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ARTETERAPIA NO CAPS_ UMA NOVA FORMA DE CUIDAR

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1 
 
ARTETERAPIA NO CAPS: UMA NOVA FORMA DE CUIDAR 
 
GISELE APARECIDA MEZABARBA MENDONÇA1 
Orientadora: Profª Esp. Rosane Maria Souza dos Santos2 
 
Trabalho apresentado para a conclusão do curso de 
Pós-Graduação em Atenção Psicossocial na Saúde 
Mental: ênfase em dependência química da Faculdade 
de Filosofia, Ciências e letras de Alegre – FAFIA em 
março/2013. 
 
RESUMO 
A arteterapia proporciona ao indivíduo com transtorno mental, inúmeras 
oportunidades, como a liberdade de expressão, sustentação da sua autonomia 
criativa, ampliação do seu conhecimento sobre o mundo adequando seu 
desenvolvimento emocional e social. Baseando-se nos argumentos supracitados, 
objetivou-se, com este trabalho, relatar o adentrar da arteterapia no Brasil, 
contextualizando sua entrada com o surgimento dos Centros de Atenção 
Psicossocial (CAPS), dentro de uma perspectiva de desinstitucionalização da 
loucura, que remonta à reforma psiquiátrica. Para tanto, foi realizada uma revisão 
bibliográfica acerca do tema, apontando as principais contribuições na literatura 
sobre o referido assunto. Verificou-se que a utilização da arteterapia nos CAPS vem 
ganhando espaço e torna-se uma ferramenta de fundamental importância no 
tratamento dos usuários do programa. 
Palavras-chave: Saúde mental. Terapia pela arte. Reforma psiquiátrica. 
 
INTRODUÇÃO 
 
1Pós-graduanda em Saúde Mental com ênfase em dependência química pela Faculdade de Filosofia, 
Ciências e Letras de Alegre. E-mail: gisele.mezabarba@gmail.com 
2Coordenadora do Curso de pós-graduação em Saúde Mental com ênfase em dependência química, 
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre. Email:ropsiss@gmail.com 
2 
 
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), segundo Rabelo (2006), são 
considerados locais de atendimento em níveis de alta complexidade em saúde 
mental e objetivam reduzir a gravidade do transtorno mental, visando estabelecer 
um programa de reabilitação psicossocial, com a possibilidade de acolhimento, 
cuidado, construção de vínculos, bem como proporcionar maior grau de 
sociabilidade ao sujeito em sofrimento psíquico. As equipes são constituídas por 
uma gama de profissionais, formando um grupo multiprofissional que avalia o quadro 
do usuário. 
Dessa forma, Rabelo (2006) aponta que as ações realizadas nos CAPS visam à 
potencialização e valorização de formas de livre criação dos usuários, melhora da 
autoestima, desenvolvimento do equilíbrio emocional e minimização dos efeitos 
negativos da doença mental. Além do tratamento medicamentoso e psicológico, o 
CAPS conta ainda com o auxílio de oficinas, tais como as oficinas de arteterapia, 
que vem se firmando como uma terapia de promoção, preservação e recuperação 
da saúde, pois, de acordo com Ciornai (2004), permite ao usuário a liberdade de 
expressão, a autonomia criativa, proporcionando seu desenvolvimento emocional e 
social. 
De acordo com Philippini(2004) a arteterapia consiste em um dispositivo terapêutico 
que reúne conhecimentos de diversas áreas, constituindo-se como uma prática 
transdisciplinar, propondo resgatar o homem em sua totalidade por meio de métodos 
de autoconhecimento e transformação. 
Para compreendermos a inserção da arteterapia e o contexto de criação dos CAPS 
no Brasil, segue uma breve revisão histórica da Reforma Psiquiátrica, para ilustrar, 
sucintamente, a história da luta pela saúde mental e seus incrementos. Para tanto, 
foi realizada uma pesquisa bibliográfica acerca do tema, buscando referenciais 
teóricos que façam a correlação entre a utilização da arteterapia e a forma de 
trabalho no CAPS. Com isso, objetiva-se verificar os resultados dessa prática e seus 
desdobramentos. 
 
