Buscar

A lição dos clássicos: Maquiavel

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Responsável pelo Conteúdo: 
Prof. Ms. Rodrigo Medina Zagni 
 
Revisão Textual: 
Profª Dra. Patrícia Silvestre Leite Di Iório 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Lição dos Clássicos 
(Maquiavel) 
Nessa unidade, vamos tratar do tema “a lição dos clássicos 
(Maquiavel)”. 
Na pasta de mesmo nome, você irá encontrar o seguinte 
conteúdo: 
1) Um texto teórico que aborda o desenvolvimento 
sobre o pensar e o fazer político no Ocidente; 
2) Uma apresentação narrada no formato “adobe 
presenter”, que sintetiza o conteúdo teórico de forma 
bastante elucidativa; 
3) Uma problematização que ressalta os significados e a 
importância prática do conteúdo, sua realidade e 
aplicação; 
4) Atividades de sistematização, tratando-se de uma 
questão no estilo do ENADE; 
5) Uma atividade reflexiva, que consiste na produção 
de um texto de análise crítica; 
6) Material complementar sobre o tema; 
7) Referências bibliográficas. 
 
Agora, mãos à obra e havendo qualquer dúvida entre em 
contato com seu professor tutor! 
Atenção 
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar 
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. 
 
 
 
 
 
 
 
Quando pensamos na política na dimensão dos Aparelhos de Estado, estamos 
pensando diretamente nas relações entre política e poder. Isso porque são os Estados quem 
têm o poder para fazer a guerra e para declarar a paz; para criar leis e instrumentos coercitivos 
que façam com que elas sejam obedecidas; que impõe sua autoridade aos seus circunscritos 
determinando-lhes seus direitos e seus deveres etc. 
Obviamente, este poder não se exerce sem o recurso da força ou, 
minimamente, da ameaça ao recurso da força. Sendo assim, cabe-nos indagar: 
de onde provém este princípio legitimador para o exercício da força em 
relações políticas? Política e poder são termos co-relatos, complementares ou 
antagônicos? É preciso romper com a ética para governar ou é preciso ter ética acima de 
tudo? É preciso romper com a moral ou vincular-se a uma para ser um bom governante? 
Maquiavel, o fundador da ciência política nos fornece respostas no momento em que 
confere referenciais teóricos para a visão que estabelece no momento embrionário da ciência 
política: a postura realista. 
Nesta unidade, vamos conhecer então essa dimensão da obra maquiaveliana, 
profunda, complexa e rica em sentidos fundamentais e que, ainda hoje, não foram 
substituídos para explicar aspectos fundamentais de processos e instituições políticas. 
Em busca das respostas às perguntas aqui elaboradas, embrenhe-se pelo conteúdo 
teórico, apresentação narrada e demais materiais dessa unidade, a fim de entendermos as 
relações entre política e poder em Maquiavel. 
 
 
 
 
Contextualização 
 
 
 
 
 
GLÓRIA, FORTUNA E VIRTÚDE 
 
 
A primeira relação que devemos empreender na 
análise de parte da obra de Nicolau Maquiavel (1469-
1527) - considerado o fundador da Ciência Política e 
responsável por seu desprendimento da religião - é com o 
período histórico que atravessava a Florença de seu tempo: 
o Renascimento Cultural (o período da História da Europa 
aproximadamente entre fins do século XIII e meados do 
século XVII). 
 
 
 
 
A “glória”, termo presente em toda a obra de 
Maquiavel, é um dos temas que marcaram este período e 
remonta diretamente à discussão renascentista sobre a 
morte, tema co-relacionado à glória e muito próximo do 
Homem daquele tempo, pela proximidade das pestes 
(primordialmente a Peste Negra), pragas e das guerras que 
devastaram a Europa durante a baixa Idade Média (do 
século XI ao século XIV). 
 
 
 
 
Material Teórico 
A relação entre “glória” e “morte” 
durante o Renascimento estava 
diretamente ligada às práticas 
virtuosas dos indivíduos em vida. O 
poeta Francesco Petrarca (1304-
1374), representante máximo do 
chamado primeiro humanismo ou 
pré-renascentismo, no Soneto XII 
(dedicado a Pandolfo Malatesta, 
senhor de Rimini, in: I trionfi e rime 
varie, Milano, s. ed., 1926, p. 105), 
defendia que por meio da transcrição 
de atos memoráveis em registros 
literários, os homens então 
protagonistas seriam lembrados pela 
posteridade, imortalizados pela fama. 
Os atos humanos poderiam não ser 
vãos e, desta forma, seriam 
registrados pelos homens de letras, a 
fonte da glória e da imortalidade. Na 
introdução a obra de Maquiavel, 
Comentários sobre a primeira década 
de Tito Lívio (Imprensa Oficial, p. 
17), o autor denuncia a existência no 
imaginário de seu tempo e a 
preocupação corrente em sua obra 
com a glória. Neste caso, convém 
citá-lo: “Enfim, se este trabalho não 
me der glória, também não me 
servirá de condenação”. 
Portrait of Niccolo Machiavelli 
IMAGEM: © Stefano Bianchetti/Corbis 
FOTÓGRAFO Stefano Bianchetti 
COLEÇÃO Corbis Art 
 
 
 
 
 
 
 
