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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ A primeira consulta do recém-nascido deverá ocorrer na sua primeira semana de vida, que constitui um momento propício para estimular e auxiliar a família nas dificuldades do aleitamento materno exclusivo, para orientar e realizar imunizações, para verificar a realização da triagem neonatal (teste do pezinho) e para estabelecer ou reforçar a rede de apoio à família (BRASIL, 2012). São fundamentais a utilização e o adequado preenchimento da Caderneta de Saúde da Criança para o registro das principais informações de saúde da criança (BRASIL, 2012). O paciente deve ser o centro da relação médico- paciente, independentemente da faixa etária e dos diferentes graus de compreensão (PORTO, 2019). ↠ A consulta exige do médico modos especiais na relação com a família, uma vez que a criança é dependente dela e a adesão ao tratamento depende inteiramente da relação médico-família (PORTO, 2019). O roteiro da consulta tem de considerar a fase da criança, uma vez que a anamnese e o exame físico são específicos nas diferentes etapas da infância: neonatal, lactente, pré-escolar e escolar, não havendo uma separação rígida entre o final da infância e o início da adolescência (PORTO, 2019). RN: 0 a 28 dias. Idade gestacional (IG): RNT: 37s-41s; RNPT: < 37s; RNPÓS: > 42 semanas. Peso no nascimento: • Baixo peso: < 2500g • Muito baixo peso: < 1500g • Extremo baixo peso: < 1000 g • Macrossomia: > 4000g Peso x IG: Pequeno para IG (PIG), Adequado para IG (AIG), Grande para IG (GIG). CONSULTA DO RN ↠ Fase de adaptação do RN: exame dinâmico – não segue uma ordem específica; ↠ 1ª consulta: • Anamnese; • Ambiente; • Material necessário – fita métrica, régua antropométrica, balança de pediatria. ANAMNESE É importante não se intimidar com o choro da criança e saber que o exame físico deve ser realizado em sua integridade. Para isso, pode ser necessário modificar a clássica sequência da semiologia, de modo a garantir o exame dos vários sistemas no momento mais apropriado (PORTO, 2019). ↠ A anamnese do recém-nascido (RN) deve incluir a avaliação de etapas anteriores ao seu nascimento, pois os fatores gestacionais e as condições do periparto são de grande importância nesta faixa etária (PORTO, 2019). ↠ A queixa principal ou o motivo da consulta e a história clínica são informadas pelo responsável, de acordo com sua capacidade de observação e de percepção do que está ocorrendo com a criança (PORTO, 2019). Muitas vezes o motivo relatado pelos responsáveis pela criança pode induzir um falso diagnóstico, e o médico deve estar atento a isso. Considere o seguinte exemplo: a mãe que relata que o RN está com dor. Após uma avaliação adequada, percebe-se que ela “acha” que o bebê tem dor, porque ele está chorando. Ao ser colocado para amamentar à mãe, a criança fica saciada e dorme, dando fim ao choro. A queixa de “dor”, portanto, não procedia, pois o RN estava apenas com fome (PORTO, 2019). ↠ O interrogatório sintomatológico deve ser realizado por sistemas, como se descreve a seguir: (PORTO, 2019). • Geral: Indague sobre o sono, saiba quantas horas o RN dorme ao dia. Neste período, a criança dorme mais. Com o crescimento, as horas de sono vão diminuindo, variando de cerca de 16,5 h de sono por dia na primeira semana de vida a 15,5 h de sono por dia ao fim do primeiro mês de vida. Verifique se há irritabilidade, prostração e dificuldade para amamentar. • Sistema tegumentar: Questione sobre pápulas, manchas, placas, descamações e alterações da cor da pele (icterícia, por exemplo). • Cardiovascular: Informe-se da ocorrência de dispneia ao amamentar, presença de edema e cianose. • Respiratório: Verifique se há congestão nasal, coriza, tosse, cianose, esforço respiratório, roncos e sibilos. • Digestório: Identifique o ritmo intestinal, as características das fezes e se há vômitos. • Geniturinário: Questione sobre número de diureses (estimule quem cuida da criança a observar quantas micções apresenta no dia) e as características da urina (cor, quantidade). No caso do sexo masculino, busque saber se o jato urinário é forte e se projeta a longa distância ou se é fraco e curto (possibilidade de válvula de uretra posterior). ANTECEDENTES PESSOAIS E FAMILIARES • Com relação à gestação: É importante saber a duração da gestação (se o RN foi pré-termo, pós- termo), se houve intercorrências (diabetes gestacional, infecções do trato urinário poucos dias antes do parto), via do parto (natural ou cesariano), exames complementares realizados pela mãe para toxoplasmose, hepatites B, C, vírus linfotrópico de células T humanas (HTLV), vírus da imunodeficiência humana (HIV) I e II, citomegalovírus (CMV), sífilis, rubéola; se foi constatada alguma alteração do feto 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck ao exame ultrassonográfico, tipo sanguíneo materno AB0-Rh (PORTO, 2019). • Com relação ao recém-nascido: Informe-se se houve alguma intercorrência no parto (aspiração de mecônio, trabalho de parto prolongado), quais as condições do RN ao nascimento (índice de Apgar na Caderneta de Saúde da Criança, se chorou logo após o nascimento, se houve cianose prolongada), se foram necessárias manobras de reanimação neonatal ou de administração de oxigênio. Caso tenha sido necessária passagem por unidade de terapia intensiva, deve-se pedir o relatório. Verifique o uso de antibióticos, hemoderivados, necessidade de ventilação mecânica e por quantos dias. Questione o grupo sanguíneo AB0-Rh do RN, se houve icterícia ou edema. Indague peso, estatura e idade gestacional. Pergunte sobre doenças diagnosticadas até o momento da consulta, assim como medicamentos usados (PORTO, 2019). O índice de Apgar - também reconhecido popularmente pelos pais como a “nota” que o bebê recebe logo após nascer – no quinto minuto entre 7 e 10 é considerado normal. Apgar 4, 5 ou 6 é considerado intermediário e relaciona-se, por exemplo, com prematuridade, medicamentos usados pela mãe, malformação congênita, o que não significa maior risco para disfunção neurológica. Índices de 0 a 3 no quinto minuto relacionam-se a maior risco de mortalidade e leve aumento de risco para paralisia cerebral. No entanto, um baixo índice de Apgar, isoladamente, não prediz disfunção neurológica tardia (BRASIL, 2012). • Com relação à família: Informe-se sobre doenças nos familiares de primeiro e segundo graus (pais, irmãos, avós, tios, primos). Questione sobre doenças raras ou frequentes entre os familiares (PORTO, 2019). • Vacinação: Verifique a Caderneta de Saúde da Criança (PORTO, 2019). ALIMENTAÇÃO ↠ Verifique se o RN está em aleitamento materno exclusivo. Estimule-o, parabenize a mãe que o estiver fornecendo. Enfatize a importância dessa conduta para o melhor desenvolvimento do RN. Já está demonstrado que o aleitamento materno exclusivo até o 6º mês de vida é a melhor opção para a saúde do bebê (PORTO, 2019). Caso tenha desmamado a criança, questione o motivo. Se a mãe ainda tiver leite, proponha um plano para reestabelecer o aleitamento materno exclusivo. Caso não seja possível, identifique o leite em uso, como é preparado (diluição, cuidados de higiene) e como é oferecido (PORTO, 2019). EXAME FÍSICO do rn No exame físico do recém-nascido (RN), tendo em vista que o choro é um evento comum, é importante salientar que a sequência que será apresentada poderá ser alterada de acordo com o comportamento da criança no decorrer da consulta. Assim, deve-se priorizar as etapas que seriam prejudicadas pelo choro, como a frequência cardíaca (FC), a ausculta cardíaca (AC), a frequência respiratória (FR) e o pulso (SANAR). ↠ A primeira consulta do recém-nascido deve ter uma avaliação minuciosa, visto que é por meio dela que é avaliada as condições físicas da criança, servindo, assim, como base parao possível diagnóstico de alguma patologia (congênita ou não), além de orientar aos familiares as condutas corretas e as possíveis intercorrências comuns no decorrer do crescimento do bebê (SANAR). SINAIS VITAIS • FR: 40-60 irpm; • FC: 110-160 bpm; • T: 36,6ºC. 