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Material de apoio - Relações Internacionais - Contexto Histórico

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R.I. MODULO I. 1
🌎
R.I. MODULO I.
UNIDADE 1
1. Relações internacionais no mundo moderno.
As últimas décadas do século XX foram marcadas pela intensificação das relações entre os 
povos, de uma maneira como nunca experimentada anteriormente.
Cada vez mais, as distâncias estão menores, tempo e espaço perdem o significado que tinham 
para nossos pais e avós, e as pessoas de diferentes locais do globo tomam consciência de que 
“a menor distância entre dois pontos é uma tecla”.
O século XXI chegou trazendo grandes conquistas: o mundo está menor, globalizado, 
interligado física e eletronicamente; pode-se tomar café em Londres e almoçar em 
Washington; as fronteiras perdem sua importância; o sistema internacional vê-se cada vez 
mais integrado; a tecnologia alcança milhões de pessoas, e não há limite ao conhecimento 
humano.
2. O processo de globalização
O termo globalização pode ser entendido como fenômeno 
de aceleração e intensificação de mecanismos, processos e 
atividades, com vista à promoção de uma 
R.I. MODULO I. 2
interdependência global e, em última escala, à integração 
econômica e política em âmbito mundial.
Um dos aspectos mais importantes da globalização envolve a ideia crescente do “mundo sem 
fronteiras”. Isso é perceptível em termos como “aldeia global” e “economia global”. Poucos 
lugares do mundo estão a mais de dez dias de viagem, e a comunicação através das fronteiras 
é praticamente instantânea.
Em nossos dias, com as economias interligadas, blocos se formam, com consequências que 
ultrapassam os benefícios econômicos, pois as conquistas sociais e políticas de um membro 
do bloco logo deverão chegar aos territórios de todos os outros. Princípios como a 
democracia e a prevalência dos direitos humanos podem ser defendidos e arguidos em troca 
de benefícios econômicos.
No caso do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), há a chamada "cláusula democrática", a 
qual estabelece que apenas países sob regimes democráticos podem participar do bloco. Essa 
cláusula evita as alternativas autoritárias em alguns países do Mercosul, em momentos de 
crise institucional.
Assim, o atual processo de globalização envolve a integração econômica mundial em 
diversos níveis, com a redução das distâncias em virtude do desenvolvimento de mecanismos 
de produção e distribuição de bens em escala global, e do fortalecimento dos meios de 
comunicação. Nesse contexto, novos atores, como as organizações não governamentais, as 
empresas transnacionais, a opinião pública e a mídia, ganham destaque ao influenciarem a 
conduta dos Estados.
2. 1. Dilemas da Globalização 
A globalização também é marcada por problemas em escala mundial. Nesse sentido, há a 
criminalidade, que ultrapassa as fronteiras dos Estados, com organizações criminosas 
exercendo suas atividades ilícitas no âmbito internacional. Crimes como o narcotráfico, o 
tráfico de armas, o tráfico de pessoas e de animais e a pirataria, todos esses há muito não são 
problemas exclusivos de um ou outro país, mas questões globais que devem ser encaradas 
sistemicamente.
R.I. MODULO I. 3
E a base do crime organizado é a lavagem de dinheiro, que movimenta cerca de um trilhão de 
dólares por ano no mundo, ou 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, segundo a 
Organização das Nações Unidas (ONU).
3. Meio Ambiente, Direitos Humanos, Conflitos Internacionacionais 
Cada vez mais a humanidade toma consciência de que o 
meio ambiente não pode ser tratado como assunto 
interno dos Estados e que os danos ambientais 
ultrapassam as fronteiras.
No último quartel do século XX, a proteção ao meio 
ambiente passou a ser uma das grandes preocupações 
da comunidade internacional
A Conferência do Rio de Janeiro de 1992 exerceu essa salutar influência, e multiplicaram-se 
nas últimas décadas os tratados sobre todos os aspectos ambientais, tanto assim que se 
calcula em mais de mil os tratados internacionais assinados sobre o tema.
A proteção aos direitos humanos é um assunto em 
voga, sobretudo quando notícias de violações a 
esses direitos nos chegam de todas as partes do 
planeta. No moderno sistema internacional, 
agressões contra uma pessoa devem ser 
consideradas crimes contra toda a raça humana. 
O intenso trabalho das cortes internacionais de direitos humanos na Europa e no continente 
americano refletem essa nova realidade. 
À medida que nos aproximamos uns dos outros, surgem também os conflitos, outro 
componente marcante da agenda internacional desde sempre. E no extremo dos conflitos, 
temos a guerra, sob suas diferentes formas. 
Nesse sentido, o século XX foi marcado por uma grande quantidade de guerras por todo o 
globo, inclusive com dois conflitos que envolveram praticamente toda a sociedade 
internacional.
R.I. MODULO I. 4
4. Importância do conhecimento de Relações Internacionais
Atualmente, quem não estiver informado sobre o que ocorre no mundo poderá ver-se bastante 
limitado, pessoal e profissionalmente.
Hoje, a sociedade internacional está tão interligada, tão integrada em um processo de 
globalização, que situações ocorridas na China podem afetar a nós, brasileiros, do outro lado 
do planeta.
O Brasil e as Relações Internacionacionais
O Brasil não pode se furtar a ter um papel 
de destaque nas relações internacionais. As 
transformações e acontecimentos no mundo 
globalizado farão cada vez mais parte de 
nosso dia a dia, em uma tendência 
praticamente irreversível.
Pouco significativa diante de suas potencialidades é a atuação brasileira no cenário 
internacional. Apenas nas últimas décadas do século XX é que o Brasil começou a se fazer 
mais presente. Isso coincide com o surgimento e o desenvolvimento dos primeiros cursos de 
Relações Internacionais no País e com o aumento do interesse nas questões internacionais por 
parte de diversos setores da nossa sociedade.
5. As Relações Internacionais e a Constituição Brasileira
A importância das relações internacionais também pode ser percebida na maneira como o 
tema é tratado na Constituição Federal. A Carta Magna, já em seu Título I, referente aos 
“Princípios Fundamentais”, estabelece, no art. 4º, os princípios que regem as relações 
internacionais do Brasil:
independência nacional;
autodeterminação dos povos;
igualdade entre os Estados;
solução pacífica dos 
conflitos;
 cooperação entre os povos 
para o progresso da 
 prevalência dos 
direitos humanos;
não intervenção;
defesa da paz;
repúdio ao terrorismo e 
ao racismo;
R.I. MODULO I. 5
humanidade; concessão de asilo 
político.
Ainda no que concerne à Lei Maior, também os direitos e garantias fundamentais estão 
intimamente relacionados às experiências vivenciadas pela comunidade das nações ao longo 
de sua história. Foi graças às revoluções em países como a Inglaterra, a França, os EUA e a 
Rússia, e à difusão desses princípios para além de suas fronteiras, que o mundo moldou uma 
cultura de direitos fundamentais que hoje são inquestionáveis em todo o planeta. E a violação 
a esses direitos gera repulsa da comunidade internacional.
A Constituição de 1988 inovou ao elencar, de forma sistemática, os princípios que regem 
nossas relações internacionais. Para maior aprofundamento, sugerimos a leitura do artigo 'Os 
princípios das relações internacionais e os 25 anos da Constituição Federal', do Professor 
Alexandre Pereira da Silva. 
O relacionamento entre Estado e indivíduo, que tradicionalmente foi objeto de preocupação 
de leis internas, não mais pode ser considerado uma questão puramente doméstica dos países.
A Constituição da Rússia de 1993, por exemplo, trouxe como princípio a incorporação das 
normas internacionais ao sistema jurídico interno e a prevalência dos acordos internacionais 
dos quais a Federação Russa faça parte, caso estes estabeleçam regras que difiram daquelas 
estipuladas em lei interna. Isso tem se mostrado uma tendência constitucional em vários 
países. Quando não há dispositivos legais expressos, as cortes constitucionais têm dado o 
rumo da interpretação.
Na década de 1990, as cortesconstitucionais da Hungria e da Polônia, por exemplo, 
decidiram que a Constituição e as normas internas deveriam ser interpretadas de tal forma 
que as normas internacionais geralmente aceitas tivessem força efetiva.
6. O Poder Legislativo e as Relações Internacionais
As relações internacionais do Brasil passam efetivamente pelo Poder Legislativo. Em nosso 
sistema jurídico-político, quaisquer tratados que o Brasil celebre com outras nações ou com 
organizações internacionais devem necessariamente passar pelo aval do Congresso Nacional 
antes de serem ratificados.
O art. 49 da Constituição Federal de 1988 é claro ao estabelecer, logo nos dois primeiros 
incisos, as competências exclusivas do Congresso Nacional:
R.I. MODULO I. 6
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem 
encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir 
que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam 
temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei complementar;
E o Senado Federal, por sua vez, tem atribuições mais específicas, pois é a Casa Legislativa 
que avalia e aprova nossos embaixadores, autoridades máximas das missões diplomáticas 
brasileiras, designados para representar o País no Exterior. Compete também ao Senado 
autorizar as operações externas de natureza financeira dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios.
Cada Casa Legislativa possui comissões 
encarregadas dos temas de relações 
exteriores e defesa nacional. No Senado 
Federal, por exemplo, a Comissão de 
Relações Exteriores e Defesa Nacional 
(CRE), composta por 19 membros titulares 
e 19 suplentes, é competente para tratar das 
questões que envolvam as relações 
internacionais do País.
A legislação brasileira evidencia a importância do Poder Legislativo nos destinos das 
relações internacionais. E quanto mais o Brasil busque integrar-se na comunidade das nações 
e ocupar o seu devido papel de destaque, mais importante se faz o conhecimento, na esfera do 
Legislativo, dos principais temas da área.
7. O Estudo das Relações Internacionais
O estudo de Relações Internacionais envolve conhecimentos gerais de Direito, Economia, 
Administração, História, Filosofia, Sociologia, Antropologia, Estatística e, sobretudo, de 
questões internacionais contemporâneas.
