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Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Rodrigo Medina Zagni Revisão Textual: Profª Dra. Patrícia Silvestre Leite Di Iório A Lição dos Clássicos (Maquiavel) Nessa unidade, vamos tratar do tema “a lição dos clássicos (Maquiavel)”. Na pasta de mesmo nome, você irá encontrar o seguinte conteúdo: 1) Um texto teórico que aborda o desenvolvimento sobre o pensar e o fazer político no Ocidente; 2) Uma apresentação narrada no formato “adobe presenter”, que sintetiza o conteúdo teórico de forma bastante elucidativa; 3) Uma problematização que ressalta os significados e a importância prática do conteúdo, sua realidade e aplicação; 4) Atividades de sistematização, tratando-se de uma questão no estilo do ENADE; 5) Uma atividade reflexiva, que consiste na produção de um texto de análise crítica; 6) Material complementar sobre o tema; 7) Referências bibliográficas. Agora, mãos à obra e havendo qualquer dúvida entre em contato com seu professor tutor! Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. Quando pensamos na política na dimensão dos Aparelhos de Estado, estamos pensando diretamente nas relações entre política e poder. Isso porque são os Estados quem têm o poder para fazer a guerra e para declarar a paz; para criar leis e instrumentos coercitivos que façam com que elas sejam obedecidas; que impõe sua autoridade aos seus circunscritos determinando-lhes seus direitos e seus deveres etc. Obviamente, este poder não se exerce sem o recurso da força ou, minimamente, da ameaça ao recurso da força. Sendo assim, cabe-nos indagar: de onde provém este princípio legitimador para o exercício da força em relações políticas? Política e poder são termos co-relatos, complementares ou antagônicos? É preciso romper com a ética para governar ou é preciso ter ética acima de tudo? É preciso romper com a moral ou vincular-se a uma para ser um bom governante? Maquiavel, o fundador da ciência política nos fornece respostas no momento em que confere referenciais teóricos para a visão que estabelece no momento embrionário da ciência política: a postura realista. Nesta unidade, vamos conhecer então essa dimensão da obra maquiaveliana, profunda, complexa e rica em sentidos fundamentais e que, ainda hoje, não foram substituídos para explicar aspectos fundamentais de processos e instituições políticas. Em busca das respostas às perguntas aqui elaboradas, embrenhe-se pelo conteúdo teórico, apresentação narrada e demais materiais dessa unidade, a fim de entendermos as relações entre política e poder em Maquiavel. Contextualização GLÓRIA, FORTUNA E VIRTÚDE A primeira relação que devemos empreender na análise de parte da obra de Nicolau Maquiavel (1469- 1527) - considerado o fundador da Ciência Política e responsável por seu desprendimento da religião - é com o período histórico que atravessava a Florença de seu tempo: o Renascimento Cultural (o período da História da Europa aproximadamente entre fins do século XIII e meados do século XVII). A “glória”, termo presente em toda a obra de Maquiavel, é um dos temas que marcaram este período e remonta diretamente à discussão renascentista sobre a morte, tema co-relacionado à glória e muito próximo do Homem daquele tempo, pela proximidade das pestes (primordialmente a Peste Negra), pragas e das guerras que devastaram a Europa durante a baixa Idade Média (do século XI ao século XIV). Material Teórico A relação entre “glória” e “morte” durante o Renascimento estava diretamente ligada às práticas virtuosas dos indivíduos em vida. O poeta Francesco Petrarca (1304- 1374), representante máximo do chamado primeiro humanismo ou pré-renascentismo, no Soneto XII (dedicado a Pandolfo Malatesta, senhor de Rimini, in: I trionfi e rime varie, Milano, s. ed., 1926, p. 105), defendia que por meio da transcrição de atos memoráveis em registros literários, os homens então protagonistas seriam lembrados pela posteridade, imortalizados pela fama. Os atos humanos poderiam não ser vãos e, desta forma, seriam registrados pelos homens de letras, a fonte da glória e da imortalidade. Na introdução a obra de Maquiavel, Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio (Imprensa Oficial, p. 17), o autor denuncia a existência no imaginário de seu tempo e a preocupação corrente em sua obra com a glória. Neste caso, convém citá-lo: “Enfim, se este trabalho não me der glória, também não me servirá de condenação”. Portrait of Niccolo Machiavelli IMAGEM: © Stefano Bianchetti/Corbis FOTÓGRAFO Stefano Bianchetti COLEÇÃO Corbis Art Por conta exatamente da proximidade constante da morte, percebe-se neste período uma crença profundamente difundida na existência da vida em espírito após a morte do corpo físico, e cuja mediação com o indivíduo seria feita, segundo os preceitos medievais, pela Igreja. Contudo, no período de que estamos tratando, a instituição católica estava sob ataque direto da