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ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE CASO 3 OBJETIVO 1: Discutir sobre a história natural da Chikungunya ➢ Agente etiológico: Vírus chikungunya (CHIKV) possui genoma de RNA positivo de fita simples, pertencente ao gênero Alphavirus da família Togaviridae. ➢ Vetores: O Ae. aegypti e Ae. albopictus são principais vetores envolvidos na transmissão do CHIKV. Enquanto o Ae. aegypti está distribuído em regiões tropicais e subtropicais, o Ae. albopictus também pode ser encontrado em latitudes temperadas. No Brasil, o Ae. aegypti encontra-se disseminado em todos os estados, estando amplamente disperso em áreas urbanas. O Ae. albopictus foi identificado em um grande número de municípios, sendo encontrado no peridomicílio e em ambientes naturais ou modificados adjacentes. A ampla distribuição dessas espécies no Brasil torna o país suscetível à propagação do CHIKV no território nacional. ➢ Ciclos: O Vírus chikungunya é originário da África, onde foi identificado originalmente na Tanzânia em casos humanos febris e em mosquitos Ae. aegypti. Posteriormente, foi descrito também o ciclo silvestre: primatas não humanos - mosquitos - primatas não humanos. A transmissão humana do CHIKV normalmente é sustentada pelo ciclo urbano. No entanto, o ciclo silvestre mantem o vírus em ambientes selvagens na África e Ásia. Nos ambientes silvestres podem ocorrer acidentalmente casos humanos esporádicos. Não é comum os arbovírus passarem de ciclos de transmissão silvestre para ciclos de transmissão urbana, o que presumivelmente ocorreu com o CHIKV. ➢ Hospedeiros: Os principais hospedeiros dos arbovírus são humanos e primatas não humanos, além de outros vertebrados como roedores, pássaros e pequenos mamíferos. ➢ Modo de transmissão: A transmissão se dá por meio da picada das fêmeas dos mosquitos Ae. aegypti e Ae. albopictus infectadas pelo CHIKV. Casos de transmissão vertical podem ocorrer no momento do parto de gestantes virêmicas e, muitas vezes, provoca infeção neonatal grave. Pode ocorrer transmissão por via transfusional, todavia é rara se atendidos os protocolos recomendados ➢ Período de incubação e transmissibilidade: O período de incubação intrínseco, que ocorre no ser humano é em média de 3 a 7 dias (podendo variar de 1 a 12 dias). O extrínseco, que ocorre no vetor, dura em média 10 dias. Os mosquitos adquirem o vírus a partir de um hospedeiro virêmico. Depois do período de incubação extrínseca, o mosquito é capaz de transmitir o vírus a um hospedeiro suscetível, como o ser humano. Em seguida o mosquito permanece infectante até o final da sua vida (6 a 8 semanas). O período de viremia no ser humano pode perdurar por até 10 dias e, geralmente, inicia-se dois dias antes da apresentação dos sintomas. ➢ Suscetibilidade e imunidade: Todos os indivíduos não previamente expostos ao CHIKV (suscetíveis) têm risco de adquirir infecção e manifestar a doença, desenvolvendo imunidade duradoura e protetora contra novas infecções. Tratamento: O tratamento de um paciente acometido pelo vírus Chikungunya pode ser realizado por meio das terapias farmacológicas e não-farmacológicas, diferenciando-se em relação à fase da doença. O manejo clínico tem início a partir da aferição da dor do paciente, a qual pode ser feita através da Escala Analógica Visual (EVA) de Price, e do exame detalhado do médico, a fim de excluir possíveis equívocos por parte do paciente. Até o momento, não há tratamento antiviral específico para Febre de Chikungunya. Na fase aguda, o objetivo principal é o controle da dor musculoesquelética, para o qual são utilizados somente analgésicos comuns e/ou opioides. A fase subaguda é tratada com anti-inflamatórios não- esteroidais (AINEs), somado ou não a anticonvulsivantes/antidepressivos, quando não responsivo aos analgésicos/opioides. Se há contraindicação ao uso desses fármacos, recomendase a utilização de prednisona/prednisolona. Para o tratamento do estágio crônico, o qual objetiva-se cuidar das dores musculoesqueléticas e neurogênicas, preconizase, a depender do contexto clínico, o uso de analgésicos, AINEs, doses baixas de corticosteroides, antimalárico isolado ou em associação com metotrexado ou sulfassalazina. As medidas não farmacológicas funcionam como ferramenta de reabilitação complementar utilizada em qualquer fase da infecção. Aplicação de compressas frias em todas as fases ajuda a diminuir as dores e a controlar a temperatura do paciente. A fisioterapia, utilização de órteses e estimulação de exercícios impedem atrofia muscular e a rigidez articular, portanto são escolhidos para promover um bem-estar e uma locomoção satisfatória, reduzindo a dor e o edema. Conforme Portaria nº 204 de 17 de fevereiro de 2016 – Os casos da Febre Chikungunya são de notificação semanal (até sete dias) e os óbitos fazem parte da lista dos agravos de notificação compulsória imediata (24 horas). ➢ Medidas de prevenção e controle: • Intensificar as ações de controle do Aedes aegypti, principalmente a eliminação de criadouros do vetor nos domicílios, pontos estratégicos (PE) e áreas comuns de bairros e cidades (p. ex. parques, escolas e prédios públicos); • Organizar campanhas de limpeza urbana para eliminação de depósitos em áreas específicas em que a coleta de lixo não é regular; • Implementar medidas de controle nos locais de reprodução do vetor, através da utilização dos métodos preconizados nas diretrizes nacionais: eliminação e tratamento de depósitos, envolvendo ativamente os moradores e a comunidade por intermédios de ações educativas; • Definir as áreas de alta vulnerabilidade de transmissão e priorizar locais onde há concentração de pessoas (por exemplo escolas, terminais, hospitais, centros de saúde); • Em áreas onde forem detectados casos autóctones ou importados da doença, sugere-se a realização de bloqueio de casos com equipamentos portáteis de Ultra Baixo Volume (UBV) para eliminação dos mosquitos adultos infectados com o intuito de bloquear a propagação da transmissão do CHIKV. Deve-se considerar também a utilização de equipamentos montados em veículos (UBV pesado) nas áreas com transmissão intensa. Ressalta-se que esta ação é excepcional e só é eficaz quando executada com pessoal adequadamente capacitado e treinado de acordo com as orientações técnicas do Ministério da Saúde. Além disso, a ação deve ser realizada em conjunto com as demais atividades de controle preconizadas. A nebulização com adulticidas é considerada a principal ação para interromper a transmissão intensa e permite que o serviço tenha tempo de consolidar as atividades de eliminação de criadouros. ➢ Medidas de Prevenção Pessoal: Pessoas infectadas com o CHIKV são o reservatório de infecção para outras pessoas, tanto em casa como na comunidade. Portanto, medidas de proteção pessoal, para minimizar a exposição dos pacientes aos mosquitos, tornam-se imperativas para evitar a propagação do vírus e, consequentemente, da doença. É importante informar a pessoa infectada e outros membros da família e da comunidade nos métodos de minimizar este risco, tanto por