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A
 Z
O
M
E
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Código Logístico
57122
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6371-0
9 788538 763710
No Brasil, a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, não 
alterou de imediato e de modo significativo a vida da população, mas foi 
resultado de muitas ações políticas e sociais. Nessa mesma época, os 
impérios se estabeleciam na Europa, prática política que também atingiu 
decisões tomadas na América Latina, inclusive no Brasil. É nesse con-
texto de alterações mundiais que se inicia a abordagem deste livro, que 
pretende esclarecer aspectos históricos da formação do Brasil-Nação, 
desde a construção do Estado Nacional Republicano até a ascensão da 
chamada “República do Café com Leite”, na década de 1930, culminan-
do com a “revolução” que levou Getúlio Vargas ao poder. Essa longa e 
importante trajetória do país é o foco de análise desta obra.
História do Brasil: da 
Proclamação da República 
ao Golpe de 1930
IESDE BRASIL S/A
2018
Lorena Zomer
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Z77h Zomer, Lorena
História do Brasil : da Proclamação da República ao Golpe de 1930 
/ Lorena Zomer. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2018. 
160 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6371-0
1. Brasil - História - Proclamação da República, 1889. 2. Brasil - 
História - Revolução, 1930. I. Título.
18-48604
CDD: 981
CDU: 94(81)
© 2018 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor 
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: jaboticaba/ iStockphoto
Lorena Zomer
Lorena Zomer é doutora e mestre pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), espe-
cialista em Educação Especial pela Faculdade Iguaçu e graduada (Licenciatura) em História pela 
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). É professora universitária e tem experiência em 
docência em História nos ensinos Fundamental, Médio e EJA. 
Sumário
Apresentação 7
1. A crise no Império e a emergência do discurso republicano 9
1.1 O Brasil de meados do século XIX 10
1.2 Resistência de escravos e luta abolicionista 17
1.3 As ferrovias e o interior do Brasil 20
2. Republicanismo no Brasil Imperial  25
2.1 Partido Republicano 26
2.2 O fim do regime monárquico e a construção de mitos e símbolos 32
2.3 A Constituição de 1891 37
3. Movimentos urbanos e sociais  41
3.1 A organização e a estruturação da República 42
3.2 Socialistas e anarquistas no Brasil 47
3.3 Trabalhadores de 1890-1910 51
4. O sertão e o interior do Brasil 55
4.1 O Cangaço 55
4.2 Canudos 59
4.3 Contestado 64
5. República civilizatória e resistência 69
5.1 Revolta da Armada 69
5.2 Revolta da Vacina 74
5.3 Revolta da Chibata 77
6. Reforma urbana e questão social na capital da República 83
6.1 Formação das elites, coronelismo e disputa pelo poder 83
6.2 Movimento grevista de 1917 87
6.3 Belle Époque: urbanização das capitais 89
7. Literatos, literatura e vida intelectual na Primeira República 97
7.1 Da Belle Époque ao modernismo: a Primeira República narrada 97
7.2 Semana de Arte Moderna 100
7.3 Dimensões da República: vida privada, intimidade e cotidiano 105
8. Discursos eugênicos no Brasil 109
8.1 Eugenia no Brasil 109
8.2 Discursos latinos sobre a eugenia 115
8.3 Imigração e teorias raciais (1920) 116
9. 1920 e as efervescências sociais e políticas 121
9.1 A imigração e a identidade nacional 122
9.2 Movimento operário 124
9.3 A onda feminista 126
10. “Revolução” de 1930: história e historiografia 133
10.1 A crise da República do café com leite 133
10.2 Tenentismo 135
10.3 Getúlio Vargas no poder 139
Gabarito 143
Referências 153
7
Apresentação
No Brasil, a República – proclamada em 15 de novembro de 1889 – não alterou de imediato e de 
modo significativo a vida da população, mas foi resultado de muitas ações políticas e sociais. Nessa 
mesma época, os impérios se estabeleciam na Europa, prática política que também atingiu decisões 
tomadas na América Latina, inclusive no Brasil.
É nesse contexto de alterações mundiais que se inicia a abordagem desta obra, que pretende es-
clarecer aspectos históricos da formação do Brasil-Nação, desde a construção do Estado Nacional 
Republicano até a ascensão da chamada República do café com leite, na década de 1930, culminan-
do com a “revolução” que levou Getúlio Vargas ao poder. 
Essa longa trajetória do país é esclarecida nesta obra, subdividida em dez capítulos. 
O Capítulo 1 aborda a crise no Império e a emergência do discurso republicano no território 
brasileiro, com as contradições evidentes entre o litoral e o interior e compreendendo os deba-
tes político-sociais trazidos pelo processo abolicionista. No Capítulo 2, reflete-se sobre os debates 
políticos surgidos com o fim do regime monárquico e a ascensão do Partido Republicano, até o 
estabelecimento da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, em 1891. 
O Capítulo 3 aborda os movimentos sociais e urbanos no Brasil da época, principalmente as 
primeiras manifestações socialistas e anarquistas. O Capítulo 4 caracteriza o sertanismo e a segre-
gação social, apresentando os importantes movimentos do Cangaço, de Canudos e do Contestado. 
No Capítulo 5, o foco são as contestações e resistências do período de 1900-1917, em especial a 
Revolta Armada, a Revolta da Vacina e o Movimento Grevista de 1917.
Por sua vez, o Capítulo 6 analisa as novas organizações do cotidiano, a formação das elites, o 
coronelismo e as dimensões culturais e sociais desse novo contexto, inclusive com a insurgência da 
Revolta da Chibata. No Capítulo 7, é feita uma reflexão sobre a efervescência cultural e a renovação 
dos grandes centros, indo da Belle Époque ao modernismo, incluindo a Semana de Arte Moderna de 
1922. O Capítulo 8 trata da eugenia no Brasil, da imigração e das teorias raciais da década de 1920.
No Capítulo 9, são abordados a identidade nacional, o movimento operário e a onda feminista 
do país. Por fim, o Capítulo 10 apresenta as questões políticas da República do café com leite, o 
tenentismo e a entrada de Getúlio Vargas no poder. 
Boa leitura!
1
A crise no Império e a 
emergência do discurso republicano
No Brasil, a República – proclamada em 15 de novembro de 1889 – não alterou de ime-
diato e de modo significativo a vida social e política da população, mas foi resultado de muitas 
ações políticas e sociais.
Nessa mesma época, os impérios se estabeleciam na Europa, criando uma prática po-
lítica que chegaria a influenciar decisões tomadas na América Latina e, inclusive, no Brasil. 
O imperialismo na Europa refere-se a
um período histórico específico, que abrange de 1875 a 1914, quando a 
Europa Ocidental passou a exercer intensa influência sobre o restante do 
mundo. O conceito designa também o conjunto de práticas e teorias que 
um centro metropolitano elabora para controlar um território distante 
[...]. Foi o momento do surgimento do Capitalismo monopolista, em 
que a livre concorrência entre diferentes empresas gerou concentração 
da produção nas mãos das mais bem-sucedidas, levando à formação de 
monopólio. Rapidamente, os bancos passaram a dominar o mercado fi-
nanceiro, exportando capital, influenciando as decisões de seus Estados 
e impelindo-os para a busca de novos mercados. Nascido, assim, da 
formação dos monopólios, o imperialismo promoveu disputas por fon-
tes de matérias-primas entre trustes e cartéis que, já tendo dominado o 
mercado interno em seus países de origem, precisavam se expandir para 
além de suas fronteiras, defrontando-se com cartéis e trustes de países 
concorrentes.(SILVA; SILVA, 2009, p. 218)
Neste capítulo, nosso intuito é tratar dos acontecimentos importantes que colaboraram 
com o fim do Império brasileiro1 e resultaram no surgimento do Brasil republicano.
Com base nessa consideração, traçamos primeiramente ideias sobre questões políticas, 
como a imigração e as consequências da Guerra da Tríplice Aliança (Guerra do Paraguai). 
Posteriormente, nas duas últimas seções, objetivamos pensar a respeito do processo de abo-
lição e a situação social/política daqueles que deveriam ser inseridos na sociedade de modo 
igualitário – premissa não muito respeitada –, assim como sobre o desenvolvimento do sistema 
de transporte ferroviário.
Importa ressaltar que, no início do século XIX, o Brasil ainda era uma colônia portugue-
sa, situação que se transformou após a Proclamação da Independência, no ano de 1822. Depois 
disso, o Brasil vivenciou conflitos importantes, como a Revolução Farroupilha (1835-1845), a 
Sabinada (1837-1838), a Balaiada (1839-1841) e a Revolução Praieira (1848-1850), que ques-
tionavam a organização política e social do país, incluindo o Poder Moderador (presente na 
Constituição de 1824).
1 Nome dado ao período pós-independência, em que o Brasil era uma monarquia e não se relacionava com a 
perspectiva “imperialista” europeia.
História do Brasil: da Proclamação da República ao Golpe de 193010
A Revolução Farroupilha e a Sabinada foram conflitos elitistas e da classe média. No caso 
do primeiro, por exemplo, a elite gaúcha questionava o valor dos impostos pagos sobre o charque. 
Contudo, ambos os conflitos defendiam uma “descentralização” do poder.
A Revolução Praieira e a Balaiada, por sua vez, foram movimentos contra as elites locais 
em Pernambuco e no Maranhão, respectivamente, símbolos da opressão e da miséria vividas 
pelo povo.
Com tudo isso, a partir de 1860, Dom Pedro II viu seus prestígios e privilégios serem cada 
vez mais questionados, tanto pelas discussões relacionadas ao tráfico negreiro quanto pela escra-
vidão mantida no país, temas que vinham sendo debatidos desde 1830. Além disso, oposições po-
líticas à monarquia colaboraram para a formação das campanhas republicanas, apoiadas também 
pelo desgaste ocasionado pela Guerra do Paraguai.
As características do Brasil, em meados do século XIX, já eram diversas daquelas do início 
do mesmo século. Do mesmo modo, ocorriam mudanças globais, permitindo ao Brasil buscar 
outras posturas políticas para que pudesse fazer parte das transformações sociais vividas em 
outros países. É sobre essas mudanças e algumas das discussões do período que falaremos nas 
próximas seções.