intelectualidade renascentista, apontada como corrupta e suscetível aos desejos mundanos de seus párocos, perdendo o status sagrado de mediadora das relações humanas com o pós-morte. Obviamente, essa perda de influência da Igreja em relação ao Homem daquele tempo se deu em razão do declínio do poder político do papado, produto do longo histórico de violências perpetradas pela Igreja (a atuação da Santa Inquisição, que punia hereges com a expropriação de seus bens e, não raras vezes, com a morte nas fogueiras; as cruzadas que vitimaram árabes e judeus etc.), e também da difusão que passavam a ter as ideias protestantes (a partir de Martinho Lutero) e a adesão que diversos Estados, reinados, principados e ducados deram a essa nova doutrina religiosa. Illustration of Victims of Bubonic Plague from the Toggenberg Bible Título original: Painting shows a scene of people suffering from the bubonic plague in the 15th century from the Toggenberg Bible. IMAGEM: © Bettmann/CORBIS COLEÇÃO Bettmann O Homem do Renascimento perdia então, com o declínio da influência e do próprio poder política da Igreja, seu mediador primordial entre o mundo dos vivos – o universo mortal - e o mundo dos mortos – o universo da imortalidade. Outro conceito largamente utilizado por Maquiavel e que denuncia sua difusão no imaginário renascentista é o de virtú. A perda de prestígio e poder por parte da Igreja deu espaço para a difusão, como já dissemos, da Reforma Protestante (movimento reformista cristão iniciado no século XVI por Martinho Lutero) e que, nesse contexto, teve origem histórica nas reflexões sobre a morte, defendendo que os homens poderiam, por meio de uma conduta virtuosa em vida, serem salvos após a morte de seu corpo físico e sem intermediação alguma da Igreja. A salvação seria garantida pelo próprio indivíduo (não mais pela Igreja) em vida a partir dos juízos de que seria portador, sobre o bem e o mal, sobre o certo e o errado. Por meio do livre arbítrio, ou seja, da liberdade de empreender escolhas, o indivíduo tomaria para si a sorte de seu destino após a morte: se decidisse por seu justo, bom e correto, estaria salvo por conta de suas próprias condutas; de igual forma, se optasse por ser mau, desonesto e injusto, amargaria a condenação eterna no mundo dos mortos, também por conta exclusivamente de suas condutas. Identificamos no discurso de Maquiavel, relações intrínsecas entre glória, fortuna e virtú, valores que, conforme estamos verificando, são comuns à Europa do Renascimento.A ideia da glória renascentista tem em sua base o registro das ações virtuosas dos homens, já que dessas ações dependeria sua própria salvação, como patrimônios da humanidade. A indagação de cunho religioso sobre a glória celeste, até então dada pela Igreja e que defendia a glória como pertencente apenas ao plano divino, celestial, não ao plano dos mortais; passava a ter uma resposta dada no campo moral da virtude terrena, ou seja, a glória deveria ser conquistada, de acordo com a virtú (ou a virtude) demonstrada pelo indivíduo em vida. Gouache Portrait of Martin Luther This illustration was published in Memoirs of the Court of Queen Elizabeth. IMAGEM: © Stapleton Collection/Corbis DATA DE CRIAÇÃO ca. 1825 COLEÇÃO Historical Picture Library Já a fortuna se refere à circunstância, sorte e mobilidade. A alegoria que melhor expressa essa ideia é a imagem da “roda da fortuna”, largamente difundida nesse mesmo período e que passou a ser reproduzida, chegando-nos, hoje, na carta de tarô que leva o mesmo nome. A fortuna seria responsável por metade da regência (dos destinos) da vida humana, enquanto o governo se encarregaria da outra metade1. Pensando ainda na alegoria da “roda da fortuna”, na obra “O Príncipe”, escrita em 1513, a concepção de tempo para Maquiavel aparece como mutável, em constante transformação, tal qual a roda da fortuna que, desta forma, não pararia de girar. Ocorre que, da mesma forma que a roda, até mesmo o tempo seria passível de ser controlado pelo indivíduo, portador do livre arbítrio (da possibilidade de fazer escolhas morais) e da virtú (que possibilitaria realizar as escolhas certas). 1 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 119. The Wheel of Fortune Color Print IMAGEM: © Michael Nicholson/CORBIS DATA DE CRIAÇÃO 16th century DATA DA FOTOGRAFIA ca. 2003 FOTÓGRAFO Michael Nicholson COLEÇÃO Historical É importante salientar que durante os quase mil anos em que a Igreja foi hegemônica na Europa, determinando como o Homem deveria compreender a própria realidade e a si mesmo, imperava uma espécie de fatalismo em relação ao tempo, ou seja, o Homem não teria controle algum sobre as mudanças e as transformações que se operavam ao seu redor e com relação a sua própria vida. Para esses novos tempos, de Renascimento, segundo Maquiavel, a roda da fortuna, ou seja, as transformações que determinariam os destinos do mundo e do próprio Homem poderia ser domada