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1 Mariana Magalhães – PARASITOLOGIA – GIARDÍASE E AMEBÍASE PARASITOLOGIA GIARDÍASE - Doença causada pelo protozoário Giardia lambia ou G. duodenalis ou G. intestinalis - É uma zoonose que pode ser encontrada em cão. - Para o humano, não há vacina, mas para os cães há vacina, que é bem eficiente. Taxonomia: - Reino : Protista - Sub-reino: Protozoa - Filo: Sarcomastigophora - Sub-filos: Mastigophora - Classe: Zoomastigophorea - Família: Hexamitidae - Gênero: Giardia Epidemiologia: - Distribuição mundial cosmopolita - OMS: 500 mil novos casos/ano - Atinge principalmente crianças de 8 meses à 10- 12 anos. Principalmente crianças que vão para escola, pelo contato próximo umas com as outras. - Surtos epidêmicos geralmente são veiculados pela água - Prevalência: 5 a 43% em países em desenvolvimento 3 a 7% em países desenvolvidos - Crianças são mais afetadas - Surtos epidêmicos veiculados pela água - “Diarréia dos viajantes” - Infecta animais silvestres e domésticos (podem ser reservatórios, mas não se sabe ao certo ainda) - Cisto resistente: sobrevive até 2 meses em ambientes úmidos - Resistentes à cloração - Debaixo das unhas - É uma doença de ambientes coletivos Morfologia: - Metabolismo anaeróbio - Utiliza glicose e armazena glicogênio - Possui 2 formas: Trofozoíto Cisto TROFOZOÍTO: - Forma pirforme, ou “raquete de tênis” - Possui de 12-15µm de comprimento - Apresenta simetria bila- teral - Achatamento dorsoventral - Superfície ventral: Disco ventral ou suctorial. Disco adesivo, que se prende na mucosa intestinal, destru- indo as microvilosidades - 2 núcleos: Com mesma quantidade de DNA, ativos transcripcionalmente, se dividem ao mesmo tempo - 4 pares de flagelos - Reprodução: Fissão binária - Habitat: duodeno e parte do jejuno. Mergulhados nas criptas e aderidos mucosa - disco suctorial - Metabolismo: anaeróbio (não tem mitocôndria) - Aerotolerante - Nutrição: membrana e pinocitose - Deslocamento rápido por batimento dos flagelos - Reprodução: divisão binária longitudinal Adesão dos trofozoítos às céls epiteliais do intest. delgado CISTO: - Ovóides com parede cística de quitina - 4 núcleos (duplas estruturas internas) – Identificação no exame de fezes - Eliminados com as fezes formadas - Forma de resistência na água: 2 meses - Resistente à cloração Fezes diarréicas -> TROFOZOÍTOS e alguns cistos Fezes formadas -> CISTOS 2 Mariana Magalhães – PARASITOLOGIA – GIARDÍASE E AMEBÍASE Nos episódios de diarréia, às vezes não dá tempo de formar o cisto, pelo trânsito intestinal estar acelerado, com isso há a eliminação do trofozoíto. Isso vale tanto para giardíase quanto para amebíase. Ciclo: - Afeta principalmente menores de 5 anos - Pacientes com hipogamaglobulinemia (pouca produção de gama-globulinas - Deficiência de IgA - imunoglobulina das mucosas - Veiculação/Infecção através da ingestão dos CISTOS. Esses cistos vão chegar ao trato intestinal, vão desencistar (deixar de ser cisto) e vão formar o trofozoíto. O trofozoíto se divide/multiplica por divisão binária até que ele volte a se transformar em cisto. - Os trofozoítos podem sair pelas fezes, mas não sobrevivem no ambiente. Transmissão: - Ingestão de águas não tratadas - Alimentos contaminados com água de esgoto - Alimentos contaminados por vetores mecânicos (mosca, barata, mosquito, formiga, minhoca) - Mãos contaminadas com fezes - Sexo anal-oral - Período de incubação 1 a 4 semanas com média de 7 a 10 dias Patogenia: - Provoca diarréia e má-absorção intestinal - Adere-se às micro- vilosidades do intestino delgado através de seu disco ventral e impede a absorção de nutrientes - Portador assintomático: Babás e manipuladores de alimentos crus (saladas, maioneses etc.) podem ser fonte de infecção. - Redução da absorção: Trofozoítos induzem um processo inflamatório mediado por proteases que atuam sobre as glicoproteínas de superfície das células epiteliais, alterando a integridade da sua membrana. Há uma alteração nas microvilosidades tanto quando o trofozoíto está em contato com elas quanto