O interesse por temas de relações 
internacionais aumentou mais ainda 
após os atentados terroristas de 11 de 
setembro de 2001. Ao assistirmos 
R.I. MODULO I. 7
àqueles dramáticos acontecimentos 
em tempo real, alguns véus foram 
retirados, e aos poucos tomamos 
consciência de que as distâncias 
físicas se estreitavam ao mesmo 
tempo em que as distâncias culturais e 
sociais aumentavam. 
O terrorismo passa também a ser uma questão global, que afeta países nos hemisférios Norte 
e Sul, no Ocidente e no Oriente.
Em termos de carreira, uma das mais conhecidas é a diplomacia. O diplomata é o legítimo 
representante do Governo e da nação junto a outros povos e organizações internacionais. Para 
se tornar um diplomata no Brasil, é necessário o ingresso na carreira por meio de concurso 
público, promovido pelo Instituto Rio Branco (IRBr) do Ministério das Relações Exteriores. 
Aprovado no concurso, e, submetido a um período de treinamento no IRBr, o diplomata 
inicia uma carreira como Terceiro Secretário, podendo chegar a Embaixador.
No serviço público, além da Chancelaria, o profissional de relações internacionais tem diante 
si alternativas de trabalho nos vários órgãos da Administração Federal, Estadual e Municipal. 
Afinal, sempre há uma “assessoria internacional” em cada ministério, secretaria, autarquia e 
empresas públicas. E o perfil do internacionalista se destaca. Constata-se a presença de 
profissionais de relações internacionais nas principais carreiras de Estado.
Na iniciativa privada, outro leque de alternativas se abre aos que possuem formação na área. 
Além das grandes corporações multinacionais e transnacionais, as empresas brasileiras de 
médio e grande porte já percebem a necessidade de atuarem em uma economia globalizada. 
Assim, em um mundo cada vez mais integrado econômica e financeiramente, as empresas 
precisam de profissionais que as auxiliem a se integrarem e a permanecerem no sistema 
internacional. Aquelas que desconsideram essa percepção frequentemente acabam por 
sucumbir.
Além disso, há a possibilidade de trabalho nas centenas de Organizações Internacionais e 
Organizações Não Governamentais que atuam no globo: ONU, OEA, OIT, OMC, OPEP, 
UNESCO, FAO, Greenpeace, WWF e outras. Brasília tem representação da maior parte dos 
organismos internacionais dos quais o Brasil é membro e, com isso, o mercado do 
profissional de relações internacionais se amplia na capital federal.
8. Relações Internacionais como disciplina independente
R.I. MODULO I. 8
Até o início do século XX, as relações 
internacionais não eram estudadas como 
disciplina independente. O estudo do tema 
estava sempre sob o manto de outras 
ciências, como o Direito, a Economia, a 
Sociologia e a Ciência Política.
À medida que a sociedade internacional tornava-se mais complexa e as relações entre os 
Estados mais diversificadas, relações estas que envolviam conflito e cooperação, e que 
muitas vezes culminavam em situações que interferiam diretamente no cotidiano das pessoas 
e na política interna das nações, percebeu-se a crescente necessidade de teorias que 
explicassem a conduta dos atores em um cenário internacional. Essas teorias e seu estudo 
deveriam constituir uma nova área do conhecimento, independente e com autonomia para 
gerar suas próprias percepções da realidade. Daí o aparecimento das primeiras cátedras de 
Relações Internacionais pelo mundo.
Os cursos de Relações Internacionais surgiram na primeira metade do século XX, nas 
principais universidades europeias e norte-americanas. Foram constituídos com o objetivo de 
produzir conhecimento que explicasse como se desenvolviam as relações entre os Estados. 
Naquele contexto, as perguntas que impulsionariam o estudo estavam intimamente 
relacionadas ao grande trauma da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), conflito sem 
precedentes até então, que envolvera diversas nações do globo e causara pesadas perdas, 
sobretudo no território europeu.
Assim, os temas centrais eram:
O que havia conduzido o mundo a uma situação de conflito tão drástica?
O que leva os Estados à guerra?
É possível se evitar o conflito entre os povos?
Como agem os atores internacionais e quais forças que interferem na conduta desses 
entes?
Claro que, no decorrer do século XX, o estudo de Relações Internacionais diversificava-se à 
medida que os laços entre os povos tornavam-se mais complexos e novos temas, como 
cooperação, desenvolvimento, integração, paz, direitos humanos e globalização, vinham à 
baila. Atualmente, a disciplina é ampla e alcança as mais diferentes áreas de estudo, e evolui 
à medida que também evolui a complexidade da sociedade internacional. De fato, hoje há 
R.I. MODULO I. 9
cursos de Relações Internacionais nas principais universidades do mundo e profissionais da 
área atuando nos mais variados segmentos dos setores público e privado.
O primeiro curso de Relações Internacionais no Brasil foi instituído na Universidade de 
Brasília, na década de 1970, fazendo da capital da República o referencial brasileiro em 
estudos internacionais. Até meados da década de 1990, havia apenas dois cursos de Relações 
Internacionais no Brasil – na Universidade de Brasília e na Universidade Estácio de Sá (Rio 
de Janeiro). Hoje, são dezenas de instituições que oferecem a graduação em Relações 
Internacionais por todo o País. Trata-se, portanto, de carreira de grata expansão. Mesmo 
assim, a contribuição brasileira para as relações internacionais ainda é muito incipiente, 
sobretudo para um país que tem potencialpara se tornar uma grande potência entre seus 
pares.
Unidade 2 - Conceitos Fundamentais
1. Conceitos Fundamentais
Essencial para o desenvolvimento de nosso curso é a compreensão de conceitos fundamentais 
de Relações Internacionais. Nesse sentido, seria complicado tentar iniciar qualquer análise de 
Relações Internacionais sem as noções desses conceitos.
Dentre eles ressaltamos:
Sociedade Internacional;
Atores;
Forças Profundas;
Sistema Internacional;
Potência;
Hegemonia.
Sociedade Internacional
Um dos primeiros aspectos com o qual se depara aquele que inicia o estudo de Relações 
Internacionais refere-se à temática que envolve a Sociedade Internacional.
R.I. MODULO I. 10
Como definir Sociedade Internacional? Quais os elementos constitutivos desse conceito?
A ideia de Sociedade Internacional – termo cunhado por 
Hugo Grócio no século XVII – permite direcionar a atenção 
para a atuação padronizada dos Estados. Apesar da ausência 
de uma autoridade central no cenário internacional, os 
Estados exibem padrões de atuação que estão sujeitos a, e 
constituídos por, restrições de diversas naturezas – históricas, 
sistêmicas, legais e morais, entre outras.
Num primeiro momento, podemos relacionar Sociedade Internacional à evolução histórica 
das relações entre os grupos, povos e, mais tarde, Estados-nações organizados em âmbito 
espacial determinado. Podemos identificar a evolução da Sociedade Internacional a partir das 
relações entre os grupos primitivos da Antiguidade, passando pelos reinos e impérios e 
chegando à Idade Contemporânea, com a ascensão do Estado nacional e soberano nos séculos 
XVIII e XIX e o seu declínio, no século XX, frente a um sistema cada vez mais globalizado e 
interdependente.
Podemos falar em Sociedade Internacional antes mesmo da formação dos Estados nacionais, 
que só se deu, nos moldes como os concebemos hoje (compostos de povo, território e 
soberania), há dois séculos. Mesmo que não houvesse consciência dos povos a esse respeito, 
não há como negar a existência “de fato” de uma Sociedade Internacional na Antiguidade. 
Afinal, a partir do momento em que surgem os primeiros grupos independentes e 
diferenciados, exercendo relações políticas, culturais ou comerciais entre si, tem-se uma 
Sociedade Internacional embrionária. Das tribos passaram-se aos reinos, às cidades-estados e 
aos impérios, e estes, vistos em um contexto macro e nas relações entre si, formavam a 
Sociedade Internacional do mundo antigo.
Claro que o primeiro modelo de Sociedade Internacional, inserido em um Sistema 
Internacional da Antiguidade, refletia mais um conjunto de sociedades regionais localizadas, 
muitas vezes sem qualquer contato entre si e até sem consciência da existência umas das 
outras. Era uma época em que as forças naturais limitavam a comunicação entre Oriente e 
Ocidente, e a “Sociedade Internacional do sistema grego” mantinha pouco contato com a 
“Sociedade Internacional do extremo oriente” – na qual o império dinástico chinês era o 
principal ator.
Somente com as grandes navegações e o expansionismo europeu pelo planeta é que se 
estrutura uma Sociedade Internacional global. Assim, desde o século XVI, o mundo vai-se 
R.I. MODULO I. 11
tornando cada vez mais integrado, seja pela força da economia e do comércio, seja pela força 
dos canhões e das conquistas coloniais europeias. Paul Kennedy, em sua obra já clássica 
Ascensão e Queda das Grandes Potências, analisa, com clareza, como o extremo oeste do 
continente euro-asiático, conhecido como Europa, com uma diversidade de povos e reinos 
autônomos e marcado por conflitos regionais e fratricidas, consegue expandir-se pelo mundo 
e, em pouco mais de dois séculos, tornar-se o centro de uma sociedade global, subjugando 
forças tradicionais como a China e o Império Otomano.
O termo “internacional” foi utilizado pela primeira vez em 
1780, pelo filósofo inglês Jeremias Bentham, em sua obra 
Princípios de Moral e Legislação. Essa é a época do apogeu 
dos Estados nacionais, com o início do declínio do 
absolutismo no continente europeu. Era um período em que a 
ideia de nação ainda estava muito ligada à figura do 
soberano. A Sociedade Internacional representava, para os 
europeus, a “Cristandade”, com seus paradigmas e princípios 
seculares. O Estado soberano era o principal ator 
internacional.
