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FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Anatomia Do Aparelho Respiratório .................. 4 3. Ventilação Pulmonar ...............................................12 4. Princípios Físicos Das Trocas Gasosas ...........21 5. Transporte De Oxigênio E Dióxido De Carbono No Sangue E Nos Líquidos Teciduais ...................29 6. Regulação Da Respiração ....................................38 Referências Bibliograficas .........................................45 3FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO 1. INTRODUÇÃO O sistema respiratório é um dos siste- mas vitais do organismo, responsável pela oxigenação do sangue e elimi- nação do gás carbônico produzi- do durante o metabolismo celular. Além disso, o aparelho respiratório também está envolvido com a habili- dade de fonação e fala. Para realizar seus objetivos, a respira- ção pode ser dividida em quatro fun- ções principais: ventilação pulmonar, difusão do oxigênio e dióxido de car- bono entre os alvéolos e o sangue, transporte de oxigênio e dióxido de carbono no sangue e líquidos/tecidos corporais e regulação da respiração. A ventilação pulmonar consiste no influxo e efluxo de ar dos pulmões, ou seja, refere-se aos processos de inspiração e expiração. A troca gaso- sa entre os alvéolos e o sangue en- volve as diferenças de pressão dos gases entre esses dois componentes, assim como o transporte desses ga- ses pelo sangue e tecido do corpo, o qual também depende da ação das hemácias. Por fim, a regulação da respiração está atrelada aos meca- nismos neurológicos que se adequam às diferentes demandas de oxigena- ção e expulsão do dióxido de carbono que o organismo é exposto ao desen- volver diversas atividades. Deficiências em qualquer parte des- se sistema pode gerar o desenvolvi- mento de diversas doenças respira- tórias e/ou metabólicas, que também serão abordadas brevemente neste material. MAPA MENTAL – FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA ELIMINAÇÃO DO CO2 FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA TROCAS GASOSAS ENTRE ALVÉOLOS E SANGUE TRANSPORTE DE GASES PELO SANGUE E TECIDOS OXIGENÇÃO DO SANGUE/TECIDOS VENTILAÇÃO PULMONAR FONAÇÃO/FALA REGULAÇÃO DA RESPIRAÇÃO 4FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO 2. ANATOMIA DO APARELHO RESPIRATÓRIO Anatomicamente, o aparelho res- piratório é dividido em vias aéreas superiores, que é extratorácica, e inferiores, que é intratorácica. Assim, as vias aéreas superiores são forma- das fossas nasais, faringe e laringe, e as vias inferiores inclui a traqueia, brônquios, bronquíolos e alvéolos, que são estruturas do pulmão. Figura 1. Divisão das vias aéreas em superior e inferior. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/ Trato_respirat%C3%B3rio_superior As cavidades nasais são o início do aparelho respiratório, e vão das na- rinas, onde existem as vibrissas, pê- los que filtram o ar, até a faringe. Elas são separadas por uma cartilagem chamada de septo nasal. Além disso, as cavidades nasais são revestidas por mucosa do epitélio respiratório e o vestíbulo nasal (“entrada das nari- nas”) é revestido por pele e rico em pelos e glândulas sebáceas. O na- riz remove as partículas grandes por meio de precipitação turbulenta, pois ao se chocar com as conchas e septo 5FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO nasais, o ar muda de direção, e como as partículas não conseguem acom- panhar a velocidade dessa mudança de movimento, elas ficam presas nas paredes do nariz. Como as vibrissas geralmente estão úmidas, elas tam- bém filtram partículas de poeira do ar que entra na cavidade nasal. Ao passar pelo nariz, o ar, além de ser parcialmente filtrado, também é aque- cido e umidificado, daí a importância da respiração via narinas. Quando a respiração é feita pela traqueia (boca ou traqueostomia), ocorre resfriamen- to e ressecamento da porção inferior do pulmão, podendo levar a formação de crostas e infecção. SE LIGA! O nariz é o sistema de ventila- ção que atravessa a cabeça, permitindo o fluxo de ar entre o ambiente externo e o sistema respiratório inferior (pulmões). À medida que atravessa o nariz, o ar tem sua composição química analisada (po- tencialização do olfato e do paladar), é aquecido, umidificado e filtrado para os pulmões. Ao sair, o calor e a umidade são liberados com ele. O nariz também é uma via de drenagem para o muco e o líquido lacrimal. A faringe conduz o ar para a laringe, participando da porção condutora do sistema respiratório, sendo dividida em nasofaringe, orofaringe e laringo- faringe – a orofaringe faz parte do sis- tema digestório. A parede da faringe é formada por uma camada externa de musculatura circular, que consiste nos constritores da faringe (superior, médio e inferior), e uma camada in- terna longitudinal, que são os mús- culos palatofaríngeo, estilofaríngeo e salpingofaringeo. Esses músculos encurtam a faringe durante a deglu- tição e fala. A laringe é formada por 9 cartilagens unidas por membranas e ligamen- tos, que contém as pregas vocais, responsáveis pela fonação. Ela une a parte inferior da faringe (parte larín- gea da faringe) à traqueia. Embora seja conhecida mais frequentemen- te por seu papel como o mecanismo fonador para produção de voz, sua função mais importante é proteger as vias respiratórias, sobretudo durante a deglutição, quando serve como “es- fíncter” ou “válvula” do sistema res- piratório inferior, mantendo, assim, a perviedade das vias respiratórias. 6FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO SE LIGA! A fonação é uma habilidade diretamente ligada às vias respirató- rias, pois a formação do som depende da passagem de ar através da laringe, fazendo vibrar as pregas respiratórias. Com isso, o som é moldado pela cavi- dade oral, através da articulação dos lá- bios, palato e língua. A traqueia se estende da laringe até o tórax e termina inferiormente divi- dindo-se em brônquios principais di- reito e esquerdo. Transporta o ar que entra e sai dos pulmões, e seu epité- lio impulsiona o muco com resíduos em direção à faringe para expulsão pela boca. A traqueia é um tubo fi- brocartilagíneo, sustentado por car- tilagens (anéis) traqueais incomple- tas, que ocupa uma posição mediana no pescoço. As cartilagens traqueais mantêm a traqueia pérvia; são defi- cientes na parte posterior onde a tra- queia é adjacente ao esôfago. Observe que, a partir da laringe, as paredes das vias respiratórias são sustentadas por anéis de cartilagem hialina em formato de ferradura ou em C. As vias respiratórias sublarín- geas formam a árvore traqueobron- quial. A traqueia é o tronco da árvore. Ela se bifurca no nível do plano trans- verso do tórax (ou ângulo do ester- no) em brônquios principais, um para cada pulmão, que seguem em senti- do inferolateral e entram nos hilos dos pulmões. Os brônquios principais são as primeiras porções da árvore Figura 2. Vista anterior da laringe e pregas vocais. Fonte: https://www.todamateria.com.br/laringe/ https://www.todamateria.com.br/laringe/ 7FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO traqueobronquial que entra nos pul- mões. O brônquio principal direito é mais largo, mais curto e mais ver- tical do que o brônquio principal es- querdo porque entra diretamente no hilo do pulmão. O brônquio principal esquerdo segue inferolateralmente, inferiormente ao arco da aorta e an- teriormente ao esôfago e à parte to- rácica da aorta, para chegar ao hilo do pulmão. Devido a essas caracte- rísticas anatômicas, a intubação se- letiva comumente ocorre no brônquio direito. NA PRÁTICA! Como o brônquio principal direito é mais largo, mais curto e mais vertical do que o brô- nquio principal esquerdo, é mais provável que corpos estranhos aspirados ou alimentos entrem e se alojem nele ou em um de seus ramos. Os brônquios principais também são chamados de primários, e eles se di- videm em brônquios lobares secun- dários, dois à esquerda e três à direi- ta, que suprem os lobos pulmonares – o pulmão esquerdo tem dois lobos e o pulmão direito tem três, visto que ocoração ocupa uma parte da cavida- de torácica esquerda. Cada brônquio lobar divide-se em vários brônquios segmentares terciários, que suprem os segmentos broncopulmonares. Os segmentos broncopulmonares são as maiores divisões de um lobo, se- parados dos segmentos adjacentes por septos de tecido conectivo e su- pridos por um brônquio segmentar e um ramo arterial pulmonar terciário independentes. Geralmente, são 18 a 20 (10 no pulmão direito; 8 a 10 no pulmão esquerdo, dependendo da associação de segmentos). 8FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO Além dos brônquios segmentares terciários, há cerca de 25 gerações de bronquíolos condutores ramifica- dos, que terminam como bronquíolos terminais (menores bronquíolos con- dutores). A parede dos bronquíolos não tem cartilagem. Essas ramifica- ções são importantes para aumentar a área de trocas gasosas. Os bronquíolos condutores transpor- tam ar, mas não tem glândulas nem alvéolos. Cada bronquíolo terminal origina diversas gerações de bronquí- olos respiratórios, caracterizados pela presença dos alvéolos. O alvéolo pulmonar é a unidade es- trutural básica de troca gasosa no pul- mão. Graças à presença dos alvéolos, os bronquíolos respiratórios partici- pam tanto do transporte de ar quan- to da troca gasosa. Cada bronquíolo respiratório origina 2 a 11 ductos al- veolares, que por sua vez dão origem a 5 a 6 sacos alveolares. Os ductos alveolares são vias respiratórias alon- gadas, revestidas por alvéolos, que levam aos sacos alveolares, nos quais se abrem os grupos de alvéolos. Figura 3. Traqueia e brônquios. Fonte: https://static.todamateria.com.br/upload/57/42/5742f5bd222f0-bronquios.jpg 9FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO Os pulmões são os órgãos vitais da respiração. Sua principal função é oxigenar o sangue colocando o ar inspirado bem próximo do sangue venoso nos capilares pulmonares. Os pulmões saudáveis em pessoas vi- vas são normalmente leves, macios e esponjosos, e ocupam totalmente as cavidades pulmonares. Também são elásticos e retraem-se a aproximada- mente um terço do tamanho original quando a cavidade torácica é aber- ta. Os pulmões são separados um do outro pelo mediastino. O pulmão direito apresenta fissuras oblíqua e horizontal direitas, que o di- videm em três lobos direitos: superior, médio e inferior. O pulmão direito é maior e mais pesado do que o esquer- do, porém é mais curto e mais largo, porque a cúpula direita do diafragma é mais alta e o coração e o pericárdio estão mais voltados para a esquerda. A margem anterior do pulmão direi- to é relativamente reta. O pulmão es- querdo tem uma única fissura oblíqua esquerda, que o divide em dois lobos esquerdos, superior e inferior. A mar- gem anterior do pulmão esquerdo tem uma incisura cardíaca profunda, uma impressão deixada pelo des- vio do ápice do coração para o lado esquerdo. Essa impressão situa-se principalmente na face anteroinferior do lobo superior. Essa endentação molda, com frequência, a parte mais inferior e anterior do lobo superior, transformando-a em um prolonga- mento estreito e linguiforme, a língu- la, que se estende abaixo da incisura cardíaca e desliza para dentro e para fora do recesso costomediastinal du- rante a inspiração e a expiração. Figura 4: Saco alveolar e rede capilar nos alvéolos. Fonte: https://www.saudebemestar.pt/media/86824/enfisema-pulmonar.jpg https://www.saudebemestar.pt/media/86824/enfisema-pulmonar.jpg 10FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO Figura 5. Vista anterior dos pulmões. Fonte: MOORE, Keith L. Dalley, Arthur F. Agur, Anne M R. Anatomia orientada para a clínica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Cada cavidade pulmonar (direita e esquerda) é revestida por uma mem- brana pleural (pleura) que também se reflete e cobre a face externa dos pulmões que ocupam as cavidades. Para visualizar a relação entre pleuras e pulmões, empurre seu punho den- tro de um balão de ar quase vazio. A parte interna da parede do balão (ad- jacente ao seu punho, que representa o pulmão) é semelhante à pleura vis- ceral; a parede externa do balão re- presenta a pleura parietal. A cavida- de entre as paredes do balão, cheia de ar, é análoga à cavidade pleural, embora a cavidade pleural contenha apenas uma fina película de líquido. No punho (que representa a raiz do pulmão), as paredes interna e externa do balão são contínuas, assim como as pleuras visceral e parietal, que, juntas, formam o saco pleural. Obser- ve que o pulmão está situado fora da cavidade do saco pleural, mas é cir- cundado por ele, assim como o punho é envolvido pelo balão, mas está fora da sua cavidade. Portanto, cada pulmão é revestido e envolvido por um saco pleural seroso formado por duas membranas con- tínuas: a pleura visceral, que reveste toda a superfície pulmonar, formando sua face externa brilhante, e a pleu- ra parietal, que reveste as cavidades pulmonares. 11FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO FLUXOGRAMA – ANATOMIA DAS VIAS AÉREAS SEGMENTOS BRONCOPUL- MONARES CAVIDADES NASAIS BRÔNQUIOS TERCIÁRIOS BRONQUÍOLOS CONDUTORES RAMIFICADOS BRONQUÍOLOS TERMINAIS BRONQUÍOLOS RESPIRATÓRIOS 2 BRÔNQUIOS LOBARES SECUNDÁRIOS 3 BRÔNQUIOS LOBARES SECUNDÁRIOS BRÔNQUIO PRINCIPAL ESQUERDO BRÔNQUIO PRINCIPAL DIREITO TRAQUEIA LARINGE FARINGE DUCTO ALVEOLAR SACOS ALVEOLARES ALVÉOLOS CADA BRÔNQUIO PRINCIPAL 12FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO 3. VENTILAÇÃO PULMONAR Mecânica da ventilação pulmonar A ventilação pulmonar consiste nos processos de entrada e saída de ar dos pulmões. Para isso, os pulmões são contraídos e expandidos a partir da ação dos músculos diafragma ou intercostais. O movimento de desci- da do diafragma, a partir de sua con- tração, promove o aumento da cavi- dade torácica, favorecendo a inalação do ar. Durante a expiração, o diafrag- ma simplesmente relaxa, e a retra- ção elástica dos pulmões, da parede torácica e das estruturas abdominais comprime os pulmões, fazendo com o que o ar seja expelido. A respiração normal é quase inteira- mente realizada pelos movimentos do diafragma. Na respiração vigoro- sa, no entanto, as forças elásticas não são suficientes para gerar a expiração rápida necessária, e assim é preciso a contração dos músculos abdominais para que o ar seja expelido, quando as vísceras abdominais são empurradas para cima, a partir da contração da musculatura abdominal, comprimin- do o diafragma e consequentemente os pulmões. Os músculos intercostais também participam da inspiração, quando se contraem, gerando a elevação das costelas, e consequentemente ex- pansão da caixa torácica. Quando a caixa torácica é elevada, as costelas se projetam para frente, fazendo com o que o esterno se desloque na mes- ma direção, gerando aumento ante- roposterior do tórax. Figura 6. Inspiração e expiração. Fonte: https://www.sobiologia.com.br/figuras/Fisiologiaanimal/respiracao11.jpg https://www.sobiologia.com.br/figuras/Fisiologiaanimal/respiracao11.jpg 13FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO Em resumo, todos os músculos que elevam a caixa torácica são classifi- cados como músculos inspiratórios, sendo os mais importantes deles os músculos intercostais externos, que são auxiliados pelo esternocleido- mastóideos, que elevam o esterno, serráteis anteriores e escalenos, que também elevam as costelas. Ao con- trário, os músculos que abaixam a caixa torácica são chamados de mús- culos expiratórios, sendo os princi- pais deles o reto abdominal e os in- tercostais internos, além de outros músculos abdominais que também puxam as costelas inferiores para bai- xo e comprime o conteúdo abdominal para cima, empurrando o diafragma. Vale ressaltar, no entanto, que os músculos expiratórios são pouco usa- dos durante a respiração tranquila, na qual a expiração é quase totalmente passiva. Os pulmões são sacos elásticos, que expelem todo o ar pela traqueia quan- do não há nenhuma força que o man- tenha inflado. A pressão pleural, ge- rada pela sucção contínua do líquido pleural,constitui uma pressão negati- va, que no início da inspiração é cerca de -5 cm de água, que é a pressão necessária para manter os pulmões abertos. Durante a inspiração, essa pressão se torna ainda mais negati- va, chegando a -7,5 cm de água. Na expiração, então, a pressão é positiva. Além da pressão pleural, a ventilação pulmonar também é comandada pela pressão alveolar, que corresponde à pressão do ar dentro dos alvéolos. Quando a glote está aberta e não há fluxo de ar para dentro ou fora dos pulmões, as pressões em toda a árvo- re traqueobronquial são iguais à pres- são atmosférica (0 cm de pressão de água nas vias aéreas). Com isso, para que o ar entre nos pulmões, a pres- são alveolar deve cair, tornando-se menor que a pressão atmosférica – a pressão alveolar durante a inspiração normal é -1 cm de água, que gera o influxo de 0,5 litro de ar nos 2 se- gundos necessários para a inspiração tranquila. Na expiração, as pressões são contrárias (+1 cm de água força a saída de 0,5 litro de ar dos pulmões durantes os 2-3 segundos de expira- ção normal). A pressão transpulmonar é a dife- rença de pressão entre os alvéolos e as superfícies externas dos pulmões (pressão pleural), sendo medida das forças