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Alan Paz • Amenorreia Primária: é a ausência da primeira menstruação - Para que a menstruação ocorra, é necessário integridade de 3 compartimentos: 1. Eixo hipotálamo-hipófise-ovário em funcionamento 2. Endométrio responsivo aos estímulos hormonais 3. Trato de saída pérvio (útero e vagina) para a exteriorização do sangramento • Embriologia: estabelecimento do sexo cromossômico XY/XX - 6ª semana: sistemas genitais indistinguíveis, contendo 2 pares de ductos paramesonéfricos (Muller) e mesonéfricos (Wolff) - 8ª semana: determinação gonadal (testículos/ovários) ↳ O gene SRY leva a gônada indiferenciada a se desenvolver em testículo (a presença do SRY determina que se deve desenvolver testículo, a genética passivamente estimula desenvolvimento do fenótipo feminino, ou seja, se não há estímulo para desenvolvimento masculino, segue para feminino) - Até 12ª semana: desenvolvimento dos fenótipos sexuais o Sexo Masculino: - Uma vez que existe SRY, a gônada será estimulada a se desenvolver em testículo - Fator determinante testicular (codificado pelo braço curto do cromossomo Y) - Células de Leydig: secreção de testosterona → sob ação da 5alfa-redutase, transforma-se em DHT, responsável pela virilização da genitália, principalmente externa - Células de Sertoli: secreção de hormônio antimulleriano (AMH) → regressão dos ductos de Muller - As síndromes, geralmente, ocorrem por falha de algum desses mecanismos (fenótipo feminino, cromossomo XY), se não há supressão dos ductos de Muller, há desenvolvimento de partes do trato genital feminino. OBS: os ductos de Muller são responsáveis pela formação de uma parte da vagina, do útero e das tubas. OBS²: malformações uterinas são comumente associadas a malformações nefrológicas (ex: útero didelfo e rim em ferradura) - A união dos ductos de Muller forma o útero e a vagina (2/3 superiores), tendo um septo que é absorvido (na região das trompas ele permanece) - O terço inferior da vagina vem do bulbo sinovaginal (que vem da placa urogenital), que junta com os ductos de Muller • Amenorreia ▪ Primária: - Ausência de menarca aos 13 anos sem caracteres sexuais secundários OU - Ausência de menarca aos 15 anos com caracteres sexuais secundários - Causa mais comum: disgenesia gonadal ▪ Secundária: em mulheres que já menstruaram - Ausência de menstruação > 3 ciclos consecutivos (em pacientes com ciclos regulares) ou > 6 meses (em pacientes com ciclos irregulares) - A principal causa de amenorreia secundária é gravidez o Situações particulares - Presença de características sexuais secundárias antes dos 15 anos e ausência de menstruação com dor pélvica cíclica: investigar criptomenorreia (menstruou, mas não exteriorizou); - Presença de algum estigma de síndrome genética (ex: pescoço alado, implantação baixa de cabelo, fácies sindrômica – Sínd. de Turner) - Menarca não ocorreu 5 anos após o início do desenvolvimento das mamas, se o broto mamário começou a se desenvolver antes dos 10 anos o Etiologia - Disgenesia gonadal: 50% - Agenesia mulleriana: 15% - Retardo fisiológico da puberdade: 14% - Síndrome androgênica hiperestrogênica: 7% - Insuficiência isolada de liberação de GnRH: 5% - Septo vaginal transversal: 3% - Anorexias: 2% - Hímen imperfurado, síndrome completa de insensibilidade a androgênios, hiperprolactinemia, hiperplasia adrenal congênita, hipotireoidismo, Doença de Cushing: 1% o Anamnese - Completou todos os estágios da puberdade? - Há histórico familiar de atraso ou ausência puberal? - Altura da mulher relativa à dos membros da família? - Sinais de hiperandrogenismo? Virilização? (OBS: 70% das pacientes não terão estigma de hiperandrogenismo) - Estresse, mudança ponderal, dieta ou hábitos de exercícios recentes? - Usa drogas que podem estar associadas à amenorreia? - Há galactorreia? (PRL aumentada tem influência no bloqueio da menstruação) o Exame Físico • Investigação o Amenorreia primária: paciente que nunca menstruou (13 anos s/ caracteres, 15 anos c/ caracteres) 1. Anamnese + exame físico 2. Laboratório: β-HCG + FSH + TSH + PRL ↳ β-HCG (+) → gestante 3. USG: avaliação ecográfica da pelve [3.1] Útero ausente: solicitar