1.1 O Brasil de meados do século XIX
As transformações e as revoluções mais profundas no mundo social, político, econômico 
e cultural não ocorrem em um período, mas gradualmente e vêm cercadas de vários aconteci-
mentos. São mudanças paulatinas, processadas ao longo dos anos, que ocasionam as “grandes” 
transformações. O Brasil do fim do século XIX foi resultado de muitas reivindicações e de novos 
comportamentos e sentimentos, que foram maturando ao longo desse mesmo século.
Nesse sentido, o historiador Eric Hobsbawm, assim caracteriza o período compreendido en-
tre 1880 e 1914: “Era muito provável que uma economia mundial cujo ritmo era determinado por 
seu núcleo capitalista desenvolvido ou em desenvolvimento se transformasse num mundo onde os 
‘avançados’ dominariam os ‘atrasados’; em suma, num mundo de império” (HOBSBAWM, 2010, 
p. 98). O que o historiador destaca é a alteração do panorama sociopolítico de muitos países. Fosse 
o Brasil um país “avançado” ou “atrasado”, com base no entendimento de Hobsbawm, ele também 
teria sido atingido. Apesar de ter recebido diversas influências exteriores, as principais perspectivas 
foram fomentadas por acontecimentos do âmbito interno do Brasil.
Dom Pedro II, após o período regencial, preparou várias estratégias para organizar e dar 
tranquilidade ao seu próprio reinado. Segundo Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling:
Na falta de uma classe burguesa, capaz ela própria de regular as relações sociais 
por meio de mecanismos do mercado, coube ao Estado a consolidação do co-
mando nacional e do protecionismo econômico. [...]
As elites brancas entenderiam a corte como um clube, onde conviviam sócios 
sortudos; independentemente das facções políticas. Com efeito, luzias e saqua-
remas, como eram chamados conservadores e liberais, partilhavam a mesma 
origem social; formação educacional em Coimbra; carreira voltada para a me-
dicina e em especial para o direito; titulação, e relações pessoais. Divididos por 
A crise no Império e a emergência do discurso republicano 11
ideias que privilegiavam ora a centralização do Estado ora a sua descentrali-
zação, fechavam, porém, em uníssono quando o negócio implicava manter a 
escravidão e a estrutura vigente. (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 280)
Para a manutenção da política régia do Estado brasileiro, uma das estratégias utilizadas para 
manter a ordem social vigente foi dar/consolidar privilégios sociais à classe produtora. Como já 
mencionado, Dom Pedro II teve de se posicionar diante de algumas rebeliões e conflitos impor-
tantes, processos questionadores da estrutura política do Brasil naquele momento. Para isso, ele 
precisou centralizar em suas mãos a ordem, cuja estratégia foi delegar a administração e as políticas 
regionais a homens que o apoiavam, a fim de evitar que tais revoltas se repetissem e continuassem a 
questionar o seu próprio governo. Somado a isso, outra medida foi manter a escravidão, tanto pela 
mão de obra oferecida pelos escravizados quanto pela rentabilidade do tráfico, visto que as fazen-
das de café utilizavam essa força de trabalho, assim como boa parte do restante do país.
Segundo a historiadora Beatriz Mamigonian, os questionamentos acerca da escravidão 
vinham já desde o início do século XIX. De acordo com ela, o primeiro acordo para diminuir 
a escravidão foi firmado em 1810, entre Inglaterra e Portugal. Em 1815, após o Congresso de 
Viena, a Inglaterra conseguiu o compromisso de intensificar a campanha, porém tal medida 
somente foi efetivada em 1822, em territórios acima da linha do Equador. A rede de acordos 
sempre partia da Inglaterra. 
Em 1827, foi firmada a total proibição do tráfico de escravizados, que deveria ser colocada 
em prática até 1830, o que gerou um grande debate político. Em 1831, o primeiro e o segundo arti-
gos da Lei Feijó diziam que todos os escravizados encontrados em barcos brasileiros deveriam ser 
soltos e que os responsáveis seriam presos e multados. Entretanto, o regente Diogo Feijó, em 1834, 
defendeu a revogação dessa lei por considerá-la inexequível, ou seja, contraditória e injusta para a 
população (MAMIGONIAN, 2017, p. 90-130).
Leis, políticas e especialmente a educação seriam os únicos meios para mudar aquele con-
texto. Se a realidade social era difícil para os escravos, para a elite era promissora. Nesse período, a 
educação era para privilegiados e, em geral, conduzida por tutores pessoais. Posteriormente, esses 
alunos eram enviados a Portugal para estudar, de onde retornavam ao Brasil bacharéis e em busca 
de emprego público, de modo a fazer com que os cargos administrativos e políticos continuassem, 
na maioria das vezes, com a elite.
No entanto, na primeira metade do século XIX, foi criada a escola primária. Segundo Circe 
Bittencourt, “desde o início da organização do sistema escolar, a proposta de ensino de História 
voltava-se para uma formação moral e cívica, condição acentuada no decorrer dos séculos XIX e 
XX” (BITTENCOURT, 2009, p. 61).
Após as revoltas da primeira metade do século XIX, foram buscadas reformas escolares e 
a centralização educacional, a fim de se formar cidadãos de acordo com o esperado pelos grupos 
mais fortes do período: o de Dom Pedro II e o do Partido Conservador.
Do mesmo modo, o setor político público retomou o Conselho de Estado, que era o Poder 
Legislativo e espécie de “cérebro da monarquia”. Agora chamadode Novo Conselho, que havia sido 
História do Brasil: da Proclamação da República ao Golpe de 193012
extinto em 1834, permaneceu vigente até 1889, mantendo cargos vitalícios cujos lugares eram ocu-
pados por escolhidos de Dom Pedro II (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 281).
A influência do grupo mais conservador na educação, na política e nos cargos públicos per-
mite-nos entender a dificuldade em estabelecer mudanças sociais mais profundas. Mamigonian 
ressalta que a polêmica sobre o fim da escravidão ou do tráfico de escravizados se acentuou na 
década de 1840. Os argumentos contrários a essa prática tinham por objetivo criar uma ideia de 
que tal decisão traria prejuízos ao Brasil, além de lançar dúvidas sobre o que fazer com os libertos 
(MAMIGONIAN, 2017, p. 209-280). É preciso considerar que a formação do Brasil, seja enquanto 
colônia ou já como império, justificava a escravidão como uma instituição e a protegia legalmente.
Levando em consideração que o Poder Moderador permitia a D. Pedro II – junto àqueles 
que mantinham cargos administrativos e políticos indicados pelo rei – decidir sobre várias deman-
das políticas, inclusive intervindo em conflitos regionais, entendemos que seu poder era amplo. No 
entanto, ainda restava ao imperador e a seu grupo político conseguir ou construir uma ideia de na-
ção para o país. Para Dolhnikoff, o resultado disso era o interesse em uma unidade que tinha como 
base a “autonomia” tanto do governo central quanto do governo regional (DOLHNIKOFF, 2003, p. 
433). Essa perspectiva pode ser compreendida em diversas ações do grupo político de Dom Pedro 
II, que desejava ter o Brasil reconhecido como um local de cultura tropical, e não de escravidão.
Para tanto, era preciso criar imagens simbólicas, heróis nacionais, selecionar imagens e pai-
sagens idealizadas como naturais. Sobre isso, as historiadoras Schwarcz e Starling (2015) apontam 
que o Romantismo foi uma das escolhas:
Procurar por homogeneidades num Estado de proporções continentais e 
caracterizado por uma população tão heterogênea era tarefa complicada. 
A saída foi “esquecer” a escravidão e idealizar os indígenas, os quais, dizi-
mados sistematicamente nas florestas, reapareciam em romances e pinturas 
oficiais ou semioficiais. A representação do país como indígena (e mascu-
lino) juntava as concepções de um Brasil americano, mas também monár-
quico e português. Ou seja: uma mistura da cultura da velha metrópole com 
a identificação com a América, que nos faz independentes. (SCHWARCZ; 
STARLING, 2015, p. 283-4)
A imagem do Brasil trazia ideias sobre uma “ex-colônia” tropical, com aspectos de sua me-
trópole, porém modificada. Isso também possibilitou novas formações culturais ao recente país, 
mesmo que “branqueando” o indígena.
Além disso, Dom Pedro II também se tornou protetor do Instituto Histórico Geográfico 
Brasileiro (IHGB) em 1838, bem como conviveu nesse espaço com o historiador Francisco Adolfo 
Varnhagen e os escritores Joaquim Manuel de Macedo e Gonçalves Dias2. O instituto e homens 
como Varnhagen inauguraram a escrita da história brasileira, com o objetivo principal de criar 
uma ideia de nação para o país. A premissa era de que as histórias narradas pelo IHGB deveriam 
ter como fonte documentos e memórias oficiais.
2 Para um maior aprofundamento do tema, sugerimos a leitura de Julio Bentivoglio (2015).
A crise no Império e a emergência do discurso republicano 13
Um dos pontos ressaltados por Julio Bentivoglio é justamente o prêmio recebido por Carl F. 
von Martius, por um artigo em que 
defendia a escrita de uma história para o país que seria uma síntese do encon-
tro das três raças que a compunham: brancos, negros e índios; superando um 
tipo de história que vinha sendo combatida na Alemanha, porque cronológica, 
filosófica e universalista; [...]. Essa nova história [...] visava o particular, a com-
preensão dos nexos entre os eventos, o encontro com o espírito do povo e da 
nação. (BENTIVOGLIO, 2015, p. 293)
Cabe ressaltar que as relações entre Dom Pedro II e os historiadores do período determi-
navam as ideias do que seria narrado sobre a memória nacional, de acordo com os interesses do 
imperador e das classes mais privilegiadas (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 285-6). Segundo 
as historiadoras, um dos ápices da relação do Romantismo como movimento estético, cultural e 
político e das estratégias e relações de Dom Pedro II, foi a escrita de Iracema e O Guarani, ambos 
de José de Alencar.
