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Questões Prova 2

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Resumo para P2 – Experiências de Desenvolvimento Comparadas – Professor Franklin Serrano
Discuta brevemente, a partir da bibliografia do curso:
1) O choque de juros de Volcker e a estabilização do padrão dólar flexível (Clara Paiva)
No final de 1979 vem uma nova e orientação da política monetária americana de “dinheiro caro” com o choque dos juros de Paul Volcker. Paul Volcker assumiu o FED em 1979 e iniciou a virada conservadora nos Estados Unidos. Pouco depois do 2º choque do petróleo, Volcker elevou a taxa de juros americana unilateralmente, marcando o período por taxas de juros reais elevadas sem níveis precedentes e uma onda de inovações e desregulamentação financeira que, desde então, vem se espalhando por todo o mundo. A política restritiva gera uma recessão mundial na qual os preços das commodities caem e a inflação internacional aos poucos se reduz com a valorização do dólar que durou até 1985.
Os Estados Unidos retomam progressivamente o controle do sistema monetário-financeiro internacional. Os demais países centrais passam a aceitar um novo padrão monetário internacional, o padrão dólar flexível a partir da década de 1980. Os demais países estavam sob pena de sofrerem uma imensa fuga de capitais e uma desvalorização cambial descontrolada com consequências inflacionárias e portanto, não podiam se virar contra o dólar flexível. Nesse novo padrão, o dólar continua sendo a moeda internacional mas sem as duas limitações (déficits na BP e financiamento de ativos denominados em sua própria moeda) que o padrão ouro-dólar impunha aos Estados Unidos, como emissor de moeda chave. 
Os juros mais elevados em dólares atraíram uma enorme quantidade de capital externo para os Estados Unidos. A recessão mundial e os juros em dólar elevados fizeram cair os preços nominais de matérias primas e do petróleo nos mercados internacionais. Os países em desenvolvimento ficaram endividados e em 1982 explodiu a crise da moratória no México. A desaceleração da inflação americana se beneficiou. Nesse sentido em 1985, foi assinado o acordo do Plaza. Garantiu-se que os juros dos demais países ficariam acima da taxa de juro americana para que o dólar pudesse se desvalorizar mesmo com taxas de juros americanas internas altas em termos reais. Isto fez melhorar a competitividade externa da indústria americana e em 1986, com pressões dos países membros da OPEP se estabeleceu um piso para o preço internacional do petróleo. Em 1985 houve o término da guerra Irã- Iraque e o acordo do Plaza foi importante para evitar que o preço do petróleo em dólares ficasse muito tempo abaixo do custo de produção do petróleo nos Estados Unidos. 
2) O padrão de industrialização acelerada na Ásia a partir de meados dos anos 1980 (Marden)
As economias asiáticas distinguem-se efetivamente das demais economias em desenvolvimento em termos de participação no comércio internacional nos anos 80, mais especificamente, a partir de 1985. O desempenho da Ásia nos anos 80 foi amplo e generalizado. Economias completamente distintas, tanto em termos de instituições quanto em termos de padrão de desenvolvimento, como a Índia (fechada e continental) e Formosa, a Indonésia e Hong-Kong, China e Tailândia cresceram a taxas muito elevadas. 
A partir da segunda metade dos anos 80, a explosão do crescimento asiático e a sua direção estrutural deve ser considerado num contexto de economia regional marcado, nestes anos por drástica mudança na estratégia internacional dos capitais japoneses e pela ascensão da China no comércio internacional.
Especialmente em 1985, o Acordo de Plaza realizado pelo G7 forçou uma pronunciada valorização do iene frente ao dólar - em um ano o dólar passou de 250 para 155 ienes - e inaugurou uma ampla ofensiva comercial dos EUA visando reverter seu déficit estrutural na balança comercial com o Japão.
A transformação do Japão nos anos imediatos ao Acordo de Plaza no maior investidor internacional constituiu uma estratégia de ajustamento estrutural aos novos alinhamentos macroeconômicos. Sob intensa pressão comercial exercida pelo EUA e perda de competitividade de suas exportações, o Japão intensifica um processo de deslocamento produtivo em direção aos países do leste e sudeste asiático. A percepção de que a valorização do iene era uma mudança duradoura e não temporária afirmou-se rapidamente como uma “convenção”.
