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Teorias das Relações Internacionais O QUE É UMA TEORIA? A palavra teoria vem do grego theoros, que significa espectador ou testemunho. A teoria fornece uma espécie de mapa do caminho a compreender quais a disciplina se propõe abarcar. Fornece um marco para o estudo dos fenômenos, baseado em conceitos e pressupostos. Uma teoria não é capaz de explicar a totalidade. Podem ser compreendidas como lentes as análises do objeto estudado. Assim, diferentes interpretações sobre um problema podem ser realizadas. Também, evoluem com o tempo e sofrem reedições de acordo com as novas temáticas. Existe diferença entre história e teoria social. Enquanto a primeira busca explicar cada conjunto de eventos em seus próprios termos, a teoria social busca explicações e compreensões mais gerais e aplicáveis a diversos casos. 1. Debate teórico nas relações internacionais Antigamente, os assuntos que extrapolavam as fronteiras nacionais – em especial a guerra e a paz – eram abordados somente por diplomatas e militares, distantes do resto da população. Embora as temáticas da guerra e da paz no âmbito internacional sejam bem antigas, podendo ser remontadas à Grécia Antiga, o assunto só foi uma disciplina em 1919, quando foi criado o primeiro Departamento de Relações Internacionais, na Universidade de Gales, no Reino Unido. Isso ocorreu após a humanidade vivenciar os horrores da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Antes disso, os assuntos de relações internacionais eram abordados de modo secundário por outras áreas do conhecimento, como ciência política, economia e sociologia. Observação Com o fim das Guerras Napoleônicas (1803-1815), os Estados europeus se reuniram no Congresso de Viena com o objetivo de redesenhar o ordenamento político após a derrota da França. Atuariam de modo que nenhum país se tornasse tão poderoso a ponto de dominar os outros. No entanto, essa constante insegurança e o fato de o Congresso de Viena ter excluído alguns Estados, tornou a Europa uma espécie de barril de pólvora. Assim, a morte do arquiduque austríaco Francisco Ferdinando, em 1914, acabou desencadeando os conflitos que levaram à Primeira Guerra Mundial. O debate inicial das RI tinha dois lados opostos: o liberalismo, que defendia transformar o mundo a partir de uma visão normativa do que seria arealidade, baseada especialmente na possibilidade de cooperação; e o realismo, que buscava analisar o mundo tal como ele era, buscando compreender as causas da guerra e garantir a estabilidade internacional em termos de equilíbrio de poder. Entretanto, com o passar dos anos foram se alterando. Destacam-se as próprias revisões do realismo e do liberalismo – o neorrealismo e neoliberalismo –, as quais marcaram um forte debate entre si. Assim se sucedeu também com a escola inglesa das relações internacionais, o materialismo histórico e a teoria do sistema-mundo, bem como a Teoria da Dependência. Já o segundo debate das RI – usualmente conhecido como tradicionalismo versus behaviorismo – esteve mais preocupado com os métodos científicos das pesquisas. Em 1950 e 1960, sendo caracterizado pelas discordâncias entre os tradicionalistas, que insistiam na importância da história para as análises, e os behavioristas, que apostavam em uma metodologia semelhante à da ciências exatas. O terceiro debate é intitulado de neo-neo, neorrealismo e o neoliberalismo. Em 1970, a necessidade de atualizar as bases clássicas, mas perdura e ganha novos contornos com o fim da Guerra Fria. O quarto e último debate foi em 1980, entre racionalistas e reflexivistas – ou relativistas. Debate acerca da forma de se estudar um tema. Enquanto o primeiro grupo buscava julgar de modo objetivo os comportamentos dos atores, os reflexivistas desconfiavam dos modelos científicos e criticavam a formulação de verdades objetivas sobre o mundo social, defendendo a interpretação histórica e textual. Alguns intitulam-no como positivismo versus pós-positivismo. Cronologia de obras teóricas da área: • 1910: Norman Angell publica a obra A grande ilusão, a qual, apesar de não se propor a desenvolver uma teoria das relações internacionais, contribui para a formulação dos pressupostos do liberalismo. • 1919: após o fim da Primeira Guerra Mundial, é criado o primeiro Departamento de Relações Internacionais na Universidade de Gales, no Reino Unido. • 1939: Edward Carr publica a obra Vinte anos de crise (1919-1939): uma introdução aos estudos das relações internacionais. Em 1945, termina a Segunda Guerra Mundial e se inicia a Guerra Fria entre Estados Unidos e a antiga União Soviética. • 1946: Robert Martin Wight publica a obra A política do poder, centrando esforços no debate acerca do comportamento internacional dos Estados e do relacionamento entre eles. • 1948: Hans Morgenthau sistematiza a teoria realista das relações internacionais com a obra A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz, apresentando os seis princípios do realismo. • 1959: Kenneth Waltz publica a obra O homem, o Estado e a guerra: uma análise teórica, na qual afirma que para se compreender as causas da guerra seria necessária uma análise multinível, do micro para o macro. • 1962: Raymond Aron publica a obra Paz e guerra entre as nações, retratando a política internacional nas figuras do diplomata e do soldado. • 1977: Hedley Bull publica a obra A sociedade anárquica: um estudo da ordem na política mundial, apresentando o conceito de sociedade internacional presente na escola inglesa. • 1979: Kenneth Waltz publica a obra Teoria da política internacional, aprofundando e amadurecendo seu argumento neorrealista sobre os constrangimentos estruturais. • 1981: Robert Gilpin publica a obra Guerra e mudança na política internacional, incluindo a dimensão econômica às abordagens realistas. • 1987: Stephen Walt publica a obra As origens das alianças, expoente do realismo defensivo, que aborda o conceito de equilíbrio de ameaça. • 1988: Robert Keohane e Joseph Nye publicam a obra Poder e interdependência: a política mundial em transição. • 1992: Carlos Escudé publica a obra Realismo periférico: bases teóricas para uma nova política externa argentina. • 1993: Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto publicam a obra Dependência e desenvolvimento na América Latina. • 1994: Fred Halliday publica a obra Repensando as relações internacionais, a qual discute o sistema pós-Guerra Fria e propõe uma abordagem marxista para as relações internacionais. • 1997: Andrew Moravcsik publica a obra Teoria liberal da política internacional, buscando reafirmar a importância dos pressupostos liberais na área de relações internacionais. • 2000: Theotonio dos Santos publica a obra Teoria da dependência: balanço e perspectivas, analisando a situação socioeconômica da América Latina desde a década de 1960 até os dias atuais, com foco nas relações de dependência em relação ao centro. • 2001: John Mearsheimer publica a obra A tragédia da política das grandes potências, expoente do realismo ofensivo. REALISMO Primeira abordagem a se estruturar como teoria das RI, ainda que tenha surgido como reação aos ideais liberais. Para o realismo, o poder seria a variável, e para analisar/entender a política internacional, sendo os Estados os atores centrais. Nesse sentido, ao compreender que os Estados são egoístas e existe uma tendência ao conflito, tem como cerne o estudo das causas da guerra e as formas de se promover a estabilidade. A base clássica da Teoria Realista, sendo a primeira, está no pensamento de Tucídides, na obra História da guerra do Peloponeso. Ao tratar do conflito entre as cidades-Estado gregas de Atenas e Esparta, que ocorreu em 431 e 404 a.C. O autor fornece bases que seriam utilizados pelo realismo muito tempo depois. Esse conflito ilustra o conceito de equilíbrio de poder – ou balança de poder – que se tornará central para o realismo, referindo-sea uma forma de contenção mútua entre as unidades políticas soberanas. O realismo também encontra base nos escritos de Nicolau Maquiavel (1469), pensador florentino famoso pela autoria de O príncipe. Nesse período a Itália não existia, estando dividida em distintas cidades-Estado. Para o autor essa falta de unidade que poderia levar à sua dizimação, destacando a importância da concentração e conquista do poder. Maquiavel disserta a romper com o poder da Igreja – que antes nomeava os reis –, a fim de promover maior estabilidade. Dessa forma, a separação entre moral e política, o uso do cálculo racional e, o poder como aspecto central são pontos cruciais. Por fim, outro autor clássico realista é Thomas Hobbes (1588), viveu no contexto da guerra civil inglesa, o que o motivou a escrever a obra Leviatã. Aborda a sociedade e o governo legítimo, sendo considerado um dos exemplos mais antigos e influentes da teoria do contrato social. Em vista que o estado do indivíduo era hostil e egoísta, para haver estabilidade teria de haver um contrato social, que os indivíduos cederiam parte de sua liberdade a esse Leviatã, figura que representaria o governo central, em troca de segurança. A busca pela autopreservação levando a um estado de guerra latente. Isso não significa que os atos de violência sejam ininterruptos, mas sim que a ameaça do conflito é constante. É importante ressaltar que Hobbes escreve após a assinatura do Tratado de Vestfália (1648), portanto, o debate não é mais sobre unificação de cidades-Estado, mas sim a de concentrar o poder em uma figura de autoridade. 