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Ana Victória Ribeiro – M7 Gemelaridade INTRODUÇÃO A gravidez gemelar é definida pela presença simultânea de dois ou mais fetos dentro do útero ou fora dele, podendo ser classificada como dupla, tripla, quádrupla e assim por diante. Cada produto da gravidez é considerado um gêmeo. A incidência de gestação múltipla vem aumentando nos últimos anos em decorrência da idade materna avançada e da utilização de técnicas de reprodução assistida. Esse é um tema de grande importância por estar associado à ocorrência de complicações como abortamento, trabalho de parto prematuro, descolamento prematuro de placenta, malformações, morte fetal, aumento da morte neonatal, entre outros desfechos. Por isso é essencial que no acompanhamento pré-natal a paciente seja encaminhada para o pré-natal de alto risco em centro de referência. CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDEZ GEMELAR A classificação da gravidez baseia-se na quantidade de fetos (duplas, triplas, quadruplas...), quantidade de óvulos fertilizados (zigotia), número de placentas (corionia) e número de cavidades amnióticas (amnionia). ZIGOTIA Em relação ao número de ovos fertilizados a gravidez pode ser mono ou dizigótica. Monozigóticos: são também chamados de univitelinos e correspondem a 1/3 dos gemelares. Resultam da fertilização de um óvulo por apenas um espermatozoide. A depender da época de divisão do zigoto pode ocorrer placentação mono ou dicoriônica. São formados gêmeos com mesmo genótipo, portanto de mesmo sexo, com mesma aparência física e mesmas tendências patológicas. Dizigóticos: também chamados bivitelinos ou fraternos, resultam da fertilização de dois óvulos por dois espermatozoides e representam 2/3 dos gemelares. A placentação é obrigatoriamente dicoriônica e os gêmeos não são idênticos, podendo inclusive ter sexos diferentes. CORIONIA E AMNIONIA A corionia ou corionicidade é o fator mais importante a ser determinado na gestação gemelar, uma vez que as gestações monocoriônicas apresentam mais complicações e elevada morbimortalidade neonatal. Os gêmeos dizigóticos são sempre dicoriônicos (duas placentas), ao passo que os monozigóticos podem ser dicoriônicos ou monocoriônicos (uma placenta), como já citado. Ana Victória Ribeiro – M7 Quando a divisão do zigoto ocorre durante os três primeiros dias após a fertilização, os gêmeos monozigóticos serão dicoriônicos e diamnióticos. Se a divisão ocorrer entre o terceiro e o oitavo dia serão monocoriônicos, diamnióticos e entre o oitavo e o décimo terceiro dia serão monocoriônicos e monoamnióticos. Quando a divisão ocorre a partir do décimo terceiro dia não ocorre a separação completa do disco embrionário, resultando em gemelaridade imperfeita (gêmeos unidos). FATORES DE RISCO A prevalência de gêmeos monozigóticos é relativamente estável em todo o mundo, já a prevalência de gêmeos dizigóticos é influenciada por alguns fatores, entre eles: Tratamentos para aumentar a fertilidade: fertilização in vitro, indução da ovulação, superovulação e inseminação intra- uterina; Idade materna: a frequência de gêmeos dizigóticos aumenta de 2 a 3 vezes entre os 15 e os 35 anos; Raça negra; Paridade (semelhança): o aumento da paridade aumenta a probabilidade de gêmeos dizigóticos; História familiar: presença de gêmeos na família materna; Os DIZIGÓTICOS serão sempre DICORIÔNICOS e DIAMNIÓTICOS. Já os dicoriônicos e diamnióticos nem sempre serão dizigóticos (podem ser monozigóticos com divisão do ovo antes do terceiro dia!). Ana Victória Ribeiro – M7 Peso e altura maternos: mulheres obesas (IMC≥30Kg/m2) e altas (≥ 164cm) têm maior risco de ter gêmeos dizigóticos. DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ GEMELAR A datação da gestação é feita usando a medida do comprimento cabeça-nádega (CCN) no USG e idealmente deve ser feito entre 11 e 13 semanas e 6 dias. O