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Relações Internacionais - Livro Texto Unidade 1

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Prévia do material em texto

Autoras: Profa. Ana Paula Alves Gonçalves
 Profa. Kimberly Alves Digolin
 Profa. Luiza Elena Januário
Colaboradores: Prof. Enzo Fiorelli Vasques 
 Profa. Tânia Sandroni
Relações Internacionais
Professoras conteudistas: Ana Paula Alves Gonçalves / 
Kimberly Alves Digolin / Luiza Elena Januário
Ana Paula Alves Gonçalves 
É coordenadora do curso de Relações Internacionais, coordenadora geral de estágios do Instituto de Ciências 
Sociais e Comunicação (ICSC) e a professora responsável pelo Departamento de Carreiras & Mercados na 
Universidade Paulista (UNIP). É graduada em Administração de Empresas e tem MBA em Qualidade e Produtividade 
pela mesma instituição.
Kimberly Alves Digolin 
É professora do curso de Relações Internacionais da Universidade Paulista (UNIP). É graduada em Relações 
Internacionais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e mestra em Relações Internacionais pelo Programa de 
Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp/Unicamp/PUC-SP) na área de Paz, Defesa e 
Segurança Internacional. É pesquisadora do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes) e da Rede 
de Pesquisa em Paz, Conflitos e Estudos Críticos de Segurança (PCECS).
Luiza Elena Januário 
É professora do curso de Relações Internacionais da Universidade Paulista (UNIP) e coordenadora auxiliar do 
curso de Relações de Relações Internacionais – Campus Chácara Santo Antônio da mesma instituição. É graduada em 
Relações Internacionais pela Unesp, mestra e doutoranda em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação 
em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp/Unicamp/PUC-SP) na área de concentração em Paz, Defesa e 
Segurança Internacional. Também é pesquisadora do Gedes. É coautora do verbete “Regimes de Não Proliferação 
Nuclear”, do Dicionário de Segurança e Defesa.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
G635r Gonçalves, Ana Paula Alves.
Relações Internacionais / Ana Paula Alves Gonçalves, Kimberly 
Alves Digolin, Luiza Elena Januário. – São Paulo: Editora Sol, 2019.
176 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-223/19, ISSN 1517-9230.
1. Relações internacionais. 2. Organizações internacionais. 3. 
Diplomacia. I. Título.
CDU 327
U503.61 – 19
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Ingrid Lourenço
 Lucas Ricardi
Sumário
Relações Internacionais
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES INTERNACIONAIS .....................................................................................9
1.1 Campos de atuação ............................................................................................................................. 14
2 SISTEMA INTERNACIONAL E ATORES INTERNACIONAIS ................................................................. 16
2.1 Sistema Internacional (SI) ................................................................................................................. 17
2.2 O Estado ................................................................................................................................................... 18
2.3 Organizações Internacionais (OIs) ................................................................................................. 20
2.4 Organizações Não Governamentais (ONGs) .............................................................................. 23
2.5 Empresas multinacionais e transnacionais ................................................................................ 25
2.6 A opinião pública .................................................................................................................................. 25
3 TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ............................................................................................ 26
3.1 O realismo ................................................................................................................................................ 27
3.2 O liberalismo ........................................................................................................................................... 34
3.3 O Primeiro Grande Debate ................................................................................................................ 40
4 CONFLITO E COOPERAÇÃO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ..................................................... 45
4.1 A lógica do conflito ............................................................................................................................. 46
4.2 Os dilemas da cooperação ................................................................................................................ 53
4.3 O lugar da moral na política internacional ............................................................................... 55
Unidade II
5 GLOBALIZAÇÃO ................................................................................................................................................ 62
5.1 Interdependência.................................................................................................................................. 71
5.2 Lideranças e instituições mundiais ............................................................................................... 76
6 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS .......................................................................................................... 76
6.1 Liga das Nações ..................................................................................................................................... 80
6.2 ONU (Organização das Nações Unidas) ....................................................................................... 81
6.3 FMI (Fundo Monetário Internacional) .......................................................................................... 84
6.4 OMC (Organização Mundial do Comércio) ................................................................................ 86
6.5 Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ............................................................... 89
6.6 UE (União Europeia) ............................................................................................................................ 92
6.7 OEA (Organização dos Estados Americanos) ............................................................................. 94
6.8 Unasul (União das Nações Sul-Americanas) ............................................................................. 96
6.9 UA (União Africana) ............................................................................................................................98
Unidade III
7 DIPLOMACIA ....................................................................................................................................................106
7.1 Caracterização e evolução histórica da diplomacia .............................................................106
7.2 O exercício da diplomacia ...............................................................................................................119
7.3 Solução pacífica de controvérsias ...............................................................................................133
8 POLÍTICA EXTERNA E DIPLOMACIA NO BRASIL .................................................................................138
8.1 Origem e estrutura do MRE (Ministério das Relações Exteriores) ..................................138
8.2 História do Barão do Rio Branco .................................................................................................141
8.2.1 Política territorial ................................................................................................................................. 142
8.2.2 Relações assimétricas com as grandes potências .................................................................. 144
8.2.3 Tensões entre Brasil e Argentina ................................................................................................... 145
8.3 Tradição diplomática brasileira .....................................................................................................147
7
APRESENTAÇÃO
Este livro-texto apresenta caráter introdutório e destina-se a familiarizar os discentes com os 
principais temas e conceitos da área, apresentando um conjunto variado de questões que serve como 
embasamento para a formação em Relações Internacionais. Contudo, as temáticas não se encerram 
neste livro-texto: o presente material tem a finalidade de fornecer noções introdutórias, que serão 
retomadas ao longo do curso em diversas disciplinas.
O campo das relações internacionais é, por natureza, multidisciplinar. Um profissional bem 
capacitado da área é capaz de fazer interconexões entre diferentes questões a partir de diversos campos, 
como economia, direito, ciência política e história. O curso da UNIP parte da visão de que é necessário 
estimular a capacidade de fazer interconexões desde os primeiros momentos, o que é incentivado na 
presente disciplina.
Este livro-texto deve ser, antes de tudo, encarado como o início de uma jornada pelo conhecimento, 
apresentando uma área de estudos complexa, mas rica em suas possibilidades.
Ao final da disciplina, espera-se que o discente tenha condições de:
• Identificar o objeto de estudo das relações internacionais.
• Conhecer o campo de atuação do profissional da área.
• Conhecer as características centrais do Sistema Internacional.
• Identificar os principais atores internacionais.
• Compreender o realismo e o liberalismo como teorias das relações internacionais.
• Identificar dinâmicas de conflito e cooperação.
• Compreender o papel das Organizações Internacionais.
• Compreender os traços centrais da dinâmica da globalização.
• Conhecer as características centrais da diplomacia, sua evolução histórica e as prerrogativas dos 
agentes diplomáticos.
• Identificar as diferentes modalidades de solução pacífica de controvérsias.
• Conhecer traços básicos da diplomacia no Brasil.
Espera-se despertar o interesse e a curiosidade dos discentes para as relações internacionais, de 
modo a fornecer uma visão inicial do amplo leque de possibilidades e oportunidades oferecidos pela 
8
área. Estimula-se a realização de interconexões não só dentro do curso, mas com relação a fatos e 
notícias que fazem parte do cotidiano.
INTRODUÇÃO
As relações internacionais constituem um campo de estudos relativamente recente, mas que vem 
se consolidando e apresenta potencial de expansão. Um conjunto amplo de questões é abordado nessa 
área do conhecimento, que é multidisciplinar por natureza, ou seja, é formada por outras disciplinas.
Mas afinal, o que são relações internacionais? Quais são seus atores? Quais questões são centrais 
para o entendimento do internacional? Tais indagações servem como ponto de partida para o presente 
livro-texto, que se propõe a apresentar as relações internacionais em um esforço inicial de familiarização 
com a área.
Inicialmente, será feita uma introdução às relações internacionais, definindo seu objeto e os campos 
de atuação do profissional da área. Também serão abordados com mais detalhes o sistema e os atores 
internacionais, apresentadas as teorias que se encontram na própria fundação da área de estudos (o 
realismo e o liberalismo) e tratadas as dinâmicas de conflito e cooperação no cenário internacional.
Na sequência, o foco será em dois temas importantes para o mundo contemporâneo e para a 
configuração atual das relações internacionais: a globalização e o papel das Organizações Internacionais.
Finalmente, o assunto principal passa a ser a diplomacia. Serão discutidos os aspectos gerais da 
atividade diplomática e, logo depois, a diplomacia brasileira em específico.
9
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Unidade I
1 INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
As relações humanas são complexas e envolvem diversas variáveis. Compreender e organizar a vida 
em sociedade local não é uma tarefa fácil. Imagine comandar a relação entre sociedades que visam 
seus interesses em detrimento da outra. Grupos socialmente organizados já se relacionavam desde 
a Antiguidade e, a partir do momento em que esses grupos organizados impactam outros, seja por 
meio de interesses positivos ou negativos, a relação passa a determinar quem comanda e quem será o 
comandado. Na Idade Média, a igreja era a detentora desse poder, seja no aspecto político ou religioso.
