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1 Lara Mendonça P3 1- Entender o sistema nervoso periférico (estruturas); O sistema nervoso periférico (SNP) consiste em todos os nervos que são emitidos a partir do cérebro e da medula espinal (o sistema nervoso central, SNC). Se você imaginar o SNC como a rodovia principal, então o SNP forma todas as estradas secundárias que estão conectadas. Ele permite aos impulsos elétricos serem transmitidos para as regiões mais distantes do corpo humano, ou seja, para a periferia, e vice- versa. Ambos podem ser subdivididos: o primeiro em sistema nervoso autônomo simpático e sistema nervoso autônomo parassimpático; e o segundo em divisões sensoriais e motoras. NERVOS PERIFÉRICOS Estrutura do neurônio Os elementos funcionais do sistema nervoso periférico são os nervos periféricos. Cada nervo consiste em um feixe de muitas fibras nervosas (axônios) e seus revestimentos de tecido conjuntivo, podendo ser comparados aos tratos (feixes) do SNC. Por sua vez, cada fibra nervosa é uma extensão de um neurônio cujo corpo celular é mantido dentro da substância cinzenta do SNC ou dentro dos gânglios do SNP. Os neurônios periféricos que transportam informações para o SNC são chamados de neurônios aferentes ou sensitivos, enquanto os que transmitem informações do SNC para a periferia são conhecidos como neurônios eferentes ou motores. Neurônios aferentes transmitem uma variedade de impulsos provenientes de receptores sensitivos (sensoriais) e dos órgãos sensoriais. Por exemplo, eles transmitem sensações gerais como toque, dor, temperatura e posição no espaço (propriocepção). Além disso, eles também transmitem informações sensoriais mais específicas, como os sentidos especiais do olfato, da visão, da audição e do equilíbrio. Por outro lado, os neurônios eferentes levam informações gerais do sistema nervoso para os órgãos efetores, por exemplo, os músculos esqueléticos, os órgãos viscerais e as glândulas. Eles são responsáveis por iniciar a contração muscular voluntária e involuntária, além de estarem envolvidos https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/cerebro https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-da-medula-espinhal https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-da-medula-espinhal https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/sistema-nervoso https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/visao-geral-e-tipos-de-tecido-conjuntivo 2 Lara Mendonça P3 em outras outras funções motoras, como na secreção glandular. Os nervos também podem ser classificados em "nervos cranianos" ou "nervos espinais" de acordo com o local de saída do SNC. Os nervos cranianos emergem do crânio (cérebro / tronco cerebral), enquanto os nervos espinais deixam o SNC através da medula espinal. Existem 12 pares de nervos cranianos e 31 pares de nervos espinais, dando um total de 43 pares de nervos que formam a base do sistema nervoso periférico. O primeiro conjunto de nervos periféricos são os doze nervos cranianos: olfatório (NC I), óptico (NC II), oculomotor (NC III), troclear (NC IV), trigêmeo (NC V1, NC V2, NC V3), abducente (NC VI), facial (NC VII), vestibulococlear (NC VIII), glossofaríngeo (NC IX), vago (NC X), acessório (NC XI) e hipoglosso (NC XII). Nervos cranianos Os nervos cranianos são nervos periféricos que inervam principalmente estruturas anatômicas da cabeça e do pescoço. A exceção é o nervo vago, que também inerva vários órgãos torácicos e abdominais. Os nervos cranianos se originam de núcleos específicos localizados no cérebro. Eles deixam a cavidade craniana através dos forames (buracos) e se projetam para sua estrutura alvo respectiva. Os nervos cranianos são divididos em três grupos de acordo com o tipo de informação transportada pelas suas fibras: • Sensitivos • Motores • Mistos NERVOS ESPINAIS O segundo conjunto de nervos periféricos são os nervos espinais, dos quais existem 31 pares no total: oito cervicais, doze torácicos, cinco lombares, cinco sacrais (sagrados) e um coccígeo. Cada nervo espinal começa como várias pequenas raízes ou radículas que se unem para formar duas raízes https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/os-12-nervos-cranianos https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/os-12-nervos-cranianos https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/cranio https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/cerebro https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/cerebelo-e-tronco-cerebral https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/o-nervo-olfatorio