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- -1 CONTRATOS E RESPONSABILIDADE CONTRATUAL UNIDADE 1 - O QUE É O CONTRATO? Roberto Braga de Andrade - -2 Introdução O é uma realidade socioeconômica que esteve presente em sua vida desde quando você se encontravacontrato na barriga de sua mãe, e certamente o acompanhará, com intensidade crescente, nas outras fases de sua existência. Com efeito, quando você ainda se encontrava em gestação, aguardando o tempo propício para vir à luz, sua mãe contratou, por exemplo, os serviços profissionais de um médico ginecologista e/ou obstetra, para orientá-la clinicamente durante os nove meses de gravidez e realizar os procedimentos do parto. Ainda durante a gravidez, sua mãe adquiriu lindas roupinhas de bebê para o seu enxoval, e utensílios próprios de recém-nascidos, como chupetas, mamadeiras, carrinho etc., celebrando, assim, tantos contratos de compra e quantos foram os itens que ela adquiriu.venda E você? Consegue se lembrar quando foi que celebrou pela primeira vez, pessoalmente, um contrato? Talvez no primeiro dia em que seus pais lhe deram uma pequena soma de dinheiro para comprar guloseimas na lanchonete da escola, ou para comprar meia dúzia de pacotes de figurinhas do álbum da Copa do Mundo, na banca de jornal. Naquela ocasião, inclusive, você provavelmente trocou figurinhas repetidas com seus colegas de escola, por outras que lhe faltavam para completar o álbum. Sabia que essa operação de troca é um “contrato de permuta”? O contrato é uma realidade presente no nosso dia-a-dia, sobretudo aqueles de conteúdo singelo e valor pouco expressivo, explicando-se, em grande parte, à luz das características essenciais da pessoa humana, as quais examinaremos neste capítulo. Pronto para começar? 1.1 Noções preliminares Pode-se dizer que o contrato é um produto da cultura humana, presente hoje na vida de todos os povos civilizados. Trata-se de uma instituição que deita profundas raízes na natureza humana, valendo destacar e analisar três dimensões do contrato que se interconectam umbilicalmente: as dimensões antropológica, econômica e jurídica. Os profissionais do Direito, para bem identificarem o regime jurídico aplicável aos contratos, e para interpretarem corretamente as cláusulas explícitas e implícitas que compõem cada espécime contratual com a qual se deparam, precisam ter sempre muito presentes esses três aspectos que conformam a figura do contrato, uma vez que compõem o contexto do qual deverão extrair o texto, o sentido e o alcance das cláusulas contratuais. 1.1.1 Dimensão antropológica Segundo a Antropologia Clássica, além da dimensão físico-biológica que a aproxima dos animais, a pessoa humana é dotada de três faculdades imateriais que a distinguem radicalmente dos outros seres vivos, não permitindo que ela seja qualificada como “coisa”, e sim como “pessoa”, que na célebre definição de Mânlio Severino Boécio (470-525 d.C.), é a “substância individual de natureza racional” (GAMBRA, 2016, p. 138). Essas faculdades são a a e a inteligência, vontade sociabilidade. Pela – por vezes designada como “intelecto”, outras vezes como “razão” – a pessoa humana é capazinteligência de captar por intermédio dos cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato) as informações e sinais emitidos pelas coisas externas à mente – tais como a dimensão (altura, largura, profundidade), o peso, a cor, o estado físico (líquido, sólido, gasoso), a textura, eventuais sons, a temperatura etc., e em seguida armazenar na memória (que é uma parte da inteligência) a dessas coisas, chamada pelos filósofosimagem desmaterializada de . A matriz filosófica aristotélico-tomista ensina que não há nada em nosso intelecto que antes nãoconceito tenha passado por algum dos cinco sentidos. É contemplando com os nossos sentidos as diversas realidades externas com as quais nos deparamos ao longo da vida que vamos adquirindo os dessas coisas. Assimconceitos opera, muito simplificadamente, a inteligência humana: pela razão somos capazes não apenas de compreender, - -3 opera, muito simplificadamente, a inteligência humana: pela razão somos capazes não apenas de compreender, grande parte das realidades da vida, como também nos comunicar com outras pessoas, a partir de conceitos adquiridos durante a nossa atividade cognitiva ininterrupta.comuns Figura 1 - Inteligência e vontade livre: sem essas faculdades humanas, o contrato não existiria. Fonte: 3Dstock, Shutterstock, 2018. A segunda faculdade humana de extrema relevância é a . A pessoa humana é capaz de vontade autodeterminar- a fazer ou deixar de fazer algo por uma , e , mesmo que tal decisão venha ase decisão pessoal livre consciente contrariar eventualmente os próprios instintos corporais. Intrinsecamente vinculada à vontade, encontra-se a ou o , definido como o poder orientado pela e calcado na de agirliberdade livre-arbítrio inteligência vontade ou não agir, de fazer isto ou aquilo, de praticar, enfim, .atos deliberados Por fim, a pessoa humana se caracteriza pela . Ela não é um ser solitário, isto é, por sua natureza sociabilidade íntima, é um ente social: sem relacionar-se com outras pessoas, ela não consegue desenvolver as suas potencialidades e atingir os seus fins existenciais. Desse modo, a pessoa humana é constitutivamente um ser social, um ente que satisfaz as suas necessidades existenciais por meio de uma subjetividade relacional, sentindo a necessidade de interagir com os seus semelhantes. - -4 Figura 2 - Por natureza, o homem é um ser social, sendo a prática dos contratos uma manifestação dessa sociabilidade. Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018. O é uma das manifestações da natureza , e da pessoa humana, pois a nossacontrato racional livre social vontade, quando verdadeiramente livre, somente se inclina a determinado bem ou utilidade após a inteligência ponderar e concluir que existe alguma razão de conveniência em adquiri-lo. E na medida em que esse bem ou utilidade se encontra na esfera de poder de outra pessoa, com ela buscando as condiçõesdialogamos negociar em que poderia nos transferir o bem ou utilidade que se encontra em seu poder. Havendo acordo sobre essas condições, trocamos promessas recíprocas com essa pessoa, celebrando, desse modo, um contrato. 1.1.2 Dimensão econômica Em Economia, tudo se resume a uma lei quase física: a grande maioria dos bens úteis à pessoa humana são escassos, e o grande desafio é descobrir como produzir o máximo de bens e serviços úteis às pessoas com os recursos disponíveis que são sempre escassos (PINHO; VASCONCELLOS, 2003). Se não houvesse o problema da escassez, não faria sentido falar em propriedade privada, tampouco em contrato. Na realidade, só existiriam bens livres: bastaria fazer um pedido e... pronto! Um carro apareceria de graça para nós. No mundo civilizado, a demanda por bens econômicos e a satisfação correspondente se operam por meio do Uma pessoa detém um bem ou possui o domínio de certa utilidade, que é desejada por outrem,contrato. desprovido desse bem/utilidade. Havendo disposição do detentor em transferi-lo ao interessado em adquiri-lo, e chegando ambos a um consenso quanto ao “preço” de tal transferência e demais condições do negócio, o interessado efetua o pagamento, e o detentor lhe transfere o bem, operação essa que, em Direito, é chamada justamente de “contrato de compra e venda”. - -5 Figura 3 - Os bens úteis à pessoa humana são geralmente escassos. O contrato, e não a força bruta, é o caminho civilizado para adquiri-los. Fonte: Syda Productions, Shutterstock, 2018. Falar de contrato significa sempre remeter – explícita ou implicitamente, direta ou mediatamente – à certa operação econômica. E existe operação econômica onde existe ou de uma circulação transferência de riqueza pessoa para outra, devendo-se entender por “riqueza” toda e qualquer utilidade suscetível de mensuração pecuniária (quantificação em dinheiro), ainda que não se trate de coisas em sentido material ou físico (por exemplo, a marca de um refrigerante). Em síntese, , definiçãoesta decorrente doo contrato é a formalização jurídica de uma operação econômica postulado científico e da consciência social de que a grande maioria das operações econômicas devem obedecer a certas regras legais, em prol da justiça comutativa entre os particulares e do bem comum da sociedade. 1.1.3 Dimensão jurídica O artigo 1.321 do Código Civil italiano, de 1942, traz uma definição de contrato que é perfeitamente válida no Direito brasileiro: “O contrato é o acordo de duas ou mais partes para constituir, regular ou extinguir, entre si, uma relação jurídica patrimonial”. O acordo contratual, também chamado de “consenso”, resulta da exteriorização da vontade interna e psíquica de cada parte, por meio de uma operação intelectual que o Direito denomina como “declaração de vontade”. No contrato, as declarações de vontade das partes são congruentes e convergentes para um fim comum, substanciado na realização de certa operação econômica (por exemplo, a compra e venda de um veículo, a locação de um apartamento, a prestação de serviços odontológicos, a construção de uma casa etc.). Assim, o contrato é uma composição voluntária dos interesses das partes envolvidas, os quais, embora distintos, são correlatos e complementares entre si, pois voltados à realização de uma operação econômica específica. - -6 Figura 4 - Juridicamente, o contrato é o consenso entre partes distintas acerca das condições de realização conjunta de certa operação econômica. Fonte: vgstudio, Shutterstock, 2018. Do ponto de vista estritamente jurídico, as declarações de vontade que constituem o vínculo contratual têm sempre o conteúdo de , que pode objetivar, fundamentalmente, três modalidades de atividades,promessa comumente denominadas pelo Direito de “prestação”: (por exemplo, entregar um bem móvel, ou pagardar algo certa quantia em dinheiro), (como realizar determinado serviço profissional) ou (nãofazer algo não fazer algo comercializar determinados produtos, por exemplo). - -7 No contrato de locação de um imóvel, por exemplo, pode-se identificar esse substrato vinculante: o locatário pagar certa quantia (aluguel) ao locador, e este, por sua vez, transferir a posse do imóvel epromete promete abster-se de perturbar de qualquer modo o exercício da posse do bem locado pelo locatário (por exemplo, ingressando no interior do imóvel sem autorização deste), enquanto durar a locação. É justamente em razão dessas e de dar, fazer ou não fazer algo que os contratantes contraem o que empromessas livres recíprocas Direito se chama de “obrigação”. Diz-se que esse vínculo é porque o Direito empresta coercibilidade à obrigação contraída pelas partesjurídico contratantes, de tal forma que se a obrigação não for cumprida espontaneamente pela parte devedora, o Estado, por meio do Poder Judiciário, põe à disposição da parte credora certos meios coercitivos voltados ao cumprimento forçado da obrigação. O contrato é um importante instrumento de harmonização e autocomposição de interesses, assim como de realização pacífica das operações econômicas no cotidiano das pessoas. Esta sempre foi a sua vocação em todos os tempos e em todos os povos, desde o momento em que se decidiu abrir mão da força bruta para se obter os bens da vida necessários à sobrevivência ou à realização existencial da pessoa humana. O contrato proporciona à parte contratante a convicção e a segurança de que as obrigações assumidas pela contraparte serão cumpridas, e se não o forem, poderá requerer ao Poder Judiciário o seu cumprimento forçado. 