A REFORMA PSIQUIÁTRICA E O SURGIMENTO DO CAPS 
3 
 
É oportuno nesse tópico, um breve resumo da reforma psiquiátrica e o contexto no 
qual surge o primeiro CAPS no Brasil. As expressões “reforma” e “psiquiatria” andam 
juntas desde o nascimento da própria psiquiatria, quando os líderes da revolução 
francesa incumbiram a Pinel a tarefa de humanizar e dar um sentido terapêutico aos 
hospitais gerais, onde os alienados encontravam-se recolhidos ao lado dos 
marginalizados da sociedade (AMARANTE, 1995). 
Delgado (1992) aponta que as iniciativas reformadoras prosseguiram ao longo do 
século XIX objetivando oferecer orientação científica aos estabelecimentos 
especializados. No Brasil, nos anos de 60 e 70, com a consolidação da estrutura 
manicomial do Estado na Era Vargas, teve-se um desafio reformista, dando início ao 
movimento da psiquiatria comunitária. Ainda de acordo com o supracitado autor, a 
expressão reforma psiquiátrica passa então a exigir uma qualificação precisa, dando 
início no Brasil da restauração democrática, um movimento voltado à cidadania de 
sujeitos obrigatoriamente tutelados. 
A reforma psiquiátrica brasileira é recente, com pouco mais de trinta anos, como 
relata Vasconcelos (1992) e tem como marca característica e basilar a luta pela 
cidadania do louco, ainda que trazendo exigências políticas, administrativas, 
técnicas e teóricas bastante novas, a reforma insiste num argumento originário: os 
direitos do doente mental e sua cidadania. 
Ainda de acordo com Vasconcelos (1992), foi a partir do reclame da cidadania do 
louco que surge o atual movimento da reforma psiquiátrica brasileira desdobrando-
se em um amplo e diversificado escopo de práticas e saberes. A reforma é 
principalmente um campo heterogêneo, que abrange a clínica, a política, o social, o 
cultural e as relações com o jurídico, e é obra de atores muito diferentes entre si. 
Ainda assim, a reforma não pode se furtar a enfrentar o problema das práticas de 
cuidado dirigidas aos loucos. 
Na década de 1970, como relata Delgado (1992), em meio ao combate ao Estado 
autoritário, surgem as denúncias de fraude no sistema de financiamento dos 
serviços e, ainda mais grave, as denúncias do abandono, da violência e dos maus-
tratos a que eram submetidos os pacientes internados nos hospícios do país. Não se 
censuravam as pressuposições do hospital psiquiátrico e da psiquiatria, mas seus 
excessos ou desvios. 
4 
 
Combinando reivindicações trabalhistas e um discurso humanitário, em 1978 é 
criado o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), que conseguiu 
grande repercussão e, nos anos seguintes, comandou os acontecimentos que 
fizeram progredir a luta até seu caráter decididamente antimanicomial (AMARANTE, 
1995). 
Marcada pela chegada dos protagonistas e do programa do movimento sanitário, a 
década de 1980 é assinalada por uma gestão de serviços e políticas públicas. 
Amarante (1995) aponta que esse movimento sanitário se confunde com o próprio 
Estado e, assim, as ações ganhavam um crio institucionalizante, no sentido de 
apostarem no aperfeiçoamento tanto da instituição psiquiátrica quanto da gestão 
pública. 
De acordo com Leal (2000), as ações palpáveis não resultaram em mudança 
expressiva, ainda que no plano das formulações oficiais, tenha se diagnosticado 
com acuidade a prevalência nociva do modelo asilar. Basicamente, as iniciativas 
foram a racionalização, humanização e moralização do asilo, com a criação de 
ambulatórios, visando uma alternativa à internação. Todavia, segundo Delgado 
(1992), a concepção de ambulatórios não apresentou contribuição significativa para 
a qualidade do atendimento aos pacientes. 
O Movimento pela Reforma Psiquiátrica Brasileira teve como ponto de virada dois 
eventos de grande importância no ano de 1987, a I Conferência Nacional de Saúde 
Mental e o II Encontro Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental. Bezerra 
(1994) relata que a realização desse encontro foi decidida durante a I Conferência, 
pela verificação de que a expectativa sanitarista de agrupar as propostas reformistas 
nas políticas oficiais vinha sendo anulada pela obstinação passiva ou ativa da 
iniciativaprivada, da estrutura manicomial, da burocracia estatal e do 
conservadorismo psiquiátrico. A I Conferência simboliza, portanto, o início da direção 
de desconstruir no cotidiano das instituições e da sociedade as formas enraizadas 
de lidar com a loucura. É a chamada desinstitucionalização. Assim, é instituído o dia 
18 de maio como Dia Nacional da Luta Antimanicomial, visando a potencializar o 
poder de aglutinação de maiores parcelas da sociedade em torno da causa. Não se 
trata de aprimorar as estruturas tradicionais (ambulatório e hospital de internação), 
mas de arquitetar novos dispositivos e novas tecnologias de cuidado, substituir uma 
5 
 