pelo príncipe virtuoso. Pensando em termos políticos, o governante, nominado por Maquiavel como o “Príncipe”, deveria ser aquele que controlaria as mudanças na sociedade, nos limites do seu reino; ou seja, ao Príncipe caberia o controle sobre a “roda da fortuna”. Para Maquiavel, o que possibilitaria ao Príncipe exercer controle sobre a “roda da fortuna”, como vimos, seria o livre arbítrio e a virtú. É preciso então, antes de mais nada, definir a virtú segundo seu uso fluente no pensamento maquiaveliano. A virtú do governante estaria intrinsecamente relacionada à sua versatilidade na guerra, ou seja, seu conhecimento estratégico, militar, capacidade de liderança e de exercer autoridade. Para Maquiavel, o refinamento adquirido com o ócio e o luxo, aliado à religião e à incapacidade de esforços, afeminava os homens, ou seja, furtava-lhe a virilidade, impondo-lhe valores que o desviariam das possibilidades de dominar as circunstâncias e, como consequência, passaria a ser dominados por elas, uma vez que, para Maquiavel, “a fortuna é mulher” por natureza. Trata- se de uma visão notadamente machista uma vez que autoridade, liderança e versatilidade nas armas eram considerados atributos exclusivamente masculinos. Detail of Weavers in City Scene in The Allegory of Good Government: The Effects of Good Government in the Cityby Ambrogio Lorenzetti Título original: Detail of the fresco by Ambrogio Lorenzetti entitled 'The Effects of Good Government', in the Sala della Pace in the Palazzo Pubblico in Siena. The picture centers on the section devoted to the effects of Good Government in the city of Siena. At the center in the foreground, partial view of a workshop where three men are weaving. On the right a man is leading two donkeys loaded with bags. IMAGEM: © Alinari Archives/CORBIS LOCAL Siena, Italy COLEÇÃO Fratelli Alinari Historical A defesa que Maquiavel fez de a virtú ser o atributo necessário ao governante para tomar as rédeas da fortuna em suas mãos, também se verifica difundida profundamente no âmbito da intelectualidade renascentista. Nas artes, por exemplo, expressão máxima dessas ideias de cunho político verifica-se nos afrescos do pintor italiano Ambrogio Lorenzetti (1290-1348), pintados nas paredes do Salão dos Nove (Sala dei Nove) ou Salão da Paz (Sala della Pace) no Palácio Público de Siena: Allegoria do Bom Governo, Efeitos do Bom Governo na Cidade e no Campo, e Alegoria do Mau Governo e seus Efeitos na Cidade e no Campo. Fundamentalmente no primeiro, a virtude do bom governante é o motivo alegórico central do afresco e revela o ideal humanista de “vir-virtutis” (“vir”, do latim, significa “homem” e, “virtutis”, significa “virtude”, sendo assim, trata- se do “homem virtuoso”). Na alegoria do vir-virtutis, o bom e piedoso varão virtuoso, capaz de realizar atos que almejem a glória, teria obrigatoriamente que ser versado nas artes da guerra, para ser capaz de dominar a roda da fortuna e fazê-la girar a seu favor. O SENTIDO PRAGMÁTICO E POLÍTICO DA HISTÓRIA Haveria, para Maquiavel, uma clara distinção entre a virtú e o que chamou de “... diversidade do sujeito ...”, podendo por vezes as conquistas de um governante depender mais desta do que daquela. Porém, a virtú seria uma qualidade essencial ao príncipe, não podendo ser forjada por meio de imitações. Para Maquiavel, os exemplos que deveriam ser imitados seriam aqueles que demonstrassem adaptabilidade à diversidade de situações ao longo da história; porém a virtú não poderia ser imitada e, mesmo nesse contexto, imitar exemplos (mesmo em recorrência à história) poderia funcionar ou não. Esta ideia ganha outra roupagem nos “Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio”, obra escrita entre 1513 e 1517, na qual Maquiavel criticou o fato de não serem imitados os “... atos admiráveis de virtude que a história registra, nos antigos reinos e repúblicas, envolvendo monarcas, capitães, cidadãos, legisladores, todos que trabalharam pela grandeza da pátria...” (p. 17). Maquiavel, na obra Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, determinou que os homens e os elementos, em natureza, são os mesmos que outrora, e que os modelos passados poderiam ser aplicados perfeitamente a momentos posteriores, sem observar as diferenças entre distintas épocas, sociedades, meio geográfico e outros fatores. Nesse caso, convém citarmos o próprio autor “... os que se dedicam a ler a história ficam limitados à satisfação de ver desfilar os acontecimentos sob os olhos sem procurar imitá-los, julgando tal imitação mais do que difícil, impossível. Como se o sol, o céu, os homens e os elementos não fossem os mesmos de outrora; como se a sua ordem, seu rumo e seu poder tivessem sido alterados”. Para Maquiavel, esses homens ilustres eram apenas admirados, quando deveriam ter seus exemplos seguidos. Suas constantes referências a episódios históricos para legitimar suas ideias, baseando-os em atentas e