Figura 1 – Iracema
Fonte: MEDEIROS, José Maria de. Iracema. 1884. Óleo sobre tela: 168,3 cm × 255 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
A pintura datada de 1884, de José Maria de Medeiros, retrata Iracema, a indígena idealizada 
pelos padrões do Romantismo brasileiro. A imagem sugere um lugar bucólico, pois traz cores ao 
fundo, em perspectiva, revelando um pôr do sol. Além disso, demonstra a riqueza da flora, que leva 
à ideia de um “paraíso tropical”. Do mesmo modo, a seminudez da indígena mostra que o mundo 
não era assim tão “selvagem”.
A prática de relacionar os indígenas à ideia de selvagem faz parte da própria catequização 
direcionada a eles. Quando catequizados, geraram uma miscigenação própria no Brasil tropical, 
substituindo o imaginário de uma colonização repleta de diferenças sociais (baseada na escravidão 
e na opressão indígena) por uma nação americana próspera.
De acordo com Schwarcz e Starling, após 1848, alguns acontecimentos já mostravam que 
nem tudo era homogêneo e a favor de Dom Pedro II. Naquele período, embora a proporção fosse de 
História do Brasil: da Proclamação da República ao Golpe de 193014
110 políticos conservadores na Câmara para apenas um liberal, algumas questões começaram a ser 
debatidas e foram motivo de desgaste para a imagem do imperador: o problema da estrutura agrá-
ria, a questão escravagista e o incentivo ao início da imigração (SCHWARCZ; STARLING, 2015, 
p. 274). Tais questões já vinham ganhando corpo desde o início da Guerra do Paraguai (1864-1870).
O trabalho escravo era um dos temas mais espinhosos, visto que, desde a Lei Feijó 
(de 7 de novembro de 1831), o debate sobre esse assunto já havia sido levantado e, aos poucos, 
ganhava mais defensores para o fim do tráfico, mesmo que isso se desse de maneira lenta e gradual 
(MAMIGONIAN, 2017).
É importante considerar que os debates não tratavam apenas do trabalho escravo como fon-
te de mão de obra ou do prestígio social em ostentar a posse de escravizados, mas dos valores 
financeiros muito vantajosos desse tipo de atividade.
Essa discussão interna se acirrou na década de 1850, tanto pela pressão de alguns grupos 
brasileiros quanto pela pressão estrangeira que buscava encarecer o valor dos produtos agrários no 
Brasil, visto que os de suas colônias também estavam mais caros devido à proibição do tráfico ou 
ao fim da escravidão. Somado a isso, a Inglaterra também desejava matéria-prima da África, bem 
como desenvolver um comércio com o continente, mas, para isso, precisava diminuir o tráfico de 
africanos escravizados (BETHELL, 2002, p. 14).
Com a intenção de extinguir o tráfico, algumas iniciativas começaram a ser realizadas ainda 
na década de 1850, a fim de trazer mão de obra imigrante. Uma delas, a Lei n. 601, de 18 de setem-
bro de 1850 (a Lei de Terras) desencadeou mudanças, visto que um de seus objetivos era norma-
tizar o controle das terras, para que se pudesse passar a falsa ideia de que os imigrantes poderiam 
adquiri-las, quando, de fato, ela acabava impedindo o acesso à posse da terra tanto por parte dos 
imigrantes quanto dos escravizados, uma vez que as terras só poderiam ser vendidas, e não doadas. 
Tal perspectiva tornava o Brasil bastante atraente para esses estrangeiros que buscavam uma vida 
melhor, fugindo de crises e dificuldades em seus países de origem. Sobre esse processo, além de 
limitar o número de terras que poderia ser comprada,
a Lei de Terras instituiu no Brasil a terra como mercadoria e permitiu a vinda de 
imigrantes para promovera grande e a pequena lavoura [...]. E, ao impedir que 
desde o início esses camponeses pudessem se tornar proprietários, reafirmava o 
que deles se esperava: colonos morigerados e laboriosos como força de trabalho 
para as propriedades agrícolas do Estado ou Particulares. Portanto, a Lei de 
Terras, ao dificultar o acesso à propriedade ao conjunto da população campesi-
na, ao mesmo tempo colocava este coletivo aos ditames do capital. (SANTOS, 
2001, p. 36)
Além de reforçar a posse das terras pelas elites, por meio dessa lei os imigrantes tinham seus 
lugares demarcados, assim como os negros. Embora a Lei de Terras não tivesse muitos recursos 
para controlar a demarcação, foi uma estratégia para manter a ordem social no Brasil, mesmo com 
a proibição do tráfico.
Diante do descontentamento de conservadores escravocratas, a Guarda Nacional foi refor-
çada, para que se cumprisse a lei. 
A crise no Império e a emergência do discurso republicano 15
Nesse período, foram construídas as primeiras estradas de ferro e algumas escolas, fo-
ram estruturados o serviço de iluminação pública e o sistema de telégrafos e foi criado o Código 
Comercial, a fim de estimular o comércio interno. Entretanto, se considerarmos todos os proble-
mas políticos e sociais para que o país se desenvolvesse de fato, seria necessária uma transformação 
profunda. Só isso faria com que o Brasil fosse respeitado e visto como um país “em desenvolvi-
mento”. E tal transformação era necessária porque os interesses dos grupos dominantes do período 
visavam ao desenvolvimento econômico e político, porém não ao social.
Toda a verba investida na estrutura considerada “modernizante” era proveniente do que 
vinha do tráfico de escravos (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 274-275). Mesmo com tantas 
mudanças e com a alta do café na década de 1860, a imigração só seria acentuada após a abolição e 
com o incentivo da “política de branqueamento”.
O que percebemos das medidas mencionadas é que, enquanto algumas delas trouxeram 
as transformações econômicas esperadas, geraram também novas críticas acerca da condução 
política de Dom Pedro II. Um desses elementos foi a Guerra da Tríplice Aliança, ou, como é mais 
conhecida, a Guerra do Paraguai, entre os anos de 1864 e 1870, considerada o maior conflito 
armado da América do Sul.
Durante a guerra, presenciou-se a permissão, por parte dos López, de outras vertentes po-
líticas para a reorganização política e social do Paraguai. Entretanto, esses capítulos contidos na 
Constituição paraguaia de 1844 e de 1856 nunca foram efetivamente postos em prática e, vale 
dizer, aqueles que deveriam fomentar olhares diferentes, ou mesmo serem opositores à política 
dos López, eram os próprios representantes e/ou indivíduos pertencentes às famílias relacionadas 
aos já dirigentes do país (SOUZA, 2006a, p. 128-129). A organização política do Paraguai diferia 
da brasileira, pelo fato de o Brasil apresentar um governo imperial e “centralizador”, enquanto o 
Paraguai tinha uma perspectiva mais “nacionalista” e de desenvolvimento econômico.
Além disso, o período político dos López contou com um crescimento econômico, com in-
centivo da indústria local, subsidiada pela venda da erva-mate, de fumo e de madeiras. Essa situa-
ção destacou o Paraguai dos demais países, oferecendo a possibilidade (mas não necessariamente 
a efetivação) de ser um país socialmente melhor (SOUZA, 2006a, p. 126).
Também houve o direcionamento de verbas públicas à educação primária e até mesmo o en-
vio de alunos a outros países por meio de fomento público e arrendamento de terras (antes perten-
centes aos representantes da Coroa espanhola ou da Argentina) (SOUZA, 2006a, p. 305-306). Esses 
fatores favoreceram o crescimento econômico do país e a independência em relação à Inglaterra, 
embora ele ainda se mantivesse em quase total isolamento em relação aos países vizinhos.
Essas características exemplificam como a realidade econômica, social e política do Paraguai 
era diversa daquela do Brasil. Ao mesmo tempo, não havia um motivo contundente para que o nos-
so país tivesse receio do vizinho, mesmo que ele ameaçasse dominar o Rio Paraná, com o objetivo 
de chegar à Bacia do Rio da Prata.
Foi com base nessas possíveis ameaças que ocorreu a Guerra do Paraguai, na qual foram 
vitoriosos o Brasil e os demais países (Argentina e Uruguai), apoiados pela Inglaterra, a qual tinha 
História do Brasil: da Proclamação da República ao Golpe de 193016
como objetivo reduzir a autonomia paraguaia, um dos únicos países a não depender de seus inves-
timentos e empréstimos. Enquanto isso, o Brasil contraía mais empréstimos para poder se armar 
durante esse período bélico.
Cabe observarmos que, mesmo com uma postura arrogante de Solano López em querer 
dominar o Rio da Prata e o Brasil não aceitando a intromissão ou o crescimento paraguaio, o único 
país beneficiado pela guerra foi a Inglaterra.
Tal acontecimento causou um desgaste político ainda maior para Dom Pedro II, além de 
dificuldade econômica para toda a nação. A principal consequência política foi o fortalecimento 
do Exército, uma das instituições que mais questionou as ações do imperador. Entre as exigências 
militares estavam a autonomia política e a manutenção da hierarquia após a guerra3.
Isso fortaleceu também as discussões sobre o fim da escravidão, já que muitos soldados eram 
escravos e foram à guerra diante da promessa de ganharem a liberdade. Ao retornarem, não apenas 
queriam a liberdade, mas também o avanço do movimento abolicionista.
Além disso, muitos cargos mais altos da hierarquia militar já mantinham discussões sobre 
ideais republicanos, que questionavam diretamente o Poder Moderador de Dom Pedro II e a estru-
tura política legitimada por ele e seu grupo.
Como dito anteriormente, a Guerra do Paraguai causou endividamentos do governo brasi-
leiro, visto que “o Tesouro Real indicou um gasto de 614 mil contos de réis. Para se ter uma ideia da 
magnitude desses gastos, basta comparar com o orçamento do império disponível para 1864, que 
era de 57 mil contos de réis” (DORATIOTO, 2002, p. 462). Por outro lado, no contexto da guerra, 
o Paraguai perdeu sua autonomia política e territorial.
