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Taise Terra @med_rabiscos Infecção intestinal causada pelo protozoário flagelado Giardia Problema de saúde pública: diarreia em crianças pode levar, como consequência, distúrbios de absorção intestinal e retardo no desenvolvimento HISTÓRICO o Lambl (1859): denominou o protozoário de Cercomonas intestinalis o Kunstler (1882): criou o gênero Giardia, atribuído a outras espécies (G. intestinalis, G. duodenalis, G. lamblia, G. enterica) o Taxonomia controversa: baseada em hospedeiro de origem e características morfológicas, mas diferentes hospedeiros podem apresentar espécies idênticas, e um mesmo hospedeiro pode ter espécies diferentes o Filice (1952): classificação em 3 espécies ® 1 – G. duodenalis (mamíferos (homem), aves e répteis); 2 – G. muris (roedores, aves e répteis); 3 – G. agilis (anfíbios) o Espécies encontradas em aves: G. psittaci e G. ardeae (periquitos e garças azuis) o G. lamblia, G. duodenalis e G. intestinalis têm sido empregadas como sinonímia (para origem humana) SISTEMÁTICA Flo Sarcomastigophora, subfilo Mastigophora, classe Zoomastigophorea, ordem Diplomonadida, família Hexamitidae MORFOLOGIA • Formas evolutivas: trofozoíto e cisto • Trofozoíto ® encontrado no intestino delgado, movimenta por flagelos, nutrição por membrana e por pinocitose, reprodução por divisão binária longitudinal; formato piriforme, com simetria bilateral, mais cumprido do que largo, possui 4 pares de flagelos (anteriores, ventrais, posteriores e caudais); face dorsal lisa e convexa, face ventral côncava (disco ventral); possuem dois núcleos idênticos, não possuem mitocôndrias O disco suctorial se localiza a 2/3 na face ventral e promove a adesão na mucosa intestinal – quando a giárdia fica mais velha, esse disco perde a capacidade adesiva e ela descola da mucosa, virando cisto (resistência) • Cisto ® formato oval ou elipsoide; possui parede externa glicoproteica (parede cística) – resistência às variações de temperatura, umidade, produtos químicos (desinfetantes); possuem 2 ou 4 núcleos, fibrilas longitudinais (axonemas de flagelos; interiorizados); corpos escuros em forma de meia-lua no polo oposto dos núcleos EPIDEMIOLOGIA • Parasita predominante em exames de fezes ® cistos facilmente ingeridos em água e alimentos contaminados • Distribuição mundial de casos, tanto em áreas desenvolvidas quanto em desenvolvimento • Milhões de casos assintomáticos • Surtos de gastrenterites de veiculação hídrica: em países em desenvolvimento; faltam condições básicas de saneamento e tratamento de água eficiente TRANSMISSÃO • Cistos são formas infectantes para homem e animais • Transmissão via fecal-oral (indireta - ingestão de água e alimentos contaminados; direta - de pessoa a pessoa por mãos contaminadas e contato com animais infectados) • Transmissão em aglomerações (creches, orfanatos), entre familiares, entre homossexuais masculinos Ciclo de vida • Poucos cistos são necessários pra infectar o hospedeiro (10-25) • Ingestão do cisto ® processo de desencistamento (começa no meio ácido estomacal, completa no duodeno e jejuno, onde cada cisto maduro com 4 núcleos libera 2 trofozoítos binucleados) ® trofozoítos se multiplicam por divisão binária longitudinal e colonizam o intestino, ficando aderidos à mucosa ® passam por processo de encistamento no ceco • Encistamento: trofozoíto reduz o metabolismo e tamanho, fica globoso, perde o disco suctorial e os DISCO VENTRAL (ADESIVO OU SUCTORIAL): adesão do parasito à mucosa intestinal CORPOS MEDIANOS: Morfologia usada para denominação de espécies giardíase giardíase PARASITOLOGIA | TAISE TERRA - @MED_RABISCOS Taise Terra @med_rabiscos flagelos, além disso, secreta uma parede cística ao seu redor (quitina e glicoproteínas) • Cistos são excretados com as fezes do hospedeiro – podem permanecer viáveis no ambiente por meses o Se ingerir o trofozoíto não tem giardíase, precisa ingerir o cisto pra ele passar pelo estômago o Quanto mais cistos, maior é a intensidade PATOGENIA • Processos patofisiológicos determinados por fatores como cepa, número de cistos ingeridos, resposta imune do hospedeiro, estado nutricional, pH do suco gástrico, microbiota intestinal • Causa alterações no epitélio intestinal, semelhantes a enterites bacterianas e virais, anafilaxia alimentar crônica, doença de Crohn e doença celíaca • Diarreia e má absorção intestinal devido a alterações da arquitetura intestinal (nas microvilosidades) • Lesões