 
Por conta exatamente da proximidade constante da morte, percebe-se neste período 
uma crença profundamente difundida na existência da vida em espírito após a morte do corpo 
físico, e cuja mediação com o indivíduo seria feita, segundo os preceitos medievais, pela 
Igreja. Contudo, no período de que estamos tratando, a instituição católica estava sob ataque 
direto da intelectualidade renascentista, apontada como corrupta e suscetível aos desejos 
mundanos de seus párocos, perdendo o status sagrado de mediadora das relações humanas 
com o pós-morte. 
Obviamente, essa perda de influência da Igreja em relação ao Homem daquele tempo 
se deu em razão do declínio do poder político do papado, produto do longo histórico de 
violências perpetradas pela Igreja (a atuação da Santa Inquisição, que punia hereges com a 
expropriação de seus bens e, não raras vezes, com a morte nas fogueiras; as cruzadas que 
vitimaram árabes e judeus etc.), e também da difusão que passavam a ter as ideias 
protestantes (a partir de Martinho Lutero) e a adesão que diversos Estados, reinados, 
principados e ducados deram a essa nova doutrina religiosa. 
 
Illustration of Victims of Bubonic Plague from the Toggenberg Bible 
Título original: Painting shows a scene of people suffering from the bubonic plague in the 15th century 
from the Toggenberg Bible. 
IMAGEM: © Bettmann/CORBIS 
COLEÇÃO Bettmann 
 
 
 
O Homem do Renascimento perdia então, com o declínio da influência e do próprio 
poder política da Igreja, seu mediador primordial entre o mundo dos vivos – o universo mortal 
- e o mundo dos mortos – o universo da imortalidade. 
Outro conceito largamente utilizado por 
Maquiavel e que denuncia sua difusão no 
imaginário renascentista é o de virtú. A perda de 
prestígio e poder por parte da Igreja deu espaço 
para a difusão, como já dissemos, da Reforma 
Protestante (movimento reformista cristão iniciado 
no século XVI por Martinho Lutero) e que, nesse 
contexto, teve origem histórica nas reflexões sobre a 
morte, defendendo que os homens poderiam, por 
meio de uma conduta virtuosa em vida, serem 
salvos após a morte de seu corpo físico e sem 
intermediação alguma da Igreja. A salvação seria 
garantida pelo próprio indivíduo (não mais pela 
Igreja) em vida a partir dos juízos de que seria 
portador, sobre o bem e o mal, sobre o certo e o 
errado. Por meio do livre arbítrio, ou seja, da 
liberdade de empreender escolhas, o indivíduo 
tomaria para si a sorte de seu destino após a morte: 
se decidisse por seu justo, bom e correto, estaria 
salvo por conta de suas próprias condutas; de igual 
forma, se optasse por ser mau, desonesto e injusto, 
amargaria a condenação eterna no mundo dos 
mortos, também por conta exclusivamente de suas 
condutas. 
Identificamos no discurso de Maquiavel, relações intrínsecas entre glória, fortuna e 
virtú, valores que, conforme estamos verificando, são comuns à Europa do Renascimento.A ideia da glória renascentista tem em sua base o registro das ações virtuosas dos 
homens, já que dessas ações dependeria sua própria salvação, como patrimônios da 
humanidade. A indagação de cunho religioso sobre a glória celeste, até então dada pela Igreja 
e que defendia a glória como pertencente apenas ao plano divino, celestial, não ao plano dos 
mortais; passava a ter uma resposta dada no campo moral da virtude terrena, ou seja, a glória 
deveria ser conquistada, de acordo com a virtú (ou a virtude) demonstrada pelo indivíduo em 
vida. 
 
 
Gouache Portrait of Martin Luther 
This illustration was published in Memoirs of the 
Court of Queen Elizabeth. 
IMAGEM: © Stapleton Collection/Corbis 
DATA DE CRIAÇÃO ca. 1825 
COLEÇÃO Historical Picture Library 
 
 
 
Já a fortuna se refere à circunstância, sorte e mobilidade. A alegoria que melhor 
expressa essa ideia é a imagem da “roda da fortuna”, largamente difundida nesse mesmo 
período e que passou a ser reproduzida, chegando-nos, hoje, na carta de tarô que leva o 
mesmo nome. A fortuna seria responsável por metade da regência (dos destinos) da vida 
humana, enquanto o governo se encarregaria da outra metade1. 
 
 
 
 
 
 
Pensando ainda na alegoria da “roda da fortuna”, na obra “O Príncipe”, escrita em 
1513, a concepção de tempo para Maquiavel aparece como mutável, em constante 
transformação, tal qual a roda da fortuna que, desta forma, não pararia de girar. Ocorre que, 
da mesma forma que a roda, até mesmo o tempo seria passível de ser controlado pelo 
indivíduo, portador do livre arbítrio (da possibilidade de fazer escolhas morais) e da virtú (que 
possibilitaria realizar as escolhas certas). 
 
1 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 119. 
 
The Wheel of Fortune Color Print 
IMAGEM: © Michael Nicholson/CORBIS 
DATA DE CRIAÇÃO 16th century 
DATA DA FOTOGRAFIA ca. 2003 
FOTÓGRAFO 
Michael Nicholson 
COLEÇÃO Historical 
 
 
 
