Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Indaial – 2020 FotograFia Prof.ª Mariane Eggert de Figueiredo 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.ª Mariane Eggert de Figueiredo Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: F475f Figueiredo, Mariane Eggert de Fotografia. / Mariane Eggert de Figueiredo. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 236 p.; il. ISBN 978-65-5663-191-2 ISBN Digital 978-65-5663-192-9 1. Fotografia - História. - Brasil. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 770 apresentação Vivemos em meio às imagens, que consumimos, com as quais nos comunicamos, somos imagens. Desde os tempos mais remotos, representar o mundo em imagens foi um dos anseios do ser humano. A fotografia, escrita pela luz, é uma forma de representar o mundo e de capturá-lo para melhor entendê-la. Estudar fotografia é integrar um universo mágico de luz e sombras, de cores e formas, de sentidos. A fotografia é linguagem, é posicionamentos, é documentar e mostrar o indizível e o desejável. Este estudo aborda a fotografia em suas mais variadas formas e concepções, em três unidades. Na unidade 1, “Conceito e História da Fotografia”, a partir de um estudo da imagem ao longo do tempo, você verá o conceito de fotografia e conhecerá grandes momentos da técnica, desde a criação até a atualidade. Assim, aprenderá sobre as primeiras tentativas de captura da realidade com a técnica da câmara escura. Conhecerá os primeiros desenvolvedores de aparelhos e materiais, as principais correntes de fotógrafos e suas particularidades, além de conhecer transformações de ordem ideológico- filosóficas que a técnica introduziu nas sociedades da época. Na unidade 2, “O Funcionamento da máquina fotográfica e o domínio das técnicas”, conhecerá a máquina fotográfica e suas potencialidades, bem como os materiais e técnicas indicados para as capturas. Adquirirá, também, noções de composição e enquadramento nas fases pré-captura e fotográfica, além de aprender sobre técnicas e processos de revelação fotográfica analógica. Finalmente, conhecerá os principais recursos de tratamento de imagens pós-captura e a construção de realidades através da fotografia digital. Na unidade 3, por fim, “Aplicações da fotografia”, a partir de uma reflexão sobre a fotografia como linguagem e forma narrativa através da imagem, aprenderá sobre algumas aplicações da fotografia profissional e recreativa. Conhecerá as múltiplas possibilidades que se oferecem ao fotógrafo profissional, seja a serviço de empresas e organismos, seja como freelancer e trabalhando com autonomia. Finalmente, conhecerá as abrangências e práticas, incluindo os requisitos necessários para uma atuação bem-sucedida. Além disso, aprenderá sobre a fotografia publicitária de moda, seus percalços e possibilidades. Desejamos ótimos estudos através desta obra! Mariane Eggert de Figueiredo Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA ................................................... 1 TÓPICO 1 — DA IMAGEM À FOTOGRAFIA: PANORAMA HISTÓRICO ............................ 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 A ESSÊNCIA DA FOTOGRAFIA ..................................................................................................... 4 3 TRATADO DE ÓTICA E CÂMARA ESCURA ............................................................................ 10 4 DE NIÉPCE E DAGUERRE À DIGITALIZAÇÃO: UM PROCESSO ...................................... 14 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 19 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 20 TÓPICO 2 - TÉCNICAS E CORRENTES FOTOGRÁFICAS ....................................................... 21 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 21 2 A FOTOGRAFIA NO MUNDO E NO BRASIL ........................................................................... 22 3 GRANDES CATEGORIAS DE FOTOGRAFIA ........................................................................... 25 4 FOTÓGRAFOS QUE MARCARAM ÉPOCAS ............................................................................ 27 4.1 OS PIONEIROS ............................................................................................................................. 27 4.2 FOTÓGRAFOS DE TODOS OS TEMPOS ................................................................................ 32 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 38 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 41 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 42 TÓPICO 3 — SEMIÓTICA E FILOSOFIA DA IMAGEM: ENTRE PERCEPÇÃO,REPRESENTAÇÃO E EXPRESSÃO ........................................................................ 45 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................45 2 A ESSÊNCIA DA FOTOGRAFIA ................................................................................................... 46 3 A IMAGEM COMO SIGNO: PERCEPÇÃO E REPRESENTAÇÃO ........................................ 49 3.1 A IMAGEM ICÔNICA NA SEMIÓTICA DE CHARLES PEIRCE ........................................ 49 3.2 ROLAND BARTHES E O REFERENTE DA FOTOGRAFIA: “ISSO FOI” ........................... 50 4 A FOTOGRAFIA COMO 8ª ARTE: FORMA DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA E IDEALIZAÇÃO ..................................................................................................................................... 51 4.1 O CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO ..................................................................................... 52 4.2 OS PARADIGMAS FOTOGRÁFICOS ...................................................................................... 54 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 63 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 64 UNIDADE 2 — O FUNCIONAMENTO DA MÁQUINA FOTOGRÁFICA E O DOMÍNIO DAS TÉCNICAS ...................................................................................................... 66 TÓPICO 1 — A TÉCNICA DA FOTOGRAFIA: LUZ, VELOCIDADE, DIAFRAGMA, 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 68 2 OS APARELHOS FOTOGRÁFICOS – APRESENTAÇÃO ........................................................ 68 SUJEITO E COMPOSIÇÃO ................................................................................................................ 68 2.1 CONHECENDO A MÁQUINA FOTOGRÁFICA: ELEMENTOS E FUNCIONALIDADES PADRÃO ........................................................................................................................................ 69 2.2 TIPOS DE CÂMERAS FOTOGRÁFICAS .................................................................................. 76 2.3 ACESSÓRIOS PARA CÂMERAS BRIDGE E DSLR ................................................................. 78 3 DO ENQUADRAMENTO AO DOMÍNIO DAS TÉCNICAS DE COMPOSIÇÃO ............. 81 3.1 NOÇÕES DE ENQUADRAMENTO E COMPOSIÇÃO DA IMAGEM ................................ 81 3.2 POSICIONAMENTO DOS SUJEITOS ....................................................................................... 85 4 O CONTROLE DA LUZ, VELOCIDADE, DIAFRAGMA, FOCO ........................................... 93 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 97 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 98 TÓPICO 2 — TRATAMENTO DA FOTOGRAFIA: LABORATÓRIO, FOTOGRAFIA DIGITAL, FOTOEDIÇÃO ................................................................................................................. 100 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 100 2 FILMES, TÉCNICAS E MATERIAIS PARA REVELAÇÃO FOTOGRÁFICA .................... 100 2.1 O FILME ANALÓGICO ............................................................................................................. 100 2.2 A REVELAÇÃO DO FILME ANALÓGICO: MATERIAIS E MÉTODO ............................. 103 3 A FOTOGRAFIA DIGITAL E O TRATAMENTO DE IMAGEM ........................................... 106 3.1 INTRODUÇÃO AO CS5 ............................................................................................................ 106 3.2 PRINCÍPIOS BÁSICOS DO PHOTOSHOP ............................................................................. 107 3.3 LEITURA DE VALORES DE COR E NÍVEIS PARA NEUTRALIZAÇÃO DO TOM EM UMA IMAGEM .......................................................................................................................... 110 3.3.1 Luz e luminosidade na imagem fotográfica .................................................................. 110 3.4 CROMOLOGIA: O ESTUDO DAS CORES ............................................................................ 113 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 124 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 125 TÓPICO 3 — O FOTÓGRAFO E A CONSTRUÇÃO FOTOGRÁFICA ................................... 128 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 128 2 A FOTOGRAFIA DIGITAL E A CRIAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO .................................. 128 3 TRATAMENTO DE IMAGENS: ESTUDO DE EXEMPLOS ................................................... 129 3.1 A MESCLAGEM ARTÍSTICA ................................................................................................... 