nas microvilosidades das células intestinais: diarreia • Processo inflamatório desencadeado pela resposta imune: aumenta linfócitos intra-epiteliais antes mesmo de alterar as vilosidades; ativação de linfócitos T pode induzir retração das vilosidades (deficiência de dissacarídeos e má absorção – diarreia) o T CD8+: injúria do epitélio intestinal e deficiência de dissacarídeos o T CD4+: eliminação do parasito • Hipersecreção de cloreto na luz intestinal: acúmulo de fluido no lúmen, aumenta o volume, pode resultar em quadros diarreicos graves • Secreção de proteínas e lecitinas pelos trofozoítos que podem ser tóxicas, causando injúrias no epitélio intestinal IMUNIDADE • Evidências: autolimitada, anticorpos anti Giardia circulantes e IgA na mucosa; maior susceptibilidade de imunocomprometidos, menor susceptibilidade de pessoas em áreas endêmicas • Desencadeiam resposta inflamatória e imune com produção de IgA e IgE que ativa mastócitos e libera histamina – edema – aumento de motilidade – diarreia Sinais e sintomas • Quadro clínico diverso (sintomáticos e assintomáticos) • Sintomáticos: varia com um quadro de diarreia aguda e autolimitada OU um quadro com diarreia persistente, com evidencia de má absorção e perda de peso não responsivo a tratamentos específicos • 50% dos casos a infecção é resolvida de forma espontânea • Em assintomáticos, o indivíduo pode eliminar cistos nas fezes por até seis meses (problema!) • SINTOMÁTICAS AGUDAS: diarreia aquosa, explosiva, de odor fétido, acompanhada de gases, distensão e dores abdominais; muco e sangue raramente; dura poucos dias • INFECÇÃO CRÔNICA: sintomas persistem por anos; diarreias podem ser contínuas, esporádicas ou intermitentes; esteatorreia, perda de peso, problemas de má absorção (gorduras e nutrientes, vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), B12, ferro, xilose e lactose) • Esteatorreia: fezes gordurosas devido a pouca absorção de lipídios • Maior impacto na má absorção quando em crianças: pode levar a distúrbios no desenvolvimento físico e mental DIAGNÓSTICO • Detecção por métodos convencionais pode ser comprometida devido as limitações das técnicas empregadas e da falta de conhecimento e treinamento dos profissionais em laboratórios • Diagnóstico clínico não é suficiente, carece de laboratorial pra comprovação • Exame microscópico de fezes – identificação das formas do parasito • Nas fezes formadas: cistos • Nas fezes diarreicas: trofozoítos e cistos • Trofozoitos perecem rapidamente, então fezes diarreicas devem ser coletadas com substância fixadora (formol 10%, MIF ou SAF) • Indivíduos infectados não eliminam cistos de forma contínua (é intermitente); possibilidade de falso negativo; coletar 3 dias alternados • Enterotest: obtenção de trofozoítos no duodeno • Pra aumentar a sensibilidade (não dar falso negativo): imunofluorescência indireta (IFI) e ELISA • Detecção de anticorpos no soro (falso positivos; baixas sensibilidade e especificidade) – só levantamento epidemiológico Taise Terra @med_rabiscos • Detecção de antígenos nas fezes (ELISA)/; sensibilidade e especificidade altas • PCR: especialmente para análise de água possivelmente contaminada TRATAMENTO • Drogas derivadas de nitroimidazois, nitrofuranos e dos corantes de acridina • 5-ntroimidazois são mais usados(alta taxa de cura e baixo custo): metronidazol, tinidazol, ornidazol e secnidazol • METRONIDAZOL: elimina de 80-95% das infecções; problema: muitos efeitos colaterais (náuseas, vômitos, vertigens, dores de cabeça, pancreatites ocasionais e, em aguns, toxicidade do SNC ® efeitos carcinogênicos e mutagênicos • Albendazol (anti-helmíntico derivado dos benzimidazois): apresenta atividade sobre trofozoítos; vantagem de ser pouco absorvido pelo organismo do hospedeiro, então tem menos efeitos colaterais • Nitazoxanida: mais ativa contra as cepas do que o metronidazol e menos tóxica • Atenção na dosagem menor para crianças PROFILAXIA • Medidas de higiene pessoal, de saneamento ambiental e de educação sanitária • Tratamento adequado de água • Desinfecção química (cloração) não é suficiente para inativar os cistos presentes na água • Verificar o parasitismo em animais domésticos e tratar • Tratamento precoce do doente e diagnóstico da fonte de infecção Especificidade: não dá falso positivo; detecta o parasita e não outro que se parece com ele (++) Sensibilidade: não dá falso negativo (--)
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