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Exam� físic� d� pacient� sindrômic�- Prof�. Julian� Mazze� pa�t� 1: Os motivos para o encaminhamento para o geneticista: Na maioria dos casos se dá por manifestações na infância, mas outras não, como câncer, infertilidade, doenças cardiovasculares, neurológicas, renais e etc, que podem manifestar mais tardiamente. Atendimento em Genética Clínica: Divide-se em três etapas: diagnóstico clínico, etiológico e aconselhamento genético. Nem sempre é possível chegar ao diagnóstico clínico, por isso o etiológico é importante também. Em muitos casos, mesmo em doenças reconhecidamente genéticas, não é possível ter diagnóstico definitivo. Diagnóstico clínico: - É preciso ter uma anamnese mais detalhada, com muitos aspectos de história familiar em no mínimo três gerações. - heredograma (informações sobre nascimento, pais, avós, filhos e etc…) - exame físico completo, que inclui o exame dismorfológico (foco dessa aula). Conceitos básicos Heredogramas : método usado para representar as informações coletadas sobre os familiares; é simples e visual. Símbolos básicos: Exame físico: A primeira coisa a se considerar é o GESTALT (o aspecto geral do paciente, a impressão do “todo”). Não é o diagnóstico mas pode orientar o diagnóstico. Geralmente é o GESTALT que faz o médico que não é geneticista, encaminhar o paciente ao geneticista. Exemplos que mostram que é possível suspeitar de uma síndrome pelo fenótipo: ● Síndrome de Marfan: defeito em tecido conjuntivo, defeitos cardíacos importantes, paciente alto, longilíneo, mãos grandes, rosto alongado (ex- Abraham Lincoln). ● Picnodisostose: tipo de nanismo. ● Displasia cleidocraniana: má formação dos ossos da calota craniana, má formação dentária e de clavícula. Medidas gerais: é preciso saber se as medidas estão de acordo com a idade do indivíduo. Quais medidas devem ser utilizadas a partir da situação clínica. Exame dismorfológico: Uma dismorfia é uma variação anatômica que geralmente não tem manifestação clínica, podendo inclusive estar presente em indivíduos normais com baixa frequência. Variações raras, ou pelo menos 3 dismorfias, podem indicar defeito de morfogênese, o que indica um quadro sindrômico. A frequência das dismorfias não é fidedigna, porque varia entre as populações, etnias, famílias e etc. O exame sempre se inicia no sentido craniocaudal. Crânio: Observa-se o tamanho e o formato do crânio. O índice cefálico é calculado pela distância bitemporal / distância anteroposterior. O resultado esperado está entre 70 e 90. - Cranioestenose: defeito de fechamento da calota craniana, mais especificamente na sutura metópica (a vertical, mais anterior, a frente da coronal). Face: É o exame mais importante para direcionar dismorfias, observa-se: - olhos e região orbitária; - orelha; - nariz ; - boca e região oral. Olhos e região orbitária: - Hipertelorismo: alargamento da ponte nasal que leva ao afastamento dos olhos; alguns indivíduos normais possuem, mas é raro. - Telecanto: aumento na distância intercantal interna e fenda palpebral curta, por isso o aspecto externo normal. No exemplo, a criança tem síndrome de Waardenburg. - Hipotelorismo: apresenta formas leves ou severas; os olhos aproximados; pode haver má formação cerebral associada. - Epicanto: é bastante comum, principalmente em mulheres, população oriental e indígenas brasileiras (por isso importante saber a etnia) ; não tem significado clínico mas pode fazer parte de síndromes genéticas. - Inclinação das fendas palpebrais: geralmente a linha entre o canto interno e externo dos olhos é reta, mas pode estar inclinada para cima ou para baixo; é muito comum em indivíduos normais. A inclinação da fenda para cima é bem comum na Síndrome de Down. A inclinação para baixo é comum em síndromes em que há má formação dos ossos da face. - Sinofre: sobrancelhas juntas. Orelhas: É uma região difícil porque existem vários pontos de observação e os formatos são muito variáveis, por isso é preciso analisar com cuidado para saber o que pode ser alteração normal ou não. ● Implantação das orelhas para baixo: é preciso traçar uma linha na região inferior dos olhos e a orelha deve estar próxima a essa região; muitas vezes não é necessário medir, é visível à observação. ● Apêndice pré-auricular: brotos que sugerem malformações; podem ser discretos ou não. ● Macrotia: tamanho maior que o esperado; há uma curva de crescimento para identificar. ● Microtia: é dividida em graus e em muitos casos está associada a síndromes; pode afetar o pavilhão auricular/abertura do canal auditivo. Nariz: Assim como a orelha, apresenta vários pontos onde podem ocorrer