intermédio da redução da população do vetor como da possibilidade de contato entre o vetor e as pessoas. Para minimizar o contato vetor-paciente é recomendado: • A pessoa infectada repousar sob mosquiteiros impregnados ou não com inseticida; • O paciente e os demais membros da família devem usar mangas compridas para cobrir as extremidades; • Utilizar repelentes contra insetos aplicados à pele ou mesmo à roupa exposta, considerando que seu uso deve estar estritamente de acordo com as instruções contidas no rótulo do produto; • Usar telas protetoras nas portas e janelas. As medidas de prevenção pessoais são eficazes na prevençãoda transmissão do vírus para outras pessoas. ➢ Educação em saúde, comunicação e mobilização social: As ações de comunicação e mobilização são de responsabilidade das três esferas de gestão, devendo ser conduzidas de forma intersetorial, com apoio de entidades da sociedade civil. Devem ser utilizados meios de comunicação de massa (por seu grande alcance e eficácia), além de se produzir e distribuir material que contemple as especificidades regionais. Recomenda-se a definição de um porta-voz para transmitir informações atualizadas e orientar a população sobre: • Eliminar criadouros dos mosquitos; • Informar sobre o ciclo do mosquito; • Informar os depósitos predominantes do vetor e as localidades com maior concentração de mosquito ou/casos da doença; • Informar sobre os sinais e sintomas; • Alertar sobre os perigos da automedicação, em especial o ácido acetilsalicílico (AAS) e seus derivados; • Orientar a população a procurar a unidade básica de saúde ao surgirem os primeiros sintomas. É uma doença infecciosa humana, transmitida por artrópode, provocada por um vírus pertencente à família Togaviridae, e ao gênero Alphavirus, chamado de vírus Chikungunya (CHIKV). Recebeu este nome em meados da década de 1950, quando isolado pela primeira vez no sul da Tanzânia. Chikungunya significa “aqueles que se curvam” na língua Makonde, explicada pela locomoção prejudicada secundária à artralgia intensa, manifestação clínica peculiar desta arbovirose. A primeira transmissão brasileira legítima foi documentada em 2014 nos estados da Bahia e Amapá, e, nos dias atuais, percebe-se que quase todo o Brasil (Norte e Centro-Oeste com destaque) possibilita a sobrevivência e circulação do vírus, mediadas pela presença de todos os componentes da tríade epidemiológica, sendo o Rio Grande do Sul o único estado em que não foi detectada transmissão. O agente etiológico da Febre de Chikungunya possui um genoma de RNA de fita simples de sentido positivo (ssRNA+) que funciona como RNA mensageiro, o que torna o processo infeccioso mais rápido e eficiente. É transmitido aos seres humanos durante o repasto sanguíneo das fêmeas de Aedes aegypti e Ae. albopictus (mais prevalentes mundialmente), além de outras espécies de participação restrita no continente africano como o Ae. africanus, Ae. furcifer, Ae. Neoafricanus, Ae. luteocephalus e Ae. Taylori. O Ae. albopictus, conhecido como tigre asiático, é presente em locais de pouca aglomeração urbana, porém disposto em todos os trópicos, subtropicos e regiões temperadas do planeta, com capacidade de oviposição em ambientes artificiais e naturais. O vírus também pode ser transmitido verticalmente através de microtransfusões placentárias no trabalho de parto ou a partir do contato sanguíneo durante a passagem do neonato pelo canal vaginal. Depois de inoculado no sangue pelo mosquito, o vírus passa por um período de incubação (intrínseco) que varia de 3 a 7 dias, e, depois do início do processo de infecção (viremia), pode persistir até o 10º dia. Tudo isto se inicia após o aumento de citocinas, intensa replicação do vírus nos macrófagos e fibroblastos da pele seguida da drenagem para os gânglios linfáticos, local de exagerada reprodução viral que antecede a liberação para os vasos sanguíneos, permitindo a infecção de tecidos como músculos e articulações. A clínica pode variar no que diz respeito às manifestações do vírus no organismo e ser ainda assintomática. De modo sintomático, a Febre de Chikungunya pode apresentar-se de maneira típica (estágio agudo, subagudo e crônico) ou atípica, quando há comprometimento grave de outros órgãos e sistemas Com duração geralmente de sete dias, a fase aguda, primeiro estágio da doença, possui geralmente o seguinte perfil: 1. Aparecimento súbito de febre de curta duração que pode ser bifásica, contínua e intermitente; 2. Poliartralgia geralmente simétrica, bilateral e edemaciada, com acometimento mais distal. 3. Erupções cutâneas, pruriginosas ou não, do tipo macular ou maculo-papular que surge após o primeiro dia de febre e dura até o sexto dia da infecção, podendo ser manifestadas nas extremidades, tronco e face. Outros sinais cutâneos como lesões vesiculobolhosas, hiperpigmentação e dermatite esfoliativa também podem estar presentes. 4. Mialgia, cefaleia, diarreia, calafrios, náuseas, vômitos, conjuntivite sem secreção, neurite e faringite são outros sinais e sintomas comumente presentes nesta fase. A segunda fase, chamada de “Subaguda”, é caracterizada pela persistência dos sintomas artralgicos, tenossinovite em mãos, punhos e tornozelos e ainda bursite, acompanhados de edema, e podem progredir continuamente ou de modo alternado, somado ainda a astenia e rigidez ao levantar-se após longo período em repouso. Pode ocorrer ainda, recorrência de febre e lesões cutâneas, e o aparecimento de sintomas depressivos, doença vascular periférica e fadigabilidade. A persistência por três meses dos sintomas subagudos determina a fase “crônica”, a qual atinge de 14,4 a 87,2% da população de pacientes infectados. Neste estágio os sintomas musculoesquelético, articulares e neuropáticos presentes desde a fase aguda encontram-se conservados. De modo incomum, alguns sinais e sintomas presentes nas fases anteriores podem reaparecer, como cefaleia, fadiga, prurido e rash cutâneo. Alguns fatores de risco estão associados à cronificação, como intensidade das lesões articulares na fase aguda, sexo feminino, idade maior que 45 anos e presença de comorbidades. A forma atípica da Febre de Chikungunya pode ser evidenciada pela manifestação de pelo menos um dos sinais e sintomas presentes no Quadro 1. ➢ Gestantes: A infecção pelo CHIKV, no período gestacional, não está relacionada a efeitos teratogênicos, e há raros relatos de abortamento espontâneo. Mães que adquirem chikungunya no período intraparto podem transmitir o vírus a recém- nascidos por via transplacentária, transmissão perinatal. A taxa de transmissão, neste período, pode chegar a aproximadamente 50% desses, cerca de 90% podem evoluir para formas graves. Não há evidências de que a cesariana altere o risco de transmissão. O vírus não é transmitido pelo aleitamento materno. ➢ Paciente pediátricos: Em pediatria a sensação dolorosa pode ser mais dificilmente explicada. Os episódios de dor, sobretudo a dor crônica ou recorrente, têm impacto no desempenho escolar e as relações de pares. A avaliação inicial da dor na criança inclui uma história e exame físico detalhados, diagnóstico