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Professor: Augusto Moutella Nepomuceno | Disciplina: Direito Administrativo I AV1 DIREITO ADMINISTRATIVO 1 Questão 01: (2,0) – O Estado X está realizando obras de duplicação de uma estrada. Para tanto, foi necessária a interdição de uma das faixas da pista, deixando apenas uma faixa livre para o trânsito de veículos. Apesar das placas sinalizando a interdição e dos letreiros luminosos instalados, Fulano de Tal, dirigindo em velocidade superior à permitida, distraiu-se em uma curva e colidiu com algumas máquinas instaladas na faixa interditada, causando danos ao seu veículo. A partir do caso proposto, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir. a) Em nosso ordenamento, é admissível a responsabilidade civil do Estado por ato lícito? Em nosso ordenamento é possível a responsabilização civil do Estado por ato lícito. De acordo com o art. 37, § 6º da Constituição Federal, as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes causarem a terceiros. Desta forma, não há restrição de responsabilização aos casos de ilicitude do ato, sendo abrangidos também os atos lícitos que provoquem dano anormais e específicos. Portanto, a regra é a de aplicação da responsabilização objetiva, desta forma, a ocorrência de legítima defesa ou caso fortuito não são causa a afastar a responsabilização do Estado perante seus administrados. b) Considerando o caso acima descrito, está configurada a responsabilidade objetiva do Estado X? No caso acima descrito, não está configurada a responsabilidade objetiva do Estado X. O Estado X cumpriu com o seu dever de cuidado, interditando a faixa impactada pela obra, instalando sinais luminosos e placas de sinalização, ao passo que Fulano de Tal, infringiu as normas de trânsito ao dirigir em velocidade superior à permitida e ao distrair-se em uma curva da estrada. Sendo assim, não há nexo de causalidade entre a conduta administrativa e o dano causado, incorrendo na hipótese de culpa da vítima, com previsão no art. 945 do Código Civil. Questão 2: Em determinada ação de execução movida pela União em desfavor da Construtora Beta Ltda., o poder público indicou para penhora um pequeno prédio de três andares de propriedade da executada. Durante a execução, tentou-se a alienação judicial do bem, mas não houve interessados. Assim, foi requerida – e efetivada – a adjudicação do imóvel para a Fazenda Pública. Passados dois anos da efetiva adjudicação, sobreveio queda nas receitas públicas, obrigando a União a alienar o bem. Sobre a hipótese apresentada, na qualidade de advogado(a), responda aos itens a seguir. a) A venda do imóvel a particulares deve ser precedida de licitação? No caso em tela, é obrigatório o procedimento licitatório na venda do imóvel. Isso se dá em consonância ao disposto no art. 37, XXI da Constituição Federal que determina a obrigatoriedade do procedimento licitatório público no caso de alienação pela administração pública, de forma a ser garantida a igualdade de condições a todos os concorrentes. No mesmo sentido, está o art. 19, III, da Lei 8.666 de 1993, que determina que os bens imóveis cuja aquisição seja derivada de procedimento judicial somente podem ser alienados Professor: Augusto Moutella Nepomuceno | Disciplina: Direito Administrativo I se observada a adoção do procedimento licitatório, sob a modalidade de concorrência ou leilão. b) A venda do imóvel para qualquer outro ente federado deve ser precedida de licitação? Na hipótese de venda do imóvel para outro ente federado é dispensado o procedimento licitatório. Tal dispensa está em conformidade com a exceção prevista no art. 37, XXI da Constituição Federal que ressalva os casos previstos em lei, permitindo uma excepcionalidade à regra da obrigatoriedade do procedimento licitatório. A dispensa do procedimento licitatório no caso de alienação de bens para outro órgão ou entidade da administração pública é o art. 17, I, e da Lei 8.666 de 1993. Questão 3) O Prefeito do Município P, conhecido como João do P, determinou que, todas as placas de inauguração das novas vias municipais pavimentadas em seu mandato na localidade denominada E, fosse colocada a seguinte homenagem: À minha querida e amada comunidade E, um presente especial e exclusivo do João do P, o único que sempre agiu em favor do nosso povo. O Ministério Público Estadual intimou o Prefeito a fim de esclarecer a questão. Na qualidade de procurador do Município, você é consultado pelo prefeito que insiste em manter a situação. Indique o princípio da administração pública violado e os fundamentos jurídicos a este respeito. No caso em tela, há evidente violação ao princípio constitucional da impessoalidade, positivado no art. 37 § 1º da Constituição Federal. Tal princípio disciplina que a publicidade dos atos, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos não podem possuir nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. Devendo a publicidade, nesse contexto, ter