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14_ A TEORIA DA CRISE E A PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO EM DAVID HARVEY

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 Como se pode ver no esquema da figura 1, toda essa movimentação só é 
possível pela mediação fundamental das instituições do Estado e/ou financeiras. São 
elas que detêm o monopólio de gerar e oferecer crédito, na forma de capital fictício 
(ativos em títulos ou notas promissórias desprovidos de suporte ou lastro em riqueza 
material, mas que podem ser usados como dinheiro). O resgate do valor desses capitais 
fictícios pode ser feito por pagamento direto da dívida ou, indiretamente, por meio de 
maior receita fiscal gerada para a compensação da dívida pública. 
 Porém, a teoria dos gastos (ou investimentos produtivos) feitos pelo Estado, 
tendo em vista ampliar a arrecadação, vem demonstrando freqüentemente que o 
sobreinvestimento seguido do endividamento estrutural do erário público levam 
conseqüentemente à ruína fiscal. A crise da economia brasileira vivida em 1980 – “a 
década perdida” - é um exemplo trágico disso. 
 Quanto ao deslocamento espacial, se existem excedentes de capital e força de 
trabalho que não podem ser absorvidos internamente num dado sistema territorial (num 
Estado-nação ou numa região), “é imperativo enviá-los a outras plagas onde possam 
encontrar novos terrenos para sua realização lucrativa, evitando assim que se 
desvalorizem”. (HARVEY, 2005, p. 99). Isso pode ser feito sob o expediente do 
mercador externo, por exemplo, que procura noutros territórios solvência para o excesso 
de capital na forma-mercadoria. O contato com economias não-capitalistas (ou não 
monetarizadas) cria sérias dificuldades à troca, principalmente aos países importadores. 
Muitas vezes, a economia de origem financia o provimento dos meios de compra 
através de “doações” e empréstimos que levam as economias não-capitalistas ao 
endividamento. As transações financeiras ocorrem melhor entre economias capitalistas, 
porém, de desenvolvimento geográfico desigual, já que, às vantagens de 
exportação/importação dos produtos e matérias primas que faltam numa ou noutra 
região, seguem também os excedentes de lucro, dada a diferença de produtividade entre 
essas economias – esse é o efeito da superexploração do trabalho e da mais-valia extra, 
como bem disse Ruy Mauro Marini em sua Dialética da dependência (1973). Numa 
economia cada vez mais financeirizada, é possível supor as conseqüências da 
dependência vivida pelas economias nacionais (e locais) em relação sistema de crédito 
mundial e seus fluxos especulativos. 
 É interessante observar, contudo, que o escoamento do capital excedente para 
regiões inexploradas cria as bases para a formação de economias capitalistas que vão ao 
longo do tempo gerar suas próprias crises de sobreacumulação, e isso é tanto mais

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