psiquiatria centrada no hospital por uma psiquiatria sustentada em dispositivos 
diversificados, abertos e de natureza comunitária. 
Vasconcelos (1992) descreve que em 1989 o deputado Paulo Delgado apresentou o 
projeto de lei nº 3.657/89, mais conhecido como a Lei da Reforma Psiquiátrica, que 
consistia em um projeto simples, com três artigos de conteúdo: o primeiro impedia a 
construção ou contratação de novos hospitais psiquiátricos pelo poder público; o 
segundo previa o direcionamento dos recursos públicos para a criação de recursos 
não-manicomiais de atendimento; e o terceiro obrigava a comunicação das 
internações compulsórias à autoridade judiciária, que deveria então emitir parecer 
sobre a legalidade da internação. 
A década de 1980 foi palco ainda do surgimento de experiências institucionais bem 
sucedidas de um novo tipo de cuidados em saúde mental. Ao menos duas delas são 
consideradas marcos inaugurais de uma nova prática de cuidados no Brasil: o 
Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cerqueira, em São Paulo; 
e a intervenção na Casa de Saúde Anchieta, realizada pela administração municipal 
de Santos/SP, iniciando o processo que se constituiria no complexo e exemplar 
Programa de Saúde Mental daquela cidade. O CAPS Luiz Cerqueira e os CAPS que 
nele se guiaram, de acordo com Goldberg (1994), partem da verificação de que a 
especificidade clínica da clientela-alvo, sobretudo no que diz respeito às dificuldades 
de vida gerada pela doença e às possibilidades de expressão subjetiva do psicótico 
grave, demanda muito mais do que uma consulta ambulatorial mensal ou mesmo 
semanal. Assim, os CAPS motivam-se na ideia de que o tratamento dos pacientes 
psiquiátricos graves exige condições terapêuticas que inexistem nos ambulatórios e 
hospitais psiquiátricos. 
Ainda de acordo com Goldberg (1994), o atendimento-dia, que proporciona ao 
paciente o comparecimento todos os dias da semana se necessário, articula-se a 
outras particularidades, como a oferta de atividades terapêuticas variadas e a 
constituição de uma equipe multiprofissional. Busca-se ofertar ao paciente a maior 
heterogeneidade possível, tanto no que diz respeito às pessoas com quem que ele 
possa se relacionar, quanto no que diz respeito às atividades em que possa se 
engajar. 
6 
 
Dessa forma, percebemos que a oficina de arteterapia se encaixa nesse contexto, e 
veremos adiante como se deu essa inserção. 
 
HISTÓRIA DA ARTETERAPIA 
A partir da Reforma Psiquiátrica, notam-se mudanças relacionadas ao tratamento 
das doenças mentais, surgindo uma nova concepção de cuidado com tais doentes, 
visando uma melhor qualidade de vida para tais pessoas, bem como a sua retirada 
do ambiente manicomial, proporcionando sua reinserção na sociedade. 
Rissato et al (2008), aponta que nesse contexto extra-hospitalar, a arte passa a ter 
um papel de grande importância, possibilitando a reabilitação e inclusão sócio-
familiar dos doentes mentais, priorizando o tratamento do indivíduo como um todo. 
Cabe ressaltar que, segundo Ciornai (2004), o uso terapêutico das artes remonta às 
civilizações mais antigas. Contudo, só em meados do século XX a Arteterapia se 
apresentou com um corpo próprio de conhecimento e atuação, determinada pela 
crise da modernidade, em meio às mudanças que marcaram essa época. 
Tommasi (2005) destaca que a arte sempre esteve vinculada à existência humana, 
como meio de diálogo, interação social, registro histórico, desenvolvimento da 
estética, do belo e harmônico. A importância da arte, sobretudo do desenho e da 
pintura, incide na relação do homem com o mundo, e de como os estímulos externos 
agem no imaginário humano. 
De acordo com Ciornai (2004), Margareth Naumburg – artista plástica, educadora e 
psicóloga americana – foi quem primeiro interessou‐se pelo elo entre o trabalho 
desenvolvido na sua escola, onde utilizava‐se o método Montessori e o campo da 
psiquiatria e da psicoterapia. Naumburg, apesar de não ter sido a primeira a 
empregar o termo arteterapia, ficou conhecida como “mãe” da técnica por ter sido a 
primeira a diferenciá‐la claramente como um campo específico, estabelecendo os 
fundamentos teóricos sólidos para seu desenvolvimento. 
A referida autora afirma ainda que em suas palestras, livros e doutrinas, Naumburg 
sempre deixou clara sua crença na seriedade da atividade criativa e expressiva para 
o desenvolvimento pleno de cada ser humano e de cada comunidade social. Muitos 
7 
 