O historiador José Murilo de Carvalho traz uma ideia do significado da Guerra do Paraguai 
para o contexto brasileiro e a situação política posterior:
De repente havia um estrangeiro inimigo que, por oposição, gerava o sentimen-
to de identidade brasileira. São abundantes as indicações do surgimento dessa 
nova identidade, mesmo que ainda em esboço. Podem-se mencionar a apresen-
tação de milhares de voluntários no início da guerra, a valorização do hino e da 
bandeira, as canções e poesias populares. Caso marcante foi o de Jovita Feitosa, 
mulher que se vestiu de homem para ir à guerra a fim de vingar as mulheres bra-
sileiras injuriadas pelos paraguaios. Foi exaltada como a Joana d’Arc nacional. 
Lutaram no Paraguai cerca de 135 mil brasileiros, muitos deles negros, inclusive 
libertos. (CARVALHO, 2002, p. 38)
A citação constata de que forma um processo histórico tão polêmico e complexo como a 
Guerra da Tríplice Aliança pôde trazer outras perspectivas para o Brasil, entre elas, a ideia do 
Brasil como um país de povo unido para a luta. Isso traria mais que a exigência da liberdade para 
os escravizados que haviam lutado, e a busca do reconhecimento do exército na hierarquia política. 
A Guerra do Paraguai suscitou sentimentos de participação cívica e de cidadania.
3 O site da Biblioteca Nacional oferece diversas fontes para análise da Guerra do Paraguai. Entre elas, trazemos o 
seguinte “dossiê”, disponível em: <http://bndigital.bn.gov.br/dossies/guerra-do-paraguai>. Acesso em: 19 fev. 2018.
A crise no Império e a emergência do discurso republicano 17
Carvalho (2002) aponta que a escravidão estava tão enraizada em nossas características so-
ciais e políticas que apenas após a Guerra do Paraguai a questão voltou a ser debatida. Além do 
desejo de liberdade suscitado durante o períodode 1864 a 1870, o Brasil foi alvo de críticas por 
manter e ter em combate escravos, um constrangimento diante de seus aliados e inimigos.
No que se refere à segurança nacional, por que o Brasil manteria um exército permanente 
com escravos? Então, foi nesse período (1871) que a Lei n. 2.040, de 28 de setembro de 1871 (Lei 
do Ventre Livre) foi sancionada por Dom Pedro II, abrindo oficialmente precedentes para a aboli-
ção total da escravatura. Pensar em nuances desse contexto, tanto em seus aspectos sociais quanto 
políticos, é o objetivo da próxima seção.
1.2 Resistência de escravos e luta abolicionista
havia mistura social, mas também não faltava hierarquia e respeito por ela. 
Nessa sociedade de perfil aristocrático (ou que se queria aristocrática), todos 
podiam conviver lado a lado, e apesar disso nunca deixariam de saber, cada 
qual, o seu lugar. A hierarquia era dada por uma série de marcas sociais e raciais 
– roupas, locais de residência, círculos de amizades, viagens, festas – claramente 
discriminadas a despeito da convivência num mesmo espaço. (SCHWARCZ, 
2017, p. 23)
Esse é o panorama social do bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, onde vivia Afonso 
Henriques de Lima Barreto, escritor e neto de duas escravas. O ano aproximado descrito pela his-
toriadora é o de 1881, mesmo do nascimento do escritor. Embora Lima Barreto fosse filho de uma 
professora e de um tipógrafo, sua vida ainda seria marcada pelas consequências de um período 
quase não vivido por ele (tinha 7 anos quando ocorreu a abolição).
Por que um país que logo teria o fim da escravidão e seria uma República, sinônimo de 
igualdade e de cidadania, viveria um futuro com diferenças sociais bem demarcadas e baseadas 
em raça, etnia e classe? Para Schwarcz (2017), a questão ia muito além da econômica ou mesmo se 
ligava apenas às regiões mais produtoras. Para ela,
De tão naturalizada, a escravidão não era privilégio de grandes proprietários. 
Os monarcas, mas também pequenos roceiros, negociantes, taberneiros, profis-
sionais liberais, padres, comerciantes, e por vezes até escravos possuíam cativos. 
A escravidão entrou em cheio nas casas privadas e nos negócios públicos do 
Estado [...]. O escravismo era, sobretudo, um bom negócio. Mas era mais do 
que isso; ele moldou condutas, definiu desigualdades sociais, fez de raça e de 
cor dois marcadores de diferença fundamentais, ordenou etiquetas de mando e 
obediência, e criou uma sociedade condicionada pelo paternalismo e por uma 
hierarquia estrita. (SCHWARCZ, 2017, p. 29)
A historiadora traz a ideia de naturalização e de normalização da escravidão para centenas 
de gerações do Brasil colonial. Entretanto, embora seja um argumento bastante aceitável, ainda 
não é suficiente para justificar a permanência desses princípios racistas tanto no tempo de Lima 
Barreto quanto nos séculos XX e XXI.
Nesse caso, outro aspecto a se pensar tem como base ideias da historiadora Beatriz 
Mamigonian. Para ela, mesmo com as tentativas de proibir o tráfico logo após a independência, 
História do Brasil: da Proclamação da República ao Golpe de 193018
com a promulgação da Lei de 7 de novembro 1831 (a Lei Feijó), o Brasil não debatia o fim da escra-
vidão pensando em igualdade e cidadania para os escravizados. As pautas de discussão acabavam 
sendo apenas sobre o peso econômico da decisão e reiterando o que esse trabalho e seu tráfico 
sustentavam no Brasil.
Ou seja, a maioria da população brasileira do século XIX de maneira alguma pensava que 
oferecer ao escravizado a liberdade era uma necessidade de justiça. O que pressionava nesse senti-
do eram apenas os interesses ingleses, que exigiam o fim do tráfico negreiro para o Brasil visando a 
benefícios próprios. Em paralelo, outros países da América davam liberdade aos escravos.
Então, esse modelo escravagista não combinava com uma nação moderna, muito menos se 
o Brasil caminhasse para o republicanismo (MAMIGONIAN, 2017, p. 9-29).
Dessa forma, apenas pelas independências de países da América Latina e da pressão exterior 
é que o governo desse período passou a obedecer ou discutir algumas das leis anteriores à Áurea. 
Isso não significa que o surgimento dos discursos republicanos, ou mesmo os desdobramentos da 
Guerra do Paraguai e da própria campanha abolicionista, não foram ouvidos; pelo contrário, foi 
pelos meandros que a política brasileira não conseguiu contornar que esses acontecimentos laterais 
encontraram força e espaço para se instituir como políticas universais.
A questão abolicionista certamente foi uma das mais polêmicas e caras para o período pos-
terior a 1850. Tendo em vista a sua proibição em breve, o tráfico cresceu muito nas décadas que 
antecederam 1850. A liberdade, que deveria ser dada àqueles que foram traficados ilegalmente, 
muitas vezes teve de ser defendida por juristas e advogados (MAMIGONIAN, 2017, p. 430-433). 
Isso demonstra que ferir a lei não era algo grave, visto que moralmente uma maioria não se impor-
tava com a vida dos escravizados.
Além disso, podemos pontuar outras características sobre a alforria desse período – quan-
do ela ocorria. Schwarcz (2017), ao falar sobre a vida de Lima Barreto, menciona a avó dele da 
seguinte forma:
A avó de Lima, Geraldina Leocádia, fora alforriada quando a família se mu-
dou para o Rio [de Janeiro]. Os Pereira de Carvalho parecem ter se adiantado 
ao movimento que seria mais geral apenas na década de 1880, concedendo 
alforria condicional, mas preservando os libertos por perto. [...] Os motivos 
para receber a tão desejada carta de liberdade eram vários, porém não poucas 
vezes razões simples, pautadas em desígnios do coração, falavam mais alto. [...] 
Geraldina e os filhos permaneceriam próximos de seus ex-proprietários. Havia 
muita ambivalência, de lado a lado, nessas trocas de favores; elas auxiliavam na 
inserção social futura dos “ingênuos”, mas igualmente mantinham laços de ser-
vidão e novas formas de dependência. (SCHWARCZ, 2017, p. 37)
A passagem referente à família de Lima Barreto demonstra que, quando a lei era aplicada, 
alguns acabavam cedendo à alforria. Ou seja, por pressões políticas ou sociais, os proprietários re-
solviam manter-se perto de seus ex-escravos. Esse gesto era baseado em um processo hierárquico, 
racista e classista, no qual práticas clientelistas eram estendidas a negros com a promessa de uma 
inserção social, já que, após a alforria, não eram mais propriedade, e isso significava também que 
não era mais obrigação de seus donos defendê-los.
A crise no Império e a emergência do discurso republicano 19
Além disso, o trabalho de Geraldina era o de doméstica, muito comum para mulheres ne-
gras no mundo pós-escravidão. Esse foi um trabalho considerado inferior e subestimado por mui-
tas casas ao longo de um século4.
O caso da mãe de Lima Barreto também se relacionava com essa prática de dependência. Ao 
adquirir o “nome social” Pereira Carvalho, ela pôde estudar e se tornar professora (SCHWARCZ, 
2017, p. 37).
Nesse sentido, podemos entender que, por lei ou por vontade própria, negros e negras re-
ceberam suas alforrias, mas, em geral, não tiveram seus futuros planejados, muito menos uma 
inserção social que visava à igualdade. Um argumento para isso é o próprio estímulo à vinda de 
imigrantes europeus, a fim de substituir o trabalho escravo negro, mesmo que em geral fosse muito 
mais caro e menos rentável em relação ao primeiro.
O Brasil foi o último país ocidental a abolir a escravidão – cerca de um ano após o feito em 
Cuba. O historiador José Murilo de Carvalho mostra que a discussão só veio à tona em 1884 no 
Senado. Segundo ele:
O Brasil era o último país de tradição cristã e ocidental a libertar os escravos. 
E o fez quando o número de escravos era pouco significativo. Na época da 
independência, os escravos representavam 30% da população. Em 1873, ha-
via 1,5 milhão de escravos, 15% dos brasileiros. Às vésperas da abolição, em 
1887, os escravos não passavam de 723 mil, apenas 5% da população do país. 
