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O ESTRESSE OCUPACIONAL VIVENCIADO PELO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM QUE ATUA EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Elenice da Gama1 Edna Slob 2 RESUMO Os profissionais de enfermagem enfrentam diariamente situações de estresse, sobretudo os que trabalham em Unidades de Terapia Intensiva – UTI’s, pois, além de conhecimentos técnico-científicos de vanguarda, lhes é exigido como parâmetro mínimo para o exercício profissional o equilíbrio emocional e psicológico para trabalhar com pacientes que requerem uma grande demanda de atenção. Este estudo pretende aprofundar a discussão sobre a ocorrência do estresse ocupacional por profissionais de enfermagem que atuam em UTI’s, fatores geradores, efeitos e sintomas característicos, através de uma revisão bibliográfica de caráter descritivo, selecionando, analisando, interpretando e discorrendo a respeito das implicações cotidianas enfrentadas por estes profissionais, em diferentes âmbitos. Este artigo está subdividido em três tópicos oferecendo considerações, em um primeiro momento, a respeito da terminologia da palavra estresse, caracterizando igualmente a Síndrome de Burnout e suas implicações; em seguida abordando o estresse no trabalho de enfermagem hospitalar e, finalmente, discorrendo sobre o estresse no trabalho de enfermagem em Unidades de Terapia Intensiva. O presente artigo é de fundamental relevância acadêmica, por oferecer material para pesquisa em uma área específica e pouco explorada do profissionalismo na saúde e, igualmente, para a área específica da enfermagem, tendo em vista a necessidade dos profissionais deste ramo de buscarem melhores condições de trabalho, bem como a promoção da saúde de forma integral para estes trabalhadores e, consequentemente, uma melhora considerável em sua qualidade de vida. Palavras-chave: Enfermagem. Estresse. Estresse na Enfermagem. Enfermagem na UTI. Unidade de Tratamento Intensivo. 1 Licenciada em Enfermagem pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões Campus de Erechim, Especialista em Enfermagem em Unidade de Terapia intensiva pela Universidade Superior Ingá Campus Chapecó, apresentando artigo ao Curso de Pós Graduação (lato sensu) em Enfermagem do Trabalho pela Faculdade Internacional de Curitiba FATEC/FACINTER. 2 Licenciada em Enfermagem e Enfermagem Obstétrica pela Universidade Federal do Paraná – UFPR, Especialista em Metodologia da Ciência e Magistério Superior. Auditora de Qualidade e Orientadora de TCC da Faculdade Internacional de Curitiba – FATEC/FACINTER. INTRODUÇÃO Os profissionais de enfermagem enfrentam diariamente situações de estresse, sobretudo os que trabalham em Unidades de Terapia Intensivo – UTI’s, pois, além de conhecimentos técnico-científicos de vanguarda, lhes é exigido como parâmetro mínimo para o exercício profissional o equilíbrio emocional e psicológico para trabalhar com pacientes que requerem uma grande demanda de atenção. Este estudo pretende, através de uma revisão bibliográfica de caráter descritivo, aprofundar a discussão sobre a ocorrência do estresse ocupacional por profissionais de enfermagem que atuam em UTI’s, fatores geradores, efeitos e sintomas característicos, selecionando, analisando, interpretando e discorrendo a respeito das implicações cotidianas enfrentadas por estes profissionais, em diferentes âmbitos. Somente pode se alcançar tais finalidades conhecendo-se a fundo os fatores envolvidos no processo de estresse. Cervo, Bervian e Silva (2006) indicam que a pesquisa bibliográfica descritiva consiste em uma análise de materiais já publicados, em consonância com o tema do estudo proposto, através de livros, revistas e demais periódicos, sites especializados, artigos científicos, monografias, dissertações e teses, baseando-se nas contribuições de diversos autores ou, ainda, podem ser elaborados novamente, de acordo com os objetos da pesquisa. Este artigo está subdividido em três tópicos oferecendo considerações, em um primeiro momento, a respeito da terminologia da palavra estresse, caracterizando igualmente a Síndrome de Burnout e suas implicações; em seguida abordando o estresse no trabalho de enfermagem hospitalar e, finalmente, discorrendo sobre o estresse no trabalho de enfermagem em Unidades de Terapia Intensiva. O presente estudo é de fundamental relevância acadêmica, por oferecer material para pesquisa em uma área específica e pouco explorada do