ele se solta, e acaba lesando essas estruturas - Atapetamento do epitélio, reduzindo a absorção - Há uma parte mecânica e uma enzimática de destruição das microvilosidades - Pode gerar casos de emagrecimento pela má- absorção intestinal. Quadro clínico: - Diarréia aquosa, explosiva (muito gás), com odor fétido, e dor abdominal - Diarréia dos viajantes (primoinfectados) - Dirréia com esteatorréia (fezes gordurosas), perda de apetite, processo progressivo de emagrecimento, irritabilidade, náuseas, vômitos e dor abdominal - 50% dos indivíduos evoluem para infecções autoresolutivas: cura espontânea - Pode evoluir para quadros de desnutrição - Má absorção de gorduras e vitaminas lipos- solúveis (A,D,E,K), ácidos graxos, ácido fólico, vitamina B12, ferro, xilose e lactose - A giardíase é uma das principais causas de diarréia em pacientes HIV-positivos (indivíduos infectados pelo HIV com diarreia persistente, o exame de um número maior de amostras pode ser necessário para o estabelecimento de um diagnóstico etiológico preciso) Diagnóstico: - Consiste na identificação de cistos ou trofozoítos a partir do exame parasitológico de fezes - Período Negativo: Em alguns pacientes com diarréia crônica, o exame de várias amostras de fezes mantém-se negativo, apesar da presença de trofozoítos no duodeno DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: - A diarréia aguda da giardíase é indistinguível da causada por outros patógenos do intestino delgado. - Sintomas de colite como febre e presença de muco ou sangue nas fezes são incomuns e sugerem outro diagnóstico ou doença concomitante. - Na giardíase o quadro tende a ser intermitente e gradualmente debilitante, enquanto nas infecções 3 Mariana Magalhães – PARASITOLOGIA – GIARDÍASE E AMEBÍASE entéricas bacterianas ocorrem sintomas agudos incapacitantes. - O diagnóstico diferencial da giardíase inclui infecções causadas por Entamoeba histolytica, Dientamoeba fragilis, Cryptosporidium parvum, Isospora belli e Strongyloides stercoralis, além de outras condições como doença inflamatória intestinal, síndrome de má absorção, síndrome do intestino irritável, úlcera duodenal, hérnia hiatal e doenças da vesícula biliar e do pâncreas. Diagnóstico Parasitológico: - Fezes formadas: Pesquisa de cistos pelo método a fresco ou Faust ou HPJ - Fezes diarréicas: Pesquisa de Trofozoítos ou cistos – examinados imediatamente após a coleta ou conservante MIF - No fluido duodenal e biópsia: Casos crônicos/ suspeita. Pesquisa de trofozoítos “entero-test” (teste do barbante). Diagnóstico Imunológico: - Soro: pesquisa de anticorpos por ELISA ou IFI – pouco sensível e específico - Fezes: pesquisa de antígenos por ELISA- sensibilidade 85 a 95% e especificidade 90 a 100% - Molecular PCR: Pesquisa em amostras de água: - Vem sendo padronizada (PCR) para a detecção do DNA de G. lamblia nas fezes dos pacientes. Apresenta alta sensibilidade e especificidade, mas sua utilização ainda é limitada Tratamento: - Novas drogas contra G. lamblia estão sendo desenvolvidas com maior atividade e maior capacidade de vencer a resistência contra as atuais drogas, porém mais pesquisas são necessárias para o entendimento dos mecanismos de ação e resposta clínica - Furazolidona (Giarlam) -> vários casos de resistência - Metronidazol - Tinidazol - Secnidazol - Albendazol (Contra-indicado para gestantes) - Nitazoxanida (Annita) - Paramomicina – baixa toxocidade, pode serutilizada em gestantes - Casos refratários: Metronidazol - 750mg, 3x dia, 21 dias - Giarlam: somente deve ser administrado na gestação sob rigoroso acompanhamento médico quando os benefícios para a mãe justificarem o potencial de risco para o feto. - Crianças: 1mês a 6 anos - Giarlam suspensão (5mL, 2x dia, 7 dias). - Controle de cura: 7,14 e 21dias. (Repetir exames parasitológicos) Profilaxia: - Higiene pessoal - Proteção dos alimentos - Tratamento de água e esgoto - Tratamento dos infectados - Educação em saúde - Vacina para o cão – Giardia Vax OBS: Os quadros de diarréia da amebíase e da giardíase são semelhantes. Porém, na giárdia há um diarréia fétida e explosiva, com muito gás e não possui sangue. Pode se cronificar, e levar a um caso de desnutrição. Na diarréia da amebíase há presença de muco e sangue nas fezes (geralmente). 