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Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
 
 
Formação 
Territorial do Brasil 
 
 
Unidade Nº 2 - Formação do povo 
brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bruno Matos 
 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
 
 
 
Introdução 
 
Bem vindo(a) à segunda unidade da disciplina Formação Territorial do Brasil. 
Nesta etapa do curso continuaremos a abordagem acerca da formação do povo 
brasileiro, desta vez a partir da construção social brasileira nos séculos XIX e XX, 
tendo como um dos fatores essenciais as teorias raciais e o conceito de região. 
 
Para analisar a formação do povo, colocaremos em foco no primeiro tópico 
desta unidade o processo de ocupação do território brasileiro, sobretudo a partir do 
fim do Brasil Império, com a abolição da escravatura e a posterior proclamação da 
República. 
 
Ainda sobre esse período, abordaremos as teorias raciais existentes no Brasil, 
compreendendo os impactos do processo de colonização e a diversidade étnico-
racial brasileira. Para isso, será fundamental analisar tais transformações no contexto 
global, tendo como ponto de partida as origens do etnocentrismo e a relação 
histórica entre os povos. 
 
Assim, será possível avançar para a análise das políticas territoriais aplicadas 
no Brasil para ocupação e desenvolvimento do país. Veremos como tais políticas 
influenciaram na construção do Estado brasileiro e da nação brasileira, conformando 
suas diferentes regiões. 
 
Por fim, analisaremos a importância do conceito de região para a ciência 
geográfica, compreendendo as distintas formas de regionalização e diferenciando os 
conceitos de região, regionalidade e regionalização, para que possamos observar 
mais adiante no curso as características de cada região brasileira. 
 
Bons estudos! 
 
1. O processo de ocupação do território brasileiro 
 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
Como vimos na unidade anterior, a ocupação do território brasileiro se deu a 
partir da sua faixa litorânea, tendo na produção agrícola voltada para a exportação 
seu principal fator de desenvolvimento. O Nordeste foi a primeira região a 
desenvolver o plantio de cana-de-açúcar destinada ao comércio internacional. 
 
A partir da atividade de mineração e o emprego da mão de obra escravizada 
negra, a ocupação territorial expandiu-se também para as regiões centrais do país. 
Foi a partir do século XVII que ocorreu a ocupação da faixa territorial onde hoje 
encontram-se os estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, com a descoberta 
de importantes riquezas minerais. 
 
Também no século XVII ocorreu a expansão da lavoura canavieira e a criação 
de gado, atividades que também contribuíram para a ocupação de territórios no 
interior do Brasil. O crescimento da província de São Paulo ganha destaque 
sobretudo por tratar-se de um centro de comercialização que servia para integrar as 
diferentes áreas ocupadas. 
 
 
Imagem 1 - Engenho açucareiro no Brasil Colonial 
 
A região da Amazônia, por sua vez, foi marcada pelo aproveitamento da 
grande quantidade de rios, em benefício da produção de subsistência, de modo que 
a economia local foi desenvolvida principalmente com base na extração de produtos 
vegetais. 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
 
Já a região do extremo-sul brasileiro passou a ser mais densamente ocupada 
no século XVIII, a partir da formação de núcleos portugueses para colonização no Rio 
Grande do Sul. As condições ambientais favoráveis à pecuária atraiu ainda criadores 
paulistas para a região. A exportação de couro foi uma das principais atividades 
econômicas do Sul do Brasil à época. 
 
Os núcleos urbanos densamente povoados foram desenvolvidos no século 
XIX, com a centralização de áreas extensas nas regiões Sul e Sudeste do país. A 
atividade cafeeira foi responsável por acelerar o processo de urbanização no Rio de 
Janeiro e em São Paulo, o que estabeleceu um eixo de desenvolvimento no Sudeste. 
 