profissionalismo na saúde e, igualmente, para a área de enfermagem, tendo em vista a necessidade dos profissionais deste ramo de buscarem melhores condições de trabalho, bem como a promoção da saúde de forma integral destes trabalhadores e, consequentemente, uma melhora considerável em sua qualidade de vida. 1 O ESTRESSE NO TRABALHO DE ENFERMAGEM 1.1 Terminologia da Palavra Estresse O termo estresse foi inicialmente utilizado em estudos da física e engenharia, quando se observava a força ou tensão aplicada sobre uma barra de ferro ou aço, antes que ela se deformasse (FERREIRA, 2006). Na área das ciências biológicas, o estresse iniciou a ser estudado a partir dos questionamentos surgidos pelo médico endocrinologista Hans Selye. Selye (1956, apud Preto, 2008) define o chamado estresse biológico, com a descrição da Síndrome de Adaptação Geral (SAG). É tratado como o “pai” da teoria do estresse, devido à delimitação que colocou no uso deste termo, ou seja, pode-se citar estresse desde que haja a liberação de catecolaminas, glicocorticoides e mineralocorticoides. Mesmo com este grande avanço, criou-se a necessidade de associar, além disso, o papel determinante do sujeito em relação ao estressor como peça fundamental para o desencadeamento do processo de estresse. “Amplamente divulgado, o termo estresse tem ocupado lugar de destaque quando a saúde do trabalhador é abordada. Nesse sentido, evidencia-se a importância de apresentar o referencial que fundamenta este estudo. Assim, será apresentada a evolução conceitual do estresse, bem como o processo de enfrentamento e as implicações desse processo no trabalho dos técnicos e auxiliares de enfermagem no âmbito hospitalar” (STEKEL, 2011, p.20). De acordo com Selye (1959, apud STEKEL, 2011), a síndrome abrange três etapas apontadas a seguir tais quais: Fase de Alarme: designa especificamente uma primeira resposta frente à determinada situação ou fator estressor por parte do organismo, modificando sensivelmente a homeostase, fato que obriga o organismo a se adaptar para reação ou retração e, desta forma, ter possibilidade de evolução através da fase de resistência, ser definitivamente suprimida ou, ainda, promover o ajustamento ao determinado estressor, não deixando sequela alguma; Fase de Resistência: é definida através da permanência do estressor, combinando tranquilamente com a assimilação por parte do organismo. As consequências mais latentes transparecem pelo sistema fisiológico, psicológico e social, motivando o indivíduo para estar continuamente em estado de alerta; Fase de Exaustão: acontece quando o estressor persiste e o organismo do indivíduo não se adapta. O organismo mostra clara degradação, fato que pode desencadear diversas doenças. Neste estágio, as características da fase de alarme podem voltar e tornarem-se mais fortes e, mesmo, sem a possibilidade de reversão, fato que desequilibra globalmente o indivíduo, deixando-o propenso a doenças. “Entretanto, toda carga estressora promove repercussão para os diversos sistemas orgânicos. Os comprometimentos cerebrais envolvidos no estresse possibilitaram a elaboração da teoria alostática que analisa o funcionamento cerebral, desde a percepção da situação estressora até a ativação do eixo hipotálamo-pituitário-adrenal e a resposta do restante do organismo aos estímulos nervosos e hormonais.Esta ativação se caracteriza pelo aumento na secreção do cortisol, o principal hormônio secretado nas situações de estresse. Níveis elevados de cortisol repercutem no sistema imunológico, diminuindo a resposta inflamatória, com a redução das células T e Natural Killer, contribuindo para a baixa imunidade nos indivíduos estressados. Ainda, o aumento dos corticóides promove alteração hemodinâmica como broncodilatação, aumento da frequência cardíaca, pressão arterial, ventilação e ansiedade” (AZEVEDO; KITAMURA, 2006, p.79). Conforme Preto (2008), na vida cotidiana moderna a grande maioria das pessoas acaba por se concentrar em preocupações e cobranças, sejam no âmbito pessoal como no profissional, na família ou no campo profissional. Poucas são as pessoas que, diante de uma rotina fatigante de trabalho conseguem tempo para atividades recreativas, que propiciem momentos de tranquilidade e relaxamento, constituindo rotinas extremamente atarefadas, repletas de momentos críticos e situações desagradáveis. Essa condição de excesso de tarefas, preocupações nos diversos setores da vida, falta de tempo de qualidade para si