1. Realismo nas relações internacionais Edward Carr apresenta pontos centrais do realismo em sua obra Vinte anos de crise (1919-1939): uma introdução aos estudos das relações internacionais. Retoma a centralidade dos Estados para analisar as relações políticas e critica a visão de que o estabelecimento da Liga das Nações resultaria na eliminação da violência, em vista as divergências de interesses. Seria somente uma forma de legitimar a intenção dessas grandes potências em continuarem ocupando os lugares. Carr divide o poder político em três categorias para fins analíticos: poder militar; poder econômico; e poder sobre a opinião pública. Outro autor foi Hans Morgenthau (1904), na obra A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz. Considera que a política deve ser pragmática e possuir bases empíricas, considerando um erro tentar reduzir a política internacional a valores morais, marginalizando a questão do poder. Considerado o pai fundador do realismo clássico nas relações internacionais, Morgenthau formulou seis princípios do realismo: • A política, assim como a sociedade, é governada por leis objetivas que têm origens na natureza humana. • O interesse é definido em termos de poder. • O interesse definido como poder é universalmente válido, mas não tem significado fixo e permanente. • Princípios morais universais não podem ser aplicados de modo abstrato às ações dos Estados. • Não se deve identificar aspirações morais de um Estado com leis morais que governam o universo. • A autonomia da política diante de outras esferas. Por fim, Raymond Aron escreveu a obra Paz e guerra entre as nações. O autor resgata a noção da guerra como um ato social e define as RI como políticas que reivindicam o direito de fazer justiça e de escolher entre a paz e a guerra. Em meio ao contexto de Guerra Fria, aponta que as RI podem ser retratadas por duas figuras: o diplomata, que representa a gramática da cooperação; e o soldado, que representa a gramática da competição. Ademais, o conceito de “paradoxo da política internacional”, mostra o choque de vontades que constitui o relacionamento entre Estados soberanos, que cria ou mantém a inquietação geral e as suspeitas recíprocas. Paradoxo da política internacional possui o mesmo significado que dilema de segurança. A fim de sintetizar a teoria realista das relações internacionais, REALISMO: Núcleo de interesse: Segurança Unidades-chave: Estados Conceitos centrais: Anarquia, poder, interesse nacional, equilíbrio de poder Motivação dos atores: Interesse nacional, segurança, poder (também como fim) Perspectivas: Pessimista, crescimento do poder nacional 2. Críticas e reformulações na Teoria Realista Questionada a partir dos anos 1950 e continua sob pressão desde então. Alguns analistas questionaram que a teoria realista fosse universal para explicar todas as dinâmicas e interações interestatais, tendo em vista a variedade de recursos e capacidades de cada Estado, sendo então falha. Ganhou força com a revolução behaviorista, a qual marcou o segundo debate das RI. Destacavam a necessidade da empiria quantitativa, apontando que os métodos que permitiram desvelar os mistérios da estrutura atômica podem revelar a dinâmica do comportamento social. As guerras eram causadas simplesmente porque os indivíduos eram egoístas? Como desconsiderar a existência de interesses mútuos e o cumprimento de regras? Entre os autores que criticaram podemos destacar Joseph Nye, que escreve em um momento de globalização. Em sua obra Compreender os conflitos internacionais: uma introdução à teoria e à história. Ele concorda que existe uma hostilidade, na qual a busca por equilíbrio de poder culmina em um dilema de segurança. No entanto, isso não anularia a responsabilidade pelas escolhas morais. Também critica o foco no âmbito militar, destacando que existem problemas que não se resolveriam apenas por esse meio. A partir dessas e outras críticas, houve um processo de revisão da teoria, conhecido como neorrealismo. LIBERALISMO O surgimento e a construção está contexto dos eventos da Primeira Guerra Mundial. O objetivo das primeiras análises teóricas era compreender o fenômeno da guerra e evitar que ela ocorresse novamente. Baseia-se em discussões e ideias de autores clássicos de áreas: filosofia, direito, ciência política e economia. A Teoria Liberal nas RI vem do liberalismo clássico. Originado no final do século XVII e ao longo do século XVIII, impulsionaram as revoluções liberais: a Revolução Gloriosa, de 1688, a Revolução Americana, de 1775, e a Revolução Francesa, de 1789 a 1799. Os desse período conformam o que ficou denominado de iluminismo. Os pensadores e movimentos iluministas criticavam o regime monarquista absolutista. Visavam, portanto uma nova classe social – a burguesia – e o seu interesse pela valorização da propriedade privada. Os principais aspectos pelo pensamento iluminista eram: • O uso do método científico na busca da verdade, em oposição aos dogmas religiosos. • O racionalismo. • A livre iniciativa dos indivíduos. • Liberdade econômica e política. • Predomínio dos ideais burgueses. Para o liberalismo, todos os seres humanos seriam racionais. O governo deveria prover condições para o alcance do progresso e liberdade para os indivíduos. É uma doutrina do Estado limitado em relação aos poderes, como às funções. O poder é limitado pela lei/constituição, que garante os direitos e a separação dos poderes. As funções do Estado liberal devem ser limitadas à garantia da livre iniciativa econômica e da propriedade privada. É, portanto, um Estado mínimo. John Locke, considerado o pai do liberalismo político é considerado um contratualista, pois discute que a sociedade civil é constituída a partir da formalização de um contrato entre os indivíduos, só que nesse caso homens viviam em perfeita liberdade e igualdade. Considera o contrato social como uma maneira que encontraram para melhor administrar as relações humanas. Mesmo no estado de natureza, os indivíduos já teriam direitos naturais. A partir do pacto social teriam que garantir a liberdade e a propriedade privada, direitos que os indivíduos já possuíam, mas que não eram totalmente assegurados. Uma das principais obras de Locke sobre o contrato social é o Segundo tratado sobre o governocivil, de 1689. Outro autor contratualista do liberalismo clássico é Jean-Jacques Rousseau. Em sua obra O contrato social, de 1762, o autor afirma que o indivíduo é bom por natureza, mas a sociedade o corrompe. Conhecido como o teórico da soberania popular, afirma que a vontade geral é indivisível e inalienável. A participação de todos os indivíduos no exercício do poder é o que garante o limite do poder do Estado. No campo da economia, um dos influenciadores do liberalismo foi Adam Smith (1723), que defendia a livre concorrência entre os mercados e a intervenção mínima do Estado na economia. Ainda podemos citar: David Ricardo, para quem o crescimento depende da acumulação de capital, ou seja, lucro; e Jean-Baptiste Say, que fala da mão invisível do mercado na regulação da economia. O papel do Estado é apenas o de proteger os indivíduos contra ameaças externas e contra aqueles que não respeitem as leis internas. Por fim, teoria liberal sobre a importância da lei e da universalização de princípios entre os Estados e a comunidade internacional: Immanuel Kant (1724) e sua obra A paz perpétua, de 1795, tinha como projeto estabelecer uma paz perpétua entre os povos europeus, e depois levá-la ao mundo. Para Kant, haveria a necessidade do respeito às regras morais para garantir modos justos e corretos de agir – o que ele denomina de imperativo categórico, regras tanto para o nacional e internacional. Essa análise kantiana contribuiu para a elaboração de leis e tratados que formam, atualmente, os direitos humanos. Ao compreenderem que de forma coletiva seus interesses têm maior probabilidade, os indivíduos tendem a preferir cooperação em detrimento da rivalidade. 