Apesar da busca por uma integração nacional, o Império enfrentava um 
problema relativamente grande: os movimentos separatistas, sobretudo em São 
Paulo, Pernambuco e no Sul do país, com a Revolução Farroupilha. Após décadas de 
tensões e até mesmo conflitos armados nessas regiões, os movimentos separatistas 
foram derrotados. 
 
1.1. A construção da nação brasileira 
 
Como mencionado na primeira unidade, a formação do povo brasileiro se deu 
a partir das matrizes lusa, africana e indígena. No entanto, a referência para a 
conformação do Brasil enquanto nação foi mesmo a civilização europeia. Como 
veremos adiante, a formulação de teorias raciais etnocêntricas contribuiu para a 
tentativa de apagamento da cultura negra e indígena. 
 Conforme afirma Darcy Ribeiro: 
 
A sociedade e a cultura brasileiras são conformadas como variantes 
da versão lusitana da tradição civilizatória européia ocidental, 
diferenciadas por coloridos herdados dos índios americanos e dos 
negros africanos. O Brasil emerge, assim, como um renovo mutante, 
remarcado de características próprias, mas atado genesicamente à 
matriz portuguesa, cujas potencialidades insuspeitadas de ser e de 
crescer só aqui se realizariam plenamente. (RIBEIRO, 1995) 
 
Apesar de não haver uma uniformidade na formação étnica do Brasil, uma vez 
que questões ambientais, econômicas e relacionadas à imigração provocaram 
diferenças marcantes na formação do povo de região para região, trata-se da 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
formação de uma mesma identidade. Mais uma vez, nas palavras de Darcy Ribeiro, 
pode-se identificar que: 
 
Por essas vias se plasmaram historicamente diversos modos rústicos 
de ser dos brasileiros, que permitem distingui‐ los, hoje, como 
sertanejos do Nordeste, caboclos da Amazônia, crioulos do litoral, 
caipiras do Sudeste e Centro do país, gaúchos das campanhas 
sulinas, além de ítalo‐ brasileiros, teuto‐ brasileiros, nipo‐ brasileiros 
etc. Todos eles muito mais marcados pelo que têm de comum como 
brasileiros, do que pelas diferenças devidas a adaptações regionais 
ou funcionais, ou de miscigenação e aculturação que emprestam 
fisionomia própria a uma ou outra parcela da população. (RIBEIRO, 
1995) 
 
 Portanto, as diferenças marcadas pela regionalização e pela imigração 
conformam traços que, embora apresentem uma rica diversidade, permitem uma 
que o povo que ocupa o território brasileiro se identifique enquanto uma mesma 
gente, pertencente a uma mesma etnia. Assim, o Brasil difere-se de outros Estados, 
que embora sejam unitários, possuem sociedades multiétnicas, reunindo ainda uma 
diversidade de idiomas. 
 
 Embora soe como algo positivo, essa unidade é fruto de um longo e violento 
processo de unificação política, com a supressão de identidades étnicas discrepantes 
e tendências separatistas. Tal perseguição teve como alvos inclusive grupos e 
movimentos republicanos ou anti-oligárquicos, que foram classificados pelas classes 
dominantes como separatistas. 
 
 No que diz respeito ao aspecto econômico da nação brasileira, Darcy Ribeiro 
afirma que ela surge 
 
da concentração de uma força de trabalho escrava, recrutada para 
servir a propósitos mercantis alheios a ela, através de processos tão 
violentos de ordenação e repressão que constituíram, de fato, um 
continuado genocídio e um etnocídio implacável. (RIBEIRO, 1995) 
 
 Percebe-se, assim, que embora seja um povo que se enxerga como uma só 
identidade, é marcado por um claro distanciamento entre as classes dominantes e 
as subordinadas, tendo o elemento étnico relevância na imposição da ordem vigente. 
 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formaçãodo povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
Você quer ler? Para melhor compreender a formação do povo brasileiro leia o artigo 
A construção da identidade nacional brasileira: necessidade e contexto, de Luis 
Fernando Tosta Barbato. Para acessar clique aqui. 
 
