há linguagem no vazio, seu grande objetivo é a interação, a comunicação com o outro, dentro de um espaço social, como, por exemplo, a língua, produto humano e social que organiza e ordena de forma articulada3 os dados das experiências comuns aos membros de determinada comunidade linguística. Observe como se deu o processo da criação no caso de palavras novas que foram introduzidas no mundo, em diferentes línguas, para dar conta da necessidade de nomear objetos recém-criados. Mouse (rato) foi empregada para o equipamento de informática por haver uma semelhança entre o aparelho e o animal. Neste caso houve entre os falantes da língua inglesa uma criação de palavra de forma motivada – que é o caso oposto da arbitrariedade. Mas quando essa palavra chegou entre os falantes de língua portuguesa houve uma diferença quanto ao combinado social para a designação do aparelho. Em Portugal, eles chamam de RATO e no Brasil, optamos por adotar o termo inglês MOUSE – que passou a fazer parte do léxico da língua Portuguesa como um estrangeirismo da mesma forma que chofer (do francês) e pizza (italiano).No campo dos sistemas de linguagem, podemos delimitar a linguagem verbal e não verbal e seus cruzamentos verbo-visuais, audiovisuais, áudio-verbo-visuais etc. A estrutura simbólica da comunicação visual e/ou gestual como da verbal constitui sistemas arbitrários de sentido e comunicação. A organização do espaço social, as ações dos agentes coletivos, 3Forma articulada. A língua é constituída de unidades mínimas de significado, por exemplo a sílaba DOR, que anexada ao substantivo TRABALHO passa significar “o ser que trabalha”. O DOR pode se combinar com OPERAÇÂO, com INSTRUÇÃO ETC. Veja o A e o O que podem significar o Gênero feminino ou masculino quando usados ao final dos nomes. 12 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância normas, os costumes, rituais e comportamentos institucionais influem e são influenciados na e pela linguagem, que se mostra produto e produtora da cultura e da comunicação social. Podemos assim falar em linguagens que se confrontam, nas práticas sociais e na história, e fazem com que a circulação de sentidos produza formas sensoriais e cognitivas diferenciadas. Por exemplo, as artes visuais que se expressam com a ajuda a tecnologia virtual. 2.2. Linguagem Verbal e Não Verbal No âmbito histórico-social, a linguagem é a responsável pela interação e a constituição dos sujeitos. Assim, os sujeitos constituem-se pela apropriação dos signos presentes nas interações verbais e não-verbais, de que participam. 2.2.1 Linguagem Verbal Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra apoia-se sobre o meu interlocutor. A palavra é território comum do locutor e do interlocutor. (BAKHTIN, 2007, p.113). INTERLOCUTORES RECEPTORES O termo “verbal” tem origem no latim “verbale”, proveniente de “verbu”, que quer dizer palavra. Linguagem verbal é, portanto, aquela que tem por unidade a palavra (oral ou escrita). Entre a linguagem oral e a escrita há diferenças, mas não uma oposição rígida. Nessa perspectiva, peço que leia o que diz Manosso (2008), quando afirma que: Não existem motivos convincentes para justificar o desprezo a uma modalidade de LOCUTOR EMISSOR 13 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância expressão em favor da outra. Cada uma delas tem sua relevância cultural, social e histórica. Ambas desempenham funções importantes em sociedade e se articulam em um sistema integrado de trocas contínuas. Desta forma concluímos que podemos ser a favor da valorização das duas modalidades da linguagem verbal oral e escrita, no processo de interação entre os sujeitos. Serão as circunstâncias da interação que determinarão a eficácia ou não de uma ou de outra. 2.2.2 Linguagem não verbal A linguagem não verbal utiliza qualquer código que não seja a palavra, como a música, que tem o som por sinal; a dança, que tem o movimento por sinal; a mímica, que tem o gesto por sinal; a pintura, a fotografia e a escultura, que têm a imagem por sinal etc. O fato é que vivemos num mundo que fala por imagens e que influenciam de forma marcante a leitura que dele fazemos. 2.2.3 Linguagem verbal e linguagem não verbal ou linguagem mista. No contexto atual percebemos que as interações sociais são marcadas pelo entrelaçamento entre o desenho, a fotografia, a ilustração, a figura, os sons, o movimento e os textos verbais. Assim, podemos dizer que essas linguagens são mistas. Um exemplo dessa fusão de linguagens é o protesto do grupo ecologista Greenpeace contra o desmatamento da Amazônia: 14 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Usando o próprio espaço da floresta e do campo cultivado pelo agronegócio o Green Peace imita com a imagem um outro símbolo: a nossa bandeira. Sobre esse fundo tão significativo, há sobrepostos dois textos. “Cadê a floresta que estava aqui? Que é um jogo infantil e inocente com a resposta parodiada do ”Gato Comeu” pela frase “a Soja comeu” inscrita na faixa do lema nacional “ Ordem e Progresso”. Veja que a intenção do protesto ganha um grande apelo de comunicação por criticar o desmatamento da floresta. Já que cada vez mais empregamos a linguagem não verbal, pode-se dizer que entre ela e a linguagem verbal existe integração e influência recíproca. Há, pois, um diálogo entre as diferentes linguagens, e com isso as interações comunicativas se tornam mais fortes e complexas em suas formas de expressão (produção) e leitura (recepção). FIORIN, José Luiz, PLATÃO, Francisco. Para entender um texto- leitura e redação. SP: Ática, 16ª Ed. BERNÁRDEZ, Enrique. Introdución a la lingüística del texto. Madrid: Espasa- Calpe, 1982. 15 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. O DISCURSO E O TEXTO Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história. Bill Gates Objetivo Identificar as marcas ideológicas de um texto. Diferenciar os conceitos de discurso e texto. Analisar a interlocução textual. Refletir sobre o ensino a partir do texto e do discurso. Introdução Nós produzimos e lemos textos em diferentes contextos cotidianos. Como dissemos nas outras aulas, eles são fundamentais na nossa relação social. Por outro lado, é importante uma reflexão: será que na comparação entre dois gêneros, teremos dois textos iguais? O que pode diferenciar um gênero dentre dele mesmo? 