1. Liberalismo nas relações internacionais A obra considerada expoente da teoria liberal data de antes do surgimento da disciplina Relações Internacionais: A grande ilusão, publicada em 1910 por Norman Angell. Discorre sobre os aspectos negativos da guerra, principalmente para o comércio. O objetivo do autor é buscar soluções para a corrida armamentista entre os Estados europeus, mas que fossem diferentes da opção utópica do desarmamento ou do foco nos argumentos morais. Contrapõe a doutrina da prosperidade vinculada, unicamente, ao poder. A ideia, quase universal, de um poder militar para alcançar o progresso econômico representaria ilusão. Angell assinala que os valores públicos estariam mais seguros em países militarmente mais fracos. O conhecimento de finanças dos capitalistas alinha-se a esse entendimento. Os ensinamentos de Norman não foram seguidos, anos depois da publicação de sua obra, eclodiu a Primeira Guerra Mundial, em 1914. Após quatro anos de conflito, novas ideias, agora já conformando o que denominamos de Teoria Liberal das Relações Internacionais. Em principal, os ideais estadunidenses exerceram conceitos nas análises da recém-criada Relações Internacionais. A primeira versão dessas análises foi denominada idealismo utópico – devido ao entendimento positivo, e por vezes idealizado, acerca das relações entre os Estados – ou mesmo idealismo wilsoniano, por basear-se nos preceitos defendidos pelo então presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson. O presidente estadunidense realizou um discurso para o Congresso Americano, que ficou conhecido como o Programa dos Quatorze Pontos. O objetivo era indicar alguns aspectos para tornar as relações mais harmoniosas. Quando as grandes potências vencedoras da guerra se reuniram na cidade francesa para debater sobre a reorganização da Europa depois do conflito e as penalizações para os países perdedores, principalmente a Alemanha. As ideias de Wilson influenciaram as discussões da Conferência de Paris. As decisões foram organizadas no Tratado de Versalhes. Alguns dos pontos assinalados por Woodrow Wilson: • Reconhecimento e restabelecimento das fronteiras territoriais do pré-Guerra. • Abolição da diplomacia secreta (as decisões e acordos entre os Estados deveriam ser públicos). • Liberdade de navegação nos mares. • Eliminação das barreiras econômicas (adoção do livre comércio). • Redução dos armamentos. • Criação de uma organização internacional. A Liga das Nações (ou Sociedade de Nações), que teve sua criação aprovada no dia 28 de abril de 1919, foi a materialização desse ponto. A primeira organização intergovernamental universal de caráter permanente. Suas funções por meio de mecanismos jurídicos, era da cooperação econômica, social e humanitária e da segurança internacional. Conceito de segurança coletiva, uma ameaça, e também a todos. A Liga das Nações enfrentou diversas dificuldades e entraves para o seu funcionamento, sendo a não participação de duas grandes potências, os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), mas sua criação foi importante para dar credibilidade a outras OIs. Além do objetivo em volta da Liga das Nações, aspectos nas ideias wilsonianas: a promoção da democracia e a autodeterminação dos povos. Anarquia: ausência de um governo mundial capaz de controlar as relações. Os Estados não são um instrumento de poder, mas uma entidade constitucional, a qual assegura a aplicação da lei para a garantia dos direitos. Um comportamento belicoso podem ameaçar esses direitos. Consequentemente, torna-se mais vantajoso, dentro das possibilidades, manter um ambiente internacional pacífico. Três principais fatores liberais que contribuem para a cooperação: • O estabelecimento de regimes democráticos. • A preocupação com o comércio. • O papel das instituições internacionais. Essa ideia que relaciona a democracia com a paz foi influenciada diretamente pelo trabalho de Immanuel Kant e seu conceito de federação pacífica. Para o filósofo, em governos republicanos o interesse coletivo é o que determina as decisões e o controle do poder. O importante comércio internacional para o desenvolvimento econômico das sociedades modernas. Os governos observariam que para garantir maiores ganhos deveriam adotar um comportamento menos belicoso para mais relações. Uma relação de dependência mútua. Já a existência de instituições internacionais estabelecem regras e normas para o convívio, além de serem estruturas que facilitam o diálogo e o compartilhamento de valores. Principais pontos da Teoria Liberal das Relações Internacionais, LIBERALISMO: Núcleo de interesse: Cooperação internacional Unidades-chave: Estados Conceitos centrais: Anarquia, regimes democráticos, autodeterminação, comércio e instituições internacionais Motivação dos atores: Interesses individuais que geram ganhos universais Perspectivas: Otimista; alcance da cooperação internacional 2. Primeiras reformulações na Teoria Liberal Com os acontecimento após Primeira Guerra Mundial, o caráter utópico e idealista das primeiras análises, foi criticado, com o objetivo de demonstrar que existiam outras complexidades. Para o liberalismo clássico países com regimes democráticos seriam menos propensos a guerras. Considerada ingênua, essa linha argumentativa foi criticada por um conjunto de autores denominados liberais do entreguerras ou internacionalistas do entreguerras. Defendem que não podemos esperar que a opinião pública sempre seja contrária à violência ou à guerra. No entanto, seria possível contornar essa tendência, ao educar os cidadãos e os tomadores de decisão. Também criticaram o papel do livre comércio para assegurar a paz. O próprio Norman Angell já buscava distanciar-se dessa temática, principalmente daqueles que indicavam o desarmamento total dos países. Diante da compreensão de que os conflitos poderiam ocorrer, mesmo em um contexto de interdependência econômica pretendiam discorrer sobre os meios capazes de evitar que os Estados optassem pelo uso da força. Um dos principais teóricos que tentou reformular a relação entre o comércio e a cooperação foi John Hobson. Para Hobson, os benefícios do livre comércio não são universais,é necessário que haja uma regulação, controle das relações comerciais internacionais. Assim, observamos que há uma mudança de um liberalismo idealista, baseado na ideia de progresso da humanidade, para um liberalismo intervencionista. Vale ressaltar a análise de uma terceira versão do liberalismo contemporâneo: a Teoria Liberal da Política Internacional, de Andrew Moravcsik. Realizou uma abordagem bottom-up (de baixo para cima), o ponto de partida da análise é o indivíduo, ou os grupos, principais atores na política. Dotados de racionalidade, eles definem seus interesses, e buscam alcançá-lo por meio da política. Desse modo, o indivíduo é considerado possuidor de direitos e necessidades que são anteriores e exteriores ao Estados. A diferença entre o liberalismo democrático/republicano e a teoria do bottom-up, é que a última deve ser compreendida como um liberalismo kantiano revisitado. As relações estabelecidas entre os Estados (pacífica, conflituosa e conflituosa com a possibilidade de cooperação) vão ser determinadas a partir das externalidades (positivas, negativas ou compartilhadas) que elas geram para os indivíduos e grupos sociais nacionais. ESCOLA INGLESA Ganhou destaque nas relações internacionais em 1970, como uma abordagem intermediária (middle course) de análise, posicionada entre os paradigmas realista e liberal. Os anos 1950 e 1960, os debates das relações internacionais enquanto disciplina eram dominados pelo meio acadêmico norte-americano. A partir desse contexto, um grupo de intelectuais do pensamento britânico, se juntou para constituir o Comitê Britânico para a Teoria da Política Internacional. Conceitos-chaves da área, como: anarquia internacional, ordem, valores, sociedade e sistema. Por um lado, assim como os realistas, aceitam a existência da anarquia e do equilíbrio de poder. Por outro, retomam a defesa, feita pela tradição liberal, da necessidade de instituições, valores e regras, para reger as interações estatais. Destacando a importância do direito internacional, bem como da diplomacia – definida como a arte da comunicação entre Estados em prol da negociação –, das alianças – que buscariam efetivar interesses comuns –, e também da própria guerra – enquanto meio de decisão final para divergências. Conforme visto, o behaviorismo foi um método de 1950, propunha que os indivíduos, isolados ou em grupos, tendem a agir de maneira padronizada. Buscava descrever, explicar e, prever o comportamento humano futuro. Apesar das críticas como incompleto para o estudo das ciências sociais, como consequência do questionamento, novos ramos da abordagem behaviorista conquistaram um lugar permanente no conjunto das discussões sobre a disciplina, como a análise de política externa (APE), os estudos da interdependência e da economia política internacional. A partir disso, Hedley Bull desenvolveu um trabalho essencial no final dos anos de 1970, A sociedade anárquica. Procurando resgatar a primazia dos Estados no sistema internacional. As forças dessa linha de pensamento são claras: forte resistência ao imediatismo, ênfase na relevância dos constrangimentos e da ordem no sistema internacional, e uma fundação sólida dos processos na história. 