1.2 Visão estrutural do contrato Do ponto de vista estritamente jurídico, o contrato se estrutura em três planos logicamente distintos, sucessivos e interligados: o (o contrato existe para o mundo do Direito se ele contiver certos requisitosplano da existência legais mínimos), o (o fato de o contrato existir para o Direito não implica, necessariamente,plano da validade que ele já tenha aptidão para produzir efeitos jurídicos: é necessário que ele atenda a certos pressupostos de validade), e o (ainda que um negócio jurídico existente seja considerado válido, seus efeitosplano da eficácia VOCÊ SABIA? Entre os anos 130 a.C. e 230 d.C., Roma protagonizou uma experiência jurídica de qualidade até então inédita, a qual veio a ser compilada no século VI d.C. por iniciativa do Imperador Justiniano, na célebre e monumental obra intitulada “Corpus Iuris civilis”. Esta obra registra tanto o nascimento embrionário da figura do , como o seu desenvolvimento emcontractus diferentes categorias de contratos (DOR’S, 1991). VOCÊ QUER VER? No curso “Teoria Geral dos Contratos”, do programa “Saber Direito”, da TV Justiça, o professor Thiago Godoy discorre sobre o conceito de contrato, contextualizando-o dentro da Teoria do Negócio Jurídico. Vale a pena assistir a este vídeo, disponível em: <https://www.youtube.com >./watch?v=C1f2RSNiKu4 https://www.youtube.com/watch?v=C1f2RSNiKu4 https://www.youtube.com/watch?v=C1f2RSNiKu4 - -8 validade), e o (ainda que um negócio jurídico existente seja considerado válido, seus efeitosplano da eficácia podem subordinar-se a certos fatores estabelecidos pela vontade das partes contratantes). A seguir, você verá a delimitação de cada um desses planos lógicos do contrato. 1.2.1 Elementos constitutivos Para um contrato no âmbito do Direito, é necessário que haja a presença simultânea de quatroexistir elementos, a saber: • Manifestação de vontade É a essência do contrato; sem um não há contrato; o que é imprescindível para a existênciaquerer livre jurídica do contrato é que as partes contratantes, a partir de um processo intelectual de cognição e deliberação, tenham exteriorizado as respectivas vontades e quanto à realizaçãointernas psíquicas conjunta de certa operação econômica. Uma vez emitida, a declaração de vontade desprende-se do iter e adquire autonomia própria, como a obra de arte desprende-se do artista. É davolitivo psíquico declaração – e não da vontade interna e psíquica – que decorrem os efeitos jurídicos que o Direito lhe atribui • Agente ou sujeito É a pessoa humana ou a pessoa jurídica (coletividade de pessoas ou de bens à qual o Direito confere , que é a capacidade para titular e exercer direitos ou obrigações). É o sujeitopersonalidade jurídica que declara que realizar determinada operação econômica com o parceiro contratualquer Figura 5 - O contrato se estrutura em três planos lógicos e sucessivos: existência (base), validade e eficácia. Fonte: Olivier Le Moal, Shutterstock, 2018. • Objeto do contrato É a operação econômica que as partes almejam realizar conjuntamente, constituída pelas obrigações de • • • - -9 É a operação econômica que as partes almejam realizar conjuntamente, constituída pelas obrigações de ambas ou de pelo menos uma delas, as quais, por sua vez, traduzem-se em prestações de dar, fazer ou não fazer inerentes à operação econômica pretendida. • Forma É o modo pelo qual a vontade interna e psíquica das partes se exterioriza: por escrito particular ou por escritura pública lavrada por um tabelião oficial; por meio de palavras (forma verbal), ou por condutas socialmente reconhecíveis (por exemplo, em um supermercado, quando descarregarmos o carrinho de compras na mesa lateral do caixa sem dizer palavra alguma, o funcionário interpreta esse comportamento como manifestação da nossa vontade de comprar os produtos ali colocados). 2.2.2 Pressupostos de validade Os pressupostos de validade do contrato nada mais são do que certas que os qualidades elementos , especificados no item 1.2.1, devem possuir, a saber:constitutivos a manifestação de vontade deve ser livre e de boa-fé; o sujeito deve possuir capacidade jurídica para manifestar validamente a sua vontade; o objeto do contrato deve ser idôneo, que de acordo com Pablo Gagliano e Rodolfo Pamplona (2018, p. 47), é o objeto “lícito (ou seja, não proibido pelo Direito ou pela Moral), possível (jurídica e fisicamente) e determinado ou determinável (com elementos mínimos de individualizaçãoque lhe permitam caracterizá-lo)”; a declaração de vontade deve obedecer à forma eventualmente prescrita pela lei, ou não se realizar por forma proibida; no silencio da lei, a forma é livre. 1.2.3 Fatores de eficácia Uma vez e perante o Direito, o normal é que o contrato produza efeitos logo após a suaexistente válido conclusão, pelo acordo de declarações de vontade. Todavia, é possível subordinar a eficácia do contrato a certos especificados em cláusulas avençadas pelas partes, os quais se convencionou chamar eventos futuros , podendo-se apontar três modalidades mais frequentemente utilizadas, eelementos acidentais do contrato que por isso mesmo receberam do Código Civil uma regulamentação específica, a saber: • : é a cláusula que subordina os efeitos do contrato a um evento futuro e . Se as partes termo certo convencionarem que a ocorrência deste evento determinará o , o termo é início dos efeitos contratuais chamado de (por exemplo, a cláusula segundo a qual o contrato entrará em vigor após 30 dias da inicial data de assinatura do instrumento contratual pelas partes), mas se convencionarem que ele determinará a , o termo é chamado de (por exemplo, a cláusula que estabelece cessação dos efeitos