das possíveis causas e a aferição da intensidade da dor, para a qual se utilizam ferramentas de medição apropriadas para cada idade. Diversas ferramentas de medição da dor têm sido desenvolvidas para avaliar a dor na criança, apropriados à idade, cultura e condição da criança, assim como naquelas incapazes de falar e com prejuízo cognitivo. Abaixo seguem as escalas de dor mais utilizadas em pediatria, segundo faixa etária (quadros 6 e 7, figuras 10 e 11). O quadro 6 aponta uma escala com diferentes movimentos faciais e dois padrões de avaliação: ausente e presente. Quando presente algum tipo de movimento, é marcado 1 ponto, quando não, não é marcado ponto. A pontuação máxima são de 8 pontos e é considerado dor quando a pontuação for superior a 3. Há uma outra escala, a utilizada para crianças de 2 meses a 7 anos. Nessa escala há 5 categorias e três níveis de pontuação (de 0 a 2). Para a avaliação da dor, a criança é observada durante 5 minutos e são atribuídos os pontos, com um máximo de 10 pontos (dor intensa). Por exemplo, uma criança com suspeita de CHIKV apresenta nenhuma expressão facial (0 pontos), pernas inquietas (1 ponto), contorcendo-se (1 ponto), choro contínuo (2 pontos),consegue ser distraída da dor por pais ou familiares (1 ponto), somando ao final um total de 5 pontos a escala de dor de 0 a 10. OBJETIVO 2: Caracterizar os fatores críticos no adoecimento humano, destacando-se a vulnerabilidade e o risco de grupos sociais. ➢ Dimensão individual da vulnerabilidade - As análises da dimensão individual da vulnerabilidade partem do princípio de que todos os indivíduos são suscetíveis à infecção e ao adoecimento por doenças do ambiente que ele está inserido. Tais análises tomam como ponto de partida aspectos próprios ao modo de vida das pessoas que podem contribuir para que se exponham ao agente patológico ou, ao contrário, proteger-se. Ou seja, diz respeito ao grau e à qualidade da informação de que as pessoas dispõem; à capacidade de elaborar essas informações e incorporá-las aos seus repertórios cotidianos de preocupações e, finalmente, ao interesse e às possibilidades efetivas de transformar essas preocupações em práticas de prevenção. ➢ O conceito de grupo de risco tem como alvo um velho desafio da saúde pública: o contacto entre agente infeccioso e novos hospedeiros potenciais, propondo como solução a imposição de barreiras entre infectados e suscetíveis. Quando se passou a privilegiar o conceito de comportamento de risco, o alvo das ações deixou de ser o contato entre infectados e suscetível e passou a ser o isolamento do agente infeccioso mediante estratégias capazes de impedir sua movimentação no ambiente humano. Nesse sentido, a população não é mais dividida entre “indivíduos atingidos e/ou perigosos” e “indivíduos a proteger”, e sim entre o perigo e a população exposta em geral. Em vez da barreira entre os indivíduos, e na falta de uma tecnologia que atue diretamente sobre o agressor, paralisando-o, propõe-se uma série de mudanças nas práticas das pessoas, de modo que diminua as chances de elas “encontrarem” o vírus. ➢ Os grupos de risco têm a função de selecionar quais pessoas precisam de atenção imediata com seu estado de saúde. Em geral, essas pessoas já possuem alguma doença que pode se agravar, mas isso não é regra. É possível haver um grupo no qual a intenção é prevenir doenças, como, por exemplo, mulheres acima de 39 anos que não realizam a mamografia periodicamente. A identificação dos grupos de risco mostra quais doenças têm mais incidência entre seus usuários e quais estão sob controle. Essa prática ajuda a promover ações de medicina preventiva mais pontuais para evitar o crescimento dessas taxas. A definição de grupos de risco diminui ainda as chances de erros dos programas de medicina preventiva, fazendo com que sejam mais assertivos. Com a redução das falhas, os investimentos podem ser melhor direcionados e a gestão dos programas se torna mais precisa, trazendo mais resultados positivos e de forma mais rápida. OBJETIVO 3: Discutir a organização do sistema de referência e contra-referência no contexto do Sistema Único de Saúde ➢ O sistema de referência e contra-referência constitui- se na articulação entre as unidades, sendo que por referência compreende-se o trânsito do nível menor para o de maior complexidade. Inversamente, a contra-referência compreende o trânsito do nível de maior para o de menor complexidade. ➢ O Sistema de referência e contrarreferência em saúde foi criado para melhorar a atenção global ao paciente. Através de uma troca de informações eficaz entre os diferentes níveis de assistência, permite-se a criação de um ambiente favorável à abordagem do paciente como um todo. ➢ “Os conceitos de referência e contrarreferência em saúde, apesar de se constituírem como uma das bases da mudança almejada para o setor, ainda se encontram num estágio de pouco desenvolvimento, tanto em relação aos seus possíveis sentidos teóricos quanto no que refere à efetivação e divulgação de experiências, exitosas ou não” ➢ O sistema de referência e contrarreferência funciona dentro da lógica da hierarquização, pois o trânsito pelo fluxo da rede segue diferentes níveis. O profissional da APS que deseja encaminhar um paciente para outros níveis de atenção conhece a hierarquia do sistema, e sabe que referenciar significa indicar o paciente para outro nível de cuidados. “Os profissionais de saúde só deverão encaminhar os casos que realmente estejam fora da possibilidade técnica e de recursos humanos de serem tratados no próprio município da residência dos pacientes. Os casos mal encaminhados e detectados pela Coordenação do Sistema de Referência e pelas auditorias serão procurados para esclarecimentos e posteriores providências” ➢ Mas quais são as definições de referência e contrarreferência? Referência representa o maior grau de complexidade, para onde o usuário é encaminhado para um atendimento com níveis de especialização mais complexos, os hospitais e as clínicas especializadas. Já a contrarreferência diz respeito ao menor grau de complexidade, quando a necessidade do usuário, em relação aos serviços de saúde, é mais simples, ou seja, “o cidadão pode ser contra- referenciado, isto é conduzido para um atendimento em nível mais primário”, devendo ser este a unidade de saúde mais próxima de seu domicílio. ➢ Problema prioritário: ausência de contrarreferência pelos serviços especializados - É sabido que a contrarreferência é um instrumento fundamental para a melhor abordagem e condução dos casos na saúde da família. Através dela, um médico especialista, ou qualquer outro profissional envolvido com o caso do paciente, apresenta em forma de relatório o caso do paciente à equipe de saúde da família que o assiste. Assim, pode-se saber as principais hipóteses diagnósticas, condutas e tipo de abordagem de quem realiza a contrarreferência. Por isso, tal prática aperfeiçoa o cuidado e a promoção da saúde. A escassez de contrarreferências prejudica muito o trabalho na unidade básica de saúde. Os profissionais da unidade se veem de mãos atadas