3.1. Discurso e ensino – Análise diacrônica Hoje é quase consensual que o ensino da língua deve estar centrado no texto. Se a década de 60 foi marcada pela discussão da linguística no ambiente escolar, a década de 80 trouxe um conjunto de obras que colocaram o texto como pretexto para a reflexão das formas gramaticais. No entanto, para muitos pesquisadores, esse estudo do texto ainda não atingiu uma dimensão discursiva em que haja uma concepção sociointeracionista voltada a interlocução. Neste tipo de abordagem, é preciso o olhar para cada texto de forma diferenciada, reconhecendo que há formas múltiplas de textualização. Neste aspecto, a compreensão da noção de gênero é fundamental. Mais ainda, o entendimento de que o conceito de gênero perpassa as diferentes épocas e ciências. A princípio, ele era estudo da poética, porém a pesquisa em textos sociais diferentes dos literários (notícias, receitas, bilhetes) transpôs esse estudo para a Linguística. Essa necessidade de classificação teve por objetivo organizar tamanha heterogeneidade textual presente em nossa sociedade e, assim, melhor compreendê-los. Da mesma forma, podemos pensar como surgiu a classificação dos discursos. Essa https://pensador.uol.com.br/autor/bill_gates/ 16 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância classificação teve uma ancoragem forte em um grupo de pesquisadores chamados Estruturalistas e, depois, os formalistas russos. Vamos começar nossos estudos, diferenciando gêneros e tipos textuais. 3.2. Tipos e gêneros textuais Chamamos de tipos textuais o grupo de enunciados organizados em uma estrutura definida, facilmente reconhecida por suas características principais. Podem variar entre cinco e nove tipos. Os mais estudados são a narração, a argumentação, a descrição, a injunção e a exposição. Diferente do que acontece com os gêneros textuais, a tipologia textual, apresenta propriedades linguísticas específicas, tais como o vocabulário, relações lógicas, tempos verbais e construções frasais. Os gêneros surgempor mudanças sócio históricas e pela necessidade dos falantes em um dado contexto cultural. Por outro lado, enquanto os tipos já estão definidos, prontos para receberem os diversos gêneros em sua estrutura. Abaixo observamos um esquema, um contínuo dos gêneros textuais da fala e da escrita. É interessante observar a enorme variedade desses textos em nossas vidas. E como eles nos inserem na sociedade. 17 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância [Marcushi, 2001, p. 41] Para apreender muitos destes gêneros, somos exigidos em nossa competência leitora. Afinal, existem diferentes estilos de leituras para diferentes situações. Não lemos da mesma maneira as páginas na internet, os romances ou os manuais. Mesmo gêneros próximos como revistas e jornais exigem estratégias de leitura diferentes. Por esta razão, leitores eficientes e efetivos aprendem a usar muitos estilos de leitura para diferentes propósitos. Os gêneros textuais são “maleáveis”, ou seja, são criados e utilizados de acordo com a necessidade de comunicação do indivíduo. O avanço da tecnologia tem sido um grande aliado na criação de diversos gêneros. Encontramos os gêneros textuais em diversas situações que envolvam algum tipo de comunicação em nosso cotidiano. Sendo assim, são gêneros textuais: carta, receita, e mail, piada, anúncio publicitário, charge, poema, bilhete, artigo científico, entre, literalmente, uma infinidade de outros textos. Os gêneros textuais funcionam como paradigmas porque nos oferecem modelos de comunicação para que esta seja eficaz, não só verbalmente como também através da produção escrita. Ao produzir um texto, optamos também pela melhor forma de transmitir a 18 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância mensagem. Se alguém pretende se comunicar com uma pessoa que mora longe e não tem acesso a meios eletrônicos, poderá utilizar o gênero carta para transmitir sua mensagem. Ele utilizará uma determinada estrutura (tipo textual) que se apresentará em forma de gênero (a carta em si), a qual requer um destinatário, um remetente, data, local, corpo do texto e assinatura. Porém, se essa carta não for assinada por alguma razão, por exemplo, não deixará de ser uma carta, nem mesmo deixará sua função de comunicação. (MARCUSCHI, 2010) Sendo assim podemos reafirmar que cada gênero textual pode conter vários tipos, ou seja, o gênero é a funcionalidade do tipo textual dentro da comunicação 3.3 As tipologias enunciativas As tipologias enunciativas estão fundadas nas diferentes formas da presença das marcas da enunciação no discurso, seja nos interlocutores, no lugar ou no tempo da enunciação. Um bom exemplo, nos é trazido por Benveniste (1966) que traz uma didática explicação sobre a diferença entre enunciação histórica e discurso. Para ele, enunciação histórica: Trata-se da apresentação dos fatos sobrevindos a um certo momento do tempo, sem nenhuma intervenção do locutor na narrativa [...]. Definiremos a narrativa histórica como o modo de enunciação que exclui toda forma linguística “autobiográfica”. O historiador não dirá jamais eu nem tu nem aqui nem agora, porque não tomará jamais o aparelho formal do discurso que consiste em primeiro lugar na relação de pessoa eu: tu. Assim na narrativa histórica estritamente desenvolvida, só se verificarão formas de terceira pessoa. Podemos perceber que para Benveniste, o discurso é marcado pela subjetividade (sujeito da enunciação) Já para Mikhail Bakhtin, nenhum discurso é original. Toda palavra é uma resposta à palavra do outro, todos discurso reflete e refrata outros discursos. Assim, sempre devemos analisar uma linha teórica quando fazemos determinados estudos. De maneira geral, podemos analisar o discurso a partir da situação comunicativa e sua relação com outros elementos que também auxiliam na construção de sentido. Ou seja, 19 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância DISCURSO: atividade comunicativa – constituída de texto e contexto discursivo (quem fala, com quem fala, com que finalidade etc.) – capaz de gerar sentido desenvolvida entre interlocutores (sujeitos). 3.4 As marcas ideológicas dos textos O texto, como uma atividade discursiva, apresenta diversas marcas ideológicas. Ideologia é um sistema de ideias (crenças, tradições, princípios e mitos) interdependentes, sustentadas por um grupo social de qualquer natureza ou dimensão, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes morais, religiosos, políticos ou econômicos. Como seres humanos, recorremos à linguagem para expressar nossos sentimentos, opiniões, desejos. É por meio dela que interpretamos a realidade que nos cerca. Essa interpretação, porém, não é totalmente livre. Ela vem carregada de nossa formação ideológica. Logo, há uma clara relação entre o discurso e a ideologia. Todo discurso vem carregado de ideologias. Elas não são necessariamente intrínsecas, mas relacionam-se ao ambiente e até a época em que tal discurso foi produzido. Podemos refletir, por exemplo, sobre as propagandas de cerveja. Vemos a tentativa das grandes empresas em rever sua antiga conduta. Hoje, a ascensão do feminismo vem combatendo o estereótipo imposto de mulher objeto que tais propagandas difundiam. 