foram seus seguidores, culminando na fundação da Associação Americana de 
Arteterapia (AATA) em 1969. 
De acordo com Achterberg (2000), na década de 1980, a arteterapia chega ao Brasil 
por Selma Ciornai, psicoterapeuta gestáltica com formação em Arteterapia em Israel 
e nos Estados Unidos, que a apresentou a São Paulo, criando o primeiro curso de 
Arteterapia do país, no Instituto Sedes Sapientiae. 
A Associação Brasileira de Arteterapia (2009) define essa técnica como um estilo de 
trabalhar empregando a linguagem artística como alicerce da comunicação cliente-
profissional. Seu cerne seria a criação estética e a elaboração artística a favor da 
saúde. 
De acordo com Ferraz (1988), dois psiquiatras se destacaram por suas contribuições 
na fundamentação teórica da arteterapia no Brasil: Osório César, em 1923, e Nise 
da Silveira, em 1946. Osório César trabalhou com arte no hospital do Juquery, em 
São Paulo, sob a influência da Psicanálise. 
Tommasi (2005) destaca que Osório Cesar trabalhou por 40 anos no Complexo 
Hospitalar de Juquery. Em seu artigo intitulado “A arte primitiva dos alienados” 
(1925), apresentou informações sobre a arte dos doentes mentais. Osório Cesar 
adquiriu grande conhecimento por meio da observação, sem caráter científico, dos 
pacientes trabalhando de forma espontânea. Averiguou que o material produzido 
tinha natureza própria, com deformações e distorções figurativas, de caráter 
simbólico. A produção artística dos pacientes incitou Osório Cesar a fundar a Escola 
Livre de Artes na década de 50, que tinha como desígnio expor habilidades plásticas 
e musicais. A Escola Livre de Artes funcionou por 20 anos. Durante este período 
foram realizadas várias exposições, que acenderam polêmicas em torno dessa nova 
técnica terapêutica. 
Em 2001, segundo Tommasi (2005), movida pela pesquisa de doutorado, Sonia 
Maria Bufarah Tommasi ofereceu à Dra. Maria Tereza Gianerini Freire, diretora do 
complexo Hospitalar de Juquery, uma proposta de montar um ateliê de arteterapia, 
para atender pacientes graves. O material produzido no ateliê, em 2 anos de 
trabalho, foi analisado por Sonia Maria que verificou que a participação dos 
pacientes nas oficinas do ateliê lhes proporcionou que expressassem conteúdos de 
intensa relação com as experiências pessoais de vida de cada um. Assim, a 
8 
 