Foi com a Revolução Francesa que o conceito de nação deixou de ter caráter puramente 
simbólico e passou a relacionar-se diretamente à questão da soberania. Esta passou a residir 
essencialmente na nação, onde o súdito tornou-se cidadão e as relações entre os Estados, até 
então simbolizados e conduzidos pelos monarcas, estenderam-se às relações entre os povos. 
O século XX esclarece essa nova perspectiva: as relações entre nações não são 
necessariamente relações entre os Estados, muito pelo contrário.
Não há dúvida de que essa Sociedade Internacional é dinâmica e tem sua evolução 
diretamente relacionada à evolução dos grupos, povos, reinos, Estados, Impérios e nações, 
enfim, de todos os atores que a compõem ou a compuseram e das forças que influenciam a 
sua atuação.
Qual é, então, o conceito de sociedade internacional?
Para os teóricos do primeiro grupo, é simplesmente impossível definir Sociedade 
Internacional. Limitam-se, assim, ao estudo dos componentes da Sociedade Internacional e à 
evolução das relações entre eles.
Os teóricos do segundo grupo dedicam-se a analisar a Sociedade Internacional em 
contraposição a outros grupos sociais. Por essa ótica, a pergunta que se busca responder é 
R.I. MODULO I. 12
“Como é a Sociedade Internacional?” É irrelevante, portanto, para esses autores, a 
formulação de um conceito teórico para Sociedade Internacional. De qualquer maneira, eles 
não deixam de apresentar sua definição de Sociedade Internacional, mas apenas para 
instrumentalizar suas explicações, como veremos adiante.
O terceiro grupo, majoritário, afirma não só ser possível, mas também necessário, proceder à 
definição do termo “Sociedade Internacional”, para que se possa tratar com mais propriedade 
o estudo dos fenômenos internacionais e das relações que se desenvolvem em seu meio. Uma 
vez que concordamos com essa percepção, apresentaremos nosso conceito de Sociedade 
Internacional. Antes, porém, vejamos alguns conceitos de autores renomados.
Colliard (1978) 
Afirma que Sociedade Internacional é o “conjunto de seres humanos que vivem sobre a 
terra”. Percebemos uma definição genérica e abrangente, que põe completamente de lado 
as estruturas em que os seres humanos estão agrupados, como as nações ou os Estados 
nacionais. Para o autor, o conceito de Sociedade Internacional confunde-se com o de 
“humanidade”. Chega-se a perceber mesmo uma concepção idealista, pois a Sociedade 
Internacional teria em primeiro plano o indivíduo, independentemente de suas origens e 
do grupo ou povo a que pertence.
Hedley Bull (2002)
Com base em uma análise sistêmica, definiu Sociedade Internacional como um “grupo 
de comunidades políticas independentes que não formam um sistema simples”.
Juan Carlos Pereira (2001)
Apresenta uma definição mais precisa e completa: “um âmbito espacial e global em que 
se desenvolve um amplo conjunto de relações entre grupos humanos diferenciados, 
territorialmente ou geograficamente organizados e com poder de decisão.” O autor 
acredita que a Sociedade Internacional estaria evoluindo para uma Comunidade 
Internacional.
Rafael Calduch Cervera (1991)
R.I. MODULO I. 13
Define Sociedade Internacional como “aquela sociedade global (macrossociedade) que 
compreende os grupos com um poder social autônomo, entre os quais se destacam os 
Estados, que mantêm entre si relações recíprocas, intensas, duradouras e desiguais sobre 
as quais é assentada certa ordem comum”.
Por fim, cabe apresentar nossa própria conceituação de Sociedade Internacional, que é 
baseada na corrente historiográfica, pela qual buscamos reunir elementos que consideramos 
essenciais para a compreensão do termo e de sua evoluçãodesde a Antiguidade. A nosso ver, 
Sociedade Internacional pode ser definida como o conjunto de entes que interagem de 
maneira sistêmica em uma esfera internacional sob a influência de forças profundas.
2. Ator Internacional
A primeira parte de nosso conceito de Sociedade 
Internacional trata de um conjunto de entes. Esses entes 
nada mais são do que os Atores internacionais. Ator 
internacional é toda autoridade, organização, grupo 
ou pessoa que representa ou pode vir a representar 
um papel de destaque na Sociedade Internacional. A 
percepção desses atores varia conforme o tempo e a 
corrente teórica que os identifica, mas podemos 
destacar aqueles que, na atualidade, podem ser 
considerados os mais importantes: os 
Estados nacionais, os atores governamentais interestatais (as organizações internacionais), os 
atores não governamentais interestatais (i.e., organizações não governamentais e empresas 
multi- e transnacionais, entre outros) e os indivíduos.
Não são todas as pessoas, grupos ou organizações que podem ser identificados como Ator 
Internacional. Para nossa classificação, é necessário que a atuação desses entes tenha 
destaque em escala global. Por exemplo, uma associação estabelecida dentro de determinado 
país e voltada em suas atividades e interesses prioritariamente ao âmbito interno daquele país 
não é um Ator internacional.
Não obstante, qualquer grupo, organização ou indivíduo pode vir a tornar-se Ator 
internacional. Grandes empresas transnacionais de hoje foram, no passado, pequenas 
organizações comerciais, algumas de natureza familiar, que atuavam exclusivamente no 
R.I. MODULO I. 14
interior de seu país de origem, não sendo à época Atores internacionais. À medida que essas 
empresas cresceram, expandiram-se para além das fronteiras de seus Estados de origem e 
começaram a atuar e influir na Sociedade Internacional, tornaram-se Atores internacionais.
3. Sistema Internacional
O segundo aspecto de nosso conceito 
de Sociedade Internacional refere-se à 
atuação sistêmica na esfera 
internacional. Adotamos uma 
abordagem sistêmica, em que o 
aspecto relacional é importante.
 Sistema pode ser conceituado como “conjunto de elementos e instituições entre os quais se 
possa encontrar alguma relação” ou, ainda, “conjunto ordenado de meios de ação ou de 
ideias, tendente a um resultado”.
 A abordagem sistêmica em relações internacionais vê o conjunto de inter-relações entre os 
Atores internacionais como sujeito a padrões e normas – enfim, a forças profundas –, que 
remetem ao conjunto mais amplo, o sistema internacional como um todo.
As primeiras considerações a respeito do modelo sistêmico para explicar as Relações 
Internacionais tomaram por base referências da Biologia e da Química. Nesse sentido, pode-
se associar a noção de sistema ao corpo humano, no qual vários subsistemas – circulatório, 
nervoso etc. – são compostos de órgãos que se relacionam e dependem uns dos outros. A 
ideia de sistema, portanto, está relacionada a um ordenamento nas relações entre 
componentes e à interdependência entre esses componentes.
Raymond Aron, em sua obra clássica Paz e Guerra entre as Nações, 
recorreu ao conceito de sistema para evocar a dinâmica das relações 
internacionais. Assim, a Sociedade Internacional tem características 
suficientemente estáveis para que possamos percebê-la como um sistema 
onde os Atores conduzem suas relações dentro de certos padrões.
R.I. MODULO I. 15
Cabe aqui, também, apresentar um conceito de Sistema Internacional, de 
acordo com Frederic S. Pearson e J. Martin Rochester (2000, p. 641):
Sistema Internacional. Conjunto de relações em âmbito mundial nas áreas política, 
econômica, social e tecnológica, em torno do qual ocorrem as relações internacionais em um 
dado momento.
Há ainda autores que separam as noções de Sociedade Internacional e de Sistema 
Internacional para identificar certos períodos históricos. Por exemplo, Sociedade 
Internacional teria como substrato a ideia de concerto e harmonia internacional, que alguns 
defendem corresponder, por exemplo, à Europa do pós-1815. Em contrapartida, Sistema 
Internacional traduziria a existência de vários polos de poder que interagem entre si e não 
necessariamente se harmonizam no todo, o que alguns autores defendem corresponder ao 
mundo pós-1945.
4. Forças Profundas
Finalmente, de acordo com a nossa 
concepção de Sociedade Internacional, o 
terceiro elemento fundamental são as 
“forças profundas”. A ideia de “forças 
profundas” origina-se da corrente 
historiográfica das Relações Internacionais 
cujos principais expoentes foram Pierre 
Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle. 
De acordo com esses historiadores, as forças profundas nada mais seriam que determinados 
fatores que influenciariam as ações das coletividades.
As condições geográficas, os movimentos demográficos, os interesses econômicos e 
financeiros, os traços da mentalidade coletiva, as grandes correntes sentimentais – todas essas 
forças profundas formaram o quadro das relações entre os grupos humanos e, em grande 
parte, lhes determinaram o caráter. O homem de Estado, nas suas decisões ou nos seus 
projetos, não pode negligenciá-las; sofre-lhes a influência e é obrigado a constatar os limites 
R.I. MODULO I. 16
que elas impõem à sua ação. Todavia, quando ele possui quer dons intelectuais, quer firmeza 
de caráter, quer temperamento que o levam a transpor aqueles limites, pode tentar modificar o 
jogo de semelhantes forças e utilizá-las para seus próprios fins.
Juan Carlos Pereira denomina tais forças profundas de “fatores condicionantes” (PEREIRA, 
2001, p. 44). Identifica alguns desses fatores: fator geográfico, fator demográfico, fator 
econômico, fator tecnológico, fator ideológico/sistema de valores, fator político-jurídico e 
fator militar-estratégico.
Portanto, a Sociedade Internacional é composta de entes – Estados, organizações 
internacionais, organizações não governamentais, empresas transnacionais, indivíduos, entre 
outros – que são influenciados pelas forças profundas – fatores geográficos, demográficos, 
migratórios, políticos, econômicos e financeiros, ideológicos, religiosos, tecnológicos etc. – 
em suas ações sistêmicas na esfera internacional.
5. Potência
Além dos conceitos já tratados, cabem, neste curso introdutório, algumas observações – ainda 
que sem aprofundamento – a respeito de outros conceitos essenciais para viabilizar nosso 
entendimento dos temas tratados no decorrer das próximas unidades. 