É importante salientar que durante os quase mil anos em que a Igreja foi hegemônica 
na Europa, determinando como o Homem deveria compreender a própria realidade e a si 
mesmo, imperava uma espécie de fatalismo em relação ao tempo, ou seja, o Homem não 
teria controle algum sobre as mudanças e as transformações que se operavam ao seu redor e 
com relação a sua própria vida. Para esses novos tempos, de Renascimento, segundo 
Maquiavel, a roda da fortuna, ou seja, as transformações que determinariam os destinos do 
mundo e do próprio Homem poderia ser domada pelo príncipe virtuoso. 
Pensando em termos políticos, o governante, nominado por Maquiavel como o 
“Príncipe”, deveria ser aquele que controlaria as mudanças na sociedade, nos limites do seu 
reino; ou seja, ao Príncipe caberia o controle sobre a “roda da fortuna”. Para Maquiavel, o 
que possibilitaria ao Príncipe exercer controle sobre a “roda da fortuna”, como vimos, seria o 
livre arbítrio e a virtú. 
É preciso então, 
antes de mais nada, 
definir a virtú segundo 
seu uso fluente no 
pensamento 
maquiaveliano. A virtú 
do governante estaria 
intrinsecamente 
relacionada à sua 
versatilidade na guerra, 
ou seja, seu 
conhecimento 
estratégico, militar, 
capacidade de liderança 
e de exercer autoridade. 
Para Maquiavel, o 
refinamento adquirido com o ócio e o luxo, aliado à religião e à incapacidade de esforços, 
afeminava os homens, ou seja, furtava-lhe a virilidade, impondo-lhe valores que o desviariam 
das possibilidades de dominar as circunstâncias e, como consequência, passaria a ser 
dominados por elas, uma vez que, para Maquiavel, “a fortuna é mulher” por natureza. Trata-
se de uma visão notadamente machista uma vez que autoridade, liderança e versatilidade nas 
armas eram considerados atributos exclusivamente masculinos. 
Detail of Weavers in City Scene 
in The Allegory of Good 
Government: The Effects of Good 
Government in the Cityby 
Ambrogio Lorenzetti 
Título original: Detail of the fresco by 
Ambrogio Lorenzetti entitled 'The 
Effects of Good Government', in the 
Sala della Pace in the Palazzo 
Pubblico in Siena. The picture centers 
on the section devoted to the effects 
of Good Government in the city of 
Siena. At the center in the foreground, 
partial view of a workshop where 
three men are weaving. On the right a 
man is leading two donkeys loaded 
with bags. 
IMAGEM: © Alinari 
Archives/CORBIS 
LOCAL Siena, Italy 
COLEÇÃO Fratelli Alinari Historical 
 
 
 
A defesa que Maquiavel fez de a virtú ser o 
atributo necessário ao governante para tomar as 
rédeas da fortuna em suas mãos, também se verifica 
difundida profundamente no âmbito da 
intelectualidade renascentista. Nas artes, por 
exemplo, expressão máxima dessas ideias de cunho 
político verifica-se nos afrescos do pintor italiano 
Ambrogio Lorenzetti (1290-1348), pintados nas 
paredes do Salão dos Nove (Sala dei Nove) ou 
Salão da Paz (Sala della Pace) no Palácio Público 
de Siena: Allegoria do Bom Governo, Efeitos do 
Bom Governo na Cidade e no Campo, e Alegoria 
do Mau Governo e seus Efeitos na Cidade e no 
Campo. Fundamentalmente no primeiro, a virtude 
do bom governante é o motivo alegórico central do 
afresco e revela o ideal humanista de “vir-virtutis” (“vir”, 
do latim, significa “homem” e, “virtutis”, significa “virtude”, sendo assim, trata-
se do “homem virtuoso”). Na alegoria do vir-virtutis, o bom e piedoso 
varão virtuoso, capaz de realizar atos que almejem a 
glória, teria obrigatoriamente que ser versado nas artes da guerra, para ser capaz de dominar 
a roda da fortuna e fazê-la girar a seu favor. 
 
 
O SENTIDO PRAGMÁTICO E POLÍTICO DA HISTÓRIA 
 
 
Haveria, para Maquiavel, uma clara distinção entre a virtú e o que chamou de “... 
diversidade do sujeito ...”, podendo por vezes as conquistas de um governante depender mais 
desta do que daquela. Porém, a virtú seria uma qualidade essencial ao príncipe, não podendo 
ser forjada por meio de imitações. Para Maquiavel, os exemplos que deveriam ser imitados 
seriam aqueles que demonstrassem adaptabilidade à diversidade de situações ao longo da 
história; porém a virtú não poderia ser imitada e, mesmo nesse contexto, imitar exemplos 
(mesmo em recorrência à história) poderia funcionar ou não. Esta ideia ganha outra 
roupagem nos “Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio”, obra escrita entre 1513 e 
1517, na qual Maquiavel criticou o fato de não serem imitados os “... atos admiráveis de 
virtude que a história registra, nos antigos reinos e repúblicas, envolvendo monarcas, capitães, 
cidadãos, legisladores, todos que trabalharam pela grandeza da pátria...” (p. 17). 
Maquiavel, na obra Comentários sobre a 
primeira década de Tito Lívio, determinou 
que os homens e os elementos, em 
natureza, são os mesmos que outrora, e que 
os modelos passados poderiam ser 
aplicados perfeitamente a momentos 
posteriores, sem observar as diferenças entre 
distintas épocas, sociedades, meio 
geográfico e outros fatores. Nesse caso, 
convém citarmos o próprio autor “... os que 
se dedicam a ler a história ficam limitados à 
satisfação de ver desfilar os acontecimentos 
sob os olhos sem procurar imitá-los, 
julgando tal imitação mais do que difícil, 
impossível. Como se o sol, o céu, os 
homens e os elementos não fossem os 
mesmos de outrora; como se a sua ordem, 
seu rumo e seu poder tivessem sido 
alterados”. 
 