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck PESO, COMPRIMENTO E PERÍMETRO CEFÁLICO ↠ Avalie o comprimento e o perímetro cefálico da criança. Avalie o peso em relação ao peso ideal ao nascer. Consideram-se normais tanto uma perda de peso de até 10% ao nascer quanto a sua recuperação até o 15º dia de vida (BRASIL, 2012). ↠ O perímetro cefálico com medidas acima ou abaixo de dois desvios-padrão (< -2 ou > +2 escores “z”) pode estar relacionado a doenças neurológicas, como microcefalia (de causa genética ou ambiental) e hidrocefalia, o que exige, portanto, melhor avaliação e encaminhamento (BRASIL, 2012). OBS.: Para medir o PC utiliza-se uma fita métrica passando pela glabela até a protuberância occipital (SANAR). DESENVOLVIMENTO SOCIAL E PSICOAFETIVO ↠ Observe e avalie o relacionamento da mãe/cuidador e dos familiares com o bebê: como respondem às suas manifestações, como interagem com o bebê e se lhe proporcionam situações variadas de estímulo (BRASIL, 2012). ↠ Os marcos do desenvolvimento segundo a faixa etária (BRASIL, 2012). ESTADO GERAL DO RN ↠ Avalie a postura normal do recém-nascido: as extremidades fletidas, as mãos fechadas e o rosto, geralmente, dirigido a um dos lados (BRASIL, 2012). ↠ Observe o padrão respiratório: a presença de anormalidades, como batimentos de asas do nariz, tiragem intercostal ou diafragmática e sons emitidos (BRASIL, 2012). ↠ Avalie o estado de vigília do recém-nascido: o estado de alerta, o sono leve ou profundo e o choro (BRASIL, 2012). ↠ Identifique sinais de desidratação e/ou hipoglicemia: pouca diurese, má ingestão (a criança não consegue mamar ou vomita tudo o que mama), hipoatividade e letargia (BRASIL, 2012). PELE Instabilidade vasomotora: quanto mais prematuro, mais fina e brilhante será a pele. ↠ Observe a presença de: (BRASIL, 2012). • edema (se for generalizado, pense em doença hemolítica perinatal, iatrogenia por uso de coloides ou cristaloides em excesso, insuficiência cardíaca, sepse; se for localizado, isso sugere trauma de parto); • palidez (sangramento, anemia, vasoconstrição periférica ou sinal de arlequim – palidez em um hemicorpo e eritema do lado oposto, por alteração vasomotora e sem repercussão clínica); • cianose (se for generalizada, pense em doenças cardiorrespiratórias graves; se for localizada nas extremidades ou na região perioral, pense em hipotermia); • icterícia. O profissional deverá estar mais atento caso a icterícia tenha se iniciado nas primeiras 24 horas ou depois do 7º dia de vida, caso tenha duração maior do que uma semana no recém-nascido a termo, duração maior do que duas semanas no prematuro e se a tonalidade for amarela 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck com matiz intenso ou se a icterícia se espalha pelo corpo, atingindo pernas e braços (BRASIL, 2012). Pode ser analisada com base nas zonas de Krammer. ↠ Lesões elementares: • Manchas mongólicas: alteração comum e benigna que acontece em recém-nascidos - tanto meninas, quanto meninos - que, na maioria das vezes, são descendentes de negros e asiáticos. Isso acontece porque, em determinada região, os melanócitos - células que possuem melanina, pigmento responsável por dar a cor para a nossa pele - se acumulam de forma irregular. Não há regra para o desaparecimento da mancha, mas os especialistas afirmam que, na maioria dos casos, ela vai diminuindo gradualmente até a criança completar o primeiro ano de vida. Em alguns casos, a mancha apenas desaparece completamente na fase adulta. • Manchas salmão: Ela tem coloração rosada / avermelhada pois é causada por vasos sanguíneos acumulados na região. Por esse motivo, fica mais visível quando a criança chora ou faz esforço e também no