diagnóstico de zigotia tem menos importância que o de corionia. Pode-se definir uma gestação como dizigótica quando são identificados sexos diferentes dos fetos, ou monozigótica quando é monocoriônica. Não é possível, no entanto, determinar pelo USG a zigotia quando se trata de gestação dicoriônica e dizigótica de fetos do mesmo sexo. O melhor período para determinação da corionia e amnionia é o primeiro trimestre, antes das 10 semanas. Cada saco gestacional forma a própria placenta, portanto a presença de 2 sacos gestacionais implica em gravidez dicoriônica e 1 saco gestacional (com 2 batimentos cardiofetais) em gravidez monocoriônica. A partir de 9 semanas o componente coriônico forma uma projeção entre as membranas amnióticas, formando o “sinal do lambda” ou “twin-peak sign”, característico de gestações dicoriônicas. Esse sinal vai se tornando mais difícil de ser identificado com o passar das semanas, por isso a sua ausência não exclui a possibilidade de ser uma gestação dicoriônica. Já na gestação monocoriônica pode-se observar o sinal do “T” no final do primeiro trimestre que representa a fusão das membranas amnióticas adjacentes, inseridas na placenta. Sinal lambda superior e sinal do “T” inferior (gestação monocoriônica). É importante identificar cada um dos fetos para acompanhar o crescimento individual. Para isso são usados vários parâmetros como lado direito/ esquerdo da mãe, superior/inferior em relação ao abdome, sexo e localização das placentas. COMPLICAÇÕES MATERNAS Do ponto de vista materno ocorre com maior frequência anemia, dispneia, polidrâmnio, êmese e hiperêmese gravídica, pré-eclâmpsia, edema de membros inferiores, estrias gravídicas, complicações hemorrágicas da gestação (placenta prévia, descolamento prematuro da placenta), hemorragia pós-parto, rotura prematura das membranas ovulares, infecção puerperal, edema pulmonar, anomalias congênitas e óbito. Quanto ao diabetes gestacional há uma controvérsia, alguns autores relatam que há um aumento da sua incidência e outros não sustentam essa hipótese. COMPLICAÇÕES FETAIS O número de complicações na gestação monocoriônica é muito maior quando comparada à gestação dicoriônica. A taxa de morbimortalidade na monocoriônica antes das 24 Ana Victória Ribeiro – M7 semanas chega a ser 9 vezes maior que na dicoriônica. As gestações trigemelares ou de ordem maior podem ser mono ou polizigóticas, com diversas combinações de corionia e amnionia possíveis. Os riscos de complicações são ainda mais elevados, principalmente de partos prematuros. Prematuridade A duração média da gestação gemelar é de aproximadamente 35 semanas e para gestações trigemelares 32 semanas. Assim, o parto prematuro ocorre em cerca de 30 a 50% dos casos, sendo a prematuridade a principal causa de morbidade e mortalidade na gestação gemelar. Restrição de crescimento O risco de restrição de crescimento em gestações gemelares é cerca de 10 vezes maior que em gestações únicas. Ocorre em um dos fetos em cerca de 34% das gestações monocoriônicas e em 23% das dicoriônicas. Diante do diagnóstico de restrição do crescimento é importante investigar possíveis causas e instituir medidas de tratamento específicas, realizando acompanhamento ultrassonográfico para determinar o melhor momento para interrupção da gestação. Crescimento fetal discordante A taxa de crescimento fetal discordante é de 16%. O diagnóstico de discordância fetal é fundamentado na diferença entre as circunferências abdominais maior que 20mm ou entre os pesos fetais estimados >20% ou ainda diferença de 250 a 300g entre o gêmeo maior e o menor. Pode ocorrer por diferenças na placentação, anormalidades na inserção do cordão, discordância quanto a malformações congênitas, síndromes genéticas ou infecções. Parada do desenvolvimento embrionário e abortamento O termo“washing twin” é usado nos casos em que o desenvolvimento de um dos