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RESUMO – LPI MÓDULO 16 – PERDA DE SANGUE Introdução Os anticoagulantes são usados tanto para prevenção quanto para tratamento de doenças trombóticas; Existem 4 classes de anticoagulantes: varfarina, heparinas não fracionada e de baixo peso molecular, inibidores seletivos do fator Xa e inibidores diretos da trombina; Os anticoagulantes são dirigidos para vários fatores na cascata de coagulação, interrompendo, assim, a cascata e impedindo a formação de uma rede de fibrina estável (tampão hemostático secundário); Em decorrência dos mecanismos de ação desses fármacos, o sangramento constitui um efeito adverso comum a todos eles. Varfarina Os anticoagulantes cumarínicos devem sua ação à habilidade de antagonizar a função de cofator da vitamina K; • O único anticoagulante cumarínico terapeuticamente relevante é a varfarina; • Ela era inicialmente usada como raticida; A INR é o padrão pelo qual a atividade anticoagulante da varfarina é monitorada; • O objetivo do tratamento com varfarina é uma INR de 2-3 para a maioria das indicações e INR de 2,5-3,5 para algumas válvulas mecânicas e outras indicações; • É importante que a INR seja mantida dentro da faixa ideal o máximo possível, podendo ser necessário monitorar com frequência; A varfarina atua sobre a via de carboxilação, não por meio da inibição direta da carboxilase, mas pelo bloqueio da epóxido redutase que medeia a regeneração da vitamina K reduzida; Como a depleção da vitamina K reduzida no fígado impede a reação de γ-carboxilação necessária para a síntese de fatores da coagulação biologicamente ativos, o início de ação dos anticoagulantes orais acompanha a meia-vida desses fatores da coagulação na circulação; • Dos quatro fatores da coagulação afetados (II, VII, IX e X), o fator VII é o de meia-vida mais curta (6 h); • Por isso, o efeito de uma única dose de varfarina não se manifesta durante um período de aproximadamente 18 a 24 h (i. e., 3 a 4 meias-vidas do fator VII); • Essa ação tardia constitui uma propriedade farmacológica que diferencia a varfarina de todas as outras; Evidências de estudos a longo prazo sobre uso de rodenticidas e anticoagulantes respaldam que a epóxido redutase é o alvo molecular da ação dos anticoagulantes orais; • Foi observado também que uma pequena parte da população é geneticamente resistente à varfarina, por mutações no gene da epóxido redutase; • Esses pacientes necessitam de 10 a 20x a dose habitual de varfarina para obter o efeito anticoagulante desejado; Frequentemente, a varfarina é usada para completar um ciclo de anticoagulação iniciado com heparina, bem como para evitar a ocorrência de trombose em pacientes predispostos; A biodisponibilidade da varfarina administrada por via oral é de quase 100%, e os níveis sanguíneos alcançam seu valor máximo dentro de 0,5 a 4 h após a administração do fármaco; • No plasma, 99% da varfarina racêmica estão ligados à proteína plasmática (albumina); A varfarina apresenta meia-vida relativamente longa (cerca de 36 h); O fármaco é hidroxilado pelo sistema do citocromo P450 do fígado a metabólitos inativos, que são eliminados na urina; RESUMO – LPI MÓDULO 16 – PERDA DE SANGUE É necessário considerar cuidadosamente as interações medicamentosas em pacientes usuários de varfarina; • Por se ligar à albumina no plasma, seu uso com outros fármacos que se ligam à albumina pode aumentar as concentrações plasmáticas livres de ambos os fármacos; • Além disso, como ela é metabolizada pelo citocromo P450, seu uso com fármacos que induzem esse sistema enzimático ou competem com ele pode afetar as concentrações de ambos os fármacos; Entre os efeitos adversos da varfarina, o sangramento constitui o efeito tóxico mais grave e previsível; • Fazemos interrupção do fármaco em pacientes com episódios repetidos de sangramento com concentrações terapêuticas do fármaco; No caso de hemorragia grave, os pacientes devem receber imediatamente plasma fresco congelado, que contêm os fatores da coagulação II, VII, IX e X biologicamente funcionais; A varfarina nunca deve ser administrada a mulheres grávidas, pois o fármaco pode atravessar a placenta e causar distúrbio hemorrágico no feto; • Além disso, os recém-nascidos expostos à varfarina in utero podem apresentar vários defeitos congênitos, caracterizados por formação óssea anormal (algumas proteínas da matriz óssea são