Conforme Romano (2012, p. 71), “Nas relações internacionais da Idade Média, o direito canônico 
enfeixa e determina a legitimidade do poder e da autoridade suprema. Os soberanos laicos não integram 
uma sociedade internacional independente da Igreja”.
Entre os séculos XVI e XVII, o cenário de luta de poder entre a Igreja e o Estado foi intensificado. A 
Reforma Protestante no século XVI promovida por Martinho Lutero gerou tensões entre a monarquia e 
a Igreja, as dissidências entre o tomismo e a filosofia agostiniana cobrava o pagamento de indulgências 
e impostos cada vez maiores, o que desmoralizava o clero e onerava os reis. Esse cenário, marcado por 
uma divisão de ideias e crise, leva a Igreja a perder a capacidade de julgar, mantendo o poder soberano 
de reis a condenar injúrias. 
No contexto da Guerra dos 30 Anos, com a divergência do clero entre a divisão da Igreja, as 
rivalidades dinásticas, rebeliões e luta pelo interesse particular das potências da época, iniciam-se 
diálogos de paz, que levam ao Tratado de Vestfália (1648). Tal tratado de paz constitui um marco para 
as relações internacionais, uma vez que se trata do reconhecimento formal dos princípios de soberania 
e não intervenção em assuntos internos dos Estados, dando um fim às guerras da religião da época e 
consagrando o sistema de Estados modernos, como será trabalhado mais adiante.
 Saiba mais
Sugestão de leitura sobre a Paz de Vestfália:
ROMANO, R. A Paz de Westphalia (1648). In: MAGNOLI, D. (org.). 
A história da paz. São Paulo: Contexto, 2012.
Nesse sentido, o estudo das relações internacionais tem início com a necessidade da sociedade 
de sistematizar as interações que ocorrem no ambiente externo, uma vez que elas também afetavam 
10
Unidade I
questões internas. Mais recentemente, os estudos foram sistematizados por meio do financiamento de 
magnatas americanos e ingleses, com o objetivo de entender as relações internacionais voltadas para 
os negócios e comércio internacional. Para tanto, as ciências sociais abordam diversas teorias para 
uma melhor compreensão dessa relação. Dependendo do interesse de cada sociedade, essa interação 
pode gerar situações conflituosas ou de cooperação. Nãohá uma sociedade que não impacte ou seja 
impactada pelas ações de outra, seja direta ou indiretamente. Tendo em vista a pluralidade de culturas 
existentes, das crenças e do modo como se organizam, essas relações se alternam sob os eixos de 
cooperação e conflito, dependendo da relação do interesse e da época histórica.
Entende-se como relação de cooperação quando duas ou mais sociedades se inter-relacionam, 
obtendo resultados que satisfaçam aos interesses de cada uma. Vale dizer que nem sempre essa 
relação de cooperação é equilibrada. Já sob o eixo de conflito, entende-se aquela relação entre duas 
ou mais sociedades em que não há um reconhecimento pacífico do posicionamento da outra, gerando 
desentendimentos que incluem o recurso à força física. Aron (2002) chega a afirmar que as relações 
interestatais se moldam em torno dessas gramáticas da cooperação e do conflito, ambas ao mesmo 
tempo opostas e complementares, podendo ser representadas pelas figuras do diplomata e do soldado.
De qualquer modo, as relações que acontecem além das fronteiras são dotadas de grande 
complexidade, abordando um leque de questões que se torna cada vez mais variado ao longo do tempo, 
com a evolução dos meios de transporte e de comunicação. Assim, “para dar conta deste desafio, diante 
da evolução dos relacionamentos além-fronteiras, da ampliação da esfera do internacional, deu-se 
origem a uma disciplina específica: as relações internacionais” (PECEQUILO, 2012, p.14).
Considerada uma ciência social nova, até o início do século XX seu estudo era composto por meio 
de outras ciências sociais, como a história, a ciência política, a economia e o direito. Outras ciências, 
como a sociologia e a filosofia complementavam o estudo. Após a Primeira Guerra Mundial, começa a 
se estruturar um campo de estudos específico das relações internacionais, que ganha contornos mais 
claros com o fim da Segunda Guerra Mundial e se consolida na segunda metade do século XX. Trata-se 
de um campo estruturado por meio de grandes debates teóricos, que contrapõem perspectivas distintas 
sobre o que é o internacional e como abordá-lo.
De qualquer forma, as relações internacionais são, por natureza, multidisciplinares, sendo composta 
pelos debates suscitados pelas demais disciplinas citadas. O conjunto de diversos conhecimentos permite 
ao internacionalista uma base ampla, dando um olhar multifacetado ao prisma internacional. Após a 
Guerra Fria (1947-1989), novos temas ganharam destaque e foram abertas novas possibilidades para o 
estudo do internacional, considerando fatores econômicos, políticos e culturais.
Mas qual é, de fato, o objeto de estudos das relações internacionais? Isto é, quais fenômenos 
são analisados e estudados nesse campo do conhecimento? Foi citado que o Sistema Internacional 
se configura a partir das relações interestatais. Só as relações entre os Estados são relevantes para a 
disciplina, então?
11
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Segundo Pecequilo (2012, p. 15), “define-se como o objeto de estudo das relações internacionais os 
atores, acontecimentos e fenômenos que existem e interagem no Sistema Internacional, ou seja, além 
das fronteiras domésticas das sociedades”.
O caráter do que ultrapassa as fronteiras nacionais é importante para as relações internacionais. 
De acordo com Halliday (2007), o objeto de estudo abrange três formas de interações: as relações 
entre os Estados, as relações envolvendo atores não estatais e as operações do Sistema Internacional 
em si, como um todo.
 Observação
Relações Internacionais: a disciplina, o curso.
relações internacionais: os fenômenos estudados, o objeto de estudo.
A questão da presença e da importância de atores que não são os Estados reflete a própria evolução 
das questões internacionais. Entre tais atores, há Organizações Não Governamentais, empresas 
multinacionais e transnacionais e redes transnacionais de crime organizado, como será abordado 
posteriormente. São outros atores que conseguem atuar no Sistema Internacional que impõem novas 
questões a serem consideradas nos estudos.
As relações internacionais versam sobre os acontecimentos mundiais, analisando o que acontece 
nas interações das sociedades, fluxos e atores no cenário mundial. Consiste em estabelecer de forma 
organizada as relações sociais. Mas não só o ambiente externo deverá ser analisado. A percepção 
ideológica do Estado também influencia no modo como estes atores se comportarão. A interdependência 
e a velocidade com que as informações chegam, bem como o encurtamento de espaço e tempo 
em decorrência das novas tecnologias, aproximaram os atores às realidades dantes não percebidas, 
ou que tardiamente seriam percebidas. Assim, o objeto de estudo das relações internacionais é o 
Sistema Internacional.
Figura 1 – Mapa-múndi
12
Unidade I
Para a análise deste complexo cenário, são tratados diversos conceitos embasados em disciplinas 
como economia, ciência política, história e direito. Essa fragmentação ampliou a visão de análise do 
internacionalista, permitindo uma constante atualização e ampliação do conhecimento e campo de 
atuação. Apesar da amplitude de conhecimento que a área permite, é possível especializar-se em um 
determinado eixo, dependendo da escolha pessoal.
Dentre os eixos temáticos, podemos citar Integração Regional, Estratégia e Guerra, Segurança 
Internacional, Comércio Internacional, Diplomacia, Globalização, dentre outros. Abarca o estudo 
histórico dos países, suas relações bilaterais e multilaterais, as estratégias e táticas de guerra, as ameaças 
que o Sistema Internacional poderá enfrentar – como terrorismo, nacionalismo, armamentos, fluxos 
organizacionais –, além de temas específicos, como meio ambiente e direitos humanos, por exemplo. Os 
assuntos mais abordados são os relacionados à política externa e guerra. Como exemplos de marcos nos 
estudos, podemos citar a Guerra Fria, a queda do Muro de Berlim, em 1989, e o atentado ocorrido em 
11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos.
O ensino da disciplina no Brasil vem se consolidando lentamente, apesar da forte atuação diplomática 
do Itamaraty. Justifica-se o desenvolvimento lento, dada a limitação de outros agentes políticos e da 
carência cultural brasileira em ser um agente participativo na política interna e externa.
Ademais, a grandiosidade do Brasil em seu tamanho, número populacional e recursos naturais o 
tornaram autossuficiente em alguns aspectos, sendo muitas vezes um agente de pouca relevância no 
cenário internacional. Sob o aspecto continental, opostamente, “[…] detém uma influência maior em 
seu continente, exercendo, no mínimo, um poder real em escala regional”, de acordo com Pecequilo 
(2012, p. 24). Ainda sob a análise continental, há forte influência estadunidense nos fatores políticos e 
econômicos no Brasil. Os Estados Unidos da América já possuem uma hegemonia estabelecida e grande 
poder de persuasão sobre países do mesmo continente.
No ambiente acadêmico brasileiro, muitos cursos abordam a disciplina de forma distorcida, seguindo 
para assuntos ligados apenas às áreas de Comércio Exterior, Diplomacia ou Direito Internacional. No final 
do século XX, países em desenvolvimento, como o Brasil, passam a ser pressionados por fatores externos 
(fim da Guerra Fria e Globalização), que impactaram significativamente o sistema econômico brasileiro, 
afetando as organizações, sejam nacionais ou multinacionais. A partir de então, surge a necessidade de 
profissionais qualificados, que pudessem atuar nesse nicho em expansão.