1. Três tradições da política internacional A escola inglesa é compreendida como uma tradição de diálogos, marcados pelo seu foco nas três principais tradições recuperadas na obra A política do poder, de 1946: realista (hobbesiana), universalista (kantiana) e racionalista (grociana). A Realista, considera a política internacional como um estado de guerra e descreve as relações internacionais como um cenário de luta. Já a Universalista, assume que a natureza política internacional reside nos vínculos sociais transnacionais entre os seres humanos. Um mundo ordenado por regras é a essência do racionalismo de Hugo Grotius, e um dos pensamentos centrais da obra de Hedley Bull. Esse destaca que a tradição grociana seria um caminho do meio – daí a escola inglesa ser posicionada como uma abordagem intermediária – entre as perspectivas realista e universalista. Não é a guerra que melhor representa a atividade internacional, mas o comércio. A obra de Wight conclui que as grandes potências, ao contrário do que previa Kant, continuariam a buscar a preservação de interesses particulares em detrimento de interesses conjuntos, impossibilitando a criação de uma comunidade universal, ou mesmo impedindo a primazia das instituições internacionais sobre a soberania estatal. Ele aponta que a ideia de direitos das nações – posteriormente compreendido como direito internacional – não apenas se afastava do direito natural como também passou a significar o direito entre as nações, e não uma lei comum aplicável a todas as nações. Enfoque metodológico da escola inglesa: Poder e interesse nacional: Realismo Regras, princípios, direito internacional: Racionalismo Direitos humanos, comunidade internacional comum a todos: Liberalismo cosmopolita Puderam reconhecer que a soberania era um atributo de todos os Estados e a troca de reconhecimento dela uma regra fundamental para a coexistência dentro do sistema de Estados. Definiram, também, corolários como os princípios da não intervenção, igualdade dos Estados. Wight, além disso, diz os diversos tipos de poder, como: potências dominantes, potências mundiais e potências menores, além de discorrer sobre o poder terrestre e o poder marítimo. Em seguida, busca considerar a sociedade que eles compõem, destacando quatro: é única – composta das demais sociedades mais organizadas formadas pelos Estados; sempre possui um número pequeno de membros; seus membros são mais heterogêneos; e seus membros são imortais. Sob certos aspectos, uma relação de equilíbrio de poder se assemelha a uma relação deliberada de contenção nuclear, embora existam algumas particularidades. 2. Principais conceitos Sob a influência de Wight e Bull, a escola inglesa trabalha três conceitos para o estudo das relações internacionais: ordem internacional; sistema internacional; e sociedade internacional. 2.1 Ordem internacional Duas ideias decorrem do conceito de ordem internacional. A primeira gira em torno da relação de ordem com a anarquia internacional, em que se admite a existência da anarquia, mas com a possibilidade de ser influenciada por meio da criação de instituições compartilhadas. A segunda, em consequência daquela, é o forte caráter normativo desse campo de pensamento que defende uma premissa fundamental para o relacionamento entre os atores do sistema internacional: a evolução desse sistema para uma sociedade de Estados pressupõe que, por serem soberanos, não há necessidade de se submeterem a um poder superior. Assim, salienta-se que, também para a escola inglesa, a soberania é um elemento intrínseco e essencial do Estado moderno. A ordem internacional é definida como uma ordem entre os Estados, ou seja, a compreensão. É importante notar que Bull, em sua obra, faz uma distinção entre os conceitos de “ordem internacional” e de “ordem mundial” – esta última abrangendo todos os objetivos da vida social da humanidade em seu conjunto Dessa forma, a ordem mundial englobaria uma escala internacional – no sentido das relações entre os Estados –, mas também uma escala local – a ordem interna de cada um desses Estados. 2.2 Sistema internacional A ordem mundial, portanto, é o ponto de partida para o conceito de sistema internacional. Origina-se a partir de relações sistemáticas entre um grupo determinado de Estados. Nota-se que, para além do mero contato entre si, é preciso haver suficiente impacto mútuo. A simples interação entre essas unidades políticas, em busca de interesses e da manutenção de sua soberania, é uma dinâmica aceita tanto por realistas como por pensadores da escola inglesa. É possível superar essa dinâmica, levando à construção de uma agenda comum de valores e normas. Surge,dessa forma, o conceito de sociedade internacional, definida como uma sociedade de Estados na qual existe uma real convergência de valores, capaz de uni-los em torno de instituições e princípios comuns. 2.3 Sociedade internacional Século XX, afirmando que se aproximou daquela vista nos séculos XVI e XVII – por um lado, por conta das duas guerras mundiais e, por outro, por retomar as interpretações universalistas, a fim de transcender o sistema de Estados em desordem. Para além dos Estados e nações, passou-se a postular que as organizações internacionais, grupos não estatais e indivíduos também participavam dela. Bull critica a priorização de organizações internacionais como a Liga das Nações e a ONU, marginalizando outras instituições com papel central na manutenção da ordem internacional. Fica claro, portanto, que pode existir um sistema internacional sem necessariamente haver uma sociedade internacional; mas não uma sociedade sem um sistema. Assim, ela surge no momento em que os Estados têm consciência da existência de interesses compartilhados e valores comuns, agindo de acordo com essa percepção. Para a escola inglesa, o poder e os interesses nacionais têm tanta importância quanto as normas e instituições. Eles não estão preocupados em explicar os fenômenos internacionais de maneira científica, como se propuseram os behavioristas. Sua abordagem histórica, jurídica e filosófica visa explorar a complexidade do mundo contemporâneo de maneira mais abrangente e humanista. Dessa forma, a escola inglesa distancia-se dos preceitos do cosmopolitismo. Não há, portanto, qualquer sinal de que os Estados soberanos estejam inclinados a se sujeitarem a um governo mundial fundado no consentimento, simplesmente por não reconhecerem essa necessidade. Lembrete O behaviorismo identifica padrões no comportamento humano, com base no método científico. O Estado trata-se de unidade política soberana e autônoma. A ordem mundial é um sistema político global composto por toda a humanidade. A ordem internacional é a ordem de Estados, na qual se desenvolvem as relações internacionais. O sistema internacional é o conjunto de Estados que interagem, causando e sofrendo efeitos mútuos. A sociedade internacional é a sociedade de Estados que compartilham um conjunto de regras e valores (espaço normatizado), para os quais convergem suas expectativas. Mesmo sendo considerada como uma via intermediária, a escola inglesa não está livre da crítica de enfatizar a visão ocidental, sobretudo europeia. NEORREALISMO O realismo foi principal corrente teórica das RI após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), sendo considerado o vencedor do primeiro debate da área. A eclosão de uma nova guerra enfraqueceu a perspectiva liberal, demonstrando que a existência de relações econômicas e comerciais não era suficiente para evitar um conflito. Entre as criticas, a percepção que a natureza humana poderia não ser uma resposta suficiente para as guerras ocorrem, bem como a falta de cientificidade do realismo. Em um momento que à segurança militar ganhava mais importância (GUERRA FRIA) o neorrealismo pode ser compreendido como uma reinterpretação da Teoria Realista clássica das RI. Considera as ações dos Estados influenciadas pela estrutura anárquica do sistema internacional, que os limita e constrange, dentro de cada particularidade, causando certas regularidades. Por esse motivo, alguns autores também se referem como realismo estrutural. Lembrete: A anarquia internacional significa a ausência de uma entidade supranacional capaz de impor aos Estados. Entre os principais autores, destaca-se Kenneth Waltz (1924 EUA), publicou a obra O homem, o Estado e a guerra, qual afirma que para se compreender as causas da guerra seria necessária uma análise multinível, do micro para o macro. A obra se aproxima de modelos positivistas, defendendo que a raiz de todo o mal é o homem, sendo ele a raiz do mal que é a guerra. Então a solução seria um esclarecimento do indivíduo ou um reajuste no seu comportamento psicossocial. Argumenta que causas da guerra a partir da natureza humana não está equivocada, mas é reducionista, pois, apesar de já existirem ajustes morais e sociais, as guerras continuam ocorrendo. Além, destaca outros pensadores, como Platão e Kant, para abordar a importância de se estudar a sociedade de conjunto aos tipos de governo, uma política ruim torna os homens ruins. Essa interpretação a partir da estrutura interna dos Estados não está equivocada, mas é incompleta, pois países democráticos ou organizados em sistemas republicanos também entram em guerra. A busca pela sobrevivência do Estado está relacionada à busca por equilíbrio de poder, tanto defensivo, quanto poder ofensivo. A cooperação ocorreria pontualmente e sem a capacidade de apagar a rivalidade. Retoma-se a desconfiança anterior, só poderia contar consigo mesmo para garantir sua segurança. Esse sistema internacional no qual Estados interagem possuem três princípios: ordenamento; diferenciação; e distribuição. O ordenamento seria ser descentralizado e anárquico, já que não existe uma instância acima. Ainda que busquem a autopreservação, existe um aspecto no qual eles divergem: as capacidades para alcançar esse objetivo e garantir seus interesses. Waltz, defende que um sistema bipolar seria mais estável do que um multipolar, como argumentava Morgenthau. Os Estados considerados pequenos possuem pouca relevância na perspectiva do autor, que tenderiam a se aliar às grandes potências, a fim de se autopreservar. Por fim, enquanto o realismo clássico defende que o governante deve conduzir suas políticas externas de acordo com o interesse nacional, o neorrealismo compreende isso como algo dado. Pois a estrutura internacional exige esse comportamento. WALTZ - estrutura e resultados Estrutura internacional (estatais e relações) - Resultados internacionais (efeitos da competição estatal) Anarquia internacional → Balança de poder Estados como “unidades similares” → Reincidência e repetição internacional Capacidade estatal desigual → Guerra, conflito internacional Relação entre grandes potências → Mudança internacional 1. Retomada Waltz escreveu a obra Realismo estrutural após a Guerra Fria, em 2000, com o objetivo de refletir sobre a validade de sua teoria. Argumenta que, apesar de algumas mudanças na capacidade dos armamentos – sobretudo nuclear – e na polaridade do sistema internacional terem sido importantes, elas não transformaram o sistema. Logo, não foram mudanças capazes de tornar o neorrealismo uma abordagem obsoleta. Se o sistema passasse por transformações, o passado deixaria de servir como guia para o futuro. Esse é um argumento fundamental para a perspectiva do neorrealismo. Mas reconhece que importantes mudanças foram induzidas por transformações na distribuição do poder e na tecnologia. As principais críticas à perspectiva realista estrutural se embasam sobre a proliferação da democracia, da interdependência e das instituições para justificar a ocorrência de transformações na política internacional. É sobre cada um desses que Waltz (2000) argumenta de que a estrutura internacional não se transformou, tendo apenas sofrido reformulações após a dissolução da União Soviética. Se a proposição de que democracias podem promover guerras contra Estados não democráticos se sustenta, não há garantias de que um sistema internacional democrático reduziria guerras no mundo. Só é possível. Em relação ao comércio, múltiplos contatos entre os Estados, a interdependência promove tanto o entendimento mútuo quanto ocasiões de conflito. A principal crítica de Waltz de interdependência é que ela constitui uma ideologia utilizada pelos Estados Unidos, a qual na realidade mais se assemelharia a uma linha unidirecional de dependência. Após o fim da Guerra Fria, aponta-se que ele é caracterizado por uma distribuiçãode poder unipolar, que seria a configuração internacional menos durável por dois motivos: poderes dominantes engajam-se em muitas ações extraterritoriais, enfraquecendo-os no longo prazo; e, mesmo que um poder dominante haja com moderação, os Estados mais fracos vão se preocupar com seu futuro comportamento. Todavia, frente às questões contemporâneas, questiona-se em que medida a abordagem teórica neorrealista apresenta insumos adequados para compreender fenômenos atrelados à transnacionalidade dos conflitos, como o terrorismo e as migrações. Ademais, as críticas que o paradigma realista de um modo mais amplo sofria por negligenciar o fator econômico, Robert Giplin incluiu essa em sua obra Guerra e mudança na política internacional, em 1981, a obra busca analisar um aspecto que Waltz não havia explicado de modo satisfatório: como ocorreriam as mudanças na distribuição de capacidades entre os Estados? Enquanto realistas e neorrealistas embasam suas análises na constância – seja da natureza humana belicosa, seja da anarquia no sistema internacional –, Gilpin se propõe a analisar a mudança na política internacional. Diferente de Morgenthau e de Waltz do sistema internacional mais estável – multipolar e bipolar– Gilpin argumenta que o sistema unipolar seria mais estável, exemplificando com os casos das hegemonias na pax britannica (século XIX) e na pax americana. Para o autor, essa hegemonia possui fundamentos exclusivamente materiais, em especial nas capacidades tecnológicas e econômicas. Gilpin (2001) também debate se a crescente importância do mercado na organização e funcionamento da economia global significa ou não o fim do Estado-nação e da economia política. Concentra sua análise no que ele denomina sistemas nacionais de economia política e seu significado tanto para os assuntos econômicos domésticos quanto internacionais. O debate sobre desenvolvimento econômico é centrado no papel apropriado do Estado e do mercado, o qual, desde 1980, aumenta a integração da economia mundial e a interdependência econômica. Estado-nação continua sendo o ator dominante. Defende que em 1970, a desregulamentação financeira e a criação de novos instrumentos têm contribuído para um sistema financeiro internacional mais integrado. Ademais, também defende que o regionalismo econômico alcançou seu auge. Aponta que muitos analistas acreditam que uma mudança profunda está acontecendo, em que a economia internacional centrada no Estado abre espaço para uma economia internacional centrada no mercado, tornando o mercado o mecanismo mais importante na determinação tanto da economia doméstica quanto internacional, e mesmo nos assuntos políticos. O autor discorda, assim como também da ideia de que as sociedades nacionais não possuem controle sobre sua integração ao sistema econômico global – distanciando-se da visão liberal de separação entre política e economia. No século XX, houve uma mudança na indústria, passando para países vivenciando uma rápida industrialização. Ademais, o autor destaca o papel das regiões nesse processo, afirmando que o regionalismo econômico se espalhou devido aos desenvolvimentos políticos, econômicos e tecnológicos. No entanto, o Estado nesse processo de regionalização é importante, grupos regionais de Estados têm incrementado sua cooperação, a fim de fortalecer sua autonomia. Vale ressaltar que, para ele, regionalização não representa uma alternativa ao Estado-nação, mas sim os esforços de Estados individuais que buscam, coletivamente, promover seus interesses nacionais e ambições. Nesse sentido, o papel do mercado na economia política aponta importância das normas, valores e interesses dos sistemas social e político nos quais as atividades econômicas estão inseridas. 2. Vertentes três delas: realismo defensivo; realismo ofensivo; e realismo periférico. 2.1 Realismo defensivo Seus expoentes Kenneth Waltz já comentado, e Stephen Walt (1955) que escreveu a obra As origens das alianças em 1987, que busca compreender como os Estados escolhem seus aliados. O autor apresenta o conceito de equilíbrio de ameaça, ao invés de se aliar à potência mais forte para segurança e autonomia –bandwagon de Waltz–, buscaria formar uma aliança para se contrapor a essa potência hegemônica, por receio de que ela crescesse demais. 2.2 Realismo ofensivo Grandes potências buscam estabelecer algum tipo de hegemonia a partir de uma política de poder ofensiva em todos os sentidos. O principal autor é John Mearsheimer (1947), conhecido pela obra A tragédia da política das grandes potências, publicada em 2001. Considera que a incerteza em relação às intenções dos rivais leva os Estados a agirem de modo ofensivo na busca por melhores estratégias e recursos perante os demais, o que significaria a busca ativa por uma posição de hegemonia. Vale destacar que, para Mearsheimer, não seria possível alcançar o status de hegemonia global, pois sempre vão existir outras buscando mais poder, além da dificuldade de se projetar poder em longas distâncias. Faz com que o resultado seja hegemonia regional e controle determinada região próxima ao seu território. Argumenta que não existem hegemonias globais, apenas hegemonias regionais com pretensões globais. Enquanto como Walt argumentaque a busca por poder aumenta os custos e diminui retorno, causando um super esticamento do poder; Mearsheimer argumenta que, a busca por poder sempre deve ser o objetivo de uma grande potência, em vista que o acúmulo de poder representa a diminuição das capacidades de outros. Além, conclui que o poder terrestre é a forma do poder militar dominante nas relações entre as grandes potências, mesmo no contexto de armamentos nucleares, sendo que os poderes aéreo e naval exercem a função de suporte. Ainda, as forças navais podem exercer três missões de projeção de poder em associação com as forças terrestres: investida anfíbia, desembarque anfíbio e transporte de tropas. Observação: Uma operação anfíbia significa uma organização parae o desembarque ou a retirada de uma força terrestre. A esse respeito, cabe apontar a distinção entre os Estados insulares e os continentais. Um Estado insular é uma grande potência em um território cercado por grandes faixas de água. Estado continental é uma grande potência que possui seu território em uma extensa faixa de terra que também é ocupada por outras grandes potências. Nesse sentido, Alemanha, França e Rússia são exemplos. Já sobre a superioridade nuclear, para o autor, existe quando uma grande potência possui capacidade para destruir um adversário sem o receio de sofrer retaliações. A partir do momento em que se reconhece a possibilidade de se engajar em um conflito convencional sem o risco de escalada para um conflito nuclear, assume-se que as grandes potências continuam a competir por segurança no nível convencional. O poder de acordo com Mearsheimer Poder militar territorial: Manter e adquirir territórios. Compreendido enquanto poder central Poder naval e aéreo: Poderes de apoio ao cumprimento do poder militar . Poder latente: Capacidade em transformar ativos como população, riqueza e tecnologia em poder militar. No entanto, vale destacar que a postura das grandes potências não é agressiva a todo momento, podendo gerar três estratégias possíveis: balance (contrabalancear); buck-passing (transferir o custo); e bandwagoning (buscar alianças de fluxo). Balance – significa buscar um equilíbrio regional, aproximação etc. Buck-passing – significa não agir, transferindo o custo da ação para um aliado. Bandwagoning – significa angariar alianças por parte dos rivais regionais. A relação que os Estados Unidos buscaram com o Japão e a Coreia do Sul, com o objetivo de contrapor o poder da China, exemplifica. Vale ressaltar que essa posição egoísta não estaria restrita aos inimigos, mas também aos aliados, caso necessário. Tal estratégia é intitulada bloodletting – deixar sangrar, em tradução. 