minuciosas observações de fatos similares no passado, para determinar a direção mais acertada a se tomar numa ação futura, nos revelam exatamente a prática da imitação das ações que os ilustres homens no passado tomaram para lidar com problemas que reapareceriam, com outra vestimenta, no futuro.Ainda, nos revelam um uso pragmático e até mesmo didático da História. Há, portanto, no pensamento maquiaveliano, a ideia de que a recorrência à história permitiria ao príncipe, como ferramenta governamental, a imitação de modelos políticos que funcionaram no passado. Vejamos como o próprio Maquiavel criticou os políticos de seu tempo por não terem feito o uso devido do passado: “Com maior espanto ainda vejo que, nas causas que agitam os cidadãos e nos males que afetam os homens, sempre se recorrem aos conselhos e remédios dos antigos (...). Contudo, quando se trata de ordenar uma república, manter um Estado, governar um reino, comandar exércitos e comandar a guerra ou de distribuir justiça aos cidadãos, não se viu ainda um só príncipe, uma só república, um só capitão, ou cidadão, apoiar-se no exemplo da Antiguidade.” (Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio. Op. cit. p. 17) Para Maquiavel, a realidade seria complexa e estaria suscetível a intensas transformações, o que repercutiria na política definindo sua natureza como caótica e mutável. Ocorre que, como vimos, no pensamento maquiaveliano é possível ao príncipe domar a própria realidade, fazendo com que ela se transforme ao seu favor, dominando as situações que se apresentem por meio de ações que prefigurem a virtú como, por exemplo, a força, a astúcia, as articulações políticas etc. A constante recorrência aos fatos históricos para legitimar suas teorias supõe uma ideia de ciclicidade para a história, e que uma atenta observação de inúmeros eventos similares no passado, bem como seus consequentes resultados, a curto e longo prazo, levariam o observador a uma mais adequada tomada de decisão. Haveria, portanto, uma utilidade para o estudo histórico. Não apenas isso, se o príncipe deveria ser versado na arte da guerra, desta forma deveria também ser profundo conhecedor da história. Detail of Norman Conquest of England fromThe Bayeux Tapestry IMAGEM: © The Art Archive/Corbis DATA DE CRIAÇÃO ca. 1073-1082 LOCAL Hastings, England FOTÓGRAFO Alfredo Dagli Orti COLEÇÃO The Picture Desk Limited A ELABORAÇÃO MAQUIAVELIANA DO REALISMO POLÍTICO Durante séculos, a obra de Maquiavel foi taxada como um código de despotismo e tirania, de cruel cinismo e insensibilidade; por outro lado, é certo que boa parte das leituras que são feitas, fundamentalmente sobre “O Príncipe”, deslocam completamente o texto de seu contexto histórico e passam a fazer juízos de valor sobre o autor, cobrando-lhe uma moral com a qual o próprio Maquiavel propôs romper. Trata-se da moral religiosa, aquela que determinava não só os padrões de bem e mal, justo e injusto, certo e errado, segundo os preceitos cristãos; mas que também definia o que seria um bom governo e, por conseguinte, um bom governante, submetido obviamente à autoridade da Igreja. Ocorre que, como já dissemos, trata-se de uma autoridade, ao tempo de Maquiavel, já decadente; motivo pelo qual pôde o autor libertar a política da religião ou, mais adequadamente, libertá-la da moral religiosa. Trata-se da primeira vez que a política ganhou autonomia, nesse caso em relação à moral, o que fez com que a posteridade atribuísse à Maquiavel a criação da própria Ciência Política; isso porque não encontramos nos seus argumentos reflexões sobre o que seria um governo ideal; mas prescrições claras de como fazer a política. É aí que se define a ciência, distinguindo-se da filosofia: enquanto a filosofia é especulativa e consiste na dimensão do pensar, nesse caso do pensar a política; a ciência ocupa-se da dimensão do fazer, obviamente sobre como fazer a política. Maquiavel foi o primeiro a dar corpo a essa então nascente ciência. Se, nesses termos, não estava preocupado com a dimensão do ideal, com o que Maquiavel estava preocupado quando se ocupou de questões relativas ao fazer político? A resposta é, obviamente, o contrário do ideal, ou seja, o real. Ao focar seus esforços na realidade política, afastando-se da idealidade e, desta forma, da quase totalidade dos autores do pensamento político do passado e ao seu tempo, Maquiavel inaugurou também o realismo político. Statue of Niccolo Machiavelli in Corridoio Vasariano Statue of the politician and writer Niccolo Machiavelli in the Vasari Corridor outside the Uffizi Gallery. IMAGEM: © Paul Seheult/Eye Ubiquitous/Corbis DATA DA FOTOGRAFIA 10 de junho de 2007 LOCAL Florence, Italy FOTÓGRAFO Paul Seheult COLEÇÃO Encyclopedia Niccolo Machiavelli by Antonio del Pollaiolo IMAGEM: © Arte & Immagini srl/CORBIS NOME DO CRIADOR Antonio del Pollaiolo DATA DE CRIAÇÃO ca. 1465 DATA DA FOTOGRAFIA ca. 1985-1995 COLEÇÃO Corbis Art