Como abordado, a amplitude de conhecimento necessário para a atuação do profissional de Relações 
Internacionais e os cursos ofertados nesse período não atendiam adequadamente a área. No Brasil, o 
primeiro curso de Relações Internacionais foi criado em 1974, pela Universidade de Brasília. De acordo 
com estudo realizado, a concentração da oferta ocorre em universidades privadas, localizadas ao sul e 
ao sudeste do país.
13
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
160
140
120
10080
60
40
20
0
Número de cursos criados Número de cursos ofertados
19
74
19
92
19
97
19
99
20
01
20
03
20
05
20
07
20
09
20
11
20
13
20
15
20
17
19
80
19
95
19
96
19
98
20
00
20
02
20
04
20
06
20
08
20
10
20
12
20
14
20
16
N
ão
 in
fo
rm
ad
o
Figura 2 – Gráfico da expansão do número de cursos de graduação em Relações Internacionais entre 1974 e 2016
A partir de 2017, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) do curso de Relações Internacionais 
foram implantadas, determinando os eixos temáticos a serem abordados para atender a essa amplitude. 
Dentro do eixo de formação estruturante, estão: Teorias das Relações Internacionais; Segurança, 
Estudos Estratégicos e Defesa; Política Externa; História das Relações Internacionais; Economia Política 
Internacional; Ciência Política; Direito Internacional e Direitos Humanos; Instituições, Regimes e 
Organizações Internacionais. Os conteúdos das Ciências Sociais; Economia; Direito; Filosofia; Sociologia; 
Antropologia; Geografia; Estatística, Metodologia; Ética deverão embasar o que é exigido pelo eixo 
de formação estruturante, garantindo “[…] os princípios da transversalidade, interdisciplinaridade no 
processo ensino e aprendizagem” (BRASIL, 2017, p. 3). Em suma, fica estabelecido que
Relações Internacionais é um curso em nível de graduação, na modalidade 
bacharelado, cujo objetivo fundamental é formar profissionais que 
possam exercer atividades com interface internacional nas esferas pública 
e privadas, tais como governos, universidades, empresas, Organizações 
Internacionais, Organizações Não Governamentais, consultorias, mercado 
financeiro, entre outras instituições (BRASIL, 2017, p. 2).
As DCNs de Relações Internacionais contemplam as competências e habilidades necessárias para a 
atuação do internacionalista, as quais permitam compreender, analisar, avaliar, formular, negociar e propor
[…] questões internacionais no seu contexto político, econômico, histórico, 
geográfico, estratégico, jurídico, cultural, ambiental e social; [...] ações de 
promoção do desenvolvimento na escala local, a partir da coerente integração 
entre teoria e prática; […] a internacionalização de organizações de diferentes 
tipos; […] de cenários para atuação na esfera internacional; […] projetos de 
cooperação internacional; […] consciência social, responsabilidade social e 
empatia dentre outras (BRASIL, 2017, p. 2).
14
Unidade I
Como característica, o egresso de Relações Internacionais deverá estar apto a analisar criticamente 
os diversos cenários, sabendo lidar com a pluralidade cultural. Com essa nova estrutura curricular, 
espera-se que a qualificação profissional do internacionalista atenda a todas as demandas requeridas 
para se envolver nas diversas áreas possíveis de atuação. A busca constante de conhecimento deverá ser 
uma meta desse profissional, especializando-se em pós-graduação lato e stricto sensu.
Mas por que estudar Relações Internacionais? De modo simples, há duas respostas para essa questão: 
quase todas as pessoas no mundo atual são afetadas, no cotidiano, pelo Sistema Internacional, em maior 
ou menor grau, ainda que muitas vezes não percebam tal conexão; no nível intelectual, ressalta-se 
que as relações internacionais são um componente importante da vida política, sendo necessária sua 
compreensão (JACKSON; SORENSEN, 2016).
1.1 Campos de atuação
Dentre as possíveis atuações profissionais do internacionalista, a mais conhecida é a carreira 
diplomática. Porém, ressalta-se que a única forma de admissão à carreira diplomática no Brasil é por 
meio de concurso, o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), promovido pelo Instituto Rio 
Branco, que faz parte do Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores do Brasil) e é o órgão responsável 
por selecionar, treinar e aperfeiçoar os diplomatas brasileiros. O diplomata deve representar o país 
no Sistema Internacional, participando de reuniões internacionais, promovendo o comércio exterior, 
o turismo e os investimentos, contribuindo na política externa do país, além de divulgar a cultura e 
os valores do povo brasileiro. Desse modo, deverá fortalecer a relação de cooperação entre o Brasil e 
seus parceiros. Sua atuação também versa na assistência aos brasileiros que se encontram no exterior 
(BRASIL, 2019a).
Comumente, relaciona-se o internacionalista apenas com a carreira diplomática, porém outros 
campos de grande interesse são identificados. É possível atuar como oficial de chancelaria e assistente 
de chancelaria, que são servidores públicos também, porém não são diplomatas. O internacionalista 
ainda pode atuar como analista internacional em órgãos governamentais, órgãos não governamentais, 
organizações nacionais e multinacionais, coletando e analisando dados sobre a conjuntura internacional. 
No setor privado, o internacionalista pode ser assessor, conselheiro e diretor, atuando estrategicamente 
em assuntos políticos, econômicos e/ou financeiros. Empresas que estão em fase de internacionalização 
também contatam o profissional para representações junto aos organismos internacionais.
Também é possível estagiar no Ministério das Relações Exteriores. Os requisitos necessários 
para isso são estar regularmente matriculado e frequentando o ensino superior. O estágio no 
Itamaraty é permitido apenas aos brasileiros. Seu ingresso se dá por meio do Centro de Integração 
Empresa-Escola (CIEE).
Em instituições financeiras, câmaras de comércio, agências e portos também há demanda para 
o campo. Outra área com bastante procura desse profissional é a acadêmica e a pesquisa. Muitos 
internacionalistas optam em seguir a carreira docente, que muito enriquecerá e fortalecerá a profissão.
15
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
 Lembrete
Um diplomata pode ser:
Embaixador: chefe de uma missão diplomática.
Cônsul-Geral: chefe de um Consulado Geral.
Chanceler: ministro das Relações Exteriores.
Figura 3 – Cerimônia de Formatura da Turma do Instituto Rio Branco
Exige-se do profissional internacionalista não apenas o correto uso da língua vernácula, mas também 
a fluência em outra língua, como o inglês e o espanhol. Para se destacar no mercado, ser fluente em 
línguas como o alemão e o mandarim se torna um diferencial. Vale ressaltar que essa habilidade facilitará 
o diálogo com os países com os quais a empresa ou o órgão em que o internacionalista atuará mantêm 
relações, porém não é função do internacionalista trabalhar com traduções.
Outros conhecimentos, habilidades e atitudes fazem o profissional formado em Relações 
Internacionais se destacar no mercado profissional. Em especial a vivência internacional e a empatia 
com outras culturas, ou seja, durante sua formação, vislumbre a possibilidade de realizar intercâmbios 
ou realizar viagens turísticas com o intuito de conhecer as novas culturas existentes no mundo. A 
participação em voluntariado auxilia na formação crítica, abrindo o olhar para realidades distintas das 
experiências pessoais e promovendo tolerância, além de permitir desenvolver capacidades exigidas pelo 
mercado profissional.
16
Unidade I
Com isso, é importante conhecer o Programa de Voluntários das Nações Unidas (UNV), que oferece 
diversos serviços que estreitam organizações e voluntários em prol do bem comum.
O programa Voluntários das Nações Unidas (UNV) contribui para a paz e o 
desenvolvimento através do voluntariado em todo o mundo. O voluntariado 
online permite que organizações e voluntários se unam em qualquer 
lugar do mundo e de qualquer dispositivo para enfrentar os desafios do 
desenvolvimento sustentável (UNV, 2019a).
O Programa de Voluntários das Nações Unidas é uma plataforma em que organizações apresentam 
as atividades que desejam dos voluntários. Os voluntários acessam a plataforma e se cadastram para 
participar da atividade escolhida. Por sua vez, a organização seleciona os voluntários com os quais 
irá colaborar. É uma plataforma colaborativa, acessada pelo mundo todo, com um único objetivo: 
desenvolvimentosustentável. O Programa da Nações Unidas para o Desenvolvimento é o administrador 
do programa UNV.
Figura 4 – Voluntariado da ONU
 Saiba mais
Para saber mais sobre carreira diplomática e voluntariado, acesse os 
sites a seguir:
http://www.itamaraty.gov.br
www.onlinevolunteering.org
2 SISTEMA INTERNACIONAL E ATORES INTERNACIONAIS
O objeto de estudo das relações internacionais engloba as relações entre os Estados, as interações 
envolvendo atores não estatais e as operações do Sistema Internacional. No entanto, para analisar com 
maior eficácia esse objeto, primeiro é importante ter claro o que é o Sistema Internacional, o que são 
os Estados-nação, quais os demais atores não estatais, bem como a evolução do papel atribuído a tais 
atores ao longo do tempo.