calor. • Hemangioma: o tumor vascular benigno mais frequente nas crianças. • Melanose pustulosa: uma doença benigna e autolimitada, caracterizada por lesões vésico- pustulosas que se rompem facilmente formando um colarete de escamas e que evoluem para máculas hiperpigmentadas de caráter residual. Podem ser acometidas todas as áreas do corpo incluindo palmas, plantas e genitália. • Miliária: conhecida popularmente como brotoeja, é uma erupção de pele caracterizada pelo aparecimento de pequenas bolhinhas, que podem ser claras ou avermelhadas. • Acne neonatal: é resultado de uma alteração normal na pele do bebê causada principalmente pela troca de hormônios entre a mãe o bebê durante a gestação, o que leva à formação de pequenas bolinhas vermelhas ou brancas no rosto, testa, cabeça ou costas do bebê. 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck • Eritema tóxico: pequenas manchas vermelhas na pele logo após o nascimento ou após 2 dias de vida, principalmente no rosto, tórax, braços e bumbum. • Crosta láctea: caspa do RN. • Dermatite por fraldas: nas trocas de fralda utilizar água morna e sabão. CRÂNIO ↠ Examine as fontanelas: a fontanela anterior mede de 1cm a 4cm, tem forma losangular, fecha-se do 9º ao 18º mês e não deve estar fechada no momento do nascimento. A fontanela posterior é triangular, mede cerca de 0,5cm e fecha-se até o segundo mês. Não devem estar túrgidas, abauladas ou deprimidas (BRASIL, 2012). ↠ O crânio apresenta grande variabilidade de formatos devido a presença de fontanelas e a moldagem que pode sofrer ao passar pelo canal do parto. É importante observar se há presença de: (SANAR) • Cavalgamento: uma sutura em cima da outra. • Craniossinastose: Está relacionada ao fechamento precoce das suturas cranianas. O formato do crânio vai depender da sutura envolvida, sendo o mais comum o fechamento da sutura sagital, impedindo o crescimento lateral da cabeça (escafocefalia). É válido pontuar ainda a braquicefalia (fechamento da sutura coronal), a trigonocefalia (fechamento da sutura metópica), a plagiocefalia (fechamento da sutura escamosa) e a oxicefalia (fechamento de todas as suturas) (SANAR). 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck • Bossa serossanguinolenta: trata-se de um edema do couro cabeludo que não respeita o limite das suturas e é causado por trabalho de parto prolongado, no qual o RN fica muito tempo na descida do canal do parto e extravasa líquido para o subcutâneo. Na palpação, a consistência é amolecida e é comum a presença de cacifo positivo (SANAR). • Cefalo-hematoma: é um extravasamento sanguíneo que respeita as suturas cranianas devido a localização entre o osso e o periósteo. Na palpação, a consistência é firme e o cacifo é negativo (SANAR). FACE ↠ Pesquise alguma assimetria, malformação, deformidade ou aparência sindrômica (BRASIL, 2012). É comum a procura de evidências de síndromes genéticas que podem se manifestar com características como fonte proeminente, micro/macrocania, alterações do dorso nasal, das pregas epicânticas, das orelhas de baixa implementação, da micrognatia, da protusão da língua e do pescoço alado (SANAR). OLHOS • Observar o alinhamento, formato e distância dos olhos, bem como a presença de pregas epicânticas – essas observações podem fornecer dados para alguma síndrome genética; • Investigar a integridade da abertura ocular e reflexos pupilares presentes/reagentes; Reflexo fotomotor: projeta-se um feixe de luz em posição ligeiramente lateral a um olho. A pupila deve se contrair rapidamente. O teste deve ser repetido no outro olho, devendo ser comparado com o primeiro. Avalia basicamente a estrutura anátomo-funcional (BRASIL, 2012).Teste do reflexo vermelho ou Bruckner test (idem): deve ser realizado na penumbra (para a pupila ficar mais dilatada), com o oftalmoscópio colocado aproximadamente de 5cm a 10cm de distância dos olhos da criança (o importante é que o oftalmoscópio ilumine os