130 3.2 AJUSTES BÁSICOS DE LIMPEZA DA IMAGEM E MAQUIAGEM .................................. 132 3.3 APLICAR MÁSCARAS E OCULTAR CAMADAS ................................................................ 135 3.4 SER FOTÓGRAFO: MERCADO DE TRABALHO, PRÁTICAS, DEONTOLOGIA .......... 135 3.5 O MERCADO DE TRABALHO ................................................................................................ 136 3.6 PRÁTICAS DO FOTÓGRAFO .................................................................................................. 138 4 DEONTOLOGIA E ÉTICA DA PROFISSÃO ............................................................................ 140 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 143 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 145 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 146 UNIDADE 3 — APLICAÇÕES DA FOTOGRAFIA ..................................................................... 148 TÓPICO 1 — A LINGUAGEM FOTOGRÁFICA ......................................................................... 150 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 150 2 A NARRATIVA NA FOTOGRAFIA ............................................................................................ 151 2.1 COMO SE CONSTRÓI, ENTÃO, A NARRATIVA NA FOTO FIXA? ................................ 152 3 EFEITOS DAS CONSTRUÇÕES NARRATIVAS SOBRE O ESPECTADOR ...................... 154 4 A NARRATIVA DOCUMENTAL ................................................................................................. 157 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 166 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 167 TÓPICO 2 — FOTOGRAFIA E SUAS APLICAÇÕES ................................................................. 170 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 170 2 A FOTOGRAFIA COMO EXPRESSÃO ARTÍSTICA E LAZER............................................. 171 2.1 FOTOGRAFIA ARTÍSTICA: CONSIDERAÇÕES .................................................................. 171 2.2 A FOTOGRAFIA COMO PASSATEMPO E HOBBY ............................................................. 174 2.3 A FOTOGRAFIA COMO TESTEMUNHO: JORNALISMO, ÉPOCA, REALIDADES ..... 178 2.4 O QUE É FOTOJORNALISMO ................................................................................................179 2.5 POSTURAS DO FOTÓGRAFO E RISCOS INCORRIDOS .................................................... 184 2.6 FOTODOCUMENTALISMO E REALIDADES PRESERVADAS: PRÁTICAS DE MEMÓRIA E REGISTROS DA HISTÓRIA – A DE FAMÍLIA, A CIDADE, AS PRÁTICAS SOCIAIS MOSTRADAS E PRESERVADAS ............................................................................ 186 3 REGISTROS DA HISTÓRIA: ROSTOS E COSTUMES; PRÁTICAS SOCIAIS; A DIVERSIDADE MOSTRADA ......................................................................................................... 187 3.1 A FOTOGRAFIA DE PRECISÃO CIENTÍFICA ..................................................................... 190 3.2 UMA FERRAMENTA QUE NUNCA PAROU DE SE APRIMORAR ................................. 191 3.3 A FOTOGRAFIA PERICIAL: ENTRE TESTEMUNHO E VERDADE ................................ 194 3.4 FOTOGRAFIA E REALIDADE VIRTUAL .............................................................................. 195 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 201 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 202 TÓPICO 3 — ABRANGÊNCIA E PRÁTICAS FOTOGRÁFICAS ........................................... 204 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 204 2 SOU FOTÓGRAFO: E AGORA? .................................................................................................. 204 3 PRIMEIROS PASSOS NA ÁREA ................................................................................................. 205 3.1 O ESTÚDIO DE FOTOGRAFIA PRÓPRIO ............................................................................. 207 3.2 REDE DE RELACIONAMENTOS E DIVULGAÇÃO DOS TRABALHOS ........................ 210 3.3 A FOTOGRAFIA DE MODA E PUBLICIDADE ................................................................... 211 3.3.1 O corpo e a sua visualidade ............................................................................................. 212 3.3.2 A fotografia de moda ....................................................................................................... 215 4 PRÁTICAS MAIS COMUNS DO FOTÓGRAFO CONTEMPORÂNEO ............................. 219 4.1 EVENTOS, RECÉM-NASCIDOS, PETS, PRÁTICAS DO COTIDIANO, CASAMENTOS ....................................................................................................... 220 4.2 OBJETOS, FOTOGRAFIA DE CULINÁRIA, PAISAGEM .................................................... 220 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 221 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 223 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 224 1 UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • apreender a fotografia como evolução das representações imagéticas intrínsecas ao gênero humano ao longo da História; • compreender o funcionamento da representação e fixação de imagens em suporte físico através da luz e materiais reagentes permitindo a fixação; • conhecer o conceito de fotografia a partir das vertentes teóricas dos séculos XIX e XX, após o desenvolvimento da técnica por Joseph Nicéphore Niépce e Louis Jacques Mandé Daguerre; • refletir sobre a natureza da fotografia como linguagem e modo de comunicação; • conhecer os trabalhos de grandes nomes da fotografia. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DA IMAGEM À FOTOGRAFIA: PANORAMA HISTÓRICO TÓPICO 2 – TÉCNICAS E CORRENTES FOTOGRÁFICAS TÓPICO 3 – SEMIÓTICA E FILOSOFIA DA IMAGEM: ENTRE PERCEPÇÃO, REPRESENTAÇÃO E EXPRESSÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 DA IMAGEM À FOTOGRAFIA: PANORAMA HISTÓRICO 1 INTRODUÇÃO A imagem povoa o inconsciente coletivo da humanidade desde os tempos mais remotos. Populações pré-históricas de caçadores e guerreiros, tribos nômades atravessando o deserto ou habitando e ilustrando cavernas com suas narrativas e estratégias de caça no cotidiano, eis o seu papel inicial. A capacidade pensante dos indivíduos passa pelo recurso à imagem: imaginar com efeito possui, na origem, a ideia de visão, contemplação mental. Se para Paul Klee (1959), artista e professor da Bauhaus, uma linha é um ponto que se põe a passear, os pontos povoavam o imaginário do homem primitivo: esquisses de ações planejadas, desenhos rupestres, vestígios de intencionalidades, representações e concepções de mundo; as pinturas a seguir, numa época de representação do sagrado e embates entre iconoclastas e iconódulos sobre a natureza das pinturas religiosas, o sagrado a serviço da expansão religiosa e no Iluminismo, o olhar centrado na representação pictórica do humano: a imagem esteve presente ao longo dos séculos nas diversas civilizações, a ponto de podermos nos questionar que toda nossa concepção de mundo passa pelos elementos visuais com os quais nos deparamos no dia a dia. Na sociedade contemporânea isso se confirma, ao estarmos imersos num universo de imagens e símbolos gráficos de toda sorte, com finalidades diversas: significar, mostrar, comunicar. Iconoclastia [do gr. Eikon (ícone) + klastein (quebrar) caracteriza o movimento político religioso de contestação à veneração de ícones religiosos, surgido no século VIII no Império Bizantino. A ele opõe-se o termo Iconodulia [gr. Eikon (ícone) + dulos (serviço), é o serviço às imagens. FONTE: <https://www.dicionarioinformal.com.br/iconodulia/>. Acesso em: 1º jun. 2020. NOTA UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA 4 A Bauhaus foi uma escola de arte/arquitetura fundada na Alemanha em 1919 e fechada pelo Nazismo, em 1933. Verdadeiro fenômeno, propunha linhas simples e casas acessíveis, com uso de concreto, vidro e aço e dando origem ao estilo industrial. FONTE: <https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-20/bauhaus/>. Acesso: 1º jun. 2020. IMPORTANT E Assista ao vídeo: O diário de um artista e conheça a filosofia de Paul Klee sobre planos e linhas, disponível no link: https://www.jornale.com.br/single-post/2017/10/23/ Pontos-linhas-e-planos-para-um-ensino-na-arte-pr%C3%A1tica. A obra de Roberto Casati, A descoberta da Sombra (2017), com tradução de Eduardo Brandão retraça vários estudos realizados sobre a apreensão das sombras ao longo de épocas. Nela você encontrará explicações matemáticas, o pensamento quinhentista sobre perspectiva, entre outras informações pertinentes para o estudo no campo da fotografia. DICAS DICAS 2 A IMAGEM COMO LINGUAGEM: ORIGENS As pinturas rupestres são os vestígios mais antigos de que se tem conhecimento até os dias de hoje. Vários registros testemunham dessa época remota, em que o homem sapiens traçou nas paredes das cavernas seu desejo de comunicar: estratégias de caça, vida em grupos, objetos do cotidiano eram registrados na pedra. Assim protegidos, sobreviveram ao tempo até a atualidade como formas de representação do passado. Para Santaella e Nöth (2001, p. 15): “Não há imagens como representações visuais que não tenham surgido de imagens na mente daqueles que as produziram, do mesmo modo que não há imagens mentais que não