 
Para Maquiavel, esses homens ilustres eram apenas admirados, quando deveriam ter 
seus exemplos seguidos. Suas constantes referências a episódios históricos para legitimar suas 
ideias, baseando-os em atentas e minuciosas observações de fatos similares no passado, para 
determinar a direção mais acertada a se tomar numa ação futura, nos revelam exatamente a 
prática da imitação das ações que os ilustres homens no passado tomaram para lidar com 
problemas que reapareceriam, com outra vestimenta, no futuro.Ainda, nos revelam um uso 
pragmático e até mesmo didático da História. Há, portanto, no pensamento maquiaveliano, a 
ideia de que a recorrência à história permitiria ao príncipe, como ferramenta governamental, a 
imitação de modelos políticos que funcionaram no passado. 
 
 
 
 
 
 
 
Vejamos como o próprio 
Maquiavel criticou os políticos de seu tempo por não terem feito o uso devido do 
passado: “Com maior espanto ainda vejo que, nas causas que agitam os cidadãos e nos males 
que afetam os homens, sempre se recorrem aos conselhos e remédios dos antigos (...). 
Contudo, quando se trata de ordenar uma república, manter um Estado, governar um reino, 
comandar exércitos e comandar a guerra ou de distribuir justiça aos cidadãos, não se viu 
ainda um só príncipe, uma só república, um só capitão, ou cidadão, apoiar-se no exemplo da 
Antiguidade.” (Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio. Op. cit. p. 17) 
Para Maquiavel, a realidade seria complexa e estaria suscetível a intensas 
transformações, o que repercutiria na política definindo sua natureza como caótica e mutável. 
Ocorre que, como vimos, no pensamento maquiaveliano é possível ao príncipe domar a 
própria realidade, fazendo com que ela se transforme ao seu favor, dominando as situações 
que se apresentem por meio de ações que prefigurem a virtú como, por exemplo, a força, a 
astúcia, as articulações políticas etc. 
A constante recorrência aos fatos históricos para legitimar suas teorias supõe uma ideia 
de ciclicidade para a história, e que uma atenta observação de inúmeros eventos similares no 
passado, bem como seus consequentes resultados, a curto e longo prazo, levariam o 
observador a uma mais adequada tomada de decisão. Haveria, portanto, uma utilidade para 
o estudo histórico. Não apenas isso, se o príncipe deveria ser versado na arte da guerra, desta 
forma deveria também ser profundo conhecedor da história. 
Detail of Norman Conquest of England 
fromThe Bayeux Tapestry 
IMAGEM: © The Art Archive/Corbis 
DATA DE CRIAÇÃO ca. 1073-1082 
LOCAL Hastings, England 
FOTÓGRAFO 
Alfredo Dagli Orti 
COLEÇÃO The Picture Desk Limited 
 
 
 
A ELABORAÇÃO MAQUIAVELIANA DO REALISMO POLÍTICO 
 
Durante séculos, a obra de Maquiavel foi taxada como um 
código de despotismo e tirania, de cruel cinismo e insensibilidade; 
por outro lado, é certo que boa parte das leituras que são feitas, 
fundamentalmente sobre “O Príncipe”, deslocam completamente o 
texto de seu contexto histórico e passam a fazer juízos de valor 
sobre o autor, cobrando-lhe uma moral com a qual o próprio 
Maquiavel propôs romper. 
Trata-se da moral religiosa, aquela que determinava não só 
os padrões de bem e mal, justo e injusto, certo e errado, segundo 
os preceitos cristãos; mas que também definia o que seria um bom 
governo e, por conseguinte, um bom governante, submetido 
obviamente à autoridade da Igreja. 
Ocorre que, como já dissemos, trata-se de uma autoridade, 
ao tempo de Maquiavel, já decadente; motivo pelo qual pôde o 
autor libertar a política da religião ou, mais adequadamente, 
libertá-la da moral religiosa. Trata-se da primeira vez que a política 
ganhou autonomia, nesse caso em relação à moral, o que fez com 
que a posteridade atribuísse à Maquiavel a criação da própria 
Ciência Política; isso porque não encontramos nos seus argumentos 
reflexões sobre o que seria um governo ideal; mas prescrições 
claras de como fazer a política. É aí que se define a ciência, 
distinguindo-se da filosofia: enquanto a filosofia é especulativa e 
consiste na dimensão do pensar, nesse caso do pensar a política; a 
ciência ocupa-se da dimensão do fazer, obviamente sobre como 
fazer a política. Maquiavel foi o primeiro a dar corpo a essa então 
nascente ciência. 
Se, nesses termos, não estava preocupado com a dimensão 
do ideal, com o que Maquiavel estava preocupado quando se 
ocupou de questões relativas ao fazer político? A resposta é, 
obviamente, o contrário do ideal, ou seja, o real. Ao focar 
seus esforços na realidade política, afastando-se da idealidade 
e, desta forma, da quase totalidade dos autores do 
pensamento político do passado e ao seu tempo, Maquiavel 
inaugurou também o realismo político. 
 