diante do problema de ordem muito específica do paciente. Por motivos de escolaridade, classe social, ou mesmo por falta de orientação do médico especialista, o paciente muitas vezes não sabe explicar as informações necessárias sobre seu tratamento, o que dificulta aperfeiçoar e dar seguimento na unidade básica de saúde. ➢ O Sistema de Referência e Contra-Referência é um mecanismo administrativo, onde os serviços estão organizados de forma a possibilitar o acesso a todos os serviços existentes no SUS pelas pessoas que procuram as unidades básicas de saúde. Essas unidades são, portanto, a porta de entrada para os serviços de maior complexidade, caso haja necessidade do usuário. Essas unidades de maior complexidade são chamadas “Unidades de Referência”. O usuário atendido na unidade básica, quando necessário, é “referenciado” (encaminhado) para uma unidade de maior complexidade a fim de receber o atendimento que necessita. Quando finalizado o atendimento dessa necessidade especializada, o mesmo deve ser “contra- referenciado”, ou seja, o profissional deve encaminhar o usuário para a unidade de origem para que a continuidade do atendimento seja feita. ➢ O sistema de referência e contrarreferência em saúde foi criado para melhorar a atenção global ao paciente, através de trocas de informações eficazes entre os diferentes níveis de assistência à saúde, o que permite a criação de um ambiente favorável a abordagem do paciente como um todo. Um sistema de contrarreferência ineficiente ou inexistente prejudica o seguimento do indivíduo em suas diferentes patologias, impede a correlação entre patologias de diferentes áreas da medicina e da saúde, dificulta a avaliação longitudinal do paciente e prejudica também a adesão correta do indivíduo ao seu tratamento. Além de que aumenta os gastosna saúde, pois cria encaminhamentos desnecessários e repetição de tratamento. A regionalização da saúde teve sua primeira experiência retratada em 1920, o qual recomendava que certo número de centros primários atuassem sob supervisão e recebendo ajuda de centros secundários, que por sua vez, seriam coordenados por um hospital de ensino de maior complexidade. De acordo com LOBO (1986) deve-se regionalizar para assegurar cobertura, ou seja, definir os serviços responsáveis pelo atendimento da população. A cobertura desses serviços foi definida como uma oferta sistematizada de serviços básicos de saúde, que satisfaçam às necessidades da população, de forma contínua, em lugares acessíveis e que garanta o acesso da população aos diferentes níveis de atendimento do sistema de serviços de saúde. Existe de acordo essa mesma resolução, os níveis de complexidade, que são limites utilizados a fim de hierarquizar os estabelecimentos do sistema de prestação de saúde segundo as características das atividades prestadas, a profundidade de especialização das mesmas e a frequência em que ocorrem. O nível primário é caracterizado por atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde no nível ambulatorial, agrupando atividades de saúde, saneamento e apoio diagnóstico (posto de saúde). Já o nível secundário é destinado a desenvolver atividades um pouco mais complexas, que são assistenciais nas quatro especialidades médicas básicas: clínica médica, gineco-obstetrícia, pediatria e clinica cirúrgica, além de especialidades estratégicas, nas modalidades de atenção ambulatorial, internação, urgência e reabilitação (hospitais locais e regionais). Por último, o nível terciário é o mais complexo dos níveis de atendimento, sendo as modalidades de atendimento ambulatorial, internação e urgência (hospitais especializados). O sistema de referência e contrarreferência caracteriza-se por uma tentativa de organizar os serviços de forma a possibilitar o acesso pelas pessoas que procuram os serviços de saúde. Esse sistema é feito da seguinte maneira: uma pessoa atendida na unidade básica, se necessário, é “referenciada”, ou seja, encaminhada, para uma unidade de nível de maior complexidade, para receber o atendimento necessário. Quando o atendimento for finalizado, o mesmo paciente deve ser “contrarreferenciado”, o que significa que o profissional deve encaminhar o usuário para a unidade de origem para que o atendimento seja continuado. A referência e a contrarreferência devem ser feitas em formulários próprios da instituição, preenchido pelo profissional de nível superior responsável. Em resumo, a referência compreende-se o transito do nível de menor para o de maior complexidade, enquanto que a contrarreferência compreende o de maior para o de menor complexidade. O objetivo principal desse sistema é otimizar o funcionamento do sistema de saúde, proporcionando ao usuário adequado atendimento a partir do conhecimento pregresso do seu estado de saúde e tratamentos passados, e com isso, um serviço de saúde informará ao outro a respeito dos procedimentos realizados e as possíveis condutas a serem seguidas. Entretanto, o funcionamento desse sistema é precário e não há garantia de continuidade da assistência, um motivo é que a referência é feita na guia de interconsulta e exigida das unidades básicas, mas não há contrarreferência de consultas e internações, apenas de exames diagnósticos (ou nem isso). O Ambulatório Regional de Especialidades (ARE) encaminha os clientes de volta, sem a contrarreferência formal, e o relacionamento interpessoal entre profissionais também é um fator que leva a um colapso no sistema de saúde, pelo fato de que a relação de amizade é determinante para o sucesso e a agilidade no encaminhamento do cliente, sem obedecer as leis e fluxos normais, com a interferência na contrarreferência. Existe também outro problema, que é o fato de que algumas vezes o médico não anota o que o paciente disse, o que ele precisou tomar e nem nada relacionado ao atendimento, e quando esse paciente é transferido, as informações passam a depender do relato do cliente, que as transmite segundo entendimento e linguagem próprios, e assim, muitas informações sobre a consulta e tratamento anterior são perdidas. E nesse sentido, é importante buscar medidas que tornem esse sistema eficiente na rede. Uma ideia é a criação de um formulário modelo para o sistema de referência e contrarreferência para as equipes dos ESF’s, esses formulários iriam facilitar para o medico da atenção básica estruturar o caso clínico do paciente com mais qualidade, pois iria ser feito com cada campo em especifico. Nesse formulário também teria uma área de “check-list” em que o especialista deve preencher se aquele paciente continuará fazendo acompanhamento com o mesmo médico, se foi referenciado a outro especialista ou outro nível de atenção, ou se seu caso está encerrado. Ainda seria possível que o especialista destacasse sua conduta, sugestões e observações para o médico seguinte. Outras muitas ideias seriam necessárias para melhorar o sistema referenciado, já que sem ele há um colapso do sistema de saúde, pelo fato de que o nível secundário estaria sobrecarregado por causa que as pessoas não teriam conhecimento de que seu problema poderia ser tratado no nível