https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-optico https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-oculomotor-iii https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervos-troclear-iv-e-abducente-vi https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-trigemeo-v https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/ramo-oftalmico-do-nervo-trigemeo-v1 https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/ramo-maxilar-do-nervo-trigemeo https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/ramo-mandibular-do-nervo-trigemeo https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervos-troclear-iv-e-abducente-vi https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-facial https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-vestibulococlear-viii https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-glossofaringeo-ix https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-vago https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/o-nervo-acessorio https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-hipoglosso-xii https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-da-cabeca-e-do-pescoco https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/torax https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/abdomen-e-pelve 3 Lara Mendonça P3 principais. A raiz anterior transporta fibras motoras de neurônios cujos corpos celulares estão localizados no corno anterior da medula espinal. A raiz posterior transporta fibras sensitivas de neurônios cujos corpos celulares se encontram no gânglio da raiz dorsal. Nas regiões torácica e lombar superior, a raiz anterior também transporta fibras autonômicas de neurônios pré- ganglionares simpáticos cujos corpos celulares estão localizados no corno lateral da medula espinal. A raiz anterior se junta à raiz posterior subsequentemente para formar o nervo espinal posteriormente dito, que transporta fibras mistas (sensoriais, motoras e autonômicas). Os nervos espinais deixam a coluna vertebral através dos forames (buracos) intervertebrais localizados entre duas vértebras adjacentes. Cada nervo espinal divide-se então em dois ramos chamados de ramo posterior (dorsal) e ramo anterior (ventral), ambos carregando fibras mistas. Os ramos posteriores deslocam-se posteriormente e dividem-se em ramificações que inervam estruturas pós-vertebrais. Os ramos anteriores inervam a pele e os músculos dos membros e do tronco anterior. Imediatamente após a divisão do nervo espinal nos dois ramos, ramificam-se fibras comunicantes menores. Esses ramos comunicantes brancos e cinzentos estabelecem uma comunicação entre os nervos espinais e os dois troncos simpáticos do sistema nervoso autônomo que percorrem a extensão da coluna vertebral. É importante notar que os ramos comunicantes cinzentos existem em todos os níveis da medula espinal, enquanto os ramos brancos são encontrados apenas nos níveis T1-L2. SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO O sistema nervoso somático, também conhecido como sistema nervoso voluntário, é responsável por fornecer inervação sensitiva e motora a todas as estruturas do corpo humano, exceto órgãos, glândulas e vasos sanguíneos. Em outras palavras, ele transporta impulsos referentes às sensações do corpo (dor, tato, temperatura, propriocepção) e inerva os músculos esqueléticos que estão sob controle consciente ou voluntário, iniciando o movimento. Além disso, o sistema nervoso somático está envolvido nos reflexos espinais,como por exemplo no reflexo de retirada. Isso ajuda você a tirar sua mão instantaneamente ao tocar em um objeto quente. Tanto os nervos cranianos quanto os espinais contribuem para o sistema nervoso somático. Os nervos cranianos fornecem controle motor voluntário e percepção sensitiva da região da face. Com relação aos nervos espinais, como mencionamos anteriormente, os ramos posteriores deslocam-se posteriormente para inervar a coluna vertebral, os https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-da-mao 4 Lara Mendonça P3 músculos vertebrais e a pele das costas, enquanto os ramos anteriores inervam os membros e o tronco anterior. A maioria dos ramos anteriores se unem para formar plexos nervosos dos quais muitos nervos periféricos principais se originam. A exceção são os ramos anteriores da região torácica, que viajam de uma forma relativamente independente uns dos outros sem formar plexos, como nervos intercostais e subcostais do tronco. Plexo cervical (Plexus cervicalis) Os plexos nervosos, formados pelos ramos anteriores dos nervos espinais, são os seguintes: • C1-C4 formam o plexo