tenham alguma origem no mundo concreto dos objetos visuais”. TÓPICO 1 — DA IMAGEM À FOTOGRAFIA: PANORAMA HISTÓRICO 5 Os registros preservados, datandodas eras pré-históricas que testemunham do valor que a imagem assumia no cotidiano das povoações mais remotas, são abundantes e portadores de aspectos variados: • Religiosidade: presente nos vestígios mais remotos do Neolítico pré-cerâmica. Um exemplo são os registros do templo de Gobekli Tepe, na Turquia, na Era neolítica pré-cerâmica, cerca de 7 a 8.000 a.C., conforme figura a seguir. FIGURA 1 – CENA DE GOBEKLI TEPE FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-photo/beginning-time-ancient-site-gobekli- -600w-1425122534.jpg>. Acesso em: 1º jun. 2020. Atribuir às imagens um caráter sagrado é tão antigo quanto a própria humanidade. Mammi (2012, p. 122) aborda a legitimidade da arte em representações pictóricas nos primórdios do Cristianismo. As imagens arqueirótipas ou produzidas pela vontade divina, sem as mãos do artista, são de dois tipos: ícones (pintados por intervenção angélica) e imagens produzidas por contato direto com o corpo e impressão, como uma fotografia (o santo sudário, as relíquias). UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA 6 Imagens arqueirótipas refere-se à técnica zen dos arqueiros orientais: resultam de “uma experiência direta, imediata, não filtrada pelo intelecto” (HERRIGEL, 2013, p. 5) A técnica Zen é excelente para a fotografia. NOTA • Estratégias, vida cotidiana: cenas do confronto homem-animal, e seus medos e anseios, representam caçadas realizadas pelo homem primitivo estão presentes por todo o planeta, muitas delas em excelente estado de conservação. Veja na figura a seguir. FIGURA 2 – CENA DE CAÇA NA CAVERNA DE VEZÈRE FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-photo/vezere-valley-france-april- -22-600w-659932630.jpg>. Acesso em: 26 jun. 2020. Você poderá refletir sobre as pinturas rupestres e o valor representativo das imagens sobre os seres humanos assistindo ao filme: A caverna dos sonhos esquecidos, de Werner Herzog, no link: https://www.youtube.com/watch?v=NfF989-rW04. NOTA TÓPICO 1 — DA IMAGEM À FOTOGRAFIA: PANORAMA HISTÓRICO 7 • Comunicação: movidos pelo desejo imanente de comunicar-se, os primeiros homens materializaram, através do recurso à inscrição, intenções, aspectos da vida cotidiana, negociações etc. Na Babilônia, usava-se pedaços de madeira ou ossos em forma de cunha, de onde o termo “cuneiforme”, para designar os vestígios hieroglíficos gravados em tábuas de argila. Destas representações pictóricas foram aos poucos surgindo os primeiros alfabetos, pictóricos e rudimentares, como pode ser observado na Figura 3. FIGURA 3 – ALFABETO PICTÓRICO EGÍPCIO SOBRE PAPIRO FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-illustration/old-vertical-textured-papyrus-scroll- -600w-1092559769.jpg>. Acesso: 1º jun. 2020. Na imagem é possível observar a representação de objetos, seres, atividades, caracterizando as primeiras formas de escrita representativas da linguagem verbal. Sobre os suportes empregados para a inscrição de pictogramas caracterizando as escritas ao longo do tempo e das civilizações, ler: ROTH, Otávio. O que é papel. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983. DICAS UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA 8 Através da imagem, os homens manifestavam um desejo de preservação, vínculo entre uma realidade e a posteridade. Assim, no Egito, as imagens desenhadas sobre tumbas revelam um papel sagrado: acreditava-se que nada seria pior do que ter seus desenhos raspados (CARVALHO, 2018, p. 13). A representação imagética também serviu para ilustrar rotas primitivas no Oriente, fazendo nascer a cartografia. Ao ser inventado na China, o papel passou a servir de suporte para desenhos coloridos e significativos, por volta do século IV a.C. (CARVALHO, 2018, p. 13). • Proporcionalidade geométrica: há milênios o homem vem observando o uni- verso que o rodeia, impregnando-se de suas imagens e proporções. Dedicou à representação por imagens diferentes matérias ao longo dos tempos ao tornar o tema, desde a época clássica, objeto das ciências. O desenvolvimento de mate- riais e técnicas, nos séculos XV e XVI, como as tintas a óleo, as telas e o cavalete impulsionaram o desenho e a pintura (CARVALHO, 2018. Assim, à imagem são associadas noções matemáticas e de proporcionalidade, que lhe conferem estética e qualidade ao olhar. Você com certeza já prestou atenção nas propor- ções e simetrias dos desenhos e pinturas de Leonardo Da Vinci, como a última ceia, datando do século XV, conforme Figura 4. FIGURA 4 – REPRODUÇÃO GRÁFICA DA TELA ÚLTIMA CEIA, DE LEONARDO DA VINCI, MILÃO FONTE: <https://img.huffingtonpost.com/asset/569e7ad32a00002c00030c94.jpe- g?ops=1778_1000>. Acesso: 5 jan. 2020 Do ponto de vista da História, as representações através da imagem podem ser entendidas como o “relacionamento de uma imagem presente e de um objeto ausente” (CHARTIER, 2002, p. 20). IMPORTANT E TÓPICO 1 — DA IMAGEM À FOTOGRAFIA: PANORAMA HISTÓRICO 9 A imagem apresenta simetria e equilíbrio das proporções aplicadas ao espaço: 12 apóstolos, seis de cada lado, agrupados três a três, e Jesus Cristo ao centro. Ao fundo, três janelas, a figura sagrada diante da janela do meio. Linhas em perspectiva dirigem-se ao horizonte delineado ao fundo, nas paisagens percebidas pelas janelas. A Matemática, fascínio das elites culturais da época, predomina em toda a imagem. Casati (2017), em A descoberta da Sombra, apresenta esses aspectos e também o modo como a sombra, a partir do sol, contribuiu a desenvolver o pensamento da perspectiva e sua aplicação à pintura. Leonardo da Vinci: maior representante da pintura renascentista, também da escola florentina – de Florença, Itália. Considerava-se, antes de tudo, um cientista. Inovou com a técnica da perspectiva dando realismo ao espaço e a luz. Projetou máquinas e objetos voadores. Estudou as principais matérias científicas do período, dentre as quais: mecânica, ótica, anatomia e astronomia. Usou com maestria a técnica do sfumato, mistura de tons claros e escuros (CARVALHO, 2018, p. 15). FIGURA - DESENHO DE LEONARDO DA VINCI FEITO POR COSOMO COLOMBINI FONTE: <https://s5.static.brasilescola.uol.com.br/img/2018/03/davinci.jpg>. Acesso em: 26 jun. 2020. NOTA UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA 10 Sobre “proporcionalidade” nas imagens – desenho e pintura –, não deixe de ler este artigo bem elucidativo: CO39: proporcionalidade e arte em diferentes culturas, da Antiguidade ao Renascimento, escrito por Fátima Suely Gonçalves e Helenalda Naza- reth. Disponível em: http://www2.fe.usp.br/~etnomat/site-antigo/anais/CO39.html. DICAS A partir desta jornada pela História, você pôde perceber o desejo antigo da humanidade em registrar para a posteridade, através da imagem, sua presença e sua passagem pela Terra. Cada época, assim, testemunha desse desejo, segundo as técnicas de que se dispunha e o desenvolvimento de tecnologias específicas para aperfeiçoá-lo. A seguir, veremos como este desejo levou ao desenvolvimento de teorias específicas no âmbito da Ótica, desde épocas muito remotas. Veja, no subtópico a seguir, o tratado de Ótica e a câmara obscura. 3 TRATADO DE ÓTICA E CÂMARA ESCURA Como vimos no subtópico anterior, desde os primeiros tempos, o ser humano foi sensível ao universo que o cercava. Daí extraiu e aí aplicou sua capacidade a observar contornos, movimentos, sucessões de ações ocorridas no tempo, proporcionalidades. Uma sombra projetada no chão, dava-lhe as primeiras noções de contraste. E passou, naturalmente, a registrá-las em diferentes suportes para depois observá-las, entendê-las e, quem sabe, reproduzi-las. Instaurava-se, dessa maneira, uma relação temporal entre um objeto capturado – a cena de caça, a fé religiosa, um contorno de montanha ou curva de rio presentes em seu relevo – que configurava o seu cotidiano. Para Maya (2008, p. 106): Ao se deslocar durante o dia, o homem primitivo percebeu que as imagens situadas ao longe se alteravam com relação à luz, à sombra e à cor: estava sendo criada a ideia de uma fotografiaanimada, associada à noção de movimento. Como tela de projeção, este embrião da técnica fotográfica usava um ambiente familiar ao homem daqueles tempos: a própria terra. A invenção da câmara escura ou obscura – as duas denominações são utilizadas – é atribuída ao chinês Mo Tzu, no século V a.C. Aristóteles, porém, em sua obra Problemas (apud HOMELAB, 2019) observa que a luz do sol, ao penetrar em recintos fechados através de furos provoca um efeito de inversão da imagem exterior, e que este efeito apresenta variações segundo o diâmetro do furo. Fala, então de estenótipo – de stenos (estreito) e opis (futo), em inglês pinhole (buraco da agulha) (HOMELAB, 2019). 