Potência
O Sistema Internacional é composto por uma diversidade de atores. Nesse contexto, o Estado 
ocupa papel de destaque, mas existem diferenças marcantes entre os Estados na esfera 
internacional e o grau de influência (poder) que eles exercem. Assim, importante para a 
compreensão das relações internacionais é a ideia de Potência e das diferentes gradações 
dessa classificação.
Há inúmeras definições para Potência.
Segundo Martin Wight (2002), Potência é “um Estado moderno e soberano em seu aspecto 
externo, e quase pode ser definido como a lealdade máxima em defesa da qual os homens 
hoje irão lutar”.
Rafael Calduch Cervera (1991), por sua 
vez, cita o conceito de Potência 
Internacional segundo C. M. Smouts, ou 
seja, como aquele Estado “mais ou menos 
poderoso segundo sua capacidade de 
controlar as regras do jogo em um ou mais 
R.I. MODULO I. 17
âmbitos-chaves da disputa internacional e 
segundo sua habilidade de relacionar tais 
âmbitos para alcançar uma vantagem”.
Ao tratar da capacidade dos Estados de influenciarem a Sociedade Internacional, Martin 
Wight relaciona Potências Dominantes, Grandes Potências, Potências Mundiais e Potências 
Menores. Potências Dominantes e Potências Mundiais seriam subdivisões do gênero Grande 
Potência, uma vez que ambas as categorias se referem a Estados com interesses globais e 
capacidade de influência significativa no Sistema Internacional. Em última análise, a 
diferenciação poderia ser restringida a Grandes Potências e Potências Menores.
Wightdefine Potência Dominante como aquela capaz de medir forças contra todos os rivais 
juntos. E cita exemplos ao longo dos séculos, como Atenas, à época das Guerras do 
Peloponeso, o Império Romano, a Espanha de Carlos V e de Filipe II, a França de Luís XIV, 
a Grã-Bretanha no século XIX e os EUA no século XX.
Outro termo muito utilizado e cujas características vão além da Potência Dominante, 
conforme definida por Wight, é o de Superpotência. Esse termo, cunhado com o advento da 
Guerra Fria, designava exclusivamente URSS e EUA. Esses países, em virtude de suas 
capacidades nucleares – com poder de destruição global –, inúmeras vezes associadas ao 
poderio militar convencional e à influência político-ideológica mundial, tinham status único 
na comunidade das nações.
Gounelle (1992) indica quatro características das Superpotências:
têm capacidade de intervir em qualquer parte do globo;
dispõem de amplo arsenal, capaz de causar danos diferenciados dos armamentos 
convencionais e composto tanto de armas nucleares quanto de outros meios de 
destruição em massa;
assumem a liderança de uma aliança militar (os EUA da OTAN e a URSS do Pacto de 
Varsóvia);
pretendem oferecer um modelo universal de sociedade.
R.I. MODULO I. 18
Convém lembrar que a ideia de Superpotência ultrapassa em muito o poderio exclusivamente 
militar. De fato, a capacidade de destruição massiva do planeta é o elemento central do 
conceito de Superpotência, mas o aspecto de liderança de um bloco de nações e de pretensões 
de estabelecimento de uma sociedade universal em seus moldes político-econômico-
ideológico-sociais não pode ser desconsiderado.
Atualmente, com o colapso da URSS, restou, no planeta, apenas uma Superpotência: os 
EUA. Alguns autores vislumbram a possibilidade de a China vir a ocupar, na segunda metade 
do século XXI, o lugar da URSS. Entretanto, ainda não há que se falar na China como 
Superpotência, uma vez que esta, além de não dispor de arsenais nucleares capazes de fazer 
frente ao poderio de Estados como EUA e Rússia, não tem pretensões – nem condições – de 
projetar um modelo sócio-político-cultural-ideológico seu para o mundo. A Rússia, por sua 
vez, apesar de dispor de arsenais nucleares com capacidade de destruição massiva do planeta, 
não pode ser chamada de Superpotência, exatamente porque também não tem condições de 
aspirar a qualquer pretensão hegemônica no sistema internacional, como fazia a URSS. 
Assim, os EUA, considerados os vencedores da Guerra Fria, são hoje o único Estado com as 
características básicas da superpotência, e, de fato, essa nação tem-se tornado tão poderosa 
que já se cunha o conceito de Hiperpotência, algo sem precedentes na História.
A Hiperpotência dispõe de um aparato bélico superior ao das demais Potências juntas. Esse 
aparato não se resume ao acervo das armas de destruição em massa, mas inclui armamento 
convencional significativo e capacidade de operação militar em mais de um teatro no globo. 
Ademais, trata-se de uma Economia de peso diante do sistema, sua influência na política 
internacional é marcante e, ainda, consegue projetar seu modelo sócio-cultural e político para 
outras regiões do planeta.
Assim, os EUA não encontram, no início do século XXI, adversários militares à altura, e são 
a Grande Potência econômica e a liderança mundial. Do ponto de vista econômico, por 
exemplo, apenas a coalizão das grandes economias europeias pode fazer frente aos EUA, o 
mesmo se podendo dizer das economias asiáticas. A projeção de poder dos norte-americanos 
no mundo não encontra precedentes, e alguns analistas já começam a analisar a política 
externa estadunidense como uma política de império. De qualquer maneira, o conceito de 
Hiperpotência ainda encontra-se em desenvolvimento.
O conceito de Wight para Potência Dominante tem grande proximidade com a ideia 
de hegemon, ou seja, uma potência tão poderosa que seria necessária uma coalizão de todas 
as demais nações para contê-la. A concepção de hegemon ultrapassa a esfera exclusivamente 
político-militar, de modo que o Estado que detém esse título influencia a Sociedade 
Internacional em esferas diversas, como a cultura, a estrutura social interna, a Economia e até 
o Direito. Além disso, essa influência do hegemon não ocorre necessariamente de maneira 
impositiva. De fato, a hegemonia, como veremos a seguir, envolve um misto de coerção e 
R.I. MODULO I. 19
consenso. Finalmente, convém lembrar que o hegemon continua influenciando a Sociedade 
Internacional mesmo após perder esse status.Interessante observar que a hegemonia dos EUA 
hoje é mantida mais por outros meios – o que alguns autores chamam de soft power (poder 
suave)  –, como a presença marcante na compilação e divulgação de notícias e diversões, na 
produção de bens de consumo, nas inúmeras formas de cultura popular e sua identificação 
com a liberdade política e de mercado, do que propriamente por meio do hard power (poder 
militar).Além da potência hegemônica, há outros atores estatais com capacidade significativa 
de influência na Sociedade Internacional. Esses são as Grandes Potências, as quais, inclusive, 
disputam a hegemonia entre si e aspiram tornar-se a potência dominante, chegando, muitas 
vezes, a alcançar esse objetivo. De fato, as relações internacionais seriam um grande 
tabuleiro onde essas Potências disputariam poder em um jogo de influência. Como exemplos 
atuais de Grandes Potências teríamos China, França, Rússia, Alemanha, Japão e Grã-
Bretanha.
As potências menores constituem a maioria. Seu grau de influência no sistema varia 
significativamente. Nesse grupo, poderiam ser relacionadas desde as Potências Mundiais 
menores – como Espanha e Índia – até as Potências Regionais – Argentina e Egito, por 
exemplo. Vale destacar que uma Potência Menor hoje pode vir a tornar-se uma Grande 
Potência e até a Potência Dominante. Os EUA são um bom exemplo disso.
Max Gounelle (1992) comenta que, à medida que dispõe de capacidade de influenciar de 
maneira significativa os outros entes da Sociedade Internacional em prol de seus interesses 
particulares, um Estado pode ser classificado como Microestado, Potência Local, Potência 
Média, Grande Potência ou Superpotência.Os microestados são aquelas pequenas soberanias 
que persistem em nossos dias e que, em sua maioria, tiveram origem na formação histórica 
dos Estados nacionais europeus ou no processo de descolonização. Encontram-se 
constantemente sob amplo grau de dependência frente a uma Potência e integram-se a grupos 
de Estados organizados no seio de organizações internacionais. Conviria exemplificar nessa 
categoria países como o Principado de Mônaco e a República de San Marino, diversos 
Estados-arquipélagos no Pacífico ou até algumas Repúblicas da América Central e Caribe. 
Apesar de minimamente influentes na Sociedade Internacional, esses entes ganham força 
quando se associam e se fazem representar em organismos internacionais onde tenham poder 
de voto igual ao de outros Estados.
As Potências Locais são as mais numerosas. Participantes das atividades comuns da vida 
internacional, esses entes têm como objetivos principais sua própria sobrevivência e a defesa 
de sua soberania territorial. De maneira geral, não têm grandes pretensões internacionais de 
projeção de poder e acabam também associados às Grandes Potências ou a Potências 
Regionais. Como exemplos para essa categoria, temos países como Bolívia, Paraguai, 
Camboja, Albânia e Moçambique.
R.I. MODULO I. 20
São classificados como Potência Regional ou Potência Média aqueles Estados aptos a 
representarem certo papel de destaque em grandes áreas geopolíticas. Egito, Síria, Nigéria, 
Brasil, Argentina e Irã são exemplos de Potências Regionais ou Médias. Esses países 
exercem influência em virtude de suas aptidões de liderança sob certos limites geográficos, 
fundadas em seus potenciais materiais ou demográficos, sua envergadura ideológicas ou seu 
peso militar, econômico e até social.
