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Universidade Federal de Santa Catarina Centro Socioeconômico Departamento de Economia e Relações Internacionais Teoria das Relações Internacionais II - Prof. Drª. Mônica Salomón González Luiza Montanheri (17202725) Exercício III - Interdependência Complexa e Institucionalismo 1. Compare o conceito de interdependência complexa de Keohane e Nye com a ordem liberal descrita por Ikenberry. (2,0). Keohane e Nye (1977) explicam a interdependência complexa e suas características principais e acrescentam que seu processo político está preenchido de empresas, bancos e outros atores transnacionais relevantes neste novo mundo onde se ultrapassa as barreiras territoriais e onde há, entre Estados ou até mesmo entre estes atores transnacionais, ligações estratégicas de interesses que ajudam a corroer no mínimo as hierarquias e o poder dos mais fortes. Suas agendas vêem-se constantemente afetadas por políticas domésticas e externas no quesito temas, aumentando a interdependência sensitiva além da questão de politização destes. Também observa-se relações transnacionais e transgovernamentais que muitas vezes formam coalizões com o objetivo de se alcançar determinado tema como pauta internacional, e que normalmente possuem maiores ganhos. Pela ótica liberal e segundo Ikenberry (2018), o liberalismo possui características importantes e mutuamente reforçantes na promoção da diminuição de conflitos com tendências integrativas, oferecimento de oportunidade de liderança e autoridade, ganhos compartilhados e promoção de estratégias de crescimento e desenvolvimento dos Estados, fazendo com que todos se beneficiem do multilateralismo, expansão de coalizões e expanda o sistema liberal dando continuidade ao sistema. Portanto, a interdependência complexa enxerga as relações entre Estados muito mais complicado do que somente a cooperação para diminuição de conflitos e crescimento econômico. A complexidade aumenta conforme as relações internacionais se multiplicam. 2. De que maneira, segundo Keohane e Nye, as organizações internacionais favorecem os interesses dos estados mais fracos? (1,5). As organizações internacionais descritas pelos autores são necessárias à política internacional pelo mundo estar cada vez mais inserido num ambiente de questões diversas de forma vinculada mesmo que imperfeitamente, cheio de coalizões transnacionais e transgovernamentais. Desse modo, “[...] o papel potencial das instituições internacionais na negociação política aumenta muito. Em particular, ajudam a definir a agenda internacional e atuam como catalisadores para a formação de coalizões e como arenas para iniciativas políticas e vinculação de Estados fracos.” (KEOHANE e NYE, 1977, p. 29). Para Estados considerados de Terceiro Mundo as instituições internacionais se tornam adequadas para facilitar uma potencial coalizão entre estes e na política mundial, uma vez que países menos desenvolvidos não possuem a possibilidade de manter embaixadas nas capitais de outros países também menos desenvolvidos, permitindo que se transformem “em coalizões transgovernamentais explícitas caracterizadas por comunicações diretas.” (ibid. p. 30), além de permitir resoluções que expressem as posições do Terceiro Mundo, “às vezes acordadas com reservas pelos países industrializados, [utilizadas] para legitimar outras demandas.” (ibid.). 3. De que maneiras os regimes facilitam a cooperação internacional? (2,0). Primeiramente, de acordo com Krasner (1983, p. 2 apud KEOHANE, 1984, p. 57), os regimes internacionais são “conjuntos de princípios, normas, regras e procedimentos de tomada de decisão implícitos ou explícitos em torno dos quais convergem as expectativas dos atores em uma determinada área das relações internacionais. Princípios são crenças de fato, causalidade e retidão. Normas são padrões de comportamento definidos em termos de direitos e obrigações. Regras são prescrições ou proibições específicas de ação. Os procedimentos de tomada de decisão são práticas prevalecentes para fazer e implementar a escolha coletiva.” O autor utiliza da definição recente e mais ampla do que é o regime internacional para demonstrar como estes regimes operam na facilitação da cooperação internacional. Keohane (1984, p. 58) pondera que “os princípios dos regimes definem, em geral, os objetivos que seus membros devem perseguir.” É possível cooperar pelo fato do combo citado anteriormente - regras, normas, princípios e procedimentos de tomada de decisão - exigirem que os membros componentes possuam evidências concretas sobre comportamentos legítimos e ilegítimos. “Todos os princípios, normas, regras e procedimentos contêm injunções sobre o comportamento: eles prescrevem certas ações e prescrevem outras. Implicam obrigações, embora essas obrigações não sejam exigíveis por meio de um sistema jurídico hierárquico” (ibid., p. 59). Ou seja, os atores cooperam porque estão unidos sob os mesmos princípios, em que todos os níveis de processos são importantes para avaliar se houve ou não mudanças. 