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13_ A TEORIA DA CRISE E A PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO EM DAVID HARVEY

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redirecionados para um circuito secundário (de formação de fundo de consumo e capital 
fixo) ou para um circuito terciário (de gastos sociais e de investimento em pesquisa e 
desenvolvimento) que absorvem investimentos de longa duração13. (ver Fig. 1, ao fim 
do texto) 
No interior do circuito secundário, os fluxos se dividem em capital fixo para a 
produção (instalações fabris e equipamentos, capacidade de geração de energia, 
entroncamentos ferroviários, portos, etc.) e a produção de um fundo de consumo 
(habitação, lazer, etc.), sendo que algumas das estruturas criadas podem servir tanto ao 
consumo como à produção (uma via expressa, p.ex.). É importante notar, sobretudo, que 
parte do capital que vai para o circuito secundário é incorporada à terra e forma uma 
“banco de ativos fixos” num dado lugar ou, como diz Harvey (2005, p. 94), “uma 
ambiente construído para a produção e o consumo (o que inclui parques industriais, 
portos e aeroportos, redes de transporte e comunicações, sistemas de água e esgoto, 
hospitais, escolas, etc.)”. Esses investimentos, por sua vez, formam um núcleo físico 
estruturante que define e singulariza a região. 
 Os fluxos que são dirigidos ao circuito terciário do capital (investimentos de 
longo prazo em infra-estruturas sociais) também se dividem entre produção e consumo. 
Assim, podem financiar atividades de pesquisa e desenvolvimento ou a qualificação de 
mão-de-obra a curto prazo, bem como ampliar o investimento em saúde, educação e 
assistência social, gerando melhorias no consumo coletivo dos equipamentos e serviços 
públicos e, portanto, na reprodução da força de trabalho. É bom lembrar que parte 
desses recursos também fica imobilizada na forma de ambiente construído 
(escolas, hospitais, praças, etc.). 
 Se os excedentes de capital (e trabalho) encontram na mobilidade desses 
circuitos conexos um via de absorção temporária, isso pode levar também, no entanto, a 
um sobreinvestimento nos circuitos secundário e terciário, o que acarretará, por 
exemplo, excedentes de habitação, instalações portuárias, fábricas, ociosidade de vagas 
no sistema educacional, etc.14 
 
departamento III) mantém, no entanto, relação com os departamentos I e II ao restabelecer a produção no 
circuito primário (produção de bens de capital e bens de consumo, respectivamente). 
13 O longo prazo desses investimentos se refere ao período de retorno (tempo de giro ou rotação) do valor 
à produção, ou melhor, à sua forma monetária (D-M-D’). Quanto maior a escala de produção de uma 
mercadoria, maior é o capital adiantado que é exigido e maior é o tempo de rotação (tempo de produção 
mais tempo de circulação). Cf. Marx (1985, vol. III). 
14 Só para ficarmos com um dado, em Fortaleza a especulação imobiliária criou um estoque invendável de 
5.000 unidades de habitação, em detrimento das necessidades da população pobre que vive nas favelas e 
áreas de risco e permanece com um déficit habitacional superior a 160.000 habitações. (O Povo, 
24.08.2002).

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