Gounelle, no entanto, diferencia PotênciasRegionais de Potências Médias ao afirmar que 
estas últimas têm ambições mundiais restritas às suas próprias capacidades. Tais pretensões 
poderiam ser limitadas a domínios específicos (nuclear, cultural, econômico, diplomático). A 
França, a Alemanha, a China e o Japão estariam nessa categoria. De fato, o que Gounelle 
relaciona como Potências Médias seria o que se costuma chamar mais apropriadamente de 
Grandes Potências, ou seja, Potências com interesses globais e capacidade de influenciar a 
Sociedade Internacional em diferentes domínios. Ao chamar Potências como China e Grã-
Bretanha de Potências Médias, Gounelle o faz comparando-as às Superpotências – à época, 
URSS e EUA.
6. Hegemonia
Hegemonia, em grego, significa “liderança”. Em sentido amplo, portanto, em Relações 
Internacionais, o hegemon é o líder – ou o Estado líder – de um grupo de nações.
Para que os conceitos de hegemonia e de hegemon sejam aplicáveis, presume-se que haja 
uma certa ordem na Sociedade Internacional. Daí que, apesar de ser o Estado mais poderoso 
no cenário internacional, o hegemon só pode exercer sua liderança (hegemonia) se houver 
relações de poder entre entes em um meio internacional.
Hegemonia consiste, então, no exercício de uma liderança ou comando em uma sociedade, 
com base em recursos de poder. Esses recursos fundamentam-se em dois aspectos: coerção e 
consenso. Assim, toda relação de poder tem por base os graus de coerção e consenso 
exercidos por um ente ou mais de um sobre os demais. À medida que é alterada essa relação, 
muda também a liderança no grupo.
Para o exercício da hegemonia, o hegemon deve ter capacidade de atuar nas esferas de 
consenso e coerção. Uma relação que se baseie apenas na coerção – por meio de recursos de 
força militar ou econômica – não pode ser verdadeiramente hegemônica, da mesma maneira 
que é impossível a liderança da comunidade internacional com fulcro apenas no consenso dos 
demais atores.
R.I. MODULO I. 21
As relações internacionais têm sido marcadas pela disputa, por parte das Potências, da 
hegemonia na Sociedade Internacional. Essa hegemonia, além de política, pode ser militar, 
econômica, cultural ou ideológica. Pode ser regional ou global. Um Estado que seja a 
Potência hegemônica em uma dessas áreas muito provavelmente o será na maioria das outras. 
É claro que tal liderança pode ter diferentes gradações e que uma grande Potência econômica 
em nossos dias pode não ter o mesmo poder de influência cultural ou até militar no cenário 
internacional.
A Sociedade Internacional será sempre marcada por um hegemon, cujo interesse é manter o 
status quo do sistema, diante de outras Potências que não pouparão esforços para se tornar o 
hegemon. De acordo com a teoria da estabilidade hegemônica, o hegemon tem que ter 
capacidade de garantir a ordem do sistema, ordem que deve ser percebida pelos demais entes 
da comunidade como positiva a seus interesses. Para isso, o hegemon deveria dispor de 
alguns atributos: liderança em um setor econômico ou tecnológico e poder político baseado 
no poder militar. Podemos acrescentar a esses atributos a capacidade de obter consenso sobre 
sua liderança.
Para Robert Gilpin, a estabilidade internacional depende da existência de uma hegemonia, 
que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer “bens públicos” internacionais, como 
lei, ordem e moeda estável. Conforme didática explicação de Griffiths (2004, p. 26-27):
(...) os mercados não podem crescer em produção e distribuição de bens e serviços se não 
houver um Estado que forneça certos pré-requisitos. Por definição, os mercados dependem da 
transferência, por meio de um mecanismo de preço eficiente, de bens e serviços que possam 
ser comprados e vendidos entre os principais agentes particulares que permutam direitos de 
posse. Mas os mercados dependem do Estado para lhes dar, por coerção, regulamentos, taxas 
e certos “bens públicos” que eles sozinhos não podem gerar. Isto inclui uma infraestrutura 
legal de direitos e leis de propriedade para fazer contratos, uma infraestrutura coerciva que 
assegure a obediência à lei, além de um meio de permuta estável (dinheiro) que assegure um 
padrão de avaliação dos bens e serviços. Dentro das fronteiras territoriais do Estado, os 
governos fornecem tais bens. É claro que, internacionalmente, não existe Estado no mundo 
capaz de multiplicar sua provisão em escala global. Baseando-se na obra de Charles 
Kindleberger e na análise de E. H. Carr sobre o papel da Grã-Bretanha na economia 
internacional no século XIX, Gilpin argumenta que a estabilidade e a “liberalização” da 
permuta internacional dependem da existência de uma “hegemonia”, que tenha tanto 
capacidade quanto vontade de fornecer “bens públicos” internacionais, como lei, ordem e 
uma moeda estável para o comércio financeiro.
Em termos gerais, essa é a Teoria da Estabilidade Hegemônica.
R.I. MODULO I. 22
As Potências hegemônicas são as Grandes Potências na concepção de Wight, e o hegemon 
nada mais é que a Potência Dominante. A hegemonia político-ideológica no planeta, por 
exemplo, era disputada pelas Superpotências no contexto da Guerra Fria, mas a URSS 
dificilmente poderia ser caracterizada como ameaça à hegemonia econômica dos EUA.
Unidade 3- Correntes teóricas das Relações 
Internacionais 
1. Teorias de Relações Internacionais
O objeto material de qualquer ciência se define pela parcela de realidade que se pretende 
conhecer mediante a formação de teorias e a utilização de um método científico (CERVERA, 
1991). A teorização sobre as Relações Internacionais surgiu quando se buscou explicar a 
existência e as condutas dos entes internacionais. 
É na Grécia Antiga, com a obra de Tucídides, História da Guerra do Peloponeso, que se tem 
a primeira manifestação embrionária de uma teoria de Relações Internacionais.
Há algo que as ciências naturais e as ciências sociais, conforme Karl  Popper, certamente têm 
em comum: a necessidade da teoria para se desenvolverem. Nas palavras de Tomassini (1989, 
p. 55):
"A ciência exige algo mais do que fatos e descrições de fatos. Exige 
uma explicação de por que ocorreram, que efeitos causaram e algumas 
predições (ou, no caso das ciências sociais, conjecturas) sobre seu 
comportamento provável no futuro, uma mescla de causalidade, 
teleologia e prospecção. No campo das ciências sociais, como em 
outras ciências, a teoria é chamada a ministrar essas explicações, pondo 
ordem ao mundo heterogêneo e muitas vezes incompreensível dos fatos 
isolados, e a arriscar algumas predições."
R.I. MODULO I. 23
A Teoria do Equilíbrio de Poder
Começamos por essa teoria por uma razão simples: 
para muitos estudiosos da política internacional, a 
Teoria do Equilíbrio de Poder, também conhecida como 
Teoria do Balanço de Poder, é o que mais próximo 
existe de uma teoria política das relações 
internacionais. Arnold Toynbee, conhecido historiador, 
chegou mesmo a dizer que tal teoria constituía uma 
“lei” da História. 
Na era moderna, com o surgimento e desenvolvimento 
do Estado-nação, multiplicaram-se também as 
teorizações a respeito das relações internacionais.
Em um contexto de anarquia internacional e de conflito entre os Estados, as práticas dos 
agentes e dos atores na Sociedade Internacional levaram à formulação de uma teoria que 
pode ser considerada a precursora da análise convencional realista das relações 
internacionais, a Teoria do Equilíbrio de Poder.
A Teoria do Equilíbrio de Poder percebe o cenário internacional em uma situação de 
equilíbrio, no qual o poder é distribuído entre os diversos Estados. Quando um Estado 
começa a se destacar e a buscar aumentar seu poder frente aos demais, há uma perturbação 
no equilíbrio, e faz-se necessária uma coalizão das Potências para conter o Estado 
“pretensioso” e restaurar a ordem. Assim, pressupondo o Estado como um ator racional, a 
teoria defende que o balanço ou o equilíbrio de poder é a escolha preferível e, portanto, a 
tendência do sistema internacional. A Teoria orientouas relações internacionais nos quatro 
séculos compreendidos entre a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e a Primeira Guerra 
Mundial (1914-1918). Foi útil para justificar as condutas dos Estados e ações de governantes 
em um contexto anárquico e conflituoso, como será visto nas Unidades 2 e 3 do módulo 
seguinte deste nosso curso.
Alguns autores distinguem entre o equilíbrio de poder como uma política (esforço deliberado 
para prevenir predominância, hegemonia) e como um padrão da política internacional (em 
que a interação entre os Estados tende a limitar ou frear a busca por hegemonia e, como 
resultado, resulta num equilíbrio geral).
Com o fim da Primeira Guerra Mundial e as consequentes mudanças no cenário internacional 
e no equilíbrio de forças, em virtude dos traumas causados pelo conflito e do 
desenvolvimento do discurso pacifista junto à opinião pública internacional, a Teoria do 
R.I. MODULO I. 24
Equilíbrio de Poder foi questionada. Sob o argumento de que essa doutrina não poderia 
perdurar em um sistema em que a guerra deveria ser evitada a qualquer custo, o imediato 
pós-guerra foi marcado por novas concepções sobre as relações internacionais, baseadas em 
uma nova corrente teórica, a qual se fundamentava no Direito Internacional, na solução 
pacífica das controvérsias e na busca de uma estrutura supranacional que garantisse a paz: o 
Idealismo das Relações Internacionais.
Foi, portanto, na primeira metade do século XX que os primeiros teóricos de Relações 
Internacionais começaram a desenvolver suas explicações sobre o tema em um contexto de 
disciplina autônoma. Claro que, em virtude de um objeto de estudo tão complexo, diversas 
foram as correntes teóricas instituídas nas últimas décadas. Como não é este um curso de 
teoria, pretendemos apresentar apenas as linhas gerais das correntes mais reconhecidas.
2. A fase idealista
O Idealismo, como ficou conhecida a primeira grande corrente teórica de Relações 
Internacionais, surge em um contexto do final de um conflito muito marcante, a Primeira 
Guerra Mundial, e reflete a crescente preocupação daqueles que então começavam a teorizar 
sobre as relações internacionais:
💡 Como se poderia buscar a paz na Sociedade Internacional, ou melhor, como evitar 
o conflito, sobretudo bélico, entre os Estados?