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[Raciocínio]
Iene ficou valorizado. Portanto fica mais fácil para o Japão importar. É como se os produtos em dólar ficassem mais baratos no Japão. No entanto, no mercado internacional, é como se os produtos japoneses se tornassem mais caros… Perde competitividade. 
E a balança comercial dos EUA fica mais aliviada. Porque se antes os EUA ficavam com déficit com a balança comercial do Japão, agora que o dólar custa 150 ienes e não 250 Isso dá muito menos poder aquisitivo aos americanos, que logo importarão menos de lá. Assim, a balança comercial vai se ajustar.
Da mesma forma, isso estimula o Japão a deslocar sua produção para outros países próximos, como a Coréia e Formosa. Afinal, por não utilizarem iene, não sofrem dos efeitos de valorização da moeda.
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A valorização do iene, a estratégia de investimentos do Japão e o crescimento da economia americana beneficiaram fortemente países como Coréia e Formosa. Cumpre ressaltar aqui a importância estratégica da política cambial praticada por estes países. Na primeira metade dos anos 80 ambos desvalorizaram suas moedas em relação ao dólar seguindo o iene. Na segunda metade da década, seguiram o movimento do dólar desvalorizando suas moedas em relação ao iene. (Claramente, se tivessem seguido o movimento do iene, o deslocamento produtivo do Japão não beneficiaria tanto esses países). 
O crescimento dos já elevados excedentes comerciais em ambos países levou a uma mudança de atitudes dos EUA com o fim de cláusulas de tratamento preferencial, com a imposição de restrições voluntárias de exportações e, por fim, pela valorização de suas moedas no final da década. Da mesma forma que o Japão, Coréia e Formosa tornaram-se importantes investidores no início dos anos 90, países como Tailândia, Indonésia, Malásia, Filipinas (doravante denominados de ASEAN-4) e China também alinharam suas moedas de forma semelhante no início da década mas, ao contrário da Coréia e Formosa mantiveram-se desvalorizadas e beneficiaram-se (no caso dos países do ASEAN-4) de tratamento favorecido e não discriminatório dos EUA. No início dos anos 90 afirmaram-se como os maiores receptores de IDE do Japão e dos 4 “tigres”. (EUA tentaram ferrar com a Coréia e Formosa, já que a estratégia estava dando certo, mas elas foram mais espertas e fizeram a mesma coisa que o Japão, deslocaram a produção delas para demais países asiáticos como Tailândia, Indonésia, Malásia, Filipinas - os ASEAN-4).
Assim, é possível dizer que a aceleração do crescimento na Coréia e Formosa pós 85 deveu-se a: 
a) forte crescimento das exportações decorrente da valorização do iene e da expansão da economia americana e dos novos mercados nos países do ASEAN 4 e;
b) do aumento dos investimentos e da competitividade externa acelerada pelo IDE japonês.
Outro caso que merece atenção é o da China da década de 80. De 1984 a 1987, a soma do financiamento externo com o IDE na China aumentou mais de 300%. Ajudada por uma forte desvalorização do yuan tanto em relação ao iene quanto ao dólar, a meteórica expansão do comércio exterior chinês foi inteiramente articulada com o IDE de origem asiática, em particular, de Hong-Kong, responsável por cerca de 60% dos IDE que se deslocaram nestes anos para a China. 
A expansão do investimento de Hong-Kong na China alterou drasticamente o comércio internacional de Hong-Kong. Até 1985, a maior parte das exportações desta cidade-estado era de origem própria. A partir de 1985 e mais ainda a partir de 1989, a maioria de suas exportações era formada por reexportações oriundas da China que, ademais, afirmou-se como grande mercado para as exportações da ilha. Também Hong-Kong, como a Coréia e Formosa perdem em 1989 o sistemade preferências generalizado outorgado pelos EUA, o principal mercado para estes países. Na Ásia, as conexões entre comércio e investimento fazem parte de um mesmo movimento articulado.