dois olhos simultaneamente), para se observar o reflexo vermelho nos dois olhos. Se for notado um reflexo diferente entre os olhos ou a presença de opacidade, a criança deverá ser avaliada por um oftalmologista com urgência, pois poderá ter problemas como: catarata congênita, retinoblastoma ou retinopatia da prematuridade (BRASIL, 2012). • Observar se há presença de edema conjuntival e secreção purulenta: sinais sugestivos de infecção bacteriana (conjuntivite bacteriana), relacionados a infecção por gonorreia na mãe; O grande risco é a conjuntivite por gonococo, pois a bactéria pode penetrar na córnea intacta e causar perfuração ocular em 24h (BRASIL, 2012). • Coloração esbranquiçada da íris e da pupila: sugere a catarata congênita, relacionada a infecção congênita pelo vírus da rubéola; • Presença de secreção serosa, geralmente, unilateral sem edema pode ser um sinal de obstrução nasolacrimal (blefaroestenose). • Estrabismo (ou esotropia) e nistagmo lateral são comuns nesta fase, devendo ser reavaliados posteriormente. Os recém-nascidos podem apresentar eventualmente algum tipo de desvio ocular, pois a visão binocular só estará bem desenvolvida entre 3 e 7 meses. Raramente o estrabismo congênito tem seu diagnóstico feito antes dos 6 meses de vida (BRASIL, 2012). Prega epicântica é a pele da pálpebra superior, que vai do nariz até a parte interna da sobrancelha, cobrindo o canto interno do olho. Ela normalmente aparece em ambos os olhos e pode ser vistas em algumas crianças antes da ponte do nariz começar a se elevar, mas após esse período só é comum em pessoas com ascendência asiática. Ela pode ser sintoma de diversas condições de saúde, dentre elas a síndrome de Down. https://www.minhavida.com.br/saude/temas/sindrome-de-down 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck ORELHAS E AUDIÇÃO ↠ Oriente a família para a realização da triagem auditiva neonatal universal (Tanu) ou “teste da orelhinha” (BRASIL, 2012). Este teste é gratuito, fácil e não machuca o bebê e é normalmente realizado durante o sono entre o 2º e 3º dia de vida do bebê. Em alguns casos, pode ser recomendado que o teste seja repetido após 30 dias, principalmente quando há maior risco de alterações auditivas, como no caso de recém-nascidos prematuros, com baixo peso ou cuja mãe teve alguma infecção durante a gravidez que não foi devidamente tratada. ↠ Observe também a implantação, o tamanho e a simetria das orelhas (BRASIL, 2012). • Na inspeção, observar a baixa implantação das orelhas, de modo que, se a extremidade superior do pavilhão auricular está na altura dos olhos a implantação, estará correta, mas, se estiver abaixo, pode ser sugestiva de diversas síndromes cromossômicas, como síndrome de Down ou de Edwards (SANAR). NARIZ • Inspeção que revele ausência de septo nasal ou ponte nasal achatada (nariz em sela) é mandatória da pesquisa de sífilis congênita; A pesquisa de uma via aérea pérvia deve ser feita nesses casos, introduzindo um cateter para analisar a permeabilidade das coanas e se não há atresia unilateral ou bilateral delas (SANAR). • Observar se há presença de secreções, bem como batimento de asa do nariz (esse último pode indicar desconforto respiratório no recém- nascido). BOCA ↠ Observe a úvula, o tamanho da língua (macroglossia), o palato, o freio lingual e a coloração dos lábios (BRASIL, 2012). • Na inspeção da boca, é mandatório investigar a presença de fendas orofaciais (Fenda labial, fenda labiopalatina e fenda palatina); • Observar a anatomia da língua e do freio lingual, pois pode ter a presença de anquiloglossia parcial ou “língua presa”. • Pode ainda se observar na inspeção a presença de cistos esbranquiçados de conteúdo sebáceo, devido alterações hormonais inerentes ao RN, chamados de pérolas de Epstein. Essa alteração não tem significado patológico. Alterações morfológicas podem representar dificuldade para a pega durante a amamentação, o que exigirá suporte e acompanhamento adequados (BRASIL, 2012). PESCOÇO ↠ Avalie a assimetria facial e a posição viciosa da cabeça. O torcicolo congênito tem resolução espontânea em 90% dos casos. No entanto, nos casos mais persistentes, pode ser necessária correção cirúrgica (protelada até os três anos de idade) (BRASIL, 2012). 