Statue of Niccolo 
Machiavelli in Corridoio 
Vasariano 
Statue of the politician and 
writer Niccolo Machiavelli in 
the Vasari Corridor outside 
the Uffizi Gallery. 
IMAGEM: © Paul 
Seheult/Eye 
Ubiquitous/Corbis 
DATA DA FOTOGRAFIA 
10 de junho de 2007 
LOCAL Florence, Italy 
FOTÓGRAFO Paul Seheult 
COLEÇÃO Encyclopedia 
 
Niccolo Machiavelli by Antonio del Pollaiolo 
IMAGEM: © Arte & Immagini srl/CORBIS 
NOME DO CRIADOR Antonio del Pollaiolo 
DATA DE CRIAÇÃO ca. 1465 
DATA DA FOTOGRAFIA ca. 1985-1995 
COLEÇÃO Corbis Art 
 
 
 
 
Mas, voltemos alguns instantes sobre a questão da moral, uma vez que o risco é 
concluir, equivocadamente, que o realismo político seria imoral. 
Sabemos que as morais são construídas socialmente e, em alguma medida, 
internalizadas pelo indivíduo, que passa a pautar suas condutas a partir da sua concepção 
sobre o certo e o errado, o justo e o injusto, o bem e o mal etc. Quando o indivíduo ativa seu 
livre arbítrio para fazer suas escolhas morais, ele o ativa a partir da sua dimensão ética, que 
contém não só sua moral, mas o conjunto de significados e valores que a constituem. 
A questão é que não é correto dizer que o 
realismo político de Maquiavel não possui uma ética; o 
que o maquiavelianismo relegou foi a moral religiosa, 
não toda e qualquer moral! Sendo assim, existe uma 
ética no realismo; ocorre que não se trata da mesma 
ética cristã, que podemos definir como a ética da 
conveniência, uma vez que as condutas orientadas por 
ela almejam o bem no decurso das próprias ações do 
indivíduo. Já a ética do realismo é aquela que 
podemos nominar como a “ética da responsabilidade”, 
ou seja, ela não se completa no decurso da ação do 
indivíduo, mas no resultado final de suas ações. Fica 
mais simples compreender pelas palavras do próprio 
Maquiavel, quando escreveu que: “os fins justificam os 
meios”; ou seja, não se pode acusar os meios de serem 
imorais quando o objetivo final é moral. Sendo assim, 
não é certo dizer que o realismo de Maquiavel é imoral 
e antiético; a questão é que se trata de outra ética, 
para uma política livre de amarras morais, como as da 
Igreja. 
É essencial, então, analisarmos os 
pressupostos de Maquiavel do ponto de vista 
funcional, como claras e objetivas instruções para 
obtenção e manutenção do poder político. 
Daí os motivos pelos quais o próprio 
Maquiavel adjetivou sua obra como realista, aplicável 
como modelo e distinta dos demais pensadores 
contemporâneos ou que o precederam na história, preocupados em idealizar sociedades de 
forma utópica e visionária, e que nunca puderam ser aplicadas de forma integral como projeto 
político ou social. 
Há menções ainda em referência 
à inclinação do homem para a 
maldade e a inveja no 
Comentários sobre a primeira 
década de Tito Lívio, p. 17. 
445 x 600 - 85k - jpg -
 www.tudorhistory.org/people/more/moresket
ch.jpg 
Veja abaixo a imagem 
em: www.apostles.com/moresketch.html 
 
http://www.apostles.com/moresketch.html
 
 
É possível identificar uma discussão travada, no âmbito do próprio Humanismo do 
Renascimento, próximo ao ano em que Maquiavel escreveu “O Príncipe” e “Comentários 
sobre a primeira década de Tito Lívio”. Podemos relacionar seus argumentos às obras: 
“Utopia”, de Thomas More, escrita apenas três anos depois de “O Príncipe”, portanto em 
1516; e “O elogio da loucura”, de Erasmo de Rotterdam, um manual educativo para os 
príncipes e que ia contra os preceitos maquiavelianos, apesar de ter sido escrito em 1511, 
portanto antes de “O Príncipe”. 
A obra realista de Maquiavel se opunha ainda à tradição utópica religiosa, à ideia de 
Marcílio de Pádua, de Ambrogio Lorenzetti, e até mesmo às virtudes aristotélicas comoa 
magnanimidade. 
O pensamento maquiaveliano se distanciou das obras de seu tempo exatamente por ter 
determinado que o príncipe não pudesse ser bom, em relação à moral cristã, em virtude da 
própria natureza humana e da complexidade e mutabilidade das circunstâncias, 
demonstrando que a realidade não se coagulava com a conduta moral idealizada por outros 
autores. 
Considerava o liberalismo como mais uma forma de manipular o povo, pois se fosse 
efetivamente aplicado, tornaria o governo inviável em razão de os súditos deixarem de temer 
o soberano. Por outro lado, o príncipe deveria manter características liberais, fazendo com que 
o povo acreditasse em uma espécie de ilusão. 
Já vimos que, segundo Maquiavel, o governante 
deveria ser temido e nunca odiado e, se preciso, temido 
e não amado. Para tanto, governar seria a arte de 
manter-se num fino limiar, um tênue limite entre o 
temor impresso aos governados e seu consequente 
controle; e o ódio das massas, que trariam 
catastroficamente revoltas populares e rebeliões 
ameaçando diretamente o Governo. O revés do amor 
ao príncipe não poderia ser o ódio e sim o temor, nesse 
caso mais seguro que o próprio amor. 
Para Maquiavel, a facilidade com que o povo 
poderia ser ludibriado pelos governantes dar-se-ia pelo 
fato de os homens julgarem mais com o olhar do que 
com outros sentidos. A ideia que o povo deveria ter a 
respeito do príncipe deveria ser de alguém piedoso, 
íntegro, humano, religioso e dotado de fé. Sendo assim, 
nada era mais necessário do que a aparência religiosa a fim de garantir a credibilidade do 
governante e permitir-lhe domínio sobre o povo. Por outro lado, as mesmas qualidades teriam 
de ser deixadas de lado sob certas circunstâncias e, a fim de exercer domínio sobre a fortuna, 
deveria o governante agir diretamente contra os mesmos princípios se necessário fosse. 
Profile Of Niccolo Machiavelli 
Título original: Niccolo Machiavelli (1469-1527), 
Italian political philosopher famous for his book "Il 
Principe" (1513).Engraving 1755. BPA2# 3657 
IMAGEM: © Bettmann/CORBIS 
COLEÇÃO Bettmann 
 