Com a desvalorização de suas moedas a partir de 1988, Coréia e Formosa sofreram intensa pressão dos EUA para uma maior abertura comercial e liberalização financeira. O aspecto central é que inicialmente o Japão, e posteriormente Coréia e Formosa, realizaram, sob pressão, importantes mudanças nos seus padrões de financiamento. 
É interessante notar, no entanto, que a manutenção de baixas taxas de juros na segunda metade da década e de moedas relativamente valorizadas em termos do dólar no final da década resultou, como ocorreu no Japão, menos numa ampliação dos mercados financeiros asiáticos para os bancos americanos e mais numa internacionalização dos bancos e dos investimentos asiáticos. Nas demais economias, com exceção da China, houve amplas transformações na direção de uma maior abertura financeira.
É neste contexto que se deve considerar o amplo pacote de reformas financeiras liberalizantes que ocorreram na região incluindo:
a) desregulação das taxas de juros. Foi particularmente importante na Coréia em 1988 com a taxas de empréstimo, em Formosa ocorreu um movimento gradual ao longo da década. Nas demais economias da ASEAN a liberalização foi intensa sob os auspícios de FMI/BIRD (o mesmo não se deu com a alocação de crédito);
b) reforma e privatização no sistema bancário (incluindo o Banco de Desenvolvimento da Coréia);
c) desregulação dos controles no mercado de câmbio. Desde 1987, Coréia e Formosa tomaram diversas medidas liberalizadoras do mercado e introduziram sistemas mais flexíveis de taxas de câmbio.
Este movimento faz parte da reestruturação da economia mundial, retomada da hegemonia americana e acirramento da concorrência global polarizada entre os países da Tríade (EUA, UE e Japão). De uma export strategy essencialmente nacional, o Japão pressionado por uma política cambial desfavorável, aprofundou e desenvolveu uma estratégia de produção internacionalizada no leste e sul da Ásia. A este movimento acrescenta-se o transplante de setores - o hollowing-out, como a imprensa o descreve, através do aumento do IDE na região promovidos pelo conglomerados japonesas. 
Os EUA expandiram o seu mercado num momento marcado por forte a contração nos demais mercados da OCDE e serviram de “locomotiva” para o resto do mundo mas especialmente para a primeira geração dos NICs. Estes adicionalmente beneficiaram-se, ao lado dos demais países asiáticos, das condições apontadas: 
· A existência de centros financeiros sofisticados operando com moedas conversíveis e ancoradas ao dólar;
· A disponibilidade de bens de capitais japoneses e coreanos;
· Os IDEs japoneses e dos NICs decorrentes da reestruturação destas economias;
· A meteórica expansão chinesa e do comércio com Hong-Kong;
Os suppliers' credits e acúmulo de superávits com o comércio com a OCDE viabilizaram extraordinária expansão do comércio regional permitindo, na maioria dos países, taxas de crescimento mais altas do que as verificadas nos anos 70. 
Resumidamente, o padrão de industrialização asiático foi impulsionado por: 1) existência de um mercado consumidor grande nos países da OCDE; 2) A valorização das moedas nacionais frente o dólar propiciado pelos EUA para consertar o déficit de transações correntes com as economias dessa região; 3) a reorientação da política industrial em países como Japão que direcionaram capitais produtivos para a região e aumentou o ritmo de crescimento das exportações manufatureiras. Isso tudo conferiu dinamismo regional e viabilizou elevadas taxas internas de investimento. Mesmo a China, com sua especificidade e densidade próprias segue uma direção semelhante e que favorece o crescimento elevado da Ásia.
3) Da Perestroika na URSS ao tratamento de choque na Federação Russa (Bruno)
A perestroika foi um plano político-econômico traçado pelo governo de Gorbatchev para tentar modernizar e aumentar o grau de abertura da economia soviética no fim da década de 1980 e início da década de 90. Do ponto de vista econômico, três medidas foram adotadas praticamente simultaneamente:
· Flexibilização da gerência das empresas estatais
Antes vinculadas às metas do regime central e de normas estabelecidas de cima para baixo, os funcionários das empresas passaram a ter maior flexibilização em relação à hierarquia principalmente. Ainda era necessário atender a metas mínimas estabelecidas pelo governo, porém já era possível escolher quem seriam os representantes da empresa, isto é, os gerentes e também onde seria destinado o excedente da produção (descontado o que era das metas estipuladas pelo governo). Em um modelo mais igualitário, porém de vida simples como o socialista, naturalmente a escolha dos funcionários se deu pelo aumento principalmente de salários e da eleição dos gerentes que proporcionassem melhorias na qualidade de vida dos operários de cada empresa.