cervical • C5-T1 se agrupam no plexo braquial • T12-L4 formam o plexo lombar • L4 - S4 se agrupam no plexo sacral (sagrado) Os plexos lombares e sacrais também podem ser agrupados como plexo lombossacral (lombossagrado), mas os manteremos separados para melhor compreensão. Cada plexo nervoso produz vários nervos periféricos, que transportam fibras sensitivas e motoras para suas respectivas estruturas-alvo e vice-versa. SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO (SNA) Por último, mas não menos importante, chegamos na divisão autonômica do sistema nervoso periférico (SNP). O sistema nervoso autônomo (SNA) tem uma natureza involuntária, o que significa que não temos controle consciente sobre ele. É responsável por fornecer inervação sensitiva e motora para os músculos lisos, os vasos sanguíneos, as glândulas e os órgãos internos. Dessa forma, ele controla de forma coordenada as funções glandulares e viscerais, desempenhando um papel na manutenção da homeostase. Os nervos do SNA também são periféricos por natureza, de forma que a estrutura geral de um nervo periférico discutida anteriormente ainda se aplica. No entanto, há uma ressalva: todos os nervos autônomos fazem sinapse com um gânglio nervoso simpático ou parassimpático. A porção do nervo antes da sua sinapse com o gânglio nervoso é referida como pré-ganglionar, e carrega o impulso em direção ao aglomerado de corpos celulares no gânglio. Por outro lado, a porção do nervo após o gânglio é chamada de pós-ganglionar, e leva o impulso para longe dos corpos celulares. O SNA possui três grandes divisões: sistema nervoso simpático, sistema nervoso parassimpático e sistema nervoso entérico. O sistema nervoso simpático prepara o corpo para lidar com períodos de aumento do esforço físico através de ações como regulação dos vasos sanguíneos (geralmente https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/torax https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/plexo-braquial https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/plexo-braquial 5 Lara Mendonça P3 vasoconstrição, embora nem sempre), dilatação de pupilas, aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial e diminuição do peristaltismo. O sistema nervoso parassimpático ajuda o corpo a conservar energia, com as funções de "descanso e digestão", alimentação e reprodução. Isto é realizado através de ações que retardam o sistema cardiovascular, estimulam a secreção das glândulas e aumentam o peristaltismo. O sistema parassimpático também está envolvido na excitação sexual e no lacrimejamento (choro). Já o sistema nervoso entérico (SNE) localiza-se dentro das paredes do trato gastrointestinal e consiste nos plexos mioentérico (de Auerbach) e submucoso (de Meissner). Eles trabalham juntos para controlar o peristaltismo no sistema digestivo. Este sistema é frequentemente descrito como um “segundo cérebro”, pois atua de forma independente sendo influenciado apenas pelos impulsos do SNA. SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO Tronco simpático (Truncus sympathicus) As fibras pré-ganglionares dos nervos simpáticos deixam a medula espinal através das raízes anteriores de T1 a L2, entrando no nervo espinal correspondente. As fibras viajam então através dos ramos comunicantes brancos até os gânglios paravertebrais dos troncos do simpático, localizados em ambos os lados da coluna vertebral. Algumas fibras fazem sinapse nestes gânglios, enquanto outras passam por eles sem fazer sinapse, saindo dos troncos simpáticos como nervos esplâncnicos (maior, menor, imo, lombar, sacral). Esses nervos esplâncnicos fazem sinapse mais próximos de seus órgãos- alvo nos gânglios pré- vertebrais chamados de celíacos, aórtico-renais e mesentéricos (superiores e inferiores). As fibras pós- ganglionares então se projetam sobre suas estruturas-alvo, de forma direta ou retornando através do ramo comunicante cinzento e seguindo o caminho dos nervos espinais por todo o corpo. Os órgãos-alvo incluem vasos sanguíneos, glândulas sudoríparas, músculos eretores do pêlo, íris e órgãos internos. Um exemplo de órgão alvo do sistema nervoso simpático é a glândula suprarrenal. A atividade do sistema nervoso simpático estimula a liberação de adrenalina (também conhecida como epinefrina) através do sistema medular simpático-suprarrenal. SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO Chegamos agora ao sistema nervoso parassimpático, que pode ser dividido em parte craniana e parte sacral (sagrada). As fibras pré-ganglionares da parte craniana saem do tronco encefálico nos nervos cranianos oculomotor, facial, glossofaríngeo e