 
2. As teorias raciais do Brasil nos séculos XIX e XX 
 
Em dado momento do século XX foi desenvolvida a teoria de que no Brasil 
vigorava uma chamada “democracia racial”, que seria consequência da diversidade 
existente no povo brasileiro. No entanto, tal afirmação ignora o abismo existente 
entre os estratos sociais que conformam o Brasil, sobretudo os aspectos 
relacionados à questão racial. 
 
O processo de favelização das regiões urbanas, por exemplo, está 
diretamente relacionado com a completa falta de assistência do poder público aos 
escravos libertos a partir da Lei da Abolição. Assim, a população negra foi condenada 
à marginalização, vivendo em guetos e sem acesso aos direitos básicos para 
qualquer cidadão. 
 
Esse distanciamento social não foi fruto do acaso. Trata-se da consequência 
de políticas que foram planejadas para o branqueamento da população brasileira, a 
partir da ideia de que a cultura e as potencialidades do branco europeu seriam 
superiores às outras, sobretudo às tradições dos negros africanos e dos povos 
indígenas, matrizes que também fizeram parte da formação do Brasil. 
 
Entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, as 
teses eugenistas ganharam adeptos pelo mundo. Estas teses defendiam a existência 
de de um padrão genético superior entre os seres humanos. Assim, afirmava-se que, 
em diversos aspectos, o homem branco europeu era superios aos demais. 
 
As teses raciais etnocêntricas afirmavam que, em questões como a saúde, 
inteligência, habilidades técnicas e competência civilizacional, o homem branco 
http://ojs.ufgd.edu.br/index.php/historiaemreflexao/article/viewFile/3354/1824
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
europeu seria superior. Isso colocava outras etnias, como os asiáticos, os negros e 
os indígenas como raças inferiores, que deveriam ser subjugadas. 
 
Inspirada nas teses eugenistas, surge no Brasil, durante o mesmo período, a 
tese do branqueamento, segundo a qual o processo de miscigenação levaria os 
descendentes de negros a ficar progressivamente mais brancos a cada nova geração. 
Tal tese era vista com otimismo pelas classes dominantes, que acreditavam que o 
embranquecimento da população brasileira levaria ao progresso do país. 
 
Os defensores do eugenismo no Brasil tinham como referência teses como a 
do determinismo de Henry Thomas Buckle e do darwinismo social de Herbert 
Spencer. Tais teóricos fundamentaram estudos para justificar o processo do 
neocolonialismo, no qual ocorreu a dominação e exploração de pessoas e recursos 
na África e na Ásia. 
 
As teses racialistas contribuíram também para que a imigração de outros 
europeus além dos portugueses fosse incentivada pelo governo brasileiro nos 
séculos XIX e XX. 
 
Você quer ver? Para aprofundar os conhecimentos acerca das teorias raciais 
desenvolvidas na Europa dos séculos XVIII e XIX a partir do eugenismo assista ao 
vídeo “Darwinismo Social e Eugenia - Racismo Científico”, de HistoriAção Humanas. 
Para acessar clique aqui. 
 
 
 
2.1. Políticas de incentivo à imigração 
 
Com a libertação dos negros escravizados e a disseminação das teorias 
racialistas, o governo brasileiro passou a incentivar a imigração de europeus para o 
Brasil. Alemães, italianos e espanhóis foram incentivados a migrar, sobretudo a partir 
dos momentos de tensão e guerra que a Europa viveu no início do século XX. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=YYg5rUwvsm0
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
A intenção, a partir da imigração de brancos europeus era que houvesse uma 
higienização moral e cultural na sociedade brasileira, uma vez que negros e indígenas 
eram considerados inferiores por natureza. Assim acreditava-se que preservar os 
traços indígenas e africanos seria uma degeneração para as gerações que estavam 
por vir. Além disso, considerava-se que os genes desses povos poderia trazer 
consequências ruins para a evolução da espécie humana. 
 