cariótipo e testosterona sérica total ↳ 46, XX: Síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster, agenesia mulleriana, alteração do mecanismo de união dos ductos. - É a 2ª causa mais comum de amenorreia primária, a mulher possui ovários normais e ciclos ovulatórios. - Ausência de útero, colo e 2/3 superiores da vagina (tudo que é de origem mulleriana). Só tem o 1/3 inferior da vagina, que vem do bulbo sinovaginal. - Pode estar associada a malformações urinárias, ósseas e cardíacas - Tratamento: criação de vagina funcional, neovaginoplastia (dilatação vaginal progressiva de Frank, só usar em mulheres que já iniciaram a vida sexual) e apoio psicológico. - Nessa síndrome, pode haver útero rudimentar com endométrio, gerando endometriose, que devem ser retirados na cirurgia. - Encorajar adoção ou barriga solidária. ↳ 46, XY: Ou há deficiência do receptor da testosterona ou deficiência na 5alfa-redutase. Insensibilidade androgênica ou deficiência da 5alfa-redutase. ↳ Síndrome da Insensibilidade Androgênica (SIA): pseudo-hermafroditismo masculino, Síndrome de Morris (completa) ou Síndrome dos Testículos Feminilizantes - 3ª causa mais comum de amenorreia primária - Fenótipo feminino devido à mutação no receptor androgênico - Há testículos funcionantes, útero ausente pela produção de HAM pelas células de Sertoli - Não há desenvolvimento nem dos ductos de Wolff (insensibilidade androgênica) nem dos de Muller (HAM) - Hiperestímulo testicular → gera produção indireta de estrogênios na periferia (a testosterona é estrogenizada por ação da aromatase em estrona no tecido adiposo, havendo desenvolvimento de mamas) → caracteres sexuais femininos - USG com genitália interna ausente, genitália externa feminilizada (passivamente) - LH elevado e testosterona normal ou ligeiramente elevada - Tratamento: neovaginoplastia, gonadectomia (após 16-18 anos, podem malignizar, por isso recomenda-se retirada), reposição estrogênica, acompanhamento psicológico OBS: a mutação do receptor pode ser incompleta (Síndrome de Dreyfus), em que alguns receptores funcionam. Pode ocorrer, inclusive, intersexo (não se sabe se é um clitóris grande ou pênis pequeno). ↳ Deficiência da 5alfa-redutase - Não possuem estruturas mullerianas, o HAM é funcionante (produzido pelas céls. Sertoli) - Genitália interna masculina: ductos de Wolff (apresentam testículo) - Genitália externa feminina ou ambígua*: não houve virilização da genitália externa por falta de DHT - Na puberdade: timbre de voz masculino, ereção, aumento do pênis, ausência de desenvolvimento de mamas (há produção de testosterona pelas céls. Leydig) OBS: SIA não tem genitália interna (excetuando-se testículo), enquanto que na deficiência da 5alfa-redutase tem. *Caso a paciente haja maior sensibilidade/quantidade de receptores androgênicos, androstenediona, S-DHEA podem agir nesses receptores, gerando interferência na genitália feminina e tornando-a ambígua e não puramente feminina. [3.2] Útero presente ▪ FSH normal ou baixo: ovário funcionante ↳ Mamas ≥ 2 de Tanner: ovário está produzindo estrogênio. - Procurar anormalidades no USG (ex: criptomenorreia, fator obstrutivo à saída da menstruação, clinicamente há dor pélvica cíclica que pode ser hímen imperfurado ou septo vaginal transverso, tratamento cirúrgico. Presença de hematocolpo após alguns ciclos). - Se USG normal, pensar em hiperprolactinemia/TSH/SOP. ↳ Sem mamas (Est. 1 de Tanner): ovário parece não produzir estrogênio, mas por não funcionamento do eixo HHO, investigar deficiência congênita de GnRH ou hipogonadismo hipogonadotrófico ▪ FSH elevado: ovário não funcionante, aumentode gonadotrofinas por feedback negativo - Hipogonadismo hipergonadotrófico ❖ 46, XX: deficiência ovariana, falência ovariana precoce - Ex: Síndrome de Savage (resistência/ausência de receptores ovarianos às gonadotrofinas) ❖ Disgenesia gonadal - 50% dos casos de amenorreia primária são por conta de disgenesia gonadal (Swyer ou Turner) - Ausência de células germinativas nas gônadas - Gonadotrofinas altas - Hipoestrogenismo: hipodesenvolvimento dos caracteres sexuais secundários ↳ 46, XY: Síndrome de Swyer (tipo de disgenesia gonadal) - 15% são