mesmo, acaba gerando consequências físicas, psíquicas e sociais. Uma das consequências mais ocorrentes é a evolução da combinação de todas estas condições para um quadro de estresse. Acaba sendo uma sequela inevitável frente a uma rotina previsivelmente danosa e agressiva para a saúde do indivíduo como um todo. Normalmente, a pessoa estressada nem chega a se dar conta de que se encontra em um estágio avançado da doença, até que já esteja seriamente comprometida sua saúde. Nunes, Mauro e Cupello (2000, apud Preto 2008) indicam o estresse como um processo de adaptação normal do indivíduo. Contudo, quando a resposta é patológica, registra-se uma disfunção que leva aos distúrbios transitórios ou doenças graves ou, ainda, agrava doenças pré-existentes, as quais as pessoas já estariam predispostas. “Atualmente a palavra estresse tem sido muito utilizada sendo associada e situações de desconforto, aumentando a cada dia o número de pessoas que se definem como estressados ou julgam indivíduos nas mais variadas situações como estressados. Essas variadas situações, dependem do ponto de vista de cada um e podem desencadear diversos tipos de reações emocionais. Muitas pessoas qualificam, pincipalmente, as situações desagradáveis como estressoras, assim, a compreensão e avaliação do estresse não se faz relevante à situação que o indivíduo se encontra, mas sim relacionada à percepção que ele tem sobre a situação que vive, usando seu próprio processo psicológico e sua compreensão dos fatos” (PRETO, 2008, p.08). Os autores Lazarus e Folkman (1984, apud STEKEL, 2011, p. 20) organizaram um modelo teórico tratando o estresse como interacionista, no qual a avaliação cognitiva mediante a interação do indivíduo com o meio influencia em como o indivíduo pode reagir aos agentes estressores. Os autores destacam que, nesse modelo, essa avaliação cognitiva é entendida como um processo mental de localizar cada evento ou situação, em uma série de categorias avaliativas que estão relacionadas com o significado de bem-estar da pessoa. Considerando o aspecto cognitivo, os referidos autores indicam que a avaliação torna-se um processo fundamental para que o estresse seja devidamente caracterizado, por haver a influência mútua do indivíduo com o ambiente a que pertence e, ainda, estimar as consequências desta interação, conformando danos ou ameaças aos determinados episódios e procurando subsídios a fim de tornar os fatores estressores indiferentes ao indivíduo. Conforme indica Stekel (2011) desta forma entende-se o estresse como um processo que provoca uma série de etapas avaliativas pelo indivíduo na busca do significado do estressor e de seu significado como pessoa. Neste sentido, o ambiente de trabalho pode ser um importante desencadeador de estresse. É de suma importância que se aprenda a enfrentar o ambiente de trabalho de maneira que este se torne algo positivo, trazendo benefícios para o indivíduo e para a equipe de trabalho na qual ele participa. 1.1.1 Caracterização da Síndrome de Burnout Quando o estresse ocupacional excede os níveis de adaptação do indivíduo, encontrando-se avançado no mais alto grau, conjuntos de sintomas físico- comportamentais podem surgir e interferir diretamente na capacidade de trabalho do mesmo, esta situação sendo nomeada de Síndrome de Burnout. Indicam os autores França e Rodrigues (2005) que na Síndrome de Burnout, o profissional perde o sentido de relação com seu trabalho, e o mesmo perde a importância, fazendo toda situação que se apresenta parecer esforço pareça inútil para o indivíduo. Esta síndrome é uma teoria desenvolvida pelos autores Herbert J. Freudenberger (psicanalista) e Cristina Maslach (psicóloga social), os quais foram os primeiros a identificar e classificar a Síndrome de Burnout. Essa terminologia foi adotada, em 1974, inicialmente por Freudenberger. Aquino (2005) indica que a Síndrome de Burnout é caracterizada por uma reação prolongada aos fatores de estresse, profundamente ligada à fadiga física, mental e emocional, impressões de insegurança, desinteresse pelo trabalho, sensação de falta de realização e inutilidade. Desta maneira, Burnout torna-se um estado de esgotamento físico e mental intimamente ligado às circunstâncias estressantes observadas no ambiente laboral, especialmente quando existe iteração com outras pessoas. “A Burnout é caracterizada por três tipos de aspectos: exaustão emocional presente no ambiente de trabalho caracterizado por relações de contato direto