No que se refere ao contexto internacional, lembra Arenal (1984), o clima nunca poderia ter 
sido mais favorável ao Idealismo. A Grande Guerra havia demonstrado a fragilidade da 
tradicional diplomacia europeia como meio para assegurar a ordem e a paz internacional. As 
enormes perdas humanas e materiais produzidas pelo conflito foram responsáveis, também, 
pelo advento de uma opinião comum universal segundo a qual a guerra deveria ser erradicada 
como instrumento de política dos Estados. Pregava-se, ademais, o estabelecimento de um 
modelo de segurança coletiva capaz de evitar novas contendas.
Assim, sob os auspícios do discurso idealista e moralizante do presidente estadunidense 
Woodrow Wilson, foi criada a Sociedade (ou Liga) das Nações (SDN), com o objetivo de ser 
a organização central de um sistema de segurança coletiva e um fórum em que os Estados 
pudessem resolver suas contendas de maneira pacífica. A SDN, portanto, contribuía para 
acentuar o otimismo frente ao futuro da Sociedade Internacional e estabelecia os 
R.I. MODULO I. 25
fundamentos de um sistema dirigido para preservar a paz. Nesse contexto, a teoria 
internacional dominante se orientava pelos caminhos do Idealismo, dos projetos de 
organização internacional, do estabelecimento de mecanismos tendentes à solução pacífica e 
de propostas de desarmamento. Importância significativa foi dada pelos idealistas ao Direito 
Internacional e às instituições jurídico-normativas que garantissem a ordem nas relações 
entre os Estados: ganhava força o institucionalismo nas relações internacionais.
🗣 Anarquia internacional não significa “desordem”, mas, sim, ausência de um 
governo central superior aos Estados (que são soberanos e só prestam contas a si 
mesmos e a outros Atores do sistema). Anarquia é, portanto, ausência de governo.
O Idealismo partia do princípio de que as relações internacionais encontram-se em estado de 
natureza, ou seja, de anarquia internacional. As nações devem buscar, destarte, superar essa 
anarquia e estabelecer um contrato social em âmbito internacional que ordene as relações 
entre os povos. 
Os Estados, acreditavam os idealistas, deveriam portar-se de acordo com os mesmos 
princípios morais que guiam a conduta do indivíduo. Para estimular ou obrigar esses Estados 
a seguir tais princípios, seria fundamental que se institucionalizasse, em escala mundial, o 
interesse comum de todos os povos em alcançar a paz e a prosperidade. O estudo de Relações 
Internacionais, como disciplina autônoma, mostrou-se como uma ciência da paz.
O Realismo e o Idealismo encerram, na verdade, 
duas visões de mundo opostas, em que o ponto de 
partida é a dicotomia anarquia x ordem. Apesar 
de Tucídides, com História da Guerra do 
Peloponeso, antes mesmo de surgirem os 
conceitos de soberania e a tese do estado de 
natureza, já ter iniciado a moldar uma concepção 
anárquica do mundo, é com Thomas Hobbes, em 
Leviatã, e, em seguida, com John Locke.
R.I. MODULO I. 26
 O Estado de Guerra (Capítulo III da obra Segundo Tratado do Governo Civil), em que se 
explora, pela primeira vez, o estado de natureza anárquico a respeito das relações 
internacionais.
Segundo Lijphart (1982)
As noções de soberania e de anarquia internacional inspiraram três teorias interligadas: a 
do governo mundial, a do equilíbrio de poder (ou balanço do poder) e a da segurança 
coletiva.
Segundo a teoria do governo mundial
Dado que a anarquia é responsável pela tensão internacional, é necessário celebrar um 
contrato social internacional para instituir um governo mundial soberano e único, para 
pôr fim à anarquia.
A teoria do equilíbrio de poder
Defende que a luta pelo poder entre os Estados soberanos tende a gerar um equilíbrio, o 
qual não alimenta uma tensão perpétua, mas cria uma ordem internacional
Para a teoria da segurança coletiva
O melhor seria que os Estados se empenhassem em tomar medidas coletivas contra todo 
agressor, o que acabaria atenuando a anarquia internacional.
Todas essas teorias aceitam a tese de que a anarquia reina entre os Estados soberanos. 
Segundo Inis L. Claude, citado por Lijphart, essas três teorias correspondem a estágios 
sucessivos de uma progressão em direção a uma centralização cada vez mais repleta de 
autoridade e poder (no sentido balanço de poder > segurança coletiva > governo mundial).  O 
mundo nunca passou do segundo estágio, o qual foi, na verdade, o foco da maior parte dos 
autores idealistas.
Para as Relações Internacionais, é particularmente importante a visão construída por Hugo 
Grócio sobre a sociedade internacional a partir da teoria do contrato. 
R.I. MODULO I. 27
Grócio, considerado o pai do Direito Internacional, defendeu ser o direito um conjunto de 
normas ditadas pela razão e sugeridas pelo appetitus societatis. A base da doutrina de Grócio 
é a solidariedade, ou potencial solidariedade, entre os Estados em relação à aplicação da lei 
internacional, e procura estabelecer uma ordem mundial restringindo os direitos dos Estados 
de irem para a guerra por motivações políticas e promover a ideia de que a força só pode ser 
legitimamente usada em nome dos objetivos e anseios da comunidade internacional como um 
todo.
Grócio, como se observa, apresenta uma hipótese inversa à do equilíbrio de poder. Para ele, 
existe um fundamento comum de normas morais e jurídicas, e o mundo é uma sociedade 
composta de Estados onde reina um consenso normativo suficientemente amplo e 
intimidador para que a noção de estado de natureza e de anarquia internacional não seja 
aplicável. A tese de Grócio parte da noção de anarquia, mas a minimiza para efeitos de 
teorização, desconsiderando a relação necessária entre anarquia e guerra, relaçãoesta 
reduzida a mera “hipótese” (e não a um “dado” ou “premissa”, como fazem os realistas).
A teoria e a prática das relações internacionais desde a Primeira Guerra Mundial, 
principalmente com o Pacto da Liga das Nações (o Pacto de Paris), a Carta da Organização 
das Nações Unidas (ONU) e a Carta do Tribunal Internacional de Nuremberg, derivam da 
fórmula grociana, que concebe a sociedade internacional de forma ordenada, fruto da 
analogia com a alegoria da sociedade doméstica usada pelos teóricos do contrato social dos 
séculos XVII e XVIII.
Edward Hallett Carr, autor do clássico Vinte Anos de Crise: 1919-1939, cuja primeira edição 
foi lançada logo após o desencadeamento da Segunda Guerra Mundial, em 1939, analisa a 
dicotomia entre uma perspectiva utópica e a prática realista dos Estados e ilustra bem a 
maneira como os idealistas viam as relações internacionais e os argumentos que utilizavam 
ao tratarem das interações entre os povos:
O aspecto teleológico da ciência da política internacional tem estado evidente desde o 
princípio. Surgiu de uma grande e desastrosa guerra; e o objetivo-mestre que inspirou os 
pioneiros da nova ciência foi o de evitar a recidiva dessa doença do corpo internacional. O 
desejo passional de evitar a guerra determinou todo o curso e direção iniciais do estudo. 
Como outras ciências na infância, a ciência política internacional tem sido marcada e 
francamente utópica. Ela se encontra no estágio inicial, no qual o desejo prevalece sobre o 
pensamento, a generalização sobre a observação, e poucas tentativas são efetuadas de uma 
análise crítica dos fatos existentes e dos meios disponíveis. Neste estágio, a atenção está 
concentrada quase exclusivamente no fim a ser alcançado.Carr cita, ainda, o discurso do 
Presidente Wilson – que refletia o pensamento idealista geral e que continha a resposta de 
R.I. MODULO I. 28
Wilson: “se não funcionar, teremos que fazê-lo funcionar!”, quando indagado se aquele 
modelo moralizante e pacifista funcionaria – e esclarece:
"O advogado de um plano para uma força de polícia internacional, ou para a ‘segurança 
coletiva’, ou de algum outro projeto para uma ordem internacional, geralmente responde à 
crítica, não com um argumento destinado a mostrar como e por que ele pensa que seu plano 
funcionaria, mas sim, ou com uma declaração de que ele tem que ser posto a funcionar 
porque as consequências de sua ausência de funcionamento seriam desastrosas, ou com a 
demanda por alguma panaceia alternativa."
Após a Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações foi um esforço específico da política 
internacional de substituir o princípio do equilíbrio de poder pelo princípio da segurança 
coletiva. Tal princípio, que sustentou a criação daquela Organização, foi elaborado para 
remover a necessidade de equilíbrio ou balanço. Para os realistas, essa sua remoção no 
período entreguerras teria sido justamente a causa da Segunda Guerra Mundial. Como 
resultado, o sistema internacional pós-1945 deixou de ser explicado em termos do princípio 
idealista da segurança coletiva, e noções de bipolaridade e multipolaridade, típicas das 
análises de balanço de poder, o substituíram. Chegou-se mesmo, nos períodos mais quentes 
da Guerra Fria, em se falar de “balanço de terror”.
A década de 1930, entretanto, caracterizada por uma crescente instabilidade internacional, 
consequência de comoções políticas, econômicas e ideológicas, internas e internacionais, e 
pelo fracasso do sistema da Sociedade das Nações e da política de apaziguamento das 
democracias europeias, marca a decadência da perspectiva idealista para a teoria das 
Relações Internacionais. Nesse período, tem-se o debate entre o Idealismo e uma nova 
corrente que ganhava força, o Realismo Político.