γ- carboxiladas); Raramente, a varfarina provoca necrose da pele por trombose disseminada na microvasculatura; O fato de a varfarina ter a capacidade de causar trombose pode parecer paradoxal!!!!! Mas precisamos lembrar de que, além de inibir a síntese dos fatores da coagulação II, VII, IX e X, a varfarina também impede a síntese das proteínas C e S, que são anticoagulantes naturais; Como a varfarina apresenta índice terapêutico estreito e participa em numerosas interações medicamentosas, é preciso monitorar regularmente (cada 2 a 4 sem.) o efeito farmacodinâmico da terapia crônica com varfarina; • O monitoramento é feito mais facilmente com o tempo de protrombina (TP), que é um teste simples das vias extrínseca e comum da coagulação; • Nesse teste, usamos o plasma do paciente na tromboplastina, e determina-se o tempo decorrido na formação de um coágulo de fibrina; • A varfarina prolonga o TP principalmente porque ela diminui a quantidade de fator VII no plasma; o O fator VII é o fator da coagulação dependente de vitamina K que tem meia-vida mais curta.; A determinação do TP foi padronizada no mundo inteiro e é expressa como razão normalizada internacional (INR) do tempo de protrombina entre a amostra do paciente e uma amostra de controle; • A fórmula para calcular a INR é a seguinte: 𝐼𝑁𝑅 = 𝑇𝑃𝑝𝑎𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑇𝑃𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒 ; Heparinas A heparina é um mucopolissacarídio sulfatado armazenado nos grânulos secretores dos mastócitos que tem elevada carga negativa; As heparinas comerciais foram classificadas em heparina não fracionada (HNF) e heparina de baixo peso molecular (HBPM); • A HNF, é preparada do pulmão bovino e mucosa intestinal suína e apresenta peso molecular entre 5 a 30 kDa; • As HBPM são preparadas da heparina padrão por meio de cromatografia por filtração em gel, e seus pesos moleculares variam de 1 a 5 kDa; O mecanismo de ação da heparina depende da presença de um inibidor específico da protease plasmática, a antitrombina III; • A antitrombina III é uma designação incorreta, já que, além de inativar a trombina, a antitrombina III inativa outras serina proteases, como os fatores IXa, Xa, XIa e XIIa, sendo que ela é considerada uma “armadilha suicida” para essas serina proteases; • Quando uma protease entra em contato com a antitrombina III, o resíduo de serina da protease ataca uma ligação peptídica Arg- Ser no sítio reativo da antitrombina, que causa a uma ligação éster covalente entre o resíduo de serina na protease e o resíduo de arginina na antitrombina III; RESUMO – LPI MÓDULO 16 – PERDA DE SANGUE • Isso resulta na formação de um complexo estável entre a protease e antitrombina, que impede qualquer participação subsequente da protease na cascata de coagulação; A heparina desempenha duas funções fisiológicas importantes: • Atua como uma superfície catalítica à qual se ligam tanto a antitrombina III quanto as serina proteases; • Induz uma mudança de conformação na antitrombina III, que torna o sítio reativo dessa molécula mais acessível ao ataque da protease; A primeira etapa da reaçãoenvolve a ligação da heparina de carga negativa a uma região rica em lisina (carga positiva) na antitrombina III; • Ou seja, a interação entre a heparina e a antitrombina III é, em parte, eletrostática; Durante a reação de conjugação entre a protease e a antitrombina, a heparina pode ser liberada da antitrombina III, ficando disponível para catalisar outras interações protease-antitrombina III, ou seja, a heparina não é consumida nessa reação; • Entretanto, na prática, a elevada carga negativa da heparina frequentemente faz com que ela permaneça ligada eletrostaticamente a uma dessas moléculas; Para catalisar de modo mais eficiente a inativação da trombina pela antitrombina III, uma molécula de heparina precisa se ligar ao mesmo tempo à trombina e à antitrombina; • Por outro lado, para catalisar a inativação do fator Xa pela antitrombina III, a molécula de heparina precisa ligar-se apenas à antitrombina, ao mesmo tempo que ocorre a mudança de conformação da antitrombina III; Por isso, as HBPM, catalisam de modo eficiente a inativação do fator Xa pela antitrombina III, porém catalisam menos eficientemente a inativação da trombina pela antitrombina III (pelo baixo peso molecular); Em contrapartida, a HNF tem um comprimento suficiente para se ligar simultaneamente à