Os teóricos da eugenia no Brasil acreditavam que poderiam fazer com que os 
descendentes dos brasileiros fossem todos brancos num período de até 200 anos. 
A política de branqueamento funcionou parcialmente, principalmente em São Paulo, 
onde a ideia de progresso e prosperidade passou a estar associada à população de 
pele branca. 
 
Como uma das terríveis consequências de tais políticas, desenvolveu-se entre 
os próprios negros a ideia de que transmitir seus traços às próximas gerações seria 
algo ruim. Assim, era uma vergonha para os descendentes de africanos preservar 
suas raízes e seus costumes, de modo que alguns chegavam até mesmo a negar a 
própria negritude. 
 
 
3. A construção social e territorial do Brasil no 
século XX 
 
A abolição da escravatura e a proclamação da República foram os fatos 
marcantes do fim do século XIX que encaminharam mudanças importantes no que 
diz respeito à conformação do povo e do território brasileiros no século XX. Embora 
a Constituição de 1891 definisse os limites territoriais do Brasil, eles não estavam de 
fato delimitados. 
 
Assim, a República Velha tinha como tarefa primordial analisar as questões 
relativas aos limites do território brasileiro e a necessidade de estabelecer boas 
relações com os vizinhos no continente. O grande responsável por levar adiante tal 
tarefa foi José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco. Entre as 
questões resolvidas por ele, estão a Questão da Zona de Palmas, na qual a Argentina 
reivindicava parte do território do estado de Santa Catarina; a Questão do Amapá, 
levantada pelo governo francês, detentor da Guiana Francesa; a Questão do Acre, 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
por meio da qual o governo da Bolívia incentivava a ocupação da região na qual hoje 
se localiza o estado. 
 
A Questão da Zona de Palmas foi resolvida por arbitramento, tendo o 
presidente dos Estados Unidos à época, Glover Cleveland, a palavra final. Ele foi 
favorável ao Brasil neste litígio. No que diz respeito à Questão do Amapá, foi 
escolhido como árbitro o presidente do Conselho Federal Suíço, Walter Hauser, que 
deu sentença favorável ao Brasil. A Questão do Acre, por sua vez, as tensões 
chegaram ao conflito armado, o que foi contornado por uma negociação realizada 
entre o Barão do Rio Branco e o governo da Bolívia. Em 1903 foi assinado o Tratado 
de Petrópolis, que determinava que o Brasil ficasse com a região mediante o 
pagamento de dois milhões de libras esterlinas e a construção da Estrada de Ferro 
Madeira-Mamoré. 
 
Nesse período o Brasil já desenvolvia o plantio e a exportação de café, que 
viria a se tornar o principal produto agrícola do país. A maior parte da população 
residia no campo e a divisão territorial existente não proporcionava a articulação 
entre as regiões responsáveis pelo desenvolvimento econômico do país. 
 
A necessidade de expandir as lavouras de café fez com que territórios ainda 
por desbravar passassem a ser ocupados. Com isso a região do Vale do Paraíba, além 
dos territórios onde hoje se localizam as cidades de Campinas, Ribeirão Preto e São 
José do Rio Preto, foram desbravados no que ficou conhecido como Marcha do Café. 
O aumento exponencial das exportações de café, o esgotamento dos solos até então 
utilizados para o plantio e a facilidade em se conseguir empréstimos bancários foram 
alguns dos fatores que estimularam esses movimentos. 
 
Até o final da década de 1920 o panorama de ocupação e desenvolvimento 
do território brasileiro era pautado prioritariamentepela lógica agrário-exportadora, 
uma vez que tratava-se da principal atividade econômica desenvolvida no país e 
responsável pelo povoamento da região sudeste, que rapidamente se consolidava 
como núcleo dominante no que diz respeito à economia nacional. 
 
