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INFECÇÃO DE VIAS AÉREAS SUPERIORES (IVAS) OTITE MÉDIA AGUDA (OMA) É uma infecção com desenvolvimento rápido de sinais e sintomas de inflamação aguda na cavidade da orelha média. Ocorre devido a presença de líquido preenchendo a cavidade da orelha média sob pressão, com início abrupto dos sinais e sintomas causados pela inflamação dessa região. É uma das razões mais frequentes de visita aos médicos em crianças menores de 15 anos de idade, entretanto, mesmo com alta prevalência, é uma entidade autolimitada e com baixa incidência de complicações e mortalidade. É uma das doenças infecciosas mais comuns na infância. O pico de maior incidência é nos meses de inverno com fator predisponente base sendo o quadro de resfriado ou gripe anterior. A incidência é entre 6-11 meses de idade, com o segundo pico entre 4 e 5 anos. Em menores de 2 anos é comum o acometimento bilateral devido a horizontalização da tuba auditiva. Os fatores de risco para OMA podem depender do hospedeiro ou decorrer de fatores ambientais: Fatores relacionados ao hospedeiro: o primeiro episódio de OMA antes dos 6 meses é um fator de risco importante para a recorrência das OMA. Crianças com fenda palatina, síndrome de Down, malformações craniofaciais, imunodeficiência e discinesia ciliar primária apresentam risco aumentado. Fatores ambientais: costuma decorrer de IVAS, e ambas possuem maior incidência nos meses mais frio (inverno). As creches e os berçários representam um fator de risco considerável no desenvolvimento da OMA, em especial pela alta prevalência de infecções respiratórias, facilitando a contaminação viral entre as crianças. Outro fator de risco é o tabagismo passivo. O aleitamento materno é um fator de proteção. No caso de crianças que tomam mamadeira, os pais devem cuidar para que não a tomem deitadas, sugerindo-se que a cabeça fique elevada. A maioria das crianças apresenta evolução favorável durante um episódio de OMA, com resolução espontânea e independe da adesão ao tratamento ou do tipo de medicação. A resolução espontânea fica evidente quando se opta por observação inicial, com melhora dos sintomas em 60% dos pacientes depois de 24h e ausência de sintomas residuais em 80% das crianças após 2 a 3 dias. A OMA é mais prevalente no lactente e na criança pequena. Essa predisposição decorre de fatores anatômicos e imunológicos característicos dessa faixa etária. A tuba auditiva ventila a orelha média. Durante o repouso, encontra-se fechada. Sua luz é virtual e abre- se de forma intermitente pela contração do músculo tensor do véu palatino durante a deglutição ou bocejo. A tuba auditiva da criança é mais horizontalizada, o que facilita a progressão de microrganismos da rinofaringe para a orelha média. Ao nascimento, o sistema imunológico da criança é imaturo. O RN apresente altos níveis de IgG materno, que vão progressivamente diminuindo, tornando-se pouco efetivos por volta dos 5 a 6 meses de idade. Por outro lado, a criança produz gradualmente mais IgG, IgA e IgM próprias, atingindo um platô quando a criança está maior. A OMA geralmente é desencadeada por um processo infeccioso, IVAS em geral, associado a um determinado grau de disfunção da tuba auditiva e do sistema imunológico. Pode ser causada por vírus respiratórios e/ou infecção bacteriana no espaço da orelha média, como resultado da resposta do hospedeiro á infecção. A OMA ocorre mais frequentemente como consequência de uma IVAS que causa inflamação/disfunção da tuba auditiva mantendo os vírus causadores da IVAS e as bactérias patogênicas, para a cavidade da orelha média. O VSR e o adenovírus estão entre os vírus mais comumente associados à OMA. A maioria dos patógenos da orelha média deriva da nasofaringe, porém nem todos os patógenos são otopatógenos: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae não tipável e Moraxella catarrhalis. São sinais e sintomas constantes: Otalgia: em crianças pode ser percebida devido a manipulação extrema da orelha Choro excessivo Febre Alterações de