pesquisa comprovou a hipótese de que as afinidades entre saúde mental e arte 
podem cooperar para a melhoria dos serviços de saúde e para o incremento de 
tratamento mais humano aos doentes mentais. 
Outra figura que se destacou por sua contribuição no desenvolvimento da 
arteterapia no Brasil foi Nise da Silveira. Segundo Silveira (1981), ela desenvolveu 
um trabalho no Centro Psiquiátrico Dom Pedro II, no Rio de Janeiro sob a influênciajunguiana, procurando compreender as imagens produzidas pelos pacientes. 
Tommasi (2005) destaca que Dra. Nise era inteiramente contra os métodos de 
tratamento exercidos na época, tais como eletro choque e lobotomia, fator este, 
decisivo para sua luta em favor dos pacientes, possibilitando outras formas de 
tratamento. Dra. Nise percebeu na linguagem não verbal instigada por intervenção 
das expressões artísticas como desenho, pintura, modelagem e dança, a 
possibilidade para penetrar no mundo psíquico dos pacientes. Os pacientes, no 
ateliê, podiam expressar conteúdos internos, afirmando a si e aos outros, que 
mesmo estando internamente desorganizados, apresentavam aspectos conservados 
e intactos em sua estrutura psíquica. 
De acordo com Silveira (1981), em 1952 foi criado o Museu do Inconsciente, na 
cidade do Rio de Janeiro, por Dra. Nise, que reuniu trabalhos realizados pelos 
pacientes do Centro Psiquiátrico Dom Pedro II. O Museu do Inconsciente é 
considerado um acervo de grande estima nacional e internacional. 
Em 1981, de acordo com Tommasi (2005), Dra. Nise escreveu o livro “Imagens do 
Inconsciente”, expondo sua metodologia de trabalho, a sua análise, o respeito e 
cuidado com o ser humano, reconhecendo que a doença e o doente mental estão 
arraigados no contexto social, cultural e econômico. 
Assim, percebemos a importância da utilização da arte como forma de expressão 
para doentes mentais, uma vez que possibilita ao indivíduo a manifestação de 
sentimentos inconscientes, bem como a organização de tais sentimentos que podem 
ser expressos por desenhos, pintura, modelagem, entre outras formas de aplicação 
de materiais em oficinas e ateliês de arteterapia. 
É dentro dessa perspectiva que os CAPS vêm desenvolvendo um trabalho articulado 
à arte na saúde mental, propondo-se a viabilizar e dinamizar os processos em 
grupos terapêuticos, empregando as variadas expressões artísticas, sendo 
9 
 
executado por artistas, arteterapeutas, arte-educadores e profissionais de saúde 
mental com formação em arteterapia. 
Dessa forma, a arteterapia é inserida no CAPS como forma de tratamento. Há várias 
formas de conceituá-la, mas para Philippini (2004), trata-se de um método 
terapêutico que se utiliza de modalidades expressivas distintas, que servem a 
materialização de símbolos. Essas criações simbólicas representam níveis 
profundos e inconscientes da psique, possibilitando o confronto, no nível da 
consciência, destas informações, propiciando “insights3” e posterior transformação e 
expansão da estrutura psíquica. Em outras palavras, trata-se de terapia através da 
Arte. 
Segundo Carvalho (2001), a arteterapia é um meio de estimulação à expressão 
artística, proporcionando que os pacientes possam se auto-observar, gerando 
reflexões sobre o desenvolvimento pessoal, aptidões, preocupações e conflitos. 
Para Gehringer (2005) não se trata apenas da junção da arte com a psicologia, mas 
de uma abordagem fundamentada num corpo teórico e metodológico próprios, 
envolvendo conhecimentos em história da arte e dos pioneiros e contemporâneos de 
maior proeminência na arteterapia; dos processos psicológicos gerados tanto no 
decorrer da atividade artística como na observação dos trabalhos de arte; das 
relações entre processos criativos, terapêuticos e de cura e das propriedades 
terapêuticas dos diferentes materiais e técnicas. 
O trabalho em Arteterapia pode ser desenvolvido individualmente ou com um grupo 
de pessoas. Para Tommasi (2005) a tarefa do arteterapeuta incide em estimular e 
auxiliar o paciente e/ou grupo a empregar técnicas expressivas, podendo ser verbais 
ou não-verbais, por interferência do corpo, ou ainda, com materiais expressivos tais 
como lápis coloridos, papel de variados tipos, tintas de várias cores, tela, massa de 
modelar, argila. Todo o processo tem grande importância, desde a escolha do 
material até o produto final. O resultado não habita na beleza do trabalho e sim no 
 
3
 De acordo com o Dicionário de Psicologia, Mesquita & Duarte (1996), insight ou intuição é um 
termo criado por W. Kõhler em A Mentalidade dos Macacos, para designar a solução súbita de um 
problema, em contraste com a aprendizagem por tentativa e erro. Atualmente a utilização deste 
termo refere-se à possibilidade de se estabelecerem novas relações ou conexões para 
encontrar uma ideia ou compreender um problema. 
 