No início dos anos 1930 o Brasil passa a desenvolver outras bases 
econômicas, com atenção especial à indústria. O governo Getúlio Vargas implementa 
uma Política Nacionalista com o intuito de defender os interesses nacionais e pautar 
o desenvolvimento do país, pautado pela modernização da produção industrial. 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
 
O complexo Companhia Siderúrgica Nacional - CSN - é uma expressão desse 
momento de desenvolvimento das bases industriais brasileiras. O objetivo com tal 
política era acelerar a industrialização do Brasil e tornar o país o mais auto-suficiente 
possível. 
 
Sob o comando de Vargas, o Brasil priorizou políticas estatais de 
desenvolvimento e investimentos em programas de infraestrutura, energia e 
transportes. Nesse período, ainda durante a década de 1930, são criados o projeto 
Usiminas, a Petrobas, a Eletrobas e a Companhia Nacional de Álcalis. 
 
No que diz respeito ao desenvolvimento da Geografia no país, em 1942 é 
criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Trata-se de um 
importante instrumento de estudo do território brasileiro e sua população até os 
dias de hoje. 
 
O plano de modernização do Brasil prossegue com o Plano de Metas 
implementado por Juscelino Kubitschek entre 1957 e 1960. Tal política modificou 
bastante a estrutura econômica do país. Nesse processo houve investimento tanto 
estatal quanto vindo de empresas estrangeiras. Enquanto o Estado priorizou áreas 
como energia, transportes e siderurgia, os recursos externos foram destinados à 
indústria automobilística e eletroeletrônica. 
 
É sob o governo de Kubitschek que a capital do Brasil muda do Rio de Janeiro 
para Brasília, idealizada e construída com esse intuito. Tal mudança representou o 
resguardo do governo nacional no que diz respeito a aspectos de segurança nacional 
e um passo importante para a ocupação e desenvolvimento da região Centro-Oeste. 
 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
 
Imagem 2 - Construção de Brasília 
O governo JK foi responsável ainda pela criação da Superintendência do 
Desenvolvimento do Nordeste, a SUDENE. Tal órgão tinha o objetivo de integrar a 
região Nordeste ao mercado nacional e promover o desenvolvimento socioespacial 
desta parte do país. 
 
 
Você quer ler? Para ter acesso ao documento original do Plano de Metas de 
Juscelino Kubitschek clique aqui. 
 
 
 
 
3.1. Ocupação e desenvolvimento do território brasileiro no 
século XX 
 
 
Como visto anteriormente, tanto a produção cafeeira quanto o processo de 
industrialização do Brasil foram estabelecidos a partir da região Sudeste do país. 
http://bibspi.planejamento.gov.br/bitstream/handle/iditem/490/Programa%20de%20Metas%20do%20Presidente%20Juscelino%20Kubitschek%20V2%201958_PDF_OCR.pdf?sequence=2&isAllowed=y
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
Dessa forma, esta região, sobretudo o eixo Rio-São Paulo, desponta como a mais 
desenvolvida em termos econômicos e sociais. 
 
Desde a proclamação da República, no entanto, houve disputas permanentes 
entre regiões, estados e municípios por recursos públicos federais. Assim, ao passo 
que se consolidava uma centralização do poder no eixo Rio-São Paulo, ocorria 
também a descentralização em outras regiões do país no que diz respeito à 
integração entre os estados. 
 
Com a constante modernização do Estado brasileiro, e sem a democratização 
da política, as decisões político-econômicas passaram a ser ainda mais centralizadas. 
A criação do IBGE representa parte disso, uma vez que com tal instrumento buscava-
se resolver os problemas internos do país e forjar uma unidade nacional a partir do 
centro, e não das partes do território brasileiro. Assim, o foco era o centro político e 
econômico. 
 