dismorfias. Na imagem temos: ● nariz adunco: ponto se projeta para baixo; ● piriforme: formato de pêra; ● arrebitado: curto, quase não vê o dorso e as narinas são antevertidas, ou seja, visualizadas com a criança de frente. Boca e região oral: Importante observar aspectos étnicos e familiares; observa-se lábios, língua, palato, dentes e mento. Boca: ● Síndrome alcoólica fetal: lábio superior muito fino, filtro nasolabial liso, fenda palpebral curta. Fendas labial e/ou palatina: Nesse caso é má formação e não dismorfia; podem ser achados isolados ou parte de síndrome genética Língua: Pode ser grande, pequena, ter defeito no freio lingual; é preciso diferenciar macroglossia de hipotonia (a língua fica pra fora por fraqueza muscular e não porque é grande). Dentes : É preciso observar os achados importantes para encaminhar; na imagem, defeitos de esmalte, ausência de dentes, dentes em forma cônicas e dentes supranumerários. Alinhamento da face: Observa-se a testa em relação ao queixo. Em casos extremos, principalmente o retrognatismo,pode gerar problemas graves de nutrição em neonatos, porém no geral não tem muito significado clínico. ● Prognatismo: pode ser maxilar ou mandibular. pa�t� 2- Tórax: Importante tirar as medidas do perímetro torácico e distância mamilar (hipertelorismo mamilar/ hipotelorismo mamilar). É preciso observar também se há depressão ou elevação e também buscar mamilos extranumerários (comum na população normal). Abdômen: Algumas malformações são graves, como a onfalocele e gastrosquise (caracterizadas pela herniação das vísceras). Genitália: ● Desenvolvimento mamário, pelugem pubiana e desenvolvimento de pênis e testículo: utiliza os critérios de Tanner. ● Distúrbios de diferenciação sexual/ambiguidade de genitália: na imagem, pênis pequeno sem saco escrotal (direita) e escroto bífido (esquerda); nesses casos é preciso fazer a cariotipagem, analisar a genitália interna e externa; é um trabalho multidisciplinar. Membros: É importante analisar as medidas de estatura, comprimento do membro e proporções; além disso, analisa-se a presença de fraturas. ● Polidactilia: dedos supranumerários; pode ser de mãos, pés ou ambos; importante saber se é um dedo pedunculado, se ele é totalmente formado e se há sindactilia (fusão dos dedos). ● Oligodactilia: número de dedos reduzidos, geralmente há fendas na palma da mão acompanhando (Ectrodactilia); são casos mais graves. ● Problemas relacionados à medida dos dedos: - Prega palmar única: achado importante pra Down, indica hipotonia na vida intrauterina. - Braquidactilia: dedos curtos e curvados. - Sindactilia: dedos fusionados; é mais comum nos pés - Aracnodactilia: todos os dedos maiores. - Macrodactilia: apenas um dedo maior; a etiologia é muito distinta da aracnodactilia. - Prega palmar única: achado comum na população; pode ser bilateral. Coluna vertebral: Os exames de imagem são importantes para complementar o exame dismorfológico nesse caso; observa-se desvios na coluna (achados comuns nos adultos mas raros em crianças); os defeitos de fechamento de tubo neural são graves e característicos de síndromes. - Anencefalia: sem formação ou formação mínima do encéfalo; incompatível com a vida. - encefalocele: protuberância de parte da massa encefálica; graves comprometimentos - Mielomeningocele: comprometimento motor importante; graus variáveis a depender da extensão desse extravasamento e do sucesso da cirurgia. Pele e anexos: - pigmentação da pele: albinismo (defeito importante de produção de melanina generalizado); nevus . - hemangiomas: podem ocorrer em crianças sem doenças genéticas, mas é preciso avaliar com cuidado. - elasticidade da pele: Sd Ehlers-Danlos; casos mais extremos. - frouxidão ligamentar: - cutis laxa: sobras de pele; síndrome grave; na imagem são crianças; aspecto envelhecido; pode ter manifestação mais tardia. Cabelos: observa-se a distribuição da pigmentação e de fios. - Sd de Waardenburg: mecha branca, olhos claros. - Displasia ectodérmica: cabelo muito ralo e com áreas rarefeitas; quantidade de cabelo pequena. No geral, esses são os aspectos a serem analisados no exame dismorfológico. É preciso, com base no exame físico, realizar o diagnóstico etiológico e posteriormente o aconselhamento genético. Porém, em alguns casos, o exame físico não é suficiente para o diagnóstico clínico, sendo necessária a solicitação de exames laboratoriais. No aconselhamento é preciso orientar a família sobre os riscos de recorrência da doença na prole e na família, e principalmente, orientação sobre o prognóstico da síndrome. Informações do questionário: ● Bossa frontal: testa proeminente ● Micrognatia: mandíbula pequena