primário, ou mesmo o contrário, e assim poderia ser evitado uma superlotação e atendimentos repetidos em um mesmo paciente, pelo fato de que o especialista anterior não contrarreferenciou de maneira adequada (ou até mesmo de maneira nenhuma) e levou a falha de comunicação entre os níveis de atenção OBJETIVO 4: Analisar o contexto psicossocial do paciente com Chikungunya ➢ Segundo o médico, o paciente tem sua rotina de trabalho e lazer prejudicada, por conta das intensas dores que as pessoas sentem quando a doença evolui para a fase subaguda e crônica. Esse quadro acarreta não só um impacto social na comunidade com também um impacto econômico. ➢ O apoio psicológico é importante em todas as fases dessa doença, sobretudo como uma boa forma de aliviar o quadro de tristeza e sofrimento trazidos pelo estado de dor e edemas crônicos em consequência do longo período de adoecimento. ➢ Muitos ficam deprimidos, aparecem com fibromialgia, perdem o emprego e têm dificuldades depois. É uma doença com uma carga psicossocial muito alta. ➢ Importância de um acompanhamento psicológico pois um dos medicamentos que podem ser utilizados para o controle dos sintomas é a oxicodona que, após o uso prolongado, pode causar dependência ➢ A CHIKV pode causar repercussões de longo prazo como a artralgia persistente, sendo intensamente incapacitante em proporção significativa de pacientes, afetando consideravelmente a qualidade de vida e gerando implicações na saúde pública e individual. Por conta desse efeito e outras sequelas debilitantes, os indivíduos portadores de CHIKV relatam redução subsequente em suas atividades diárias, bem como prejuízo em sua saúde mental, sendo frequentemente relatado sinais de humor deprimido entre os pacientes. OBJETIVO 5: Descrever o Planejamento e Gestão de Serviços de Saúde enfatizando a importância da intersetorialidade A intersetorialidade pode ser definida como a integração de diversos saberes e experiências de diferentes sujeitos e serviços sociais que contribuem nas decisões de processos administrativos para o enfrentamento de problemas complexos, com ações voltadas aos interesses coletivos que melhoram a eficiência da gestão política e dos serviços prestados. Logo, desenvolver estratégias e ações intersetoriais envolve atuar com diferentes sujeitos e serviços sociais, que, por meio de saberes, poderes e vantagens para resolver problemas complexos, constroemuma nova concepção de planejamento, execução e controle dos serviços prestados, que objetiva garantir tratamento equânime às pessoas. Trabalhar de modo intersetorial significa superar a fragmentação do conhecimento e da prática e buscar a unidade e a diversidade para melhor compreensão da realidade. ➢ Em 1984, a OMS definiu a intersetorialidade em saúde como uma coordenação entre setores ou como uma intervenção coordenada de instituições em ações destinadas a abordar um problema vinculado à saúde ou ainda como a articulação entre saberes e experiências no planejamento, realização e avaliação de ações para alcançar efeitos sinérgicos em situações complexas. Atualmente, é considerada um componente central das políticas de saúde voltadas para a mudança do modelo assistencial. ➢ A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), aprovada por meio da Portaria MS/GM nº 687, de 30 março de 2006, afirma que, para o desenvolvimento da promoção da saúde, é imprescindível intervir em problemas como “violência, desemprego, subemprego, falta de saneamento básico, habitação inadequada ou ausente, dificuldade de acesso à educação, fome, urbanização desordenada, má qualidade do ar e da água”. Essas questões estão em sintonia com o artigo 3º da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, documento que institui o Sistema Único de Saúde (SUS). Dessa forma, imbuída do princípio de que a saúde depende da qualidade de vida, a PNPS afirma que as ações públicas em saúde devem ir além da ideia de cura e reabilitação. É preciso privilegiar medidas preventivas e de promoção da saúde, transformando os fatores da vida que colocam as coletividades em situação de iniquidade e vulnerabilidade. Para isso, é fundamental o desenvolvimento de ações intersetoriais para a geração de emprego e renda, fortalecimento da educação, preservação ambiental, planejamento de espaços urbanos e rurais, realização de iniciativas culturais e esportivas, dentre outras, o que ampliaria a capacidade das políticas públicas de incidirem sobre os determinantes sociais da saúde, tornando-as mais efetivas. ➢ Intersetorialidade: Modo de gestão desenvolvido por meio de processo sistemático de articulação, planejamento e cooperação entre os distintos setores da sociedade e entre as diversas políticas públicas para intervir nos determinantes sociais. Notas: I) A intersetorialidade tem como princípios a corresponsabilidade, a cogestão e a coparticipação entre os diversos setores e políticas em prol de um projeto comum. II) Prática social construída para enfrentar os limites da cultura organizacional, marcada historicamente por ações isoladas e setorializadas onde os serviços, produtos e ações são ofertados separadamente. Constitui-se em estratégia, articulada entre saberes e práticas, que busca a convergência entre recursos humanos, financeiros, políticos e organizacionais. III) Implica no estabelecimento de relações de poder horizontais, exigindo processos de pactuação para enfrentamento de conflitos e problemas. ➢ Portanto, a intersetorialidade emerge como determinante de uma nova maneira de trabalhar, de construir e gerir as políticas públicas que baseiam a promoção da saúde e melhora da qualidade de vida da população. – “Eu vejo a intersetorialidade como uma forma conjunta que a gente tem, nós e outros espaços, de identificar um problema e buscar articular uma solução em conjunto.” - basicamente é todos os setores se juntando para promover a saúde da população e uma boa qualidade de vida e, para isso, são feitas políticas públicas para mudança de cenário. OBJETIVO 6: Entender os tipos de estudos epidemiológicos Os estudos epidemiológicos podem ser classificados em observacionais e experimentais. De uma maneira geral, os estudos epidemiológicos observacionais podem ser classificados em descritivos e analíticos. o Observacionais: 1-Descritivos Os estudos descritivos têm por objetivo determinar a distribuição de doenças ou condições relacionadas à saúde, segundo o tempo, o lugar e/ou as características dos indivíduos. Ou seja, responder à pergunta: quando, onde e quem adoece? A epidemiologia descritiva pode fazer uso de dados secundários (dados pré-existentes de mortalidade e hospitalizações, por exemplo) e primários (dados coletados para o desenvolvimento do estudo). A epidemiologia descritiva examina como a incidência (casos novos) ou a prevalência (casos existentes) de uma doença ou condição relacionada à saúde. Varia de acordo com determinadas características, como sexo, idade, escolaridade e renda, entre outras. Quando a ocorrência da doença/condição relacionada à saúde difere segundo o tempo, lugar ou pessoa, o epidemiologista é capaz não apenas de identificar grupos de alto risco para fins de prevenção (por exemplo: na cidade de Bambuí, verificou-se que idosos com renda familiar inferior a três salários mínimos ingeriam menos frutas e legumes frescos e praticavam menos exercícios físicos do que aqueles com renda familiar mais alta), mas também gerar hipóteses etiológicas para investigações futuras. No Brasil, existem importantes bancos de dados secundários com abrangência nacional – como o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM-SUS), o Sistema de Informações sobre Autorizações de Internações Hospitalares (SIH-SUS) e a Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar – que podem ser usados em estudos epidemiológicos. 