(CARVALHO,2002, p. 47)
Ou seja, dentro de processos de alforria – baseados em leis, como a dos Sexagenários e do 
Ventre Livre, ou mesmo por meio de fugas para quilombos – a quantidade de escravos já estava re-
duzida. Desse modo, é preciso que nos perguntemos: se o número de escravizados já era tão menor, 
por que houve (e ainda há) um problema tão sério em relação ao racismo e à desigualdade social, 
se considerada a categoria de raça?
José Murilo de Carvalho pondera sobre tal questionamento. Para ele, próximo à guerra civil 
dos Estados Unidos, havia ao menos 4 milhões de escravos, ou seja, um grande obstáculo para a 
construção de uma ideia de igualdade. À época, esse país era dividido entre Norte e Sul, e a escra-
vidão só era permitida na parte austral. Tal perspectiva se difere do Brasil, visto que em nosso país, 
embora a escravidão fosse distribuída de maneira desigual, “havia escravos no país inteiro, em 
todas as províncias, no campo e nas cidades” (CARVALHO, 2002, p. 48).
Nesse caso, um diferencial entre a escravidão brasileira e a estadunidense, especialmente 
se considerarmos os problemas sociais vividos após a abolição, é o fato de existirem grandes e 
pequenos proprietários de escravos. Esses escravizados poderiam ser usados para trabalho árduo 
nas lavouras, mas também ser de ganho. Outro aspecto é o fato de os libertos também terem a 
possibilidade de comprar ou incentivar a escravidão de alguém da sua cor. Nesse caso, Carvalho 
aponta que até mesmo escravos tinham escravos, assim como existiam 78% de libertos na Bahia 
(CARVALHO, 2002, p. 48).
4 Para mais informações, ver o trabalho de Joaze Bernardino Costa (2015), que trata do trabalho doméstico e das 
mudanças que ocorreram apenas no século XXI, com o reconhecimento por lei do trabalho doméstico no Brasil.
História do Brasil: da Proclamação da República ao Golpe de 193020
Um dos aspectos que mais pesam sobre essa discussão e que podemos pontuar sobre essa 
questão social – uma consequência de séculos de escravidão e da falta de igualdade e de cidada-
nia – é que, mesmo aqueles que lutavam pela própria liberdade, quando a alcançavam, acabavam 
legitimando a escravidão. Para o autor,
embora repudiassem sua escravidão, uma vez libertos admitiam escravizar os 
outros. Que os senhores achassem normal ou necessária a escravidão, pode en-
tender-se. Que libertos o fizessem, é matéria para reflexão. Tudo indica que os 
valores da liberdade individual, base dos direitos civis, tão caros à modernidade 
europeia e aos fundadores da América do Norte, não tinham grande peso no 
Brasil. (CARVALHO, 2002, p. 49)
Portanto, longe de normatizar ou justificar o racismo presente no Brasil pela própria cul-
pabilidade de ex-escravizados, o que queremos, ao trazer tal citação, é demonstrar o quanto essa 
questão social é complexa, ainda mais ao ser refletida e discutida ainda nos séculos XIX e XX.
Se estudarmos a vida e a obra do escritor Lima Barreto, é possível perceber que os escraviza-
dos que antes cuidavam de fazendas e faziam outros trabalhos semelhantes passaram, na sua maio-
ria, a ocupar lugares marginais em cortiços e assumiram empregos apontados como subalternos, 
não somente nos anos seguintes, mas durante o século XX também.
Podemos destacar que a modernização no Brasil (empreendida na segunda metade do 
século XX) não foi acompanhada de preceitos sociais ou de igualdade para negros. Ela era de-
sejosa de imigrantes brancos, a fim de deixar a “República Tropical” mais branca. Sobre isso, o 
historiador Carvalho aponta a seguinte ideia:
O argumento da liberdade individual como direito inalienável era usado com 
pouca ênfase, não tinha a força que lhe era característica na tradição anglo-
-saxônica. Não o favorecia a interpretação católica da Bíblia, nem a preocupação 
da elite com o Estado nacional. Vemos aí a presença de uma tradição cultural 
distinta, que poderíamos chamar de ibérica, alheia ao iluminismo libertário, à 
ênfase nos direitos naturais, à liberdade individual. Essa tradição insistia nos as-
pectos comunitários da vida religiosa e política, insistia na supremacia do todo 
sobre as partes, da cooperação sobre a competição e o conflito, da hierarquia 
sobre a igualdade. (CARVALHO, 2002, p. 51)
Nesse caso, fica claro que as ideias de liberdade e de igualdade não tinham o mesmo peso 
para todos. A tradição e os costumes mantiveram-se junto ao fraco debate político, após 1888. 
Afinal, políticos que acreditavam que o país deveria indenizar os donos de escravos após a abolição 
não discutiriam como dar aos ex-escravos uma cidadania plena (SCHWARCZ, 2017, p. 60-63).
1.3 As ferrovias e o interior do Brasil
A cultura do café, que se desenvolveu a partir de 1830, proporcionou muitas riquezas ao 
Brasil, o que permitiu o acúmulo de capital que, futuramente, foi responsável por parte do investi-
mento industrial do eixo São Paulo-Rio de Janeiro (CARVALHO, 1981, p. 56).
A primeira estrada de ferro foi construída pelos ingleses ainda em 1854, no Rio de Janeiro, 
por iniciativa do Barão de Mauá (com investimento próprio de 10%), embora a lei que a tenha 
permitido ainda fosse de 1835, a Lei Feijó (PINTO, 1977, p. 22).
A crise no Império e a emergência do discurso republicano 21
A ordem de construção dessa estrada foi de Dom Pedro II, cujo objetivo central era interli-
gar o Rio de Janeiro a São Paulo e Minas Gerais. O pagamento do empréstimo foi feito apenas na 
década de 1870, porém, antes disso, as relações do Brasil com a Inglaterra se estreitaram, após a 
resolução da questão Christie.
A empresa que se instalou a partir de 1860 foi a The São Paulo Railway Company, que cons-
truiu ferrovia de Santos até Jundiaí. Além do desenvolvimento maior ainda dessa região, logo 
migrantes do Brasil começaram a se aproximar de onde se projetavam as novas ferrovias, au-
mentando o povoamento do interior e estimulando o desenvolvimento da Politécnica do Rio 
de Janeiro, visto que em geral a mão de obra engenheira era inglesa (TELES, 1994, p. 471). 
Após 1870, foram logo construídas as ferrovias paulista (1872), a mogiana (1875) e a sorocabana 
(1875). O mapa a seguir permite-nos entender a interiorização e o desenvolvimento causados 
pelo aumento das ferrovias:
Mapa 1 – Ferrovias do Brasil em 1876
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História do Brasil: da Proclamação da República ao Golpe de 193022
Entendemos que o interior do Rio de Janeiro e especialmente o de São Paulo foram os 
maiores beneficiados pela chegada das ferrovias ao Brasil, devido à presença das fazendas de café. 
Entretanto, é importante salientar que o interior do Brasil continuou ainda pouco conhecido. 
No que se refere à economia do período, além do próprio café, outros segmentos começaram a 
despertar o interesse daqueles que estavam relacionados ao café e às ferrovias, como o abastecimento 
de água, o saneamento, os portos, as máquinas a vapor, a navegação, a eletricidade, a telegrafia e a 
telefonia. É perceptível que ainda no império de Dom Pedro II uma rede de transportes e de comu-
nicação dava sinais de crescimento. O progresso parecia chegar à nação tropical, ao passo que nela 
ainda persistiam tantos problemas sociais e políticos, especialmente se considerarmos que as políticas 
públicas eram direcionadas para manter os segmentos econômicos de uma minoria.
Dessa forma, é possível perceber que os investimentos eram realizados de acordo com os in-
teresses de uma classe privilegiada. Contudo, é importante considerar que esse acúmulo de capital 
financiou parte do crescimento industrial de 1920 a 1940.
Considerações finais
O objetivo deste capítulo foi trazer alguns debates vividos no século XIX que criaram as con-
dições para que o poder monárquico, a escravidão e a ordem social vigente fossem questionados e 
para compreender como algumas práticas políticas e econômicas, como a imigração e a construção 
das ferrovias, mudaram o cenário brasileiro do interior (a começar por São Paulo). Esses processos 
tambémestão diretamente ligados ao modo como se deu a Proclamação da República no país, 
por meio da tomada do poder pelos militares, instituindo uma política republicana e sem grandes 
transformações – o que trouxe consequências para as primeiras décadas do século XX.
Ampliando seus conhecimentos
O trecho a seguir, de autoria de Márcia Janete Espig, faz referência ao período em que a 
estrada de ferro entre o Estado de São Paulo e o Estado do Rio Grande do Sul foi construída, ou 
seja, a partir de meados do século XIX. Para isso, tanto o trabalho de imigrantes europeus quanto o 
de migrantes brasileiros foi contratado. As mudanças ocasionadas pela construção das estradas de 
ferro desencadearam transformações sociais e políticas nas regiões envolvidas e no país, conforme 
podem ser percebidas no decorrer do texto.
A construção da Linha Sul da Estrada de Ferro São Paulo-Rio 
Grande (1908-1910): mão de obra e migrações
(ESPIG, 2012, p. 852-862)
Foi em seus momentos finais que o Império brasileiro aprovou um projeto há muito acalen-
tado pelo poder público, assinando-se o decreto que autorizava a construção de um caminho 
de ferro que faria a ligação da província de São Paulo ao sul do Brasil. Em 9 de novembro de 
1889, através do Decreto n. 10.432, o engenheiro João Teixeira Soares recebeu do Governo 
Imperial autorização para “construcção, uso e goso” da ferrovia que passou a ser denominada 
A crise no Império e a emergência do discurso republicano 23
Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande (EFSPRG). No dia 14 de novembro, Teixeira Soares 
assinou o contrato com o Governo Federal, e apenas seis dias após a assinatura do decreto e um 
dia após a assinatura do contrato, caía a Monarquia e com ela o compromisso entre as partes.
[...]