Mas, voltemos alguns instantes sobre a questão da moral, uma vez que o risco é concluir, equivocadamente, que o realismo político seria imoral. Sabemos que as morais são construídas socialmente e, em alguma medida, internalizadas pelo indivíduo, que passa a pautar suas condutas a partir da sua concepção sobre o certo e o errado, o justo e o injusto, o bem e o mal etc. Quando o indivíduo ativa seu livre arbítrio para fazer suas escolhas morais, ele o ativa a partir da sua dimensão ética, que contém não só sua moral, mas o conjunto de significados e valores que a constituem. A questão é que não é correto dizer que o realismo político de Maquiavel não possui uma ética; o que o maquiavelianismo relegou foi a moral religiosa, não toda e qualquer moral! Sendo assim, existe uma ética no realismo; ocorre que não se trata da mesma ética cristã, que podemos definir como a ética da conveniência, uma vez que as condutas orientadas por ela almejam o bem no decurso das próprias ações do indivíduo. Já a ética do realismo é aquela que podemos nominar como a “ética da responsabilidade”, ou seja, ela não se completa no decurso da ação do indivíduo, mas no resultado final de suas ações. Fica mais simples compreender pelas palavras do próprio Maquiavel, quando escreveu que: “os fins justificam os meios”; ou seja, não se pode acusar os meios de serem imorais quando o objetivo final é moral. Sendo assim, não é certo dizer que o realismo de Maquiavel é imoral e antiético; a questão é que se trata de outra ética, para uma política livre de amarras morais, como as da Igreja. É essencial, então, analisarmos os pressupostos de Maquiavel do ponto de vista funcional, como claras e objetivas instruções para obtenção e manutenção do poder político. Daí os motivos pelos quais o próprio Maquiavel adjetivou sua obra como realista, aplicável como modelo e distinta dos demais pensadores contemporâneos ou que o precederam na história, preocupados em idealizar sociedades de forma utópica e visionária, e que nunca puderam ser aplicadas de forma integral como projeto político ou social. Há menções ainda em referência à inclinação do homem para a maldade e a inveja no Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, p. 17. 445 x 600 - 85k - jpg - www.tudorhistory.org/people/more/moresket ch.jpg Veja abaixo a imagem em: www.apostles.com/moresketch.html http://www.apostles.com/moresketch.html É possível identificar uma discussão travada, no âmbito do próprio Humanismo do Renascimento, próximo ao ano em que Maquiavel escreveu “O Príncipe” e “Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio”. Podemos relacionar seus argumentos às obras: “Utopia”, de Thomas More, escrita apenas três anos depois de “O Príncipe”, portanto em 1516; e “O elogio da loucura”, de Erasmo de Rotterdam, um manual educativo para os príncipes e que ia contra os preceitos maquiavelianos, apesar de ter sido escrito em 1511, portanto antes de “O Príncipe”. A obra realista de Maquiavel se opunha ainda à tradição utópica religiosa, à ideia de Marcílio de Pádua, de Ambrogio Lorenzetti, e até mesmo às virtudes aristotélicas comoa magnanimidade. O pensamento maquiaveliano se distanciou das obras de seu tempo exatamente por ter determinado que o príncipe não pudesse ser bom, em relação à moral cristã, em virtude da própria natureza humana e da complexidade e mutabilidade das circunstâncias, demonstrando que a realidade não se coagulava com a conduta moral idealizada por outros autores. Considerava o liberalismo como mais uma forma de manipular o povo, pois se fosse efetivamente aplicado, tornaria o governo inviável em razão de os súditos deixarem de temer o soberano. Por outro lado, o príncipe deveria manter características liberais, fazendo com que o povo acreditasse em uma espécie de ilusão. Já vimos que, segundo Maquiavel, o governante deveria ser temido e nunca odiado e, se preciso, temido e não amado. Para tanto, governar seria a arte de manter-se num fino limiar, um tênue limite entre o temor impresso aos governados e seu consequente controle; e o ódio das massas, que trariam catastroficamente revoltas populares e rebeliões ameaçando diretamente o Governo. O revés do amor ao príncipe não poderia ser o ódio e sim o temor, nesse caso mais seguro que o próprio amor. Para Maquiavel, a facilidade com que o povo poderia ser ludibriado pelos governantes dar-se-ia pelo fato de os homens julgarem mais com o olhar do que com outros sentidos. A ideia que o povo deveria ter a respeito do príncipe deveria ser de alguém piedoso, íntegro, humano, religioso e dotado de fé. Sendo assim, nada era mais necessário do que a aparência religiosa a fim de garantir a credibilidade do governante e permitir-lhe domínio sobre o povo. Por outro lado, as mesmas qualidades teriam de ser deixadas de lado sob certas circunstâncias e, a fim de exercer domínio sobre a fortuna, deveria o governante agir diretamente contra os mesmos princípios