17
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
2.1 Sistema Internacional (SI)
O primeiro passo é definir o que é o Sistema Internacional. De modo geral, trata-se do
[...] meio onde se processam as relações entre os diferentes atores que 
compõem e fazem parte do conjunto das interações sociais que se processam 
na esfera do internacional, envolvendo seus atores, acontecimentos e 
fenômenos. É o palco, o cenário, o ambiente no qual se desenrolam as 
relações internacionais (PECEQUILO, 2012, p. 407).
Diferentemente do âmbito doméstico, ou seja, que é delimitado pelas fronteiras nacionais de cada 
país, o Sistema Internacional não possui um governo universal capaz de impedir que os Estados adotem 
medidas que venham a causar instabilidades, como declarações de conflito entre si. Essa característica 
do Sistema Internacional é intitulada de anarquia. Em outras palavras, a anarquia internacional significa 
a ausência de uma entidade supranacional capaz de impor aos Estados um determinado arcabouço 
jurídico de normas e procedimentos, fazendo com que “cada Estado julgue suas queixas e ambições 
segundo os ditames de sua própria razão ou de seu próprio desejo” (WALTZ, 2004, p. 197).
Além de sua característica anárquica, o Sistema Internacional também pode ser classificado com base 
em sua composição heterogênea, tendo em vista que é palco de relações entre diversos tipos de atores 
– cada um com distintos recursos e interesses – e em diversas áreas temáticas. Essas duas características 
em conjunto culminam em uma terceira classificação possível. Já que o Sistema Internacional não possui 
um governo acima dos Estados capaz de limitar as interações entre eles, é precisamente a interação 
entre esses atores que resulta em diferentes tipos de Sistema Internacional, já que cada Estado pode 
possuir mais ou menos recursos para alcançar seus próprios interesses perante os demais.
O Sistema Internacional unipolar é aquele onde um único poder se destaca e exerce comando 
sobre os demais agentes, como foi o caso do Império Romano. Quando existem dois polos de poder, 
denomina-se o Sistema Internacional como bipolar, exemplificado pela dinâmica entre os Estados 
Unidos e a antiga União Soviética durante o período da Guerra Fria (1947-1989). Por fim, quando o 
Sistema Internacional é marcado pela divisão de poderes entre diversos membros, este é comumente 
intitulado de multipolar, como foi o caso do “Concerto Europeu”, quando França, Grã-Bretanha, Prússia, 
Rússia e Império Austro-Húngaro dividiam poder entre 1815 e 1914 (PECEQUILO, 2012, p. 435).
Parte da literatura de relações internacionais afirma que o Sistema Internacional contemporâneo não 
se enquadra especificamente em nenhuma das categorias supracitadas. Ainda que existam potências 
com acentuado poder militar, econômico ou cultural, não existe um Estado – ou um grupo de Estados – 
que exerça domínio sobre os demais nos mesmos moldes observados anteriormente. Como observado, 
isso é reflexo da nova transnacionalização das relações internacionais, que trouxe consigo uma nova 
magnitude atribuída a alguns atores não estatais na política internacional.
18
Unidade I
2.2 O Estado
Durante muito tempo, os Estados foram entendidos não apenas como os principais atores das 
relações internacionais, mas também como os únicos de relevância substantiva para a configuração 
da política internacional. Alguns inclusive reduzem o que seria o Sistema Internacional apenas às 
interações entre esses atores. É o caso de Raymond Aron, que define Sistema Internacional como 
“o conjunto constituído pelas unidades políticas que mantém relações regulares entre si e que são 
suscetíveis de entrar numa guerra geral” (ARON, 2002, p. 153). Como os Estados são os únicos que 
podem declarar uma guerra geral entre si, estes seriam os únicos a se caracterizarem enquanto 
atores do Sistema Internacional.
Mas para melhor compreender o significado e a dinâmica contemporânea dos Estados, é preciso 
antes analisar a evolução das relações no âmbito internacional e compreender que os Estados como 
conhecemos hoje são resultado de uma construção histórica. Tendo em vista que as próprias unidades 
políticas possuíam organizações distintas, a configuração apresentada não foi sempre igual à que 
observamos atualmente.
As relações entre unidades políticas no âmbito internacional existem desde as interações entre as 
cidades-Estado na Grécia Antiga, como Esparta e Atenas, cerca de 500 anos a.C. Diferente da configuração 
atual, a Grécia não era um país, mas sim uma região dividida em diversas cidades-Estado, cada uma 
delas com suas características, regimes e leis específicas.
 Observação
O termo pólis também faz referência às cidades-Estado e, segundo o 
dicionário, significa uma cidade ou comunidade independente em que o 
governo é exercido por seus membros ou cidadãos livres.
A partir da conquista e da aglutinação de diversas cidades-Estado, teve início o período dos grandes 
impérios, caracterizados por sua ampla extensão territorial e pela grande influência em aspectos culturais 
e econômicos. É justamente o fim do Império Romano, citado anteriormente como exemplo de Sistema 
Internacional unipolar, que representa o início da Idade Média (entre os séculos V e XV d.C.), marcada 
pela expansão dos sistemas feudais e pelo importante papel da Igreja nas decisões políticas.
Esses feudos eram caracterizados pelo poder descentralizado, além de uma economia baseada na 
agricultura de subsistência, no trabalho servil e no predomínio das trocas entre produtos. O Estado 
moderno como o conhecemos atualmente começa a se desenhar no fim da Idade Média e início da Idade 
Moderna, contrapondo-se ao sistema feudal especialmente por apresentar uma nova centralização do 
poder e pela secularização do Estado, ou seja, a separação entre Igreja e Estado.
No entanto, é principalmente a partir do Tratado de Vestfália, em 1648, que a definição de Estado-nação 
se configura ao redor dos três principais pilares que observamos hoje: território, população e governo. 
Segundo Bresser-Pereira, é possível afirmar que os Estados-nação nasceram “na França e na Inglaterra, 
19
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
em torno das monarquias absolutas, que se constituem na Europa depois da revolução comercial, [e] da 
emergência de uma burguesia associada ao monarca absoluto” (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 157).
 Lembrete
Assinado em 1648, o Tratado de Vestfália encerrou a Guerra dos Trinta 
Anos (1618-1648) e representa um marco para as relações internacionais, 
pois reconhece formalmente os princípios de soberania e não intervenção 
em assuntos internos dos Estados.
Uma das definições mais abrangentes sobre esse ator internacional foi sistematizada por Max Weber, 
ao apontar que “Estado é uma comunidade humana que pretende, com êxito, o monopólio do uso 
legítimo da força física dentro de um determinado território” (WEBER, 1982, p. 98).
Nesses termos, “território” diz respeito à delimitação geográfica das fronteiras nacionais, dentro 
das quais o governo possui soberania e autonomia política. População, por sua vez, seria o conjunto 
de habitantes desse Estado que possui aspectos identitários em comum, como o idioma, a cultura, 
entre outros. E, por fim, o governo seria a centralizaçãodas autoridades políticas responsáveis pela 
administração pública (PECEQUILO, 2012, p. 491).
É interessante destacar que a definição weberiana de Estado inclui não apenas os conceitos de 
população, território e monopólio da violência centralizado em um governo, mas também a noção de 
legitimidade. Esse aspecto é importante, pois não basta a reunião dos demais pontos se esse Estado 
não for reconhecido pelos seus pares enquanto ator autônomo e soberano no Sistema Internacional. 
O filósofo alemão Georg Hegel sistematizou sua teoria do reconhecimento ao redor desse aspecto, 
apontando que
Existir como tal para um outro Estado, isto é, ser reconhecido por ele, é a sua 
primeira e absoluta legitimação. […] Do seu conteúdo, da sua constituição 
e da sua situação é que depende que seja verdadeiramente um Estado que 
existe em si e para si, e o reconhecimento que implica a identidade dos dois 
Estados assenta também na opinião e na vontade do outro. Assim como o 
indivíduo sem a relação com outras pessoas não é uma pessoa real, assim o 
Estado sem a relação com outros Estados não é um indivíduo real (HEGEL, 
1997, p. 301-302).
No entanto, ainda que todos os Estados sejam reconhecidamente soberanos do ponto de vista do 
direito internacional, respondendo às mesmas regras e constrangimentos, as particularidades inerentes 
a cada um – como a localização geográfica, aspectos históricos, organização política, recursos naturais, 
econômicos e militares, entre outros – podem culminar em diferentes padrões de comportamento 
no Sistema Internacional. Alguns podem apresentar uma maior proeminência na região onde estão 
localizados, sendo denominados como potências regionais, enquanto outros possuem uma capacidade 
menor ou maior de influenciar Estados mais distantes.
20
Unidade I
Por exemplo, embora tanto o Brasil quanto os Estados Unidos sejam Estados soberanos reconhecidos como 
legítimos pelos seus pares, e ainda que ambos possam convergir em determinadas áreas temáticas, cada um 
possui recursos, interesses e padrões de comportamento distintos no Sistema Internacional. Em outras palavras, 
é possível identificar certa hierarquia no que se refere ao peso desses dois Estados na política internacional.