2-Relato de caso Relatos são a descrição detalhada de casos clínicos, contendo características importantes sobre os sinais, sintomas e outras características do paciente e relatando os procedimentos terapêuticos utilizados, bem como o desenlace do caso. Possuem indicação clara em situações de doenças raras, para as quais tanto o diagnóstico como a terapêutica não estão claramente estabelecidos na literatura científica. Um bom relato de caso deve ter o objetivo de acrescentar benefícios às práticas atuais ou de traçar possíveis novas direções na pesquisa de determinado tema em que um único ou poucos indivíduos possam ser representativos. Propõe formas inovadoras na abordagem de uma doença ou tratamento, além da formulação de novas hipóteses que podem ser testadas em outros desenhos de estudo. Além disso, em determinadas situações, o relato é um estudo inicial para a elaboração de estudos maiores. São ainda importantes para detecção de epidemias. Como indicações claras de relato e série de casos teríamos: detecção de epidemias, descrição de características de novas doenças, formulação de hipóteses sobre possíveis causas para doenças, descrição de resultados de terapias propostas para doenças raras e de efeitos adversos raros em doenças comuns. Como principais desvantagens desses estudos temos: conclusões baseiam-se em poucos casos, não possuem amostragem representativa e metodologia capaz de validar associação causal, não há grupo controle para comparação, não quantifica a prevalência na população e a metodologia de diagnóstico não é padronizada. Uma situação em que classicamente o relato de caso tem uma grande importância é no estudo de doenças raras. Isso se deve ao fato de ser praticamente impossível a compilação de vários casos de pacientes em um único estudo. Terapêuticas são avaliadas quanto ao sucesso e ao fracasso num único indivíduo e esses “erros e acertos” são apreendidos para um próximo caso. Exemplo recente disso é o uso de uma terapia contra raiva, que foi inicialmente testada nos Estados Unidos, e que propiciou o primeiro caso de sobrevivência com a doença instalada e que depois foi utilizada em mais dois casos no mundo, sendo um no Brasil, noticiado amplamente pela imprensa. As conclusões que podem ser retiradas desses estudos são geralmente limitadas pelo pequeno número de indivíduos epela ausência de um grupo controle. Somente podem demonstrar eficácia de um tratamento sob raríssimas condições (melhora dramática e quando não há outra terapia disponível). Jamais podem ser utilizados para demonstração de segurança de uma intervenção devido à raridade de alguns efeitos adversos. O principal problema no uso de relatos de casos para a instituição de uma terapia nova é que geralmente são publicados aqueles casos que tiveram sucesso com a intervenção, o que constitui o viés de publicação. Uma pesquisa demonstrou que mais de 90% dos relatos de casos publicados em determinado período se referiam a sucessos. 3-Série de casos Uma série de casos é uma forma de estudo do tipo observacional, muito comum na pesquisa médica, que acompanha pacientes com uma exposição conhecida a um dado tratamento similar ou analisa os prontuários médicos para avaliar a relação entre exposição e desfecho. Ela pode ser retrospectiva ou prospectiva e geralmente envolve um número menor de pacientes em relação a outros desenhos de estudos mais poderosos, como o caso-controle ou estudos randomizados controlados. Série de casos pode ser consecutivas ou não-consecutivas. o Analíticos Estudos analíticos são aqueles delineados para examinar a existência de associação entre uma exposição e uma doença ou condição relacionada à saúde. Os principais delineamentos de estudos analíticos são: a) ecológico; b) seccional (transversal); c) caso-controle (caso-referência); e d) coorte (prospectivo). Nos estudos ecológicos, tanto a exposição quanto a ocorrência da doença são determinadas para grupos de indivíduos. Nos demais delineamentos, tanto a exposição quanto a ocorrência da doença ou evento de interesse são determinados para o indivíduo, permitindo inferências de associações nesse nível. As principais diferenças entre os estudos seccionais, caso-controle e de coorte residem na forma https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Caso-controle&action=edit&redlink=1 de seleção de participantes para o estudo e na capacidade de mensuração da exposição no passado. 1-Transversal Nos estudos seccionais, a exposição e a condição de saúde do participante são determinadas simultaneamente. Em geral, esse tipo de investigação começa com um estudo para determinar a prevalência de uma doença ou condição relacionada à saúde de uma população especificada (por exemplo, habitantes idosos de uma cidade). As características dos indivíduos classificados como doentes são comparadas às daqueles classificados como não doentes. Um exemplo de estudo seccional foi desenvolvido na cidade de Bambuí, situada no interior de Minas Gerais, para determinar a prevalência e os fatores sociodemográficos associados à depressão. Um questionário foi aplicado para identificar os indivíduos com depressão em uma amostra representativa da população da cidade com 18+ anos de idade (1.041 participantes). Os episódios depressivos atuais estavam associados ao sexo (maior prevalência no sexo feminino, em comparação ao sexo masculino), à idade (maior prevalência nos mais velhos, em comparação aos mais jovens) e à condição atual de trabalho (maior prevalência entre aqueles que não estavam trabalhando, em comparação aos que estavam). Saliente-se que as determinações do episódio depressivo atual e da ocupação foram feitas simultaneamente, ou seja, não foi possível saber se a ausência de trabalho foi anterior ou posterior ao surgimento do episódio depressivo. Esta é a característica fundamental de um estudo seccional: não é possível saber se a exposição antecede ou é consequência da doença/condição relacionada à saúde. Portanto, esse delineamento é fraco para determinar associações do tipo causa-efeito, mas adequado para identificar pessoas e características passíveis de intervenção e gerar hipóteses de causas de doenças. Em relação ao estudo de Bambuí, os resultados mostraram que a depressão é um importante problema de saúde na comunidade, especialmente entre mulheres, pessoas mais velhas e aqueles que não estão trabalhando. O resultado do estudo também gerou uma hipótese sobre a influência da ausência de trabalho no desenvolvimento do episódio depressivo. 