elásticas nos pulmões que ten- dem a colapsá-los a cada instante da respiração, a chamada pressão de retração. O grau de extensão dos pulmões por cada unidade de aumento da pressão transpulmonar (se tempo suficiente for permitido para atingir o equilíbrio) é chamado complacência pulmonar. A complacência total de ambos os pulmões no adulto normal é, em mé- dia, de 200 mililitros de ar por centí- metro de pressão de água transpul- monar. Isto é, sempre que a pressão 14FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO transpulmonar aumentar 1 centíme- tro de água, o volume pulmonar, após 10 a 20 segundos, se expandirá 200 mililitros. A Figura a seguir mostra o diagrama que relaciona as alterações do volu- me pulmonar com as mudanças da pressão pleural que, por sua vez, mo- difica a pressão transpulmonar. Ob- serve que a relação é diferente para a inspiração e para a expiração. Cada curva é registrada pelas mudanças da pressão pleural em pequenos passos, permitindo-se que o volume pulmo- nar atinja nível estável entre passos sucessivos. As duas curvas são de- nominadas, respectivamente, curva de complacência inspiratória e cur- va de complacência expiratória, e todo o diagrama é chamado diagra- ma da complacência pulmonar. Expiração Inspiração Pressão pleural (cm H2O) M ud an ça no vo lu m e pu lm on ar (li tr os ) M ud an ça n o vo lu m e pu lm on ar (l itr os ) Figura 7. Diagrama da complacência. Fonte: https://bit.ly/353YBiW As características do diagrama da complacência são determinadas pe- las forças elásticas dos pulmões, di- vididas em força elástica do tecido pulmonar propriamente dito e forças elásticas causadas pela tensão su- perficial do líquido que reveste as pa- redes internas dos alvéolos e outros espaços aéreos pulmonares. As forças elásticas do tecido pulmo- nar são determinadas pelas fibras de elastina e de colágeno, entrelaçadas no parênquima pulmonar. Quando os pulmões estão vazios, essas fibras se encontram elasticamente contraídas e dobradas, enquanto nos pulmões cheios, essas fibras são estiradas e desdobradas, e nesse momento se 15FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO alongam e até mesmo sua força elás- tica é maior. Já as forças elásticas causadas pela tensão superficial são muito mais complexas. A superfície da água que reveste os alvéolos tenta contrair-se à medida que as moléculas de água se atraem. Essa força tenta mover o ar para fora dos alvéolos, fazendo com que eles tentem colapsar. O efeito fi- nal é causar uma força contrátil elás- tica do pulmão inteiro, denominada força elástica de tensão superficial. SE LIGA! Quando a água forma uma superfície de contato com o ar, as mo- léculas da água na superfície têm atra- ção especialmente forte umas pelas outras. Como resultado, a superfície da água está sempre tentando se contrair. Isto é o que mantém as gotas de chuva unidas — isto é, existe firme membra- na contrátil, constituí da por moléculas de água, por toda a superfície da gota. Agora, vamos reverter esses princípios e ver o que acontece nas superfícies inter- nas do alvéolo. Aí, a superfície da água também está tentando se contrair, o que tende a forçar o ar para fora do alvéolo, pelo brônquio, e, ao fazer isso, induz o colapso do alvéolo. O efeito global é o de causar força contrátil elástica de todo o pulmão que é referida como força elásti- ca da tensão superficial. O surfactante é um agente ativo da superfície da água, significando que ele reduz bastante a tensão superfi- cial da água. É secretado por células epiteliais especiais secretoras de sur- factante chamadas células epiteliais alveolares tipo II, que constituem cer- ca de 10% da área de superfície al- veolar. Essas células são granulares, contêm inclusões lipídicas que são secretadas no surfactante dentro dos alvéolos. O surfactante é mistura complexa de vários fosfolipídeos, proteínas e íons. Seu componente mais importante é o fosfolipídio dipalmitoilfosfatidilcolina. A presença de surfactante na super- fície alveolar reduz a tensão superfi- cial para um doze avos a um meio da tensão superficial de uma superfície de água pura. Até agora, discutimos apenas a ex- pansibilidade dos pulmões, sem con- siderar a caixa torácica. A caixa torá- cica tem suas próprias características elásticas e viscosas, semelhantes às dos pulmões; até mesmo se os pul- mões não estivessem presentes no tórax, esforço muscular seria neces- sário para expandir a caixa torácica. A complacência de todo o sistema pulmonar (dos pulmões e da caixa torácica juntos) é medida durante a expansão dos pulmões de pessoa to- talmente relaxada ou paralisada. Para medir a complacência, o ar é forçado para o interior dos pulmões durante curto intervalo de tempo, enquanto se registram as pressões e volumes pulmonares. Para insuflar esse siste- ma pulmonar total, é requerida qua- se duas vezes a mesma quantidade de pressão necessária para insuflar 16FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO os mesmos pulmões após sua re- moção da caixa torácica. Portanto, a complacência do sistema combinado pulmão-tórax é quase a metade da do pulmão isolado — 110 mililitros de volume por centímetro de pressão de água para o sistema combinado comparados a 200 mL/cm para os pulmões isola dos. Além disso, quan- do os pulmões estão expandidos até grandes volumes ou comprimidos até pequenos volumes, as limitações do tórax se tornam extremas. Quando próxima desses limites, a complacên- cia do sistema pulmão-tórax pode ser menos de um quinto que a dos pul- mões isolados. Volumes e capacidades pulmonares A ventilação pulmonar pode ser estu- dada pela espirometria, e para facili- tar a descrição dos eventos da venti- lação, o ar nos pulmões é subdividido em quatro volumes e quatro capa- cidades. Os volumes pulmonares, quando somados, correspondem ao volume máximo que os pulmões po- dem expandir. O significado de cada um desses volumes é o seguinte: • 1. O volume corrente (Vt) é o vo- lume de ar inspirado ou expirado, em cada respiração normal; é de cerca de 500 mililitros no homem adulto médio. • 2. O volume de reserva inspira- tório (VRI) é o volume extra de ar que pode ser inspirado, além do volume corrente normal, quando a pessoa inspira com força total; geralmente, é de cerca de 3.000 mililitros. • 3. O volume de reserva expira- tório (VRE) é o máximo volume extra de ar que pode ser expirado na expiração forçada, após o final de expiração corrente normal; nor- malmente, esse volume é de cerca de 1.100 mililitros. • 4. O volume residual (VR) é o vo- lume de ar que fica nos pulmões, após a expiração mais forçada; esse volume é de cerca de 1.200 mililitros As capacidades pulmonares são re- sultado das combinações dos vo- lumes pulmonares, sendo asmais importantes: • 1. A capacidade inspiratória (CI) é igual ao volume corrente mais o volume de reserva inspiratório. Essa capacidade é a quantidade de ar (cerca de 3.500 mililitros) que a pessoa pode respirar, começan- do a partir do nível expiratório nor- mal e distendendo os pulmões até seu máximo. • 2. A capacidade residual fun- cional (CRF) é igual ao volu- me de reserva expiratório mais o 17FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO volume residual. Essa capacida- de é a quantidade de ar que per- manece nos pulmões, ao final de expiração normal (cerca de 2.300 mililitros). • 3. A capacidade vital (CV) é igual ao volume de reserva inspiratório mais o volume corrente mais o vo- lume de reserva expiratório. Essa capacidade é a quantidade máxi- ma de ar que a pessoa pode ex- pelir dos pulmões, após primeiro enchê-los à sua extensão máxima e, então, expirar, também à sua ex- tensão máxima (em torno de 4.600 mililitros). • 4. A capacidade pulmonar total (CPT) é o volume máximo a que os pulmões podem ser expandi- dos com o maior esforço (cerca de 5.800 mililitros); é igual à capaci- dade vital mais o volume residual. Em geral, todos os volumes e capa- cidades pulmonares, nas mulheres, são cerca de 20% a 25% menores do que nos homens, e são maiores em pessoas atléticas e com massas cor- porais maiores do que em pessoas menores e astênicas. Figura 8. Diagrama das excursões respiratórias durante respiração normal e durante inspiração e expiração máximas. Fonte: HALL, Jhon E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 12ªed. Rio de Janeiro. Elsevier. 