· Liberação para a criação de cooperativas
O objetivo principal era a desburocratização de serviços básicos como, por exemplo, o de eletricista ou encanador, que até esse momento era de responsabilidade do estado e costumava demorar bastante tempo. Na prática, a falta de regulamentação e fiscalização permitiu a criação de inúmeras empresas privadas, inclusive financeiras e de exportação e que se aproveitavam da flexibilização das empresas estatais para desviar parte do excedente de mercadorias para vendê-las ao exterior ou ao mercado paralelo (lembrar que o poder dos gerentes das empresas estatais era muito grande e, parte das maiores empresas privadas criadas eram propriedade dos mesmos gerentes em questão). 
· Abertura do comércio exterior
Retirou o monopólio do estado sobre as exportações e permitindo ainda mais aos agentes privados que pudessem vender as mercadorias produzidas em empresas estatais livremente, sem pagar impostos (e deixando o dinheiro no exterior) e contribuindo negativamente para o problema de escassez de produtos. 
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As três medidas, juntas, geraram escassez de produtos, descoordenação produtiva e aumento da fragilidade externa, visto que grande parte das divisas ganhas com exportações não retornava à URSS. Além disso, vale ressaltar a queda do preço do petróleo a partir de 1986 (maior exportação da URSS), a queda da produção nacional em 1989 (pela extração predatória) e as restrições impostas pelos EUA para exportação de insumos tecnológicos para a URSS. Assim, a falta de capacidade para arcar com as importações gerou déficit em conta corrente, provocando desabastecimento, e aumento significativo da dívida externa (triplicou). Ao ficar sem reservas internacionais, o governo central anunciou o fim da URSS.
A terapia de choque implementada em 1992 constituiu em uma série de escolhas feitas para liberalizar imediatamente a economia russa, a começar pela liberalização dos preços, em particular a taxa de câmbio, gerando inflação e perda de poder de compra das famílias. Também foram reduzidas barreiras à importação para suprir a demanda por produtos escassos no mercado nacional, privatizaram várias empresas, reduziram o gasto estatal na economia, até mesmo os militares e comprimiram a oferta de crédito na economia (investimento despencou mais de 80% entre 1990 e 1998). A liberalização do câmbio gerou um surto inflacionário que, por motivos de reajuste salarial, se tornou crônico até 1995 (até o uso da âncora cambial). Assim, por meio da terapia de choque, o PIB russo despencou, transformando uma potência geopolítica em um país periférico como o Brasil e Argentina, por exemplo.
4) Abertura comercial, liberalização financeira e crises na Am. Latina nos anos 1990 (Marden)
A liberalização financeira leva a um aumento espetacular na capacidade de os agentes locais, tanto públicos quanto privados, de incorrer em variadas formas de endividamento em moeda estrangeira (esmagadoramente em dólares americanos). Entretanto, isso não vem acompanhado por um aumento proporcional nacapacidade de o país (subdesenvolvido) em questão ganhar os dólares obviamente necessários para fazer frente a esses passivos. A realidade, muito freqüentemente, tem sido exatamente oposta: a maioria das ‘reformas’ e das políticas comumente atreladas à liberalização financeira, na verdade, fazem com que seja cada vez mais difícil para um país que as adote conseguir as divisas estrangeiras demandadas.
Com uma grande quantidade de dinheiro novo ingressando na região, os governos locais, após anos de restrições drásticas às importações e de baixo crescimento causados pela crises de endividamento dos anos 80, perceberam uma súbita possibilidade de eliminar de todo, ainda que temporariamente, suas graves restrições de balanço de pagamentos. Muitos países utilizaram capital estrangeiro para financiar tentativas bem sucedidas de interromper processos de aceleração inflacionária, ou mesmo de hiperinflação, por meio da estabilização das taxas nominais de câmbio.