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Avalie também a presença de massas (higroma cístico). TÓRAX ↠ Avalie a assimetria, pois ela sugere malformações cardíacas, pulmonares, de coluna ou arcabouço costal (BRASIL, 2012). ↠ O exame do tórax consiste na avaliação cardíaca e pulmonar, seguindo as mesmas etapas de inspeção, ausculta e palpação (SANAR). ↠ A palpação de clavícula deve ser realizada, visto que é o osso mais frequentemente fraturado em toracotraumas (SANAR). A fratura de clavícula é manejada simplesmente prendendo-se o braço ao tórax, para proporcionar conforto ao bebê; tem caráter benigno e ocorre formação de calo ósseo em 2 a 3 semanas (BRASIL, 2012). INSPEÇÃO • Simetria: o tórax deve ter forma de barril com um diâmetro ântero-posterior igual ou maior ao diâmetro látero-lateral sem retrações ou abaulamentos visíveis. Caso haja abaulamento associado a um abdome escavado, existe a possibilidade de hérnia diafragmática, causando grave insuficiência respiratória (SANAR). • Pesquisa de ginecomastia: pode surgir com mamas ingurgitadas ou associadas à secreção leitosa (causada pela passagem de hormônios maternos). Assim, deve-se orientar a família que o tratamento é expectante, ou seja, ocorre involução espontânea das mamas (SANAR). APARELHO RESPIRATÓRIO ↠ Observar o padrão respiratório da criança: (SANAR). • Batimento de asa de nariz; • Uso de musculatura acessória; • Retração xifoidiana; • Presença de tiragem subcostal, intercostal ou fúrcula; • Gemidos e estridor. É comum que o ritmo respiratório do RN, principalmente de prematuros, seja periódico, com pausas entre 5 e 10 segundos. A apneia seria o prolongamento desse período, assim, sendo considerada patológica (SANAR). A frequência respiratória comum no recém-nascido está entre 40 e 60 respirações por minuto e deve ser avaliada com a mão do profissional entre o abdome e o tórax (SANAR). Já a ausculta respiratória deve ser realizada em focos paraesternais e paravertebrais na parede anterior e posterior do tórax respectivamente (SANAR). APARELHO CARDIOVASCULAR ↠ Observe a possível presença de cianose, dispneia, palidez, sudorese, baixo peso. ↠ A avaliação cardiovascular consiste na: (SANAR). • Palpação dos pulsos axilares, braquiais, femorais e pediosos, a fim de verificar a amplitude, simetria e ritmo; • Verificação da frequência cardíaca: varia entre 120 e 160 batimentos por minuto; • Avaliação do precórdio: pode ser perceptível a presença do ictus cordis, região em que o ápice do coração toca na parede torácica, devendo estar localizado entre o 4º e o 5º espaço intercostal à esquerda; • Avaliação das bulhas: normofonéticas ou alteradas, em alguns casos, é comum ocorrer desdobramento da segunda bulha, sendo considerado fisiológico. • Sopros cardíacos: a presença de sopros cardíacos no neonato é comum e pode ser transitório, entretanto, a partir do grau IV (sopro alto e com vibração presente) recomenda-se que realize um ecocardiograma. A ausência de sopros não exclui completamente a existência de cardiopatias congênitas, por esse motivo, torna-se imprescindível que o recém-nascido realize o teste de oximetria de pulso (teste do coraçãozinho)antes da alta hospitalar (SANAR). 