2011 18FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO O volume respiratório por minuto é a quantidade total de ar novo que é movido para as vias respiratórias a cada minuto. O volume respiratório por minuto é igual ao Vt multiplica- do pela frequência respiratória. O Vt normal é de aproximadamente 500 mililitros e a frequência respiratória normal é cerca de 12 respirações por minuto; portanto, o volume respirató- rio por minuto atinge em média 6 L/ min. A importância fundamental da venti- lação pulmonar é a de renovar con- tinuamente o ar nas áreas de trocas gasosas dos pulmões, onde o ar está próximo à circulação sanguínea pul- monar. Essas áreas incluem os alvé- olos, sacos alveolares, ductos alve- olares e bronquíolos respiratórios. A velocidade/intensidade com que o ar novo alcança essas áreas é chamada ventilação alveolar. Parte do ar que a pessoa respira nun- ca alcança as áreas de trocas gaso- sas, por simplesmente preencher as vias respiratórias onde essas trocas nunca ocorrem, tais como o nariz, a faringe e a traqueia. Esse ar é chama- do ar do espaço morto, por não ser útil para as trocas gasosas. Na expiração, o ar do espaço morto é expirado primeiro, antes de qualquer ar dos alvéolos alcançar a atmosfe- ra. Portanto, o espaço morto é muito desvantajoso para remover os gases expiratórios dos pulmões. Existem 3 tipos de ar de espaço morto: • Espaço morto anatômico é o ar nas vias aéreas condutoras que não realiza troca gasosa. • Espaço morto alveolar é o ar nas partes de troca gasosa do pulmão que não consegue realizar troca gasosa; é quase zero em indivídu- os normais. • Espaço morto fisiológico é a soma do espaço morto anatômico e o espaço morto alveolar (isto é, ar do espaço morto total). A ventilação alveolar é a taxa em que o ar novo atinge as áreas de troca gasosa nos pulmões. Durante a ins- piração, parte do ar jamais chega às áreas de troca gasosa, mas sim en- che as vias respiratórias; esse ar é de- nominado ar do espaço morto. Como a ventilação alveolar é o volume to- tal de ar novo que entra nos alvéolos, ela é igual à frequência respiratória multiplicada pela quantidade de ar novo que entra nos alvéolos a cada respiração: VA = Freq x (VC – VD) Onde VA é o volume de ventilação al- veolar por minuto, Freq é a frequên- cia, VC é o volume corrente de respi- ração por minuto e VD é o volume de 19FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO espaço morto. Assim, com um VC de 500 mililitros e um espaço morto nor- mal de 150 mililitros e uma frequên- cia respiratória de 12 respirações por minuto, a ventilação alveolar e igual a 12 × (500 − 150), ou 4.200 mL/min. A ventilação alveolar é um dos princi- pais fatores determinantes das con- centrações de oxigênio e dióxido de carbono nos alvéolos. A espirometria é importante para analisar a função pulmonar, sendo usada, por exemplo, para avaliar a evolução de doenças respiratórias como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), na qual a capacida- de pulmonar é comprometida e gera alterações nos volumes e capacida- des pulmonares. Todas essas medi- das são cerca de 20 a 25% menores nas mulheres em comparação aos homens, e são maiores em atletas e pessoas com maior massa corporal. SAIBA MAIS! DPOC é gerada por um quadro persistente de bronquite ou enfisema pulmonar, normalmente provocados pelo tabagismo crônico, causando fibrose nos pulmões, com consequente dis- função pulmonar, principalmente por conta da deficiência da retração elástica desse tecido. Assim, a DPOC é caracterizada pela obstrução do fluxo de ar para aos pulmões, com conse- quente redução dos volumes e capacidades pulmonares. 20FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO MAPA MENTAL - VENTILAÇÃO PULMONAR COMPLACÊNCIA PULMONAR VENTILAÇÃO PULMONAR INSPIRAÇÃO EXPIRAÇÃO DIAFRAGMA CONTRAI M. INTERCOSTAIS EXTERNOS PRESSÃO TRANSPULMONAR NEGATIVA DIAFRAGMA RELAXA M. INTERCOSTAIS INTERNOS PRESSÃO TRANSPULMONAR POSITIVA VENTILAÇÃO ALVEOLAR VOLUMES PULMONARES CAPACIDADES PULMONARES TENSÃO SUPERFICIAL TECIDO PULMONAR ESPAÇO MORTO FIBRAS DE COLÁGENO FIBRAS DE ELASTINA VOLUME CORRENTE VOLUME DE RESERVA EXPIRATÓRIO VOLUME DE RESERVA INSPIRATÓRIO VOLUME RESIDUAL CAPACIDADE RESIDUAL FUNCIONAL CAPACIDADE INSPIRATÓRIA CAPACIDADE VITAL CAPACIDADE PULMONAR TOTAL 21FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO 4. PRINCÍPIOS FÍSICOS DAS TROCAS GASOSAS Física da difusão gasosa e das pressões parciais dos gases Com a ventilação pulmonar, a próxi- ma etapa do processo respiratório é a difusão do O2 e CO2, que ocorre em direções opostas, ou seja, o O2 passa dos alvéolos para o sangue, enquan- to o CO2 para do sangue para os al- véolos, para ser expelido. A difusão efetiva de um gás ocorre na direção de menor concentração desse gás, ou seja, o gás flui das regiões de alta concentração para as regiões de bai- xa concentração, ou seja, onde exis- tem menos moléculas. A taxa de difusão dos gases respira- tórios (oxigênio, nitrogênio, dióxido de carbono) é proporcional à pressão causada por cada gás individual- mente, denominada pressão parcial do gás. As pressões parciais são uti- lizadas para expressar as concentra- ções dos gases, pois são as pressões que fazem com que os gases se mo- vimentem via difusão de uma parte do corpo para outra. As pressões par- ciais do oxigênio, do dióxido de car- bono e do nitrogênio são designadas como PO2, PCO2 e PN2, respectiva- mente. A pressão parcial de um gás é calculada multiplicando-se sua con- centração fracional pela pressão total exercida por todos os gases. SE LIGA! O ar possui uma composição aproximada de 79% de nitrogênio e cerca de 21% de oxigênio. Em média, a pressão total ao nível do mar (pressão at- mosférica) atinge 760 mmHg; portanto, 79% dos 760 mmHg são causados pelo nitrogênio (cerca de 600 mmHg) e 21% pelo oxigênio (cerca de 160 mmHg). A PN2 na mistura é de 600 mmHg, a PO2 é de 160 mmHg; a pressão total é de 760 mmHg, a qual é a soma das pres- sões parciais individuais. A pressão parcial de um gás em uma solução é determinada não só pela sua concentração, mas também pelo seu coeficiente de solubilidade. Algumas moléculas, especialmente o dióxido de carbono, são física e quimi- camente atraídas pelas moléculas de água, o que permite que muito mais delas se dissolvam sem gerar exces- so de pressão na solução. A relação entre a concentração do gás e a so- lubilidade do gás na determinação da pressãoparcial de um gás é expressa pela lei de Henry: Pressão parcial = Concentração de gás dissolvido / Coeficiente de solubilidade O CO2 é 20 vezes mais solúvel que o oxigênio. Portanto, a pressão parcial do CO2 (em determinada concen- tração) é menos de um vinte avos da exercida pelo O2. 22FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO A pressão parcial de cada gás na mistura dos gases respiratórios alve- olares tende a forçar as moléculas do gás para a solução no sangue dos ca- pilares alveolares. Por outro lado, as moléculas do mesmo gás que já es- tão dissolvidas no sangue se movem aleatoriamente no líquido do sangue, e algumas dessas moléculas em mo- vimento escapam de volta aos alvéo- los. A intensidade em que elas esca- pam é diretamente proporcional à sua pressão parcial no sangue. Mas em qual direção ocorrerá a di- fusão efetiva do gás? A resposta é que a difusão efetiva é determinada pela diferença entre as duas pres- sões parciais. Se a pressão parcial for maior na fase gasosa nos alvéolos, como normalmente é verdadeiro no caso do oxigênio, então mais molé- culas se difundirão para o sangue do que na outra direção. Por outro lado, se a pressão parcial do gás for maior no estado dissolvido no sangue, o que costuma ser no caso do CO2, en- tão a difusão efetiva ocorrerá para a fase gasosa nos alvéolos. Figura 9. Difusão de oxigênio de extremidade de uma câmara para a outra. A diferença entre os comprimentos das setas representa a difusão efetiva. Fonte: HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. Quando ar não umidificado é inspi- rado para as vias aéreas, água ime- diatamente se evapora das superfí- cies dessas vias e umidifica o ar. Isso resulta do fato de que as moléculas de água, assim como as diferentes moléculas dos gases dissolvidos, estão continuamente escapando da superfície da água para a fase gaso- sa. A pressão parcial exercida pelas moléculas de água para escapar da superfície é denominada pressão de vapor da água. À temperatura cor- poral normal, 37°C, essa pressão 23FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO de vapor é de 47 mmHg. Portanto, quando a mistura de gases fica total- mente umidificada — ou seja, quando está em “equilíbrio” com a água — a pressão parcial do vapor de água na mistura de gases é de 47 mmHg. Essa pressão parcial, assim como as outras pressões parciais, é denomi- nada PH2O. Figura 10. Troca gasosa nos capilares alveolares. Fonte: https://bit.ly/2KBMBfc Os gases de importância respira- tória são todos muito solúveis nos lipídeos e, em consequência, são al- tamente solúveis nas membranas ce- lulares. Por conseguinte, a principal limitação ao movimento dos gases nos tecidos é a intensidade com que os gases conseguem se difundir pela água tecidual, em vez de através das membranas celulares. Portanto, a di- fusão dos gases pelos tecidos, incluin- do a membrana respiratória, é quase igual à difusão dos gases na água. Composição do ar alveolar e a sua relação com o ar atmosférico O ar alveolar não tem, de forma al- guma, as mesmas concentrações dos gases no ar atmosférico. Existem várias razões para essas diferenças. Primeira, o ar alveolar é substituído apenas parcialmente pelo ar atmos- férico a cada respiração. Segunda, o O2 é constantemente absorvido pelo sangue pulmonar do ar alveo- lar. Terceira, o CO2 se difunde cons- tantemente do ar pulmonar para os alvéolos. E quarta, o ar atmosférico seco que entra nas vias respirató- rias é umidificado até mesmo, antes de atingir os alvéolos. 24FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO AR ATMOSFÉRICO AR UMIDIFICADO AR ALVEOLAR AR EXPIRADO N2 597 (78,62%) 563,4 (74,09%) 569 (74,9%) 566 (74,5%) O2 159 (20,84%) 149,3 (19,67%) 104 (13,6%) 120 (15,7%) CO2 0,3 (0,04%) 0,3 (0,04%) 40 (5,3%) 27 (3,6%) H2O 3,7 (0,5%) 47 (6,2%) 47 (6,2%) 47 (6,2%) Total 760 (100%) 760 (100%) 760 (100%) 760 (100%) Tabela 1. Pressões parciais dos gases respiratórios (em mmhg) quando entram e saem dos pulmões (ao nível do mar). Fonte: HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. A Tabela 1 mostra que o ar atmosféri- co é composto principalmente por ni- trogênio e oxigênio; ele contém quase nenhum dióxido de carbono ou vapor de água. O ar atmosférico se torna totalmente umidificado à medida que passa através das vias respiratórias. O vapor de água à temperatura normal do corpo (47 mmHg) dilui dos outros gases no ar inspirado. A PO2 dimi- nui de 159 mmHg no ar atmosférico para 149,3 mmHg no ar umidificado e a PN2 diminui de 597 mmHg para 563,4 mmHg, A quantidade de ar alveolar substi- tuída por novo ar atmosférico a cada respiração é de apenas um sétimo do total; portanto, muitas respirações são necessárias para substituir o ar alveo- lar completamente. Essa substituição lenta do ar alveolar evita mudanças súbitas nas concentrações de gases no sangue. Figura 11. Expiração de gás de alvéolo, com sucessivas respirações. Fonte: HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 25FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO A concentração de oxigênio alveolar é controlada pela taxa de absorção de oxigênio no sangue e a taxa de en- trada de oxigênio novo nos pulmões. Quanto mais rápido o oxigênio for ab- sorvido pelos capilares pulmonares, menor a sua concentração nos alvéo- los. Quando grandes quantidades de oxigênio são respiradas nos alvéolos provenientes da atmosfera, a con- centração de oxigênio nos alvéolos aumenta. O ar expirado é uma combinação de ar do espaço morto e ar alveolar. Quando o ar é expirado dos pulmões, a primeira parte desse ar (ar do espa- ço morto) é constituída por ar umidi- ficado típico. Então, mais e mais ar al- veolar se mistura com o ar do espaço morto até que todo o ar do espaço morto tenha sido eliminado e apenas o ar alveolar seja expirado no final da expiração. O ar normal expirado tem concentrações de gases aproximadas e pressões parciais conforme descri- tas na Tabela 1. Difusão de gases através da membrana respiratória A unidade respiratória (“lóbulo res- piratório”) é formada pelo bronquíolo respiratório, ductos alveolares, átrios e alvéolos. Cerca de 300 milhões de unidades respiratórias estão presen- tes nos dois pulmões. As paredes al- veolares são extremamente finas, e entre os alvéolos há uma malha de Figura 12. Intensidade de remoção do excesso de gás dos alvéolos. Fonte: HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 26FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO capilares interconectados. Devido à extensão do plexo capilar, o fluxo de sangue na parede alveolar é descri- to como “lâmina” de fluxo sanguíneo. Assim, os gases alveolares estão bas- tantes próximos do sangue dos capi- lares pulmonares. Além disso, a troca gasosa entre o ar alveolar e o sangue pulmonar ocorre através das mem- branas de todas as porções terminais dos pulmões, que são denominadas coletivamente como membrana res- piratória ou membrana pulmonar. Figura 13. Unidade respiratória. Fonte: HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. A membrana respiratória é compos- ta por diversas camadas. A troca de oxigênio e dióxido de carbono entre o sangue e o ar alveolar exige difusão através das seguintes camadas da membrana respiratória: 27FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO • Uma camada de líquido reves- tindo os alvéolos que contém surfactante. • O epitélio alveolar, o qual é com- posto por células epiteliais finas. • Uma membrana basal epitelial. • Um espaço intersticial fino entre o epitélio alveolar e a membrana ca- pilar endotelial. • Uma membrana basal capilar que se funde em alguns locais com a membrana basal epitelial. • A membrana endotelial capilar. A despeito do grande número de ca- madas, a espessura total da mem- brana respiratória em algumas áreas é tão pequena quanto 0,2 micrômetro e, em média, tem 0,6 micrômetro,ex- ceto onde ocorrem núcleos celulares. SE LIGA! A partir de estudos histo- lógicos, estima-se que a área super- ficial total da membrana respiratória seja aproxima damente de 70 metros quadrados no adulto saudável do sexo masculino, o que equivale à área de um cômodo de 7,6 por 9 metros. A quanti- dade total de sangue nos capilares dos pulmões a qualquer momento é de 60 a 140 milímetros. Agora imagine essa pe- quena quantidade de sangue espalhada sobre toda a superfície de um cômodo de 7,6 por 9 metros, e fica fácil entender a rapidez da troca respiratória do O2 e do CO2. Vários fatores determinam a rapi- dez com que um gás passa através da membrana respiratória, entre eles: • Espessura da membrana respira- tória. A taxa de difusão através da membrana é inversamente propor- cional à espessura da membrana. Ex: edema no espaço intersticial e nos alvéolos diminui a difusão por- que os gases respiratórios devem mover-se não apenas através da membrana, mas também através dessas camadas extras de líquido. A fibrose pulmonar também pode aumentar a espessura de algumas partes da membrana respiratória. • Área da superfície da membra- na respiratória. Na presença de enfisema, muitos alvéolos coales- cem, com dissolução das paredes alveolares; essa ação faz com que muitas vezes a área de superfície total diminua até cinco vezes. • Coeficiente de difusão. O coe- ficiente de difusão para a trans- ferência de cada um dos gases através da membrana respiratória depende da sua solubilidade na membrana e, inversamente, da raiz quadrada do seu peso molecular. • Diferença de pressão através da membrana respiratória. A dife- rença entre a pressão parcial do gás nos alvéolos e a do gás no sangue é diretamente proporcional à taxa 28FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO de transferência do gás através da membrana em qualquer direção. A capacidade da membrana respira- tória de trocar um gás entre os alvé- olos e o sangue pulmonar pode ser expressa em termos quantitativos pela sua capacidade de difusão, que é definida como o volume de um gás que se difunde através da membrana por minuto para uma diferença de 1 mmHg na pressão parcial. Todos os fatores discutidos que afetam a di- fusão através da membrana respira- tória podem afetar a capacidade de difusão. Durante o exercício, a oxigenação do sangue aumenta não só em função do aumento da ventilação alveolar, mas também por causa do aumento da capacidade de a membrana res- piratória transmitir oxigênio para o sangue. Durante o exercício intenso, a capacidade de difusão de oxigênio pode aumentar para cerca de 65 mL/ min/mmHg, que é três vezes a capaci- dade de difusão durante as condições de repouso (21 mL/min/mmHg). Esse aumento é causado pelo seguinte: • Aumento da área de superfície. A abertura dos capilares pulmonares fechados e a dilatação dos capila- res abertos aumenta a área de su- perfície para a difusão de oxigênio. • Melhoria da relação ventilação- -perfusão (VA/Q). SE LIGA! O exercício melhora a rela- ção entre a ventilação dos alvéolos e a perfusão dos capilares alveolares pelo sangue. Efeito da proporção ventilação- perfusão na concentração de gás alveolar Normalmente e especialmente em muitas doenças pulmonares, algumas áreas dos pulmões são bem ventila- das, mas quase não apresentam flu- xo sanguíneo, enquanto outras áreas mostram fluxo sanguíneo suficiente, mas pouca ou nenhuma ventilação. Em qualquer uma dessas condições, as