11 A Figura 5 apresenta uma representação do princípio da câmara escura descrito anteriormente: FIGURA 5 – REPRESENTAÇÃO DA CÂMARA ESCURA DE ORIFÍCIO – LEONARDO DA VINCI FONTE: Maya (2008, p. 107) Por volta do século X, o árabe Ibn Al Haitan, ou Alhakem de Basora chegou ao fenômeno ao observar a reflexão de raios solares para dentro de sua tenda. Ele teria percebido que cenas do exterior refletiam-se ao inverso na penumbra interior. Os alquimistas, então, aperfeiçoaram o sistema. Câmara Escura (ou câmara escura de orifício): equipamento formado por uma caixa de paredes totalmente opacas, sendo que no meio de uma das faces existe um pequeno orifício. Ao colocar-se um objeto, de tamanho o, de frente para o orifício, a uma distância p, nota-se que uma imagem refletida, de tamanho i, aparece na face oposta da caixa, a uma distância p', mas de forma invertida. A primeira ilustração de uma câmara escura foi publicada por Reiner Gemma Frisius, em 1554, no Tratado De Radio Astronomico e Geometrico Liber. FONTE: <https://www.sofisica.com.br/conteudos/Otica/Fundamentos/camaraescura.php>. Acesso: 3 nov. 2019. NOTA 12 Compreendendo o fenômeno da propagação da luz: a luz é uma forma de energia eletromagnética que se propaga em raios em linha reta a partir de uma fonte. Se em seu caminho um destes raios atinge uma superfície irregular ou opaca, ele é refletido de forma difusa – em todas as direções. Colocando-se a câmara escura diante de uma superfície específica, alguns destes raios passarão pelo buraco estreito e chegarão a projetar, em uma superfície plana no interior da câmara, a imagem invertida que se encontra do lado de fora. Isso porque cada raio se projeta de uma forma específica, o que permite a projeção da cena tocada do lado de fora. FONTE: <https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/historia-da-fotografia- no-brasil>. Acesso em: 1º jun. 2020. IMPORTANT E Durante muito tempo, a câmara escura e as possibilidades que oferecia para a transcrição pictográfica, foi a ferramenta de que se serviram desbravadores, pesquisadores e artistas, para transpor em diferentes suportes as vistas que desejavam perenizar. De cidades a relevos panorâmicos, pessoas a objetos, a câmara escura tornou possível delinear contornos antes apenas possíveis através de talentos artísticos pronunciados. Porém, no Renascimento, a noção toma uma outra dimensão para o que diz respeito aos estudos sobre a fotografia de que nos ocupamos: Leonardo Da Vinci, a partir da noção científica de perspectiva que dá aos objetos contemplados uma nova dimensão, integra a câmara escura e seu poder de impressão das imagens nas superfícies. O que antes, no mundo real, existia sob três dimensões – altura, largura, profundidade – passa a ter existência no plano bidimensional – altura x largura com impressão de profundidade. A descoberta torna possível a reprodução mecânica das propriedades do mundo real tais quais o olho as observa e integra significativamente. Quanto aos diversos materiais e substâncias empregados, datam de 1525 experiências realizadas com o escurecimento de sais de prata e, em 1604, o químico italiano Ângelo de Sala torna conhecida a técnica de oxidação de compostos de prata quando expostos à luz solar. Esta técnica é confirmada por farmacêuticos, na época (AZEVEDO, 2019). Em 1558, o italiano Giambattista della Porta descreve, em sua obra Magia Naturalis o funcionamento pormenorizado da câmara escura. A obra foi sucesso imediato, sendo traduzida para vários idiomas, em menos de dez anos. A partir de então, a técnica incorpora pesquisas e usos variados, numa tentativa de registrar e fixar sobre o papel as imagens captadas. Ainda no século XVI, a câmara escura é dotada de lentes biconvexas, diafragma e espelho (LOPES, 2009). 13 A figura a seguir apresenta um comparativo entre o olho humano e os mecanismos de representação das imagens. Veja como a técnica é similar aos mecanismos naturais conferindo o sentido da visão: FIGURA 6 – COMPARATIVO ENTRE O FUNCIONAMENTO DO OLHO HUMANO E A TÉCNICA DE CAPTURA DE IMAGENS FONTE: <https://image.slidesharecdn.com/instrumentosticos-150929155739-lva1-app6892/95/ instrumentos-ticos-20-638.jpg?cb=1443542580>. Acesso em: 2 jun. 2020 As primeiras câmaras obscuras eram verdadeiros compartimentos e os artistas ficavam dentro delas, enquanto as imagens eram projetadas sobre pergaminhos e/ou telas. Com o passar do tempo, perceberam que poderiam realizar o mesmo fenômeno servindo-se de câmaras menores e fixando as imagens sobre placas sobre as quais as imagens se delineavam. Agora que você já percebeu a semelhança entre a técnica de captura de imagens e a percepção do olho humano, vamos abordar o domínio da fixação das imagens percebidos em suporte duradouro. É o que apresenta a seção a seguir: De Niépce e Daguerre à digitalização: um processo. PORTA, Giambattista della. Magia naturalis: how we may see in a chambre things that are not – Livro XVII, Capítulo XII – Tradução para o inglês em 1658. Disponível no link:https://web.archive.org/web/20180414154058/http://www.mindserpent.com/Ame- rican_History/books/Porta/jportac17.html#bk17IX. O texto em inglês narra com precisão a experiência da câmara escura e como se torna possível ver no interior de um compartimento elementos que aí nunca estiveram. DICAS DIAFRAGMA DA IRIS OBJETO LENTE FILME ABERTURA PUPILA OBJETO RETINA CRISTALINO IRIS 14 4 DE NIÉPCE E DAGUERRE À DIGITALIZAÇÃO: UM PROCESSO A Revolução Industrial, ocorrida na Europa entre finais do século XVIII e inícios do século XIX foi a máquina propulsora de inventos da mais variada espécie. É desse período que data a invenção da fotografia impressa como processo inovador de informação e conhecimento, instrumento de apoio às pesquisas científicas em suas mais variadas áreas, bem como forma de expressão artística. Destacam-se os seguintes nomes e fatos: • Joseph Nicephore Niépce, francês que, nos finais do século XVIII realiza experiências com a captação de imagens através da câmara escura sobre placas de papel obtido a partir de cloreto de prata. Estas imagens, porém, com o tempo desapareciam. Em 1826, no entanto, cobre uma placa de estanho com betume e a deixa exposta ao sol durante 8 horas. Após decorrido esse tempo, retira da placa as partes não ensolaradas com uma solução de alfazema. Surge o que se tornou a primeira fotografia, veja na figura a seguir. FIGURA 7 – PRIMEIRA FOTOGRAFIA, 1826, DE JOSEPH NICEPHORE NIÉPCE FONTE: <https://bit.ly/3mQLPgr>. Acesso em: 2 jun. 2020. Foto (luz) + grafia (escrita) = fotografia, que significa a escrita através da luz. Como Niépce se serviu da luz solar, chamou sua técnica de “Heliografia”. IMPORTANT E 15 A partir de então, a técnica é aprimorada e surgem mais registros, tanto de Nicéphore Niépce, quanto de outros autores. Veja na Figura 8, outro registro de Isaac Briot, de 1870. FIGURA 8 – HELIOGRAFIA DO CARDEAL GEORGES D’AMBOISE FONTE: <https://www.musee-orsay.fr/typo3temp/zoom/tmp_b188eb8da981040e46b74c1f13fa- 5d0b.gif>. Acesso em: 2 jun. 2020. • Louis Jacques Mandé Daguerre, também francês, realizava experiências com o processo de impressão das imagens sobre superfícies empregando materiais diversos, diferentemente de Niépce. Em 1821, cria o diaporama,e, em 1839, registra a primeira patente para um processo fotográfico: o daguerreótipo. Este sucesso foi obtido a partir de sua iniciativa de querer popularizar a técnica de fixação das imagens, projeto para o qual obteve a adesão do governo francês. FIGURA 9 – ILUSTRAÇÃO DE UM DOS PRIMEIROS MODELOS DE CÂMERAS – SÉC. XIX FONTE: <http://www.mnemocine.com.br/fotografia/images/daguerre_camera.jpg>. Acesso em: 26 jun. 2020. 16 Com o daguerreótipo inventado por Daguerre, era possível fixar as imagens obtidas em uma câmara escura em uma folha de prata aplicada sobre uma placa de cobre. O daguerreótipo populariza a técnica de fixação das imagens e, rapidamente, torna-se um objeto de desejos por parte de toda a sociedade da época. O processo de aparição das imagens durava em torno de 25-30 minutos. O daguerreótipo forma uma imagem tanto positiva quanto negativa, pois a imagem é obtida sobre a própria placa que, além do mais, por não haver “revelação”, aparecia sempre invertida – como quem se olha em um espelho. Datam desse período os retratos de família, que passam a substituir a pintura (AZEVEDO, 2019). IMPORTANT E • John Goddard: químico inglês que, em 1840, inventa lentes de maior abertura. • William Henry Fox Talbot: também inglês, inventa, em 1841, o calótipo, um meio de obter cópias das fotografias a partir de negativos que devem, em seguida, ser reproduzidos em positivos. Nasce a técnica da fotografia que permaneceu em uso até o advento da era digital. • Jacques Clerk Maxwell: escocês, auxiliado pelos franceses, os Irmãos Lumière – que mais tarde vão desenvolver a imagem movente, o cinema – obtém, em 1861, a primeira fotografia colorida utilizando um método de imersão seca de brometo de prata em colódio. • Ducos Du Hauron, francês, desenvolve em 1877, em Agen, França, a impressão de três negativos com filtros de cores azul e vermelho, veja na Figura 10. FIGURA 10 – VISTA DU BOULEVARD DU TEMPLE - DAGUERRE FONTE: <https://fotografiatotal.com/wp-content/uploads/2013/07/Oldest-Photograph-of-a-Hu- man.jpg>. Acesso em: 2 jun. 2020. 