4. Como, segundo Keohane, os regimes podem mudar a definição de interesse nacional? (1,5). Segundo Keohane (1984, p. 62), uma das principais funções do regime internacional é facilitar acordos específicos e cooperativos entre os Estados. Esses regimes devem ser compreendidos como arranjos motivados pelos interesses próprios como componentes do sistema, cuja soberania permanece como princípio constitutivo. Certamente, concorda com os realistas que os regimes internacionais “[...] serão moldados em grande parte por seus membros mais poderosos, buscando seus próprios interesses.” Em contrapartida, os regimes internacionais podem afetar os interesses nacionais, “[...] pois a noção de interesse próprio é elástica e amplamente subjetiva. As percepções de interesse próprio dependem tanto das expectativas dos atores quanto às prováveis consequências que decorrerão de ações específicas e de seus valores fundamentais. Os regimes podem certamente afetar as expectativas e também podem afetar os valores.” (ibid., p. 63). Logo, regimes internacionais podem ajudar os Estados a definir seus interesses nacionais por estes serem flexíveis. Em um mundo cada vez mais interdependente os regimes servem também como meio de busca efetiva de valores internos, seja pelo desejo de solucionar problemas comuns ou buscar objetivos que complementam sua política doméstica. 5. Compare o posicionamento de Keohane sobre as possibilidades da cooperação internacional com os dos autores realistas e liberais considerados anteriormente (3,0). Keohane (1984) possui, em After Hegemony, uma abordagem mais realista que liberal, entretanto, o autor dialoga precisamente sobre as instituições e possibilidades de cooperação que, por um lado, é uma das pautas liberais, mas por outro, considera que a cooperação não é resultado da harmonia, concordando com os realistas. Porém, não necessariamente é preciso harmonia para cooperar, uma vez que não há conflito. Para o autor, a relevância da cooperação hegemônica para o futuro é questionável, mas a cooperação “após a hegemonia” é crucial não somente porque os interesses compartilhados podem levar à criação de regimes, mas porque as condições para a manutenção desses regimes existentes são menos exigentes que criá-los. Os atores, portanto, ajustam seu comportamento às preferências reais ou antecipadas de outros através da coordenação de políticas, ocorrendo quando as políticas de um governo são consideradas facilitadoras da realização de seus próprios objetivos pelos seus parceiros, como resultado de um processo de coordenação de políticas. A cooperação ocorre dentro do contexto de regimes internacionais e afeta as crenças, regras e práticas que formam o contexto para ações futuras, exige esforço e ajustes necessários. Com efeito, “a cooperação ocorre apenas em situações em que os atores percebem que suas políticas estão real ou potencialmente em conflito, e não onde há harmonia. [deve ser vista]como uma reação ao conflito ou conflito potencial. Sem o espectro do conflito, não há necessidade de cooperar.” (KEOHANE, 1984, p. 53-4). Já para o realismo, a cooperação existe, mas há cautela e pouco entusiasmo no que a diz respeito, pois a estrutura limita as possibilidades de cooperação. A cooperação entre as unidades, para os autores defensivos, dependerá dos desejos e capacidades possuídas pelas unidades envolvidas, em que só se cooperará quando a quebra de relações forem dependentes e mutuamente danosas. Por outro lado, autores ofensivos defendem a cooperação quando há um inimigo comum, porém, sempre será difícil de se manter por fatores que a inibem. Criticando o liberalismo, o autor pondera que não quer “relegar a cooperação ao mundo mitológico das relações entre iguais no poder” (KEOHANE, 1984, p. 55). Ou seja, não é possível cooperar sem que haja discórdia e como exemplo, cita as relações comerciais entre países amigos numa economia liberal. “ [...] mesmo quando nem o poder nem as motivações posicionais estão presentes, e quando todos os participantes se beneficiariam em conjunto com o comércio liberal, a discórdia tende a predominar sobre a harmonia como resultado inicial da ação governamental independente.” (KEOHANE, 1984, p. 54).
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