comportamento e padrão de sono Irritabilidade Diminuição do apetite Diarreia Membrana timpânica com hiperemia ou opacidade, abaulamento, diminuição da mobilidade e otorreia aguda O diagnóstico é clínico e o exame clínico essencial. Vale lembrar que a otalgia é extremamente importante, porém não se deve confundi-la com a otalgia da otite externa das crianças que estão expostas a água de piscinas. Essa otalgia cursa sem febre, sem história pregressa de IVAS e com relação causa/efeito: a orelha da criança esteve em contato com água de mar ou piscinas, situação mais sazonal, ocorrendo em geral, no verão. Já o OMA incide mais nos meses frios, na vigência ou sequência de uma IVAS e com febre. Etiologia viral: membrana timpânica é levemente opaca, com hiperemia difusa leve ou moderada e ausência de abaulamento. Etiologia bacteriana: membrana timpânica opaca com hiperemia intensa, presença de abaulamento e diminuição da mobilidade. O principal sinal que indica a etiologia bacteriana é a presença de abaulamento. A OMA deve sempre ser confirmada pela otoscopia. São sinais de alteração da membrana timpânica encontradas na OMA: mudanças de translucidez, forma, cor, vascularização e integridade. O achado mais significativo é o abaulamento da membrana timpânica. A hiperemia pode indicar fase inicial e, na sequência, ocorrer a opacidade e até mesmo a perfuração espontânea da membrana timpânica com otorreia súbita. A idade da criança (<24 meses), a gravidade dos sintomas, a presença de otorreia aguda e a bilateralidade direcionam o tratamento da OMA de maneira mais incisiva. 80% dos casos melhoram sem antibiótico e, geralmente, não ocorrem complicações. O acompanhamento, a observação e o monitoramento dessas crianças são de extrema importância. Caso não comecem a melhorar rapidamente, o antibiótico pode ser considerado. A partir do diagnóstico, há algumas recomendações para o tratamento: Conduta expectante: observar de 48-72h com tratamento sintomático. Analgesia: o ibuprofeno é o mais indicado, mas pode ser utilizado paracetamol e dipirona em caso de alergia. Antibioticoterapia: quando recomendada, deve ser baseada na eficácia contra os patógenos mais frequentes. Se a otalgia intensa ou a febre persistirem por 72h do início do tratamento, o antibiótico deve ser trocado. A antibioticoterapia é empírica, pensando nos agentes etiológicos mais comuns. O medicamento de primeira escolha é a amoxicilina 50 mg/kg/dia 2 ou 3x/dia por 10 dias. No caso de história pregressa de OMA ou uso de amoxicilina nos últimos 30 dias as opção de prescrição são a amoxicilina em altas doses, em torno de 70-90mg/kg/dia 2 ou 3x/dia por 10 dias ou amoxicilina com ácido clavulânico de 40- 60 mg/kg/dia, 2 ou 3x/dia por 10 dias. O uso do antibiótico pode levar a melhora do quadro febril em até 72h. Se houver qualquer piora do estado geral, retornar ao PA independente de alcançar o período de 72h para rever o esquema de antibioticoterapia. Nessas 72h pode não ocorrer a melhora da coriza, tosse ou demais sintomas, mas na pediatria a resolução da febre é um ótimo indicativo do processo infeccioso. O excesso de secreção pode evoluir para a otite média aguda supurada. Esse processo é muito dolorido e, por isso, deve-se realizar a analgesia com ibuproeno ou dipirona. O uso de corticoides como prednisolona. A vacina conjugada para o pneumococo e a anual da influenza estão recomendadas para todas as crianças. Os médicos devem encorajar a amamentação exclusiva por pelo menos 6 meses e desencorajar a exposição ao tabagismo passivo. Medicamentos como corticoesteroides, anti-histamínicos, descongestionantes e anti-inflamatórios não hormonais não têm sustentação científica, pois não há estudos confiáveis que atestem sua eficácia. Procedimentos de drenagem ou evacuação da efusãoda orelha média (timpanocentese e/ou miringotomia) durante episódio de OMA estão restritas a resposta insatisfatória à antibioticoterapia, imunodeficiência, doença grave e complicações supurativas como mastoidite.
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