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1 2 APRESENTAÇÃO Esta coletânea de protocolos experimentais didáticos em Fisiologia é o resultado de um empreendimento coletivo do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB-USP. Colaboraram em sua confecção alunos de pós-graduação de nosso departamento, bem como alguns docentes que participaram na supervisão de alunos vinculados ao Programa de Apoio ao Ensino (PAE), na redação de alguns protocolos aqui contidos, ou na coordenação do projeto. Na etapa conclusiva desse empreendimento, um especial esforço foi dirigido no sentido de selecionar, uniformizar e depurar os protocolos a serem incluídos na primeira edição desta coletânea. No entanto, o resultado final não é ainda satisfatoriamente homogêneo e isento de incorreções. Além disso, concebido como um projeto aberto e em constante aperfeiçoamento, é esperada a contribuição de todos que queiram sugerir a adição de novos protocolos, a ampliação dos já existentes, ou a indicação de erros conceituais, metodológicos, gramaticais e tipográficos. O objetivo essencial deste projeto não se constituiu, meramente, em produzir mais uma compilação de aulas práticas em Fisiologia. É nosso intuito, principalmente, colocar à disposição de todos um conjunto de protocolos experimentais, em sua maioria de baixo custo e de fácil execução, que nos motive a empregar, com interesse e regularidade crescentes, esse importante recurso didático no ensino da Fisiologia. Tal esforço poderia beneficiar não só os alunos de graduação que cursam nossas disciplinas, mas também os nossos pós-graduandos, os quais poderiam se envolver com maior profundidade nesse tipo de atividade didática, não só auxiliando e participando das aulas práticas, mas também contribuindo para o enriquecimento e a criação de novos protocolos didáticos. Tão importante quanto aprender Fisiologia, nossos alunos precisam também aprender a ensiná-la. A lista de Colaboradores, aos quais agradecemos, inclui os nomes daqueles que mais diretamente contribuíram para os protocolos experimentais selecionados para esta primeira edição. Desculpando-se pela eventual omissão de nomes que deveriam tomar parte nessa lista, sempre aberta, esperamos contar com a participação de todos aqueles que queiram colaborar com a continuidade e o aprimoramento deste projeto. Marcus Vinícius C. Baldo Janeiro de 2002 3 COLABORADORES Alessandra Crescenzi Alexandre H. Kihara Eliane Comoli Francisco Lacaz Vieira Gerhard Malnic Kellen Brunaldi Lisete C. Michelini Luiz Eduardo Ribeiro do Valle Luiz Renato Rodrigues Carreiro Marcus Vinícius C. Baldo Maria Teresa Carthery Maria Tereza Nunes Raif Musa Aziz Renata Hydee Hasue Rosângela A. Santos Silvia Cristina Figueira Sônia M. L. Sanioto 4 SUMÁRIO BIOFÍSICA _____________________________________________________________ 5 Modelo Hidráulico do Potencial de Membrana _________________________________ 6 Hemólise em Glóbulos Vermelhos __________________________________________ 11 NEUROFISIOLOGIA ____________________________________________________ 15 Percepção Visual _______________________________________________________ 16 Sensibilidade Proprioceptiva______________________________________________ 23 Sensibilidade Somestésica ________________________________________________ 26 Percepção Auditiva _____________________________________________________ 29 Movimentos Oculares ___________________________________________________ 33 Eletromiografia da Atividade Mastigatória___________________________________ 40 FISIOLOGIA DIGESTÓRIA ______________________________________________ 46 Regulação Neural da Atividade Motora do Trato Gastrointestinal e da Salivação _____ 47 FISIOLOGIA RENAL ___________________________________________________ 51 Estudo da Função Renal Humana __________________________________________ 52 Estudo da Função Renal em Ratos _________________________________________ 57 FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR ________________________________________ 63 Registro Não Invasivo da Pressão Arterial Humana ____________________________ 64 Esfigmomanometria em Humanos__________________________________________ 66 Eletrocardiografia (ECG) em Humanos _____________________________________ 69 FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA____________________________________________ 71 Controle da Respiração __________________________________________________ 72 FISIOLOGIA ENDÓCRINA ______________________________________________ 74 Hipo e Hipertireoidismo Induzidos em Ratos _________________________________ 75 Hormônios Sexuais e Castração em Ratos ____________________________________ 77 ÍNDICE REMISSIVO ____________________________________________________ 79 ANEXOS ______________________________________________________________ 84 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido _________________________________ 86 Parecer da Comissão de Ética em Pesquisa com Seres Humanos – ICB-USP _________ 88 5 BIOFÍSICA Cronômetro eletromagnéticoCronômetro eletromagnético 6 MODELO HIDRÁULICO DO POTENCIAL DE MEMBRANA I OBJETIVOS Compreensão de alguns aspectos do comportamento elétrico das células, particularmente o conceito de potencial de membrana, sua gênese e sua importância na modulação de certas funções da célula viva. II FUNDAMENTOS A diferença de concentração de um íon através de uma membrana, associada à seletividade iônica dos canais, pode dar origem a uma diferença de potencial elétrico. A Figura 1A representa o modelo biológico de uma célula hipotética que contém um único canal de Na+ (célula de Na+) ou apenas um canal de K+ (célula de K+). Na célula de Na+ o íon Na+ está em equilíbrio no interior do canal, pois está sendo submetido a duas forças iguais e opostas: uma força difusional dada pelo gradiente químico de Na+ e uma força elétrica, dada pelo gradiente elétrico, direcionada para o interior da célula. A força difusional pode ser expressa como: que é conhecida como equação de Nernst, onde R é a constante universal dos gases, T a temperaura na escala Kelvin, z a valência do íon, F a constante de Faraday, os subíndices ic e ec referem-se a intracelular e extracelular respectivamente e I refere-se ao íon que está sendo considerado. A força elétrica, por sua vez, é dada por: onde ∆Ψ é a diferença de potencial elétrico entre o interior e o exterior da célula, z é a valencia do íon e F é o número de Faraday (F= 96500 C/mol.a). F z Fel = ∆Ψ [ ] [ ]F R T zF I Idiff ic ec = ln 7 (A) (B) (C) Figura 1 – Modelo biológico, elétrico e hidráulico que descreve a gênese do potencial de repouso. Quando um dado tipo de íon (Na+, K+ ou Cl-) atinge o equilíbrio através da membrana ou de seu canal específico, a força difusional sobre ele iguala-se à força elétrica, sendo nula a força resultante sobre o íon. Na Figura 1B temos o modelo elétrico correspondente ao modelo biológico. A célula de Na+ é representada por uma bateria com FEM (força eletromotriz) igual a ENa em série com uma resistência RNa . A célula de K+ é representada por uma bateria com FEM = EK. Observe que a bateria ENa é voltada para dentro da célula enquanto que a bateria EK é voltada para fora. Como indica o modelo elétrico, não há corrente passando pelos elementos do circuito, estando os mesmos em “aberto”, ou seja, desconectados de outros elementos. Podemos também fazer uma representação hidráulica com reservatórios de área muito grande e a altura da coluna d’água numericamente igual ao potenciais de equilíbrio, como mostra a Figura 1C. Observe que estamos tratando do potencial de equilíbrio da célula, e portanto não há correntes elétricas nos modelos elétricos, e nem fluxos de água nos modelos hidráulicos. O modelo descrito acima descreve razoavelmente bem o balanço de forças através da membrana quando uma célula contém na membrana canais iônicos de apenas um tipo. Numa célula real, no entanto, a membrana possui canais com diferentes seletividades iônicas. Neste caso, como tais canais combinam-separa gerar uma 8 diferença de potencial através da membrana? A associação de canais inseridos numa mesma célula com diferentes seletividades iônicas pode dar origem a uma diferença de potencial estacionária através da membrana (Vm). Na Figura 2, temos os três modelos (o biológico, o elétrico e o hidráulico) para uma célula com dois canais inseridos na sua membrana, um canal de Na+ e um de K+. Neste caso, o equilíbrio entre as forças elétrica e difusional é rompido, dando lugar a um regime estacionário, onde as forças difusionais agentes nos