com pessoas em situações de sofrimento gerando uma enorme carga emocional com isso o profissional se sente esgotado, sem energia, irritado e nervoso; A despersonalização surge quando o profissional assume uma atitude desumana fazendo com que ocorra um distanciamento, frieza, indiferença com a necessidade dos outros; por último, a redução da reabilitação pessoal e profissional ....quando se desenvolve um sentimento de decepção e frustração na vida não conseguindo realizar o seu objetivo com isso reduzindo a sua autoestima. (FRANÇA; RODRIGUES, 2005, p. 87). Esta síndrome, conforme versa Aquino (2005), é caracterizada como uma experiência particular que motiva sentimentos e atos negativos no relacionamento da pessoa com seu trabalho, o que o leva a permanecer descontente, desgastado, com uma forte perda de motivação, assim afligindo aos poucos seu desempenho profissional e, por consequência, gerando implicações indesejáveis para o empregador, como o aumento do número de faltas ao trabalho, baixa taxa de produtividade e até o abandono de emprego. Desta maneira, deve-se salientar que diversos efeitos práticos estão correlacionados ao desencadeamento da Síndrome de Burnout, sendo o estresse ocupacional um dos mais importantes neste sentido. 1.2 Estresse no Trabalho de Enfermagem Hospitalar Aquino (2006) aponta que o estresse no ambiente de trabalho é um assunto que tem sido abertamente discutido por influir diretamente na vida de cada trabalhador individualmente, justamente, por estar diretamente ligado a satisfação, rendimento e saúde das pessoas. Desta forma, o trabalho na área de enfermagem hospitalar possui algumas características que potencialmente desencadeiam situações estressantes e de insatisfação. O autor ainda indica que fatores considerados como altamente desestabilizadores no trabalho de enfermeiros e demais profissionais da saúde podem ser o trabalho firmemente normatizado, fragmentado e repetitivo em razão de tarefas e técnicas específicas, o sistema de turnos e a extrema responsabilidade, considerando que se trata diretamente com vidas humanas e que qualquer erro pode gerar efeitos negativos aos pacientes atendidos, e em muitoscasos, consequências fatais. Para Balancieri e Bianco (2004, apud STEKEL, 2011) o trabalho na área da enfermagem, por ser fragmentado, não é realizado de maneira tranquila. As autoras indicam que na enfermagem o trabalho cooperado dificilmente existe de fato e sim uma separação do saber e do fazer, onde poucos realmente tem conhecimento do saber e a maior parte dos indivíduos executa as tarefas sem entender os procedimentos como um todo, ignorando várias vezes, as causas para a realização destes processos. Martino e Misko (2004) frisam que, normalmente a jornada de trabalho do profissional de enfermagem é fatigante, posto que, na maioria dos casos os profissionais têm dois ou mais empregos, perfazendo uma jornada regular de trabalho somada, geralmente, a plantões igualmente regulares, além dos afazeres familiares, estudo e demais exigências normais da vida moderna. Desta forma o tempo para o lazer, atividades físicas e demais atividades que proporcionem prazer e relaxamento acabam se reduzindo praticamente a zero. Os autores Martino e Misko (2004) ainda apontam que estas situações advêm de condições extrínsecas ao enfermeiro, devido à ação hospitalar com extensa carga laboral, normalmente em duplicidade de turnos (quando não ainda mais), responsabilidade por mais e um setor, proximidade a dor, contato direto com o sofrimento dos pacientes e de seus familiares, além de intrínsecas à individualidade de cada enfermeiro e sua forma de ver a morte. Os autores também expõe que as razões de desgaste devem ser verificadas e trabalhadas pela instituição onde trabalham e pelo enfermeiro, a fim de se produzirem instrumentos em melhoria a saúde do trabalhador e do paciente por ele atendido. Salomé, Martins e Esposito (2009) versam que na atualidade têm se buscado, além de atender as demandas públicas de atendimento profissional em saúde, cada vez mais aprimorar processos na enfermagem com extremo rigor técnico e prático, visando uma assistência de qualidade aos pacientes em nível de excelência, entretanto, muitas pesquisas apontam uma situação ocupacional que demonstra cansaço de corpo e mente e, com intensão de vencer esta realidade, muitos dos profissionais da área acabam buscando motivação no aumento de renda e ganho de experiência para atuarem em vários empregos, mesmo