Em 1953, foi criada a Amazônia Legal, com o intuito de estabelecer áreas de 
intervenção para políticas econômicas regionais. Dessa forma, se poderia garantir a 
soberania nacional sobre esta região e promover ações voltadas ao bem-estar da 
população habitante desta área. 
 
Durante o Governo JK a construção de rodovias de grande extensão buscou 
integrar o território nacional, tendo Brasília como o ponto central para o qual 
convergiam as vias de circulação. A intenção, com isso, era integrar o norte e o oeste 
do país, que eram tidos como afastados dos centros de poder, localizados no 
Sudeste. 
 
A partir da década de 1960, os governos passam a destinar verbas regulares 
para as regiões Norte e Nordeste, a fim de resolver os problemas recorrentes em 
tais localidades. Como mencionado anteriormente, a SUDENE é fortalecida como 
instrumento fundamental para tentar superar o atraso econômico do Nordeste em 
relação a outras regiões do país. 
 
Os problemas sociais e políticos do Nordeste, no entanto, foram ignorados 
como fatores essenciais para tamanha desigualdade. A extrema concentração de 
terras, algo constatado desde o Brasil Império, permanece até hoje como um dos 
grandes problemas da região. Embora a SUDENE tenha impulsionado a 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
industrialização nordestina, as disparidades em relação ao Sudeste permaneceram 
e as taxas de desemprego não foram reduzidas. 
 
O golpe militar em 1964 fez com que a centralização do poder fosse 
aprofundada. As políticas territoriais eram baseadas em polos de desenvolvimento 
regionais. A ocupação da Amazônia tem na exploração da borracha sua principal 
atividade econômica, o que, no entanto, gerou apenas um povoamento de 
ribeirinhos. 
 
Os grandes surtos de ocupação das regiões Norte e Centro-Oeste nas 
décadas de 1960 e 1970 foram ocasionados pela construção da rodovia Belém-
Brasília e da Transamazônica. A criação da Superintendência do Desenvolvimento da 
Amazônia (SUDAM) e os incentivos fiscais promovidos pelo governo fizeram com que 
empresas privadas se interessassem em realizar negócios na região Norte. 
 
 
Imagem 3 - Construção da Transamazônica 
 
Apesar de medidas voltadas ao desenvolvimento das regiões Norte, Nordeste 
e Centro-Oeste, o desemprego e o subemprego não foram reduzidos. Além disso, a 
instalação de vias de circulação nessas áreas fez com que a invasão de terras 
indígenas por empreiteiras e madeireiras foi facilitada. Com isso, os ataques 
promovidos por proprietários e grileiros contra comunidades indígenas 
permanecem até hoje. 
 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
 
 
4. A importância do conceito de região para a 
ciência geográfica 
 
 
Nesta unidade e na anterior abordamos conceitos fundamentais para 
compreender a formação territorial do Brasil. O próprio conceito de território foi o 
primeiro sobre o qual nos debruçamos para entender sua relevância na ciência 
geográfica. Passamos ainda pelos conceitos de povo, Estado, nação e política 
territorial. 
 
No último tópico desta unidade falaremos sobre o conceito de região e sua 
importância nos estudos da formação territorial. Para começar, vejamos qual é uma 
das definições mais comuns para o termo, nas palavras de Rogério Haesbaert: 
 
Mesmo como categoria da prática, difundida pelo senso comum, 
comumente região é tratada como sinônimo de porção do espaço 
delimitada por algum critério ou dotada de alguma característica 
própria, distintiva. Numa leitura bastante genérica, que alguns 
preferem associar a processos mais amplos de regionalização, mais 
do que a região propriamentedita, essa concepção é retomada no 
âmbito acadêmico, ao serem discutidos os critérios e/ou as 
características mais marcantes na diferenciação do espaço 
geográfico ou, se quisermos, na definição de uma região. 
(HAESBAERT, 2019) 
 
 A regionalização, portanto, pode ser vista como uma forma de estabelecer 
recortes ou articulações em determinado território a partir de critérios de 
diferenciação de uma porção do espaço em relação a outras porções. Os critérios 
estabelecidos para tal diferenciação podem ser de caráter natural, cultural ou 
econômico. 
 