íons Na+ e K+ vencem as respectivas forças elétricas. Isto faz com que os íons Na+ entrem continuamente na célula e os íons K+ saiam da célula, por seus respectivos canais. A tendência agora é um aumento da concentração intracelular de Na+ e uma diminuição da concentração de K+. No entanto, isto não acontece porque a manutenção de uma baixa concentração de Na+ (8 mM) e alta concentração de K+ (140 mM) no interior da célula é feita por uma bomba iônica, que retira, continuamente, íons Na+ e recoloca íons K+ no citoplasma. No modelo biológico da Figura 2 vemos que, sobre o íon Na+, atuam duas forças, uma difusional e outra elétrica, que o movem para dentro da célula, enquanto o íon K+ está sendo movido por uma força difusional para fora e uma força elétrica dirigida para dentro da célula. No modelo hidráulico equivalente, também mostrado na Figura 2, as baterias são substituídas por dois reservatórios de grande área de base, cujas alturas correspondem aos potenciais de equilíbrio de Na+ e de K+, respectivamente. Esses reservatórios são interligados por tubos que oferecem resistência à passagem de água, sendo que, quanto maior o diâmetro da seção reta e quanto menor o comprimento Figura 2 – Modelo biológico, elétrico e hidráulico para uma célula com 2 canais na membrana. 9 do tubo, menor é a resistência dos mesmos à passagem de água. O capacitor é representado pelo reservatório central cujo diâmetro é muito menor que os diâmetros dos reservatórios que representam potenciais de equilíbrio. Vamos ver então o funcionamento dos canais iônicos utilizando para tal o modelo hidráulico. No modelo hidráulico correspondente temos 3 reservatórios como mostra a Figura 2: no reservatório da esquerda representamos a bateria ENa por meio de um nível de água fixo, maior que zero e, neste caso, igual a +74,4 metros (+74,4 mV). O reservatório do lado direito representa a bateria EK do modelo elétrico, com nível de 86,6 metros abaixo de zero (-86,6 mV). Cada reservatório lateral tem um dispositivo que fixa seus níveis nos valores indicados na figura. Os sistemas de manutenção de nível são indicados na Figura 2 por círculos com setas e correspondem a bombas iônicas Na/K da célula viva. Vamos supor que, inicialmente, os reservatórios não estão interconectados e o reservatório central está vazio. Ao refazermos as ligações, um fluxo de água dependente do tempo é estabelecido através dos tubos resistivos. O nível do reservatório central (capacitor) aumenta até atingir uma altura de equilíbrio correspondente ao potencial da membranam, e um fluxo de água estacionário entre os dois reservatórios laterais é estabelecido. III MATERIAL - 2 baldes (10, 50 ou 100 litros); - 1 garrafa plástica de refrigerante (1 ou 2 litros); - 2 mangueiras de borracha de igual comprimento. - 2 presílias (prendedor de roupa, “jacarés”); - água IV PROCEDIMENTO A. Montagem do modelo hidraúlico: Fazer um oríficio na borda inferior de cada balde, e na garrafa 2 orifícios em lados opostos. Conectar as mangueiras (seguir Figura 2). Um balde será a bateria de Na (ENa) e o outro a bateria de K (EK). A garrafa será o potencial de membrana (Vm). Inicialmente fazer as conexões entre os baldes e a garrafa, coloncando as presílias nas mangueiras. Preencher os baldes com água, sendo o nível do balde ENa maior que o nível do balde EK. Como os níveis dos baldes podem diminuir, um aluno será encarregado da reposição de água. Este aluno será denominado de ‘bomba iônica’. B. Retirar as presílias, permitindo desta forma o fluxo de água dos baldes para a garrafa Vm. Verificar qual o nível de água na garrafa, se este está mais próximo do nível da ENa ou EK. C. Colocar a presília na mangueira proveniente do balde EK, eliminando- se totalmente o fluxo de água deste 10 compartimento para a garrafa. Verificar o nível do Vm. D. Colocar a presília na mangueira proveniente do balde ENa, eliminando- se totalmente o fluxo de água deste compartimento para a garrafa. Verificar o nível do Vm. E. Repetir B e C, porém sem eliminar totalmente os fluxos dos baldes para Vm. V QUESTÕES PARA APROFUNDAMENTO 1- Baseando-se no resultado obtido em B, podemos afirmar que para 2 especíes iônicas, cujos valores de condutância são similares, aquela que apresentar uma maior diferença entre a concentração intra e extracelular contribuirá mais para o Vm? Justifique. 