afrontando razões pessoais e ambientais enfrentadas por eles. Quando observamos a realidade de países em franco desenvolvimento, como é o caso do Brasil, é possível perceber que não há um alinhamento adequado entre o crescimento populacional e qualidade na prestação de serviços de saúde. Logo, como uma demanda sempre crescente e salários modestos, os profissionais acabam trabalhando muitas horas, em condições físicas e mentais fatigantes, predispondo o profissional de enfermagem ao estresse ocupacional. Conforme apontam os mesmos autores, somam-se a este panorama a baixa remuneração da classe e, em muitos casos, péssimas condições de trabalho, falta de reconhecimento e direitos profissionais, o que contribui para a dificuldade de interação com colegas, proporcionando insatisfação ao enfermeiro. Todo este quadro favorece o surgimento do estresse. Por este somatório de fatores a enfermagem é considerada uma profissão desgastante e estressante. Stacciarrini e Tróccoli (2001) afirmam que o estresse é uma modificação de cunho pessoal, no entanto, nota-se que alguns fatores estressores pertencem a diversas atividades típicas do enfermeiro em sua função corriqueira, com fatores diretamente ligados a cada indivíduo, ocupação específica e instituição na qual desenvolve suas atividades profissionais. Mesmo não havendo registro científico de qual seria a ocupação geradora de maior estresse, existem relatos em trabalhos aos quais, os maiores fatores de estresse têm ligação coma administração. O enfermeiro necessita ter capacidade de administração para gerir seu trabalho, planejando todas as suas atividades, sem designá-las aos técnicos, o que ocasiona a diminuição qualitativa do cuidado aos pacientes atendidos, entretanto, o domínio dessa capacidade pode conduzir ao estresse, especialmente pelas jornadas de trabalho demasiadamente longas. 2.3 Estresse na Enfermagem em UTI Cintra (2005) cita que no Brasil a implementação do sistema de Unidades de Tratamento Intensivo começou na década de 1970, representando um marco fundamental em relação aos avanços alcançados pelos hospitais no século XX, considerando que antes da UTI, os doentes em estado grave e gravíssimo tinham seu tratamento em enfermarias, não dispondo, desta forma, de recursos de pessoal e materiais, a fim de aprimorar a qualidade do trato a estes pacientes. Acompanhando uma tendência que só aumenta ao longo das últimas décadas, a busca por uma assistência à saúde cada vez mais qualificada para atender as demandas dos indivíduos doentes acaba estimulando as inovações tecnológicas e a modernização das instituições hospitalares. Preto (2008) aponta que, em um hospital, as UTI’s são ambientes de alta complexidade tecnológica e prática e os profissionais de enfermagem que lá desempenham seus serviços são exigidos ao extremo. “Estas unidades visam recuperar o paciente em tempo hábil, em um ambiente físico e psicológico adequado, onde cada profissional deve estar preparado para se utilizar das facilidades técnicas existentes e aproveitá- las, assim como estar preparados para atividades complexas que envolvem uma difícil carga de trabalho, tanto em nível teórico e prático, quanto em nível mental” (PRETO, 2008, p. 22) Alguns autores como Gentry e Parkes (1982, apud PRETO, 2008, p. 22) definem UTI como “uma unidade onde se encontram pacientes que necessitam de cuidados diretos e intensivos, pois apresentam um grave quadro de saúde, que pode evoluir para a morte.” Esse tipo de unidade deve conter planta física específica, materiais especializados, mão de obra qualificada, em formação continuada para assegurar o trato adequado aos pacientes, dentro dos mais altos níveis técnicos. As UTI’s têm como características marcantes as rotinas exigentes, aparatos sofisticados e barulhentos, normalmente sem a presença da luz natural e alta probabilidade de ocorrência de morte e dor. Igualmente é verdadeiro afirmar que condições de trabalho, motivação e bem-estar de todos os profissionais de saúde que atuam em UTI, permanecem deixados em segundo plano. Preto (2008) indica que uma UTI é composta por diversos elementos funcionalmente dispostos e tem objetivo de atender pacientes em estado grave ou em alto risco, que precisem de ajuda médica e de enfermagem ininterruptamente, e ainda de aparelhos, equipamentos e profissionais especializados. As UTI’s são complexas unidades de trato da saúde, com monitorização continuada, onde o paciente recebido em estado crítico, ou com falha