4 Mariana Magalhães – PARASITOLOGIA – GIARDÍASE E AMEBÍASE AMEBÍASE - Há espécies de amebas que são patogênicas, e vão causar diarréia, e outras que são comensais, presentes no trato gastrointestinal e não causam problemas. Agente etiológico: - A amebíase é uma doença causada pelo proto- zoário Entamoeba histolytica - Núcleo bem evidente, com nucléolo no meio (forma de roda de carroça) Epidemiologia: - Cosmopolita: Varia de acordo com a região, de 5 a 50% das pessoas são infectadas - Faixa etária mais acometida: 1 a 5 anos - Afeta 12% da população mundial - Desafio diferencial entre E. Histolytica e E. díspar - Protozoários com inúmeros habitats: Vida livre: Vários gêneros e espécies Parasitas: Entamoeba histolytica Comensais: Entamoeba coli, E. díspar, E. hartmanni, E. gengivalis, Endolimax nana, Iodomoeba butschlii Vida livre, eventualmente parasitas: Acanthamoeba, Naegleria Diferenças nas formas clínicas da doença: Entamoeba histolytica (Schaudinn, 1903) Apresenta diversos graus de virulência, invasiva (podem estar relacionadas com diferentes cepas) Apresenta diversas formas clínicas A cada caso de doença, há 4 casos assintomáticos Entamoeba díspar (Brumpt, 1925) Pode causar erosões na mucosa intestinal Maior parte dos casos assintomáticos e colite não disentérica - A amebíase pode apresentar vários quadros: Assintomático Diarréia amebiana Disenteria grave Essa ameba pode invadir os tecidos da mucosa intestinal, furar este tecido, cair na circulação e pode chegar até o fígado. Morfologia: - Cisto: forma resistente no ambiente. Esféricos - Metacisto: emerge do cisto no intestino delgado, mononucleado. Origina trofozoítos - Trofozoíto: 1 núcleo. Forma ativa com pseudó- podes Pela quantidade de núcleos no cisto, é possível diferenciar o tipo de ameba, se é comensal ou parasita. Ingestão do cisto -> no Intestino delgado, o cisto se transforma em metacisto -> Trofozoíto (que causa todo quadro clínico) -> Cisto (liberado nas fezes) Hematofagia em cultura (Amebas fagocitando hemácias) Ciclo biológico: - Geralmente as amebas são comensais! - Um caso simples de diarréia pode evoluir para um grave processo de destruição tecidual: lesões ulceradas, perfuração intestinal, e pode chegar aos vasos sanguíneos 5 Mariana Magalhães – PARASITOLOGIA – GIARDÍASE E AMEBÍASE História natural da amebíase: - ingestão dos cistos de E. histolytica pode ser assintomática, desenvolver sintomas leves ou graves. - Não infectado: Portador - Infectado: Pode permanecer assintomático ou ter sintomas leves (diarréia) - Sintomas graves: Disenteria amebiana, necrose amebiana do fígado, causando abscessos. Essas manifestações graves podem levar a óbito Patologia: - E. histolytica: complexo de várias linhagens: - Comensais: luz do intestino – assintomática – amebíase intestinal não-invasiva - Virulentas ou patogênicas: As cepas são as responsáveis por quadros clínicos da doença – amebíase invasiva e/ou extra-intestinal Manifestações clínicas: - Forma assintomática: maioria 80-90% dos casos. Cistos encontrado no Exame Parasitológico de Fezes (EPF) – (seria causada pela E. dispar??) - Formas sintomáticas: Diarréica (ou não disentérica): Formas clínicas mais freqüentes 2-4 evacuações/dia Fezes moles com muco Dor em hipocôndrio direito; O que caracteriza esta forma no nosso meio é a alternância entre a manifestação clínica e períodos silenciosos, com funcionamento normal do intestino. Disentérica: 8-10 evacuações/dia Fezes moles com muco ou sangue Febre e calafrios Colites, peritonites, hemorragias, ameboma, sepse. Frequentemente ocorrem perfurações do intestino. Extra Intestinal: É raro em nosso meio, mas já têm sido relatados vários casos de abscessos hepáticos amebianos na Região Amazônica, principalmente nos Estados do Pará e Amazonas. Febre Abcessos hepáticos Dor em hipocôndrio direito Abcessos pulmonares Infecções