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nômica da sociedade como um processo histórico-natural, pode tornar
o indivíduo responsável por relações das quais ele é, socialmente, uma
criatura, por mais que ele queira colocar-se subjetivamente acima delas.
No campo da Economia Política, a livre pesquisa científica de-
para-se não só com o mesmo inimigo que em todos os outros campos.
A natureza peculiar do material que ela aborda chama ao campo de
batalha as paixões mais violentas, mesquinhas e odiosas do coração
humano, as fúrias do interesse privado. A Igreja Anglicana da Ingla-
terra, por exemplo, perdoaria antes o ataque a 38 de seus 39 artigos
de fé do que a 1/39 de suas rendas monetárias. Nos dias de hoje, o
próprio ateísmo é uma culpa levis42 se comparado com a crítica às
relações tradicionais de propriedade. No entanto, aqui um avanço é
inegável. Remeto, por exemplo, ao Livro Azul43 publicado nas últimas
semanas: Correspondence with her Majesty’s Missions Abroad, Regar-
ding Industrial Questions and Trades Unions. Os representantes da
Coroa inglesa no exterior expõem aí, sem subterfúgios, que na Alema-
nha, na França, em suma, em todos os países cultos do continente
europeu, é tão perceptível e tão inevitável uma modificação das relações
vigentes entre capital e trabalho quanto na Inglaterra. Ao mesmo tem-
po, do outro lado do Atlântico, Mr. Wade, vice-presidente dos Estados
Unidos da América, declarava em reuniões públicas que, depois da
abolição da escravatura, a questão posta na ordem do dia seria a mudança
das relações de capital e propriedade da terra. São esses os sinais dos
tempos e que não se deixam encobrir por mantos purpúreos nem por
sotainas negras. Não significam que milagres hão de ocorrer amanhã.
Indicam que nas próprias classes dominantes já se insinua o pressenti-
mento de que a atual sociedade não é um cristal sólido, mas um organismo
capaz de mudar e que está em constante processo de mudança.
O segundo volume desta obra vai tratar do processo de circulação
do capital (Livro Segundo) e das estruturações do processo global (Livro
Terceiro); o terceiro (Livro Quarto), da história da teoria.
Todo julgamento da crítica científica será bem-vindo. Quanto aos
preconceitos da assim chamada opinião pública, à qual nunca fiz con-
cessões, tomo por divisa o lema do grande florentino:
Segui il tuo corso, e lascia dir le genti!44
Londres, 25 de julho de 1867
Karl Marx
OS ECONOMISTAS
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42 Pecado venial. (N. dos T.)
43 Livros Azuis (Blue Books). Denominação geral das publicações de materiais do Parlamento
inglês e documentos diplomáticos do Ministério das Relações Exteriores. Os Livros Azuis,
assim chamados devido a suas capas azuis, são publicados na Inglaterra desde o século
XVII e são a fonte oficial mais importante para a história da economia e diplomacia desse
país. (N. da Ed. Alemã.)
44 Segue o teu curso e deixa a gentalha falar! — Citação derivada de Dante. A Divina Comédia.
“O Purgatório”. Canto V. (N. da Ed. Alemã.)

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