contratuais final que o contrato vigorará pelo prazo de cinco anos); • • VOCÊ O CONHECE? Augusto Teixeira de Freitas (1816-1883) foi o autor da primeira tentativa de codificação do direito civil brasileiro. O seu “Esboço de Código Civil”, feito por encomenda do Imperador Dom Pedro II, por meio de decreto em 11 de janeiro de 1859, contou com aproximadamente cinco mil artigos, e apesar de não ter chegado a ser objeto de apreciação pelo Poder Legislativo, inspirou trabalhos doutrinários e legislativos posteriores, não somente no Brasil – como o anteprojeto de Código Civil de 1916, de Clóvis Beviláqua –, como também em outros países da - -10 • : é a cláusula que subordina os efeitos do contrato a um evento futuro e . Se as partes condição incerto convencionarem que a ocorrência deste evento determinará o , a condição início dos efeitos contratuais é chamada de (por exemplo, a cláusula que subordina a eficácia do contrato de doação de um suspensiva veículo pelo pai a seu filho à condição de que ele obtenha o diploma de bacharel em direito), mas se convencionarem que ele determinará a , a condição é chamada de cessação dos efeitos contratuais (como a cláusula que determina a cessação dos efeitos do contrato de prestação de serviços resolutiva de informática se for decretada a falência da empresa tomadora dos serviços). 1.3 Princípios aplicáveis aos contratos As expressões , , ou simplesmente , têm na Ciência do Direitoprincípio de direito princípio jurídico princípio um significado específico, técnico e distinto daquele em voga na linguagem comum. Por princípio, entende-se um ditame superior, fundante e simultaneamente informador de certo subsistema do direito positivo (como o Direito Contratual, por exemplo), que paira sobre o conjunto de regras que o integram, conferindo a estas um significado legitimador e validante (GAGLIANO, 2018). Diferentemente das normas jurídicas – nas quais os fatos que visam disciplinar são descritos com razoável completude e precisão – os princípios jurídicos são formulados em termos propositadamente abstratos e indeterminados, para permitir ao operador do direito a concreção de seu substrato normativo às circunstâncias específicas de cada caso concreto. Os princípios jurídicos que incidem sobre o subsistema do Direito Contratual podem ser reunidos em dois grupos: os , cunhados sob a matriz político-ideológica do Estado liberal e da concepçãoprincípios clássicos iluminista da autodeterminação das vontades individuais; e os , formados em meados doprincípios sociais século passado, sob o influxo dos valores do welfare state (Estado de bem-estar social), divulgados pelo economista britânico John Maynard Keynes. É importante ressaltar que nenhum princípio de direito é absoluto ou ilimitado, pois em dado caso concreto, a incidência de um princípio sempre concorrerá com a incidência de outros que com ele possam colidir, impondo ao aplicador do direito a incumbência de harmonizá-los pautado nos princípios hermenêuticos da razoabilidade e da proporcionalidade (LÔBO, 2011). 1.3.1 Os princípios clássicos do Direito Contratual Os princípios clássicos do Direito Contratual, por vezes denominados “tradicionais”, são aqueles identificados e formulados pela primeira geração do Direito Contratual, consolidada em meados do século XIX. Tais princípios são frutos dos estudos intensos e comentários sistemáticos do “Corpus Iuris Civilis” de Justiniano, no século VI d. C. (tido, à época, como o modelo de sistema jurídico a ser imitado), no seio das universidades europeias, como na Universidade de Bolonha, na Itália, fundada em 1088. Conheça-os a seguir! O princípio da autonomia privada A doutrina francesa produzida na esteira do Código Civil francês de 1804, promulgado sob o influxo do movimento iluminista e da concepção individualista do direito, cunhou o princípio dito da autonomia da , a significar que as partes contratantes têm liberdade para contratar ou não, conforme lhes aprouver,vontade anteprojeto de Código Civil de 1916, de Clóvis Beviláqua –, como também em outros países da América do Sul, principalmente da Argentina, onde serviu como modelo ao anteprojeto de código civil elaborado por Dalmacio Vélez Sarsfield. • - -11 , a significar que as partes contratantes têm liberdade para contratar ou não, conforme lhes aprouver,vontade decidindo, em caso afirmativo, contratar e contratar. A declaração de vontade deve ser livre ecom quem o que séria (LISBOA, 2013). A autonomia da vontade se desdobra, portanto, em duas vertentes: a , substanciada naliberdade de contratar faculdade de realizar ou não determinado contrato, e a , que compreende a liberdade deliberdade contratual escolher com quem contratar e a liberdade de estabelecer o conteúdo do contrato. No século seguinte, a doutrina italiana se encarregou de imprimir a este princípio um viés mais objetivo, passando a denominá-lo, inclusive, de , que na voz abalizada de Pietroprincípio da autonomia privada Perlingieri (2008, p. 338) seria “o poder reconhecido ou atribuído pelo ordenamento ao sujeito de direito público ou privado de regular com próprias manifestações de vontade, interesses privados ou públicos, ainda que não necessariamente próprios”. O conceito de autonomia privada tem como cerne a capacidade de livre deliberação das partes contratantes para convencionarem de forma autônoma, desvinculada do Estado, o autorregramento de seus próprios interesses particulares. Todavia, esta autonomia só é válida se as disposições estiverem alinhadas com o ordenamento jurídico: há um processo de filtragem por entre as normas constitucionais garantidoras dos direitos fundamentos, assim como por entre as normas infraconstitucionais que envolvem interesses sociais ou de ordem pública. No dizer de