10 
 
processo como um todo. O paciente, ao desenhar, escrever e pintar, utiliza desses 
recursos para travar um diálogo que o conduzirá ao autoconhecimento. 
A arte está presente nos diversos CAPS do país, com a criação de grupos de 
arteterapia e de acordo com diversos estudos (COQUEIRO, 2010; SILVA, 2011; 
MARANHÃO, 2010) vêm apresentando excelentes resultados quanto à promoção do 
ser humano como um todo, o que inclui aspectos psíquicos e sociais, respeitando as 
suas individualidades e os ajudando a restabelecer relações. O eixo central é a 
influência mútua organismo-meio e essa interação acontece por meio de dois 
processos concomitantes: a organização interna e a adaptação ao meio. O processo 
de criação provoca essa reorganização interna de sentimentos e pensamentos e a 
partir desse ponto é possível estabelecer uma linguagem com o externo, a realidade. 
Dessa forma, notamos a aplicabilidade da arteterapia no contexto do CAPS, bem 
como a sua relevante contribuição para a melhora do quadro dos usuários, uma vez 
que proporciona um desenvolvimento no autoconhecimento e enriquecimento na 
expressão de sentimentos e emoções que podem contribuir com a saúde mental do 
paciente. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A arteterapia vem ganhando espaço cada vez maior no campo da saúde mental, 
apresentando-se como uma das ferramentas fundamentais para amenizar os efeitos 
negativos da doença mental. É central a promoção do bem-estar da pessoa com 
sofrimento psíquico, uma vez que a arteterapia propicia mudanças nos campos 
afetivo, interpessoal e relacional, melhorando o equilíbrio emocional ao término de 
cada sessão. 
Avaliamos que, mediante a interpretação e a reflexão das experiências na relação 
terapêutica, a pessoa vai se ajustando aos seus próprios conteúdos, conhecendo a 
si mesma e se tornando sujeito ativo do processo terapêutico. 
A partir dessa reflexão podemos perceber que a arte e a loucura sempre estiveram 
juntas através da história, porém na atualidade é entendida com um novo olhar. 
Esse novo paradigma em Saúde Mental valoriza a multidisciplinaridade. Os novos 
substitutivos em saúde mental somam-se numa sugestão de um projeto terapêutico 
11 
 
que respeita as individualidades e singularidades do sujeito. Portanto não é 
prioridade o produto final de uma oficina, mas sim as trocas que se estabelecem e o 
ganho oriundo disso, uma vez que a possibilidade de criação se dá na produção de 
sentido para a vida e a sociabilidade. Esse novo protótipo responderá às 
perspectivas da desinstitucionalização, se priorizar a possibilidade de o artista 
constituir laços com o mundo. 
Dessa forma, reforçamos a importância de um profissional habilitado para trabalhar 
com arteterapia nos CAPS, dada a importância e relevância da técnica na melhora 
do quadro de pacientes com transtornos mentais. Notamos ainda, um vasto campo 
para profissionais em Saúde Mental, sobretudo psicólogos, que encontram uma 
nova porta de entrada no mercado se especializando em arteterapia. Existem no 
Brasil cursos de especialização em arteterapia, que proporcionam habilitação e 
qualificação a estes profissionais. Ressaltamos que se trata de um trabalho 
recompensador para o arteterapeuta, visto que possibilita aos pacientes ganhos de 
suma importância na qualidade de vida. 
Em suma, a arterapia vem ganhando espaço não só no campo da saúde mental, 
como também em diversas áreas, uma vez que é uma técnica indicada para 
crianças, adolescentes,adultos, portadores de necessidades especiais motoras ou 
mentais, pessoas sadias e enfermas. Tratando-se especificamente do campo da 
saúde mental, ressaltamos que a arteterapia apresenta um novo olhar e uma nova 
forma de cuidar e proporciona uma evolução no quadro de doentes mentais. 
 
 
 
ART THERAPY CAPS ON: A NEW WAY OF CARING 
 
ABSTRACT 
Art therapy provides the individual with a mental disorder, many opportunities, such 
as freedom of expression, support their creative autonomy, expanding your 
knowledge about the world adapting their emotional and social development. With 
12 
 
the advent of the Centers for Psychosocial Support (CAPS), with a new look at the 
treatment of the mentally ill, our aim was to work with this, report entering the art 
therapy in Brazil, contextualizing its entry with the emergence of CAPS within an 
overview of deinstitutionalization, which dates back to the psychiatric reform. To this 
end, we conducted a literature review on the subject, pointing out the main 
contributions to the literature on that subject. It has been found that the use of PCC in 
the art therapy has been gaining space and becomes a very important tool for the 
treatment of program users. 
Keywords: Mental health. Art therapy.Psychiatric reform. 
 
Data de entrega dos originais: ____ de março de 2013. 
 
 
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