devido a mutações do SRY - Testículo em fita, disgenético, não há células de Leydig nem de Sertoli, portanto, há desenvolvimento de útero, colo e parte superior da vagina (ausência de hormônio antimulleriano, ou seja, não há quem iniba o desenvolvimento desses órgãos) - Quadro clínico: amenorreia primária, hipogonadismo hipergonadotrófico, ausência de caracteres sexuais secundários - Tratamento: gonadectomia e terapia hormonal ↳ 45, X0: Síndrome de Turner (tipo de disgenesia gonadal) - Quadro clínico: amenorreia (5% menstruam por atuação estrogênica, indivíduos mosaicos) - Pescoço alado, linha simiesca (prega palmar única), implantação baixa de cabelo e orelhas - Infantilismo sexual, retardo de crescimento, mamilos separados (hipertelorismo mamário, “peito em escudo”) - Envergadura maior que estatura, rins em ferradura Amenorreia Secundária - As principais causas fisiológicas são: gravidez (principal), amamentação e menopausa - É a ausência de fluxo menstrual durante 3 ciclos consecutivos (mulheres com ciclos regulares) - Disfunção pode ser: hipotalâmica (35%), hipofisária (19%), ovariana (40%), uterina (5%), outros (1%) o Amenorreia hipotalâmica - A maioria dos casos são devido a alterações funcionais - Três categorias: [1] transtorno alimentar, [2] excesso de exercícios e [3] estresse - Pseudociese (gravidez psicológica) - Tumores do SNC: craniofaringiomas, germinomas, gliomas - Exposição à radiação/quimioterapia ▪ Transtorno alimentar: anorexia e bulimia - Restrições calóricas graves, perda de peso, indução de vômitos → diminuição da leptina → aumento de Neuropeptídeo Y (para tentar aumentar leptina) → alteração da secreção pulsátil de GnRH (necessária para o funcionamento normal do eixo) ▪ Exercícios físicos exagerados: associados a perda significativa de gordura - Gordura corporal e função reprodutiva - O balanço energético total é um preditor melhor para início e manutenção dos ciclos menstruais - ↑↑↑ Opiáceos endógenos (endorfinas) → alteração da pulsatilidade do GnRH ▪ Situações de estresse: associada a estresse emocional ou induzido por doença (ex: queimadura grave) - ↑ CRH (per si e por estimular cortisol) e ↑ cortisol → alteração da pulsatilidade do GnRH - CRH → ↑ cortisol ▪ Amenorreia hipotalâmica anatômica - Processo que destrua o hipotálamo - Tumores: craniofaringiomas, germinomas, gliomas, etc - Trauma, radioterapia, infecção (ex: tuberculose) - Sintomas neurológicos: cefaleia intensa, mudança na personalidade, alterações de humor, alterações visuais - Lesão hipotalâmica → alteração da secreção pulsátil de GnRH → hipogonadismo hipogonadotrófico → amenorreia o Amenorreia hipofisária - Tumores hipofisários (principalmente prolactinoma) - Radioterapia - Processo inflamatório - Doenças infiltrativas (sarcoidose, hematocromatose) - Lesões metastáticas - Síndrome de Sheehan: parto laborioso, perda de muito sangue → hipóxia na hipófise, gerando um pan hipopituitarismo, sem hiperprolactinemia ▪ Tumores Hipofisários - Adenomas hipofisários são a causa mais comum (90% das causas hipofisárias) - Prolactinoma: ↑ prolactina → ↑ secreção de dopamina para tentar inibir essa secreção → alteração da pulsatilidade do GnRH - Efeito de massa: compressão dos gonadotrofos → dano hipofisário → alt. da função gonadotrófica ▪ Síndrome de Sheehan: infarto de hipófise, é uma síndrome isquêmica - Pan-hipopituitarismo - Hemorragia massiva pós-parto → hipotensão → isquemia e necrose da hipófise → perda da atividade gonadotrófica → anovulação e amenorreia - Insuficiência láctea, hipotireoidismo, insuficiência adrenal ▪ Hiperprolactinemia: - Pode ser causada por tumores (mais comuns são os prolactinomas) - Situações que podem gerar ↑ PRL: lactação, gestação, alteração no sono, estresse, estimulação do mamilo, medicamentos antipsicóticos e fitoterápicos - Radiação - Hipotireoidismo: ↓ hormônios tireoidianos → ↑ TRH, que tem estrutura muito semelhante a da prolactina, o organismo entende como se existisse muita prolactina, respondendo com ↑ dopamina, que vai gerar alteração da secreção pulsátil de GnRH OBS: o hipertireoidismo também pode provocar amenorreia, mas provoca muito mais irregularidade menstrual devido ao