2- No procedimento C, ao eliminarmos totalmente a contribuição do balde EK para o nível da garrafa, simulamos uma célula apenas permeável a Na+. Como podemos calcular o Vm, e a qual estado de ativação celular esta condição mais se aproxima? 3- No procedimento D, ao eliminarmos totalmente a contribuição do balde ENa para o nível da garrafa, simulamos uma célula apenas permeável a K+. Como podemos calcular o Vm, e a qual estado de ativação celular esta condição mais se aproxima? 4- No procedimento E, um novo nível de Vm era obtido quando o fluxo do balde ENa ou EK para a garrafa era parcialmente eliminado. Remetendo- se ao modelo elétrico, qual parâmetro elétrico foi alterado? 5- Baseando-se no modelo hidraúlico, como você despolarizaria a membrana celular? 6- Baseando-se no modelo hidraúlico, como você hiperpolarizaria a membrana celular? VI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Koester, J. Membrane Potential. In: Essentials of Neural Science and Behavior. Eds E. R. Kandel & J. H. Schwartz. Norwalk, Appleton & Lange, 1995. Procópio-Araújo, J. Gênese do Potencial de Membrana. In: Fisiologia. Ed. M. M. Aires. 2a ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1999. 11 HEMÓLISE EM GLÓBULOS VERMELHOS I OBJETIVOS Analisar a osmose e o equilíbrio osmótico através da membrana plasmática de hemácias. Analisar o fenômeno de osmose. Discutir os conceitos de osmolaridade e tonicidade de soluções. II FUNDAMENTOS As hemácias, ou glóbulos vermelhos, são células anucleadas, metabolicamente ativas, capazes de sintetizar ATP por via anaeróbica. O ATP é utilizado, dentre outros sistemas, pela ATPase-Na-K da membrana plasmática como fonte de energia para o bombeamento de Na+ do interior celular para o meio externo e de K+ em sentido contrário. Esse transporte é responsável, primariamente, pela manutenção de uma composição iônica celular distinta daquela do meio banhante extracelular. As hemácias encontram- se em equilíbrio osmótico com esse meio extracelular. Assim, alterações da pressão osmótica do fluido extracelular com solutos impermeantes levam a rápidos ajustes de volume celular decorrentes da entrada ou saída de água do interior da célula. Observados ao microscópio, os glóbulos vermelhos banhados pelo plasma sanguíneo, ou por solução isotônica artificial (p. ex. uma solução de NaCl a 150 mM), apresentam-se como discos bicôncavos. Essa forma depende de dois fatores principais: (i) da natureza da membrana plasmática, em particular de seus constituintes e das relações destes com o citoesqueleto, e (ii) do volume de líquido presente no compartimento celular. A hemácia se comporta, portanto, como um micro-osmômetro, devido ao fato de sua membrana ser permeável à água e muito pouco permeável aos solutos, principalmente cátions. Solutos não- iônicos hidrossolúveis atravessam a membrana mais ou menos facilmente, dependendo do tamanho molecular. Variações na pressão osmótica da solução externa, induzidas pela adição de um soluto impermeante, levam a alterações do volume celular devido ao movimento de água entre os compartimentos intra e extracelular, até que uma nova condiçãode equilíbrio osmótico seja estabelecida. A forma bicôncava permite às hemácias variarem de volume, principalmente aumentarem de volume, dentro de uma certa faixa, sem que haja danos à membrana plasmática. Ultrapassando-se um volume crítico, quando a hemácia atinge a forma esférica, um aumento subsequente de volume acarreta alterações drásticas da membrana, com aumento da permeabilidade e vazamento do conteúdo celular. Esse fenômeno é denominado de hemólise. A pressão osmótica intracelular pode ser expressa pela relação de van’t Hoff: π = RTC, onde C é a concentração do soluto, R é a constante dos gases, e T é a 12 temperatura absoluta. Lembrando que a concentração de uma substância é dada pelo número de moles (n) dividido pelo volume da solução, a relação de van’t Hoff pode ser reescrita da seguinte forma: )()1( aV RTn i i − = ρ π π = pressão osmótica ρ = coeficiente osmótico ni = número de moles do soluto i. V = volume celular a = volume celular não ocupado por água R = constante dos gases T= temperatura absoluta Os índices (1) e (2) indicam, respectivamente, os compartimentos intracelular e extracelular. O índice i se refere a solutos impermeantes. No equilíbrio osmótico, as pressões osmóticas intra e extracelulares são iguais. Consideranco-se, em uma primeira aproximação, que todos os solutos são impermeantes, podemos escrever a condição de equilíbrio: )2()1( ii ππ = A partir das Eq. I e II podemos obter: )2(i iRTnaV π ρ += Da Eq. III concluímos que o volume celular é função linear de 1/π i(2). Isso significa que quanto maior o valor de 1/π i(2), maior será o volume celular. Mas para se aumentar o valor de 1/π i(2), tem-se que diminuir o valor de π i(2), ou seja, diminuir a pressão osmótica extracelular tornando-a, portanto, hipotônica em relação à célula (Figura 1). III MATERIAL - seringa estéril de 3 ou 5 ml - garrote - algodão - álcool - 20 tubos de ensaio de 15 ml com estante para tubos - água destilada - NaCl - sacarose - uréia - pipetas de 10 ml - heparina - centrífuga (Equação I) (Equação II) (Equação III) 13 Figura 1 – Regressão linear para valores hipotéticos do volume celular (V) obtidos em função do inverso da pressão osmótica extracelular (πi(2)). A extrapolação da reta permite obter o intercepto com o eixo das ordenadas, o qual fornece o valor do volume celular não ocupado por água (a). IV PROCEDIMENTO As hemácias serão expostas a soluções de sacarose, uréia e NaCl em diferentes concentrações, sendo observado o grau de turbidez das suspensões. Em seguida, as soluções serão centrifugadas, sendo suas colorações comparadas antes e após a centrifugação. Coletar sangue humano (2 ml) e adicionar um anticoagulante (heparina, 25 unidades por ml de sangue, ou 0,2 mg de oxalato de Na+ por ml de sangue). Preparar uma bateria de 11 tubos de ensaio contendo soluções de NaCl em concentrações crescentes, obtidas pela mistura de água e NaCl 150 mM nas seguintes proporções volumétricas: 0:10, 1:9, 2:8, 3:7, 4:6, 5:5, 6:4, 7:3, 8:2, 9:1 e 10:0. Homogeneizar as misturas. Em outros tubos de ensaio colocar 10 ml de cada uma das seguintes soluções: NaCl 0,5 e 1,0 M; uréia 0,3 e 0,6 M; sacarose 0,3 e 0,6 M. A cada um dos tubos de ensaio adicionar 100 µl de sangue e agitar suavemente. Examinar os tubos, logo após a adição de sangue, contra um fundo branco contendo letras impressas. Anotar a transparência das soluções. Centrifugar os tubos e compará-los novamente quando à transparência, anotando as diferenças. V QUESTÕES PARA APROFUNDAMENTO 1- Como os vários tubos se apresentam em relação à turbidez da solução? 2- Como a turbidez da solução se relaciona com a concentração do soluto? 3- Como a turbidez da solução se relaciona com a natureza do soluto (NaCl, uréia ou sacarose)? V a 1/ππ i(2) 14 4- Como se explica a influência da natureza do soluto sobre o resultado observado? 5- O que muda na aparência das soluções depois de realizada a centrifugação? 6- Quais soluções mudam após a centrifugação e por quê? VI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Procópio-Araújo, J. Transporte de Água e Osmose. In: Fisiologia. Ed. M. M. Aires. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1999. Lacaz-Vieira, F. & Malnic, G. Biofísica. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 1981. 15 NEUROFISIOLOGIA Miógrafo de Helmholtz 16 PERCEPÇÃO VISUAL I OBJETIVOS 1- Demonstrar a ocorrência de reflexos pupilares; 2- Demonstrar a existência do ponto cego e da trama vascular, evidenciando o mecanismo de preenchimento; 3- Evidenciar as diferenças entre o processamento realizado pela visão central e periférica. II FUNDAMENTOS O processo evolutivo forneceu complexidade suficiente à estruturas visuais de certas espécies animais a ponto de várias características poderem ser extraídas da informação luminosa, tais como a discriminação de forma, detecção da polarização da luz, percepção de profundidade, e visão cromática (discriminação de cores). Essas características não são extraídas individualmente, e em série, da radiação luminosa incidente, mas são processadas simultaneamente e em paralelo por subsistemas visuais, analogamente ao que ocorre nos demais sistemas sensoriais. As principais estruturas oculares são mostradas na Figura 1. A esclera, camada externa que protege o globo ocular, torna-se transparente em sua porção anterior, formando a