 
 
O príncipe, por sua natureza, deveria apresentar ao menos uma das seguintes 
características: a da raposa, com perspicácia, inteligência e diplomacia para agradar ao povo e 
fazer-lhe acreditar que era bondoso; ou o leão, rude, feroz e letal, conduta que agradaria mais 
aos soldados de seu exército do que ao povo. Porém, ao apresentar uma das características, o 
príncipe agradaria a apenas um dos grupos, desagradando o outro. Deveria, portanto, 
dissimular as características que lhe faltassem a fim de estabelecer o equilíbrio. Neste caso, a 
força deveria ser aliada à astúcia e o príncipe deveria assumir a imagem híbrida: parte raposa, 
parte leão. 
 
OS MOTIVOS HISTÓRICOS DE MAQUIAVEL PARA A CRIAÇÃO DA 
POLÍTICA COMO CIÊNCIA 
 
Já dissemos que seria impossível tecer considerações a respeito 
do pensamento maquiaveliano sem antes observar o contexto 
do período em que vivia. Portanto, vamos nos ater, nas 
próximas linhas, a essa essencial tarefa. 
Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, em 1469. Era um 
burocrata do primeiro escalão, ocupava o mais alto cargo da 
Segunda Chancelaria de Florença, o de secretário, posição de 
elevado prestígio na administração pública florentina. Cargo 
que foi perdido em 1512, com a queda do Governo 
republicano frente à invasão do território italiano por 
franceses, que subjugaram os Governos locais. 
A realidade dos reinados, ducados e principados da Península 
Itálica (a Itália, como Estado nacional, só seria criada em 
1871) era, portanto, complexa e não podia ser dada por meio 
de uma construção teórica moralizante. Temos, então, um 
contexto desfavorável a discussões éticas e morais que 
passaram então ao segundo plano: para Maquiavel, era 
imprescindível estipular medidas funcionais para o 
restabelecimento da ordem obliterada pelos invasores, e a 
efetiva retomada e manutenção do poder. 
Condizente com este contexto, lemos em “O Príncipe” a repulsa e a preocupação de 
Maquiavel em relação às invasões armadas estrangeiras em territórios soberanos, referência 
óbvia ao fácil domínio que se estabeleceu por parte das tropas francesas em terras italianas. 
Desejava que os reinados italianos fossem novamente conquistados; porém com armas 
próprias. 
City View by Andre Burian 
IMAGEM: © André Burian/Corbis 
DATA DA FOTOGRAFIA 2006 
LOCAL Florence, Italy 
FOTÓGRAFO André Burian 
COLEÇÃO Corbis Art 
 
 
 
The Battle of Saint Vincent by Giorgio Vasari 
IMAGEM: © Massimo Listri/CORBIS 
NOME DO CRIADOR Giorgio Vasari 
DATA DE CRIAÇÃO 1563-1565 
LOCAL Florence, Italy 
FOTÓGRAFO Massimo Listri 
COLEÇÃO Corbis Art 
 
Ao escrever “O Príncipe” e “Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio”, 
Maquiavel demonstrou um profundo conhecimento em estratagemas políticos, militares e da 
história. Articulando todos esses elementos para a elaboração do que nominamos como 
“realismo político”, a função de seus textos era clara: fazer-se notar pelos governantes de seu 
tempo. 
Havia sido exilado e de certa forma privado de sua liberdade, limitando-se a uma vida 
de trivialidades. Pode-se dizer que esta fase de sua obra trata-se de uma tentativa em fazer-se 
ouvir pelos poderes que o governavam, para que fosse retirado do ostracismo em que vivia, 
privado de suas liberdades mais fundamentais. 
 
 
No tratado Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Maquiavel determinou 
que mesmo que um governante desejasse manter seus domínios “... dentro de justos 
limites” deveria armá-lo da mesma forma como se armaria uma república imperialista, 
como a romana por exemplo. A necessidade de manter exércitos preparados para a 
guerra garantiria a paz ao impor aos países vizinhos, ou mesmo repúblicas 
expansionistas, a certeza de que seus exércitos não poderiam ser vencidos. 
 