Além disso, as diferentes vertentes teóricas existentes em relações internacionais podem atribuir 
enfoques e características distintas às relações entre os Estados. Quando o enfoque central é a anarquia 
do Sistema Internacional, é possível abordar a predisposição desses Estados em estabelecer relações 
conflituosas motivadas pela insegurança e pelo autointeresse, já que não existiria uma entidade universal 
capaz de protegê-los. Em suma, as escolhas dos Estados seriam baseadas pela tentativa de garantir sua 
própria sobrevivência e seus interesses, o que usualmente implicaria o emprego da violência.
Por outro lado, o enfoque na anarquia também pode salientar a possibilidade da cooperação, 
compreendendo que o custo de um conflito pode ser muito alto em decorrência da dependência mútua 
entre os Estados.
 Saiba mais
A seguir, obras para leitura sobre a formação dos Estados modernos e a 
evolução das relações no ambiente internacional:
HOBSBAWM, E. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 2012.
HOBSBAWM, E. A Era do Capital: 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2012.
HOBSBAWM, E. A Era dos Impérios: 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e 
Terra, 1988.
HOBSBAWM, E. Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). São 
Paulo: Companhia das Letras, 1995.
TILLY, C. Coerção, capital e Estados europeus: 990-1992. São Paulo: 
Editora da Universidade de São Paulo, 1996.
2.3 Organizações Internacionais (OIs)
Em termos gerais, os Estados predominaram praticamente como os únicos atores internacionais 
de relevância até o final do século XIX, fazendo com que as relações internacionais se limitassem às 
relações interestatais. Embora já existissem atores não estatais – ou seja, outros atores que não fossem 
os Estados –, foi apenas a partir do início do século XX que eles passaram a apresentar um novo grau de 
importância no cenário internacional.
21
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Dentre eles, destacam-se as Organizações Internacionais (OIs), definidas como organizações 
formadas voluntariamente por Estados, possuidoras de alto grau de institucionalização e que buscam 
promover a cooperação internacional, usualmente com enfoque em áreas determinadas. Elas devem 
conter um instrumento jurídico básico que estabeleça seus objetivos, estrutura e procedimentos 
operacionais. Além disso, possuem caráter permanente, contando com aparatos burocráticos, 
orçamentos e localizações físicas (HERZ; HOFFMANN, 2004). Complementando essa definição, 
Pecequilo (2012, p. 757) aponta que as Organizações Internacionais
[…] surgiram da premência de encontrar soluções para determinadas 
questões internacionais além da diplomacia tradicional, gerando espaços 
permanentes para a discussão periódica destas questões, funcionando como 
mediadoras. […] Além disso, em um cenário por princípio anárquico elas 
oferecem parâmetros de atuação aos Estados […]”.
As Organizações Internacionais surgem a partir da percepção de que a diplomacia entre dois ou 
mais Estados por vezes não era suficiente para se alcançar uma via média, tendo em vista o ambiente de 
insegurança promovido pelo caráter anárquico do Sistema Internacional. Nesse sentido, a maioria das 
OIs surge a partir de mecanismos estabelecidos entre um grupo de Estados com o objetivo de promover 
maior estabilidade nesse cenário e, com base nesse arcabouço, se expandem e se institucionalizam em 
Organizações Internacionais de caráter permanente.
Além disso, vale destacar que as OIs podem ser divididas em quatro categorias: regionais ou globais, 
a depender da disposição geográfica dos seus Estados-membros; e gerais ou específicas, dependendo 
da amplitude de seus objetivos.
 Observação
Com relação ao estudo dessas OIs na disciplina do curso de 
Relações Internacionais, Katzenstein, Keohane e Krasner (1998 apud 
BARROS-PLATIAU; VARELLA; SCHLEICHER, 2004, p. 108) realizaram um 
levantamento sobre o tipo de análise conduzida entre 1947 e 1967, 
utilizando como objeto uma famosa revista acadêmica da área, intitulada 
International Organization.
Após esse levantamento sobre o período inicial de análise das OIs, os 
autores apontaram que era possível dividir os artigos elaborados em três 
categorias: o estudo das instituições formais, que buscava analisar o que 
eram as Organizações Internacionais e o que elas faziam; o estudo dos 
processos institucionais conduzidos por essas organizações, buscando 
compreender como elas se constituem e funcionam; e, por fim, o estudo 
do papel dessas Organizações Internacionais na ordem internacional.
22
Unidade I
Apesar de serem compreendidos como os mais relevantes, os Estados nunca foram os únicos atores a 
figurar no Sistema Internacional. É possível remontar a existência de Organizações Internacionais desde 
a Liga de Delos, criada para facilitar a cooperação militar entre as cidades-Estado da Grécia Antiga. No 
entanto, ao se falar de OIs em relações internacionais, usualmente o primeiro caso analisado é o da Liga 
das Nações – tanto pelo fato de a disciplina de Relações Internacionais ter começado a ser sistematizada 
na mesma época em que a Liga foi criada, quanto por ser um dos primeiros exemplos de Organização 
Internacional de caráter global.
Criada em 1919, a Liga das Nações, também conhecida como Sociedade das Nações, tinha como objetivo 
principal evitar uma nova guerra de tamanhas proporções, como havia sido a Primeira Guerra Mundial 
(1914-1918). Ela pode exemplificar as principais características de uma Organização Internacional. Com 
sede em Genebra, na Suíça, a Liga das Nações buscava instituir um sistema de segurança coletiva para 
promover a cooperação e assegurar a paz internacional, possuindo uma estrutura burocrática e aparato 
jurídico específicos, aos quais os Estados estariam vinculados casooptassem por se juntar à organização.
No entanto, o caráter permanente das Organizações Internacionais não significa obrigatoriamente 
que elas sempre alcançam seus objetivos ou nunca sofrem rupturas ou mudanças. A eclosão da Segunda 
Guerra Mundial, em 1939, trouxe grande descrédito para a Liga das Nações, pois demonstrou que a 
organização não conseguiu cumprir seu principal objetivo. Após ser desativada em abril de 1946, seus 
arquivos, instalações e acervos foram transferidos para a OI que a substituiu, a Organização das Nações 
Unidas (ONU), criada em 1945.
As OIs podem ser compreendidas como atores das relações internacionais porque possuem relativa 
autonomia em relação aos Estados-membros, além de possuírem personalidade jurídica de acordo 
com o direito internacional público. No entanto, vale ressaltar que as Organizações Internacionais 
também podem ser compreendidas como espaço de atuação de outros atores – em sua maioria, os 
Estados-membros –, ou ainda como mecanismos para a promoção da cooperação e/ou constrangimento 
para respeito às normas por parte desses demais atores (HERZ; HOFFMANN, 2004).
É possível, por exemplo, analisar a atuação da ONU no que se refere à situação no Iêmen, mas 
também é possível observar a postura dos Estados Unidos nas reuniões do Conselho de Segurança das 
Nações Unidas (CSNU) a respeito dessa mesma temática. Na primeira leitura, a ONU é compreendida 
enquanto ator internacional que influencia as dinâmicas do Sistema Internacional. Já no segundo 
exemplo, a ONU representa o espaço de atuação de outro ator internacional; no caso, a representação 
dos Estados Unidos no Conselho de Segurança.
Por fim, apesar de o Sistema Internacional e os atores internacionais poderem ser afetados por 
forças diversas, sejam econômicas ou mesmo ideológicas, a característica anárquica do sistema 
interacional nunca se alterou, pois mesmo Organizações Internacionais de grande legitimidade e adesão 
como a Organização das Nações Unidas não possuem a capacidade de se sobrepor à soberania dos 
Estados e impedi-los de adotar determinadas atitudes. Podem apenas buscar influenciar ou constranger 
determinadas posturas.
23
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
2.4 Organizações Não Governamentais (ONGs)
Quando foram percebidos os vícios e as limitações da ação do Estado em determinadas questões – 
especialmente no que se refere à falha dos Estados em garantir a segurança e direitos de seus cidadãos em 
situações de conflito –, fica escancarada a necessidade de incluir no debate das relações internacionais outros 
atores envolvidos. Ou seja, se essas interações que ocorrem no ambiente internacional também envolvem, 
afetam ou são afetadas por Organizações Não Governamentais (ONGs), organizações da sociedade civil, 
meios de comunicação, comunidade acadêmica, entre outros, fica cada vez mais evidente a necessidade de 
também considerar o papel desses atores não estatais dentro dessa equação. De acordo com Kraychete,
A emergência de uma nova agenda internacional para o desenvolvimento, 
à qual corresponde a proposição de um novo arranjo institucional de 
sustentação, contempla a participação do mercado, do Estado e da 
sociedade civil. Nesse arranjo, a dicotômica concepção de Estado interventor 
ou regulação social pelo mercado já não alcança a complexidade que a 
regulação social passa a demandar para atender às exigências da conjuntura 
da crise socioeconômica (KRAYCHETE, 2012, p. 251).
Em outras palavras, o autor argumenta que as mudanças que ocorrem no Sistema Internacional 
trazem uma complexidade que a ação apenas do Estado não consegue acompanhar, assim como a ação 
das Organizações Internacionais, pois, por serem formadas por Estados, elas promoveriam debates em 
nível institucional, sem o contato necessário com a sociedade civil. Daí a importância dos atores não 
estatais, em especial das ONGs, nos debates que buscam formular e implementar políticas públicas. 