3.5. Formação ideológica e formação discursiva Vimos que, por meio da linguagem, explicitamos nossa visão do mundo. No uso que fazemos da linguagem, encontramos as pistas de formação ideológica. A linguagem é, portanto, a materialização da nossa ideologia. Textos que reforçam a imagem de que somente a mulher cuida da casa, expõe ainda a desigualdade presente na nossa sociedade. FIORIN, José Luiz, PLATÃO, Francisco. Para entender um texto- leitura e redação. SP: Ática, 16ª Ed. MARCUSCHI, Luiz A. Linguística textual: o que é e como se faz. Recife, UFPE. Séries DEBATES.V1, 1983. 20 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. CARACTERÍSTICAS DE UM TEXTO: COESÃO E COERÊNCIA “– Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?– Isso depende muito de para onde quer ir – respondeu o Gato. – Para mim, acho que tanto faz… – disse a menina. – Nesse caso, qualquer caminho serve – afirmou o Gato.” Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll Objetivo Identificar os elementos que compõe a textualidade. Diferenciar os conceitos de coesão e coerência. Analisar a unidade textual. Refletir sobre a intertextualidade Introdução Ao longo de nossas primeiras aulas, vimos o que é leitura de mundo e leitura de textos verbais e não verbais. Também estudamos as várias possibilidades de leitura, desde a mais superfi cial até a leitura mais interpretativa, mais crítica. Assim como observamos a diversidade da língua portuguesa. Conhecemos os vários tipos de texto e observamos como vamos construindo novos textos à medida que lemos e relacionamos o nosso conhecimento de mundo e os diferentes textos lidos. Nessa aula, vamos nos centrar na tessitura, nos elementos que garantem a textualidade, sendo dois deles fundamentais: a coesão e a coerência. Há autores que distinguem dois níveis de análise, correspondendo a coesão e coerência, embora a terminologia possa ser diferente; outros não distinguem, e outros ou fazem referência a apenas um desses fenômenos ou estudam vários de seus aspectos sem qualquer rotulação 4.1. O texto Compreu um carro, está sol, falta sal na comida. Minha filha saiu sem meia. Você entendeu o texto anterior? Certamente ele não fez sentido. Isso aconteceu porque as idéias ali expostas não estão relacionadas entre si, causando a falta de sentido. Para que isso não ocorra nos textos produzidospor você, apresentaremos agora, além dos conceitos, alguns recursos que asseguram a coesão e a coerência. A palavra é o maior instrumento de comunicação criado pelo ser humano, mas para comunicar ela precisa estar ligada a outras palavras, formando o discurso. É sobre essa 21 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ligação que nós vamos falar nesta aula. A ligação entre as palavras é o que denominamos sintaxe da língua. Essa sintaxe ocorre tanto entre palavra e palavra, em um enunciado, quanto entre oração e oração, formando textos maiores. A essa conectividade do discurso, denominamos coesão. Assim, uma das propriedades que distinguem um texto de um amontoado de palavras ou frases, como o exemplo dado acima, é a relação que se estabelece entre as palavras e entre as frases. Nunca é demais lembrar alguns conceitos que já vimos nas aulas anteriores. O termo “texto” pode ser tomado em duas acepções: “texto em sentido amplo, designando toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano (uma música, um filme, uma escultura, um poema etc.), e, em se tratando de linguagem verbal, temos o discurso, atividade comunicativa de um sujeito, numa situação de comunicação dada, englobando o conjunto de enunciados produzidos pelo locutor (ou pelo locutor e interlocutor, no caso dos diálogos) e o evento de sua enunciação” (Fávero e Koch, 1983, p. 25). O discurso é manifestado, linguísticamente, por meio de textos (em sentido estrito), O texto consiste, então, em qual quer passagem falada ou escrita que forma um todo significativo independente de sua extensão. Trata-se, pois, de um contínuo comunicativo contextual caracterizado pelos fatores de textualidade. Entre eles, coesão e coerência. 4.2. Coesão Hailiday e Hasan (1976) afirmam que o que permite determinar se uma série de sentenças constitui ou não um texto são as relações coesivas com e entre as sentenças, que criam a textura. “Um texto tem uma textura e é isto que o distingue de um não texto. O texto é formado pela relação semântica de coesão” (p. 2). A coesão diz respeito à ligação, à relação, à conexão entre as palavras de um texto, por meio de elementos formais, que assinalam o vínculo entre os seus componentes. Quando construímos um texto falado ou escrito, usamos alguns mecanismos que a língua nos oferece para garantir a compreensão do nosso leitor/ouvinte. A coesão é uma espécie de costura. Assim, seja inter-relacionando orações, períodos, parágrafos ou, ainda, segmentos maiores − como um parágrafo final conclusivo que se articula a todos os parágrafos antecedentes, ou até mesmo a articulação de 22 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância capítulos entre si − os mecanismos coesivos estabelecem um entrelaçamento na superfície textual. Além disso, se bem utilizada, a coesão contribui de forma decisiva para que o tema tratado se mantenha ao mesmo tempo em que progride, acabando por se tornar um dos recursos responsáveis pela coerência textual. Observe os exemplos abaixo. I. Acordei atrasado. Não tomei café. Meu dia foi ruim. II. Acordei atrasado, com isso não tomei café. Por essa razão meu dia foi ruim. Na sentença I, não há qualquer tipo de ligação entre as sentenças. Há apenas um amontoado de frases em sequência. Na sentença II, foram usados termos que conectam as frases, estabelecendo entre entre elas uma relação, uma unidade. Assim, dizemos que o texto II apresenta elementos de coesão. Existem diversas perspectivas de análise dos mecanismos de coesão. Vilela e Koch (2001), por exemplo, dividem os mecanismos coesivos em duas categorias básicas: os mecanismos de coesão referencial e os de coesão sequencial. A coesão referencial, como os próprios autores explicam, ocorre por meio do uso de certos itens na língua que têm a função de estabelecer referência. Isto é, elementos que não são interpretados semanticamente por seu sentido próprio, mas fazem referência a alguma coisa necessária a sua interpretação. “A referência constitui um primeiro grau de abstração: o leitor/alocutário relaciona determinado signo a um objeto tal como ele o percebe dentro da cultura em que vive.” Os autores citam como exemplo: Machado de Assis = nosso maior escritor = Mestre = ele = bruxo de Cosme Velho. Coesão referencial - por substituição: usos de pronomes, numerais, artigos, elementos de conexão ou expressões de síntese e elipse - por reiteração: sinonímia, repetição, expressões equivalentes Os mecanismos de coesão seqüencial strictu sensu (porque toda coesão é, num certo sentido, sequencial) são os que têm por função, da mesma forma que os de recorrência, fazer progredir o texto, fazer caminhar o fluxo informacional. A coesão 23 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância sequencial se caracteriza pela possibilidade de tornar mais clara a progressão do tema do texto. Resumindo, trata-se da coesão entre as diversas sequências do texto, ou seja, entre orações, períodos e parágrafos. Essas sequências precisam ser relacionadas por meio de expressões e conectivos adequados para que o texto seja de fácil compreensão. Para cada tipo de relação que se pretende estabelecer entre duas orações, existe uma conjunção que se adapta perfeitamente a ela. Além das conjunções, outra forma de se estabelecer a coesão sequencial se dá pelo uso de marcadores temporais,(expressões e partículas temporais como: hoje, no dia seguinte, na próxima semana), expressões ordenadoras ( por um lado, em primeiro lugar, no parágrafo seguinte seguinte) e correlação dos tempos verbais ( pretérito perfeito e futuro do pretérito, pretérito perfeito e pretérito imperfeito etc.). Site Beduka.com É importante ressaltar que há inúmeros autores que discutem os elementos coesivos, assim como há outrso muitos exemplos de coesão. Nos preocupamos aqui, em ressaltar o conceito, para conhecer mais, indico a leitura do livro da série Princípios Coesão e Coerência Textuais. 24 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4.3 Coerência A coerência se manifesta em grande parte macrotextualmente, refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, os conceitos e as relações subjacentes ao texto de superfície, se unem numa configuração, de maneira reciprocamente acessível e relevante. Assim a coerência é o resultado de processos cognitivos operantes entre os usuários e não mero traço dos textos. A coerência depende, principalmente, do conhecimento prévio dos interlocutores de um texto. Tal conhecimento diz respeito tanto ao conhecimento de mundo quanto ao conhecimento linguístico. Sendo assim, a coerência se estabelece numa situação comunicativa; ela é a responsável pelo sentido que um texto deve ter quando partilhado pelos usuários, pressupondo, inclusive, um domínio comum da língua. Ela está ligada, ao texto como um todo e é por isso que dizemos que ela se refere à estrutura global do texto. Importante ressaltar que a coerência não é independente do contexto pragmático no qual o texto está inserido, isto é, não é independente de fatores, tais como, escritor/locutor, leitor/alocutário, lugar e tempo do discurso, ou, como diz Marcuschi (1983, p. 22): o texto deve ser visto como uma seqüência de atos de linguagem (escritos ou falados) e não uma seqüência de frases de algum modo coesas. Com isto, entram, na análise geral do texto, tanto as condições gerais dos indivíduos como os contextos institucionais de produção e recepção, uma vez que estes são responsáveis pelos processos de formação de senti dos comprometidos com processos sociais e configurações ideológicas. Veja esse exemplo apontado pelo autor Comemora-seeste ano o sesquicentenário de Machado de Assis. As comemorações devem ser discretas para que dignas de nosso maior escritor. Seria ofensa à memória do Mestre qualquer comemoração que destoasse da sobriedade e do recato que ele imprimiu a sua vida, já que o bruxo de Cosme Velho continua vivo entre nós. Aqui “Machado de Assis” foi substituído, dentre outros, por “bruxo de Cosme Velho”; neste caso, deve-se saber um pouco de sua vida (morou vinte e quatro anos em Cosme 25 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Velho, no Rio de Janeiro), e isto não se obtém a partir do conhecimento da língua, mas, sim, da cultura. Para finalizar, devo ressaltar que há outros elementos necessários à textualidade. Um bastante interessante é a intertextualidade, ou seja, a relação entre os textos. A intertextualidade acontece quando um texto cita outro texto, como em uma paródia de uma música. Optei, nesse curso em evidenciar o que seria relevante para seus estudos universitários. Mas seria interessante você buscar essas referências. FIORIN, José Luiz, PLATÃO, Francisco. Para entender um texto- leitura e redação. SP: Ática, 16ª Ed. MARCUSCHI, Luiz A. Linguística textual: o que é e como se faz. Recife, UFPE. Séries DEBATES.V1, 1983. KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1991. VILELA, M.; KOCH, I. V. Gramática da língua portuguesa. Coimbra: Almedina, 2001. 26 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. UM EXERCÍCIO DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE UM TEXTO NÃO VERBAL Em situação de poço, a água equivale A uma palavra em situação dicionária: Isolada, estanque no poço dela mesma, E porque assim estanque, estancada; E mais: porque assim estancada, muda, E muda porque com nenhuma comunica, Porque cortou-se a sintaxe desse rio, O fi o de água que por ele discorria. (João Cabral de Melo Neto, Rios sem discurso) Operários — 1933 óleo/tela 150 X 205cm, Tarsila do Amaral Objetivo Discutir as possibilidades do trabalho de leitura de texto não verbal em sala de aula. Perceber as mensagens possíveis dentro de uma obra de arte. Introdução Muitas vezes, a leitura de uma imagem pode acarretar múltiplas interpretações. Quando falamos em artes plásticas, então, essa interpretação é mais heterogênea e até envolve preconceito. O que é arte afinal? A linguagem verbal pode ser empregada para analisar, ler e interpretar imagens. 