vago. Elas fazem sinapse nos gânglios ciliar, pterigopalatino, ótico, submandibular e entéricos. Por fim, as fibras pós-ganglionares inervam as https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/sistema-circulatorio https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/sistema-circulatorio https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/sistema-digestorio-digestivo https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/rins-ureteres-e-glandulas-suprarrenais https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/rins-ureteres-e-glandulas-suprarrenais 6 Lara Mendonça P3 glândulas salivares da cabeça, a íris, os músculos ciliares do olho e, no caso do nervo vago, as vísceras torácicas e abdominais. As fibras pré-ganglionares da parte sacral (sagrada) são muito mais restritas, saindo da medula espinal apenas através das raízes anteriores dos nervos espinais S2-S4. Elas viajam com os nervos esplâncnicos pélvicos, por fim inervando as vísceras pélvicas (cólon descendente, cólon sigmóide, reto, bexiga, pênis / clitóris). 2- Compreender a neuropatia periférica diabética; O diabetes é a causa mais comum da neuropatia periférica, e este tópico merece sua atenção também porque a neuropatia é a complicação crônica mais comum e mais incapacitante do diabetes. Ela é responsável por cerca de dois terços das amputações não- traumáticas (que não são causadas por acidentes e fatores externos). Essa complicação pode ser silenciosa e avançar lentamente, confundindo-se com outras doenças. Portanto, embora ela queira esconder-se de você, é importante conhecer melhor a neuropatia diabética e se prevenir, para ter uma vida longa e plena. O que causa? O controle inadequado da glicose, nível elevado de triglicérides, excesso de peso, tabagismo, pressão alta, o tempo em que você convive com o diabetes e a presença de retinopatia e doença renal (lembra-se delas?) são fatores que favorecem a progressão da neuropatia. Tanto as alterações nos vasos sanguíneos quanto as alterações no metabolismo podem causar danos aos nervos periféricos. A glicemia alta reduz a capacidadede eliminar radicais livres e compromete o metabolismo de várias células, principalmente dos neurônios. Os principais sinais são: • Dor contínua e constante; • Sensação de queimadura e ardência; • Formigamento; • Dor espontânea que surge de repente, sem uma causa aparente; • Dor excessiva diante de um estímulo pequeno, por exemplo, uma picada de alfinete; • Dor causada por toques que normalmente não seriam dolorosos, como encostar no braço de alguém. Ao mesmo tempo, em uma segunda etapa dessa complicação, pode haver redução da sensibilidade protetora, como falamos na seção 'Pés e membros inferiores'. As dores, que antes eram intensas demais mesmo com pouco estímulo, passam a ser menores do que deveriam. Daí o risco de haver uma queimadura e você não perceber em tempo. É comum também que o suor diminua e a pele fique mais seca. O diagnóstico da neuropatia pode ser feito por exames específicos e muito simples nos pés. As neuropatias diabéticas são as complicações crônicas mais prevalentes do diabetes mellitus (DM). Esse grupo heterogêneo de condições afeta diferentes partes do sistema nervoso e apresenta diversas manifestações clínicas. O reconhecimento precoce e o manejo apropriado da neuropatia no https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/colon https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/colon https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/colon https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/reto https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/bexiga-e-uretra 7 Lara Mendonça P3 paciente com diabetes são importantes por vários motivos: 1.A neuropatia diabética é um diagnóstico de exclusão. Neuropatias não diabéticas podem estar presentes em pacientes com DM e podem ser tratadas com medidas específicas. 2.Existem várias opções de tratamento para a neuropatia diabética sintomática. 3.Até 50% das neuropatias periféricas diabéticas podem ser assintomáticas. Se não forem reconhecidas e se os cuidados preventivos com os pés não forem implantados, os pacientes correm o risco de lesões associadas aos pés insensíveis. 