trocas gasosas através da mem- brana respiratória ficam comprome- tidas. Um conceito altamente quanti- tativo foi desenvolvido para ajudar a entender a troca de gás respiratório quando existe um desequilíbrio entre a ventilação alveolar e o fluxo sanguí- neo alveolar. Esse conceito é deno- minado razão ventilação-perfusão VA/Q. VA/Q é a razão entre a ven- tilação alveolar e o fluxo sanguíneo pulmonar. Quando VA (ventilação alveolar) é normal para determinado alvéolo e Q (fluxo sanguíneo) é normal para o mesmo alvéolo, a razão VA/Q tam- bém é considerada normal. Quando a VA/Q é igual a zero, não há ventilação alveolar, de modo que o ar no alvéolo entra em equilíbrio com o 29FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO oxigênio e o dióxido de carbono no sangue. Como o sangue que perfun- de os capilares é venoso, os gases nesse sangue entram em equilíbrio com os gases alveolares. Assim, a PO2, alveolar é 40 mmHg e a PCO2 é 45 mmHg quando VA/Q é igual a zero. Quando VA/Q é igual ao infinito, não há fluxo de sangue capilar para trans- portar o oxigênio para longe ou para trazer o dióxido de carbono para os alvéolos. O ar alveolar agora se torna igual ao ar inspirado umidificado, que tem a PO2 de 149 mmHg e a PCO2 de 0 mmHg. Quando VA/Q está normal, tanto a ventilação alveolar como o fluxo san- guíneo capilar alveolar estão normais; assim, a troca de oxigênio e dióxido de carbono é quase ideal. Normalmente, a PO2 alveolar é de aproximadamen- te 104 mmHg e a PCO2 alveolar nor- malmente atinge cerca de 40 mmHg. MAPA MENTAL – PRINCÍPIOS FÍSICOS DAS TROCAS GASOSAS O2 ALVÉOLO CO2PO2 ↑ PCO2 ↓ SANGUE PO2 ↓ PCO2 ↑ 5. TRANSPORTE DE OXIGÊNIO E DIÓXIDO DE CARBONO NO SANGUE E NOS LÍQUIDOS TECIDUAIS Quando o oxigênio (O2) se difunde dos alvéolos para o sangue pulmo- nar, ele é transportado para os capi- lares dos tecidos, quase totalmente em combinação com a hemoglobina. Nos capilares, ele é liberado para ser utilizados pelas células. Nas células teciduais, o oxigênio reage com diver- sos nutrientes para formar grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2). Este entra então nos capilares teciduais e é transportado de volta para os pulmões. Difusão do oxigênio dos alvéolos para o sangue capilar pulmonar A parte superior da Figura 14 mostra alvéolo pulmonar adjacente a capilar pulmonar, demonstrando a difusão de O2 entre o ar alveolar e o sangue pulmonar. A PO2 do O2 gasoso no 30FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO alvéolo é em média, de 104 mmHg, enquanto a PO2 do sangue venoso que entra nos capilares pulmonares, em sua porção arterial, está em torno de apenas 40 mmHg porque grande quantidade de O2 foi removida desse sangue enquanto ele passava atra- vés dos tecidos periféricos. Portan- to, a diferença de pressão inicial que faz com que o O2 se difunda para os capilares pulmonares é 104 − 40, ou 64 mmHg. No gráfico, na parte infe- rior da figura, a curva mostra o rápido aumento da Po2 sanguínea, enquan- to o sangue passa pelos capilares; a Po2 do sangue aumenta até o nível da Po2 do ar alveolar, quando o san- gue já percorreu um terço de seu per- curso pelos capilares, passando a ser quase 104 mmHg. Figura 14. Captação de oxigênio pelo sangue capilar pulmonar. Fonte: HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisio- logia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. Cerca de 2% do sangue, que entra no átrio esquerdo, passam direta- mente da aorta através da circula- ção brônquica. Esse fluxo de sangue representa um fluxo shunt (desvio) porque é desviado após as áreas de troca gasosa do pulmão; sua PO2 é típica de sangue venoso, isto é, cerca 31FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO de 40 mmHg. Esse sangue então se mistura com o sangue oxigenado dos pulmões; essa mistura é denominada mistura venosa de sangue. SE LIGA! O fluxo do shunt (desvio) ve- noso brônquico diminui a PO2 arterial de um valor capilar pulmonar de 104 mmhg para um valor arterial em torno de 95 mmhg. Difusão de oxigênio dos capilares periféricos para o líquido tecidual Quando o sangue arterial chega aos tecidos periféricos, sua PO2 nos capilares ainda é 95 mmHg. Contudo, a PO2 no líquido intersticial, que ba- nha as células teciduais, é, em média, de apenas 40 mmHg. Assim, existe enorme diferença da pressão inicial que faz com que o O2 se difunda, com rapidez, do sangue capilar para os te- cidos — tão rapidamente que a PO2 capilar diminui, quase se igualando à pressão de 40 mmHg, no interstício. Portanto, a PO2 do sangue que deixa os capilares dos tecidose entra nas veias sistêmicas é também de aproxi- madamente, 40 mmHg. Figura 15. Difusão do oxigênio do capilar tecidual para as células. (Po2 no líquido intersticial = 40 mmHg e nas células dos tecidos = 23 mmHg.) Fonte: HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. Dois fatores principais podem afetar a PO2 tecidual: • Taxa de fluxo sanguíneo. Se o fluxo sanguíneo atravessando um tecido em particular aumentar, quantidades maiores de oxigênio serão transportadas para esse te- cido durante determinado período, o que causa o aumento da PO2 tecidual. • Taxa do metabolismo tecidual. Se as células usam mais oxigênio para o metabolismo do que o nor- mal, a PO2 do líquido intersticial tende a diminuir. Difusão de dióxido de carbono das células teciduais periféricas para os capilares e dos capilares pulmonares para os alvéolos Quando o O2 é usado pelas células, praticamente, todo ele se torna CO2, 32FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO o que aumenta a PCO2 intracelular. Devido a essa PCO2 elevada das cé- lulas teciduais, o CO2 se difunde das células para os capilares e é, então, transportado pelo sangue para os pulmões. Nos pulmões, ele se difun- de dos capilares pulmonares para os alvéolos, onde é expirado. Assim, em cada ponto da cadeia de transporte gasoso o CO2 se difunde em direção exatamente oposta à difusão do O2. Contudo, existe gran- de diferença entre a difusão de CO2 e a do O2: o CO2 consegue se difundir cerca de 20 vezes mais rápido que o O2. Portanto, as diferenças de pres- são necessárias para causar a difu- são do CO2 são, em cada instância, bem menores que as diferenças de pressão necessárias para causar a di- fusão de O2. Figura 16. Captação de dióxido de carbono pelo sangue nos capilares teciduais. (Pco2 nas células teciduais = 46 mmHg e no líquido intersticial = 45 mmHg.) Fonte: HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. Figura 17. Difusão do dióxido de carbono do sangue pulmonar para o alvéolo. Fonte: HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 33FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO Transporte de oxigênio no sangue arterial Cerca de 97% do oxigênio são transportados para os tecidos em combinação química com a hemo- globina. Os 3% restantes de oxigê- nio são transportados para os tecidos dissolvidos na água do plasma e das células. A hemoglobina se combina com grandes quantidades de oxi- gênio quando a PO2 está alta e, em seguida, libera o oxigênio quando a PO2 está baixa. A hemoglobina cap- ta grandes quantidades de oxigênio quando o sangue passa através dos pulmões. Conforme o sangue passa pelos capilares teciduais, onde a PO2 cai para cerca de 40 mmHg, grandes quantidades de oxigênio são libera- das da hemoglobina. O oxigênio livre então se difunde para as células dos tecidos. A hemoglobina é uma molécu- la presente nas hemácias, formada por quatro subunidades, sendo cada subunidade formada por um grupa- mento heme, composto por uma mo- lécula de ferro associada à uma porfi- rina; mais uma cadeia alfa ou beta. Os adultos possuem a HbA (hemoglobi- na A), formada por duas cadeias al- fas e duas betas; já no feto, a principal hemoglobina é a fetal (HbF), formada por duas cadeias alfa e duas gamas. Figura 18. Estrutura da hemoglobina. Fonte: https://www.nanocell.org.br/wp-content/uploads/2019/01/word-image-6.png A ligação do oxigênio à hemoglobina (Hb) é reversível, visto que esta mo- lécula deve levar o O2 aos tecidos, onde a ligação com a Hb é desfeita. De forma reversa, nos capilares pul- monares, o O2 se liga às moléculas de Hb. A hemoglobina ligada ao O2 é chamada de oxihemoglobina. Para 34FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO que o O2 se ligue à Hb, o ferro do gru- pamento heme precisa estar na sua forma ferrosa, ou seja, Fe2+. Quando a Hb se desliga do O2, ou seja, quan- do este é transferido para o tecido, chama-se desoxihemoglobina. SAIBA MAIS! O Ferro, na sua forma férrica (Fe3+) é incapaz de se ligar ao oxigênio, devido à sua confor- mação geométrica na qual a 6ª posição de ligação é ocupada por H2O. Assim, hemoglobinas com Fe3+ não carreiam o O2, e são chamadas de metahemoglobinas. Esta condição con- figura a metaglobinemia (metHb), quando há um aumento da concentração de metHb nas hemácias, e os indivíduos com essa condição são geralmente cianóticos, devido à falta de oxigenação do sangue arterial. A curva de dissociação oxigênio- -hemoglobina, mostrada na Figura 19, demonstra um aumento progres- sivo da porcentagem de hemoglobina que está ligada ao oxigênio, à medida que a PO2 do sangue aumenta, o que é denominado saturação percentual de hemoglobina. Observe os seguin- tes aspectos da curva. Figura 19. Curva de dissociação oxigênio-hemoglobina. Fonte: HALL, John E. Guyton, Arthur C. Guyton & Hall: Fun- damentos da Fisiologia. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 35FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO Cada molécula de hemoglobina pode se ligar a quatro moléculas de oxi- gênio. Depois que uma molécula de oxigênio realizar essa ligação, a afini- dade da hemoglobina com a segunda molécula aumenta e assim por diante. Observe que a afinidade pelo oxigê- nio é alta nos pulmões, onde o valor de PO2 é de aproximadamente 95 mmHg (porção plana da curva), e bai- xa nos tecidos periféricos, onde o va- lor de PO2 é de aproximadamente 40 mmHg (na parte íngreme da curva). Portanto, o formato sigmoide da cur- va de dissociação oxigênio-hemoglo- bina resulta da ligação mais forte do oxigênio com a hemoglobina à me- dida que mais moléculas de oxigênio tornam-se ligadas. A curva de dissociação oxigênio-he- moglobina mostrada na Figura 19 refere-se ao sangue em condições normais (médio). Um desvio na cur- va para a direita ocorre quando a afinidade com o oxigênio está baixa, o que facilita a descarga de oxigênio da hemoglobina. Observe que, para qualquer valor dado de PO2, a satu- ração percentual com oxigênio é bai- xa quando a curva está desviada para a direita. A curva de dissociação oxi- gênio-hemoglobina também se des- via para a direita como adaptação à hipoxemia crônica relacionada à vida em altitudes elevadas. A hipoxemia crônica aumenta a síntese de 2,3-di- fosfoglicerato, um fator que se liga à hemoglobina reduzindo a sua afini- dade pelo oxigênio. O monóxido de carbono combina-se com a hemoglobina no mesmo ponto na molécula de hemoglobina que o oxigênio e consegue, assim, deslocar o oxigênio da hemoglobina. Como o monóxido de carbono se liga com cerca de 250 vezes mais tenacidade do que o oxigênio, quantidades rela- tivamente pequenas de monóxido de carbono podem ocupar uma grande parte dos locais de ligação da hemo- globina, tornando-as indisponíveis para o transporte de oxigênio. Um paciente com intoxicação grave por monóxido de carbono pode benefi- ciar-se da administração de oxigênio puro porque o oxigênio em pressões alveolares elevadas desloca o monó- xido de carbono da sua combinação com a hemoglobina de maneira mais eficiente do que o oxigênio em pres- sões alveolares baixas. SE LIGA! A hemoglobina opera para manter uma PO2 constante nos tecidos. A curva de dissociação oxigênio-hemo- globina é desviada para a direita em te- cidos metabolicamente ativos, nos quais a temperatura, a PCO2 e a concentração do íon hidrogênio estejam elevadas. O monóxido de carbono interfere no transporte de oxigênio porque tem cer- ca de 250 vezes mais afinidade com a hemoglobina. 36FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO Transporte de dióxido de carbono no sangue O transporte de CO2 pelo sangue não é tão problemático quanto o transpor- te de O2, pois mesmo nas condições mais anormais o CO2 usualmente pode ser transportado em quan- tidades bem maiores do que o O2. Entretanto, a quantidade de CO2 no sangue tem muito a ver com o balan- ço ácido-base dos líquidos corporais. Aproximadamente 70% do dióxido de carbono é transportado naforma de íons bicarbonato, 23% em combi- nação com as proteínas do plasma e da hemoglobina e 7% no estado dis- solvido no líquido do sangue. • Transporte na forma de íons bi- carbonato (70%). O dióxido de carbono dissolvido reage com a água no interior das hemácias do sangue para formar ácido carbô- nico. Essa reação é catalisada nas hemácias do sangue pela enzima anidrase carbônica. A maior par- te do ácido carbônico se dissocia imediatamente em íons bicarbo- nato e íons de hidrogênio; os íons hidrogênio, por sua vez, se combi- nam com a hemoglobina. Muitos íons bicarbonato se difundem das hemácias do sangue para o plasma e os íons cloreto se difundem nas hemácias do sangue para manter a neutralidade eléctrica. Esse fe- nômeno é chamado de desvio do cloreto. • Transporte em combinação com a hemoglobina e proteínas plas- máticas (23%). O dióxido de car- bono reage diretamente com os radicais amina das moléculas de hemoglobina e proteínas plasmá- ticas para formar o composto car- boxi-hemoglobina (HbCO2). Essa combinação de dióxido de carbo- no com hemoglobina é facilmente reversível, de modo que o dióxido de carbono é facilmente libera- do para os alvéolos, onde a pres- são parcial de dióxido de carbono (PCO2) é menor do que nos teci- dos capilares. • Transporte no estado dissolvido (7%). Apenas cerca de 0,3 mililitro de dióxido de carbono é transpor- tado na sua forma dissolvida para cada 100 mililitros de sangue, o que representa aproximadamente 7% de todo o dióxido de carbono transportado no sangue. 37FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO Figura 20. Transporte de dióxido de carbono no sangue. Fonte: HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. MAPA MENTAL - TRANSPORTE DE GASES NO SANGUE E NOS LÍQUIDOS TECIDUAIS OXIGÊNIO TRANSPORTE DE GASES NO SANGUE E NOS LÍQUIDOS TECIDUAIS DIÓXIDO DE CARBONO DIFUNDE DO ALVÉOLO PARA O SANGUE É PRODUZIDO PELAS CÉLULAS E ENTRA NOS CAPILARES TECIDUAIS PRESENTE NO SANGUE QUASE TOTALMENTE LIGADO À HB (97%) 70% É TRANSPORTADO NO SANGUE NA FORMA DE HCO3-, 23% LIGADO À PROTEÍNAS E 7% DISSOLVIDO É LIBERADO NOS CAPILARES TECIDUAIS PARA SER UTILIZADOS PELAS CÉLULAS DIFUNDE DO SANGUE PARA O ALVÉOLO 38FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO 6. REGULAÇÃO DA RESPIRAÇÃO Apesar de existir um controle volun- tário da respiração, a partir do córtex cerebral, a respiração é um proces- so involuntário, controlada principal- mente por um centro nervoso locali- zado no bulbo, de onde saem nervos responsáveis pela contração dos músculos respiratórios, sendo o mais importante deles o nervo frênico, que controla o diafragma. A regulação da respiração tem por objetivo manter a oxigenação e a perfusão adequa- das de acordo com a demanda re- querida pelo organismo, garantindo uma faixa normal de PO2 e PCO2 durante o exercício, em regiões de altitude elevada ou em qualquer cir- cunstância de estresse respiratório. O centro respiratório se divide em três agrupamentos de neurônios localizados bilateralmente no bulbo e na ponte do tronco cerebral: gru- po respiratório dorsal, responsável principalmente pela inspiração, gru- po respiratório ventral, responsável basicamente pela expiração, e cen- tro pneumotáxico, que fica na pon- te e está envolvido com o controle da frequência e amplitude respirató- ria. Além disso, o centro respiratório conta com mecanorreceptores, qui- miorreceptores e barorreceptores do sistema aferente. Figura 21. Organização do centro respiratório. Fonte: HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 39FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO • O grupo respiratório dorsal gera potenciais de ação inspiratórios em um estado constantemente cres- cente e é responsável pelo ritmo básico da respiração. Esse grupo está localizado na parte distal da medula e recebe a entrada de qui- miorreceptores periféricos e outros tipos de receptores pelas vias dos nervos vago e glossofaríngeo. • O centro pneumotáxico, localiza- do dorsalmente na parte superior da ponte, ajuda a controlar a taxa e o padrão respiratório, transmitindo sinais inibidores para o grupo res- piratório dorsal e, assim, controla a fase de expansão do ciclo respira- tório. Como ele limita a inspiração, tem um efeito secundário no au- mento da frequência respiratória. • O grupo respiratório ventral, lo- calizado na parte ventrolateral da medula, pode causar expiração ou inspiração, dependendo de quais neurônios do grupo sejam estimu- lados. O grupo respiratório ven- tral fica inativo durante respiração tranquila normal, mas estimula os músculos expiratórios abdominais quando são necessários níveis mais elevados de respiração. O reflexo de Hering-Breuer impede a hiperinsuflação dos pulmões. Este reflexo é iniciado pelos receptores nervosos localizados nas paredes dos brônquios e dos bronquíolos. Quando os pulmões tornam-se excessiva- mente