de um ou mais sistemas orgânicos, pode se recuperar com apoio e tratamento intensivos. Na verdade, a UTI é um ambiente retirado e exclusivo do hospital, considerando que a classe de pacientes recebidos necessita de acompanhamento contínuo e atenção especial a todos os sinais vitais, de forma ininterrupta. O trabalho nas UTI’s é de alta complexidade e intensidade, carecendo o enfermeiro estar pronto para, a qualquer instante, oferecer atenção a pacientes com alterações hemodinâmicas graves, as quais necessitam de um alto nível de conhecimento específico e grande desenvoltura a fim de tomar decisões corretas, aplicando-as em tempo hábil. Cintra (2005) versa que é justo afirmar que sobre o enfermeiro que atua em UTI recai o encargo de cuidar do paciente, tanto em caso de emergência como no suporte à vida, necessitando o profissional, desta maneira, estar preparado, seja qual for o diagnóstico, ou realidade clínica, para se utilizar de uma ampla abordagem, onde seu conhecimento prático deve ser aliado do conhecimentotécnico e científico. A presença do profissional de enfermagem é indispensável em UTI, considerando que todas as atividades por ele desenvolvidas são diretamente ligadas à integridade física e psicossocial dos pacientes por ele atendidos. Além de o enfermeiro realizar complexas rotinas e procedimentos, este deve estar plenamente capacitado através de fundamentação teórica, exercer a liderança, agir com discernimento e responsabilidade. Trata-se de uma série de responsabilidades que tendem a tornar tenso o ambiente de trabalho para toda a equipe que atua em UTI, especialmente os enfermeiros. Koizumi, Kamyiama e Freitas (1979) defendem que, por causa da grande expectativa de situações emergenciais, a extrema complexidade tecnológica, e da grande quantidade de pacientes em estado grave, expostos a repentinas mudanças em seu quadro geral de saúde, o ambiente da UTI é estressante ao extremo, e, em razão disso, pode ser caracterizado como emocionalmente instável, tendenciosamente negativo, tanto para profissionais quanto para familiares e pacientes. Os mesmos autores afirmam que, de acordo com estudos realizados junto a enfermeiros, puderam constatar que o nível de estresse dos profissionais que trabalham em UTI é notavelmente maior do que o de enfermeiros dos demais setores de um hospital. Em comparação aos demais profissionais que trabalham em UTI, o enfermeiro é o mais exposto a situações estressoras. Preto (2008) afirma que existe uma pesada carga sentimental e emocional que incide sobre a equipe multiprofissional que atual na terapia intensiva, exigindo uma preparação de excelência técnico-científica e um preparo profissional para lidar com a perda, a dor e o sofrimento, situações vividas continuamente por estes profissionais. Desta forma, dos trabalhadores da saúde, os profissionais que trabalham em UTI’s são os mais propensos ao estresse, enquanto a sobrecarga de trabalho e os problemas de relações interpessoais ficam evidentes como estressores junto ao ambiente de trabalho de enfermeiros nestas unidades. Uma das características mais marcantes da profissão de enfermeiro de unidade de terapia intensiva é o fato de se ter responsabilidade sobre vidas humanas de uma forma constante, constituindo um grande desafio psicológico que deve ser diariamente vencido para o desempenho de suas funções de forma adequada. “Embora estes profissionais estejam sujeitos o estresse ocupacional similar a outros trabalhadores, os enfermeiros enfrentam uma exigência emocional adicional devido à natureza da profissão, pois suas atividades são marcadas por riscos de ordem biológica, física, química, ergonômica, médica, psicológica e social. Além do mais, o trabalho de enfermagem significa ter como agente de trabalho o homem, e, como sujeito de ação, o próprio homem” (BATISTA; BIANCHI, 2006 apud PRETO, 2008, p. 26). Conforme afirma Preto (2008), é claro que se deve considerar que os fatores estressores não são processados da mesma forma por todos. Cada indivíduo sente e responde a determinadas situações de forma particular, ou seja, algumas situações são estressores que pesam mais para alguns indivíduos, enquanto para outros são situações de fácil assimilação. Desta maneira, o estresse depende também da propensão de cada profissional de enfermagem individualmente, como ser humano, de acordo com suas experiências e vivências, sua carga psicológica e emocional construída ao longo da vida, seu escalonamento de valores éticos e morais, o ambiente social onde o indivíduo está inserido e como este se posiciona em relação a ele, assim como sua sensibilidade, especificamente, a determinadas situações potencialmente estressoras. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Através do estudo para a construção deste artigo, tive a oportunidade de conhecer mais detalhadamente as implicações do estresse e que este representa um fator de risco para a saúde do profissional de enfermagem que atua em UTI, especialmente pelo estado de desgaste físico e psicológico enfrentado pelo mesmo, em situações às quais o indivíduo é exposto diariamente no exercício de suas funções. Esse desgaste pode ser resultante das condições de trabalho específicas da classe de enfermagem tais quais: instituições empregadoras com sistema organizacional extremamente hierarquizado, recursos humanos e colegas de trabalho (igualmente vitimados por fatores estressores), o ambiente visual e sonoro da UTI como um todo (produtor contínuo de ruídos e luzes intermitentes), à grande quantidade de pessoas presentes, desempenhando suas funções no mesmo ambiente, transitando em um recinto isolado do hospital e de espaço reduzido, baixa remuneração e cargas de trabalho fatigantes (considerando que normalmente o enfermeiro tem mais de um emprego, a fim de aumentar seu nível de renda), além da tensão intrínseca de se estar trabalhando e enfrentando riscos biológicos, físicos e químicos, além da função essencial do enfermeiro de UTI: cuidar da manutenção da sobrevida de pacientes críticos, convivendo diariamente com a vida e a morte de seres humanos. Mesmo sendo o estresse um fenômeno subjetivo a cada indivíduo, alguns fatores estressores são comuns a todo trabalhador, mesmo não sendo da área da enfermagem. A maneira como o estresse é expresso em equipes de enfermagem se revela fundamentalmente na forma de se relacionar com as outras pessoas, o que resulta em suscetibilidade a irritação, conflitos, aflição e falta de motivação. Os profissionais, além terem baixa produtividade laboral, ficam com sua resistência imunológica comprometida, assim como sua saúde como um conjunto. Tanto a classe de enfermagem, quanto a instituição hospitalar onde estes desenvolvem suas funções profissionais, devem distinguir os estressores presentes no ambiente laboral, buscando táticas para encarar, coletiva e individualmente, o estresse profissional, reconhecendo sua existência e capacidade destrutiva. Somente uma ação conjunta pode resultar em êxito, refletindo um ambiente de trabalho sereno, boa remuneração, uma justa carga horária, reconhecimento profissional e saúde ocupacional. Os apontamentos feitos neste estudo podem servir de subsídios a fim de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores da enfermagem que atuam em UTI. A clara identificação dos estressores pode originar ações efetivas para o traçado de estratégias para o seu enfrentamento eficaz, tratando diretamente do estresse no trabalho, resultando em um melhor desempenho profissional, em saúde ocupacional e qualidade da assistência. Este estudo pode, da mesma forma, contribuir no entendimento do estresse específico dos profissionais de enfermagem em UTI, proporcionando uma reflexão sobre seu trabalho profissional, dando estímulo a outros pesquisadores no sentido de continuar e aprofundar as questões aqui propostas, bem como servir como fonte de consulta para tanto. Ter conhecimento é ter poder, logo, para o profissional de enfermagem, conhecer os estressores e suas causas pode proporcionar a aquisição e desenvolvimento de capacidades para vencer a barreira do estresse, proporcionando uma melhora na performance profissional e na qualidade de vida em um âmbito geral. REFERÊNCIAS AQUINO, J. M. Estressores no trabalho das enfermeiras em centro cirúrgico: consequências profissionais e pessoais. Tese de doutorado. Ribeirão Preto, SP: Universidade de São Paulo, 2005. AZEVEDO, V. A. Z.; KITAMURAS, S. Stress, trabalho e qualidade de vida. In: Qualidade de vida e fadiga institucional. Campinas, SP: IPES, 2006. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia Científica. 6ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. CINTRA, E. A. et al. Assistência de Enfermagem ao paciente gravemente enfermo. 2ed. São Paulo: Atheneu, 2005. FERREIRA, L. R. C. Stress no cotidiano da equipe de enfermagem e sua relação como cronótipo. Dissertação de mestrado. 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