2.3 Realismo periférico Sistematizado por Carlos Escudé (1948) na obra Realismo periférico: bases teóricas para uma nova política externa argentina, publicada em 1992. Argumenta que as formulações teóricas clássicas em RI, não haviam sido formuladas para orientar a análise ou a prática da política em países que não fossem potências. Então busca formular uma teoria que considerasse as diferenças de relação entre grandes potências e países periféricos, auxiliando no crescimento econômico desses últimos. Para isso, deveriam as políticas externas considerar os riscos de entrar em atrito com determinados países, tendo em vista a limitação. O autor sugere a adoção de uma política externa economica de longo prazo, que levasse em consideração os constrangimentos e as oportunidades no cenário internacional. 3. Críticas à Teoria Neorrealista Uma das principais, é à escolha de priorizar os Estados como os principais atores do sistema internacional, deixando à margem da análise demais atores, ainda que o próprio Waltz responda a essas críticas afirmando que a escolha não está baseada na negação de outros atores, mas sim na percepção de que os Estados teriam um caráter determinante na escolha final. Outra crítica, é a do neorrealismo figurar como uma teoria capaz de oferecer ferramentas para uma compreensão geral dos processos de mudança e permanência da ordem internacional, com uma base científica e racional. Problematiza-se em que medida o passado apontado por Waltz pode explicar o presente e servir como referência para o futuro. Por fim, o neoliberalismo vai apontar que os esforços de guerra se tornaram muito custosos com o aumento da globalização. NEOLIBERALISMO Predominou nas relações internacionais no pós-Segunda Guerra Mundial. A guerra mostrou que a existência de relações econômicas e comerciais não era suficiente para evitar um conflito, assim como a existência de uma instituição internacional, fundamentada no direito internacional, como foi o caso da Liga das Nações. Paralelamente, com o início da Guerra Fria, os temas de segurança nacional ganharam novo destaque. As análises realistas, alimentavam a prioridade da segurança como objetivo nacional. Assim, o liberalismo foi desafiado a desenvolver uma análise mais sintonizada com a realidade, com uma base científica. A revolução behaviorista, nos anos 1950, trouxe para as RI um foco maior nas questões metodológicas. As discordâncias entre os behavioristas, que apostavam em uma metodologia semelhante à das ciências exatas para as relações internacionais, e os tradicionalistas, que insistiam na importância da história para as análises, constituíram o que alguns autores denominaram de segundo debate das relações internacionais. Nesse contexto, nos 1970 e 1980, seriam desenvolvidas teorias neoliberais. Os principais autores do neoliberalismo foram Robert Keohane e e Joseph Nye. Para abandonar o idealismo que marcara a Teoria Liberal, o neoliberalismo se fundamentaria na necessidade do rigor científico e no compartilhamento de certos pressupostos dos teóricos (neo) realistas, como a consideração sobre a anarquia do sistema internacional e a importância do Estado como principal ator. A evolução técnica e tecnológica é um processo-chave para os autores neoliberais, uma vez que atribui maior intensidade e importância para o fenômeno da transnacionalização, que se refere aos agentes privados. 1. Interdependência complexa “Nós vivemos em uma era de interdependência” obra Poder e interdependência: a política mundial em transição. Observa-se, no sistema internacional, uma diminuição da sensação de ameaça do início da Guerra Fria, assim como um aumento das preocupações econômicas, tanto internacional como no doméstico (conflitos distribucionais). A segurança nacional passa a ter que dividir espaço. Acontecimentos históricos da década de 1970 coloca como foco: interdependência, queremos dizer “dependência mútua: pessoas e governos são afetados pelo que acontece em outro lugar. Ao afirmar a necessidade de não desconsiderar a dimensão do poder, os autores indicavam uma aproximação com o realismo: a interdependência gera custos, ou seja, ela pode ser fonte de conflito. • Sensibilidade: refere-se a quão rápido uma parte do sistema é afetado por acontecimentos e/ou mudanças que ocorrem em outra parte. • Vulnerabilidade: refere-se aos custos que um ator terá para se adaptar às mudanças do sistema. Alguns países podem ser mais vulneráveis que outros. Um Estado pode ser sensível sem ser vulnerável. Conjunto de fatores, somado ao avanço da tecnologia – novas fontes e produtos são desenvolvidos e aprimorados –, torna complexo medir o grau de vulnerabilidade, assim como contribui para a construção de um ambiente de assimetria no sistema internacional. • Múltiplos canais de comunicação e negociação. • Agenda múltipla. • Utilidade decrescente do uso da força. Como consequência da diversidade e transnacionalidade dos temas, torna-se cada vez mais difícil distinguir entre o espaço doméstico e o internacional. O elevado grau de dependência entre os Estados faz com que o recurso militar não seja a melhor opção para resolver as divergências. O objetivo de Keohane e Nye com o conceito de interdependência complexa foi, portanto, demonstrar os limites da Teoria Realista, que foca apenas nas relações de poder. A relação de interdependência existente entre os Estados demonstra como outras questões e atores devem ser considerados nas análises, mas, ao mesmo tempo, considera a possibilidade de conflito entre eles. 2. Institucionalismo Datam dos anos 1950. No entanto, foi na década de 1970, sob um contexto de mudanças políticas e econômicas – desenvolvimento de organizações internacionais, choques do petróleo, fim do padrão dólar/ouro –, que Keohane e Nye vão constituir o que seria denominado de liberal institucionalismo. 2.1 Funcionalismo Faz referência a maneira como uma organização se estrutura depende da função específica que desempenha. Compreender o funcionamento das organizações internacionais. Diferencia-se do objetivo a criação de uma organização global. Compreendiam que a cooperação seria alcançada pela criação gradual de mecanismos e agências com funções específicas. A intenção era evitar grandes ideais ambiciosos e garantir uma base mais real para a criação de canais de diálogos. Ademais, essa cooperação seria impulsionada por especialistas técnicos, e não por políticos. A análise funcionalista contribuiu para a teoria da integração regional, principalmente os pensamentos de autores como Karl Deutsch e David Mitrany. Em 1960, o funcionalismo passou a ser criticado e contestado, principalmente devido aos desafios do processo de integração europeu, que até então servira de exemplo para a teoria. 2.2 Neofuncionalismo Elaborado por Ernest Haas, o objetivo de atualizar o funcionalismo. O processo de transferência de parte da soberania dos Estados para as instituições supranacionais deveria ser compreendido como resultado do trabalho de convencimento. • Funcionalismo: foco restrito aos aspectos técnicos da cooperação. • Neofuncionalismo: necessidade de compreender as questões políticas, que são internas aos Estados e às próprias organizações. 2.3 Liberal institucionalismo Instrumentos ad hoc referem-se àqueles desenvolvidos para debater ou resolver uma temática específica e durante um intervalo de tempo definido. Após cumprir com o seu objetivo, tal instrumento é dissolvido. Com a criação da ONU em 1945, e a aceitação e a participação dos Estados Unidos nesse espaço, as discussões e debates sobre instituições internacionais ganharam maior destaque. Muitos autores consideram que o fracasso da Liga das Nações decorreu da ausência dos Estados Unidos, além da União Soviética. As primeiras análises focavam nas organizações formais, como a própria ONU.O objetivo era compreender qual a eficácia desses mecanismos. Um tema comum era o estudo sobre o padrão e o método de votação da Assembleia Geral das Nações Unidas, a fim de acompanhar e compreender como o poder era exercido por meio desse órgão. As organizações internacionais além de funcionarem como um espaço de interesse para os Estados mais fracos, as organizações internacionais fazem-se importantes diante da existência de conflitos e disputas no sistema internacional. Além de coordenação e cooperação, mas importância de ação das organizações internacionais formais. Exemplo: TNP, em 1969. O acordo promovido pelos Estados Unidos e a União Soviética permanece até os dias de hoje e tem como objetivo evitar a proliferação da tecnologia nuclear. Os regimes internacionais “são definidos como princípios, normas, regras e procedimentos de tomada de decisão em torno dos quais as expectativas dos atores convergem. Keohane e Nye, considera a importância da construção de regras e normas em um contexto de interdependência complexa e de aumento das tensões no sistema internacional, principalmente no início dos anos 1980. Apesar dos desafios colocados pela anarquia do sistema internacional, como a incerteza do cumprimento de regras e acordos pelos Estados, os autores neoliberais argumentam que ainda é possível a existência de relações de cooperação. No entanto, vale destacar que existem diferenças entre interesse em comum e harmonia de interesses. Cada Estado possui seu próprio objetivo, mas compreendem que dificilmente conseguirão alcançar esse objetivo sem o mínimo de conhecimento sobre as ações e interesses dos demais Estados. O institucionalismo liberal contribuiu para expandir o entendimento sobre as instituições internacionais, adotando uma posição intermediária entre o utopismo liberal e o ceticismo neorrealista. Os Estados continuam sendo os principais atores do sistema internacional e são responsáveis pela criação e legitimação das Instituições. No entanto, esses mecanismos adquirem instrumentos de ação próprios e independentes dos interesses individuais dos Estados, sendo capazes de fomentar a cooperação interestatal. As instituições internacionais são um dos mecanismos que contribuirão para a governança global das diferentes temáticas. 