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Raissa Aragão @psicoraissa O Nascimento da Medicina Social A medicina é uma prática social que só é individualista em um aspecto, a relação médico-doente. O capitalismo se desenvolveu no fim do Século XVIII e início do Século XIX e socializou em primeiro objeto o corpo enquanto força de produção/ força de trabalho. O controle da sociedade sobre os indivíduos não se opera simplesmente pela ideologia, mas começa no corpo. Foi no biológico, no somático e no corporal, que, antes de tudo, investiu a sociedade capitalista. O corpo é uma realidade bio-política. A medicina é uma estratégia bio- política. A princípio o corpo do proletário foi assumido pela medicina, para então ser visto como força de trabalho. Foi na segunda metade do Século XIX, que se colocou o problema do corpo, da saúde e do nível de força produtiva nos indivíduos 3 Etapas de formação da Medicina Social 1) Medicina de Estado (Alemanha, Séc. XVIII) A ciência do estado agrupava, por um lado, um conhecimento que tem por objeto o estado (inquéritos: recursos, população, modo como funciona o aparelho político, etc.) e por outro lado, Stastswissenschaft significa também o conjunto dos procedimentos pelos quais o estado extraiu e acumulou conhecimentos para melhor assegurar o seu funcionamento. Estado: objeto de conhecimento, mas também instrumento e lugar de formação de conhecimentos específicos. Por que a medicina de estado nasceu primeiro na Alemanha? Política mercantilista: aumentar a produção da população, majorar a quantidade de população ativa e estabelecer fluxos comerciais que tragam para o estado moeda para pagar exércitos e tudo que possa assegurar sua força; França, Inglaterra, Áustria: cálculo da força ativa de suas populações (natalidade, mortalidade e índice de saúde). Alemanha: uma prática médica efetivamente centrada na melhoria do nível de saúde da população; Polícia médica de um estado: 1750 a 1770; Início do século XIX: • Sistema complexo de observação da morbidade; • Normalização da prática e do saber médico; 2) Medicina Urbana (França, Séc. XVIII) É com o desenvolvimento das ciências urbanas que se desenvolve, na França, a medicina social. A cidade não é mais apenas um lugar de mercado, mas de produção/ regulação, tensões políticas no interior da cidade e revoltas de subsistência, causadas principalmente pela unificação do poder. • Cabanis (Séc. XVIII) se alteram; todas as vezes que se reúnem em lugares • Reação da classe burguesa: Intervenção pelo modelo médico e político da quarentena (plano de urgência): 1 Ninguém movimenta´-se; 2 Sistema de vigilância que dividia e esquadrinhava o espaço urbano; 3 Vigias de rua registro e relato do observado; 4 Revista exaustiva de vivos e mortos; 5 Prática de desinfecção. Medicina Urbana Nasce o medo urbano, característico de um novo cuidado e inquietude político-sanitária. Ex: Cemitério dos Inocentes • Esquema médico de reação à lepra: Medicalizar alguém era manda-lo para fora e, por conseguinte, purificar os outros; • Esquema suscitado pela peste: O poder político da medicina consiste em distribuir os indivíduos uns ao lado dos outros, isola-los, invidualiza- los, vigia-los um a um, constatar o estado de saúde de cada um. A higiene pública é uma variação sofisticada do tema da quarentena e é dai que provém a grande medicina urbana que aparece na segunda metade do século XVIII e se desenvolve sobretudo na França. Raissa Aragão @psicoraissa 1 - Analisar as regiões de amontoamento, de confusão e perigo no espaço urbano. Ex: Individualização do cadáver, do caixão e do túmulo 2 - Controlar a circulação das coisas e dos elementos, essencialmente a água e o ar. Ex: Alargamento das vias 3 - Organizar as distribuições e frequências do que seja comum à vida urbana Ex: Problema de propriedade privada, do sub-solo e das caves. Os pobres só foram problematizados como fonte de perigo médico no segundo terço do Século XIX: • Razão política: A população pobre se tornou uma força política capaz de se revoltar ou ser parte de revoltas; • Criação de um sistema postal e de carregadores; • A cólera de 1822 cristalizou em torno da população pobre uma série de medo políticos e sanitários. O poder político atingiu o direito da propriedade e da habitação privadas. 3) Medicina dos Pobres (Inglaterra, Séc. XIX) Surge com a lei dos pobres que comporta o controle médico do pobre, ao mesmo tempo em que o beneficia com um sistema de assistência, um cordão sanitário funciona como proteção dos ricos em relação às epidemias vindas dos pobres, que recebem tratamento das doenças gratuitamente. É essencialmente na lei dos pobres que a medicina inglesa começa a tornar-se social, na medida em que o conjunto dessa legislação comportava um controle médico do pobre. A partir do momento em que o pobre se beneficia do sistema de assistência, deve, por isso mesmo, se submeter a vários controles médicos. • Os sistemas de Health Service (Inglaterra, 1875) ➢ Controle de vacinação; ➢ Organização do registro das epidemias e doenças capazes de se tornarem epidêmicas, obrigando as pessoas à declaração de doenças perigosas; ➢ Localização de lugares insalubres e eventual destruição desses focos de insalubridade. • Luta contra a medicalização autoritária: Reivindicar o direito das pessoas não passarem pela medicina oficial, o direito sobre o seu próprio corpo, o direito de viver, de estar doente, de se curar e morrer como quiserem. Escapar da medicalização autoritária é um dos temas que marcaram vários grupos religiosos, com vida intensa no final do Século XIX. A medicalização inglesa possibilitou, por um lado, ligar a assistência médica ao pobre, o controle de saúde da força de trabalho e esquadrinhamento geral da saúde pública, permitindo às classes mais ricas se protegerem dos perigos gerais, e, por outro lado, a realização de três modelos superpostos e coexistentes: uma medicina assistencial, uma medicina administrativa e uma medicina privada. O sistema inglês possibilitava a organização de uma medicina de faces e formas de poder diferentes segundo se tratasse da medicina assistencial, administrativa e privada, setores bem delimitados que permitiram, durante o final do século XIX e primeira metade do século XX, a existência de um esquadrinhamento médico bastante completo.
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