27 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Nesta aula iremos trabalhar a leitura de uma obra de arte brasileira. Tal competência deve ser desenvolvida desde a Educação Infantil, já que os pequenos são capazes de nos surpreender com suas leituras profundas e desafiadoras. O docente em formação permanente precisa assumir o compromisso de individualmente buscar informações sobre as artes plásticas, porque, na verdade, as pessoas para discutirem precisam ter conhecimentos sobre a linguagem artística. Mas há em nossos dias – com a escolarização universal das novas gerações – a esperança de acreditarmos que gosto se aprende e há uma linguagem com elementos próprios que podem nos ajudar a ver, a observar e sentir prazer estético. Conforme os Parâmetros Curriculares e as Diretrizes de toda Educação Básica, cada arte tem sua linguagem. A música fala através do som/silêncio; a pintura, através de cores, linhas e formas; o cinema, através da imagem-pensamento no tempo. A essa materialidade o artista – usando metáforas, paródias, alegorias4 – empresta uma transcendência. O resultado é o que chamamos forma artística. Entretanto, não existem regras para se ver um quadro. Desenvolve-se a sensibilidade para que as pessoas sintam a beleza e tenham o prazer estético. A linguagem da pintura não se presta a argumentações. A pintura não é um enunciado científico, nem ideológico, nem moral. O que não impede, como vimos, que se preste a tudo isso, mas no sentido de funções secundárias. Não se deve buscar uma única mensagem na pintura, pois a grande obra pode conter várias ou nenhuma. Mais do que denotativos (de conteúdo meramente informativo), os signos da pintura tendem para a conotação (ideias associadas, sugestão ao leitor de uma visão de mundo). É preciso entender que uma pintura pode revelar o inconsciente, seja do artista, seja de uma cultura, e que ela brota no limite entre real e imaginário. Do 4Metáfora- é uma figura de linguagem onde se usa uma palavra ou uma expressão em um sentido que não é muito comum, revelando uma relação de semelhança entre dois termos. ’ O meu amigo é um leão Ele sempre reage com braveza. Paródia - A paródia é uma releitura cômica de alguma composição literária, que frequentemente utiliza ironia e deboche. Ela geralmente é parecida com a obra original, e quase sempre tem sentidos diferentes. Alegoria- A noção permite referir-se ao tipo de figura de linguagem em que algo representa ou significa outra coisa diferente. Da mesma forma, dá-se o nome de alegoria à obra literária ou artística de sentido alegórico. 28 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância mesmo modo, é preciso entender que uma pintura só alcança o universal se estiver fundada no particular. O universal sem o particular é vazio. CONOTAÇÃO – Quando uma palavra é usada no sentido conotativo (figurado) quando apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes interpretações, dependendo do contexto em que aparece. Quando se refere a sentidos, associações e ideias que vão além do sentido original da palavra, ampliando sua significação mediante a circunstância em que a mesma é utilizada, assumindo um sentido figurado e simbólico. Exemplos: • Você é o meu sol! • Minha vida é um mar de tristezas. • Você tem um coração de pedra! O cara é uma mala sem alça. DENOTAÇÃO – Uma palavra é usada no sentido denotativo (próprio ou literal) quando apresenta seu significado original, independentemente do contexto frásico em que aparece. Quando se refere ao seu significado mais objetivo e comum, aquele imediatamente reconhecido e muitas vezes associado ao primeiro significado que aparece nos dicionários, sendo o significado mais literal da palavra. Exemplos: • O elefante é um mamífero. • Já li esta página do livro. • A empregada limpou a casa. • Ele ainda não pegou a mala no bagageiro do ônibus. Apresento a seguir dois exemplos de pintura uma do (1) inconsciente e outra do (2) imaginário projetado sobre o real. 29 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1) O GRITO – Edvard Munch http://pt.slideshare.net/Inaframboesa/o-grito-de-edvard-munch acesso em 25/11/2019 2) A Noite Estrelada -Van Gogh https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Noite_Estrelada acesso em 25/11/2019 http://pt.slideshare.net/Inaframboesa/o-grito-de-edvard-munch https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Noite_Estrelada 30 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O quadro “O Grito”, de Munch é uma das obras mais conhecidas e parodiadas das artes plásticas. Faz parte de uma trilogia e é o ícone do expressionismo, corrente artística que (como o nome diz) evidencia a expressão e não o objeto real. Aliás, as vanguardas europeias (cubismo, futurismo, surrealismo, expressionismo) trazem essa nova concepção de arte, não a cópia do cenário, mas a visão do artista sobre esse cenário, essa realidade. Temos uma profunda subjetividade e, por esta razão, um constante diálogo entre o artista e o observador. Uma leitura possível do quadro é mostrar uma angústia retratada na expressão da figura central. Um ser que não apresenta característicasde gênero, logo, é uma angústia universal. Alguém assiste ao grito dado, como se houvesse espectadores para esse sofrimento. Também pode pensar em um significado para a ponte. Ponte representa elo. A figura parou nesse caminho para dar um grito. Forte isso, não é? Já o segundo quadro, Noite Estrelada, de Van Gogh, pode ter uma leitura relacionada a própria história do pintor. Van Gogh foi um artista que (como muitos) teve uma mente perturbada, confusa. Tanto que cortou a própria orelha! Essa noite estrelada apresenta movimentos no céu, ondas. No entanto, não é uma noite tranquila. Esses movimentos do céu, representados pelas pinceladas em onda, talvez reflitam a alma conturbada do artista. O que você acha? Esta é a minha leitura , mas como você já leu: “ Não se deve buscar uma única mensagem na pintura, pois a grande obra pode conter várias ou nenhuma.” O importante é que a arte nos faz parar para pensar. Sempre! Convido você fazer mentalmente a sua leitura da tela 2 de Van Gogh. Como “dica” dirijo seu olhar para as linhas retas e as curvas. Digo que nessa tela há realidade transformada pela imaginação. Você leu isso? Incentivo você a ler pinturas ou fotos, pois é praticando que você ganhará habilidade e fará muitas crianças felizes por obterem informações sobre a pintura e escultura. Afinal são linguagens milenares da humanidade. Agora, vamos voltar à proposta inicial: a Leitura de Operários de Tarcila do Amaral. O título da Tela já nos ajuda a identificar as faces que são apresentadas apenas por uma palavra: OPERÁRIOS – no plural, indicando um coletivo, ou seja, o quadro tem o obejtivo 31 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância de retratar um coletivo, não o específico. Tanto que não há a determinação dada pelo artigo “os”. Os rostos se misturam formando um todo, um bloco. Espera-se anular as identidades. Os operários são massa. Olhando mais de perto, observamos diferentes tipos físicos. Essa massa é formada de tipos diferentes, mas que no grupo perdem sua identidade, sua unidade, são apenas um bloco que exercem o mesmo trabalho, são ninguéns. Podemos levar essa reflexão para a sala de aula e pensar se vemos nosso grupo de colegas a partir de suas especificidades ou se são apenas A TURMA, A SALA... Espero ter estimulado você a visitar exposições e principalmente o MASP em São Paulo ou a Galeria Benedito Calixto em Santos. 