Paulo Lôbo (2011, p. 59), “A autonomia privada distancia-se da vontade interior e atribui primazia a sua exteriorização e à limitação posta pelo ordenamento jurídico por exigências de justiça social” e, por isso, não pode ser confundida com autonomia da vontade, a qual dispõe e dá maior relevância à vontade individual na sua dimensão psicológica, por invocar a pretensão dos sujeitos em que se destaca a liberdade de se iniciar algo sem a intervenção do Estado enquanto intenção íntima, uma instância pré-jurídica. O princípio da supremacia da ordem pública Na precisa lição de Carlos Roberto Gonçalves (2017), o interesse da sociedade está acima do interesse individual, devendo aquele prevalecer sobre este. Nesse sentido, a liberdade contratual é limitada na ideia de ordem pública. O princípio da autonomia da vontade [...] é limitado pelo princípio da supremacia da ordem pública, que resultou da constatação, feita no início do século passado e em face da crescente industrialização, de que a ampla liberdade de contratarprovocava desequilíbrios e a exploração do economicamente mais fraco. Compreendeu-se que, se a ordem jurídica prometia a igualdade política, não estava assegurando a igualdade econômica. Em alguns setores fazia-se mister a intervenção do Estado, para restabelecer e assegurar a igualdade dos contratantes (GONÇALVES, 2017, p. 43). O princípio do consensualismo Somente há contrato se existe declaração convergente da vontade das partes contratantes em direção à operação econômica almejada. A ausência dessa convergência implicaria em inexistência do contrato. Todavia, o acordo de vontades é suficiente à formação do contrato, não sendo necessário a prática de nenhuma formalidade, salvo as que são pontualmente impostas pela lei para certos tipos de contrato (por exemplo, a escritura pública é formalidade indispensável à validade e eficácia do contrato de compra e venda de bens ; não há compraimóveis e venda de imóvel se o contrato foi documentado por instrumento particular, muito menos verbalmente). - -12 O princípio da força obrigatória do contrato Esse princípio é decorrência natural da autonomia da vontade das partes contratantes, e comumente associado à expressão latina (os contratos devem ser cumpridos), com a significação precisa de que opacta sunt servanda contrato obriga as partes . A força obrigatória do contrato é asseguradacomo se fosse uma lei particular a elas pelo Estado, ainda que as cláusulas e condições contratuais não sejam normas jurídicas editadas pelo Poder Legislativo, de tal sorte que o não cumprimento da obrigação contratual enseja à parte prejudicada a possibilidade de requerer ao Poder Judiciário o cumprimento forçado da prestação inadimplida. 1.3.2 O princípio da boa-fé objetiva Este princípio foi consagrado expressamente pelo Código Civil brasileiro, ao dispor no artigo 422 que “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de e ”.probidade boa-fé Neste artigo, o termo boa-fé é tomado em sentido , como uma pautada em outroobjetivo norma de conduta princípio de direito segundo o qual não se deve lesar ou prejudicar a outrem. No âmbito específico de uma relação jurídica contratual, um contratante não pode causar danos de qualquer ordem ao parceiro de contrato, mas comportar-se de acordo com as virtudes da honestidade, retidão e lealdade à própria palavra empenhada por meio da declaração de vontade contratual. Ao se referir a este princípio, Cláudia Lima Marques (1999) salientou que a boa-fé demanda uma atuação do contratante, uma atuação , pensando norefletida refletindo parceiro contratual, respeitando os seus interesses legítimos, as suas expectativas razoáveis, os seus direitos, e agindo com lealdade, sem abuso, sem obstrução, .sem causar-lhes danos de qualquer natureza 1.3.3 A função social do contrato e a equivalência material das prestações O foi positivado pelo vigente Código Civil brasileiro ao dispor, no artigoprincípio da função social do contrato 421, que “A liberdade de contratar será exercida em razão e ”. Nessenos limites da função social do contrato sentido, com o advento do Código Civil de 2002, o contrato obedece ao novo paradigma da função social, que visa conjugar a liberdade contratual com o princípio constitucional da inscrito no artigo 3º, inciso I da solidariedade Constituição Federal, nestes termos: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade , e ”.livre justa solidária O contrato exerce uma função social, um papel perante a sociedade: para além da tradicional missão de servir de VOCÊ QUER LER? Com a leitura do artigo “A boa-fé no Direito Civil”, de Celso Cintra Mori, você terá a oportunidade de conhecer os aspectos psicológico, ético e jurídico da boa-fé, e neste último caso, em seus dois sentidos fundamentais: a boa-fé subjetiva e a boa-fé objetiva. Acesse o artigo em: <https://aplicacao.aasp.org.br/aasp/servicos/revista_advogado/paginaveis/116 >./116/assets/basic-html/page53.html https://aplicacao.aasp.org.br/aasp/servicos/revista_advogado/paginaveis/116/116/assets/basic-html/page53.html https://aplicacao.aasp.org.br/aasp/servicos/revista_advogado/paginaveis/116/116/assets/basic-html/page53.html - -13 O contrato exerce uma função social, um papel perante a sociedade: para além da tradicional missão de servir de instrumento da circulação de riquezas, deve atender às exigências superiores do ordenamento jurídico, tais como a justiça comutativa, a segurança das relações jurídicas, a livre iniciativa, o bem comum e sobretudo a dignidade da pessoa humana. O centro de gravidade do contrato se desloca do poder jurígeno da vontade individual para a composição harmônica entre os interesses individuais das partes contratantes e os interesses sociais. Mas a função social do contrato