2-Caso-Controle Os estudos caso-controle e os estudos de coorte podem ser utilizados para investigar a etiologia de doenças ou de condições relacionadas à saúde entre idosos, determinantes da longevidade; e para avaliar ações e serviços de saúde. Os estudos de coorte também podem ser utilizados para investigar a história natural das doenças. Nos estudos caso-controle, primeiramente, identificam-se indivíduos com a doença (casos) e, para efeito de comparação, indivíduos sem a doença (controles). Depois, determina-se (mediante entrevista ou consulta a prontuários, por exemplo) qual é a Odds da exposição entre casos (a/c) e controles (b/d). Se existir associação entre a exposição e a doença, espera- se que a Odds da exposição entre casos seja maior que a observada entre controles, além da variação esperada devida ao acaso. Os estudos caso-controle, ao contrário dos estudos de coorte (ver a seguir), partem do efeito (doença) para a investigação da causa (exposição). Nesse artifício, residem as forças e as fraquezas desse tipo de estudo epidemiológico. Entre as vantagens, podemos mencionar: a) tempo mais curto para o desenvolvimento do estudo, uma vez que a seleção de participantes é feita após o surgimento da doença; b) custo mais baixo da pesquisa; c) maior eficiência para o estudo de doenças raras; d) ausência de riscos para os participantes; e) possibilidade de investigação simultânea de diferentes hipóteses etiológicas. Por outro lado, os estudos caso-controle estão sujeitos a dois principais tipos devieses (erro sistemático no estudo): de seleção (casos e controles podem diferir sistematicamente, devido a um erro na seleção de participantes); e de memória (casos e controles podem diferir sistematicamente, na sua capacidade de lembrar a história da exposição). Essas limitações podem ser contornadas no delineamento e condução cuidadosos de um estudo caso-controle. Um estudo caso-controle para investigar a associação de quedas entre idosos e uso de medicamentos está sendo desenvolvido no Município do Rio de Janeiro. Os casos são pessoas com 60+ anos de idade, internadas em seis hospitais do município por fratura decorrente de queda. Os controles são pacientes dos mesmos hospitais internados por outras causas. Até o momento, os resultados sugerem um maior risco de quedas e fraturas entre aqueles que fazem uso de benzodia-zepínicos (Odds Ratio-OR=1,9; Intervalo de Confiança-IC em nível de 95%=1,0-3,8) e miorrelaxantes (OR=1,9; IC95%=1,0-4,0). 3-Coorte Nos estudos de coorte, primeiramente, identifica-se a população de estudo e os participantes são classificados em expostos e não expostos a um determinado fator de interesse. Depois, os indivíduos dos dois grupos são acompanhados para verificar a incidência da doença/condição relacionada à saúde entre expostos (a/a + d) e não expostos (c/c + d). Se a exposição estiver associada à doença, espera-se que a incidência entre expostos seja maior do que entre não expostos, além da variação esperada devida ao acaso. Nesse tipo de estudo, a mensuração da exposição antecede o desenvolvimento da doença, não sendo sujeita ao viés de memória como nos estudos caso- controle. Além disso, os que desenvolveram a doença e os que não desenvolveram não são selecionados, mas sim identificados dentro das coortes de expostos e não expostos, não existindo o viés de seleção de casos e controles. Os estudos de coorte permitem determinar a incidência da doença entre expostos e não expostos e conhecer a sua história natural. A principal limitação para o desenvolvimento de um estudode coorte, além do seu custo financeiro, é a perda de participantes ao longo do seguimento por conta de recusas para continuar participando do estudo, mudanças de endereços ou emigração. Os custos e as dificuldades de execução podem comprometer o desenvolvimento de estudos de coorte, sobretudo quando é necessário um grande número de participantes ou longo tempo de seguimento para acumular um número de doentes ou de eventos que permita estabelecer associações entre exposição e doença. 4-Ecológico Nos estudos ecológicos, compara-se a ocorrência da doença/condição relacionada à saúde e a exposição de interesse entre agregados de indivíduos (populações de países, regiões ou municípios, por exemplo) para verificar a possível existência de associação entre elas. Em um estudo ecológico típico, medidas de agregados da exposição e da doença são comparadas. Nesse tipo de estudo, não existem informações sobre a doença e exposição do indivíduo, mas do grupo populacional como um todo. Uma das suas vantagens é a possibilidade de examinar associações entre exposição e doença/condição relacionada na coletividade. Isso é particularmente importante quando se considera que a expressão coletiva de um fenômeno pode diferir da soma das partes do mesmo fenômeno. Por outro lado, embora uma associação ecológica possa refletir, corretamente, uma associação causal entre a exposição e a doença/condição relacionada à saúde, a possibilidade do viés ecológico é sempre lembrada como uma limitação para o uso de correlações ecológicas. O viés ecológico – ou falácia ecológica – é possível porque uma associação observada entre agregados não significa, obrigatoriamente, que a mesma associação ocorra em nível de indivíduos. o Experimentais Estudos experimentais ou de intervenção envolvem a tentativa de mudar os determinantes de uma doença, tais como uma exposição ou comportamento, ou cessar o progresso de uma doença através de tratamento. São similares a experimentos realizados em outras ciências. Entretanto, os estudos experimentais estão sujeitos a uma série de restrições uma vez que envolvem intervenções a saúde das pessoas. Os principais delineamentos experimentais são os seguintes: • ensaios clínicos randomizados, cujos participantes são os pacientes; • ensaios de campo em que os participantes são pessoas saudáveis; e • ensaios comunitários, onde os participantes são os próprios membros da comunidade. Em todos os estudos epidemiológicos é essencial ter uma clara definição do que venha a ser um caso da doença sob investigação, isto é, quais são os sinais, sintomas e outras características que permitem classificar a pessoa como doente. É também necessário definir o que vem a ser um indivíduo exposto, isto é, as características que identificam uma pessoa como sendo exposta para um determinado fator em estudo. A ausência de uma definição clara de doença ou exposição torna muito difícil interpretar os dados de um estudo epidemiológico. 