17 • Richard Leach Madox: médico inglês, aperfeiçoa o processo de emulsão seca com brometo de prata em colódio, substituindo o colódio por placas de gelatina (AZEVEDO, 2019). • George Eastman: americano e fundador da Kodak, contribui à popularização do procedimento de captação de imagens ao desenvolver uma chapa fotográfica seca, o que tornava mais prático o procedimento de captura das imagens, que até então demandava a imersão em líquidos e uso imediato, antes da secagem. O método desenvolvido por Eastman utiliza películas de celulose em rolos. Ele também é responsável por diminuir a câmara escura, o que tornou a manipulação do sistema bastante acessível ao público, já que antes o fotógrafo era obrigado a transportar a câmara escura para os locais de captura da imagem. Há uma polêmica, porém, quanto à real descoberta da técnica fotográfica por Niépce e Daguerre, pois, enquanto estes registravam definitivamente seus nomes como inventores da fotografia, no Brasil, o francês de nascimento, mas residente aqui, Hercules Florence, 3 anos antes dos seus conterrâneos, desenvolvia a técnica de impressão de imagens através da luz. Auxiliado pelo botanista Joaquim Corrêa de Mello, que lhe recomendou os sais de prata, Florence levou a termo um desejo que tinha de possibilitar às pessoas a impressão de imagens com recurso a alguma técnica acessível. Quando conseguem o feito, Florence e Mello a denominam fotografia – a escrita pela luz. A obra de Florence ganhou notoriedade após a publicação do livro 1833: a descoberta isolada da fotografia no Brasil, de Boris Kossoy, em 1980. Na obra, o autor apresenta em detalhes os trabalhos e a descoberta de Florence. Eastman foi o precursor na fotografia da longa trajetória de miniaturização e portabilidade dos aparelhos, o que transformou a fotografia numa forma de expressão, comunicação, representação de ideias e concepções de mundo que, desde então, não cessou de se propagar. Desde aqueles tempos, então, o mundo começou a ser retratado pelo olhar atento de pessoas de posse, num primeiro momento, indivíduos cada vez menos especializados e cidadãos comuns, a seguir, até chegar às crianças e mesmo animais na atualidade. Em 17 de janeiro de 1840, o Jornal do Commercio publica o texto: “É preciso ter visto a cousa com os seus próprios olhos para se fazer ideia da rapidez e do resultado da operação. Em menos de nove minutos, o chafariz do Largo do Paço, a Praça do Peixe e todos os objetos circunstantes se achavam reproduzidos com tal fidelidade, precisão e minúcia, que bem se via que a cousa tinha sido feita pela mão da natureza, e quase sem a intervenção do artista”. FONTE: <https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/historia-da-fotografia- no-brasil>. Acesso: 2 jun. 2020. NOTA 18 A tabela a seguir apresenta uma visão das inovações na técnica da fotografia, do século XX até a atualidade. TABELA 1 – EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS FOTOGRÁFICAS DURANTE O SÉCULO XX FONTE: Lopes (2009, p. 18) Como você pôde observar pela tabela, há uma evolução no desenvolvimento das técnicas fotográficas a partir do século XX. Da mesma maneira, uma trajetória longa separa as primeiras imagens registradas e o desenvolvimento das técnicas de percepção, primeiramente, e de fixação sobre material físico, em seguida, das imagens percebidas. Falar de descoberta ou invenção da fotografia significa levar em consideração as múltiplas descobertas progressivas que culminaram, então, com os dispositivos fotográficos desenvolvidos no auge da civilização científica dos anos mil e oitocentos. Terminamos, então, este primeiro tópico, em que você descobriu a trajetória da humanidade entre a percepção das imagens e a sua reprodução em suporte físico, conhecido como “fotografia”. No tópico a seguir, vamos nos concentrar nesse fenômeno que possibilitou retratar todos os tipos de situações e panoramas, levando à evolução das ideias e o deleite da sociedade. DESCOBERTA/INOVAÇÃO ANO Autochrome 1907 Câmara 35mm 1912 Filme diapositivo 1935 Negativo colorido 1942 Polaroid 1947 Fotocélula 1963 Câmara Digital Sony 1980 Que tal assistir ao vídeo do canal Culto Circuito: uma entrevista com Afonso Rodrigues sobre a História da Fotografa. Disponível no link: https://www.youtube.com/ watch?v=BcjZhOL1qIo. Nele você terá estas e outras reflexões sobre as origens da fotografia e os impactos que a técnica causou. DICAS 19 Neste tópico, você aprendeu que: • A imagem acompanha a humanidade desde seus primórdios e representa um anseio antigo de perenidade. • Ao penetrar por um orifício em um compartimento escuro, os raios solares imprimem, no interior, as imagens incidentes no exterior: este fenômeno ficou conhecido como “câmara escura” ou “câmara obscura” e é conhecido há milênios. • A técnica foi aprimorada durante séculos, até que Niépce e Daguerre conseguiram fixar em suporte físico as imagens projetadas no interior da câmara escura: estava, então, inventada a fotografia. • Várias técnicas aperfeiçoaram a descoberta fotográfica: heliografia, daguerreótipo, autocromo, filme negativo, até chegar à tecnologia digital da atualidade. RESUMO DO TÓPICO 1 20 1. Considere as cinco imagens e os eventos descritos a seguir. Através deles, retrace o surgimento da fotografia na sociedade, apoiando-se nas informações fornecidas e também nos conteúdos abordados. Você pode escolher entre um mapa mental, um texto dissertativo, uma enumeração em tópicos. O essencial é que as informações importantes quanto ao surgimento da técnica fotográfica na sociedade da época estejam presentes. Imagens famosas: I - Os telhados da vila vistos de sua casa de campo de Le Gras, na vila de Saint Loup de Varenne, perto de Chálon-sur-Saóne, sua cidade natal – Niépce. II - Mesa Posta, cujo original desapareceu misteriosamente pouco tempo depois da exposição, ocorrida em 1890, e dele só se conhece uma reprodução,feita a partir de um original sobre vidro, apresentada, naquele ano, à Sociéte Française de Photographie. III - Janela da biblioteca da abadia de Locock Abbey, considerada a primeira fotografia obtida pelo processo negativo/positivo – de William Henry Fox Talbot. IV - 1840 – Chegada do daguerreótipo ao Rio de Janeiro e tomada do Largo do Paço. V- 1844 – Publicação por Talbot do: The pencil of Nature, primeira obra ilustrada com fotografias, editada em seis volumes com 24 talbótipos originais. Apresentava as explicações detalhadas dos trabalhos, estabelecendo certos padrões de qualidade para a imagem. AUTOATIVIDADE 21 TÓPICO 2 UNIDADE 1 TÉCNICAS E CORRENTES FOTOGRÁFICAS 1 INTRODUÇÃO Neste tópico serão abordadas as principais técnicas e correntes fotográficas que se destacaram ao longo dos tempos. Você conhecerá o processo histórico de surgimento da fotografia no Brasil, bem como o trabalho de alguns fotógrafos eminentes, cujas técnicas se destacaram na evolução da fotografia. O contexto histórico envolvendo o surgimento da fotografia compreende a efervescência científico-tecnológica a que a Europa assistia desde o século XVIII e a Revolução Industrial: novas fontes de energia, máquinas, construções Acadêmico, a fim de enriquecer sua trajetória, acostume-se a consultar regularmente periódicos e revistas específicas dedicadas ao tema da “Fotografia”. Por exemplo: • A Revista Zum, apresenta uma vasta gama de reportagens e temas diversos aliando fotografia, coletâneas, indicações de leituras etc. Disponível em: https://revistazum. com.br/. • Photomag, a revista on-line do Instituto Internacional de Fotografia, apresenta conceitos aprofundados de fotografia, técnicas, imagens, dicas de aplicativos etc. Possui artigos esclarecedores sobre técnicas e comportamentos do fotógrafo na atualidade. Disponível em: https://www.iif.com.br/photomag/. • O site da Revista Fotografia Total apresenta uma lista de revistas on-line nacionais e internacionais (em língua inglesa, francesa e portuguesa de Portugal). Habitue-se a consultar as páginas e constituir o seu repertório de conhecimentos individualizados, segundo suas preferências. Disponível em: https://fotografiatotal.com/as-24-melhores- revistas-de-fotografia. Se você preferir revistas em suporte físico, temos como exemplo: Fotografe Melhor, Revista Fotografia ou a Revista Phox, que você, acadêmico, poderá encontrar em bancas ou acessar o site e assiná-las. DICAS 22 UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA engenhosas e transformações na sociedade dotam o homem de uma nova visão, de um “admirável mundo novo” em que o humano se vê capaz de dominar as forças naturais e as ciências para reinar soberano. As imagens tornadas possíveis através da técnica fotográfica contribuem à expansão desse pensamento. Num primeiro momento, privilegiaram os temas derivados das tradições pictóricas: retrato, paisagem, natureza morta. Até então o retrato, já praticado no Egito, na Grécia e em Roma para finalidades diversas e adquirindo gênero autônomo no século XVI, vigorava como símbolo de uma classe burguesa que se queria representada. Diversas escolas e gêneros desenvolvem, por técnicas diversas, retratos de membros das famílias abastadas. É a representação da imagem perenizada pela pintura e pelo desenho. O desenvolvimento da fotografia levará à substituição dos retratos pin- tados pelos retratos fotografados, que adentram os lares e setores da sociedade para aí fincar-se como gênero institucionalizado e vocacionado a perenizar épo- cas. É assim que o século XX assiste a uma explosão de fotógrafos, munidos dos mais diversos aparatos, para eternizar sentimentos, as paisagens mutantes pela urbanização das metrópoles, novos hábitos de lazer e cultura numa sociedade em total transformação. Ao mesmo tempo, um gosto estético pronunciado tanto pela técnica quanto pelos objetos diante da objetiva desenvolve-se. A fotografia torna-se testemunha de vivências, recurso de especialidades científicas em que tornará a compreensão dos fenômenos acessível e objetiva, ne- cessidade social que faz conviverem os estúdios fotográficos com igrejas, pada- rias, açougues, consultórios de médicos. Ou seja: o fotógrafo adquire um prestí- gio social que o torna indispensável na sociedade. Neste tópico, você verá numa primeira seção, as grandes etapas da fotografia através do tempo e do mundo e, numa segunda etapa, as categorias de fotografias que marcaram épocas. 