3. Debate neo-neo sobre as instituições internacionais Os pressupostos do liberalismo do pós-Primeira Guerra Mundial foram fortemente criticados e considerados como utópicos e idealistas pelos teóricos do realismo. (cooperação versus conflito). O segundo debate nas relações internacionais teria sido aquele ocorrido entre os behavioristas e os tradicionalistas, na década de 1950. Esse debate foi metodológico. Enquanto os behavioristas apostavam no uso de métodos científicos, semelhantes às ciências exatas, para os estudos de relações internacionais os tradicionalistas – que agrupavam tanto realistas quanto liberais – reforçavam a importância da história. No terceiro debate teórico das relações internacionais: o debate neo-neo, que tem sua origem nos anos 1970, mas que vai perdurar e ganhar novos contornos com o fim da Guerra Fria. Um dos principais pontos de debate entre o neoliberalismo e o neorrealismo diz respeito ao papel e à importância das instituições internacionais. O debate neo-neo corresponde, portanto, a uma divergência quanto aos elementos que garantem o funcionamento das instituições internacionais e os motivos da participação dos Estados nesses mecanismos. Na análise neorrealista os Estados são os atores mais importantes. As instituições internacionais possuem pouca, ou nenhuma, autonomia, uma vez que seu surgimento e permanência dependem dos interesses e objetivos das grandes potências. Já análise do liberal institucionalismo, apresentou outros aspectos que permitiriam compreender o compromisso que os Estados possuem com as instituições internacionais. • Reciprocidade: os Estados esperam que os acordos, firmados sob as instituições, sejam respeitados pelos seus pares. • Reputação: o respeito ou não aos acordos geram consequências futuras para os Estados, assim, há uma preocupação com a imagem construída no sistema internacional. MARXISMO E SISTEMA-MUNDO Ainda que Karl Marx não tenha se dedicado intencionalmente à formulação de uma teoria das relações internacionais, houve uma inegável contribuição. Historicamente, o século XX foi o momento em que diferentes países buscaram construir novas estruturas sociais e políticas baseadas nesta teoria. 1. Materialismo histórico O materialismo histórico surgiu no século XIX como uma teoria geral da ação política, social e econômica, com a aspiração de constituir-se como uma teoria abrangente da sociedade. O primeiro paradigma é a defesa de determinação por fatores socioeconômicos. Se em qualquer sociedade a atividade central é a produção econômica, suas principais questões críticas giram em torno de suas forças produtivas (o próprio trabalho) ou das relações sociais de produção. Combinadas, elas formam o chamado modo de produção – o feudalismo, o capitalismo ou o socialismo, por exemplo – e, por meio da determinação do tipo de estrutura econômica, uma sociedade particular ou formação social é constituída. O modo de produção é, de acordo com Marx e Engels, definidora da própria sociedade. As formas políticas, jurídicas e culturais seriam condicionadas pela base econômica da sociedade. Por esses pressupostos, alguns autores passaram a compreender as relações internacionais como o estudo das relações entre as formações sociais, e não entre os Estados. Realismo: Estado Liberalismo: Estado Marxismo: Classes sociais Duas classes sociais principais, que são antagônicas e vivem uma relação de exploração: a burguesia, detentora dos meios de produção (capital, fábricas, matérias-primas); e o proletariado, possuidor da força de trabalho (mão de obra). O segundo paradigma marxista é a determinação histórica, acreditava que para compreender a sociedade capitalista contemporânea deveriam ser analisadas suas origens e seus condicionantes passados. Se aplica a todos os países: o reflexo do passado recai sobre as políticas doméstica e externa, os instintos dos líderes e as respostas do público (ondas de nacionalismos), as instituições políticas e os medos que movem a população. O terceiro paradigma central da abordagem materialista histórica é a centralidade das classes sociais como atores na vida política doméstica e internacional. O conflito entre as classes – conhecido como luta de classes – ocorre, portanto, em dois níveis: entre grupos em diferentes posições na escala socioeconômica em uma relação, geralmente, de exploração; e entre grupos de posição equivalente em relação de competição. Os proprietários dos meios de produção, segundo o marxismo, eram capazes de acumular lucros e assim enriquecer, ao não distribuírem de maneira proporcional seus ganhos quando deixavam de remunerar parte do trabalho do operário. Isso significa que o proletariado, por meio do seu trabalho, gerava uma riqueza maior do que aquela que recebia como remuneração. A função principal do Estado seria a de garantir o status quo, ou seja, assegurar a estabilidade da ordem capitalista por meio da continuidade dessa relação em que os trabalhadores venderiam sua força de trabalho ao mercado e se comportariam como cidadãos respeitadores da lei por ele imposta. Como consequência de um processo contraditório – em que o crescimento da produtividade não aumentava a renda do trabalhador, mas sim os níveis de exploração – , há exigência de que o Estado agisse de maneira repressora para conter a organização e a mobilização do proletariado. Essa crítica foi mantida posteriormente por autores que revisaram os estudos marxistas para compreender a Europa no século XX. Rosa Luxemburgo afirma que o Estado nada mais é que um representante da sociedade capitalista, portanto,um Estado classista. A proposta dela era um controle da organização da classe capitalista sobre os processos de produção. Na mesma medida, a alienação, segundo o marxismo, limitaria a capacidade das pessoas de intervir na realidade de modo a permitir sua mudança. Somente quando o proletariado tomasse consciência de sua condição de explorado, poderia se organizar para lutar contra o sistema que sustentava a exploração. Para o marxismo, o contrato com o Estado, não seria, então, um acordo de vontades dos membros da sociedade, mas a organização de poder da classe dominante. Dadas as desigualdades de riqueza e de posição econômica na sociedade contemporânea. No marxismo, as guerras entre os países representam conflitos dominados por duas classes sociais rivais. Então ele sugere que a preocupação central das relações internacionais não deveria ser a segurança – ou as ações do Estado-nação dirigidas para aumentá-la e defendê-la – mas, pelo contrário, o conflito e as formas pelas quais ele é gerado, conduzido e resolvido. Então, o mais importante determinante internacional não é a anarquia do sistema de Estados, mas a do mercado e a do próprio capitalismo. 2. Imperialismo nas relações internacionais O livro O imperialismo, etapa superior do capitalismo, do pensador russo Vladimir Lenin, é considerada a obra que mais se aproximou de uma teoria marxista das relações internacionais. Ao apontar as limitações da teoria marxista no que se referia à afirmação de uma tendência do capitalismo a sofrer crises sempre mais graves que levariam a sua derrocada, Lenin concentrou suas reflexões no âmbito internacional e apontou a contradição entre nações capitalistas, por ele denominadas imperialistas, e as nações consideradas economicamente atrasadas. A formação de uma nova dinâmica de exploração, agora entre países ricos e suas colônias, constituiu de acordo com Lenin em uma nova fase do capitalismo, chamada de imperialismo. Para Lenin, a luta de classes manifesta-se por meio do conflito entre Estados nacionais, classificados por ele como oprimidos e opressores. • Concentração da produção e do capital, atingindo um grau tão elevado que originaria os monopólios. • Fusão do capital bancário e industrial, com a criação de uma oligarquia financeira. • Exportação de capitais. • Formação de uniões internacionais monopolistas de capitalistas partilhando entre si o mercado consumidor mundial. • Partilha territorial do globo entre as maiores potências capitalistas. 