trombina e à antitrombina III, e, assim, catalisar de modo eficiente a inativação tanto da trombina quanto do fator Xa pela antitrombina III; • A HBPM apresenta uma atividade anti-Xa 3x maior que a heparina não fracionada; • Ou seja, a HBPM é um agente terapêutico mais seletivo que a HNF; As heparinas são utilizadas para a profilaxia e para o tratamento das doenças tromboembólicas; • Tanto a HNF quanto a HBPM são usadas para impedir a propagação da doença tromboembólica estabelecida, como a TVP e a EP; Para a profilaxia contra a trombose, as heparinas são administradas em doses muito mais baixas que as indicadas para o tratamento da doença tromboembólica estabelecida; • Como a cascata de coagulação enzimática funciona como um sistema de amplificação (1 unidade de fator Xa gera 40 unidades de trombina), a administração de quantidades pequenas de heparina na primeira geração do fator Xa é altamente efetiva; Como as heparinas tem altas cargas negativas, elas não atravessam o epitélio do TGI; • Por isso, a heparina precisa ser administrada por via parenteral (IV ou subcutânea); • A HNF é muito usada em associação com antiplaquetários no tratamento das síndromes coronarianas agudas; É importante fazer o monitoramento do tratamento com HNF para manter o efeito anticoagulante dentro da faixa terapêutica, já que seu principal efeito adverso é o sangramento; • Em geral, o monitoramento é efetuado com o teste do tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa), que é um teste simples que avalia as vias intrínseca e comum da coagulação; • Nele, acrescentamos uma amostra do plasma do paciente a um excesso de fosfolipídio, e ocorre formação de fibrina em taxa normal somente se os fatores das vias intrínseca e comum estiverem presentes em níveis normais; • Grandes quantidades de HNF no plasma prolongam o tempo necessário de formação de um coágulo de fibrina; Além disso, uma pequena fração de pacientes tratados com heparina desenvolve trombocitopenia induzida por heparina (TIH) (+ comum com a HNF); • Nessa síndrome, os pacientes produzem anticorpos dirigidos contra um hapteno criado quando as moléculas de heparina ligam-se à superfície das plaquetas; RESUMO – LPI MÓDULO 16 – PERDA DE SANGUE • Na TIH tipo 1, as plaquetas recobertas por anticorpos são removidas da circulação, e a contagem plaquetária diminui em 50 a 75% dentro de aproximadamente 5 dias durante o tratamento com heparina; • A TIH tipo 1 é transitória e rapidamente reversível com a interrupção da heparina; • Entretanto, na TIH tipo 2, os anticorpos induzidos por heparina não apenas são dirigidos contra as plaquetas, mas também atuam como agonistas para ativar as plaquetas, resultando em agregação plaquetária, lesão endotelial e trombose potencialmente fatal; Enoxaparina, dalteparina e tinzaparina são heparinas fracionadas de baixo peso molecular; • Lembrando que elas são relativamente seletivas para a atividade anti-Xa; • Todas as HBPM são aprovadas para uso em prevenção e tratamento de trombose venosa profunda; • Além disso, enoxaparina e dalteparina são usadas no tratamento do IAM e como adjuvantes na intervenção coronariana percutânea; As HBPM apresentam índice terapêutico mais alto que o da HNF, particularmente quando utilizadas para profilaxia; • Por esse motivo, não é geralmente necessário monitorar os níveis sanguíneos de atividade das HBPM; • A medição do efeito anticoagulante das HBPM exige um ensaio especializado para a atividade de antifator Xa; Como as HBPM são excretadas pelos rins, é preciso ter cuidado para evitar uma anticoagulação excessiva em pacientes com insuficiência renal; Fondaparinux O fondaparinux é um pentassacarídio sintético que tem uma sequência de 5 carboidratos, importantes para a ligação à antitrombina III e para induzir a mudança de conformação da antitrombina para sua conjugação com fator Xa; Por isso, ela é um inibidor indireto específico do fator Xa, com atividade anti-IIa (antitrombina) insignificante; O fondaparinux foi aprovado para prevenção e tratamento de TVP e está disponível como injeção subcutânea para administração 1 vez/dia; É excretado pelos rins e não deve ser administrado em pacientes com insuficiência renal; Inibidores diretos da trombina Conforme discutido, a trombina desempenha diversos papéis fundamentais no processo hemostático; Entre outros efeitos, esse fator da coagulação: • Converte proteoliticamente fibrinogênio