2 A FOTOGRAFIA NO MUNDO E NO BRASIL No contexto histórico em que a fotografia se desenvolveu, as mudanças ocorrem sobretudo no campo das ideias: de repente, foi dada a todos, a Admirável Mundo Novo é um romance de ficção do escritor inglês Aldous Huxley, escrito em 1931 e ambientado em Londres no ano de 2540 – ou 632 d.F. (depois de Ford), quando a civilização do progresso é profetizada. Está entre as cem maiores obras da Literatura Britânica e vale a leitura: HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. 22. ed. Trad. de Lino Vallandro e Vidal Serrano. São Paulo: Editora Globo, 2014. DICAS TÓPICO 2 TÉCNICAS E CORRENTES FOTOGRÁFICAS 23 possibilidade de acessarem a um universo idealizado e construído, marco de um instante a ser engolido pelo tempo e pertencer ao passado, mas que poderia ser rememorado, perenizado pela fotografia. Assim, são consequências imediatas dessa técnica: • Natureza artística: o debate sobre a natureza artística do processo ou sua essência meramente comercial. Há forte resistência no mundo artístico- literário da época. Charles Baudelaire atribui à fotografia uma natureza diabólica (MAUAD, 1996). Como em todo desenvolvimento de uma nova técnica, a fotografia trouxe receio ao campo das artes e fez rediscutirem-se conceitos e práticas, e muitos pintores artistas acabaram migrando para o universo da fotografia, dentre eles, Nadar (BURMESTER, 2006). • Imagem documental: o uso institucionalizado da imagem pessoal em documentos de identidade, passaporte, formulários de todo tipo, além do uso recreativo (FAHRI NETO, 2018). • Valor jurídico: a fotografia, vista como cópia fiel da realidade, tornou-se peça chave no campo forense – ela serve como prova pericial dos fatos em processos jurídicos e integra os diversos processos de legitimação pericial. • A fotografia como publicidade: como fator de atração e venda, os jornais passam a ilustrar as matérias que, até então, recebiam poucas ilustrações gráficas. A descoberta da técnica integra os gêneros do discurso – jornalístico, panfletagem etc. – e as práticas sociais. • A memória preservada: registro das datas marcando passagens rituais dos processos da vida, como batizados, casamentos e morte, fixadas pelas fotografias. Neste aspecto, a fotografia se torna registro histórico (MAUAD, 1996); • O discurso reconfigurado: “a técnica fotográfica invade o imaginário popular e reconfigura a linguagem com frases do tipo: ‘Uma foto vale mais que mil palavras’, ‘Mais vale uma foto que longos discursos’, ‘Não fotografou? Dançou!’” (FIGUEIREDO, 2005, p. 204). No portal Domínio Público, do governo federal, você pode consultar a dissertação de mestrado de Cristiano Franco Burmester (2006) e conhecer mais implicações da natureza da fotografia no período. Intitulada Fotografia: do analógico para o digital: um estudo das transformações no campo da produção de imagens fotográficas, está disponível para download no endereço: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=32761. DICAS 24 UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA • A evidência da natureza humana: porque, subitamente, as pessoas percebe- ram a passagem inevitável do tempo e que todas coisas desaparecem, as fo- tografias sobreviveriam para reativar a memória. O mundo adotou-a como prática em todas as situações do cotidiano, em formas ortodoxas exibindo a sua crueza – fotografias de mortos no caixão e registro testemunhal de exter- mínios em larga escala (I Guerra Mundial).A popularização da técnica fotográfica pelo mundo deu-se, sobretudo, a partir de dois eventos de proporções globais e pouco relacionados ao prazer que a fotografia provoca. • A crise de 1929: conhecida como “o crash do século”, iniciou com uma queda brutal na bolsa de Nova Iorque e levando à falência inúmeros investidores americanos antes de se alastrar mundo afora. Esta situação de crise que se seguiu, levou todo o setor econômico e produtivo a refletir sobre o futuro. Investimentos são feitos em cima de previsões. A aposta em bens de consumo atrativos incluiu as máquinas fotográficas, pois a técnica havia caído no gosto das classes mais elevadas. Como toda nova tecnologia atrai o público, após o crash americano, os aparelhos tornaram-se populares, aumentando as vendas e fazendo caírem os preços. Assim, em pouco tempo, a maioria das pessoas dispunha do seu aparelho e imortalizava aspectos da vida em sociedade. • A guerra fria dos anos 1960 e a corrida espacial: a competição entre sovi- éticos e americanos conduziu ao desenvolvimento de uma tecnologia foto- gráfica permitindo a captura de imagens espaciais sem necessidade de filme nem de um fotógrafo atrás da câmera. Esse fato foi o embrião da tecnologia digital. A sonda Mariner 4, em 1965, fez as primeiras tomadas de Marte – 22 imagens em preto e branco com 0,04 megapixels cada uma e que levaram qua- tro dias para chegar à Terra. O primeiro passo estava dado para a expansão da fotografia digital pelo mundo (LEITE, 2009). Estes dois acontecimentos foram propulsores da popularização das técnicas fotográficas pelo mundo. De modo particular, a dicotomia que marcou e marca o discurso das ideias e a fotografia, é seu caráter de arte. Esta polêmica inicial das correntes de ideias europeias dos séculos XIX e XX sobre o verdadeiro estatuto da fotografia, aca- bou resolvida pelas práticas sociais e os usos distintos reservados a fotografia. Na atualidade, a dicotomia encontra-se, sobretudo, no campo da fotografia como marco de uma realidade captada, o momento ocorrido no instante do declique e a fotografia resultante das múltiplas possiblidades proporcionadas tecnologia digital. Pela natureza da imagem fotográfica e a abrangência mundial que a imagem alcançou, a fotografia foi a causa maior da mudança de paradigma da sociedade marcada pela escrita, linear, para uma sociedade impregnada da imagem e a coexistência dinâmica de fatores simultâneos (DUBOIS, 2017). Ao Brasil, como vimos, a fotografia chega na primeira metade do século XIX, após introdução da técnica litográfica, trazida em 1817 pelo artista francês Arnaud Julien Pallère. Aqui, a técnica teve ampla aceitação entre os membros da TÓPICO 2 TÉCNICAS E CORRENTES FOTOGRÁFICAS 25 família real e das elites cariocas. Daí resultam retratos do príncipe regente e sua família em um estilo despojado, se comparado ao estilo pomposo das pinturas reais europeias clássicas (CHIARELLI, 2005). Torna-se, assim, testemunha de uma época e um estágio de transformação do país, tarefa até então reservada ao francês Jean-Baptiste Debret e à Academia Artística. A seguir, veremos as grandes categorias de fotografias e os fotógrafos que marcaram época. 3 GRANDES CATEGORIAS DE FOTOGRAFIA Antes de tratarmos de categorias de fotografias e seus representantes, convém efetuarmos uma precisão sobre dois conceitos que se referem a duas palavras de uso corrente: fotografia e a forma reduzida foto. A fotografia, desde o seu surgimento, mostrou-se como forma de comunicação dotada de características e linguagem própria. A partir daí, foi empregada para finalidades diversas: • Lazer: numa primeira fase, as pessoas afortunadas – e que dispunham dos meios financeiros para pagar pelos serviços de um fotógrafo – acorreram para se verem retratadas e registrar tudo que o pudesse ser capturado para Convém enfatizar que, dentre as principais categorias de fotografia encontram- se o fotojornalismo, a fotografia de moda, a fotografia de publicidade e propaganda, de precisão científica e pericial, além dos usos sociais da fotografia para os quais, você, acadêmico, também estará preparado após esta formação: casamentos, batizados, festas e cerimônias em geral. Neste momento não abordaremos estas categorias de fotografia de maneira detalhada, já que serão aprofundadas na Unidade 3 desta obra. IMPORTANT E “Foto é a imagem obtida pelo procedimento da fotografia; Fotografia é o procedimento técnico que permite obter a imagem de um objeto” (SOULAGES,1986, p. 26). NOTA 26 UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA a posteridade pela objetiva dos fotógrafos – paisagens, objetos, cenas do cotidiano etc. São fotógrafos deste período: Nadar, Carjat, Le Gray. • Comunicação: uso da fotografia em cartões de visita – os foto-cartões criados por Disdéri (André Adolfo Eugênio) – a partir de 1850. A fotografia se torna acessível pelo avanço progressivo das técnicas de fixação da imagem permitindo várias impressões de imagens em uma mesma foto, além do barateamento progressivo dos custos relacionados ao processo. • Popularização da fotografia: por volta de 1880, com a adesão do público em geral e o desenvolvimento de