A questão da imigração recebeu destaque no Decreto Imperial. As Cláusulas 39 a 46 organiza-
vam a colonização nas terras servidas por suas linhas férreas. A Companhia deveria estabele-
cer em terras a serem demarcadas até dez mil famílias de agricultores nacionais e estrangeiros, 
no prazo máximo de quinze anos. Cada família teria direito a um lote de terras de dez hectares 
e uma casa construída. Enquanto tivessem seu sustento provido pela Estrada de Ferro, os colo-
nos trabalhariam 15 dias por mês em seus lotes e os demais dias para a Companhia, mediante 
um salário acordado entre as partes. [...] O governo estabelecia também que 15% das famílias 
poderiam ser nacionais; as outras seriam compostas de imigrantes europeus ou das possessões 
portuguesas e espanholas que chegassem ao país por conta própria ou por conta do governo. 
Neste sentido, colocava a Cláusula XLIV, o único compromisso do Governo seria o de encami-
nhar os imigrantes para as localidades, onde seriam recebidos pelos agentes dos contratantes.
[...] Permaneceu, portanto, um dos problemas que se tornariam centrais na construção da 
EFSPRG: a carência de mão de obra considerada adequada para a dura tarefa de abertura de 
caminhos para a ferrovia. A noção do que seria “adequado” incluía preconceitos contra a mão 
de obra nacional e especialmente contra os trabalhadores do interior da região, os caboclos.
[...]
As referências a imigrantes e migrantes evoluem paulatinamente na documentação durante 
1908. Fontes como jornais e relatos memorialísticos de descendentes ou imigrantes atestam o 
fornecimento de passagens para imigrantes de zonas pobres da Europa para a colonização das 
zonas contíguas ao caminho de ferro e para sua construção.
Sugestão complementar
Como sugestão complementar, indicamos o blog do Instituto Moreira Salles5, que tem um 
variado acervo iconográfico, principalmente do século XIX. Disponível em: <https://blogdoims.
com.br/categorias/>. Acesso em: 27 fev. 2018.
Atividades
1. Elabore uma ideia que considere duas perspectivas políticas diferentes sobre as consequên-
cias da Guerra do Paraguai para o Brasil.
2. Quais relações podemos estabelecer entre a abolição da escravidão em 1888 e as consequên-
cias sociais para aqueles que foram libertos?
5 O Instituto Moreira Salles é uma organização sem fins lucrativos que dispõe de um vasto acervo de obras de arte. 
Possui sedes em Poços de Caldas (MG), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ).
História do Brasil: da Proclamação da República ao Golpe de 193024
3. De que forma é possível estabelecer uma relação entre a construção das ferrovias em São 
Paulo e o processo de interiorização no século XIX? Além disso, qual era a estratégia econô-
mica envolvida no estímulo das ferrovias?
4. Com base na leitura do capítulo e do trecho do artigo de Márcia Janete Espig, na seção 
“Ampliando seus conhecimentos”, estabeleça uma relação entre a construção das ferrovias e 
a imigração no Brasil.
2
Republicanismo no Brasil Imperial 
Vertigem e aceleração do tempo. Essa seria, sem dúvida, a sensação mais 
forte experimentada pelos homens e mulheres que viviam ou circulavam 
pelas ruas do Rio de Janeiro na virada do século XIX para o século XX. 
Ainda que, de forma menos contundente, o mesmo sentimento parecia estar 
presente nas principais cidades brasileiras, que, tal como a cidade-capital, 
cresciam como nunca [...] haviam crescido, complexificavam suas funções 
e recebiam levas de imigrantes europeus [...] Marasmo. E um tempo que 
parecia transcorrer tão lentamente que sua marcha inexorável mal era per-
cebida. Assim, nas fazendas, nas vilas do interior e nos sertões do país, essa 
mesma virada do século seria percebida. (NEVES, 2008, p. 14)
A citação acima representa parte da realidade brasileira após a Proclamação da República, 
na virada do século XIX para o XX. O interior do país era marcado pelos trabalhos da agri-
cultura e pelas relações sociais: coronelistas e escravistas. Nesse mesmo período, chegavam 
imigrantes1 aos portos brasileiros, novos bairros começavam a ser formados, com novas opções 
de lazer e de transporte, junto com a influência da moda europeia.
Se a Proclamação da República pouco havia transformado o cenário brasileiro no ano 
de 1889, esse novo tempo que se abria permitiu que, aos poucos, mudanças sociais e políticas 
alcançassem mais partes do país e fossem realizadas transformações relacionadas às exigências 
do capitalismo ocidental.
Se na virada do século havia a promessa de uma nova política para o Brasil, por que en-
tão permaneciam tantos problemas sociais e políticos? Para compreender parte dessa questão, 
é preciso refletir sobre como aconteceu a Proclamação da República e quais interesses incenti-
varam tal processo.
A partir da segunda metade do século XIX, as propostas políticas do Partido 
Republicano ganharam novos limites e debates, tanto dentro de sua própria formação quanto 
no que se refere à política imperial de Dom Pedro II. Questões como a Guerra do Paraguai 
e a abolição da escravatura foram influenciadas pelos entraves políticos daquele tempo, ou 
seja, consequentemente colaboraram para que o governo imperial e suas medidas fossem 
contestadas e deslegitimadas.
Os símbolos e mitos, criados após a Proclamação da República, visavam à aceitação do 
ideal republicano, de modo que esse novo sistema fosse aceito, defendido e vivido por aquele 
que deveria dar apoio político necessário para a estruturação da República – o povo.
Dessa forma, neste capítulo, além de tudo isso, abordaremos também as características da 
Constituição de 1891, a fim de discutir a forma como o Brasil estava se reestruturando pelos ca-
minhos republicanos, assim como estabelecer as principais diferenças da Carta anterior, de 1824.
1 Sobre a política de imigrantes direcionada pelo governo brasileiro, sugerimos a leitura de Biondi (2010).
História do Brasil: da Proclamação da República ao Golpe de 193026
2.1 Partido Republicano
Para o Partido Republicano Paulista, o ano de 1870 não é o princípio de sua história, mas 
um marco. Nessa data aconteceu a fundação do partido na capital do Império brasileiro (Rio de 
Janeiro), acontecimento que está atrelado a mudanças que ocorriam no Brasil, como a diminuição 
da produçãode açúcar no Nordeste (que não conseguia manter a mão de obra escrava ocupada) 
e o aumento do poder econômico e político do Sudeste com a produção cafeeira. Porém, para que 
fosse possível conquistar mais poder, o partido precisaria relacionar-se com os ideais republicanos 
e enfrentar a questão da abolição da escravatura no Brasil.
Nesse mesmo período, entraves contra o governo de Dom Pedro II se intensificaram, prin-
cipalmente devido ao fim da Guerra do Paraguai, que convocou escravos sob a promessa de serem 
alforriados após o conflito – motivo pelo qual o movimento abolicionista ganhou mais apoio na 
década de 1870.
No Exército, coronéis e soldados passaram a defender a estruturação da instituição, 
assim como o discurso de um partido que se coloca a favor de princípios tão diversos à auto-
ridade do imperador.
Portanto, ao fim da Guerra do Paraguai, somado ao desgaste da imagem de Dom Pedro II, 
o Exército e o movimento abolicionista, embora em posições sociais diferentes, tinham interesses 
políticos contrários às ações do grupo aliado ao imperador.
Além disso, o mundo ocidental caminhava para um período de disputas entre os países da 
Europa, em especial estabelecendo impérios, fortalecidos por grandes nações, cujo capitalismo não 
aceitava mais o trabalho escravo, principalmente porque este já não existia nas colônias inglesas 
– entretanto, com o trabalho escravo no Brasil, a produção tornava-se mais barata, o que desagra-
dava a concorrente Inglaterra. 
As ideias referentes à ciência, à tecnologia, ao ideal de civilidade e de progresso afirma-
vam-se nesses países. Desse modo, aqueles que mais se adaptassem a esses princípios alcançariam 
destaque na corrida imperialista e novos mercados consumidores.
Apesar do que ocorria no mundo, as práticas econômicas e as políticas do contexto brasilei-
ro eram diversas. Os que regiam a política imperial tinham divergências na postura que deveriam 
adotar. O Partido Republicano, por exemplo, que era diferente politicamente da ordem vigente no 
Brasil (a Monarquia), não seria aceito sem relutância.
Antônio da Silva Jardim, a respeito dos ataques sentidos pelo Partido Republicano nas déca-
das de 1870 e de 1880, aponta problemas políticos internos ao partido:
Penso que o Partido Republicano, sob pena de covardia, deve, ao menos, não 
recuar da atual fase de agitação política, em que por vezes não cedeu, mesmo 
diante das armas [...] conservando o sólido princípio fundamental do Partido 
Republicano, e as suas gloriosas tradições guerreiras e pacíficas, já é tempo de 
dar-lhe uma melhor direção política, mais científica e mais patriótica, quanto à 
doutrinação e processos; direção não vazada unicamente nos moldes democrá-
ticos, que o confundiram no passado com o Partido Liberal e no presente reve-
lam o perigo de fazê-lo absorvido por este Partido, o que obriga os republicanos 
Republicanismo no Brasil Imperial 27
a não aceitarem o modo por quê, por falta de estudo conveniente, o sr. Quintino 
Bocaiúva concebe a República; modo vago, estéril, anárquico, atrasado e utópi-
co. (JARDIM apud BASTOS, 1986, p. 191)
A citação deixa evidente que não havia homogeneidade de pensamento, visto que Silva 
Jardim criticou duramente Quintino Bocaiúva – também republicano, mas de cunho mais liberal. 
De modo geral, ressaltamos que essa perspectiva heterogênea pode ser considerada importante 
para a construção de uma política mais democrática no Brasil.