Segundo Weiss, Seyle e Coolidge (2013), esse crescimento possibilitou análises e atuações multissetoriais, 
que passaram a representar um novo jeito de governar.
Entre os atores não estatais de grande relevância no Sistema Internacional, destacam-se as ONGs. De 
acordo com Kraychete (2012, p. 251), enquanto as Organizações Internacionais estão mais voltadas para 
a construção de consensos em nível institucional, as Organizações Não Governamentais são importantes 
para a formulação e implementação de políticas públicas.
Como o próprio nome já demonstra, as ONGs não são formadas por representações governamentais. 
São entidades de caráter espontâneo, voltadas a questões específicas e compostas por indivíduos que 
podem ser de diversas nacionalidades. Nesse sentido, as ONGs atuam dentro, fora e também entre 
Estados, buscando “lidar com questões específicas de interesse dentro de uma determinada sociedade, 
cujas demandas não têm sido adequadamente atendidas por este Estado ou pela necessidade de chamar 
a atenção para um tópico particular” (PECEQUILO, 2012, p. 816).
Embora o número total de ONGs já no início do século XX fosse bastante expressivo, tendo em vista 
que existiam 330 ONGs em 1914, o período de maior expansão das ONGs ocorreu durante a Guerra Fria. 
De acordo com Jacobson (1989, p. 31), em 1980 existiam cerca de 6 mil ONGs internacionais no mundo 
todo. Esse crescimento é reflexo da maior transnacionalização de determinadas questões, fazendo com 
que a atuação restrita dos Estados se mostrasse cada vez mais insuficiente. Inclusive porque, em alguns 
casos, os próprios Estados eram os responsáveis por causar ou agravar esses problemas.
24
Unidade I
Os atores não estatais foram mais sensíveis às mudanças nos processos de relações sociais 
ocasionadas pelo rápido avanço tecnológico desse período, seja na área de comunicações ou 
de transporte,
quebrando o monopólio do Estado na administração e governo do Sistema 
Internacional […] [e fazendo] com que as sociedades nacionais se voltassem 
para a problemática contida nos temas que afetam o bem-estar econômico, 
a saúde física e psíquica dos indivíduos de outras sociedades além das 
fronteiras (GILPIN, 1989 apud VILLA, 1999, p. 21).
Em outras palavras, a crescente transnacionalização das relações internacionais fez crescer também 
a necessidade de atores que não estivessem restritos às fronteiras nacionais ou sob direta influência de 
governos estatais. Além das ações sob o escopo de seus componentes, as ONGs também atuam como 
auxiliares ou consultores de Organizações Internacionais e Estados.
Por exemplo, na carta de criação da ONU – a Carta de São Francisco, assinada em 1945 – estão 
previstas eventuais consultas a ONGs. Em 1948, apenas 40 delas possuíam status de consultoras 
do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, órgão coordenador responsável por formular 
recomendações e iniciar atividades relacionadas a questões econômicas e sociais, ao passo que em 
2018, mais de 5.100 Organizações Não Governamentais possuíam status de consultoras ativas do 
Conselho (ECOSOC, 2019). Isso demonstra o crescente papel desses atores no Sistema Internacional, 
especialmente pela atuação mais próxima às sociedades civis e pela qualidade dos dados reunidos 
a partir desse contato.
Como exemplo de ONG contemporânea, podemos citar o Comitê Internacional da Cruz Vermelha 
(CICV), cuja história se entrelaça com o próprio desenvolvimento do Direito Humanitário Internacional. 
Criada em 1863 com o objetivo de garantir proteção e assistência às vítimas de conflitos armados, 
a Cruz Vermelha desempenhou importante papel de pressão nos governos sobre a necessidade de 
prestar assistência médica aos feridos, independentemente de sua nacionalidade. Atualmente, o Comitê 
Internacional da Cruz Vermelha possui 18 mil funcionários em mais de 90 países, ajudando pessoas 
afetadas pela violência e por conflitos armados.
A atuação do Greenpeace também se destaca nesse sentido. Fundada em 1971 por um grupo de 
ativistas ambientais que buscavam impedir a realização de testes nuclearesem uma ilha próxima 
ao Ártico, a ONG hoje possui representação em mais de 40 países e atua em questões relacionadas 
à preservação do meio ambiente e a busca por desenvolvimento sustentável. Assim como a Humans 
Rights Watch, ONG criada em 1978 e que, atualmente, conta com mais de 400 membros ao redor 
do mundo, responsáveis por desenvolver investigações aprofundadas sobre violações aos direitos 
humanos. A Humans Rights Watch publica mais de cem relatórios e artigos sobre direitos humanos 
por ano em todo o mundo e se reúne com governos e OIs para propor políticas públicas e reformas 
em legislações.
25
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
2.5 Empresas multinacionais e transnacionais
Também se destacam como atores não estatais relevantes as empresas multinacionais e transnacionais, 
ou seja, aquelas empresas que se originam em um determinado Estado, mas que possuem afiliadas em 
outros países, o que faz com que a sua atuação não fique restrita às fronteiras de seus países-sede. 
Como exemplos, é possível citar a Coca-Cola, a General Motors e a Ambev.
Esses atores também ganharam nova magnitude nas relações internacionais após o fim da Guerra Fria, 
especialmente em decorrência do avanço tecnológico e pelo encurtamento das distâncias promovidos 
no âmbito do transporte e da comunicação.
A influência desses atores não está apenas ligada à capilaridade que possuem, ou seja, pelo fato de estarem 
presentes em diversos países, mas também ao capital econômico-financeiro que possuem, uma vez que “suas 
receitas são maiores que o PIB [Produto Interno Bruto] de muitos países industrializados […] e suas reservas são 
maiores do que as reservas de muitos bancos centrais importantes” (RAMONET, 1998, tradução nossa).
Vale destacar que os interesses dessas empresas não necessariamente correspondem aos da maioria 
da população. No entanto, o fato de possuírem grande capital econômico, inclusive utilizado para 
financiar projetos ou campanhas eleitorais, faz com que o lobby realizado por essas empresas influencie 
as decisões adotadas em âmbito estatal. Como exemplo, podemos citar
[...] as companhias de cigarro americanas nos Estados Unidos, que são contrárias 
às novas leis que limitem o fumo, e as farmacêuticas americanas e europeias 
que detêm o controle de patentes e tentam barrar a evolução de genéricos. No 
Brasil, por sua vez, podemos citar a influência da indústria automobilística e suas 
pressões para redução de impostos (PECEQUILO, 2012, p. 917).
 Observação
Lobby é o termo utilizado para denominar uma campanha realizada 
por quem busca exercer influência ou controle sobre algo ou alguém, mas 
sem se expressar formalmente.
Assim, as empresas multinacionais podem ser consideradas expressão máxima da economia 
capitalista, uma vez que internacionalizam suas atividades buscando benefícios, como proximidade de 
matéria-prima e mercado consumidor, para ampliação dos lucros, sendo que para isso transformam as 
estruturas em que penetram (MERLE, 1981).
2.6 A opinião pública
Vale destacar como ator não estatal a opinião pública. Apesar de não ser um ator com materialidade 
tão fácil de se reconhecer como uma Organização Internacional ou uma empresa multinacional, que 
possuem sedes e funcionários, a opinião pública possui grande impacto sobre as relações internacionais. 
26
Unidade I
Seja na figura dos meios de comunicação ou de um grupo de indivíduos, as ações adotadas pelos 
Estados e por todos os demais atores não estatais abordados anteriormente são, em alguma medida, 
influenciadas pela resposta que a opinião pública oferece sobre determinadas temáticas.
Ainda que os Estados possam ser considerados, em última instância, aqueles que praticam a política 
externa, a disciplina de Relações Internacionais passou a analisar com mais atenção as influências que 
os Estados sofrem para optar por uma ou outra ação no âmbito externo. As pressões sofridas a partir da 
população nacional, o apoio ou não dos meios de comunicação e das organizações civis, entre outros 
fatores, passaram a ter mais espaço nessas análises.
 Saiba mais
Leia a obra a seguir, que versa acerca do papel da comunicação na 
formação das mentalidades coletivas.
RENOUVIN, P.; DUROSELLE, J. Introdução à história das relações 
internacionais. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967.
3 TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A disciplina de Relações Internacionais é estruturada em torno de teorias e de grandes debates. As 
duas correntes teóricas mais tradicionais são o realismo e o liberalismo, que estão associadas às próprias 
origens do campo. Apesar de a área de estudos ser recente, os fundamentos das teorias podem ser 
encontrados em autores clássicos de outras áreas do conhecimento, sendo relevante lembrar o caráter 
interdisciplinar das relações internacionais. As teorias evoluem com o tempo e sofrem reedições de 
acordo com as novas temáticas e olhares empregados, enquanto outras correntes teóricas despontam e 
ganham espaço. Nesse momento, o foco é estudar as duas teorias fundacionais do campo, conhecendo 
bem seus aspectos centrais. 