cerebrais Amebíase cutânea Mecanismo de invasão: Adesão -> Destruição tecidual -> Dispersão amebóide 1: Adesão: Via lectina ligadora de Gal/GalNAc às células do epitélio intestinal 2: Processo de destruição tecidual: Origem do nome - histolytica Ação de enzimas (hialuronidase/proteases/ mucopolissacaridases Formação de úlcera típica 3: Dispersão: O trofozoíta cai na circulação e atinge o fígado via sistema porta 4: Formação de abscessos, necrose e até obstrução do sistema porta - pode levar o paciente a óbito. Mecanismos dependentes de contato Liberação de uma proteína formadora de poros- “amebapore” - atividade citolítica Mecanismos independentes de contato Liberação de colagenase e cisteíno-proteases - degradação matriz extra-celular Amebíase intestinal: - Diarréias, Colites, Úlceras, Perfurações intesti- nais, Peritonite, Apendicite, Amebomas Forma aguda fulminante Forma intestinal invasiva - Invasão das microvilosidades 6 Mariana Magalhães – PARASITOLOGIA – GIARDÍASE E AMEBÍASE Lesão intestinal – “colo de garrafa” ou “gargalo de garrafa”. Lesão muito característica de amebíase extraintestinal Lesões no fígado - “botão de camisa”. Lesão ocorre geralmente no lobo direito. Necrose amebiana Relação parasita-hospedeiro: Mecanismos de defesa do hospedeiro: Camada mucosa – mucinas: Gel aderente, previne adesão às células epiteliais e facilita a eliminação do parasita Glicosidases: Produzidas pelas bactérias da flora intestinal e proteases do lúmen degradam a lectina da E. histolytica Resposta imune Diagnóstico: - Basicamente feito por exame parasitológico de fezes - Clínico: atividades recreacionais, práticas sexuais, condições de higiene e moradia. - Forma intestinal: EPF - exame em dias alternados (3 amostras MIF) Fezes líquidas - trofozoítos Fezes sólidas - cistos Forma Extraintestinal: Exames de imagem e sorologia Não há implicação clínica de amebas comensais no exame de fezes, pois não causam sintomas. Indicam má qualidade de saúde da população, pois sua contaminação também é fecal-oral. Fator de risco para outros parasitos intestinais. - Será feita a análise morfológica dos cistos e trofozoítos pelo exame de fezes. Profilaxia: - Saneamento básico - Proteger os alimentos contra insetos - Higiene pessoal e dos alimentos - Não utilizar fezes humanas como adubo Tratamento: - Secnidazol, metronidazol, tinidazol, ornidazol, nimorazol – amebíase sintomática - Nitazoxanida (Annita) -> amplo espectro $$$$ - Disenteria grave na Amebíase Intestinal ou Amebíase Extra- intestinal - Repouso, dietarica em proteínas e vitaminas, hidratação oral ou parenteral - Metronidazol: 750mg IV/VO 8/8 h 10 dias; crianças 30 mg/kg/dia 3 doses 10 dias (Contra- indicado para gestantes) - Nitazoxanida 500mg VO12/12h 3 dias Amebas de vida livre: Amebíase como doença oportunista: - Trofozoítos fagocitam e digerem microorganismos - Encontradas em todo o mundo no solo, água (rios, lagos, piscinas, água encanada). - Cistos estáveis por 8 meses a temperatura ambiente. - Fatores determinantes para infecção: Tempera- tura, dose infectante, capacidade de persistir nas mucosas, imunidade de mucosa, imunodeficiência - Naegleria fowleri: contato com água, contami- nação via epitélio neurolfatório - indivíduos sadios 7 Mariana Magalhães – PARASITOLOGIA – GIARDÍASE E AMEBÍASE - Meningoencefalite amebiana primária, ocorre principalmente em indivíduos jovens. - Doença rara, mas fulminante. - Meningoencefalite necrotizante hemorrágica. - Mecanismos de invasão: adesão, proteína formadora de poros, fosfolipase, outras proteases. - Acanthamoeba: contato com água, uso de lentes de contato. Contaminação local via epitélio olfatório, via hematogênica. Infecção ocular (ceratites) Para a ameba entrar é preciso ter uma micro lesão preexistente. Diagnóstico: - Exame do LCR (líquido céfalorraquidiano): hemorrágico, neutrófilos, glicose normal ou baixa, proteína elevada - Pesquisa de trofozoítos - Ceratite: raspado de córnea e cultura. Exame direto - Cultura Fotos utilizadas: Google imagens
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