se necessário fosse. Profile Of Niccolo Machiavelli Título original: Niccolo Machiavelli (1469-1527), Italian political philosopher famous for his book "Il Principe" (1513).Engraving 1755. BPA2# 3657 IMAGEM: © Bettmann/CORBIS COLEÇÃO Bettmann O príncipe, por sua natureza, deveria apresentar ao menos uma das seguintes características: a da raposa, com perspicácia, inteligência e diplomacia para agradar ao povo e fazer-lhe acreditar que era bondoso; ou o leão, rude, feroz e letal, conduta que agradaria mais aos soldados de seu exército do que ao povo. Porém, ao apresentar uma das características, o príncipe agradaria a apenas um dos grupos, desagradando o outro. Deveria, portanto, dissimular as características que lhe faltassem a fim de estabelecer o equilíbrio. Neste caso, a força deveria ser aliada à astúcia e o príncipe deveria assumir a imagem híbrida: parte raposa, parte leão. OS MOTIVOS HISTÓRICOS DE MAQUIAVEL PARA A CRIAÇÃO DA POLÍTICA COMO CIÊNCIA Já dissemos que seria impossível tecer considerações a respeito do pensamento maquiaveliano sem antes observar o contexto do período em que vivia. Portanto, vamos nos ater, nas próximas linhas, a essa essencial tarefa. Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, em 1469. Era um burocrata do primeiro escalão, ocupava o mais alto cargo da Segunda Chancelaria de Florença, o de secretário, posição de elevado prestígio na administração pública florentina. Cargo que foi perdido em 1512, com a queda do Governo republicano frente à invasão do território italiano por franceses, que subjugaram os Governos locais. A realidade dos reinados, ducados e principados da Península Itálica (a Itália, como Estado nacional, só seria criada em 1871) era, portanto, complexa e não podia ser dada por meio de uma construção teórica moralizante. Temos, então, um contexto desfavorável a discussões éticas e morais que passaram então ao segundo plano: para Maquiavel, era imprescindível estipular medidas funcionais para o restabelecimento da ordem obliterada pelos invasores, e a efetiva retomada e manutenção do poder. Condizente com este contexto, lemos em “O Príncipe” a repulsa e a preocupação de Maquiavel em relação às invasões armadas estrangeiras em territórios soberanos, referência óbvia ao fácil domínio que se estabeleceu por parte das tropas francesas em terras italianas. Desejava que os reinados italianos fossem novamente conquistados; porém com armas próprias. City View by Andre Burian IMAGEM: © André Burian/Corbis DATA DA FOTOGRAFIA 2006 LOCAL Florence, Italy FOTÓGRAFO André Burian COLEÇÃO Corbis Art The Battle of Saint Vincent by Giorgio Vasari IMAGEM: © Massimo Listri/CORBIS NOME DO CRIADOR Giorgio Vasari DATA DE CRIAÇÃO 1563-1565 LOCAL Florence, Italy FOTÓGRAFO Massimo Listri COLEÇÃO Corbis Art Ao escrever “O Príncipe” e “Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio”, Maquiavel demonstrou um profundo conhecimento em estratagemas políticos, militares e da história. Articulando todos esses elementos para a elaboração do que nominamos como “realismo político”, a função de seus textos era clara: fazer-se notar pelos governantes de seu tempo. Havia sido exilado e de certa forma privado de sua liberdade, limitando-se a uma vida de trivialidades. Pode-se dizer que esta fase de sua obra trata-se de uma tentativa em fazer-se ouvir pelos poderes que o governavam, para que fosse retirado do ostracismo em que vivia, privado de suas liberdades mais fundamentais. No tratado Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Maquiavel determinou que mesmo que um governante desejasse manter seus domínios “... dentro de justos limites” deveria armá-lo da mesma forma como se armaria uma república imperialista, como a romana por exemplo. A necessidade de manter exércitos preparados para a guerra garantiria a paz ao impor aos países vizinhos, ou mesmo repúblicas expansionistas, a certeza de que seus exércitos não poderiam ser vencidos. Deixava, como vimos, a subjetividade dos valores morais e éticos para abraçar a política como estratégia, atendendo a fins bem claros. Se a virtú do príncipe se definiria pela versatilidade na arte da guerra, se a sua liberdade lhe havia sido subtraída exatamente por conta de uma invasão militar, e se o restabelecimento dela dependia efetivamente de um enfrentamento com as forças invasoras, compreende-se porque para Maquiavel, ao seu tempo, a política realista levaria à exaltação da “arte da guerra”, passando a refletir sobre como e contra quem o príncipe deveria travá-las. Até Maquiavel, a interpretação vigente era a de que a guerra implicaria no fim da política; no pensamento maquiaveliano, a guerra fazia parte da política. Sendo assim, a guerra não poderia ser evitada, mas travada quando no momento oportuno; quanto muito poderia ser postergada, mas sempre ao preço da desvantagem. Não só na mobilização da força armada, na forma da guerra, consistiria o uso político da