Antes de prosseguir com o estudo do liberalismo e do realismo, é necessário compreender o papel 
e a importância de uma teoria. Uma teoria pode ser entendida como “um conjunto de proposta e 
conceitos tendentes a explicar fenômenos ao fazer relações explícitas entre os conceitos trabalhados” 
(MINGST, 2006, p. 111, tradução nossa). A teoria fornece o instrumental para se compreender o conjunto 
de questões a que a disciplina se propõe a abarcar, fornecendo uma espécie de mapa do caminho 
(PECEQUILO, 2016). A realidade é muito ampla e é difícil, senão impossível, considerar todas as variáveis 
que compõem um determinado problema de uma só vez.
A teoria fornece um marco para o estudo dos fenômenos, baseado em um conjunto de conceitos 
e pressupostos. Aponta-se que uma teoria não é capaz de explicar a totalidade de uma questão, mas 
fornece os instrumentos para identificar quais são os pontos centrais a serem analisados e o modo 
pelo qual o estudo deve ser feito. As teorias podem ser compreendidas como lentes analíticas. Assim, 
diferentes interpretações sobre um problema podem ser realizadas a partir da aplicação de lentes 
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RELAÇÕES INTERNACIONAIS
diversas, uma vez que cada teoria valoriza um conjunto de questões em detrimento de outro. Trata-se 
de um modo de organizar o conhecimento e facilitar a aproximação do estudioso com a realidade.
3.1 O realismo
O realismo é a primeira teoria das relações internacionais a se estruturar como tal, apesar de nascer 
como uma reação a ideias liberais que estavam em voga depois da Primeira Guerra Mundial. Para o 
realismo, o poder é a variável central para analisar e compreender a política internacional, sendo que os 
Estados são os atores relevantes do cenário internacional. Há perspectivas realistas que se voltam apenas 
ao estudo dos Estados que detêm grandes capacidades, as potências. Para os realistas, os atores são 
egoístas e há uma tendência ao conflito no Sistema Internacional, sendo a segurança uma preocupação 
central para os Estados.
Uma primeira base clássica para a teoria realista pode ser encontrada no pensamento de Tucídides, 
mais especificamente na sua obra História da Guerra do Peloponeso (2001). Ao tratar do conflito entre 
Atenas e Esparta, o autor fornece bases para conceitos que seriam utilizados pelo realismo clássico 
muito tempo depois (DUNNE; SCHMIDT, 2001; NYE JR., 2009; PECEQUILO, 2016). A guerra entre as 
cidades-Estado gregas é entendida pela disputa de poder, havendo preocupações mútuas. Nesse sentido, 
Esparta avaliava que Atenas estava conquistando mais poder e que tal dinâmica seria prejudicial aos 
seus interesses, enquanto Atenas se preocupava com a oposição de Esparta a seu fortalecimento, sendo 
um poder oposto. Desse modo, já há em Tucídides uma visão de que o poder pauta as relações sociais 
de acordo com uma lógica própria.
Enquanto havia uma certa igualdade de poder entre Esparta e Atenas, existia estabilidadenas relações. 
Porém, quando começa a se desenhar uma assimetria em favor de Atenas, produzindo um desequilíbrio, 
Esparta deveria resistir. O conflito seria parte normal da política diante dessas circunstâncias. Nessa 
situação, desenha-se o conceito de equilíbrio – ou balança – de poder que se tornará central para o 
realismo, referindo-se a uma forma de contenção mútua entre as unidades políticas soberanas, ou “um 
cenário onde a distribuição de poder restringe a preponderância absoluta de um Estado em relação a 
outros” (OTAVIO, 2018, p. 79). 
É uma situação em que a competição entre Estados soberanos em um Sistema Internacional anárquico 
gera uma contenção mútua entre os envolvidos, produzindo um equilíbrio e uma forma de estabilidade 
no cenário internacional. Trata-se de uma situação sensível, sujeita a ser afetada com a mudança de 
capacidades dos atores. Além disso, também está presente em Tucídides a concepção da autoajuda, o 
entendimento de que um ator só pode contar consigo mesmo para garantir sua sobrevivência.
 Lembrete
Equilíbrio de poder refere-se a uma situação de contenção mútua 
entre os Estados.
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Unidade I
O realismo nas relações internacionais também encontra suas bases nas proposições de Niccolò dei 
Maquiavel, um pensador florentino que causou escândalo para sua época, ao quebrar a tradição clássica 
sobre a política e o bom governo. De acordo com a visão clássica, a política é uma atividade com fim em 
si mesma, ou seja, é autotélica. É marcada pelo diálogo e constituiu a realização plena do ser humano 
como um animal que fala. Assim, não é uma técnica e está associada à liberdade e à igualdade entre as 
pessoas, pois na política são todos livres e iguais, enquanto o âmbito privado, da família, é caracterizado 
como autoritário e desigual. Além disso, a política é marcada por um senso de justiça nessa formulação, 
existindo uma série de normas que devem ser seguidas pelo governante, e pela perspectiva que deve 
corresponder a critérios de virtude, sendo boa e eficaz e visando o bem comum.
 Observação
Autotélico, de acordo com o dicionário Michaelis (2019), é “o que não 
apresenta qualquer finalidade ou objetivo fora ou para além de si mesmo”.
A polêmica de Maquiavel é justamente romper com essa tradição da política relacionada ao bom 
governo, ao justo e ao virtuoso e entendê-la como a arte do poder, a arte de conquistar e manter o 
poder. O florentino propõe analisar a realidade assim como é, rompendo com a utopia, como fica claro 
em sua obra mais conhecida, O príncipe (2006). Nesse sentido, o conflito é parte natural da política e 
a guerra é ordinária, uma vez que é um instrumento do poder. Assim, Maquiavel coloca a questão do 
poder como central e aproxima a política de uma técnica.
Para Maquiavel, o bom governante não é aquele justo e virtuoso, mas sim aquele que consegue 
cumprir seus objetivos. O governante que tem a virtù consegue subjugar a fortuna, ou, em outros 
termos, o bom governante consegue utilizar as circunstâncias, a sorte, o acaso a seu favor. Além 
disso, utiliza tanto a astúcia da raposa como a força do leão. A prudência pode ser identificada como 
uma característica central do bom governante. Maquiavel separa a moral da política, promovendo a 
concepção de que ações políticas devem ser julgadas por critérios próprios.
A língua portuguesa reconhece a existência do adjetivo “maquiavélico”, significando o que é 
ardiloso, astuto, velhaco, falso e desleal. Tal associação negativa ao nome do pensador florentino reside 
justamente no distanciamento entre moral e política e na preocupação com a eficácia da ação política, 
justificando a utilização de diversos meios pelo governante. A máxima de que os fins justificam os meios 
é atribuída a Maquiavel, apesar de nunca ter sido realmente escrita por ele. De todo modo, simboliza 
essa concepção. Está presente no pensamento do autor a questão da realização de um cálculo racional 
no sentido de que os governantes tomam suas decisões a partir da realização de um cálculo estratégico 
entre custos e benefícios, entre meios e fins.
Nesse sentido, é possível identificar um caráter trágico no pensamento de Maquiavel, pois uma 
decisão sempre tem um custo e há efeitos imprevistos, não existindo uma fronteira clara entre o bem 
e mal. É um dilema contemporâneo sempre ter que tomar decisões, sem saber se a decisão tomada foi 
realmente a correta. Cabe apontar que Maquiavel apresenta uma visão negativa da natureza humana. 
Para entender melhor a perspectiva do autor, é relevante apontar que Maquiavel vivia no contexto das 
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cidades-Estado italianas, marcadas por uma forte instabilidade política, com uma institucionalização 
muito frágil, significativo conflito social e utilização de exércitos mercenários. Assim, a preocupação 
com a manutenção do poder pelo governo era essencial e a política poderia ser aproximada de uma 
técnica, sendo que o pensador assume a função de conselheiro a partir da avaliação das relações sociais 
como elas são, e não como deveriam ser.
Como sintetiza Vallespín (2013, p. 2-3, tradução nossa), O príncipe 
[…] é um manual perfeito das técnicas de poder, e de como toda ação política 
deve ser avaliada em função de sua capacidade de obtê-lo e mantê-lo, não 
de seu ajuste mais ou menos cabal aos imperativos da moralidade. O que 
importa é o êxito na hora de buscar este objetivo, e aquele condiciona a 
natureza dos meios que sejam necessários para alcançá-lo […]. Ninguém 
soube distinguir com tanta nitidez a distância que se abre entre como 
funciona de fato a política e como gostaríamos que fosse. Sua mensagem 
não pode ser mais clara, a política é sempre estratégia, sempre se deve vê-la 
com atores que tratam de maximizar seus interesses com todos os meios a 
seu alcance […].
De todo modo, a visão negativa da natureza humana, a naturalidade do conflito, o uso do 
cálculo racional, a separação entre moral e política e, especialmente, o poder como aspecto central 
são pontos que o realismo nas relações internacionais recupera do pensamento de Maquiavel para 
construir suas bases.