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck ABDOME Observe a respiração, que é basicamente abdominal e deve estar entre 40mrm e 60mrm (BRASIL, 2012). INSPEÇÃO ↠ Observe a forma do abdome: se ele estiver dilatado, o achado pode sugerir presença de líquido, distensão gasosa, visceromegalias, obstrução ou perfuração abdominal; se ele estiver escavado, isso pode indicar hérnia diafragmática (BRASIL, 2012). O abdome do RN deve ser globoso, entretanto pode apresentar diástase dos retos abdominais, originando, assim, hérnias umbilicais que raramente evoluem para complicações, além de desaparecer naturalmente até a idade pré-escolar (SANAR). ↠ Diagnostique a presença de hérnias inguinal e umbilical. Os casos de hérnia inguinal têm indicação cirúrgica imediata, devido ao risco de encarceramento ou estrangulamento. Já nos casos de hérnia umbilical, aguarda-se sua regressão espontânea até 12 meses, dependendo do tamanho da hérnia (BRASIL, 2012). ↠ Diagnostique também a presença de diástase dos retos abdominais e agenesia da musculatura abdominal (BRASIL, 2012). Avaliação do coto umbilical. Tempo de involução: O coto umbilical cai normalmente entre 1 e 2 semanas (SANAR). ↠ Verifique a presença de granuloma umbilical após a queda do coto (resolvido com uso de nitrato de prata). Se a região umbilical estiver vermelha, edemaciada e com secreção fétida, o achado indica onfalite e, portanto, a criança deve ser encaminhada para a emergência (BRASIL, 2012). O cordão umbilical deve possuir duas artérias e uma veia. Achado de artéria umbilical única pode indicar má formação congênita (SANAR). PALPAÇÃO ↠ Realize palpação à procura de visceromegalias e massas palpáveis (PORTO, 2019). PERCUSSÃO E AUSCULTA ↠ À percussão, avalie o timpanismo. À ausculta, observe os ruídos hidroaéreos (PORTO, 2019). GENITÁLIA GENITÁLIA MASCULINA • Criptorquidia: deve ser avaliado se há ausência ou retração de testículos. Quando esses não forem palpáveis, os pais devem ser tranquilizados de que é uma situação comum, com conduta expectante até os 6 meses de idade. Em grande parte dos casos ocorre unilateralmente; (SANAR) • Hidrocele: presença de líquido peritoneal na bolsa escrotal. Possui resolução espontânea até os 2 anos de idade. É importante fazer diagnóstico diferencial com hérnia inguinal, caso a hidrocele for comunicante. O exame é realizado com transiluminação da bolsa escrotal com uma lanterna; (SANAR) • Hipospadia: localização do meato urinário na face ventral do pênis; (SANAR) • Epispadia: localização do meato urinário na face dorsal do pênis; (SANAR) • Fimose: fisiológica ao nascimento. Indicação cirúrgica a partir dos 5 anos de idade, a depender da escolha da família; (SANAR) 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck GENITÁLIA FEMININA ↠ Pode ocorrer proeminência dos lábios vaginais, além da possibilidade da saída de secreção esbranquiçada ou sanguinolenta, que se resolve espontaneamente (SANAR). Essas secreções ocorrem devido à passagem de hormônios maternos, que se resolve espontaneamente (BRASIL, 2012). ↠ Sinéquia: aderência entre os pequenos lábios vaginais (SANAR). É chamada de ambígua a genitália que não se caracteriza por completo como masculina ou feminina, assim, sendo necessária a determinação do sexo por meio de exames de cromatina sexual e ultrassonagrafia pélvica (SANAR). OSTEOARTICULAR MEMBROS SUPERIORES E INFERIORES ↠ A palpação de clavícula deve ser realizada, visto que é o osso mais frequentemente fraturado em toracotraumas (SANAR). ↠ Avaliar a resistência dos membros aos movimentos e o tônus muscular para o rastreamento de flacidez ou paralisia (SANAR). ↠ Pesquisar possível luxação congênita de quadril ou displasia do desenvolvimento do quadril por meio da manobra de Ortolani e da manobra de Barlow (SANAR). • Manobra de Ortolani: Colocar o polegar na parte interna da coxa do recém-nascido e posicionar os outros dedos sobre o grande trocanter. Com as articulações coxofemorais e o joelho fletido, realiza- se o movimento de abdução e elevação. Positivo quando se percebe um clique audível com os movimentos (SANAR). • Manobra de Barlow: Com as articulações coxofemorais e o joelho fletido, empurrar posteriormente o fêmur com o quadril fletido e a coxa em adução. Positivo se o quadril for deslocável (SANAR). ↠ Avaliar a morfologia dos dedos e a possibilidade de