força. A própria política definir-se-ia pela força! Você está acompanhando o raciocínio? Então, vamos continuar! As leis, para Maquiavel, só seriam obedecidas por aqueles que temessem a aplicação das sanções legais decorrentes de seu descumprimento. Em termos ideais, os indivíduos obedeceriam às leis por compreenderem profundamente seus significados frente à ideia de bem comum; mas não era este o ponto de vista de Maquiavel, que não estava preocupado com termos ideais, senão com os termos reais. Nessa concepção realista, os homens não perseguiriam o bem comum, mas seu bem individual; por conta disso, temendo sofrer com o uso da força pelo Estado caso descumprisse a lei, passaria a obedecê-la. Sendo assim, a lei decorreria das armas e as armas construiriam os Estados; portanto política e guerra tinham significados correlacionados. Nas palavras de Maquiavel: “... um homem que queira fazer em todas as coisas profissão de bondade deve arruinar-se entre tantos que não são bons”. Mais diretamente, sobre as relações entre bem comume benefícios individuais, nos esclarece Maquiavel que “... os homens só fazem o bem quando é necessário”. A inaplicabilidade de projetos adjetivados como utópicos tinha, portanto dois fatores complicadores: a natureza variável dos povos e a natureza humana inclinada para a maldade, isso porque, para Maquiavel, os homens poderiam ser qualificados como: “... ingratos, volúveis, simulados e dissimulados, [os homens] fogem aos perigos, são ávidos de ganhar e, enquanto lhes fizerem bem, pertencem inteiramente a ti, te oferecem o sangue, o patrimônio, a vida e os filhos (...) desde que o perigo esteja distante; mas, quando precisas deles, revoltam-se”. Seria então necessário que quem estabelecesse a forma de um Estado e promulgasse suas leis, partisse do princípio de que todos os homens seriam maus, estando dispostos a agir com perversidade sempre que houvesse ocasião. É exatamente a perspectiva realista que permite identificar o Homem em estado de egoísmo, e não a idealista, que deposita imensa fé no Homem que relegaria a sua própria felicidade plena em nome do bem comum; que faz com que Maquiavel defenda a tese de que o príncipe não deveria ser amado, mas temido; se possível, poderia ser amado, mas seria imprescindível que fosse temido. Nesses termos, pensando a política, no contexto vivido por Maquiavel, é possível compreender porque o príncipe deveria dedicar-se exclusivamente à guerra, principalmente em tempos de paz. Deveria dominar as estratégias e técnicas bélicas e estar sempre preparado para qualquer contingência. Trata-se de um antigo princípio romano, expresso na locução latina “Si vis pacem para bellum” (“Se queres a paz, prepara a guerra”), escrita pelo romano Publius Flavius Vegetius Renatus na obra "Epitoma rei Militaris", escrito provavelmente no ano 390, reafirmado por Maquiavel com o mesmo sentido. A POLÍTICA COMO PODER, O PODER PELA FORÇA E A POLÍTICA COMO ESTRATÉGIA DE PODER Maquiavel não se limitou a uma análise superficial e subjetiva sobre a conjuntura política pela qual atravessava Florença. Passou a criticar severamente, sob vários aspectos, a invasão de Carlos VIII – Rei da França – e posteriormente seu filho Luis XII, à Itália, enumerando seus erros: “... aniquilou os menos poderosos; introduziu ali [Itália] um estrangeiro poderosíssimo [o papa Alexandre]; não veio habitar no lugar; não instalou colônias.” (p. 15) Roman slinger, ca. 66 AD, armed with a shorter sling and wearing a longer sling around his head Slingers are often described as Peltasts, which is a larger category that includes javelineers and archers. Charles VIII de France 2 avr 2004 à 16:19. Kelson (18475 octets) source : http://www.heraldica.org/to pics/france/rois_ic.htm http://www.heraldica.org/topics/france/rois_ic.htm http://www.heraldica.org/topics/france/rois_ic.htm Defendia até mesmo o assassinato como forma de permanência e obtenção do poder em um território conquistado, para os casos específicos em que a monarquia tivesse sido o sistema de governo anteriormente vigente. Isso se explica pelo fato lógico de que a simples existência de descendentes de um monarca deposto representaria ameaça ao poder do conquistador que ali se estabeleceria. Sua estabilidade política dependeria, portanto, da aniquilação daqueles que eventualmente poderiam reivindicar o trono e cooptar apoio popular para isso apenas pelo fato de carregar o mesmo sangue que o monarca deposto. Vemos, então, que Maquiavel reconhecia a existência de um poder natural legitimado pela hereditariedade, ou uma “... natural afeição ...”, que pressupõe a garantia do amor do povo ao seu governante, a exceção de vícios excepcionais que pudessem torná-lo odioso. Admitia também a devastação completa de territórios conquistados, para os casos de terem sido livres antes da conquista; pois acreditava que povos acostumados à república (símbolo de liberdade ao tempo de Maquiavel) nunca