caráter educativo, informativo ou de orientação social. Sendo assim, na qualidade de procurador do Município, orientaria o prefeito a revogar a determinação da homenagem a sua própria pessoa das placas de inauguração das novas vias municipais e, nesse mesmo sentido, orientaria que as placas se restringissem ao caráter informativo e educacional do novo empreendimento da administração pública. Questão 4) Governador do Estado X, após a aprovação da Assembleia Legislativa, nomeou o renomado cardiologista João das Neves, ex-presidente do Conselho Federal de Medicina e seu amigo de longa data, para uma das diretorias da Agência Reguladora de Transportes Públicos Concedidos de seu Estado. Ocorre que, alguns meses depois da nomeação, João das Neves e o Governador tiveram um grave desentendimento acerca da conveniência e oportunidade da edição de determinada norma expedida pela agência. Alegando a total perda de confiança no dirigente João das Neves e, após o aval da Assembleia Legislativa, o governador exonerou-o do referido cargo Considerando a narrativa fática acima, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e apresentando a fundamentação legal pertinente ao caso. Professor: Augusto Moutella Nepomuceno | Disciplina: Direito Administrativo I a) A luz do poder discricionário e do regime jurídico aplicável às Agências Reguladoras, foi juridicamente correta a nomeação de João das Neves para ocupar o referido cargo? Não foi correta a nomeação de João das Neves para o referido cargo. O art. 5º da Lei 9.986/00, determina os requisitos que devem ser observados para a nomeação de membros do Conselho Diretor ou da Diretoria Colegiada das Agências Reguladoras. Dentre tais requisitos, constam a necessidade de experiência e conhecimento técnicos compatíveis com o cargo a ser indicado. Desta forma, a indicação de João das Neves inobserva os requisitos legais, visto que como médico, não possuía qualquer experiência ou requisitos técnicos atinentes à área de transportes. Portanto, a nomeação de João das Neves é flagrantemente nula, devendo ser invalidada. b) Foi Correta a decisão do Governador em exonerar João das Neves com Aval da Assembleia Legislativa, em razão da quebra de confiança? Não foi correta a decisão do governador. Conforme já explanado, a nomeação de João das Neves é nula em absoluto, sendo assim, desnecessária é a exoneração. No entanto, ainda que consideremos a regularidade da nomeação, a conduta do governador estaria em discordância com o determinado no art. 9º da Lei 9.986/00, que regula as hipóteses de perda de mandato de membro do Conselho Diretor ou da Diretoria Colegiada. Questão 5) O governo de certo estado da Federação está realizando, no ano corrente, estudos para criar uma agência reguladora para os serviços de transporte intermunicipal, a ser denominada Transportare. Concluiu-se pela necessidade de lei para criar a mencionada entidade autárquica, com a delimitação das respectivas competências relacionadasà atividade regulatória, a abranger a edição de atos normativos técnicos para os serviços públicos em questão, segundo os parâmetros estabelecidos pela lei (as funções de fiscalização, incentivo e planejamento). Apontou-se, ainda, que o quadro de pessoal de tal entidade deveria adotar o regime de emprego público, submetido à Consolidação das Leis do Trabalho, sob o fundamento de ser mais condizente com o princípio da eficiência. Diante dessa situação hipotética, responda, fundamentadamente, aos questionamentos a seguir. a) Existe respaldo constitucional para a competência regulatória a ser atribuída à agência Transportare? Há respaldo constitucional para a competência regulatória a ser atribuída à agência Transportare. Tendo princípio norteador a especialidade, a Agência Reguladora é, fundamentalmente, uma entidade da Administração Indireta com competência para regular matéria específica que lhe está atribuída. Possuindo funções de fiscalização, incentivo e planejamento, próprias da Administração Direta, o poder concedente, nos termos do art. 174 da Constituição Federal. São tratadas as hipóteses de matérias que podem ser atribuídas às Agências Reguladoras nos arts. 21, XI, XII e art. 177 da Constituição Federal. Dentre tais hipóteses, encontra-se a de regulação de serviços de transportes, conforme art. 21, XII, e, da Constituição Federal. Professor: Augusto Moutella Nepomuceno | Disciplina: Direito Administrativo I b) É possível adotar o regime de pessoal sugerido? Não é possível a adoção de regime de pessoal sugerido. A Lei 9.986/00, que dispõe sobre a gestão de recursos humanos das Agências Reguladoras, portanto, norma específica, determina a adoção do regime estatutário. Tal determinação foi positivada pela Lei 10.871/04, que alterou a primeira lei citada no sentido de corroborar a jurisprudência que entendia como incompatível o regime celetista com as funções exercidas pelos servidores das Agências Reguladoras.
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