 No caso da região natural, são os elementos da Geografia Física que 
interessam no momento de de estabelecer diferenciações no que diz respeito ao 
espaço geográfico. Concepções como aquela do determinismo ambiental defendiam 
essa perspectiva, segundo a qual a própria ação do homem estaria subordinada ao 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
meio em que vive, de modo que a organização social seria consequência do espaço 
em que ocorre. 
 
Outras perspectivas acerca da regionalização envolvendo a questão natural 
incluem a de Paul Vidal de la Blache, autor que a região como espaço que 
necessariamente vincula o natural e o social, ou seja, estabelece laços entre o meio 
e o ser humano. 
 
Entre as concepções mais recentes, região não pode ser definida sem levar 
em consideração os aspectos econômicos. Conforme nos explica Haesbaert: 
 
Para outros geógrafos e “cientistas regionais” (em geral economistas) 
o principal elemento diferenciador/ identificador de regiões refere-se 
à dinâmica econômica – nascem assim regiões como a região 
polarizada ou funcional urbana, comandada pelas diferentes funções 
econômicas de cada centro urbano e a hierarquia estabelecida entre 
eles, especialmente através do seu papel comercial e de prestação 
de serviços. Essa abordagem funcionalista da região teve origem na 
região nodal de geógrafos como Halford Mackinder e o próprio La 
Blache. Ela foi sofisticada nos anos 1930 por teorias como a do lugar 
central de Walter Christaller. Em outras bases filosóficas, como a 
materialista dialética, encontramos a região como produto da divisão 
espacial capitalista do trabalho ou das relações desiguais e 
combinadas entre centros e (semi)periferias. A força dessas 
concepções faz com que a disciplina que até hoje mais dialogou com 
a Geografia através do conceito de região seja a Economia. Daí o fato 
de que muitas das abordagens mais difundidas de região estejam 
focadas sobretudo na reprodução econômica, enfatizando a 
articulação espacializada das práticas econômico- funcionais.
 (HAESBAERT, 2019) 
 
 Tal perspectiva foi desenvolvida a partir da urbanização das grandes cidades 
e das transformações promovidas pelo capitalismo no século XX. Trata-se de uma 
formulação que tem por base as dinâmicas de metropolização na conformação das 
relações econômicas. Surgem daí conceitos como cidade-região e região com 
buracos, que analisam a formação regional a partir das fases do capitalismo e seus 
impactos no espaço. 
 
 Sobre a “região com buracos”, por exemplo, Haesbaert explana: 
 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
Outra concepção é a da “região com buracos”, de um grupo de 
geógrafos britânicos, entre os quais Doreen Massey, que considera a 
dinâmica do capitalismo pós-fordista ou de acumulação flexível e sua 
articulação espacialmente desigual, criando “buracos”, diversas áreas 
excluídas das redes articuladoras dessa nova dinâmica. (HAESBAERT, 
2019) 
 
 Para melhor compreender o conceito de região é importante também 
abordar as definições de regionalização e regionalidade. 
 
Regionalização diz respeito à região enquanto processo, ou seja, à ideia de 
que o espaço em questão está em constante rearticulação. Trata-se de um processo 
de diferenciação ou recorte do espaço em parcelas coesas ou articuladas a partir 
dos critérios já abordados neste tópico. 
 
 A regionalidade, por sua vez, pode ser definida enquanto propriedade do “ser” 
regional, relacionando-se diretamente com a criação das representações regionais. 
Trata-se aqui de considerar aquilo que é estabelecido a partir do imaginário social, 
daquilo que é fruto da vivência e da produção regionais e torna-se símbolo da região. 
 