Nesses países, o influxo de dólares financiou as importações trazidas pela (não muito impressionante) recuperação econômica da região na primeira parte dos anos 90. Nesse processo, muitos países embarcaram em programas de privatização e de liberalização de importações que há muito lhes eram recomendados pelo FMI e pelo Banco Mundial. Todas essas reformas tiveram efeitos negativos importantes sobre a capacidade desses países de pagarem os novos passivos externos que estavam contraindo. 
(Causa 1: incentivo a importações e desestímulo a exportadores). Planos de estabilização das taxas nominais de câmbio levam, invariavelmente, a uma sobrevalorização das taxas de câmbio reais, o que, por sua vez, reduz a lucratividade, e desencoraja os investimentos das indústrias exportadoras. A sobrevalorização, acompanhada pela liberalização unilateral das importações, leva naturalmente a um surto de importações e à eliminação de um grande número de fabricantes domésticos de produtos similares (e de uns tantos milhões de empregos na indústria). Em vista desses impactos, as importações cresceram bastante mais rapidamente do que as exportações.
(Causa 2: privatizações injustificadas na prática). O processo de privatização, basicamente de empresas de serviços públicos que foram vendidas a corporações internacionais também gerou obrigações de desembolsos em moeda estrangeira por parte dos novos proprietários, em setores (como empresas de energia elétrica ou concessionárias de rodovias) que simplesmente não têm como gerar recursos em moeda forte. Na esmagadora maioria dos casos (exceto em áreas como a telefonia celular, onde houve um pouco mais de competição), os supostos ganhos de eficiência que esses esquemas de privatização na área de infraestrutura deveriam ter trazido não se materializaram, pela razão um tanto óbvia de que, quando um monopólio público é transformado num monopólio privado, os custos para os usuários tendem, muito provavelmente, a aumentar. Dessa maneira a privatização, em geral, acabou produzindo um aumento nos custos de infraestrutura e, conseqüentemente, uma redução na competitividade internacional de outras mercadorias produzidas na economia.
(Causa 3: IDE sem gerar divisas e importando insumos, gerando apenas mais passivos externos). Principalmente por causa da privatização, mas também por conta de fusões e aquisições, por um certo tempo o investimento direto estrangeiro nas maiores economias, como a do Brasil e a da Argentina, aumentou tanto que mais do que contrabalanceou a queda em outros fluxos financeiros. Isso ajudou a financiar o debilitado balanço de pagamentos dos países da região. Entretanto, e contrariamente àquilo em que a maioria das pessoas parece acreditar hoje em dia, mesmo quando vem financiar investimentos inteiramente novos o IDE não é um presente, mas um passivo externo (é claro, com uma liquidez consideravelmente menor do que a de dívidas). Sendo um passivo, ele traz atrelada consigo a obrigação de se permitir um fluxo permanente de remessas de lucros a partir de seu ingresso. Essas remessas freqüentemente podem ser bastante altas, dado que as taxas de lucros das corporações multinacionais normalmente são bem mais altas do que a taxa de juros internacional. Há que considerar ademais, que além do fato de a maior parte do IDE ter ido para setores que não geram divisas, as empresas multinacionais têm, naturalmente, uma forte tendência a importar boa parte de seus insumos, peças e componentes. Isso significa que a maior presença das empresas estrangeiras nessas economias não apenas não ajudou muito nas exportações, como também aumentou significativamente as importações.
(Causa 4: altas as taxas de juros oferecidas ao capital estrangeiro). E mais, dado que as taxas de juros oferecidas ao capital estrangeiro pelos países da região eram muito altas, os déficits em conta-corrente cresceram de maneira extremamente rápida na maioria desses países. 
Isso criou um ambiente propício para crises externas, que poderiam ser disparadas a qualquer tempo. Em fins de 94 a crise mexicana deu um aviso de quão insustentável era o processo e mostrou o que estava por vir nos demais países das Américas do Sul e Central. 