32 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. O DESAFIO DA ESCRITA Objetivo Refletir sobre as dificuldades existentes no processo de produção de um texto. Analisar as especificidades das escritas dos diferentes tipos de texto. Introdução Ao longo do tempo, com o advento da tecnologia, é corriqueira a afirmação de que o homem perdeu sua capacidade escritora. Hoje passamos longas horas digitando em celulares e computadores, dificilmente nos vemos elaborando um longo texto no papel. Além disso, muitos ainda se apropriam de material alheio pela total incapacidade de produzir um texto autoral. Afinal, deixamos realmente de produzir textos escritos ou houve uma mudança nessa produção? Muitas pessoas associam um texto proficiente com as competência gramatical que possui. Na verdade, apenas o bom uso da língua portuguesa não define um texto bem escrito. Ele deve promover a reflexão ou inspirar uma determinada ação, de acordo com o desejo do seu interlocutor. Isso sem falar em questões de sua microestrutura como coesão e coerência. Mas encarar uma página em branco sem saber como organizar e expor as suas ideias é um luxo a que a maioria dos profissionais não pode se dar. Aliás, acredito que há uma pane das pessoas ao se depararem com a página em branco. Seja ela física, seja a tela do editor de texto do computador. É importante ressaltar que a competência escritora não cabe apenas a profissionais como escritor, jornalista ou professor. Em algum momento da sua vida, você irá de deparar com a necessidade de escrever um texto. Um dos motivos apontados para essa dificuldade na escrita refere-se a defasagem no hábito de leitura. Quase todo bom leitor se transforma em um bom escritor. O hábito da leitura é capaz de aprimorar a habilidade comunicativa, melhorar o uso da norma culta da língua portuguesa e enriquecer o vocabulário. Além de aumentar o nosso repertório, nosso conhecimento. 33 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Outra vantagem é que com o passar do tempo o leitor começa a perceber se uma mensagem é transmitida com eficácia ou um texto é apenas um emaranhado de palavras sem sentido. Quanto mais textos se lê, mais crítico ficamos. Como leitor, o ideal é que você não apenas percorra os parágrafos, mas interaja com com o texto, questionando-o. Identificar os recursos linguísticos que ele utiliza e pensar no que você faria diferente na posição dele te ajudará a moldar a sua mente também para a escrita. Isso vale para um livro, uma notícia jornalística ou um artigo. 6.1. O ambiente e a escrita Teorias que lidam com o processo de aprendizado de escrita sustentam que crianças vão para a escola com habilidade para o acesso a um “novo” meio de expressão que é o texto escrito. No entanto, sabemos que a maior parte das cidades do Brasil não oferecem um meio-ambiente adequado para o desenvolvimento da escrita e da leitura. Logo, parece ser lógico considerar que boa parte das crianças não vão à escola com maturidade lingüística suficiente para alcançar esse “novo” meio de expressão. Algumas pesquisas acreditam que o uso oral da linguagem tem prevalecido tão fortemente em nossas práticas cotidianas de comunicação, que os modelos de texto escrito tornam-se cada vez mais distantes. Em termos mais precisos, apesar dos programas governamentais, alguns pesquisadores reconhecem a ocorrência de simplificação na prática lingüística contemporânea. A mídia escrita tem progressivamente mais ilustrações do que texto; a venda de jornais no Brasil diminuiu 17% ao longo dos últimos cinco anos; e o número de aparelhos de TV passou de 200 mil em 1960 para 27 milhões em 1980; hoje estima-se um número próximo a 55 milhões de aparelhos de TV. Esses dados comprovam que estamos mergulhados em um ambiente linguístico essencialmente oral. Posso inclusive propor um questionamento: Quantos livros você leu no último mês? 6.2. A escrita no ambiente escolar As dificuldades que os alunos enfrentam quando vão produzir um texto são inúmeras. Na maioria dos casos, eles não apresentam dificuldades em se expressar na oralidade através da linguagem coloquial. Os problemas aparecem quando surge necessidade de produção textual. Acontece que na linguagem oral o falante se expressa 34 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância não só através da fala, mas também através de gestos, sinais e expressões. Esses recursos não são explorados na modalidade escrita, pois ela tem normas próprias, como regras de ortografia, pontuação que não são reconhecidas na fala. Não adianta saber que escrever é diferente de falar. É necessário preocupar-se com o sucesso dos objetivos da produção textual, como a interação entre o produtor do texto e o seu receptor. Outro aspecto importante é evidenciar ao aluno os objetivos da escrita. Nada mais desanimador do que escrever sem um propósito. Além disso, sugiro às escolas elaborar um mapa de gêneros de apropriação e gêneros de aproximação em casa série escolar. Esse mapa deve ser de conhecimento de todos os integtrantes da equipe pedagógica e cada um deve assumir a resposabilidade de trabalhar esses gêneros em sua disciplina. É preciso que todos os professores entendamque a capacidade escritora e leitora não são exclusivas da Língua Portuguesa 6.3. A prática de escrever A dificuldade da escrita é um problema inicial, que normalmente advém da falta de prática em escrever. Graduandos, ao se defrontarem com a produção de um primeiro artigo ou de uma monografia, podem passar por essa dificuldade. Escrever é como um exercício físico ou o aprendizado de um instrumento, para se obter resultado é preciso treino, um treino praticamente diário. Além disso, é preciso reconhecer o bloqueio da escrita. O bloqueio da escrita geralmente é causado por variáveis psicológicas, tais como um certo sentimento de incapacidade diante da tarefa de produzir conhecimento, estafa mental, insegurança. Isto porque o aluno não tem a prática e o hábito dessa escrita. Outro fator que contribui para quadros de bloqueio e o desconhecimento do assunto ou do gênero solicitado. 6.4. Como tecer um texto - Relembrando Existe uma razão etimológica para não esquecermos que produzir um texto é o mesmo que tecer, entrelaçar unidades e partes com a finalidade de formar um todo. A razão é que a palavra texto é originada do latim textum, que significa “tecido, entrelaçamento”. Você se lembra? 35 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A partir dessa ideia falamos em textura de um texto: que é a rede de relações que garantem sua coesão. Assunto já discutido por nós. Por esta razão é importante conhecer quais elementos micro e macroestruturais que envolvem o momento da escrita. 