Os acontecimentos internacionais novamente foram essenciais para a mudança no aporte 
teórico. O Realismo representou, em um primeiro momento, a reação dos especialistas às 
insuficiências teóricas e práticas dos idealistas, no contexto de convulsões internacionais dos 
anos trinta e da própria Segunda Guerra Mundial. Para os realistas, o apelo à opinião pública 
e à razão humanista, preconizada pelos idealistas, mostrou-se incapaz de prevenir a guerra, 
fazendo-se necessário retomar as ideias de segurança nacional e de força militar como 
suportes da diplomacia. Apenas por meio de um poder efetivo, acreditavam, os Estados 
poderiam assegurar a paz internacional e a solução pacífica das controvérsias. Carr assinalava 
que o significado último da crise internacional era "o colapso da total estrutura do utopismo 
baseado no conceito de harmonia de interesses".
A pragmática nova geração de estudiosos do pós-Segunda Guerra Mundial baseava-se no 
pensamento clássico maquiavélico e hobbesiano e via na defesa dos interesses nacionais, em 
R.I. MODULO I. 29
relação a poder, o grande eixo da conduta dos Estados soberanos no meio internacional. O 
Realismo encontrou maior respaldo nos EUA. Desse país, a doutrina realista difundiu-se pelo 
globo, tornando-se a corrente teórica mais relevante para explicar as Relações Internacionais.
Abordaremos essa corrente com mais detalhes a seguir e também em unidade própria.
3. Behavioristas e pós-behavioristas
A terceira fase da Teoria das Relações Internacionais desenvolveu-se também nos EUA como 
“resposta aos excessos do Realismo”. Trata-se de uma aproximação com a vertente 
behaviorista da Sociologia. Essa corrente ficou conhecida como behaviorista ou científica. 
Para Arenal (1984, p.82):
No início dos anos cinquenta, alguns especialistas norte-americanos em política de segurança 
nacional repensam os postulados do realismo político, com base no caráter impreciso e 
intuitivo dos mesmos para a análise da realidade internacional, e buscam um enfoque de 
caráter científico capaz de dar resposta à complexidade das Relações Internacionais. O 
impacto dos métodos de pesquisa e os modelos das ciências físico-naturais são notados com 
força nas pesquisas que começam a pôr em marcha. A partir desse momento, uma onda de 
cientificismo, que trata de desenvolver uma ciência das Relações Internacionais, com base na 
aplicação de métodos quantitativo-matemáticos, invade as Relações Internacionais, impondo-
se o que se denominou perspectiva behaviorista ou conducista.
Para os behavioristas, o objetivo das Relações Internacionais é o comportamento dos atores. 
O estudo desse objeto deve atentar para parâmetros que envolvam fases como a coleta e a 
elaboração de dados, o tratamento quantitativo desses dados e, finalmente, a produção de 
modelos dentro do rigor científico das ciências exatas. Para os behavioristas, os estudos 
devem estar sempre voltados para os casos concretos, a partir dos quais uma linguagem 
científica das ciências sociais deve ser elaborada com base em dados empíricos, rejeitando-se 
análises provenientes do Direito, da História ou da Filosofia. Entre os vários enfoques da 
corrente behaviorista, convém destacar a Teoria da Tomada de Decisões, a Teoria Sistêmica 
das Relações Internacionais e a Teoria dos Jogos. Os autores científicos mais renomados são 
Morton Kaplan, David Singer e G. T. Allison.
O desenvolvimento da corrente “científica” gerou um grande debate nos anos sessenta entre 
os tradicionalistas filosófico-intuitivos (idealistas e realistas) e os científicos (behavioristas).
Finalmente, Arenal identifica uma quarta fase, motivada pelo que David Easton (1969) 
chamou de “nova revolução da ciência política”, e que se convencionou chamar de pós-
behaviorismo. Essa nova revolução ter-se-ia produzido devido a uma profunda insatisfação 
com a pesquisa política e os ensinamentos behavioristas, sobretudo por quererem converter o 
R.I. MODULO I. 30
estudo da política em uma ciência segundo o modelo físico-natural. As bandeiras levantadas 
pelos pós-behavioristas são ação e relevância. O novo movimento, sem abandonar o enfoque 
científico do behaviorismo, dirige sua atenção à conduta humana enquanto tal e aos 
problemas reais do mundo, àsmotivações e aos valores subjacentes a toda conduta. Busca-se 
uma pesquisa com ênfase ao caso concreto, dando atenção a um objeto de análise que difere 
dos objetos das ciências exatas. O pós-behaviorismo constituiu, portanto, a síntese do debate 
entre as concepções tradicionalistas e as científicas.
4. Realismo, Pluralismo e Globalismo
Atualmente, a doutrina reconhece três grandes correntes teóricas das Relações Internacionais: 
o Realismo, o Pluralismo e o Globalismo. São também chamados de paradigmas teóricos, 
dado que as variadas teorias que existem na disciplina podem ser encaixadas em uma dessas 
três correntes. O Realismo trabalha mais com os conceitos de poder e equilíbrio de poder, o 
Globalismo com dependência, e o Pluralismo, por sua vez, com os conceitos de processo de 
tomada de decisão e transnacionalismo.
Vamos abordá-las brevemente a seguir.
Realismo
O Realismo tem algumas proposições básicas.
Primeiro, o Estado é o ator principal no meio internacional, e o estudo das relações 
internacionais foca essa unidade política. Atores não estatais, como as empresas 
multinacionais, são menos relevantes para a análise, e as organizações internacionais, como a 
ONU ou a OTAN, não possuem existência autônoma ou independente, porque são compostas 
de Estados, as verdadeiras unidades soberanas, independentes e autônomas, que determinam 
o comportamento dessas organizações internacionais.
O Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, que era uma forma de “gerência” do poder 
na visão realista, foi paralisado, durante a Guerra Fria, pelo veto – os interesses de poder da 
URSS e dos EUA iam em sentidos opostos e, por consequência, impediam a organização de 
funcionar. No pós-Guerra Fria, apesar da superação das rivalidades dentro do Conselho, a 
Organização ainda não funcionava automaticamente, dependendo, em cada circunstância, do 
“interesse” dos Estados para atuar. Realistas citam, por exemplo, o contraste entre a ação 
rápida na Guerra do Golfo e a inércia diante da crise iugoslava.
Segundo, os Estados são atores unitários. São unitários porque quaisquer diferenças de visão 
entre os líderes políticos ou burocracias dentro do Estado são, no final das contas, resolvidas, 
para que o Estado fale uma só voz.
R.I. MODULO I. 31
Terceiro, os Estados são atores racionais. Isso porque, dados certos objetivos, trabalham com 
alternativas viáveis para alcançá-los, à luz de suas capacidades, por meio de uma análise de 
custo-benefício. Os realistas reconhecem a existência de problemas como falta ou ruído de 
informação, incerteza, pré-julgamento e erros de percepção, mas, contudo, pressupõem que 
os tomadores de decisão não medem esforços para alcançar a melhor decisão possível.
Finalmente, para os realistas, a segurança nacional é a questão de maior importância para a 
agenda de política exterior de qualquer Estado. Questões políticas e militares dominam a 
agenda e são chamadas de “alta política” (high politics). Os Estados atuam para maximizar o 
interesse nacional. Em outras palavras, os Estados tentam maximizar a probabilidade de 
atingirem qualquer objetivo que tenham estabelecido, o que inclui preocupações de alta 
política relativas à sobrevivência do Estado (segurança) assim como os objetivos de baixa 
política ligados a esse campo, como comércio, finanças, câmbio e bem-estar.
A guerra responsiva dos EUA contra o Afeganistão, após os ataques terroristas de 11 de 
setembro de 2001, e sua guerra preventiva contra o Iraque, em 2003, evidenciam o conflito 
alta política x baixa política, pois, durante os quatro anos do Governo Bush, os democratas o 
criticaram constantemente por ter abandonado as questões de economia doméstica em nome 
da segurança nacional. Até mesmo o direito interno foi suspenso nos EUA: vêm sendo 
negados a vários suspeitos, estrangeiros e nacionais, direitos garantidos constitucionalmente, 
em ampla afronta ao princípio do devido processo legal (due process of law), conquista de 
mais de dois séculos da sociedade norte-americana.
Pluralismo
Os anos de 1980 e 1990 deram força à corrente teórica conhecida como Pluralismo, que veio 
para desafiar as proposições do Realismo. Nessa corrente normalmente se enquadram os 
neoliberais.
O Pluralismo é baseado em quatro proposições básicas.
Primeiro, atores não estatais são importantes na política internacional. Organizações 
internacionais, por exemplo, podem tornar-se, em algumas questões, atores independentes, ao 
contrário do que defendem os realistas. Elas são mais do que simples fóruns em que Estados 
competem e cooperam uns com os outros. O corpo de funcionários de uma organização 
internacional pode reter um grau expressivo de poder ao determinar os termos de uma 
agenda, assim como ao fornecer informações sobre em quais representantes de Estado 
baseiam suas demandas (como acontece com o FMI em relação aos países que pedem 
empréstimos além de suas cotas, e, por consequência, precisam seguir o receituário do 
“consenso de Washington”).
R.I. MODULO I. 32
Similarmente, organizações não governamentais, como a WWF, e corporações 
multinacionais, como a Petrobras, a IBM, a Sony, a General Motors, a Exxon, o Citicorp, 
entre várias outras, também desempenham papéis importantes na política 
mundial.  Atualmente, lembram os pluralistas, até mesmo na área comercial as ONGs têm 
sido chamadas a atuar.
Para os pluralistas, também não se poderia negar o impacto de atores não estatais, como 
grupos terroristas (como a Al Qaeda), comerciantes de armas da máfia russa, movimentos 
guerrilheiros, como as FARC colombianas etc.
Segundo, para os pluralistas, o Estado não é um ator unitário. O Estado é composto de 
indivíduos, grupos de interesse e burocracias que competem entre si. Apesar de as decisões 
serem noticiadas como decisões de “tal país”, é geralmente mais correto se falar em decisão 
feita por uma coalizão governamental particular, uma agência burocrática do Executivo ou 
mesmo um único indivíduo. A decisão não é tomada por uma entidade abstrata chamada 
“Brasil”, “China” ou “EUA”, mas por uma combinação de atores por trás da definição da 
política externa.