Em termos práticos, tais conceitos determinam as características da região, 
tanto em seu processo histórico quanto na dimensão social da população que vivem 
no espaço. Dessa forma, as marcas culturais são muito importantes para a definição 
de determinada porção espacial enquanto região, o que também envolve a relação 
do ser humano com o meio em que está inserido 
 
Pode-se mencionar exemplos como as características que são marcas 
registradas do Nordeste e fazem com que o povo desta região se identifique 
enquanto nordestino. As festas tradicionais, as expressões artísticas e a gastronomia 
local conformam essa dimensão da regionalidade que liga o ser humano ao local 
onde vive. 
 
Síntese 
 
Após compreendermos o significado de território e conceitos similares para a 
ciência geográfica, nesta unidade foi possível abordar a construção do território 
brasileiro e de seu povo mais a fundo. Com a ideia de regionalização, pudemos 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
observar de que maneira se organizam esses locais e o que os definem enquanto 
regiões. 
 
Vimos ainda que a organização e ocupação do território brasileiro se deu em 
consonância com o desenvolvimento da economia do país e as atividades 
econômicas locais. A definição das fronteiras brasileiras e as negociações realizadas 
com outros países também foram ações importantes para a construção do território 
nacional. 
 
Em resumo, nesta unidade nós abordamos: 
● O processo de ocupação do território brasileiro em cada região, 
levando em consideração suas especificidades, em especial no que diz 
respeito ao desenvolvimento econômico; 
● A consolidação da nação brasileira a partir dos séculos XIX e XX, 
considerando as consequências da abolição da escravidão e a chegada 
de imigrantes europeus; 
● As teorias raciais que embasaram a perspectiva de embranquecimento 
do Brasil, a partir dos ideais eugenistas disseminados na Europa; 
● A construção social e territorial do Brasil no século XX, sobretudo a 
partir do projeto nacionalista de Vargas e desenvolvimentista de 
Kubitschek; 
● O desenvolvimento do território brasileiro a partir das políticas voltadas 
à ocupação de regiões historicamente desprezadas do projeto nacional 
e ao combate às desigualdades regionais; 
● A importância do conceito de região para a ciência geográfica, 
compreendendo as definições de regionalidade e regionalização como 
fundamentais para os estudos nesta área. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bibliografia 
 
CONTEL, Fabio Betioli. As divisões regionais do IBGE no século XX. In.Terra 
Brasilis (São Paulo), n.3, 2014. Disponível em: 
https://journals.openedition.org/terrabrasilis/990 
COSTA, Wanderley Messias. O Estado e as Políticas territoriais no Brasil. São 
Paulo, Contexto, 1991. 
HAESBAERT, Rogério. Região, Regionalização e Regionalidade: questões 
contemporâneas. In. Antares Letras e Humanidade (Caxias do Sul), n.3, 2010. 
Disponível em: 
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/antares/article/view/416/360 
HAESBAERT, Rogério. Território e Territorialidade: um debate. In. Geographia 
(UFF), ano IX. N.17, p.19 a 45, 2007. Disponível em: 
http://www.geographia.uff.br/index.php/geographia/article/viewFile/213/205 
Formação Territorial do Brasil - Unidade 2 - Formação do povo brasileiro nos séculos XIX e XX 
 
RIBEIRO,Darcy. O Povo Brasileiro. São Paulo, Companhia de Bolso, 2011. 
 
Imagens 
 
Imagem 1 - Disponível em https://www.todamateria.com.br/engenho-de-acucar-no-
brasil-colonial/ 
Imagem 2 - Disponível em https://www.todamateria.com.br/a-construcao-de-
brasilia/ 
Imagem 3 - Disponível em 
https://acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias/construcao-da-transamazonica-
9406097 
 
 
https://www.todamateria.com.br/engenho-de-acucar-no-brasil-colonial/
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https://www.todamateria.com.br/a-construcao-de-brasilia/
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