técnicas facilitando o manuseamento e a revelação. Quem não pudesse adquirir o aparelho e os materiais, comparecia ao estúdio de um fotógrafo para fazer o(s) seu(s) retrato(s), normalmente famílias em grandes ocasiões compareciam ou faziam comparecer o fotógrafo aos eventos, uma tradição que se perpetua até os dias de hoje. • Duas fotografias: distinção da fotografia como representação e da fotografia como arte expressiva. Esta polêmica norteou o pensamento europeu a partir dos anos 1840 e durante aproximadamente um século. Grandes fotógrafos artísticos são: Nadar, Carjat, Le Gray, Hill, Adamson e Júlia Cameron. • A fotografia industrial: Disdéri destaca-se como fotógrafo interessado na venda de seu produto e não no valor artístico da técnica. Logo, inventa um formato reduzido 6x9 com 8 fotos numa prancha, o que barateia o produto e faz aumentar as vendas. A partir daí os produtos também passam a ser fotografados para as vendas. Evidentemente, também poderíamos classificar as imagens fotográficas segundo a finalidade, o suporte, a relação que estabelecem com os agentes envolvidos, produtor, receptor etc. Aqui estamos introduzindo o assunto, que será desenvolvido nos próximos tópicos e unidades. A seguir, vamos abordar alguns fotógrafos cujo papel foi decisivo no âmbito da fotografia e/ou da sociedade em que se inscrevem. Acadêmico, abordaremos este aspecto relacionado à fotografia no Tópico 3 deste livro. ESTUDOS FU TUROS TÓPICO 2 TÉCNICAS E CORRENTES FOTOGRÁFICAS 27 4 FOTÓGRAFOS QUE MARCARAM ÉPOCAS Agora que você já viu como a fotografia surgiu como técnica e prática social, vamos olhar com mais atenção para as pessoas que contribuíram, através da ação e prática da fotografia, a sua expansão e aprimoramento tanto como arte quanto produto inserido nas práticas sociais. Assim, você verá, num primeiro momento, os fotógrafos e amadores da fotografia pioneiros, nos séculos XIX e inícios do século XX. Em seguida, alguns nomes do ramo que mais se sobressaíram na fotografia até os dias atuais. Evidentemente, esta abordagem é arbitrária e alguns fotógrafos de renome, apenas, foram selecionados. Mas o leque de profissionais de destaque é imenso e você, acadêmico, poderá ampliar seus conhecimentos sobre estilos e fotógrafos a partir de suas leituras e pesquisas pessoais. Vamos lá! 4.1 OS PIONEIROS • Gaspar Félix Tournachon: mais conhecido como Nadar. Foi membro da Sociedade Francesa de Fotografia e como fosse também voltado a voar, autor da primeira foto aérea de Paris. Fotografou as maiores personalidades da época, veja na imagem a seguir. FIGURA 11 – NADAR. PRIMEIRA FOTO AÉREA (PARIS – 1858) FONTE: <https://fotografiatotal.com/wp-content/uploads/2013/07/first-aerial-photo.jpg>. Aces- so em: 2 jun. 2020. 28 UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIADA FOTOGRAFIA • Etienne Carjat (1828-1906): jornalista, caricaturista e fotógrafo, fundou a revista Le Boulevard. Ficou conhecido por seus retratos, caricaturas de pessoas influentes dos círculos de Paris nos fins do século XIX, seja na política, nas artes ou na literatura. São de sua autoria os célebres retratos de poetas, tais como, Arthur Rimbaud e Charles Baudelaire, veja na figura a seguir. FIGURA 12 – CARJAT. RETRATOS DE ARTHUR RIMBAUD FONTE: <https://www.meisterdrucke.pt/kunstwerke/500px/Etienne_Carjat_-_Portrait_of_Ar- thur_Rimbaud_aged_17_1871_-_(MeisterDrucke-385177).jpg>. Acesso em: 2 jun. 2020. • Gustave Le Gray: considerado o maior fotógrafo francês do século XIX, inovou na técnica e serviu de referência para muitos colegas de profissão, inclusive Nadar. Artista de formação, instruiu Duchamps na técnica e foi eleito fotógrafo oficial de Napoleão III. Suas inovações: encerar o negativo para obtenção de maior definição nos detalhes; desenvolvimento teórico do método do colódio úmido (atribuído a F. Scott Archer); dupla impressão com negativos – uso de uma tomada para a água e outra para o céu. • André Adolfo Eugênio Disdéri: iniciou na fotografia como daguerreotipista, mas adquiriu renome pela patente do cartão de visitas com imagem. Aderiu ao retrato de corte academista, gênero em que se procura revelar, através da imagem, características psicológicas da pessoa retratada. Veja na imagem, o seu autorretrato, que dá uma dimensão de como o fotógrafo concebia a exposição à captura pela imagem. TÓPICO 2 TÉCNICAS E CORRENTES FOTOGRÁFICAS 29 FIGURA 14 – ANDRÉ ADOLFO-EUGÊNIO DISDÉRI. AUTORRETRATO, C. 1860. PARIS, FRANÇA. ACERVO DA REUNIÃO DOS MUSEUS NACIONAIS FONTE: <https://bit.ly/343ImlW>. Acesso em: 26 jun. 2020. • Hill & Adamsom: Davi Otávio Hill (1802-1870) fotógrafo e pintor escocês, usou calótipos e tornou-se famoso por seus retratos. Robert Adamson (1821- 1848), foi químico e fotógrafo associado de Hill, famoso pela produção de retratos. Ambos trabalharam em conjunto e ficaram conhecidos por Hill & Adamson, uma sociedade que produziu retratos, paisagens e documentários sociais da época, na Escócia (Edimburgo), veja a figura a seguir. FIGURA 15 – HILL & ADAMSON. PESCADORAS DE NEWHAVEM FONTE: <https://images.metmuseum.org/CRDImages/ph/original/DP352694.jpg>. Acesso em: 2 jun. 2020. 30 UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA • Júlia Margarete Cameron (1815-1879): britânica famosa por retratar mulheres de destaque da época, dando um aspecto de foco suave a seus retratos. Por tratar a fotografia como arte e dar este aspecto nebuloso às tomadas que fazia, não foi devidamente reconhecida em seu tempo. Mas observe a ternura e a paz que se desprendem da imagem. FIGURA 16 – RELIGIOSIDADE E ARTE EM CAMERON FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-SPFmfqRUKSs/Vn_TCgnzLQI/AAAAAAAAAyg/PmDSWTM- -gYM/s1600/Virgin%2Band%2BChild.jpg>. Acesso em: 26 jun. 2020. • Antônio Hércules Romualdo Florence (1804-1879): francês radicado em Campinas, foi um dos inventores da Fotografia. Além de fotógrafo era desenhista e polígrafo. Tinha um interesse particular no índio. Desenvolveu um sistema de impressão da imagem por contato, de onde vem o termo “fotografia”, que quer dizer escrita pela luz. A ele é creditada a invenção da fotografia, três anos antes do feito por Daguerre, mas a contribuição do governo francês na obra deste acabou por apagar o feito de Florence. TÓPICO 2 TÉCNICAS E CORRENTES FOTOGRÁFICAS 31 FIGURA 17 – HÉRCULES FLORENCE. AUTORRETRATO FONTE: <https://www.cartamaior.com.br/arquivosCartaMaior/FOTO/1/hf2.jpg>. Acesso em: 2 jun. 2020. • Marc Ferrez (1843-1923): não poderíamos fechar esta seção sem citar o pionei- ro na crônica visual fotográfica do território nacional. Filho de pais franceses, foi o primeiro verdadeiro fotógrafo brasileiro. Entre 1864 e 1915, Ferrez per- correu o país inteiro para registrar paisagens urbanas e rurais. Metade desta produção retraça o Rio de Janeiro antigo e seus moradores (ESTEVES, 2019a). Se hoje conhecemos imagens reais do cotidiano da época, é graças à crônica visual estabelecida por ele, tanto de pessoas quanto, sobretudo, paisagens e arquitetura da época. São dele retratos que ficaram famosos, como o de Ma- chado de Assis e os primeiros cartões postais com vistas da capital, a Rio de Janeiro de então, veja na imagem a seguir. FIGURA 18 – MARC FERREZ. PANORAMA DO RIO ANTIGO FONTE: <http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/2578>. Acesso em: 2 jun. 2020 32 UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA Um artigo de Juan Esteves publicado na revista Fotografe Melhor apresenta uma visão de conjunto do trabalho de Marc Ferrez: O fotógrafo do Império retraça a crônica visual do Rio de Janeiro na virada do século, um trabalho apresentado no Instituto Moreira Sales até julho de 2019. Também retraça as viagens do fotógrafo pelo Brasil, apresentando imagens e seu contexto, bem como um breve glossário de termos da época: heliografia, daguerreótipo, calótipo ou talbótico, colódio, estereoscopia e lanterna mágica (ESTEVES, 2019a). DICAS 4.2 FOTÓGRAFOS DE TODOS OS TEMPOS Desde a invenção da fotografia até a atualidade, o número de profissionais que se destacaram na técnica é imenso, tornando-se difícil selecionar os melhores fotógrafos, pois nos faltariam critérios objetivos para aqui fazê-lo. Porém, na seleção apresentada a seguir, cada fotógrafo destacou-se por um ou outro critério que consideramos fundamental para o seu preparo nesta trajetória de formação em Fotografia. Vamos lá: • Henry Cartier-Bresson (1908-2004): francês, considerado o pai do fotojornalismo. Aprendeu as artes com André Lhote e o grupo cubista Section d’Or que se dedicava ao estudo da proporção áurea. Viajou para a África e, ao voltar, publicou suas fotos. Também estudou cinema e, com Jean Renoir, lançou Partie de Campagne. Seu trabalho é marcado pela espontaneidade, leveza, a vida que circula nas imagens capturadas pelo seu olho atento e seletivo. Teve trabalhos conjuntos com Robert Capa, David Seymour, William Vandivert e George Rodger, da Magnum Photos. Falar de fotografia – ou cinema – e não citar seu nome seria como falar de arte e não citar Da Vinci. Dedicou-se também à publicação de livros sobre a fotografia e à pintura, tendo frequentado grupos de pensadores como André Breton. Também estudou profundamente a linguagem da pintura, sobretudo a seção áurea, com André Lhote. Para Cartier-Bresson, não é o fotógrafo quem tira a foto, mas a foto – o instante. Praticou: a técnica do Trompe l’oeil, que faz objetos parecerem outros, o fotojornalismo – a foto deve comunicar o fato. São dele muitas das fotos famosas sobre a II Guerra Mundial e foi o primeiro a mostrar através da fotografia a União Soviética ao mundo. Considerava a cor própria da pintura e o preto e branco característico da fotografia, que, assim, põe o foco no conteúdo e não na forma. TÓPICO 2 TÉCNICAS E CORRENTES FOTOGRÁFICAS 33 FIGURA 19 – CARTIER-BRESSON. DOIS CURIOSOS ESPIANDO EM BURACO EM MURO (BRUXELAS, 1932) FONTE: <http://fotografemelhor.com.br/wp-content/uploads/2017/04/Bruxelas.