embriões é interrompido em fase precoce da gestação. Assim, a incidência em gestações múltiplas durante o primeiro trimestre é maior que a incidência no parto, devido à maior frequência de abortamentos nesses casos. O diagnóstico é ultrassonográfico, não tendo na maioria dos casos qualquer manifestação clínica ou repercussão para o feto remanescente. Óbito fetal Nas gestações monocoriônicas em que ocorre óbito de um dos fetos, o risco de óbito, sequelas neurológicas e parto pré-termo do outro gemelar se eleva. Em gestações dicoriônicas não existem anastomoses vasculares entre as placentas, por isso o desequilíbrio hemodinâmico para o gemelar remanescente é mínimo. Quando ocorre o óbito de ambos os fetos a via de parto preferencial é a vaginal. Síndrome de transfusão feto-fetal Essa síndrome afeta em cerca de 10 a 15% das gestações monocoriônicas e ocorre devido a anastomoses vasculares arteriovenosas com desequilíbrio hemodinâmico entre os fetos. O gêmeo chamado “doador” apresenta anemia e restrição de crescimento grave, acompanhados de oligúria e oligodrâmnio, enquanto o gemelar chamado “receptor” apresenta sobrecarga circulatória com policitemia e polidrâmnio podendo chegar a hidropsia. Se não tratada o risco de morte fetal pode chegar a 90%. Os critérios diagnósticos para síndrome de transfusão feto-fetal (STFF) são: monocorionicidade, ausência de malformações estruturais, polidrâmnio na cavidade amniótica do feto receptor, cuja bexiga urinária se apresenta distendida e oligodrâmnio na cavidade do feto Ana Victória Ribeiro – M7 doador, cuja bexiga muitas vezes não é identificável. Feto acárdico Também conhecida como sequência de perfusão arterial reversa do gemelar (TRAP). O gemelar acárdico apresenta diversas malformações além da ausência do coração, entre elas ausência de polo cefálico e alterações de membros superiores. Esses fetos não sobrevivem após o nascimento. O outro gemelar atua como “bomba” levando sangue para o feto acárdico e dessa forma pode desenvolver insuficiência cardíaca, hidropsia ou morrer (50 a 70% dos casos). O tratamento é a oclusão do fluxo sanguíneo para o gêmeo acárdico através de ligadura endoscópica, coagulação com laser ou embolização dos vasos umbilicais. Peça feto acárdico. Gêmeos acolados ou gemelidade imperfeita É raro, acometendo cerca de 1:50.000 gestações. O diagnóstico pode ser feito pela USG. A união pode ocorrer por: • Polo cefálico (craniópagos); • Face anterior do tórax (toracópagos); • Face anterior do abdome (onfalópagos); • Face lateral com união das pelves e sínfise púbica única (parápagos); • Face anterior da região da pelve com dois sacros e duas sínfises púbicas (isquiópagos); • Face posterior da região pélvica (piópagos); • Ápice da cabeça a região umbilical (cefalópagos). A forma mais comum é a toracopagia. O prognóstico depende do local, órgãos envolvidos e presença de eventuais malformações associadas. Quando o prognóstico é ruim pode-se tentar o parto vaginal (desde que as dimensões dos fetos permitam a passagem), no entanto o mais comum é a realização de cesárea. a) craniópagos; b) toracópagos; c) onfalópagos; d) parápagos; e)isquiópagos; f) pigópagos; g) cefalópagos. ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL Não existe um número mínimo de consultas pré- natal definido como ideal para as gestações gemelares. Os exames laboratoriais são os mesmos preconizados para as gestações únicas. Devido ao maior risco de anemia materna aconselha-se dosar a hemoglobina a cada trimestre. A pesquisa para o estreptococo do grupo B é realizada entre 30 a 32 semanas devido à menor idade gestacional média no parto das gestações gemelares. Nas gestações monocoriônicas é recomendada a avaliação quinzenal a partir de 16 semanas para investigar o diagnóstico de síndrome de transfusão feto-fetal. Ana Victória Ribeiro – M7
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