insuflados, os receptores en- viam sinais através dos nervos vagos para o grupo respiratório dorsal que “desliga” a rampa respiratória e, as- sim, impede que haja mais inspiração. O objetivo fundamental da respiração é manter concentrações apropriadas de O2, de CO2 e de íons hidrogênio nos tecidos. Dessa forma, é extre- mamente adequado que a ativida- de respiratória seja muito responsi- va às alterações de cada um desses elementos. O excesso de CO2 ou de íons hidro- gênio no sangue atua basicamente de forma direta sobre o centro res- piratório, gerando grande aumento da intensidade dos sinais motores inspiratórios e expiratórios para os músculos respiratórios. O O2, por sua vez, não apresenta efeito direto significativo sobre o centro respiratório no controle da respiração. Ao contrário, esse ele- mento atua quase exclusivamente sobre os quimiorreceptores perifé- ricos situados nos corpos carotídeos e aórticos, e esses quimiorreceptores, por sua vez, transmitem sinais neu- rais adequados ao centro respiratório, para o controle da respiração. Discutimos principalmente três áreas do centro respiratório: o grupo respi- ratório dorsal de neurônios, o grupo respiratório ventral e o centro pneu- motáxico. Acredita-se que nenhuma 40FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO dessas áreas seja diretamente in- fluenciada pelas variações da con- centração sanguínea de CO2 ou de íons hidrogênio. Em vez disso, existe outra área neural, a área quimiossen- sível, situada bilateralmente, que se encontra a apenas 0,2 milímetro da superfície ventral do bulbo. Essa área é muito sensível às alterações san- guíneas da PCO2 ou da concentra- ção dos íons hidrogênio. Tal área, por sua vez, estimula outras porções do centro respiratório. Figura 22. Estimulação da área inspiratória do tronco cerebral por sinais provenientes da área quimiossensível loca- lizada bilateralmente no bulbo, que se encontra a, apenas, fração de milímetro da superfície bulbar ventral. Observe também que os íons hidrogênio estimulam a área quimiossensível, mas o dióxido de carbono, no líquido, dá origem à grande parte dos íons hidrogênio. Fonte: HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. SE LIGA! Os neurônios sensoriais na área quimiossensível são especialmente excitados por íons hidrogênio; entretanto, os íons hidrogênio não atravessam facilmente a barreira hema- toencefálica. Por essa razão, mudanças na concentração sanguínea de íons hidrogênio têm pouco efeito agudo na estimulação dos neurônios quimiossensíveis em comparação com o dióxido de carbono. Entretanto, acredita-se que o dióxido de carbono estimule esses neurô- nios secundariamente através do aumento da concentração de íons hidrogênio. O dióxido de carbono se difunde para o cérebro e reage com a água para formar ácido carbônico, que, por sua vez, dissocia-se em íons de hidrogênio e íons bicarbonato. Os íons hidrogênio tem, então, um efeito estimulante direto e potente. 41FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃOA excitação do centro respiratório pelo dióxido de carbono é maior durante as primeiras horas de aumento da ten- são de dióxido de carbono no sangue, com o grau de excitação diminuindo gradualmente durante os próximos 1 a 2 dias. Esse declínio é causado pe- los seguintes mecanismos: • Os rins facilitam o retorno da con- centração dos íons hidrogênio para um nível normal após o dióxi- do de carbono aumentar primeiro a concentração do íon hidrogênio. Os rins aumentam o bicarbonato sanguíneo, o qual se liga aos íons hidrogênio no sangue e no líquido cefalorraquidiano, reduzindo a sua concentração. • Mais importante: os íons bicar- bonato se difundem através da barreira hematoencefálica e do lí- quido cefalorraquidiano e se com- binam diretamente com os íons hidrogênio perto dos neurônios respiratórios. Além do controle da atividade respi- ratória pelo centro respiratório, ainda existe outro mecanismo disponível para o controle da respiração. Esse mecanismo é o sistema quimiorre- ceptor periférico. Em diversas áreas externas do cérebro, existem recep- tores químicos neurais específicos que recebem o nome de quimiorre- ceptores. Tais receptores são espe- cialmente relevantes para a detecção de variações sanguíneas do O2, embora também respondam em me- nor grau às alterações das concentra- ções do CO2 e dos íons hidrogênio. Os quimiorreceptores transmitem si- nais neurais para o centro respiratório encefálico, para ajudar a regular a ati- vidade respiratória. Grande parte dos quimiorreceptores está situada nos corpos carotíde- os. Entretanto, alguns deles também se encontram nos corpos aórticos e pouquíssimos deles estão presentes em qualquer outro local, associados a outras artérias das regiões torácica e abdominal. Os corpos carotídeos estão localizados nas bifurcações das artérias carótidas comuns e as suas fibras nervosas aferentes inervam a área respiratória dorsal da medula. Os corpos aórticos estão localizados ao longo do arco da aorta e as suas fibras nervosas aferentes também inervam a área respiratória dorsal. 42FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO Quando a concentração de O2 no sangue arterial baixa até menos que a normal, os quimiorreceptores são intensamente estimulados. A frequ- ência dos impulsos é particularmen- te sensível às alterações da Po2 ar- terial situa das entre 60 e 30 mmHg, faixa de variação onde a saturação de hemoglobina com o O2 diminui rapidamente. O aumento da concentração de CO2 ou de íons hidrogênio também esti- mula os quimiorreceptores e, dessa forma, intensifica indiretamente a ati- vidade respiratória. Contudo, os efei- tos diretos de ambos os fatores sobre o centro respiratório são mais poten- tes que seus efeitos mediados pelos quimiorreceptores (cerca de sete ve- zes mais intensos). Todavia, existe Figura 23. Controle respiratório promovido pelos quimiorreceptores periféricos nos corpos carotídeo e aórtico. Fonte: HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 43FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO diferença entre os efeitos periféricos e centrais do CO2: a estimulação, por meio dos quimiorreceptores periféri- cos ocorre com rapidez cinco vezes maior que a estimulação central, as- sim esses quimiorreceptores podem ser particularmente importantes no aumento da velocidade da resposta ao CO2, no início da atividade física. SE LIGA! Hipóxia se refere à diminuição na oferta ou menor utilização de O2 nos tecidos, enquanto o termo hipoxemia consiste em uma das causas da hipóxia, definida como diminuição da PO2 arte- rial. A hipóxia também pode ser gerada por diminuição do débito cardíaco, ane- mia e envenenamento por monóxido de carbono. MAPA MENTAL – REGULAÇÃO DE RESPIRAÇÃO CENTRO INSPIRATÓRIOCENTRO APNÊUSTICO MECANORRECEPTORES DOS PULMÕES (ESTIRAMENTO) QUIMIORRECEPTORES PERIFÉRICOS QUIMIORRECEPTORES CENTRAIS MECANORRECEPTORES DOS MÚSCULOS E ARTICULAÇÕES CENTRO PNEUMOTÁXICO DIAFRAGMA O2 H+ 44FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO MAPA MENTAL - RESUMO FISIOLOGIA RESPIRATÓRIATRANSPORTE DE GASES VENTILAÇÃO PULMONAR TROCAS GASOSAS REGULAÇÃO DA RESPIRAÇÃO VOLUMES PULMONARES INSPIRAÇÃO EXPIRAÇÃO CAPACIDADES PULMONARES CENTRO RESPIRATÓRIO VENTRAL CENTRO PNEUMOTÁXICO QUIMIRRECEPTORES BARORRECEPTORES CENTRO RESPIRATÓRIO DORSAL O2 CO2 • DIFUNDE DO ALVÉOLO PARA O SANGUE • 97% É LIGADO HB NO SANGUE • LIBERADO NOS CAPILARES PARAS CÉLULAS • PRODUZIDO NAS CÉLULAS E LIBERADO PARA OS CAPILARES • MAIORIA É TRANSPORTADO NO SANGUE NA FORMA HCO3- • DIFUNDE DO SANGUE PARA O ALVÉOLO ALTA PRESSÃO BAIXA PRESSÃO 45FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS HALL, Jhon E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 12ª ed. Rio de Janeiro. Elsevier. 2011. HALL, John E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. HALL, John E. Guyton, Arthur C. Guyton & Hall: Fundamentos da Fisiologia. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. COSTANZO, Linda S. Fisiologia. 6ª ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2015. MOORE, L. Keith, et al. Anatomia orientada para Clínica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. MOORE, Keith L. Dalley, Arthur F. Agur, Anne M R. Anatomia orientada para a clínica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. SILVERTHORN, D.U. Fisiologia Humana. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. TORTORA, Gerard J. Corpo Humano. Fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 6.ed. 46FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO https://www.instagram.com/sanarflix/ https://www.youtube.com/sanarflix https://twitter.com/sanarflix
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