em fibrina; • Ativa o fator XIII, que se liga a polímeros de fibrina por ligações cruzadas, formando um coágulo estável; • ativa as plaquetas; • induz a liberação de PGI2, t-PA e PAI-1 pelo endotélio; Por isso, os inibidores diretos da trombina exercem efeitos profundos sobre a coagulação; Os inibidores diretos da trombina atualmente aprovados incluem lepirudina, desirudina, bivalirudina, argatrobana e dabigatrana; Esses agentes são inibidores específicos da trombina, com atividade de antifator Xa insignificante; A lepirudina, um polipeptídio derivado da proteína hirudina da sanguessuga medicinal, é o protótipo dos inibidores diretos da trombina; • Durante muitos anos, os cirurgiões usavam sanguessugas medicinais para evitar a trombose nos vasos de dedos reimplantados; A lepirudina liga-se com alta afinidade a dois sítios na molécula de trombina – o sítio ativo enzimático e o “exossítio”, uma região da proteína trombina que orienta substratos proteicos; • A ligação da lepirudina à trombina impede a ativação de fibrinogênio e fator XIII mediada pela trombina; A lepirudina é um anticoagulante altamente efetivo, uma vez que tem a capacidade de inibir a trombina tanto livre quanto ligada à fibrina nos coágulos em formação; Sua ligação à trombina é irreversível; RESUMO – LPI MÓDULO 16 – PERDA DE SANGUE Seu uso foi aprovado no tratamento da trombocitopenia induzida por heparina; A lepirudina, que apresenta meia-vida curta, está disponível por via parenteral e é excretada pelos rins; Pode ser administrada com relativa segurança a pacientes com insuficiência hepática; À semelhança de todos os inibidores diretos da trombina, o sangramento é o principal efeito adverso da lepirudina, e deve ser feito um monitoramento rigoroso do tempo de coagulação; Outra formulação da hirudina, a desirudina, foiaprovada para a profilaxia contra a TVP em pacientes submetidos à substituição de quadril; A bivalirudina é um peptídio sintético de 20 aminoácidos que também se liga tanto ao sítio ativo quanto ao exossítio da trombina; • A trombina cliva lentamente a ligação arginina-prolina na bivalirudina, resultando em sua reativação; A bivalirudina foi aprovada para anticoagulação em pacientes submetidos a angiografia e angioplastia coronarianas; • Ele é excretado pelos rins e apresenta meia-vida curta (25 min); A dabigatrana, um inibidor direto da trombina disponível por via oral, foi recentemente aprovada para prevenção de tromboembolia em pacientes com fibrilação atrial não valvar; A dabigatrana é um profármaco metabolizado para uma espécie ativa que se liga competitivamente ao sítio ativo da trombina; • Como outros anticoagulantes, a dabigatrana pode causar sangramento significativo; • Uma vantagem é que não há necessidade de monitorar os níveis plasmáticos de dabigatrana; Rivaroxabana e apixabana Rivaroxabana e apixabana são inibidores do fator Xa, de uso oral; Ambos se ligam ao centro ativo do fator Xa, prevenindo, assim, sua habilidade de converter protrombina em trombina; Rivaroxabana é aprovado para o tratamento e a prevenção da TVP, do EP e do acidente vascular em fibrilação atrial não valvar; Apixabana é usada para prevenção do AVE na fibrilação atrial não valvar; Ambos os fármacos são adequadamente absorvidos por administração oral e amplamente ligados a proteínas; O alimento pode aumentar a absorção de rivaroxabana, que é biotransformada pelas isoenzimas CYP3A4/5 e CYP2J2 a metabólitos inativos; Cerca de um terço do fármaco é excretado inalterado na urina, e os metabólitos inativos são excretados na urina e nas fezes; A apixabana é biotransformada primariamente pela CYP3A4, ao passo que as enzimas CYP1A2, CYP2C8, CYP2C9, CYP2C19 e CYP2J2 são vias metabólicas menores – aproximadamente 27% é excretado por via renal; Comparados com a varfarina, rivaroxabana e apixabana têm menos interações farmacológicas; Não há exigências de monitoração laboratorial para ambas; O sangramento é o efeito adverso mais grave dos inibidores do fator Xa; • Não há antídoto disponível para reverter a hemorragia causada por eles; Ambos são eliminados por via renal; Função renal insuficiente pode prolongar o efeito desses fármacos e, assim, aumentar o risco de hemorragia; • Nenhuma das duas devem ser usadas em disfunção renal grave (depuração de creatinina menor do que 15 mL/min); A interrupção abrupta deve ser evitada;
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