 
Deixava, como vimos, a subjetividade dos valores morais e éticos para abraçar a 
política como estratégia, atendendo a fins bem claros. Se a virtú do príncipe se definiria pela 
versatilidade na arte da guerra, se a sua liberdade lhe havia sido subtraída exatamente por 
conta de uma invasão militar, e se o restabelecimento dela dependia efetivamente de um 
enfrentamento com as forças invasoras, compreende-se porque para Maquiavel, ao seu 
tempo, a política realista levaria à exaltação da “arte da guerra”, passando a refletir sobre 
como e contra quem o príncipe deveria travá-las. 
Até Maquiavel, a interpretação vigente era a de que a guerra implicaria no fim da 
política; no pensamento maquiaveliano, a guerra fazia parte da política. Sendo assim, a guerra 
não poderia ser evitada, mas travada quando no momento oportuno; quanto muito poderia 
ser postergada, mas sempre ao preço da desvantagem. 
Não só na mobilização da força armada, na forma da guerra, consistiria o uso político 
da força. A própria política definir-se-ia pela força! Você está acompanhando o raciocínio? 
Então, vamos continuar! 
As leis, para Maquiavel, só seriam obedecidas por aqueles que temessem a aplicação 
das sanções legais decorrentes de seu descumprimento. Em termos ideais, os indivíduos 
obedeceriam às leis por compreenderem profundamente seus significados frente à ideia de 
bem comum; mas não era este o ponto de vista de Maquiavel, que não estava preocupado 
com termos ideais, senão com os termos reais. Nessa concepção realista, os homens não 
perseguiriam o bem comum, mas seu bem individual; por conta disso, temendo sofrer com o 
uso da força pelo Estado caso descumprisse a lei, passaria a obedecê-la. Sendo assim, a lei 
decorreria das armas e as armas construiriam os Estados; portanto política e guerra tinham 
significados correlacionados. 
Nas palavras de Maquiavel: “... um homem que queira fazer em todas as coisas 
profissão de bondade deve arruinar-se entre tantos que não são bons”. Mais diretamente, 
sobre as relações entre bem comume benefícios individuais, nos esclarece Maquiavel que “... 
os homens só fazem o bem quando é necessário”. 
A inaplicabilidade de projetos adjetivados como utópicos tinha, portanto dois fatores 
complicadores: a natureza variável dos povos e a natureza humana inclinada para a maldade, 
isso porque, para Maquiavel, os homens poderiam ser qualificados como: “... ingratos, 
volúveis, simulados e dissimulados, [os homens] fogem aos perigos, são ávidos de ganhar e, 
enquanto lhes fizerem bem, pertencem inteiramente a ti, te oferecem o sangue, o patrimônio, 
a vida e os filhos (...) desde que o perigo esteja distante; mas, quando precisas deles, 
revoltam-se”. 
 
 
 
Seria então necessário que quem 
estabelecesse a forma de um Estado e promulgasse 
suas leis, partisse do princípio de que todos os 
homens seriam maus, estando dispostos a agir com 
perversidade sempre que houvesse ocasião. 
É exatamente a perspectiva realista que 
permite identificar o Homem em estado de egoísmo, 
e não a idealista, que deposita imensa fé no Homem 
que relegaria a sua própria felicidade plena em nome 
do bem comum; que faz com que Maquiavel defenda 
a tese de que o príncipe não deveria ser amado, mas 
temido; se possível, poderia ser amado, mas seria 
imprescindível que fosse temido. 
Nesses termos, pensando a política, no 
contexto vivido por Maquiavel, é possível 
compreender porque o príncipe deveria dedicar-se 
exclusivamente à guerra, principalmente em 
tempos de paz. Deveria dominar as estratégias e 
técnicas bélicas e estar sempre preparado para 
qualquer contingência. Trata-se de um antigo princípio romano, expresso na locução latina 
“Si vis pacem para bellum” (“Se queres a paz, prepara a guerra”), escrita pelo romano Publius 
Flavius Vegetius Renatus na obra "Epitoma rei Militaris", escrito provavelmente no ano 390, 
reafirmado por Maquiavel com o mesmo sentido. 
 
A POLÍTICA COMO PODER, O PODER PELA FORÇA E A POLÍTICA 
COMO ESTRATÉGIA DE PODER 
 
Maquiavel não se limitou a uma análise superficial e subjetiva 
sobre a conjuntura política pela qual atravessava Florença. 
Passou a criticar severamente, sob vários aspectos, a invasão de 
Carlos VIII – Rei da França – e posteriormente seu filho Luis XII, 
à Itália, enumerando seus erros: “... aniquilou os menos 
poderosos; introduziu ali [Itália] um estrangeiro poderosíssimo 
[o papa Alexandre]; não veio habitar no lugar; não instalou 
colônias.” (p. 15) 
Roman slinger, ca. 66 AD, armed with a 
shorter sling and wearing a longer sling 
around his head 
Slingers are often described as Peltasts, which is a 
larger category that includes javelineers and 
archers. 
 
Charles VIII de France 
2 avr 2004 à 16:19. Kelson (18475 
octets) 
source : http://www.heraldica.org/to
pics/france/rois_ic.htm 
 
http://www.heraldica.org/topics/france/rois_ic.htm
http://www.heraldica.org/topics/france/rois_ic.htm
 
 
 