aumento de metabolismo, que impede formação do pico de estradiol necessário para causar o pico de LH. o Amenorreia gonadal ▪ Síndrome da Anovulação Crônica: uma das endocrinopatias mais comuns na mulher - 20% das causas de amenorreia - Etiologia: desconhecida, origem multifatorial e poligênica - Manifestações: hiperandrogenismo (hirsutismo, acne), disfunção ovulatória (oligo/amenorreia), ovários policísticos, intolerância à glicose, resistência insulínica, dislipidemia, infertilidade ➢ Critérios de Rotterdam: [1] irregularidade menstrual, oligo/amenorreia; [2] hiperandrogenismo clínico ou laboratorial; [3] ovário policístico à USG (10 folículos com no mínimo 10mm na periferia ou ovário com volume > 10 cm³) ▪ Insuficiência ovariana primária: a principal é a menopausa precoce - Perda dos oócitos antes dos 40 anos - ↓ função ovariana → ↓ estrogênio → anovulação → amenorreia - ↓ inibina → ↑ FSH - Hipogonadismo hipergonadotrófico - Manifestações: sintomas climatéricos (fogachos, ressecamento vaginal, diminuição da libido, pele seca, distúrbios do sono) - Diagnóstico: FSH > 40 (2x), investigação de doença autoimune o Amenorreia uterina ▪ Síndrome de Asherman: obliteração parcial ou total da cavidade uterina pelas aderências/sinequias das paredes uterinas, secundárias à trauma endometrial - Destruição da camada basal do endométrio impede que haja espessamento endometrial em resposta aos esteroides ovarianos - Causas: curetagem uterina vigorosa, cirurgias (miomectomia, cesariana), infecção - Manifestações: hipomenorreia (casos menos graves), amenorreia (fibrose intrauterina extensa) - Diagnóstico: histeroscopia (padrão ouro, porque é tanto diagnóstico quanto terapêutico); histerossalpingografia; teste de estrogênio + progesterona negativo • Investigação de amenorreia secundária - Descartar gravidez (β-HCG) - Anamnese: estresse, dieta (alterações bruscas), mudança de peso, exercícios físicos (extenuantes, profissional), uso de medicamentos (drogas que podem aumentar a prolactina) - Antecedentes clínicos: - Comorbidades: doença hepática, DM, hipotireoidismo, doença autoimune - Antecedentes obstétricos e ginecológicos: paridade, sangramento pós-parto (pensar em S. de Sheehan), abortamentos, infecção pélvica - Antecedentes cirúrgicos: curetagem, ooforectomia - História de quimioterapia, radioterapia o Sintomas associados: - Cefaleia, alteração visual → tumores do SNC, hipófise - Galactorreia → hiperprolactinemia - Sintomas menopáusicos (fogacho, ressecamento vaginal, alt. do sono) → IOP (insuf. ovariana prematura) - Hirsutismo, acne, ganho de peso → SAC (síndrome da anovulação crônica) o Exames complementares - Exames laboratoriais básicos: B-HCG, prolactina (2 medidas alteradas), TSH, FSH (2 medidas alteradas) - Status estrogênico: ajuda a interpretar os níveis de FSH; estradiol sérico; teste da progesterona - Exames de imagem: TC/RM → tumor de SNC, hipófise; Histerossalpingografia/histeroscopia → sinequias uterinas ▪ Teste da progesterona - Status estrogênico- Responsividade do endométrio aos esteroides → se endométrio for responsivo, fazer o teste - Patência do trato genital - Administrar acetato de medroxiprogesterona 10mg/dia, VO, 10 dias: ↳ Sangramento: há estrogênio, trato genital patente, mas ocorre anovulação porque não houve corpo lúteo ↳ Ausência de sangramento depois da progesterona: pode ser por obstrução mecânica ou por falta de estimulação prévia de estrogênio. Para confirmar, simular ciclo menstrual fazendo teste do estrógeno + progesterona ▪ Teste do estrógeno + progesterona - Estrogênio conjugado por 21 dias + progesterona nos 10 últimos dias → se menstruar, é o ovário que não está produzindo estrogênio/progesterona (ou por falha ovariana ou por falha no eixo HHO que não estimula) - Se não menstruar depois do teste do estrógeno + progesterona, o endométrio é não responsivo ▪ Hipoestrogenismo: verificar FSH ❖ FSH aumentado (2x, > 40): - Falência ovariana - Hipogonadismo hipergonadotrófico ❖ FSH normal: - SAC - Hiperprolactinemia, hipotireoidismo ❖ FSH baixo: - Hipogonadismo hipogonadotrófico - Causa hipotalâmica ou hipofisária (realizar RM/TC)
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