4.O reconhecimento e o tratamento da neuropatia autonômica podem melhorar os sintomas, reduzir as sequelas e melhorar a qualidade de vida. Dentre as várias formas de neuropatia diabética, a polineuropatia distal simétrica (PNDS) e as neuropatias diabéticas autonômicas (NAD), particularmente a neuropatia autonômica cardiovascular (NAC), certamente são as mais estudadas.1-4 Existem também várias formas atípicas de neuropatia diabética.1-4 Pacientes com pré-diabetes também podem desenvolver neuropatias semelhantes às neuropatias diabéticas.5-10 O Quadro 1 fornece um esquema de classificação abrangente para as neuropatias diabéticas. Prevenção é o componente- chave no cuidado com o DM devido à falta de tratamentos que se direcionem ao dano neural subjacente. O rastreamento de sintomas e sinais da neuropatia diabética também é primordial na prática clínica, pois pode detectar os estágios iniciais de neuropatia, possibilitando a intervenção precoce. Embora o rastreamento de formas atípicas mais raras de neuropatia diabética possa ser justificado, a PNDS e as NAD são as formas mais comuns encontradas na prática clínica. A evidência mais forte disponível para o tratamento diz respeito a essas formas mais comuns. Este posicionamento baseia-se em diversas revisões técnicas recentes, para as quais o leitor é encaminhado para uma discussão detalhada e o acesso às referências bibliográficas relevantes. 8 Lara Mendonça P3 3- Conhecer outras neuropatias periféricas (etiologia, causas, tipos); Neuropatia afeta os nervos periféricos, que são os responsáveis por encaminhar informações do cérebro e da medula espinhal para o restante do corpo. Algumas complicações mais graves da neuropatia periférica pode causar danos permanentes aos nervos, sendo algumas vezes um problema incapacitante e até mesmo fatal. O aparecimento das neuropatias periféricas (NP) é de certo modo variável e as causas são inúmeras, pois nem sempre é fácil pontuar a causa. Tendo em vista que há diversos fatores que podem estar por trás deste problema, uma análise clínica sequencial e lógica é a melhor conduta médica para o diagnóstico e o tratamento, se possível precoce. Isso se dá através da combinação do quadro clínico, do exame de eletroneuromiografia (ENMG) e dos exames laboratoriais. Em grande parte, é possível a definição da etiologia da neuropatia, permitindo assim saber o prognóstico e o tratamento da doença. HORA DA REVISÃO: O sistema nervoso é composto por fibras (nervos), gânglios nervosos e órgãos terminais. Além disso, a função do SNP é realizar a conexão do sistema nervoso central com as outras partes do corpo humano. O SNP é um termo muito utilizado em neuroanatomia para designar a parte do sistema nervoso no qual os neurônios ou seus processos estão relacionados a uma espécie de célula satélite periférica, conhecida como célula de Schwann. Além disso, compreende os nervos cranianos, com exceção do nervo óptico, as raízes espinais, o gânglio dorsal, os troncos dos nervos periféricos, as ramificações terminais e o sistema nervoso autônomo. As fibras nervosas são prolongamentos finos dos neurônios, em especial dos axônios e seus invólucros gliais. As fibras nervosas são muito importantes, pois realizam a condução dos impulsos nervosos para o sistema nervoso central e no sentido contrário. Ademais, elas se organizam em feixes e cada feixe forma um nervo. Cada fibra nervosa é envolta por uma camada conjuntiva denominada endoneuro, cada feixe é envolto por uma bainha conjuntiva denominada perineuro e o conjunto de feixes agrupados paralelamente formam um nervo. O nervo também é envolto por uma bainha de tecido conjuntivo chamada epineuro. No corpo humano existe um número muito grande de nervos. Seu conjunto forma a rede nervosa. O endoneuro circunda cada fibra nervosa e é composto por tecido conjuntivo frouxo produzido pelas células de Schwann, composto por colágeno reticular tipo III e alguns poucos 9 Lara Mendonça P3 fibroblastos. Além disso, possui capilares em seu interior, os quais são revestidos por endotélio não fenestrado, unido por junções de oclusão. Existem três tipos de fibras nervosas: fibras motoras, sensitivas e autonômicas. As fibras motoras controlam os movimentos, nesse sentido, se houver algum dano nas fibras motoras, poderá acarretar fraqueza, atrofia, fasciculações , lembrando que fasciculações são contrações visíveis, finas e rápidas, algumas vezes vermiculares, espontâneas e intermitentes das fibras musculares. Além disso, danos nas fibras motoras podem causar alterações dos reflexos osteotendíneos. As fibras sensitivas, que transmitem as sensações, dor, tato, ao serem acometidas, apresentam alterações na sensibilidade. As fibras nervosas sensitivas irão se subdividir em fibras grossas e finas. O acometimento de fibras grossas irá causar problemas na sensibilidade vibratória, no tato de pressão e até mesmo na propriocepção, também conhecida como cinestesia, que é o termo utilizado para caracterizar a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. Já