não veio para suprimir a liberdade contratual, mas para legitimá-la. A liberdade contratual continua sendo plena, o que não significa dizer ou ilimitada absoluta. O , também denominado de princípio do princípio da equivalência material das prestações contratuais equilíbrio contratual, preconiza que se deve buscar e manter a justiça comutativa objetivamente considerada em todas as fases do contrato, independentemente da natureza deste, e sempre com base na eticidade, lealdade, socialidade, confiança, proporcionalidade e razoabilidade das prestações contratuais (BRITO, 2007). CASO Uma produtora de gases industriais celebrou contrato de representação comercial com certa microempresa, constituída e administrada por um casal de empreendedores paulistanos. Dentre as cláusulas contratuais predispostas pela produtora, ficou estabelecido que a representante comercial somente poderia revender os produtos da representada para empresas estabelecidas na região correspondente à Zona Leste do município de São Paulo. Após três meses, a representada celebrou contrato de representação comercial com outra empresa, estabelecendo também que esta só poderia comercializar seu produtos na Zona Leste de São Paulo. Embora no contrato com a primeira representante não se tenha estipulado um direito desta a comercializar com exclusividade os produtos da representada na Zona Leste, a conduta da produtora de gases industriais pode ter infringido o princípio da boa-fé objetiva, segundo o qual as partes contratantes devem comportar-se em relação a seus parceiros contratuais com fidelidade à própria palavra empenhada no momento da formação do contrato, levando em consideração os legítimos interesses e expectativas da contraparte, e evitando causar-lhe danos patrimoniais ou morais, ainda que decorrentes de atos não disciplinados expressamente em cláusula contratual. Assim, embora não se tenha estipulado expressamente em favor da primeira representante um direito de comercializar com exclusividade os produtos da presentada na Zona Leste, ao contratar uma segunda representante e incumbir-lhe de comercializar seus produtos na mesma área de atuação da primeira representante, a produtora certamente causará a esta uma redução relevante e inesperada de faturamento e, consequentemente, de lucratividade. - -14 Figura 6 - O contrato somente obriga as partes se e enquanto estiver presente o equilíbrio econômico-financeiro das prestações contratuais. Fonte: bleakstar, Shutterstock, 2018. O equilíbrio das prestações contratuais é a base ética do Direito das Obrigações, de forma que deve ser necessariamente observado como uma condição geral de contratação, intrínseca e permanente. Em rigor, há uma cláusula geral de manutenção do equilíbrio contratual, de sorte que o contrato somente obriga as partes se e enquanto estiver presente o equilíbrio econômico-financeiro das prestações contratuais. 1.4 Classificações dos contratos Pode-se classificar as diversas espécies de contratos em diferentes categorias, segundo critérios classificadores distintos, mas somente as categorias que se submetem a regras de Direito idênticas ou afins possuem utilidade para a ciência do Direitoe para a jurisprudência (isto é, as decisões reiteradas de certo tribunal sobre determinada matéria). A seguir, você conhecerá as categorias de contratos mais úteis. - -15 1.4.1 Quanto à natureza das obrigações e à função econômica • Contratos unilaterais, bilaterais ou plurilaterais Com base no critério da eficácia, notadamente a atribuição de obrigações às partes, os contratos são classificados em unilaterais, bilaterais ou plurilaterais. Os geram obrigações apenas para uma dascontratos unilaterais partes (por exemplo, o comodato e a doação), ao passo que os geram obrigações recíprocascontratos bilaterais entre ambos os contratantes (como a compra e venda, a permuta, a locação etc.). Os , porcontratos plurilaterais fim, são aqueles que geram obrigações para três ou mais partes contratantes (o contrato de sociedade entre três ou mais sócios, por exemplo). • Contratos gratuitos contratos onerososversus Nos ou benéficos, uma das partes outorga à outra um benefício ou vantagem econômica,contratos gratuitos sem exigir desta uma contraprestação de valor equivalente (por exemplo, a doação e o comodato). Já nos , ambos os contratantes obtêm benefícios advindos da contraparte, aos quais, todavia,contratos onerosos corresponde, para cada qual, um sacrifício patrimonial proporcional. A compra e venda é o exemplo mais palatável: em contrapartida ao benefício de receber a propriedade da coisa vendida, impõe-se ao comprador o sacrifício do pagamento do preço ao vendedor. E vice-versa: em contrapartida ao benefício de receber o pagamento do preço, impõe-se ao vendedor o sacrifício da transferência da propriedade da coisa ao comprador. Assim, todo contrato oneroso é bilateral, pois imputa obrigações para ambas as partes. • Contratos comutativos contratos aleatóriosversus Os contratos onerosos se subdividem em e . Quando as obrigações imputadas às partescomutativos aleatórios se equivalem, conhecendo os contratantes, desde o princípio as suas respectivas prestações (por exemplo, a, compra e venda, a locação de imóvel, a empreitada), diz-se que o contrato é . Na ideia de comutativo está presente a patrimonial ou econômica das prestações, pois, em regra, noscomutatividade equivalência contratos comutativos, cada contratante somente se sujeita a um sacrifício se receber, em troca, uma vantagem equivalente. De acordo com Carlos Roberto Gonçalves (2017, p. 96), “ é, pois, o e Contrato comutativo oneroso , em que cada contraente, além de receber do outro prestação relativamente equivalente à sua, podebilateral verificar, de imediato, essa