(Consequência 1: políticas econômicas restritivas e fuga de capitais) A maioria dos países da região passou a adotar políticas fiscais e monetárias restritivas para desacelerar suas economias e, por conseqüência, o ritmo de suas importações. O influxo de capital novo começou a minguar e a fuga de capitais cresceu.
Da discussão acima vemos que, tanto na teoria quanto na prática sul e centro americana, a liberalização financeira acompanhada de abertura internacional, fundamentalmente gera passivos externos insustentáveis. 
(Consequência 2: comportamento dos agentes financeiros) É crucial ter isso em mente para entendermos porque os agentes financeiros internacionais envolvidos no processo (tanto residentes quanto não-residentes) defendem tão firmemente uma posição de curto-prazo e exigem ter liquidez máxima, a capacidade de sair de suas posições nesses mercados emergentes a qualquer instante. Visto que a dívida é essencialmente insustentável, a crise é uma questão de quando e não de se, e é claro que ninguém quer ser o último a pular fora. Ainda assim, essa incerteza cria um mercado bastante favorável à especulação, com financistas apostando diariamente uns com os outros sobre a probabilidade de inadimplência na dívida externa de um determinado país. 
É claro que a alta liquidez e a especulação nos mercados sobre essas dívidas agravam a instabilidade do processo e podem vir a causar uma crise real. No entanto, não devemos nos esquecer de que as dívidas em si tendem a ser insustentáveis pois, caso contrário, porque alguém quereria ser capaz de poder sair fora a qualquer instante, ou apostar dinheiro na probabilidade de uma inadimplência?
Depois de uma década de liberalização financeira acompanhada de abertura internacional, alguns indicadores sociais se tornaram muito negativos. Um dos mais importantes foi um substancial e generalizado enfraquecimento do poder de barganha da classe trabalhadora. Houve aumento da proporção da população classificada como pobre no continente e aumento da inflação (visto que a maior parte dos países da região teve que desvalorizar suas moedas para lidar com dificuldades de balanço de pagamentos), o que levou a redução do salário real. Indicadores fortemente associados também ao aumento do número de crimes violentos por toda a região.
5) O padrão de crescimento da economia chinesa depois das reformas (Todos)
A partir dos anos 80, com a entrada do líder Deng Xiaoping, a China inicia um extenso programa de abertura com as chamadas “políticas de portas abertas”. O objetivo geral era transformar a estrutura produtiva do país para vencer o desafio de desenvolvimento chinês: como aumentar a capacidade de importar e como importar mais máquinas e equipamentos para se industrializar numa economia essencialmente agrária. Fatores conjunturais facilitaram esse processo, como a valorização real das principais moedasasiáticas em 1995, a contração abrupta dos IDE no Japão e consequente redução das importações japonesas, a abertura e desregulação financeira da região que altera a estrutura de financiamento externo asiático (e gera crise de liquidez). Com isso, a China atrai produtores dos EUA por conta do câmbio desvalorizado em relação aos seus competidores asiáticos e o sucesso comercial das zonas econômicas especiais que dinamizaram o comércio regional e ajudaram a inserir a China no mundo.
A China atraiu IDE’s que entraram através de empresas estatais (característica da economia de mercado socialista) e eram responsáveis por conduzir o nível de investimentos global por serem a maioria. Esse quadro em que as principais empresas ainda eram estatais e o fato de que os investimentos dessas empresas são definidos autonomamente deu liberdade para que o nível de investimentos aumentasse conforme os empresários desejassem, o que gerou aumento dos salários e consequente pressão inflacionária. Ainda, havia escassez generalizada porque o mercado chinês era grande e pouco atendido pelas empresas, o que levou posteriormente à desaceleração dos investimentos e do crescimento econômico. 
Assim, vê-se que o ritmo de crescimento da china era fortemente influenciado pelos investimentos das empresas estatais. Outras variáveis conduziram o crescimento chinês: exportação crescente das próprias empresas estatais, políticas de incentivo governamentais à inovação e à transferência e geração de ciência e tecnologia, investimentos privados elevados (a partir de 1990s) e expansão do consumo interno. 