o acometimento de fibras finas irá comprometer, principalmente, a dor e a temperatura. As fibras autonômicas inervam os órgãos e glândulas e, se forem acometidas, podem acarretar hipotensão postural, disfunção erétil, gastroparesia, além de alterações na motilidade intestinal, como por exemplo, constipação ou diarreia. EPIDEMIOLOGIA: A prevalência das NP no mundo é em torno de 2 a 4%. Nota-seque em pessoas com idade superior a 55 anos a prevalência aumenta para 8%. Nos países desenvolvidos, a causa mais comum das NP é o diabetes mellitus, pois há uma maior incidência de pessoas diabéticas nos países desenvolvidos, como por exemplo, nos Estados Unidos. Em termos globais, a hanseníase continua sendo a maior causa de neuropatia. No Brasil, a dor crônica é condição clínica bastante frequente, acometendo entre 28 e 41% da população brasileira. Os dados sobre a prevalência de dor com característica neuropática na população em geral não são fidedignos, devido a grande heterogeneidade dos estudos realizados no território brasileiro, as diferentes definições e os métodos de avaliação utilizados. QUADRO CLÍNICO: O quadro clínico das neuropatias periféricas possui algumas manifestações clínicas das NP que variam muito. Algumas manifestações clínicas podem ter diversas combinações quanto a presença e a intensidade dos sinais e sintomas sensitivos, autonômicos e motores, seguindo a fibra que é acometida. Alguns parâmetros devem ser considerados na avaliação e na classificação das NP, dentre eles, destacam-se: a velocidade de instalação que pode ser classificada como aguda, subaguda e crônica; e o tipo de fibra nervosa envolvida: motora, sensitiva, autonômica ou mista. Isso vai revelar quais são as possíveis complicações. Caso um indivíduo tenha a fibra nervosa motora prejudicada, o paciente poderá apresentar dores musculares, alterações dos reflexos osteotendíneos, dentre outros, além disso, o paciente pode ter mais de uma fibra acometida, no caso das fibras mistas. Ademais, o tamanho da fibra nervosa envolvida: grossa, fina ou mista também é importante, visto que os sinais e sintomas poderão revelar qual tipo de fibra foi acometido: as fibras grossas irão causar problemas na sensibilidade 10 Lara Mendonça P3 vibratória, no tato de pressão (protopático) e até mesmo na propriocepção. Já as fibras finas, terão comprometimento, principalmente, da dor e da temperatura. Outro parâmetro a ser considerado é a distribuição, sendo proximal, distal e difusa. Tal fato irá determinar o local onde a fibra será comprometida. Ademais, o padrão de acometimento nervoso também é relevante, podendo ser mononeuropatia, mononeuropatia múltipla, polineuropatia. O último fator é a patologia, que pode ser classificada quanto a degeneração axonal, desmielinização segmentar ou mista. Na degeneração axonal não há modificações que indiquem degeneração dos axônios, tais como restos de mielina em células de Schwann ou macrófagos. Na desmielinização segmentar há acometimento interno isolado ou múltiplo da bainha de mielina. Ao se avaliar o panorama clínico, nos pacientes em que a história e o exame neurológico sugerem o diagnóstico de NP, a confirmação pode ser realizada pelo exame de eletroneuromiografia (ENMG). Pode-se, então, classificar a distribuição do acometimento periférico, podendo ser mononeuropatia, mononeuropatia múltipla ou polineuropatia, tal como o tipo de acometimento fisiopatológico, seja ele axonal ou desmielinizante. Já o estudo anatomopatológico mostra diversos processos distintos que podem estar presentes em várias combinações em um mesmo paciente. São eles: degeneração walleriana, desmielinização segmentar e degeneração axonal. Na fibra nervosa, o elemento que é considerado mais suscetível é a mielina, acometida de forma primária ou secundária. Como dito anteriormente, a degeneração focal da bainha de mielina com preservação do axônio é chamada de desmielinização segmentar. A degeneração walleriana pode ocorrer se houver uma interrupção focal do axônio. A degeneração axonal centrípeta resulta em uma lesão metabólica do neurônio. Em ambas, ocorre a degeneração secundária da mielina. As neuropatias periféricas podem ser classificadas em mononeuropatia, mononeuropatia múltipla e polineuropatia e tal classificação é de extrema importância para o diagnóstico diferencial. A mononeuropatia ou mononeurite, é um tipo de neuropatia que só acarreta um único nervo periférico ou craniano. É importante que haja a diferenciação da neuropatia periférica da neuropatia autonômica. Essa diferenciação é feita por meio da limitação da extensão, haja vista que a mononeuropatia é um trauma localizado. Geralmente, a neuropatia do nervo ulnar é uma das mais comuns, devido a compressão na região do cotovelo. A mais comum é a síndrome do túnel do carpo, provocada pela compressão do nervo mediano no túnel carpiano. 