1-Ensaio clínico randomizado O estudo clínico randomizado (ECR) consiste basicamente em um tipo de estudo experimental, desenvolvido em seres humanos e que visa o conhecimento do efeito de intervenções em saúde. Pode ser considerado como uma das ferramentas mais poderosas para a obtenção de evidências para a prática clínica. Associada a esse poder, encontra-se a simplicidade em seu desenho, quando comparado a outros tipos de estudos. Bons ECRs são capazes de minimizar a influência de fatores de confusão sobre relações de causa-efeito, quando comparados aos demais desenhos, daí sua grande relevância como fonte de evidências. No caso específico do ECR, diferencia-se dos demais tipos de estudos clínicos experimentais pelo fato de que os participantes recebem uma dentre as intervenções propostas de forma aleatória. No contexto da classificação dos estudos científicos em saúde, pode-se dizer que os ECRs são, dentre os estudos primários, os de maior relevância para a clínica. As revisões sistemáticas, apesar de serem consideradas ainda mais relevantes, são estudos secundários, ou seja, dependem de estudos primários com qualidade para derivarem inferências. Daí a grande importância dos ECRs como fonte de evidências também para as revisões sistemáticas. A fim de determinar se um artigo científico se refere ao relato de um ECR, quatro características fundamentais devem estar presentes em um artigo científico. A primeira delas é a comparação entre intervenções aplicadas à saúde de seres humanos, ou seja, estudos sobre aspectos sem relação direta com a saúde ou desenvolvidos em animais são desconsiderados. Um segundo aspecto relevante é a natureza prospectiva; as intervenções são planejadas antes e a exposição é controlada pelos pesquisadores. Em terceiro lugar, duas ou mais intervenções são comparadas no estudo. Por intervenção, entendem-se, além de tratamentos para desordens físicas ou mentais, os regimes preventivos, programas de detecção ou testes diagnósticos (uma pode ser um grupo controle/sem tratamento). Além disso, uma ou mais das intervenções comparadas pode ser consistir em um grupo controle, sem nenhum procedimento ativo. Por fim, a aplicação das intervenções deve ser aleatória, tendo apenas a chance influenciando o processo. O ensaio clínico randomizado é um tipo de estudo de intervenção em que se parte da causa em direção ao efeito (ver Figura 1). Os participantes são divididos, aleatoriamente, em dois grupos: o grupo da intervenção e o grupo dos controles. Essa alocação aleatória tem como principal finalidade tornar os dois grupos semelhantes entre si. Idealmente, os ensaios clínicos devem ser randomizados, controlados e duplo-cegos. • Randomizados: significa que os pacientes são alocados para um dos dois grupos de forma aleatória, como, por exemplo, lançando-se uma moeda. • Controlados: significa que além do grupo que vai receber o tratamento novo que se quer testar, um outro grupo (o grupo controle) receberá placebo ou o tratamento até então consagrado (se houver) para aquela doença. • Duplo-cegos: significa que nem o paciente, nem o profissional que irá avaliar a ocorrência do desfecho que se quer prevenir (complicação da doença) deverão ter conhecimento do grupo ao qual o paciente pertence (intervenção ou controle). É o estudo de melhor delineamento para investigar a relação causa-efeito. O fato de serem dois grupos semelhantes, cuja única diferença é a intervenção, e o uso de técnicas de avaliação duplo-cega e de placebos tornam esse tipo de estudo o menos sujeito a vieses e o mais semelhante a um estudo experimental de laboratório. O ensaio clínico randomizado é semelhante ao estudo de coorte, onde também se parte da causa para o efeito. O estudo de coorte, entretanto, não permite a alocação aleatória da exposição. ➢ Vantagens e desvantagens dos ensaios clínicos randomizados: • Vantagens: Não devem ser influenciados por variáveis de confusão; Permitem estudar a história natural da doença; • Desvantagens: Podem ser muito caros; Podem não ser generalizáveis; Podem ser eticamente inaceitáveis; Muitos pacientes podem desistir do tratamento; O ensaio clínico randomizado é considerado o delineamento padrão-ouro, pois é o que menos sofre a influência de fatores de confusão e vieses. Algumas desvantagens, entretanto, devem ser lembradas. Além de ser um estudo de custo geralmente elevado e, sob o ponto de vista ético, muitas vezes inaceitável, apresenta, como uma das principais desvantagens, as perdas e recusas de acompanhamento. Para que isso não aconteça é preciso que o grupo de participantes seja cooperativo, o que muitas vezes é extremamente difícil. O estudo também exige muita cautela na seleção dos grupos, pois eles podem não ser representativosda população devido às exigências dos critérios de inclusão. 2-Ensaio de campo Ensaios de campo, em contraste com os ensaios clínicos, envolvem pessoas que estão livres de doença, mas sob risco de desenvolvê-la. Os dados são coletados “no campo”, usualmente entre pessoas da população geral não institucionalizadas. Uma vez que os participantes estão livres da doença e o propósito é prevenir a ocorrência de doenças mesmo entre aquelas de baixa frequência, os ensaios de campo envolvem um grande número de pessoas, o que os torna caro e logisticamente complicados. Um dos maiores ensaios de campo já realizados foi para testar a vacina Salk para prevenção da poliomielite, que envolveu mais de um milhão de crianças. Os ensaios de campo podem ser utilizados para avaliar intervenções que objetivam reduzir a exposição sem necessariamente medir a ocorrência dos efeitos sobre a saúde. Por exemplo, diferentes métodos para proteção a exposição de pesticida têm sido testados dessa forma. Outro exemplo é a medida de chumbo sérico em crianças. Ensaios de campo mostraram que a exclusão do chumbo na composição das tintas utilizadas para pintar domicílios forneceu proteção às crianças. Esse tipo de estudo de intervenção pode ser realizado em pequena escala e com custos menores quer seja porque não envolvem acompanhamentos de longo período, quer seja porque não exigem a medida de doença como desfecho. 3-Ensaio Comunitário Nesse tipo de experimento, os grupos de tratamento são comunidades ao invés de indivíduos. Esse delineamento é particularmente apropriado para doenças que tenham suas origens nas condições sociais e que possam ser facilmente influenciadas por intervenções dirigidas ao comportamento do grupo ou do indivíduo. As doenças cardiovasculares são um bom exemplo de uma condição apropriada para ensaios comunitários, muitas das quais estão, agora, sob investigação. ➢ Limitações dos ensaios comunitários: Uma limitação desse tipo de delineamento é que somente um pequeno número de comunidades pode ser incluído e a alocação aleatória das comunidades não é muito prática. Assim, outros métodos são requeridos para assegurar que quaisquer diferenças encontradas ao final do estudo possam ser atribuídas à intervenção e não a diferenças inerentes às comunidades. Além disso, é difícil isolar as comunidades onde a intervenção está sendo conduzida devido a mudanças sociais em curso. A Figura 3.9 mostra um ensaio comunitário sobre tuberculose na zona rural da Etiópia. Nesse ensaio, 32 comunidades – com uma população combinada de 350 mil pessoas – foram randomicamente alocadas para fazer parte de um grupo de intervenção e de um grupo controle. Esse estudo mostrou que houve aumento na velocidade de identificação de casos de tuberculose em determinadas comunidades.
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