Diferentes organizações podem apresentar perspectivas distintas em determinada questão de 
política externa. Competição, formação de coalizões e compromissos eventualmente 
resultarão numa decisão que será anunciada como uma decisão do país. Essa decisão 
“estatal” pode ser o resultado de lobbies levado a efeito por atores não governamentais (como 
o lobby dos fazendeiros norte-americanos contra o fim dos subsídios agrícolas, das empresas 
multinacionais, de grupos de interesse, ou mesmo de um ente amorfo, a opinião pública). 
Assim, para os pluralistas, o Estado não pode ser visto como um ator unitário, uma vez que 
tal rótulo perderia de vista a multiplicidade de atores que formam e compõem a entidade 
chamada de “Estado-nação”.
Terceiro, os pluralistas desafiam a suposição realista de que o Estado é um ator racional. 
Dada a visão pluralista e fragmentada do Estado, pressupõe-se, ao contrário, o choque de 
interesses, a barganha e a necessidade de compromisso que nem sempre levam a um processo 
de tomada de decisão racional.
Por fim, para os pluralistas, a agenda da política internacional é extensa. Embora a segurança 
nacional seja importante, os pluralistas também se preocupam com um número variado de 
questões econômicas, sociais, energéticas e ecológicas que têm surgido com o aumento da 
interdependência entre os países e as sociedades nos séculos XX e XXI. Alguns pluralistas, 
por exemplo, enfatizam o comércio e as questões monetárias e energéticas, as quais estariam 
no topo da agenda internacional. Outros dedicam-se à solução do problema demográfico e da 
fome no Terceiro Mundo. Outros, ainda, focam a poluição e a degradação do meio ambiente. 
Nesse sentido, os pluralistas rejeitam a dicotomia entre alta política (high politics) e baixa 
política (low politics) dos realistas.
R.I. MODULO I. 33
Globalismo
Historicamente, o Globalismo se relacionacom o surgimento do Terceiro Mundo na política 
mundial. Nesse sentido, representa uma visão ignorada e desprestigiada da realidade 
internacional. Para eles, a hierarquia, como uma característica chave, é mais importante do 
que a anarquia, dada a desigualdade na distribuição do poder dentro do sistema.
Vimos que os realistas organizam seus estudos em torno da questão básica de como a 
estabilidade pode ser mantida num macroambiente anárquico. Os pluralistas se perguntam 
como mudanças pacíficas podem ser promovidas num mundo que é crescentemente 
interdependente política, militar, social e economicamente. Os globalistas, por sua vez, se 
concentram na questão de por que tantos países do Terceiro Mundo na América Latina, na 
África e na Ásia não têm conseguido se desenvolver. Para muitos globalistas, mais ligados à 
linha marxista, essa questão faz parte de um campo maior de análise: o desenvolvimento do 
capitalismo no mundo.
Os globalistas são guiados por quatro proposições.
Primeiro, é necessário entender o contexto global em que Estados e outros atores interagem. 
Os globalistas argumentam que para explicar o comportamento em qualquer nível de análise 
– o individual, o burocrático, o societário e o estatal –, é necessário, antes, entender a 
estrutura geral do sistema global no qual esses comportamentos se manifestam. Assim como 
os realistas, globalistas acreditam que o ponto de partida da análise é o sistema internacional. 
Numa extensão mais larga, o comportamento de atores individuais é explicado por um 
sistema que fornece limitações e oportunidades.
Segundo, os globalistas realçam a importância da análise histórica na compreensão do 
sistema internacional. Apenas rastreando a evolução histórica do sistema é possível entender 
sua estrutura atual. O fator histórico chave e a característica definidora do sistema como um 
todo é o capitalismo. Até mesmo os Estados socialistas precisam operar dentro desse sistema 
econômico, que constantemente restringe suas opções.
Terceiro, os globalistas assumem que existem mecanismos de dominação que impedem que o 
Terceiro Mundo se desenvolva e que contribuem para o desenvolvimento desigual ao redor 
do planeta. A compreensão desses mecanismos requer o exame das relações de dependência 
entre os países industrializados do Norte (América do Norte e Europa) e os vizinhos pobres 
do Hemisfério Sul (América Latina, África e Ásia).
Finalmente, os globalistas defendem que os fatores econômicos são absolutamente críticos 
para se explicar a evolução e o funcionamento do sistema capitalista mundial e a relegação 
R.I. MODULO I. 34
do Terceiro Mundo para uma posição subordinada. A economia funciona como uma espécie 
de “alta política” para os globalistas.
Para fins didáticos, podemos traçar o seguinte quadro, que relaciona os três paradigmas das 
Relacões Internacionais:
Property Realismo Pluralismo Globalismo
Unidades
analíticas
Estado como
principal
unidade de
análise.
Estado e atores não estatais, como
organizações burocráticas, elites,
sociedades, indivíduo, grupos de
indivíduos, organizações internacionais,
corporações multinacionais, organizações
não governamentais.
Estado, classes,
elites, sociedades e
atores não estatais
como operadores do
sistema capitalista.
Concepção de
ator
Estado
unitário e
racional.
Estado não unitário e não racional:
desagregado em componentes, alguns dos
quais com atuação transnacional.
Estado não unitário
e racional, visto sob
a perspectiva
histórica do
desenvolvimento do
capitalismo.
Dinâmica
comportamental
Estado como
maximizador
de seus
próprios
interesses na
política
externa.
Conflito, barganha, formação de coalizões e
compromissos nos processos transnacionais
e de tomada de decisão em política externa,
não necessariamente levando a resultados
ótimos.
Política externa
como padrões
racionais de
dominação dentro e
entre Estados e
sociedades.
Agenda
Segurança
nacional
como questão
mais
importante.
Agenda múltipla, com questões sócio-
econômicas tão ou mais importantes do que
questões de segurança nacional.
Questões
econômicas como
mais importantes.
Registre-se, outrossim, que as correntes citadas nesta unidade são as mais difundidas e 
tradicionais. Não obstante, neste contexto de pós-modernidade, ganham força perspectivas de 
vanguarda, com destaque para o Construtivismo. Porém, foge ao escopo deste curso a análise 
dessas outras correntes.
Passemos, portanto, aos principais debates que marcaram a Teoria das Relações 
Internacionais no século XX.
https://www.notion.so/Estado-como-principal-unidade-de-an-lise-95d5a8689d944ba2bf00928bdccc06a0
https://www.notion.so/Estado-unit-rio-e-racional-8dc642406cd242f295fde5ee6f4447a5
https://www.notion.so/Estado-como-maximizador-de-seus-pr-prios-interesses-na-pol-tica-externa-f6b19d48e73b4d848cd1b6a496408f20
https://www.notion.so/Seguran-a-nacional-como-quest-o-mais-importante-fd75a85666a24ca99d9898e818f696bd
R.I. MODULO I. 35
OS GRANDES DEBATES TEÓRICOS
Idealismo X Realismo
O debate entre realistas e idealistas iniciou-se na década de 1930. Não obstante, conforme 
acentua Arenal (1984), trata-se “de um debate que está presente, com maior ou menor força, 
em toda a história da teoria internacional, inclusive tendo recobrado força com novas 
perspectivas em nossos dias”. De acordo com John Herz (1951, p.8), o Idealismo é um tipo 
de pensamento político que “não conhece os problemas que surgem do dilema da segurança e 
poder”, ou que o faz “somente de uma forma superficial”. O Realismo, por sua vez, ao 
contrário, considera fatores de segurança e poder inerentes à sociedade humana.
Assim, para os idealistas, a política é a arte do bom governo, e o poder político não constitui 
fenômeno natural, lei imutável da natureza. A Sociedade Internacional, em um primeiro 
momento, poderia até se encontrar em um estado de natureza, mas a anarquia internacional 
seria naturalmente substituída não por um sistema baseado no equilíbrio de poder, mas por 
uma ordem fundamentada na lei internacional, em instituições e na cooperação entre os 
povos. Assim, a conduta racional dos Estados os levaria à constituição de um poder 
supranacional, uma confederação de nações, que garantiria a segurança e a paz no Sistema (a 
“paz perpétua” de Kant).
Os realistas, por sua vez, consideram a política internacional uma constante e interminável 
luta pelo poder, definido em capacidade de influência. Negam o otimismo idealista. Atuar 
racionalmente significa agir em favor dos próprios interesses; ou seja, de aumentar o poder, a 
capacidade ou habilidade de controlar os outros entes internacionais. Partindo do princípio de 
que o homem não é naturalmente bom e que se reúne em sociedade apenas porque é a melhor 
maneira que encontrou para garantir a segurança essencial à sua sobrevivência diante da 
guerra de todos contra todos, o Realismo percebe o Estado como um gladiador envolvido em 
um combate perpétuo pela sobrevivência na Sociedade Internacional anárquica em que as 
relações de força predominam.
O Realismo não considera a moral ou a ética como limites à ação do Estado, mas a 
prudência, o senso de oportunidade e o cálculo racional. Essa consideração explica o 
pragmatismo e a falta de credulidade em organizações internacionais como instituições que 
não sejam apenas meros instrumentos de alguns Estados no jogo de poder internacional. Um 
governo mundial baseado apenas no Direito e no desejo global de paz é inconcebível para o 
Realismo.
5. Tradicionalistas x Científicos
R.I. MODULO I. 36
O debate entre os enfoques clássico e científico ou entre tradicionalistas e behavioristas 
ultrapassa, na ótica de Arenal, o debate entre realistas e idealistas. Afinal, ensina o mestre, 
tanto os partidários da análise clássica quanto os da perspectiva científica podem inscrever-se 
nas visões realista ou idealista. O debate entre tradicionalistas e behavioristas tem caráter 
metodológico. Faremos apenas algumas breves considerações introdutórias a esse respeito.
Luciano Tomassini (1989),

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