equivalência”. Já quando a obrigação de uma das partes somente puder ser exigida em função de , cujo risco dafatos futuros não ocorrência é assumido consciente e livremente pela outra parte, fala-se em .contrato aleatório A expressão aleatório vem do latim que significa “sorte”. Uma das partes assume o de o fato aconteceralea, risco ou não, desconhecendo de antemão se terá um retorno patrimonial equivalente ao que prestou (GAGLIANO, 2018). Exemplo emblemático de contrato aleatório é o seguro. Quando o objeto deste contrato é um automóvel, por exemplo, a obrigação do segurado consiste em pagar uma quantia em dinheiro à seguradora, denominada “prêmio”, em contraprestação à obrigação da seguradora de cobrir os prejuízos decorrentes de umeventual sinistro com o veículo (roubo, colisão com outro veículo etc.). Todavia, se o prazo contratual esgotar-se sem ocorrer nenhum sinistro, a seguradora não será obrigada a restituir o prêmio ao segurando, tampouco efetuar- lhe o pagamento de qualquer quantia em dinheiro. 1.4.2 Quanto à forma, à duração e à matriz normativa O artigo 107 do Código Civil estabelece que “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. Desse modo, em relação à forma dos contratos, são considerados ou os contratos em que as declarações de vontade das partes contratantes devemsolenes formais obedecer a determinada forma prescrita em lei, sob pena de nulidade do contrato. Assim, por exemplo, na compra e venda de bem , o artigo 108 do Código Civil estabelece como condição de validade das imóvel declarações de vontade dos contratantes e, em última instância, do próprio contrato, que elas se deem por intermédio de escritura pública lavrada por tabelião oficial. Outro exemplo é o contrato de franquia ), disciplinado pela Lei n. 8.955 (BRASIL, 1994), cujo artigo empresarial (franchising 6º estabelece que “O • • • - -16 ), disciplinado pela Lei n. 8.955 (BRASIL, 1994), cujo artigo empresarial (franchising 6º estabelece que “O contrato de franquia e terádeve ser sempre escrito e assinado na presença de 2 (duas) testemunhas validade independentemente de ser levado a registro perante cartório ou órgão público”. Por outro lado, os são aqueles em que as declarações de vontade dos contratantes têm contratos não solenes forma livre, podendo se dar verbalmente, por escrito particular, ou por conduta socialmente reconhecida como forma de consentimento (por exemplo, o contrato de representação comercial, cuja lei de regência admite seja celebrado verbalmente). Os , por sua vez, são aqueles em que as partes negociaram livre e amplamente as cláusulascontratos paritários e condições contratuais, porque dotadas de certa paridade econômico-financeira. Nessa categoria de contrato, há, normalmente, uma fase de negociações preliminares, na qual as partes, encontrando-se em pé de igualdade, ponderam e negociam os termos da operação econômica visada, e definem conjuntamente a redação das cláusulas contratuais. Figura 7 - Os contratos de adesão não são precedidos de negociações preliminares: as cláusulas são redigidas prévia e unilateralmente por uma parte, restando à outra aceitá-las em bloco, ou não contratar. Fonte: wavebreakmedia, Shutterstock, 2018. Finalmente, os são aqueles em que não há uma negociação prévia das condições contratos de adesão contratuais, as mais das vezes em razão da preponderância econômico-financeira de um contratante em relação ao outro, ocupando-se a parte-proponente da redação prévia e integral das cláusulas contratuais. À outra parte restam somente duas alternativas: ou às cláusulas predispostas pela contraparte, sem chanceaderir em bloco de promover quaisquer alterações, ou deixar de contratar (por exemplo, contratos de seguro, consórcios de bens móveis ou imóveis, contratos de transporte aéreo, contratos com concessionárias de serviço público, como energia, água, gás, telefonia, acesso à internet etc.). Daí o termo contrato de adesão. VOCÊ QUER LER? Rizzatto Nunes, em “Os contratos de adesão nas relações jurídicas de consumo”, analisa o regime jurídico do contrato de adesão, abordando temas relevantes como comportamento socialmente típico, condições gerais ou cláusulas gerais, e os requisitos legais dos contratos de adesão na relação de consumo. Acesse o artigo em: <https://aplicacao.aasp.org.br/aasp >./servicos/revista_advogado/paginaveis/116/116/assets/basic-html/page193.html https://aplicacao.aasp.org.br/aasp/servicos/revista_advogado/paginaveis/116/116/assets/basic-html/page193.html https://aplicacao.aasp.org.br/aasp/servicos/revista_advogado/paginaveis/116/116/assets/basic-html/page193.html - -17 Em relação ao tempo de duração do vínculo contratual, os , , ou de contratos de execução instantânea imediata são aqueles que se consumam em um só ato por meio de prestação única, exaurindo-se logoexecução única após a conclusão do acordo (por exemplo, compra e venda de bem móvel à vista, doação de bem indivisível) (GONÇALVES, 2017). Há ainda os , cujas prestações a cargo de ambas ou de pelo contratos de execução diferida ou retardada menos uma das partes devem ser efetuadas em momento posterior à conclusão do acordo (é o caso, por exemplo, da compra e venda a termo, em que o pagamento do preço, pelo comprador, é dividido em parcelas mensais, e a entrega do bem, pelo vendedor, se dá somente após a quitação da última parcela do preço). Além dessescontratos, há os , que se cumprem por contratos de trato sucessivo ou de execução continuada meio de atos ou prestações periódicas ou continuadas no tempo (por exemplo, a locação de imóvel residencial; o seguro-saúde ou o convênio de assistência médico-hospitalar, o fornecimento de serviços públicos de energia, água, gás, telefonia etc.). Por fim, no que diz respeito à matriz normativa, os contratos podem ser típicos ou atípicos. Os contratos típicos são aqueles cujo perfil é traçado e regulamentado por lei ordinária (é o caso de todos os contratos tipificados pelo Código Civil, por exemplo). Já os são aqueles que, embora resultantes da vontade das partes, não têm o perfil, as contratos atípicos características e os elementos constitutivos definidos em lei. Para que tais contratos existam no âmbito do Direito, basta o consenso das partes quanto à operação econômica almejada. Nesse sentido, o artigo 425 do Código Civil brasileiro estabelece que “É lícito às partes estipular contratos , observadas as normasatípicos gerais fixadas neste Código” (por exemplo, o contrato de distribuição não é disciplinado nem pelo Código Civil, tampouco por legislação especial). 