se curvariam a um principado (uma monarquia) sem se rebelar. Apesar de defender a manutenção do poder mesmo com práticas de assassinato, defendia também a ideia de que melhor seria se o povo visse no governante alguém justo, o que resultaria em maior estabilidade de seu governo. Não que as medidas impopulares não devessem ser tomadas! A questão é que qualquer medida impopular decidida pelo príncipe deveria ser atribuída e executada a outra pessoa, designada em segredo pelo próprio governante, o qual, após aplicar as medidas necessárias, seria executado pelo príncipe por tê- las aplicado, a fim de garantir o prestígio e a admiração do povo, que teria no príncipe a imagem do homem “justo”. Maquiavel admitia desta forma a ascensão de um governante por meio de condutas criminosas, atos vis e traições; porém atribuía a essas ações motivações diversas à fortuna ou à virtú, afirmando que desta forma o governante alcançaria o poder, mas nunca alcançaria a glória. A glória, por sua vez, lhe garantiria estabilidade uma vez que os súditos, nutrindo admiração por seu soberano, mais dificilmente se sublevariam. Por isso a necessidade de o soberano, além de ser temido, também ser amado. Sobre isso, Maquiavel demonstrou imensa preocupação. Defendeu que ao tomar posse de um Estado, o governante deveria refletir longamente sobre todas as medidas impopulares que deveria aplicar, e executá-las de uma só vez, de forma rápida, eficaz e implacável, a fim de logo serem esquecidas. Já o bem, esse deveria ser ministrado em doses pequenas e diárias, “Não se pode propriamente chamar de virtú o fato de assassinar seus concidadãos, trair os amigos, não ter fé, piedade nem religião. Deste modo pode-se adquirir poder, mas não a glória” para que o povo tivesse sempre a sensação de que estava sendo feita justiça por parte do governante. De qualquer forma, o príncipe deveria ter como aliado o povo que governava, exercendo sobre ele meios de manipulação. Isso porque o perigo real não seria o povo; mas sim a nobreza, que uma vez declarada inimiga do governante teria a capacidade intelectual de contra ele se articular, confabular e conspirar, até usurpar-lhe o poder. Seria, portanto, essencial para o governante exercer meios de controle diversos sobre seu povo e outros mais diretos sobre a nobreza. Para a manutenção dos inimigos internos sob controle e as bases populares como aliadas, Maquiavel considerava ainda questões relativas à defesa dos territórios conquistados, defendendo que o exército não poderia ser constituído por estrangeiros mercenários. Atribuía o momento pelo qual passavam os reinados italianos à delegação de exércitos estrangeiros para a manutenção da soberania nacional, que fracassaram de forma retumbante. Na mesma chave incluíam os exércitos aliados, utilizados em combate para defender uma pátria que não era a sua. Para Maquiavel, o exército deveria ser essencialmente nacional. SÍNTESE DO PENSAMENTO MAQUIAVELIANO Temos então uma síntese do pensamento maquiaveliano a partir da identificação, nos dois tratados analisados, da seguinte premissa básica: a fortuna, ou seja, as circunstâncias são complexas e mutáveis, e a natureza humana maléfica. Para transformar as circunstâncias a seu favor e, literalmente, fazer com que roda da fortuna gire a seu favor, o príncipe deveria usar toda a sua astúcia para identificar exatamente o momento de usar e de relegar a virtú – que é a regra – para agir contra a fé e a caridade, para que, conservando a paz (preparando-se sempre para a guerra), o Governo pudesse enfim garantir o bem comum. Engraved Portrait Of Niccolo Machiavelli Título original: Engraved portrait of Italian political philosopher Niccolo Machiavelli (1469-1527), whose principal work, " Il Principe" (1513), details his theory of government and offers advice for consolidating power. French engravingby Fournier. IMAGEM: © Bettmann/CORBIS COLEÇÃO Bettmann Ainda sobre o tema “a lição dos clássicos (Maquiavel)”, indico os textos abaixo, a título de leitura complementar: ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Hemus, s/dMONTAIGNE, Michel Eyquem de. Ensaios. São Paulo : Abril Cultural, 1984 MORE, Thomas. Utopia. São Paulo: Martin Claret, 2000. VIANA, Alexandre Martins; “Estudo introdutório às 95 teses de Martinho Lutero”; Revista Espaço Acadêmico; n. 34, mar/2004. Indico ainda os filmes: O sétimo selo; dir.: Ingmar Bergman; drama, Suécia, 1957. Lutero; dir.: Eric Till; drama, Alemanha, 2003. Material Complementar ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Hemus, s/d MONTAIGNE, Michel Eyquem. Ensaios. São Paulo : Abril Cultural, 1984 MORE, Thomas. Utopia. São Paulo: Martin Claret, 2000. VIANA, Alexandre Martins; “Estudo introdutório as 95 teses de Martinho Lutero”; Revista Espaço Acadêmico; n. 34, mar/2004. Referências _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Anotações
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