Como restrição ao crescimento, podemos mencionar as restrições decorrentes de choques exógenos, desequilíbrios setoriais e restrições do Balanço de pagamentos. Ao final, a China configurava um quadro de duplo pólo: ao mesmo tempo que consistia num crescente mercado consumidor para os países asiáticos (contribuindo para o crescimento dinâmico da região), era também o principal produtor de bens industriais para o EUA e Europa e concorria diretamente com os demais países asiáticos. Por fim, vale dizer que de 1980 a 2004, o PIB do país registrou uma média de crescimento real de 9,5%, tornando-se a sexta maior economia do mundo em 2004.
6) Tendências do crescimento na economia americana dos anos 1990 e 2000 (Victor)
Nos EUA, ao longo dessas duas décadas, houve um processo de concentração da riqueza e da renda funcional e pessoal, com desigualdade na distribuição em prol do topo. Sobretudo nos anos 2000, crescimento do consumo agregado, tanto como proporção do PIB quanto em relação à renda disponível das famílias. Nos anos 2000, a característica principal da expansão econômica, antes da desaceleração de 2007, foi a baixa taxa média de crescimento da demanda agregada e da economia em si.
Com os atentados terroristas de 2001, a economia estadunidense sofreu alguns impactos. Neste ano, a PF se torna mais expansionista, com os gastos civis e militares do governo tendo crescido, entre 2001 e 2007, numa média de 2.3% a.a., puxados pela guerra ao terror, em contraposição à década de 1990, que frente ao fim da guerra fria, viu os gastos públicos crescerem em apenas 1.2% a.a. A despeito disto, a PF foi menos expansionista do que o déficit público aponta, pois o grosso da mudança de superávit para déficit na virada do século se deu por quedas de receita tributária, influenciada pela desaceleração econômica e pelo fim das receitas via impostos sobre ganhos de capital, que diminuíram com o fim da bolha da bolsa.
Em relação ao setor externo, o crescimento das exportações tem sido um estímulo ao país, apesar dos déficits crescentes. A expansão do conteúdo importado da demanda agregada tem tido efeito negativo sobre o crescimento econômico, mas, se o crescimento da proporção importada da demanda é gradual e a taxa de crescimento das exportações é rápida, como a média de 7.1% a.a. no período 1991-2000, o efeito líquido do setor externo é positivo, independente do déficit. Em 2001-2003, a desaceleração mundial traz as exportações a taxas negativas, mas com a retomada de crescimento e tendência a depreciação do dólar, o crescimento volta entre 2004-2007. A este efeito do crescimento da exportação, soma-se o efeito multiplicador do consumo de produtos estadunidenses derivados dos salários pagos nas indústrias exportadoras e o efeito acelerador sobre o investimento produtivo do aumento da utilização da capacidade instalada dos setores exportadores. O crescimento acelerado das exportações cumpriu, desde 2007, papel compensador na queda da demanda interna advinda da crise do subprime.
Do ponto de vista da distribuição, o processo contínuo das décadas de 1990-2000 estão ligados à redução do poder de barganha dos trabalhadores, devido a: (1) aumento de imigrantes na força de trabalho; (2) abertura comercial trazendo concorrência externa e relocalização de fábricas para países de custos menores e câmbio desvalorizado; (3) queda do poder e representatividade dos sindicatos; (4) perda de poder de compra do salário mínimo que passou dez anos sem reajuste nominal (1997-2007) - ganhos muito abaixo da produtividade. Em relação aos lucros, a taxa de crescimento dos gastos improdutivos apresenta forte influência sobre a taxa de investimento produtivo.
7) O desacoplamento do crescimento dos países em desenvolvimento nos anos 2000 (Vicente)
Desacoplamento (decoupling) é um termo utilizado pela literatura em geral para explicar o distanciamento percebido ao longo dos anos 2000 da tendência de crescimento dos países em desenvolvimento para os países desenvolvidos. Enquanto essa tendência permaneceu praticamente estável ao longo da primeira década do século XXI nos países industrializados, nos países em desenvolvimento ela acelerou seu ritmo de crescimento econômico, puxado principalmente pelos países que compõem os chamados BRICS (Brasil, Russia, China, India e África do Sul). Essa tendência parece ser explicada pelo resultado combinado de um alívio na restrição externa ao crescimento dos países em desenvolvimento bem como de mudanças nas políticas econômicas adotadas pelo conjunto desses países. Serrano, Medeiros e Freitas preferem o uso do termo deslocamento ao invés de desacoplamento, por passar melhor a ideia desse distanciamento do crescimento econômico dos países em desenvolvimento. 