4- Entender as vias nociceptivas e as neuropáticas (vias de dor); A dor neuropática (DN) é motivo de sofrimento e incapacidade para muitos pacientes, constituindo um problema de saúde pública. Por isso, todos os médicos deveriam saber diagnosticá-la. Seus sintomas, mecanismos e tratamento a distingue da dor nociceptiva, razão pela qual o seu diagnóstico correto é importante para que o adequado tratamento seja instituído1. O objetivo deste estudo foi discutir o quadro clínico da DN, assim como os exames clínicos, o teste quantitativo sensorial e a microscopia ótica confocal de córnea são brevemente abordados. A discussão de outros métodos diagnósticos, incluindo os estudos eletrofisiológicos e o emprego de questionários padronizados, ocorre em outras sessões dessa publicação. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-00132016000500015&script=sci_arttext&tlng=pt#B1 11 Lara Mendonça P3 CONCEITO DE DOR NEUROPÁTICA Dor originada de lesão ou doença que afeta as vias somatossensoriais aferentes, manifestando-se com vários sintomas, sendo os mais comuns a dor contínua em queimação, a dor em choque e a alodínea mecânica. CARACTERÍSTICAS DA DOR NEUROPÁTICA A DN se manifesta por meio de vários sintomas, sendo os mais comuns a dor contínua em queimação, sensação de choque e alodínea mecânica. Estudos neurofisiológicos e biópsia de pele sugerem que dor em queimação é reflexo de atividade espontânea em fibras nociceptivas aferentes, enquanto a sensação de choque presumidamente são originadas de estímulos ectópicos de alta frequência, gerados em fibras Aβ desmielinizadas. Já os mecanismos envolvidos nas gêneses da alodínea mecânica ainda não são totalmente esclarecidos, sabendo-se, entretanto, que estímulos inócuos podem causar dor pela estimulação de fibras aferentes sensibilizadas. A DN pode ser classificada como espontânea (em queimação, aperto e pressão) e provocada (em fisgada e choque) por meio da escovação da pele, por pressão e por estímulo térmico, como o frio. A hiperalgesia, aumento da resposta a um estímulo normalmente doloroso, pode ser frequentemente observada. Pacientes com DN também se queixam de sintomas parestésicos e disestésicos, como formigamento, fisgadas e agulhadas. DOR NOCICEPTIVA OU INFLAMATÓRIA Manifesta-se quando a via dolorosa ou o receptor nervoso aos estímulos da dor, que é chamado de nociceptor, é ativado fisiologicamente por meio de um estímulo nocivo. A origem da dor nociceptiva está associada a lesões de tecidos, ossos, músculos e ligamentos. Osteoartrite, por exemplo, caracterizada por inflamações em algumas articulações, causa a dor nociceptiva. Alguns estudos dividem a dor nociceptiva em visceral e somática. Enquanto esta última é caracterizada por se manifestar na superfície do corpo, a visceral, como o nome diz, atinge órgãos internos e, por vezes, é mais difícil de se determinar. No entanto, em termos gerais, a literatura científica descreve a dor neuropática como local e referida, e o tratamento geralmente é eficaz; na maioria dos casos envolve inicialmente a prescrição de medicamentos. DOR NEUROPÁTICA É definida como dor causada por lesão ou disfunçãodo sistema nervoso. Esse tipo de dor geralmente está associado a algumas patologias, como o acidente vascular encefálico (AVC), a esclerose múltipla, lesões na medula, tumores, diabetes, entre outros. A dor neuropática diabética, por exemplo, costuma piorar à noite; já a conhecida neuralgia do trigêmeo é descrita como uma dor “em facadas” em um lado da face, sendo habitualmente muito severa. Outro tipo de dor neuropática encontrada na prática clínica é aquela secundária ao herpes zoster. Pode ser grave, incapacitante e durar meses. O diagnóstico da dor neuropática pode ser dificultado pela incapacidade de se identificar e medir a sensação dolorosa, muitas vezes referida de forma muita imprecisa pelo paciente. O profissional da saúde, ao tratar a dor neuropática, pode prescrever analgésicos comuns, analgésicos opioides e até antidepressivos, a depender do caso. Exames complementares também podem ser utilizados para o diagnóstico e tratamento da dor. https://meucerebro.com/vitamina-d-e-esclerose-multipla-existe-relacao/ https://meucerebro.com/vitamina-d-e-esclerose-multipla-existe-relacao/ https://meucerebro.com/remedio-de-doido-psicofarmacos/ 12 Lara Mendonça P3 Fisiologia da dor Os nervos periféricos podem ser considerados