polidactilia (presença de dedos a mais) e sindactilia (presença de membrana entre os dedos) (SANAR). ↠ Determinar alterações como o pé torto, que pode ser corrigido espontaneamente, ou pé torto congênito grave que é associado a anormalidades genéticas (SANAR). COLUNA VERTEBRAL ↠ A coluna deve ser inspecionada e palpada percorrendo toda a linha média, principalmente na região lombo-sacral, para pesquisa de intercorrências como a herniação das meninges (mielomeningocele e meningocele). Também deve ser observada a presença de assinaturas neurocutâneas em linha média para o rastreamento de espinha bífida oculta (SANAR). NEUROLÓGICO ↠ O estudo dos exames neurológicos realizados nas primeiras semanas de vida extra-uterina permite o conhecimento ampliado favorável à uma detecção precoce de disfunções neurológicas no recém-nascido (SANAR). Segundo a OMS, o perímetro cefálico de um recém-nascido a termo deve ser de, no mínimo, 33cm e de, no máximo, 35cm. Deve ser medido logo após o nascimento (SANAR). REFLEXOS PRIMITIVOS ↠ Os reflexos primitivos, presente ao nascimento, são respostas automáticas e que seguem um estereótipo frente a um determinado estímulo externo. Eles devem ser inibidos ao longo dos primeiros meses de vida, com o surgimento dos reflexos posturais (SANAR). ↠ A presença dos reflexos primitivos permite concluir que o Sistema Nervoso Central do neonato está íntegro; entretanto, caso persistam para além do final do segundo ano de vida, uma disfunção neurológica deve ser investigada (SANAR). 11 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Dos reflexos primitivos, destacam-se: (SANAR). • Reflexo de Moro (ou abraço): extensão e abdução dos membros superiores do neonato, com conseguinte choro, o que é desencadeado por uma queda súbita da cabeça dele, amparada pela mão do examinador – o normal é que ele desapareça por volta dos 6 meses de vida; • Reflexo Tônico-Cervical Assimétrico ou Reflexo do Esgrimista: extensão do membro superior ipsilateral à rotação e flexão do membro superior contralateral, o que é desencadeado por uma rotação da cabeça concomitante à estabilização do tronco do neonato pela outra mão do examinador. • Preensão Palmar e Plantar: flexão dos dedos, frente à pressão da palma da mão e a pressão da base dos artelhos – o normal é que tais reflexos desapareças por volta do 6º e 12º meses de vida, respectivamente. • Apoio Plantar: extensão das pernas, frente ao apoio do pé do neonato (seguro pelas axilas) sobre a superfície dura. • Reflexo da Marcha Reflexa: cruzamento das pernas, uma à frente da outra, devido à inclinação do tronco do recém-nascido, após a obtenção do apoio plantar – o normal é que ele desapareça por volta dos 2 meses de vida. • Sucção Reflexa: sucção vigorosa desencadeada pela estimulação dos lábios, cuja ausência indica a presença de uma disfunção neurológica grave – o normal é que ele desapareça por volta dos 2 meses de vida. • Reflexo de Busca: rotação da cabeça na tentativa de “buscar” um objeto, seguida por uma sucção reflexa, o que édesencadeado por uma estimulação da face ao redor da boca. • Reflexo de Encurvamento do Tronco ou Reflexo de Galant: encurvamento do tronco ipsilateral ao estímulo tátil dado na região dorso lateral. • Reflexo de Colocação ou Reflexo de Placing: elevação do pé, como se estivesse subindo um degrau, o que é desencadeado por um estímulo tátil no dorso do pé do neonato (seguro pelas axilas). • Reflexo cutâneo plantar ou Reflexo de Babinski: ocorre a flexão dorsal – extensão do hálux. Esse sinal pode estar presente em crianças com até 2 anos de idade e não denota lesão subjacente, uma vez que nestes a mielinização da via piramidal ainda não está completa. 12 Júlia Morbeck – @med.morbeck Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento. Cadernos de Atenção Básica, nº 33. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. PORTO, Celmo C. Semiologia Médica, 8ª edição. Grupo GEN, 2019.