Um conjunto de fatores inter-relacionados pode ser destacado para explicar esse processo de deslocamento: 
1. As baixas taxas de juros nos países centrais (especialmente nos EUA); 
2. O grande fluxo de capitais para os países da periferia; 
3. O aumento dos preços em dólares das commodities; 
4. A rápida expansão da economia chinesa. 
Os fatores 3 e 4 foram decisivos para que os países da periferia adquirissem certa “independência” dos países centrais. Como estudamos ao longo do curso, nas últimas décadas, em momentos de crise e baixo crescimento, os países do centro, ao reduzir suas demandas por produtos agrícolas e matérias primas, impactavam desfavoravelmente os termos de troca com a periferia, provocando descasamentos nos seus passivos externos. Esses países, principalmente os que optavam pelo crescimento para dentro, acabavam, por falta de divisas para financiar seus planos e programas de substituição de importações, interrompendo seus ciclos de crescimento econômico.
Ao longo dos anos 2000, observamos várias mudanças estruturais que favoreceram melhorias contínuas na restrição externa dos países em desenvolvimento. As políticas de baixas taxas de juros praticadas nos EUA e outros países avançados para reverter o baixo crescimento e estimular a demanda efetiva, acabaram por estimular grandes fluxos de capital privado para os países periféricos, em busca de maiores retornos. O rápido crescimento da demanda interna no conjunto dos países em desenvolvimento, e não somente na China, contribuíram para aumentar o ritmo da expansão do comércio Sul-Sul, em substituição ao predominante comércio centro-periferia das décadas anteriores. Foram adotadas várias mudanças de políticas macroeconômicasexpansionistas nesses países, bem como uma grande melhoria nas políticas de administração do balanço de pagamentos, apoiada em vários casos no retorno do chamado “nacionalismo de recursos naturais”. 
Para essa última, quatro mudanças principais explicam essa grande melhoria nas políticas de administração do BP:
1. Utilização do câmbio flexível, porém administrado; T
2. Tributação seletiva do valor das exportações de alguma commodities e/ou uso de subsídios às importações de algumas outras; 
3. Pagamento antecipado das dívidas públicas externas, moratórias ou calotes, bem como a criação de fundos soberanos; 
4. Acumulação de gigantescas reservas internacionais. 
Todos esses fatores em conjunto foram centrais para provocar o deslocamento da tendência de crescimento dos países em desenvolvimento, bem como provocar significativas melhorias nos termos de troca.
Vale ainda enfatizar que a explicação tradicional da mudança dos preços relativos das commodities nos anos 2000 puxado pelo efeito China encontra algumas limitações: a economia e o comércio mundial já vinham crescendo desde a década anterior e a maioria das commodities, com exceção das metálicas, têm elasticidade-renda menor que um (tem crescimento menor com o aumento da renda). Assim, o aumento dos preços em dólar das commodities deve ser explicado por um conjunto de fatores interligados: 
1. Papel da OPEP e do novo “nacionalismo de recursos naturais” restringindo a oferta; 
2. Forte valorização das taxas de câmbio dos países produtores de commodities (causada por variadas combinações de aumento de salários nominais e valorização nominal da taxa de câmbio) e também, mas não somente;
3. Aumento da demanda da China, principalmente por metais e minerais. 
Esse aumento dos preços em dólares não causou inflação nos países desenvolvidos devido ao baixo poder de barganha dos trabalhadores. Isso parece estar relacionado com a concorrência asiática nos mercados de produtos industriais, que acaba impedindo que os salários nos países industrializados ou nos exportadores de manufaturados, acompanhem os ganhos de produtividade. Dessa forma, o aumento dos preços nominais em dólar das commodities não foi prematuramente interrompidos por políticas monetárias contracionistas dos países avançados ou por crises cambiais na periferia exportadora de commodities.

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