como uma extensão do Sistema nervoso central (SNC), consistindo de fibras nervosas sensoriais, motoras e autônomas. São condutores elétricos sobre os quais as informações sensoriais e motoras são transmitidas. Os terminais nervosos das fibras nervosas sensoriais reconhecem e transformam vários estímulos ambientais em sinais elétricos (potenciais de ação) que são transmitidos ao corno dorsal do SNC, onde são alterados e retransmitidos ao tronco cerebral e ao cérebro que interpreta e produz a sensação de dor (MUIR III, 2009). Estes terminais nervosos são terminações livres, não mielinizadas chamados de nociceptores (PATEL, 2010) A classificação de um nociceptor é baseada na classificação da fibra nervosa e na sua extremidade terminal. Existem dois tipos de fibras nervosas: uma de pequeno diâmetro, não mielinizada que conduz o impulso nervoso de forma lenta (7,2 km/h) chamada de fibras C, e outra de diâmetro maior, levemente mielinizada e que conduz impulsos nervosos de forma rápida (72 km/h) chamadas de fibras Aδ. Os nociceptores das fibras-C respondem a vários estímulos como térmico, mecânico e estímulos químicos. Já os nociceptores das fibras-Aδ são de dois tipos e respondem a estímulos mecânicos e mecanotermais (PATEL, 2010). A sensação de dor é composta por duas categorias: uma dor primária, rápida, forte e aguda e depois uma dor secundária, lenta e contínua. Esse padrão de dor é explicado pela diferença da velocidade de propagação do impulso nervoso nos dois tipos de fibras nervosas descritas anteriormente. O impulso nervoso de rápida condução dos nociceptores das fibras-Aδ produz a sensação da dor primária, enquanto os nociceptores das fibras-C produzem a sensação da dor secundária (BEAR et al., 2008; PATEL, 2010). O corno dorsal da medula espinhal (CDME), local onde os neurônios fazem suas sinapses, é subdividido em camadas (lâminas) distintas de acordo com as características citológicas de seus neurônios. A maioria dos neurônios da lâmina I responde exclusivamente a estímulos nocivos. A lâmina II é formada quase que exclusivamente por interneurônios excitatórios e inibitórios, alguns dos quais respondem somente a aferências nociceptiva. As lâminas III e IV contêm neurônios que recebem aferências de fibras Aβ, respondendo predominantemente a estímulos não- nocivos. A lâmina V recebe aferências de fibras Aβ, Aδ, C e de estruturas viscerais (PURVES et al., 2005). A transmissão sináptica entre as fibras aferentes primárias e neurônios do CDME é mediada por neurotransmissores, aminoácidos excitatórios, aminoácidos e receptores inibitórios e receptores excitatórios. Quando se produz uma lesão em um tecido, ocorre liberação local e difusa de íons K + e H + , ATP, prostaglandinas, bradicininas e fatores de crescimento dos nervos, ativando assim os nociceptores periféricos. A resposta inflamatória 5 produzida ativa os mastócitos, linfócitos, neutrófilos os quais liberam substâncias vasoativas como histamina e substância P, que sensibilizam ainda mais os nociceptores resultando em uma hiperalgesia primária. Os linfócitos, neutrófilos e macrófagos liberam citocinas (IL-1, IL-6, fator de necrose tumoral α) formando uma “sopa de mediadores” amplificando a resposta de dor. Todos estes eventos são denominados de sensibilização periférica (CRUCIANI & NIETO, 2006; MUIR III, 2009). Após a hiperalgesia primária, desencadeia-se a hiperalgesia secundária. Esta ocorre em um tecido não lesionado em torno do local da lesão, devido à sensibilização central. A sensibilização central se inicia por um 13 Lara Mendonça P3 estímulo doloroso crônico que ativa as fibras C, provocando a liberação de glutamato, substância P e fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) em terminais nervosos centrais. Isto resulta na ativação de receptores do AMPA, NMDA, tirosinoquinases, que aumentam a atividade de um grupo de moléculas sinalizadoras que alteram a expressão de genes, resultando em mudanças neuroquímicas (neuroplasticidade) na medula espinhal, o que faz com que todos os estímulos resultem em dor (MOALEM & TRACEY, 2006; MUIR III, 2009). A informação sobre a dor é conduzida da medula espinhal ao encéfalo por meio de vias ascendentes da dor. As fibras Aδ e C entram na medula espinhal pela raiz dorsal dos nervos espinhais e fazem suas sinapses nas lâminas específicas (PURVES et al., 2005, BEAR et al., 2008). As informações nociceptivas recebidas pelos neurônios sensoriais periféricos seguem por neurônios do trato ascendente, que ativam o sistema tálamo-cortical, produzindo a consciência da sensação de dor.
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