Bocaiúva tinha como proposta uma revolução “mais branda”, sem armas e/ou conflitos, e só 
foi eleito por ter:
falseado o regime republicano de fiscalização, de discussão pública, falseado 
o regime representativo, para que se desse a ditadura de um pequeno grupo 
paulista, descubro na sua eleição, o que eu sentia de longos meses: uma cons-
piração de alguns velhos elementos do Partido Republicano gastos para a ação 
patriótica, somente capazes da intriga para a cobiça do poder, aliada à falta de 
compreensão da situação política atual, com o pretenso fim de paralisar a ação 
republicana, por medo dos perigos que ela continuasse a trazer; pela incerteza 
do gozo do poder, e pela aspiração mesquinha das posições que possa dar um 
eleitorado republicano dentro do regime monárquico; e ainda, o que tem mais 
importância do que pudera parecer, pelo receio do predomínio moral dos novos 
elementos republicanos em ação. (JARDIM apud BASTOS, 1986, p. 191)
Com base nisso, é possível afirmar que Silva Jardim mantinha ideias mais diretas impostas 
pelo ideário republicano. Tal perspectiva apoiava uma mudança clara, diferentemente dos liberais, 
que eram reconhecidos por oscilarem entre seus interesses e os de Dom Pedro II.
Silva Jardim defendia que o movimento fosse revolucionário no sentido maior do termo, 
ou seja, com ampla participação popular, com o intuito de que o sistema, após implementado, não 
fosse apenas de acordo com os interesses de um grupo mais privilegiado.
Outras ideias de Silva Jardim também corroboram com essas afirmações:
Por que razão o 7 de abril [de 1831 – o movimento que obrigou D. Pedro I a 
abdicar] degenera em movimento monárquico? – indagava. “Porque o grupo 
dos exaltados deixou-se vencer pelo dos moderados... É mister evitar a nossa 
entrega ao liberalismo, sequioso de poder, tornando-se republicano de um dia 
para outro. É preciso tirar o Partido Republicano deste perigo: que a República 
seja a Monarquia sem o Imperador! [...] O momento é o mais oportuno para a 
instituição da república no Brasil, é o mais adequado para a sua instituição sem 
grande abalo social. A nação inteira está mesmo à espera de um novo estado de 
coisas, sente-se nas vésperas de uma reorganização. O partido dito conservador 
invade o terreno das reformas liberais. O partido liberal arvora a bandeira da 
federação, que bandeira arvoraremos nós? Certo que a da república imediata, e, 
pois, a da revolução [...] apelamos para todos que a pátria habitam, a fim de que 
nos auxiliem no trabalho e na regeneração da pátria. Pedimos o concurso da 
mulher, porque sabemos que sem o impulso do seu coração, jamais revolução 
gloriosa ou reforma eficaz o homem realizou; pedimos o concurso dos moços 
porque sabemos que na mocidade alia-se o entusiasmo científico ao entusiasmo 
patriótico; pedimos o concurso dos velhos porque sabemos que a sua inflexão 
consagra e santifica o denodo cívico, o impulso rebelde e a audácia política. 
História do Brasil: da Proclamação da República ao Golpe de 193028
Pedimos o concurso de todos, qualquer que seja a sua nacionalidade: – dos es-
trangeiros – se é que essa palavra estrangeiros existe nos nossos dicionários – a 
que colaborem conosco na reorganização da terra que adotaram... (JARDIM 
apud BASTOS, 1986, p. 192-195)
O discurso do jornalista Silva Jardim deixa evidente que os liberais percebiam no republi-
canismo um meio de permanecer no poder, pois, mesmo com as diferenças em relação a Dom 
Pedro II, sempre estiveram ao seu lado. Silva Jardim traz em suas palavras a disputa entre liberais 
e conservadores desde a independência do país. Esses grupos, em geral, eram diferentes, mas em 
diversos momentos tinham pautas comuns2.
Ricardo Salles afirma que liberais e conservadores eram entendidos como integrantes de 
grupos políticos que ocupavam lugares, por vezes, opostos. O primeiro estava relacionado às clas-
ses médias e urbanas, com profissionais de todas as áreas; o segundo dizia respeito, em sua maioria, 
aos produtores rurais.
Na década de 1860, emergia com mais força a questão abolicionista, assim como o argu-
mento liberal da descentralização do poder. Esses interesses entre as propostas dos conservadores 
(SALLES, 2012, p. 5-9).
Do mesmo modo, a federalização é apontada como uma resposta ao conturbado período 
político por parte dos conservadores. O que se destaca, entretanto, é o pedido de apoio das mais 
diversas camadas sociais. Para Silva Jardim, elas traziam interesses também diversos aos dos libe-
rais e aos dos conservadores: entre eles, estavam especialmenteos estrangeiros e as mulheres, algo 
bastante atípico para esse tempo, visto que elas não tinham o direito de votar.
O apoio da ciência, isto é, do conhecimento que reflete sobre a sociedade e acrescenta ou-
tras perspectivas políticas e sociais, também está presente na fala de Silva Jardim, quando ele diz 
“o entusiasmo científico ao entusiasmo patriótico”. Essas correntes ou teorias científicas chegaram 
ao Brasil e seus debates estavam relacionados ao progresso, ao ideal de modernidade, bem como à 
formação e ao futuro do povo. Por isso, podemos entender que uma nação moderna, que visa ao 
progresso e ao crescimento, deve aliar sua política às novas perspectivas.
Percebemos ainda no discurso de Silva Jardim diversas propostas que não são conserva-
doras nem comuns a esse período brasileiro, especialmente se lembrarmos que o coronelismo, o 
clientelismo e a escravidão eram as práticas mais em voga, de modo que pouco estava sendo deba-
tido para que elas fossem transformadas. Coronéis recebiam cargos por meio da política regional 
ou federal e eram nomeados em um posto imperial que se manteve na República (SCHWARCZ; 
STARLING, 2015, p. 322).
Em um governo oligárquico e com influência federalista, coronéis tinham o controle da 
região e faziam trocas políticas com o governo federal. Durante a República, os coronéis depen-
diam de uma rede complexa de poder para se manter nesse status, o que desmitifica a ideia de 
poder absoluto.
2 Para saber mais, sugerimos a leitura de Salles (2012).
Republicanismo no Brasil Imperial 29
O clientelismo, por sua vez, refere-se ao uso do que é público para interesses privados – no 
caso, de acordo com o que propunham os coronéis. À medida que a República cresce e o poder 
oligárquico diminui, as práticas clientelistas e coronelistas também, tornando-os intermediários 
entre o poder e o povo3.
O fim da escravidão era um dos maiores embates da época, visto que uma parte dos repu-
blicanos ou defendiam sua protelação, ou sua manutenção. Enquanto decisões na justiça usavam 
como argumento a proibição de 1831, assim como o aumento de quilombos e o fim da Guerra do 
Paraguai, o discurso republicano ia se aproximando cada vez mais da defesa do fim do escravismo 
(FERNANDES, 2006, p. 182).
Nesse caso, precisamos considerar que nem todo republicano era abolicionista ou, ao me-
nos, defendia de imediato o fim da escravidão, já que alguns protelavam tal ideia, por serem eles 
mesmos conservadores ou donos de escravos.
Ainda assim, de acordo com o historiador Sérgio Buarque de Holanda, “foram os repu-
blicanos os que, retomando a bandeira caída por terra, se dispuseram a levar às consequências 
últimas os princípios que outrora tiveram em comum com os liberais genuínos” (HOLANDA, 
1985, p. 261).
Na época, para que o Brasil prosperasse como outras nações no mundo ocidental, ele não 
poderia mais ser sinônimo de país escravagista. Por isso, o republicanismo em geral defendia a abo-
lição, visto que não era possível propor um regime republicano e, ao mesmo tempo, manter escravos.
É nesse sentido que positivistas, ou militares influenciados pelo positivismo, quando pas-
savam a fazer parte do partido, acabavam levantando suspeitas sobre os republicanos, já que es-
ses nem sempre eram abolicionistas. Corrobora essa ideia o Manifesto do Congresso do Partido 
Republicano, feito na cidade de Itu, em 1873:
“Fique, portanto, bem firmado que o Partido Republicano, tal como considera-
mos, capaz de fazer a felicidade do Brasil, quanto à questão do estado servil, fita 
desassombrado o futuro, confiando na índole do povo e nos meios de educação, 
os quais unidos ao todo harmônico de suas reformas e de seu modo de ser hão 
de facilitar-lhe a solução mais justa, mais prática e moderada, selada com o 
cunho da vontade nacional”.
Parece que esta declaração seria suficiente para apagar todas as dúvidas. 
A questão não nos pertence exclusivamente porque é social e não política: está 
no domínio da opinião nacional e é de todos os partidos, e dos monarquis-
tas mais do que nossa, porque compete aos que estão na posse do poder, ou 
aos que pretendem apanhá-lo amanhã, estabelecer os meios de seu desfecho 
prático. E se os nossos contrários políticos pressagiam para um futuro de-
masiadamente remoto o estabelecimento, no país, do sistema governamental 
que pretendemos, o que vem interpelar-nos hoje e desde já sobre esses meios? 
(Manifesto do Congresso do Partido Republicano Paulista apud PESSOA, 
1973, p. 65)
É evidente no trecho a falta de homogeneidade em relação ao tema da abolição. Também é 
perceptível que esse assunto se tornou uma das principais pautas de discussão do grupo republicano.
3 Para saber mais, recomendamos a leitura de Carvalho (2010).
História do Brasil: da Proclamação da República ao Golpe de 193030
Do mesmo modo, no discurso percebemos que a monarquia é mencionada por ter “criado” 
o problema, já que a escravidão era algo recorrente na história do Brasil desde os tempos coloniais, 
não sendo, portanto, de responsabilidade exclusiva do Partido Republicano.
Entretanto, enquanto o Império se negava a sanar o problema, o movimento abolicionista 
crescia. Isso fez com que o Partido Republicano se aproximasse da defesa do fim da escravidão, 
devido à demanda social ou à cobrança de atitude coerente com o ideário republicano.