Outro pensador importante para a compreensão do realismo é Thomas Hobbes, com sua obra 
O Leviatã. O autor viveu em um período de grandes agitações e transformações políticas na Inglaterra, 
o que se reflete na sensação de medo e na busca por algum tipo de estabilidade política que marcam 
seu pensamento. De fato, os biógrafos de Hobbes citam que o inglês declarava que sua mãe pariu 
gêmeos: ele e o medo (VALLESPÍN, 2011, p. 46). O ponto de partida básico do pensamento hobbesiano 
é o estado de natureza, que não é uma etapa histórica que realmente ocorreu, mas sim uma hipótese 
intelectual destinada a trabalhar as condições em que o Estado ainda não existe, em que não há uma 
autoridade central, um poder legitimamente estabelecido com capacidade de regular as relações 
entre os homens.
Nesse quadro, Hobbes insere outro elemento: as paixões naturais dos seres humanos, que incitam 
um desejo descontrolado de poder, entendido pelo autor como os meios de que alguém dispõe no 
presente para conseguir algum bem no futuro. Tal busca incansável por poder dá origem às três causas 
da guerra: a rivalidade, a desconfiança e a glória. A primeira impulsiona o conflito com a perspectiva de 
ganhar algum bem; a segunda com a ambição por segurança; e a terceira com o fim de conquistar uma 
reputação forte.
Para Hobbes, o estado de natureza é caracterizado como um estado de guerra civil permanente, de 
luta de todos contra todos. Isso não significa que os atos de violência sejam ininterruptos, mas sim que 
a ameaça do conflito é constante. Assim, a guerra “não consiste somente em batalhar, no ato de lutar, 
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mas se dá no lapso de tempo em que a vontade de lutar se manifesta de modo suficiente” (HOBBES, s.d., 
p. 52, tradução nossa). Tal situação é agravada porque na ausência de uma autoridade comum, cada um 
é detentor do direito sobre todas as coisas, pois há “a liberdadeque cada homem tem de usar seu próprio 
poder como queira, para a conservação da sua própria natureza […] e, por conseguinte, pode fazer tudo 
aquilo que seu próprio juízo e razão considere como os meios mais aptos para lograr seus fins” (HOBBES, 
s.d., p. 54, tradução nossa).
O medo, ou mais especificamente a busca pela preservação da própria vida que é inerente ao ser 
humano, faz com que se procure uma forma de sair dessa situação em que o homem é o lobo do 
próprio homem e a vida não pode ser outra que não solitária, desagradável, brutal e breve, como diria 
o pensador inglês. A saída do estado de natureza para Hobbes é a passagem ao Estado civil, um artifício 
demandado pela razão humana para fugir da insegurança constante, de ameaça à sobrevivência. A 
transição ocorre por meio de um pacto social, em que as pessoas se despojam de seu poder político, que 
é depositado no Estado, estabelecendo assim uma autoridade central, que é representada pelo soberano.
O pacto implica uma situação em que as pessoas se comprometem a submeter suas vontades e 
juízos às vontades e aos juízos do depositário do poder, o soberano. Pode-se concluir que o Estado é 
um corpo artificial criado pelo cálculo racional dos homens que vivem em constante temor pela própria 
vida e desejam assegurar a própria existência. O Estado apresenta-se então como um Leviatã, uma força 
toda-poderosa acima da sociedade civil, um deus mortal. Ressalta-se que o soberano não faz parte do 
pacto, é o depositário do poder dos homens.
Há fortes repercussões do pensamento de Hobbes, que não se preocupa com a questão dos direitos 
dos cidadãos, submetidos a essa força que é o Estado. Por essa razão, Hobbes muitas vezes é entendido 
como autoritário, um instrutor de tiranos, um pensador maldito; Hobbes não se preocupa realmente 
com a questão dos direitos e defenderia que ainda é uma situação melhor a submissão ao soberano que 
a guerra de todos contra todos.
O realismo utiliza a concepção de Hobbes para compreender o Sistema Internacional, entendendo o 
estado de natureza como uma analogia, já que em ambos não há uma autoridade central estabelecida. 
O próprio Hobbes admite que apesar do estado de natureza não ser um acontecimento histórico, o 
contexto das relações entre diferentes unidades políticas soberanas se aproxima do exercício mental. 
Assim, o pensamento hobbesiano focado no processo de construção do Estado é apropriado para 
entender as relações entre os diferentes Estados em um sistema anárquico. Desse modo, há uma 
visão negativa da natureza humana que é passada para os Estados, entendidos como atores egoístas 
que procuram maximizar seus próprios ganhos e defender seus interesses, sendo a sobrevivência o 
interesse primordial.
Com a inexistência de um ente superior aos Estados, tais atores não têm sua própria existência 
assegurada e, tal qual no estado de natureza hobbesiano, o conflito é sempre latente, ou seja, 
sua possibilidade está sempre presente e é considerada no cálculo estratégico dos atores. Há uma 
situação de desconfianças entre os Estados, que buscam aumentar seu poder e operam em um 
sistema de autoajuda considerando as relações internacionais como um jogo de soma zero, ou seja, o 
ganho de um ator representa a perda de outro. Enfatiza-se assim a dinâmica do conflito no cenário 
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internacional e a necessidade de se encontrar mecanismos de estabilidade, mas sempre considerando 
a possibilidade da guerra.
Em meados do século XX, as bases estabelecidas pelos autores citados são recuperadas para a 
formulação de uma teoria das relações internacionais, o realismo. Essa corrente teórica é a primeira que 
se estrutura no campo e surge como uma reação aos ideais que foram difundidos com o fim da Primeira 
Guerra Mundial, em 1919, sobre as possibilidades de construção de uma nova ordem internacional que 
evitasse um novo conflito, pautando um clima de otimismo. Tais perspectivas foram frustradas, como 
evidencia a ocorrência da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O realismo surge como uma reação às 
bases das proposições do período entreguerras.
Um primeiro autor de destaque é o historiador inglês Edward Carr. Apesar de não se propor a criar 
uma teoria sobre política internacional, Carr apresenta pontos centrais do realismo na sua obra Vinte anos 
de crise (1919-1939): uma introdução ao estudo das relações internacionais (2001). O autor recupera 
a centralidade do poder nas relações internacionais, configurando tanto um meio como um fim para 
a ação. Ou seja, os atores buscam poder como um meio para atingirem seus objetivos e promoverem 
seus interesses, ao mesmo tempo que conquistar e manter poder é uma finalidade. Assim, poder é um 
elemento essencial da política.
Apesar de considerar o poder como um todo indivisível na prática, Carr aponta que, para fins analíticos, é 
possível separar o poder em militar, econômico e sobre a opinião. A respeito do primeiro, o autor considera que o 
instrumento militar tem uma importância suprema, pois o último recurso nas relações internacionais é a guerra 
e sua possibilidade está sempre presente, não porque seja desejável, mas como uma possível necessidade. Por 
sua vez, o poder econômico sempre esteve associado ao poder político, existindo uma associação entre poder 
econômico e poder militar. Por fim, o historiador argumenta que o crescimento da importância do poder sobre a 
opinião pública no início do século XX representa um alargamento das bases da política, uma vez que aumenta 
o número de pessoas cuja opinião é politicamente relevante. Desse modo, há a relevância da propaganda.
Carr defende que uma filosofia realista encontra suas bases em três princípios implícitos na obra de 
Maquiavel. São eles:
• História é sequência de causa e efeito.
• Prática cria a teoria.
• A ética é uma função da política e a moral é produto do poder.
O primeiro princípio aponta que a realidade faz parte de uma evolução histórica, não existindo uma 
realidade fora do processo histórico que é marcado por uma sequência de causa e efeito. Nesse sentido, 
o estudioso da política internacional deve analisar tal processo para identificar padrões e leis no curso 
dos acontecimentos, entendendo que não devem ser feitos julgamentos de cunho moral. A moral e a 
ética são historicamente condicionadas, isto é, dependem das circunstâncias e dos interesses dos atores 
mais poderosos. Dessa forma, Carr aponta que acentuar o caráter relativo e pragmático do pensamento 
é uma contribuição do realismo. Desse modo, o pensamento não só apresenta variações de acordo com 
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as circunstâncias, mas também se dirige à execução de objetivos. A compreensão da história é essencial 
para que se possa analisar as relações sociais e, consequentemente, as relações internacionais sem a 
armadilha de supor que princípios morais são absolutos e imutáveis.
Por sua vez, o segundo ponto refere-se ao entendimento de que as teorias devem ser construídas 
a partir dos fatos, da prática, de modo a constituir uma explicação para o que acontece. Há uma visão 
contrária a tentativas de se criar uma teoria e distorcer os fatos para que eles se encaixem na formulação 
teórica. Ou seja, está em pauta analisar o mundo como ele é, e não a partir de como ele deveria ser.
Por fim, o terceiro princípio retoma a questão da moral, salientando que as políticas não são deduzidas 
a partir de princípios éticos. Pelo contrário, os princípios éticos são deduzidos das políticas a depender 
do contexto e dos interesses envolvidos, de modo que muitas vezes não passam de justificativa para 
as ações tomadas. Desse modo, retoma-se a separação entre moral e política defendida por Maquiavel. 
Ainda que Carr não negue totalmente a existência de uma moral na política internacional, o historiador 
defende que não é a mesma moral do homem comum e que no cenário internacional o poder costuma 
ter primazia em relação à moral. Os valores morais promovidos no cenário internacional são, muitas 
vezes, reflexos

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