Defendia até mesmo o assassinato como 
forma de permanência e obtenção do poder em 
um território conquistado, para os casos específicos 
em que a monarquia tivesse sido o sistema de 
governo anteriormente vigente. Isso se explica pelo 
fato lógico de que a simples existência de 
descendentes de um monarca deposto 
representaria ameaça ao poder do conquistador 
que ali se estabeleceria. Sua estabilidade política dependeria, portanto, da aniquilação 
daqueles que eventualmente poderiam reivindicar o trono e cooptar apoio popular para isso 
apenas pelo fato de carregar o mesmo sangue que o monarca deposto. Vemos, então, que 
Maquiavel reconhecia a existência de um poder natural legitimado pela hereditariedade, ou 
uma “... natural afeição ...”, que pressupõe a garantia do amor do povo ao seu governante, a 
exceção de vícios excepcionais que pudessem torná-lo odioso. 
Admitia também a devastação completa de territórios conquistados, para os casos de 
terem sido livres antes da conquista; pois acreditava que povos acostumados à república 
(símbolo de liberdade ao tempo de Maquiavel) nunca se curvariam a um principado (uma 
monarquia) sem se rebelar. 
Apesar de defender a manutenção do poder mesmo com práticas de assassinato, 
defendia também a ideia de que melhor seria se o povo visse no governante alguém justo, o 
que resultaria em maior estabilidade de seu governo. Não que as medidas impopulares não 
devessem ser tomadas! A questão é que qualquer medida impopular decidida pelo príncipe 
deveria ser atribuída e executada a outra pessoa, designada em segredo pelo próprio 
governante, o qual, após aplicar as medidas necessárias, seria executado pelo príncipe por tê-
las aplicado, a fim de garantir o prestígio e a admiração do povo, que teria no príncipe a 
imagem do homem “justo”. 
Maquiavel admitia desta forma a ascensão de um governante por meio de condutas 
criminosas, atos vis e traições; porém atribuía a essas ações motivações diversas à fortuna ou à 
virtú, afirmando que desta forma o governante alcançaria o poder, mas nunca alcançaria a 
glória. 
A glória, por sua vez, lhe garantiria estabilidade uma vez que os súditos, nutrindo 
admiração por seu soberano, mais dificilmente se sublevariam. Por isso a necessidade de o 
soberano, além de ser temido, também ser amado. 
Sobre isso, Maquiavel demonstrou imensa preocupação. Defendeu que ao tomar posse 
de um Estado, o governante deveria refletir longamente sobre todas as medidas impopulares 
que deveria aplicar, e executá-las de uma só vez, de forma rápida, eficaz e implacável, a fim 
de logo serem esquecidas. Já o bem, esse deveria ser ministrado em doses pequenas e diárias, 
“Não se pode propriamente chamar 
de virtú o fato de assassinar seus 
concidadãos, trair os amigos, não 
ter fé, piedade nem religião. Deste 
modo pode-se adquirir poder, mas 
não a glória” 
 
 
para que o povo tivesse sempre a sensação de que estava sendo feita justiça por parte do 
governante. 
De qualquer forma, o príncipe deveria ter como aliado o povo que governava, 
exercendo sobre ele meios de manipulação. Isso porque o perigo real não seria o povo; mas 
sim a nobreza, que uma vez declarada inimiga do governante teria a capacidade intelectual de 
contra ele se articular, confabular e conspirar, até usurpar-lhe o poder. Seria, portanto, 
essencial para o governante exercer meios de controle diversos sobre seu povo e outros mais 
diretos sobre a nobreza. 
Para a manutenção dos inimigos internos sob controle e as bases populares como 
aliadas, Maquiavel considerava ainda questões relativas à defesa dos territórios conquistados, 
defendendo que o exército não poderia ser constituído por estrangeiros mercenários. Atribuía 
o momento pelo qual passavam os reinados italianos à delegação de exércitos estrangeiros 
para a manutenção da soberania nacional, que fracassaram de forma retumbante. Na mesma 
chave incluíam os exércitos aliados, utilizados em combate para defender uma pátria que não 
era a sua. Para Maquiavel, o exército deveria ser essencialmente nacional. 
 
 
SÍNTESE DO PENSAMENTO MAQUIAVELIANO 
 
 
Temos então uma síntese do pensamento 
maquiaveliano a partir da identificação, nos dois tratados 
analisados, da seguinte premissa básica: a fortuna, ou seja, 
as circunstâncias são complexas e mutáveis, e a natureza 
humana maléfica. Para transformar as circunstâncias a seu 
favor e, literalmente, fazer com que roda da fortuna gire a 
seu favor, o príncipe deveria usar toda a sua astúcia para 
identificar exatamente o momento de usar e de relegar a 
virtú – que é a regra – para agir contra a fé e a caridade, 
para que, conservando a paz (preparando-se sempre para a 
guerra), o Governo pudesse enfim garantir o bem comum. 
 
 
Engraved Portrait Of Niccolo 
Machiavelli 
Título original: Engraved portrait of 
Italian political philosopher Niccolo 
Machiavelli (1469-1527), whose 
principal work, " Il Principe" (1513), 
details his theory of government and 
offers advice for consolidating power. 
French engravingby Fournier. 
IMAGEM: © Bettmann/CORBIS 
COLEÇÃO Bettmann 
 
 
 
 
 
Ainda sobre o tema “a lição dos clássicos (Maquiavel)”, indico os textos abaixo, a título 
de leitura complementar: 
 
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995 
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Hemus, s/dMONTAIGNE, 
Michel Eyquem de. Ensaios. São Paulo : Abril Cultural, 1984 
MORE, Thomas. Utopia. São Paulo: Martin Claret, 2000. 
VIANA, Alexandre Martins; “Estudo introdutório às 95 teses de Martinho Lutero”; Revista 
Espaço Acadêmico; n. 34, mar/2004. 
 
Indico ainda os filmes: 
O sétimo selo; dir.: Ingmar Bergman; drama, Suécia, 1957. Lutero; dir.: Eric 
Till; drama, Alemanha, 2003. 
 
 
 
 
 
Material Complementar 
 
 
 
 
 
 
 
 
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995 
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Hemus, s/d 
MONTAIGNE, Michel Eyquem. Ensaios. São Paulo : Abril Cultural, 1984 
MORE, Thomas. Utopia. São Paulo: Martin Claret, 2000. 
VIANA, Alexandre Martins; “Estudo introdutório as 95 teses de Martinho Lutero”; Revista 
Espaço Acadêmico; n. 34, mar/2004. 
 
Referências 
 
 
 
 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
 
Anotações

Outros materiais

Outros materiais