36 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. O PLANEJAMENTO: UMA ETAPA FUNDAMENTAL PARA PRODUÇÃO TEXTUAL Objetivo Refletir sobre a importância do plano ou roteiros na elaboração de um texto. Compreender as ambiguidades e incoerências. Introdução Antes de escrever uma redação, é preciso planejá-la bem, procurando elaborar um esquema. No entanto, é importante não confundir esquema com rascunho! Esquema é um guia que estabelecemos para ser seguido, no qual você se expressa em frases sucintas (ou mesmo palavras) o roteiro para a elaboração do texto. No rascunho, por outro lado, damos forma à redação, pois nele as ideias previstas no esquema passam a ser redigidas, tomando a forma de frases que aos poucos se transformam em um texto coerente. Quando falamos de texto argumentativo, por exemplo, o primeiro passo para a elaboração do esquema é ter entendido o tema, pois de nada adiantará um ótimo esquema se ele não estiver adequado ao tema proposto. Em seguida, você poderá dividir seu esquema nas três partes básicas - introdução, desenvolvimento e conclusão. Na Introdução, é necessário informar a tese que você irá defender. No Desenvolvimento, escreva palavras capazes de resumir os argumentos que você apresentará para sustentar sua tese. Na Conclusão, escreva palavras que representem sua ideia final. Atenção: quando você estiver fazendo o esquema do desenvolvimento, surgirão inúmeras ideias. Registre todas, mesmo que mais tarde você não venha a utilizá-las. Essas ideias normalmente vêm sem ordem alguma; por isso, mais tarde, é preciso ordená-las, selecionando as melhores e colocando-as em ordem de importância. Esse processo é conhecido como hierarquização das ideias. Veja a seguir, um exemplo de esquema com as ideias já hierarquizadas: 37 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Tema: O Estado e os Direitos Humanos Introdução: Os Direitos Humanos não são garantidos pelo Estado, principalmente para as minorias excluídas da população. Desenvolvimento: 1º parágrafo: reconhecimento de que as prisões brasileiras não garantem dos direitos do detendo. As rebeliões e violências 2º parágrafo: os cidadãos brasileiros não têm seus direitos garantidos em outras políticas públicas, como a Educação. Conclusão: Diante de uma realidade polêmica, propõe-se uma discussão nacional sobre que medidas deverão ser adotadas pelo estado diante das falhas das políticas, para que a justiça seja praticada em relação a todas políticas públicas? Feito o esquema, é só segui-lo passo a passo, transformando as palavras em frases, dando forma à sua redação. Veja a seguir outro tipo de roteiro. Siga os passos: Interrogue o tema; Responda-o de acordo com a sua opinião Apresente um argumento básico Apresente argumentos auxiliares Apresente um fato- exemplo Conclua 38 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Especificando o roteiro, temos: 1. Transforme o tema em uma pergunta; 2. Procure responder à pergunta, de um modo simples e claro, concordando ou discordando (ou concordando em parte e discordando em parte): essa resposta é o seu ponto de vista; 3. Pergunte a você mesmo, o porquê de sua resposta, uma causa, um motivo, uma razão para justificar sua posição: aí estará o seu argumento principal; 4. Agora, procure descobrir outros motivos que ajudem a defender o seu ponto de vista, a fundamentar sua posição. Estes serão os argumentos auxiliares; 5. Em seguida, procure algum fato que sirva de exemplo para reforçar a sua posição. Este fato-exemplo pode vir de sua memória visual, das coisas que você ouviu, do que você leu. Pode ser um fato da vida política, econômica, social. Pode ser um fato histórico. Ele precisa ser bastante expressivo e coerente com o seu ponto de vista. O fato-exemplo geralmente dá força e clareza à argumentação. Além disso, pessoaliza o nosso texto, diferenciando-o dos demais. 6. A partir desses elementos, você terá o rascunho de sua redação. Leia aqui 10 recomendações para serem observadas durante a produção de sua redação: 1. Pense no que você quer dizer e diga da forma mais simples. Procure ser direto (conciso) na construção das sentenças. 2. Use a voz ativa, evite a passiva. Evite termos estrangeiros e jargões. 3. Evite o uso excessivo de advérbios. Tome cuidado com a gramática. 4. Tente fazer com que os diálogos escritos (em caso de narração) pareçam uma conversa. O uso do gerúndio empobrece o texto. Exemplo: Entendendo dessa maneira, o problema vai-se pondo numa perspectiva melhor, ficando mais claro... 5. Evite o uso excessivo do "que". Essa armadilha produz períodos longos. Prefira frases curtas. Exemplo: O fato de que o homem que seja inteligente tenha que entender os erros dos outros e perdoá-los não parece que seja certo. Adjetivos que não informam também são dispensáveis. Por exemplo: luxuosa mansão (Toda mansão é luxuosa!). 6. Evite clichês (lugares comuns) e frases feitas. Exemplos: "fazer das tripas coração", "encerrar com chave de ouro", “silêncio mortal", "calorosos aplausos". 39 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. Verbo "fazer", no sentido de tempo, não é usado no plural. É errado escrever: "Fazem alguns anos que não viajo". O certo é “Faz alguns anos que não viajo”. 8. Cuidado com redundâncias. É errado escrever, por exemplo: "Há cinco anos atrás". Corte o "há" ou dispense o "atrás". A forma correta é “Há cinco anos...” 9. A leitura intensiva facilita o uso da vírgula corretamente. Leia muito, leia sempre! 10. Nas citações: use aspas, coloque vírgula e um verbo seguido do nome de quem disse ou escreveu o que está sendo citado. Exemplo: “O que é escrito sem esforço é geralmente lido sem prazer. ”, disse Samuel Johnson. Para garantir um bom resultado em seus textos, não deixe de ler as orientações que selecionamos. a) SIMPLICIDADE Use palavras conhecidas e adequadas. Para ter um bom domínio do texto, prefira frases curtas. Cuidado para não mudar de assunto de repente. Conduza o leitor de maneira leve pela linha de argumentação. b) CLAREZA Osegredo está em não deixar nada subentendido, nem imaginar que o leitor sabe o que você quer dizer. Evidencie todo o conteúdo da sua escrita. Lembre-se: você está comunicando a sua opinião, falando de suas ideias, narrando um fato. O mais importante é fazer-se entender. Não faça ironias e nem queira divertir o avaliador. c) OBJETIVIDADE Você tem que expressar o máximo de conteúdo com o menor número de palavras possíveis. Por isso, não repita ideias, não use palavras em excesso buscando aumentar o número de linhas. Concentre-se no que é realmente necessário para o texto. d) UNIDADE Não esqueça, o texto deve ter unidade, por mais longo que seja. Você deve traçar uma linha coerente do começo ao final do texto. Não pode perder de vista essa 40 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância trajetória. Por isso, muita atenção no