1.4.3 Contratos reciprocamente considerados Os são aqueles que têm existência autônoma, independentemente de outro contrato (por contratos principais exemplo, a compra e venda, a locação). Já os são aqueles cuja existência jurídica depende contratos acessórios de outro contrato, dito principal, ao qual se subordina (por exemplo, vinculado ao contrato principal de locação de bem imóvel, é comum celebrar-se contrato acessório de fiança entre o locador e o fiador, pelo qual este garante àquele, com seu próprio patrimônio, o pagamento dos aluguéis a cargo do locatário, caso este vier a VOCÊ SABIA? Gaio ( em latim – seu nome completo é desconhecido nos dias atuais) foi umGaius jurisconsulto romano do século II d.C., que redigiu as célebres “Institutas” (“Gai Institutionum Commentarii Quattuor”) por volta de 161 d.C., a única obra de sua autoria que chegou intacta até os dias atuais, e que consiste em um manual didático do Direito Romano vigente à sua época. Muitas citações ao trabalho de Gaio são feitas no “Digestum”, um dos livros que integram o “Corpus Iuris Civilis” organizado pelo Imperator Justiniano. Nas “Institutas”, Gaio distingue as obrigações das obrigações , subdividindo este grupo emex delicto ex contractu quatro subgrupos: os contratos reais (mútuo, depósito, comodato e penhor), os verbais (nexum e ), os literais (espécie de negócio creditício de tipo bancário) e os consensuaisstipulatio (compra e venda, mandato, sociedade e locação) (D’ORS, 1991). - -18 garante àquele, com seu próprio patrimônio, o pagamento dos aluguéis a cargo do locatário, caso este vier a falhar no cumprimento de tal obrigação). ou são aqueles que têm por objeto direitos estabelecidos em outro contrato,Contratos derivados subcontratos denominado básico ou principal, destacando-se, entre os , a sublocação, a subempreitada e asubcontratos subconcessão. Assim como os , são dependentes um do outro, mas diferem pelacontratos acessórios circunstância de o contrato derivado participar da própria natureza do direito versado no contrato-base. Nos contratos derivados, um dos contratantes transfere a terceiro, sem se desvincular, a utilidade correspondente à sua posição contratual. O locatário, por exemplo, transfere a terceiro os direitos que lhe assistem, mediante a sublocação. O contrato de locação não se extingue. E os direitos do sublocatário terão a mesma extensão dos direitos do locatário, que continua vinculado ao locador (GONÇALVES, 2017). O é aquele por meio do qual ambas as partes se obrigam a celebrar emcontrato preliminar ou pré-contrato data futura outro contrato dito . Quando o contrato preliminar tem por objeto a compra e venda dedefinitivo bem imóvel, é denominado , ou . Emborapromessa de compra e venda compromisso de compra e venda possa ter por objeto a celebração de outras espécies de contrato, é mais comum a prática de contrato preliminar referente à alienação de imóveis. Finalmente, o é o que foi objeto de um contrato preliminar, contrato definitivo isto é, o contrato cujas partes se obrigaram a celebrar ao firmarem o contrato preliminar ou pré-contrato. Síntese Concluímos este capítulo que teve por objetivo ajudá-lo a responder à seguinte pergunta: ? Aoo que é o contrato longo do capítulo, você percorreu as dimensões/origens antropológica, econômica e jurídica do contrato, assim como os planos da existência, validade e eficácia sobre os quais o contrato se estrutura do ponto de vista jurídico. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • inteirar-se sobre os princípios de direito clássicos ou tradicionais aplicáveis ao Direito contratual; • conhecer os princípios contratuais de viés social cunhados em meados do século passado; • aprender a discernir as principais categorias de contratos. VOCÊ QUER VER? Na definição de subcontrato, você viu que um dos contratantes transfere a terceiro, sem se , a utilidade correspondente à sua posição contratual. Adesvincular do contrato originário sublocação de imóvel é um subcontrato muito praticado no Brasil. Agora, na chamada cessão o cedente se desvincula completamente do contrato originário. Assistada posição contratual ao programa da TV Justiça sobre a l, disponível em: <cessão da posição contratua https://www.youtube.com/watch?v=_dxBkScgFtY&list=PLVwNANcUXyA_orZ6Y- >.V45MpDt8JmaiOPu&index=6&t=0s • • • https://www.youtube.com/watch?v=_dxBkScgFtY&list=PLVwNANcUXyA_orZ6Y-V45MpDt8JmaiOPu&index=6&t=0s https://www.youtube.com/watch?v=_dxBkScgFtY&list=PLVwNANcUXyA_orZ6Y-V45MpDt8JmaiOPu&index=6&t=0s - -19 Bibliografia BRASIL. . Institui o Código Civil. Disponível em: <Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 http://www.planalto. gov.br/CCivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 26/12/2018. BRITO, R. T. . São Paulo: Saraiva, 2007.Equivalência material dos contratos DOR’S, J. A. . Pamplona: EUNSA, 1991.Derecho privado romano FRANÇA. . Code civil des Français. 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