-B%C3%A9lgi- ca.-1932.-Henri-Cartier-Bresson-Magnum-Photos-1000x670.jpg>. Acesso em: 2 jun. 2020. • Annie Leibovitz (1949-): fotógrafa da atualidade, renomada por suas tomadas de celebridades. Em 1991, retrata para a capa da revista Vanity Fair, a atriz Demi Moore grávida, veja a imagem disponível em: https://www.vanityfair. com/news/2011/08/demi-moore-201108. Também é autora da célebre imagem de John Lennon e Yoko Ono na manhã do assassinato de John Lennon; e da foto de Whoopy Goldberg dentro de uma banheira cheia de leite. • Sebastião Salgado: (1944-): determinado a mostrar o que há de mais amplo e trágico na natureza humana, especializou-se no fotojornalismo integrando várias agências fotográficas – Sygma, Gamma, Magnum. Em suas capturas serviu-se unicamente da técnica do preto e branco pela forte expressividadeque proporciona. São dele os maiores registros de pessoas e suas tragédias em todas as partes do mundo. Teve trabalhos focando atividades manuais, as diversidades culturais, tragédias de secas e ambientais, ao mesmo tempo em que protestam contra a quebra de direitos e da dignidade humana. Na obra Êxodos afirma: Mais do que nunca sinto que a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes. Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas (SALGADO, ANO, p. 8). Recebeu praticamente todos os prêmios em escala mundial e, em 1994, fundou a sua própria agência As Imagens da Amazônia. Com a esposa Lélia Wanick Salgado, autora do projeto gráfico, lançou uma profusão de livros. Realizou parcerias com grandes nomes da Literatura e das Artes, tais como José Saramago e Chico Buarque, além de integrar a Academia de Belas Artes da França, onde reside. 34 UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA FIGURA 20 – SEBASTIÃO SALGADO E SUA SERRA PELADA (1996) FONTE: <https://incrivelhistoria.com.br/sebastiao-salgado-serra-pelada/>. Acesso em: 2 jun. 2020. • Ansel Easton Adams (1902-1984): adquiriu celebridade por suas imagens do oeste americano, sempre em preto e branco. Defendia a fotografia pura, de foco nítido e uso integral da faixa de imagem o que caracteriza seu estilo de fotógrafo de paisagens. Era defensor do meio ambiente e da natureza. A foto do Half Dome, no Yosemite Park lançou-o no mundo como um olhar sensível para a paisagem, veja a Figura 21. FIGURA 21 – ANSEL ADAMS. MONOLITH – THE FACE OF THE HALF DOME. YOSEMITE PARK (1927) FONTE: <https://www.coolantarctica.com/Shop/ansel_adams/aa_monolith_lg.jpg>. Acesso em: 2 jun. 2020 TÓPICO 2 TÉCNICAS E CORRENTES FOTOGRÁFICAS 35 • Robert Capa, nome verdadeiro Ernö Friedmann (1913-1954): É um dos maiores fotógrafos de guerra da história, pois considerava que devia estar próximo do objeto a capturar. Cobriu grandes guerras como: a Guerra Civil espanhola, a II Guerra Mundial, Guerra da Indochina, onde morre ao pisar numa mina. Juntamente com David Seymour, Henri Cartier-Bresson e George Rodger funda, após o final da segunda grande guerra, a agência Magnum. A esposa, Gerda Taro, morreu atropelada por um tanque, em 1934, enquanto cobriam a Guerra Civil espanhola. Tira então sua fotografia mais famosa: Morte de um miliciano, publicada na Time, em 1936, veja a imagem. FIGURA 22 – ROBERT CAPA. MORTE DE UM MILICIANO (1936) FONTE: <https://n.i.uol.com.br/ultnot/0908/19capa.jpg>. Acesso em: 2 jun. 2020. • Helmuth Newton, nome verdadeiro Helmuth Neustädter (1920-2004): um dos maiores fotógrafos alemães, naturalizado australiano, especializado na fotografia de moda. Conhecido por suas imagens controversas, irreverentes e provocativas. Por essa razão foi amplamente criticado, mas seu trabalho introduziu sensualidade e glamour nas fotografias de moda. Especializou-se na fotografia de nus. Ansel Adams foi o criador do sistema de zonas, que divide a tela em diferentes zonas pelas quais é efetuada a distribuição dos sujeitos fotografados. Veremos este aspecto em nossa Unidade 2. Não deixe de ler a matéria completa em: ESTEVES, Juan. O mestre do P&B. Revista Fotografe Melhor, São Paulo, a. 23, ed. 275, p. 22-26, ago. 2019b. DICAS 36 UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA • Robert Doisneau (1912-1995): pessoa simples, era um fotógrafo de rua, registrando o cotidiano das pessoas, a vida em sua passagem, sem alarde. Influenciado por Cartier-Bresson, ficou famoso com a fotografia O Beijo do Hôtel de Ville, em 1950, da qual é impossível dissociá-lo. Mas seu trabalho foi além, incluindo a fotografia colorida, publicitária, entre outros gêneros. Veja na imagem a seguir o famoso beijo em Paris capturado pelas lentes de Doisneau: FIGURA 23 – ROBERT DOISNEAU. LE BAISER DE L’HOTEL DE VILLE (1950) FONTE: <https://www.azdecor.com.br/wp-content/uploads/2018/10/la-baiser-de-lHotel-de-Vil- le-363x288.jpg>. Acesso em: 2 jun. 2020. • Elliot Erwit (1928-): nasceu na França, mas elegeu os Estados Unidos da América como país de residência. Membro da Magnum, é conhecido por fotos documentais em preto e branco, bem como pela ironia e o inusitado nas imagens, pois integra o lúdico e a ilusão ao jogo de cenas. Uma fotografia de Erwit se deixa reconhecer num lance de olhos, pois apresenta identidade própria. Possui uma predileção por fotografar cachorros e suas relações com humanos, veja na imagem a seguir. TÓPICO 2 TÉCNICAS E CORRENTES FOTOGRÁFICAS 37 FIGURA 24 – ELIOT ERWIT E O JOGO DA ILUSÃO FONTE: < http://lounge.obviousmag.org/memorias_do_subsolo/assets_c/2014/03/c%- C3%A3o%20homem-thumb-600x399-62115.jpg>. Acesso em: 2 jun. 2020. • Walter Firmo (1937-): jornalista, professor e fotógrafo autodidata que apren- deu apenas a teoria da luz lateral e das sombras quando jovem. A partir daí, registrou o cotidiano em fotos jornalísticas, buracos de rua, gentes, cenas espalhadas pelo Brasil, que capturava com seu olhar sensível e observador. Usou da fotografia em cores e, entre suas fotos mais famosas estão os retratos de Dona Ivone Lara, Pixinguinha e Cartola. • Irving Penn (1917-2009): fotógrafo de moda, destacou-se pela elegância, o minimalismo e a simplicidade em suas tomadas. Durante décadas trabalhou para a revista Vogue, especializando-se nas fotos de artistas e famosos. Entre suas imagens de renome estão uma tomada de Gisele Bünchen e Pablo Picas- so (Figura 25). Considerava que uma boa fotografia é aquela que transforma o espectador depois que a vê. Assim, suas imagens de celebridades eram sem- pre originais e transgressoras (fotografias de nus), suspendendo o tempo. FIGURA 25 – IRVING PENN – PABLO PICASSO FONTE: <https://bit.ly/3j6z3rL>. Acesso em: 2 jun. 2020. 38 UNIDADE 1 — CONCEITO E HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA Evidentemente, muitos outros nomes poderiam integrar esta lista em que incluímos aqueles que julgamos pertinentes pela variedade de estilos e abordagens da imagem, oscilando entre arte e representação, numa intencionalidade comunicativa que apresenta a fotografia como linguagem incomparável para a leitura do mundo e dos seres humanos. Chegamos, assim, ao final deste tópico. A fim de complementar o seu aprendizado nesta introdução à fotografia, leia o texto apresentado como leitura complementar e consolide os seus conhecimentos no resumo do tópico, bem como realizando as autoatividades a seguir. Que tal viajar através do tempo pela fotografia? Assista ao vídeo de Guy Jones: 1838-2019: Street Photography – A photo for every year. Acesse o endereço: https://www. youtube.com/watch?v=X3K7NwKE7PI e observe a composição das imagens, a evolução da técnica fotográfica, os ângulos, efeitos etc. DICAS TÓPICO 2 TÉCNICAS E CORRENTES FOTOGRÁFICAS 39 Fotografia e pós-fotografia: do controle ao descontrole Leon Fahri Neto I [...] No início dos seus tempos, a imagem-foto não insistia, de modo algum, em sua pureza fotográfica. Inúmeras técnicas de transformação a encaminhavam para a imagem-pintura e, de volta, para a imagem-foto. Era, lá pelos anos 1860-1880, o novo frenesi das imagens [...]. Era a época, com todos os novos poderes adquiridos, da liberdade de transposição, de deslocamento, de transformação, de semelhanças e falsas semelhanças, de reprodução, de duplicação, de trucagem. [...] os fotógrafos faziam pseudoquadros; os pintores utilizavam as fotos como esboços. [...] amava- se talvez menos os quadros e as placas sensíveis que as próprias imagens, sua migração e sua perversão, sua adulteração, sua diferença mascarada (FOUCAULT, 1975, p. 1575). Com isso, percebe-se o quanto é questionável aquela parte da nossa definição inicial que afirma a foto como uma imagem que se fez sem o intermédio da mão humana. A foto pode ser uma imagem manipulada, trucada. Mesmo
Compartilhar