que escreve para não se perder e fugir do assunto. Eliminar o desnecessário é um dos caminhos para não se perder. e) COERÊNCIA A coerência entre todas as partes do texto é fator primordial para a boa escrita. É necessário que as partes formem um todo. Estabeleça uma ordem para que as ideias se completem e formem o corpo da narrativa. Explique, mostre as causas e as consequências. f) ORDEM Obedecer uma ordem cronológica é uma maneira de acertar sempre, apesar de não ser criativa. Nesta linha, parta do geral para o particular, do objetivo para o subjetivo, do concreto para o abstrato. Use figuras de linguagem para que o texto fique interessante. As metáforas também enriquecem a redação. g) ÊNFASE Procure chamar a atenção para o assunto com palavras fortes, cheias de significado, principalmente no início da narrativa. Use o mesmo recurso para destacar trechos importantes. Uma boa conclusão é essencial para mostrar a importância do assunto escolhido. Remeter o leitor à ideia inicial é uma boa maneira de fechar o texto. h) LEIA E RELEIA Lembre-se, é fundamental ter conhecimentos prévios sobre o tema, pensar, planejar, escrever e reler seu texto. Mesmo com todos os cuidados, pode ser que você não consiga se expressar de forma clara e concisa. A pressa pode atrapalhar. Com calma, verifique se os períodos não ficaram longos, obscuros. Veja se você não repetiu palavras e ideias. À medida que você relê o texto, essas falhas aparecem, inclusive, erros de ortografia e acentuação. Não se apegue ao que já foi escrito. Refaça, se for preciso. 41 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. INFERÊNCIAS – PRESSUPOSTOS E SUBENTENDIDOS Objetivo Analisar as camadas de leitura existentes em um texto. Diferenciar pressupostos e subentendidos Introdução Para que os sujeitos falantes possam comunicar-se eficazmente, é preciso que utilizem um mesmo código linguístico, um mesmo conjunto de significantes e significados. E, mesmo assim, ainda é possível ocorrerem mal-entendidos, tendo em vista que, numa língua qualquer, é comum que um plano da expressão (um significante) seja suporte para mais de um plano de conteúdo (significado), ou seja, que um mesmo termo tenha vários significados. Além disso, será que um texto apresenta mais do que aquilo que se apresenta explicitamente em suas linhas? 8.1 Inferência A leitura pode ser fonte de prazer, quando se consegue penetrar no sentido por meio da percepção mais aprofundada do jogo das palavras que constroem o texto. A verdadeira leitura ultrapassa os significantes e chega aos possíveis significados permitidos pelo texto. Nesse contexto, a leitura não é aceitação passiva, mas é construção ativa. O leitor constrói, e não recebe um significado pronto para o texto. Como afirma Martins (1994), (...) a retomada do texto significa também uma nova postura diante dele; outras, o fato de termos interrompido a leitura não nos impede de mergulharmos novamente nela, como se narcotizados, mesmo havendo então emoções diferenciadas. (MARTINS, 1994, p. 61) O sentido não é algo dado, pronto, mas é construído na interação texto-sujeitos. Leitura, texto e sentido fazem parte do processo de interpretação. Se não existe texto, seja ele verbal ou não verbal, não há leitura e muito menos produção de sentidos. 42 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Identificar a intenção do produtor do texto permite que o leitor construa, a partir de pistas fornecidas pelo texto, possíveis significados. Além disso, quando o leitor consegue atribuir significados, ele é capaz de ver os horizontes do texto, ou seja, ampliar a sua leitura, entendendo as experiências trazidas pelo texto. Esse leitor consegue compreender, inclusive, que os não-ditos são comunicativos e mostram certas intencionalidades do autor. Por meio dos implícitos, lemos além do óbvio e partimos para camadas mais profundas de leitura. A ideia de implícito em um texto está naquilo que está presente pela ausência, ou seja, o conteúdo implícito pode ser definido como o conteúdo que fica à margem da discussão, porque ele não vem explicitado no texto. Segundo Orlandi (2006), o implícito consiste naquilo que não está dito e que também está significando: a) o que não está dito, mas que, de certa forma, sustenta o que está dito; b) o que está suposto para que se entenda o que está dito; c) aquilo a que o que está dito se opõe; Um exemplo: quando eu digo “Adoro dias de sol”, é possível deduzir que não gosto de das nublados ou chuva. Esse é um exemplo de leitura de implícitos. Entre os implícitos há os pressupostos e os subentendidos. Vamos a eles: 8.2 Pressupostos e subentendidos Como dissemos, todo texto se constrói por aquilo que é dito explicitamente e por aquilo que não é dito explicitamente, isto é, por aquilo que está posto em palavras, frases e períodos e por aquilo que não está posto explicitamente, mas que é significativo para estabelecer um sentido ao texto: os implícitos. Dentre esses implícitos, vamos começar com os pressupostos. Seguindo Moura (1999,p. 13), “vamos denominar, de acordo com Ducrot (1987), de conteúdo posto a informação contida no sentido literal das palavras de uma sentença, e de conteúdo pressuposto ou pressuposição as informações que podem ser inferidas da enunciação dessas sentenças”. Pressupostos, assim, são aquelas ideias não expressas de maneira explícita, mas que o leitor pode perceber a partir de certas palavras ou expressões contidas na frase. Por exemplo, quando digo Parou de chover, há uma informação posta, não está 43 Leitura e Produção de Texto Universidade Santa Cecília - Educação a Distância chovendo, e uma informação pressuposta, estava chovendo. O termo que me permite essa leitura é o verbo parar. Os pressupostos fazem parte de muitos textos, tendo em vista que explicitá-los significaria, muitas vezes, informar o óbvio, o esperado em um dado contexto. Já os subentendidos, são observados pelo leitor a partir de um contexto, não há pistas lexicais, mas uma situação que me permite determinada leitura. Algumas vezes, essa leitura pode não ser verdadeira. Há muitas questões que englobam os subentendidos, como valores e até preconceito. O subentendido difere do pressuposto num aspecto importante: o pressuposto é um dado posto como indiscutível para o falante e par o ouvinte, não é para ser contestado; o subentendido é de responsabilidadedo ouvinte, pois o falante, ao subentender, esconde-se por trás do sentido literal das palavras e pode dizer que não estava querendo dizer o que o ouvinte depreendeu. (PLATÃO; FIORIN, 2000, p. 244) Em síntese, segundo Ducrot (1987, p. 41), “[...] a pressuposição é parte integrante dosentido dos
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