É importante pontuarmos também em que condições ocorreu a Convenção de Itu, em 1873:
Assim, se essa não era com certeza a primeira ocasião em que se formavam 
movimentos republicanos, a alternativa começou a se revelar mais viável a par-
tir de 1870. A cisão do Partido Liberal levou, então, à formação do Partido 
Republicano Paulista, em 18 de abril de 1873, que se reuniu na hoje famosa 
Convenção de Itu. O grupo criticava, sobretudo, o centralismo do trono e da 
administração, e propunha uma reforma pacífica, através da implementação de 
uma república federativa. O manifesto de 1870 começava assim: “Centralização 
– desmembramento; descentralização – unidade”, mostrando com a ideia de fe-
deração e sua união com um regime político definido como “americano e para a 
América” faziam parte da ementa inicial do partido. (SCHWARCZ; STARLING, 
2015, p. 301-302)
Com base nas afirmações das historiadoras Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling, os gru-
pos que até então oscilavam entre o apoio a Dom Pedro II e a oposição a ele, como era o caso dos 
liberais, passaram a apoiar novas posturas políticas, as quais, com base em ideias constitucionais e/
ou republicanas, colaboraram para o fim do governo imperial.
Esse período marcava o ápice da produção de café, gerando riquezas. Em contrapartida, o 
discurso republicano, por mais que se colocasse contra a autoridade e a interferência do imperador, 
era composto daqueles que defendiam o trabalho escravo ou concordavam com as elites políticas 
de províncias como São Paulo e Minas Gerais.
Na citação, também é notável a discussão sobre o modo como a República deveria ser discu-
tida e como chegaria ao poder, ou seja, uma reforma pacífica. A possibilidade de federalização tam-
bém estava entre as opções, isto é, cada Estado independente e respondendo a um poder central.
A abolição não era somente um tema de discordância entre os republicanos. Positivistas, em 
maioria militares, também se aproximaram do republicanismo após as décadas de 1860 e 1870. 
Nesse contexto, o Exército passou a ter problemas com o sistema monárquico do país, especial-
mente após a Guerra do Paraguai.
Esse problema intensificou-se pela insistência dos militares em terem uma instituição mais 
organizada, acompanhada de uma carreira hierarquizada e de maior participação política. Dom 
Pedro II e seu grupo político, porém, pouco negociavam sobre as novas demandas sociais e políti-
cas decorrentes da Guerra do Paraguai.
O positivismo – idealizado por Auguste Comte – chegou ao Brasil ainda na década de 1860. 
É desse tempo, portanto, o início das influências positivistas que, no caso do Exército brasileiro, 
tinham em BenjamimConstant e Deodoro da Fonseca dois expoentes. No Brasil, os seguidores 
Republicanismo no Brasil Imperial 31
dessa corrente filosófica defendiam uma união firmada por meio da ideia de nação, a fim de se ter 
o progresso do país.
Comte preocupou-se em pensar na organização e na ordem social de um contexto para 
obter progresso. Suas ideias foram concebidas no século XIX, em meio às grandes transfor-
mações sociais e políticas após as décadas de 1840 e 1850. Nesse caso, tanto ele quanto Émile 
Durkheim, Karl Marx e Max Weber foram os responsáveis pela difusão do pensamento sobre as 
mudanças que colaboraram para a institucionalização das disciplinas ligadas às ciências sociais, 
especialmente a sociologia.
Comte, em um escrito chamado Curso de filosofia positivista, de 1842, defendia que o espí-
rito humano teria passado por três fases: a primeira era o momento em que sociedades baseadas 
em princípios transcendentais e militarismo iriam diminuir; a segunda era aquela em que todos 
os fenômenos atribuídos a seres sobrenaturais seriam contestados e, posteriormente, as sociedades 
teriam na metafísica suas explicações. Ainda na segunda fase, o ser humano passaria a observar os 
fenômenos sociais no decorrer do tempo, a fim de decidir o que era melhor, uma ideia que deveria 
ser coletiva (incluindo sacrifícios individuais) (ARON, 2002) e relacionada ao uso da tecnologia, 
bem como do domínio da natureza. Na terceira fase, a organização humana estaria na relação, or-
ganização e domínio da natureza e da história.
A França do século XIX, tempo e lugar de Comte, era marcada por uma sociedade capitalista 
industrial, e o crescimento econômico dessa modalidade política e econômica era defendido pelo 
positivista como exemplo a ser seguido.
Nesse caso, a união do espírito humano, livre de guerras e de violência, em nome de um bem 
maior (unido pela história humana e pelo domínio da natureza), chegaria a um estágio final de 
desenvolvimento da humanidade, que teria apenas um pensamento, no qual seu “espírito” estaria 
baseado apenas nas ideias positivistas.
José Murilo de Carvalho afirma que, para Comte, uma boa pátria seria uma boa mátria 
(CARVALHO, 1990, p. 13), visto que era nas ideias do gênero feminino para humanidade e 
República que o filósofo encontrava seus argumentos – que estavam baseados na representação 
da República na imagem feminina (no caso de Comte, em Clotilde de Vaux) –, um imaginário que 
colaborava para legitimar um poder político.
Utópica ou filosófica, a corrente positivista chegou ao Brasil como uma promessa que en-
dossaria os ânimos republicanos, fossem eles abolicionistas, liberais ou militares. Pregava a sepa-
ração entre religião e Estado, visto que a principal responsável pelo desenvolvimento deveria ser a 
ciência. Nesse período, havia influências oligárquicas do clero e da própria elite cafeicultora mais 
conservadora e monarquista. São exemplos: Benjamim Constant, que era positivista; Bocaiúva, que 
era liberal; e Silva Jardim, abolicionista e republicano (CARVALHO, 1990).
Existiam discussões e divergências sobre o fim da monarquia e do futuro do Brasil, caso a 
proclamação ocorresse. Contudo, havia uma disputa política e econômica de pequenos grupos so-
ciais, sempre privilegiados ao longo de nossa história. Manter o interesse desses grupos tornou-se 
uma das principais premissas dos embates políticos do período.
História do Brasil: da Proclamação da República ao Golpe de 193032
Mesmo mudando a história política do Brasil, o ato conduzido pelos militares foi também um 
golpe, o que colabora para o entendimento sobre o porquê da dificuldade de implementação de um 
sistema político republicano. Nesse contexto, embora o Partido Republicano tenha sido responsá-
vel por boa parte da discussão e do desgaste da imagem da monarquia, o novo governo iniciou com 
Deodoro da Fonseca, restando ao Partido Republicano dois importantes ministérios: o da justiça e o 
da agricultura.
Nesse contexto, Campos Salles, chefe da pasta da justiça, emitiu, entre outros, dois decretos 
importantes: o n. 85-A, de 23 de dezembro de 1889 (BRASIL, 1889), e o n. 295, de 29 de março de 
1890 (BRASIL, 1890). Neles, as determinações eram as seguintes:
“todos aqueles que derem origem a falsas notícias e boatos alarmantes dentro 
ou fora do país ou concorrerem pela imprensa, por telegrama ou qualquer outro 
modo de pô-los em circulação”. O Decreto nº 295, feito para preservar o gover-
no “da injúria e dos ataques pessoais que visavam ao desprestígio da autoridade 
e tinham por fim levantar contra ela a desconfiança para favorecer a execução 
de planos subversivos”. (RAMOS, 2010, p. 5)
Essas leis serviram para instaurar a censura em um período (início da República) que deve-
ria ser de inauguração de uma participação mais cidadã e democrática.
Outra questão que destoa bastante do que desejavam muitos republicanos consta na se-
guinte citação:
organização de um partido republicano construtor, preliminarmente revolu-
cionário, em que realmente se deseje para a pátria uma presidência poderosa, 
instituída pela vontade popular, a princípio por aclamação, sujeita em seguida 
ao sufrágio universal, – capaz de ser autoridade, na qual se deposite uma cau-
telosa confiança, inteiramente fiscalizada pela Assembleia Nacional, câmara 
financeira, e pela opinião pública, por meio de todos os seus órgãos, – tornada 
assim o delegado representativo da pátria, síntese da liberdade; e pois Governo, 
na combinação feliz dos dois elementos que esta palavra resume: – Poder e Povo. 
(JARDIM apud BASTOS, 1986, p. 191, grifos nossos)
As principais características levantadas por Jardim são a participação do povo na escolha 
de seu presidente, bem como o respeito que este deveria ter com seus eleitores. Contudo, se con-
siderarmos o contexto, o voto era direcionado a alguns grupos de homens, excluindo mulheres e 
classes mais simples, pois era exigida a alfabetização.
Percebemos que o modo como a República brasileira foi proposta e o seu início são bastante 
diversos. Sabemos também que a ideia de República triunfou, mas, para que o povo aderisse a ela 
– como queria Antônio da Silva Jardim –, era preciso buscar laços identitários e ter uma memória 
forjada, para que elos coletivos existissem.
2.2 O fim do regime monárquico e a construção de mitos e símbolos
O símbolo feminino ilustrado na Figura 1 traduz parte do que foi a Proclamação da República, 
baseada nos ideais positivistas. A mulher, representante da liberdade e da República, parece ter um 
ar vitorioso. Ao mesmo tempo, a imagem enaltece a participação do Exército, ao trazer no fundo 
Deodoro da Fonseca, como se fosse o principal responsável pela Proclamação da República.
Republicanismo no Brasil Imperial 33
Figura 1 – Imagem feminina dada à República no Brasil
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A figura deixa evidente as características em que se basearam a nossa Proclamação da 
República, visto que ela traz a influência do Exército de maneira bastante representativa.
O Brasil desse contexto é apresentado pela historiadora Margarida Neves como um local que 
conhecia o telefone, a fotografia, o telégrafo e o fonógrafo, que dispunha de uma malha ferroviária 
em desenvolvimento e participava de feiras internacionais, levando seus produtos exóticos (madei-
ras, pedras preciosas e peles de animais) (NEVES, 2008, p. 25).
Esse mesmo país, na noite de 15 de novembro de 1889, na voz de militares, proclamou a 
República, expulsando o imperador e sua família. Neves utilizou a segunda parte do trecho a se-
guir, do escritor Machado de Assis, para representar esse momento:
– É verdade, conselheiro, vi descer as tropas pela Rua do Ouvidor, ouvi as acla-
mações à república. As lojas estão fechadas, os bancos também, e o pior é se não 
abrem mais, se vamos cair na desordem pública; é uma calamidade.
História do Brasil: da Proclamação da República ao Golpe de 193034
Aires quis aquietar-lhe o coração. Nada se mudaria; o regime,

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