3. Estruturalismo marxista Teoria do Sistema-mundo de Immanuel Wallerstein. Sua abordagem tem como preocupação principal a desigualdade que caracteriza o capitalismo global e as estruturas. As leis que orientam o sistema-mundo também levam à exploração das economias pobres pelas economias centrais. De acordo com Wallerstein, a posição dos Estados em relação à divisão internacional do trabalho e à concentração de renda pode situá-los em três possíveis áreas no sistema: • No centro, onde se concentram todas as atividades econômicas mais complexas e a produção com maior valor agregado. • Na periferia, que se caracteriza por concentrar a produção de bens primários de baixo valor agregado e intensa oferta de mão de obra. • Na semiperiferia, que funciona como uma área intermediária ao conter traços do centro e da periferia. Seus países já desenvolveram certo nível de industrialização e são um pouco mais diversificados, porém ainda dependentes de capital e da tecnologia do centro. Para Wallerstein, a existência da semiperiferia representa a possibilidade de ascensão dos países pobres para uma nova esfera de desenvolvimento via industrialização. Isso demonstra que a tese da Teoria da Dependência de que a distância entre ricos e pobres sempre será crescente não é necessariamente verdadeira. Mesmo que os ciclos de crescimento sejam interrompidos por crises econômicas, essas se mostram cíclicas e a sua recuperação demonstra a capacidade do capitalismo de continuar se expandindo e se reinventando. A teoria do sistema-mundo tem o mérito de combinar as reflexões marxistas acerca das contradições causadas pelo modo de produção capitalista com uma consideração da dimensão política das relações internacionais. Contudo, essa teoria contém dentro de si outra sugestão: não é a classe trabalhadora, mas a burguesia que era mais internacional, já que a sua educação e cultura, por um lado, e os seus próprios interesses econômicos, por outro, eram tais que ela foi levada a agir cada vez mais internacionalmente. TEORIA DA DEPENDÊNCIA Surge na América Latina, na década de 1960. A economia capitalista mundial possui uma lógica de funcionamento marcada pela distinção entre economias centrais e economias dependentes, ainda que do ponto de vista político todos os Estados sejam igualmente soberanos. Uma economia ou sociedade dependente é, portanto, aquela que não possui poder de decisão sobre o funcionamento da lógica da economia mundial e depende das decisões e políticas implementadas pelas economias centrais. Cuja base se encontra na crítica marxista sobre economia e política, alguns pensadores buscaram articular uma forma de se analisar essa situação desde a perspectiva das economias dependentes. O debate até então era marcado pela perspectiva das grandes potências e pela sua busca em manter o status quo. Desse modo, a Teoria da Dependênciaa busca justamente preencher essa lacuna de análise, sendo considerada a maior contribuição do chamado terceiro mundo ao escopo de um paradigma das relações internacionais. Essa dependência vai ser analisada tanto em termos comerciais, referentes à disparidade no valor de troca dos produtos exportados pela periferia, usualmente relacionados a commodities de pouco valor agregado, e os produtos importados desde o centro, quanto em termos financeiros, relativos ao nível de industrialização e ao vínculo extremo com o capital estrangeiro, que culmina na retenção dos lucros nos países centrais. Teoria da Dependência também vai se distinguir dos modelos clássicos e realistas que compreendem os Estados como únicos atores relevantes na política internacional. Também levará em consideração as organizações internacionais e não governamentais, as empresas transnacionais, os sindicatos, entre outros. Outra forte característica dessa teoria é sua visão pessimista sobre a possibilidade de uma convivência internacional harmônica entre os Estados. 1. Contexto histórico O fato de os Estados Unidos terem saído tão fortalecidos da guerra – por terem entrado mais tardiamente no conflito, mas também porque a guerra ocorreu principalmente em solo europeu, distante das fronteiras estadunidenses –, representa uma mudança na postura de expansão imperialista a partir da dominação formal sobre territórios, tendo em vista que eles mesmos haviam sido colônia da Inglaterra e não poderiam, portanto, incentivar essa tradição colonialista. O pós-Segunda Guerra Mundial marcou um aumento nas tentativas de divisão mundial a partir de domínios político-econômicos. Processo de descolonização. Na verdade, era interessante que as antigas colônias se tornassem independentes, pois isso representaria um maior mercado consumidor. Apesar da região já ter passado pelo processo de independência formal em relação às suas antigas metrópoles décadas antes, os países continuavam sofrendo fortes influências externas, como intervenções políticas e militares diretas da Inglaterra, especialmente até a década de 1930, e dos Estados Unidos após o fim da Segunda Guerra. Esses pensadores vão se preocupar com a análise da realidade social e econômica da América Latina, argumentando que o desenvolvimento dos países da região se encontrava limitado. De modo geral, a Teoria da Dependência surgiu como alternativa de interpretação das dinâmicas sociais observadas na América Latina, crítica aos movimentos de alinhamento automáticodas ditaduras e regimes militares da região. 2. Vertentes Algumas, por vezes, divergentes em suas proposições, inclusive sobre o que significaria ser dependente. Entre elas podemos destacar a estruturalista cepalina, a do desenvolvimento associado e a neomarxista. 2.1 Estruturalista cepalina A Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) é um organismo ligado ao Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (Ecosoc-ONU), criado em 1948, com o objetivo de fomentar o estudo e a promoção de políticas para o desenvolvimento de sua região, especialmente estimulando a cooperação entre os seus países e o resto do mundo. Além de todos os países da América Latina e do Caribe, alguns países da América do Norte, Europa e Ásia também fazem parte da Cepal. O crescimento muito lento de regiões do terceiro mundo, como a América Latina, era o resultado da ordem econômica capitalista global, que mantinha essas regiões num estado de ‘perpétuo desenvolvimento dependente. O livre comércio beneficiaria os países mais industrializados, enquanto a falta de proteção [às suas indústrias nacionais] pioraria a situação de subdesenvolvimento dos países. Essa vertente estruturalista da dependência argumenta que os países que apresentam pauta de exportação amplamente baseada em produtos agrícolas estariam fadados à posição periférica, defendendo que, para deixar essa posição, seria necessário industrializar a economia. No entanto, essa perspectiva recebe diversas críticas, especialmente daqueles que compreendem que a substituição de importações criava novas formas de dependência que poderiam ser consideradas ainda mais profundas. Ou seja, a substituição de importações demandaria um alto vínculo com o capital privado estrangeiro, o que poderia, em alguma medida, cristalizar ainda mais a relação hierárquica de dependência entre os países latino- americanos e as potências industrializadas centrais. 2.2 Desenvolvimento associado A principal obra dessa vertente é o livro Dependência e desenvolvimento na América Latina, escrito entre 1966 e 1967 por Fernando Henrique Cardoso. Embora dependam do crescimento da economia mundial e do modo como o mercado internacional reage à conjuntura, os países dependentes poderiam implementar políticas econômicas de forma a se acoplarem a essa dinâmica mundial e, de alguma maneira, crescerem junto com essa economia central. Um resultado da integração de grupos e classes sociais que têm um modo de relação que lhes é próprio e, interesses materiais distintos, cuja posição, conciliação ou superação dá vida ao sistema sócioeconômico. Destacam a importância de se analisar o processo histórico a partir do modo como as economias subdesenvolvidas se vincularam ao mercado mundial. No entanto, essa vertente recebe duras críticas por conceberem o subdesenvolvimento como situação condicionante que pode ser “mediada e alterada pelos efeitos de processos econômicos e sociais internos” distanciando-se do questionamento das críticas ao sistema capitalista mundial que fomentariam as relações de dependência. 2.3 Neomarxista Quanto mais as economias dependentes se acoplarem às economias centrais, mais profundas essas relações de dependência se tornarão. O atraso nesses países não decorria do legado ou dos resquícios pré-capitalistas, mas, sim, por terem se desenvolvido nos marcos de um capitalismo colonial, em que o processo de submissão e dependência esteve presente, ainda que não existisse um vínculo formal de colonização. Ao invés de buscar o equilíbrio, foi estruturado a partir de relações de dominação. A origem dessa vertente pode ser remontada às análises de Ruy Mauro Marini. Por fim, vale destacar que a Teoria da Dependência acabou bastante marginalizada, por um lado, pela vinculação com o socialismo no que se refere às propostas para romper com essas relações de dependência.
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