córnea. Internamente à esclera localiza-se a coróide, camada que contém vasos sangüíneos e é responsável pela nutrição das estruturas oculares. Sobre os dois terços posteriores da coróide repousa a retina, camada complexa que contém os receptores sensoriais sensíveis à luz (fotoceptores) e circuitos neurais envolvidos no processamento inicial da informação visual. A saída do nervo óptico e a entrada dos vasos sangüíneos no olho ocorrem um pouco medial e superiormente ao seu polo posterior, em uma região denominada disco óptico. Como não existem fotoceptores nessa região, a porção de imagem projetada sobre ela não é detectada e processada, e por isso é denominada de ponto cego. A mácula lútea, localizada no polo posterior do globo ocular, delimita a fóvea central, caracterizada pela presença exclusiva de cones, um dos dois tipos de fotoceptores existentes na retina. A Figura 1 – Esquema de um corte sagital do olho humano. 17 fóvea é a região de maior acuidade visual, sendo que movimentos oculares são organizados de maneira complexa com o objetivo de projetar as imagens de interesse sobre essa região da retina. Além da retina, que codifica a informação visual em um padrão de descarga neuronal, o olho necessita de um componente óptico que permita a projeção adequada de uma imagem sobre aquela camada fotoceptora. Essa imagem é focalizada pela córnea e pelo cristalino, ambos exemplos de lentes convexas e convergentes. A superfície anterior da córnea apresenta o maior poder refrator do sistema óptico do olho, situado em torno de +48 dioptrias. O cristalino, no entanto, é o responsável pelo processo de acomodação, por meio do qual um objeto pode ter sua imagem focalizada sobre a retina independentemente de sua distância ao olho. Como a distância entre a pupila e a retina é constante, a acomodação é obtida por meio de alterações da distância focal desse sistema óptico. A distância focal pode ser alterada por intermédio de ajustes na espessura do cristalino efetuados pela contração ou relaxamento dos músculos ciliares. Esses músculos encontram-se sob controle autonômico originado no núcleo de Edinger-Westphal, no mesencéfalo, cujos neurônios pré-ganglionares fazem parte do nervo oculomotor, III par craniano. Para objetos localizados muito próximos ao olho, mesmo uma intensa contração dos músculos ciliares não é suficiente para permitir uma acomodação adequada. Essa distância mínima é denominada ponto próximo, e situa-se, em adultos jovens, em torno de 10 cm. A perda gradual da elasticidade do cristalino, ao longo dos anos, conduz a um aumento da distância que define o ponto próximo, e constitui-se em uma condição denominada presbiopia. Pequenas alteraçõesno diâmetro ântero-posterior do globo ocular ou no raio de curvatura da córnea são suficientes para produzir vários tipos de erros de refração (miopia, hipermetropia, astigmatismo), onde o processo de acomodação não se realiza de maneira satisfatória. A intensidade da luz que incide sobre os olhos varia numa faixa extremamente grande, desde, por exemplo, a luminosidade apresentada por uma estrela distante, até intensidades 10 bilhões de vezes maiores observadas em um dia claro. O sistema visual utiliza um conjunto de mecanismos capazes de lidar com essa ampla faixa de intensidades, o qual inclui recursos puramente ópticos além de processos neuronais e fotoquímicos. A quantidade de luz que atinge a retina é controlada pela íris que, devido à quantidade de pigmento que possui, é impermeável à luz. O diâmetro da pupila humana, variando, aproximadamente, entre 2 e 8 mm, permite uma variação de 16 vezes na intensidade luminosa que atinge a retina, já que essa intensidade é proporcional à área atravessada pela luz. O controle do diâmetro pupilar é exercido pela inervação simpática e parassimpática, essa última responsável pela alça eferente dos reflexos pupilares direto (constrição da pupila em resposta à 18 iluminação do mesmo olho) e consensual (constrição da pupila em resposta à iluminação do olho contralateral). O sistema visual pode ser caracterizado por sua capacidade em discriminar estímulos separados espacialmente, ou seja, sua resolução espacial. Para uma imagem projetada na região da fóvea, a menor distância entre dois estímulos necessária para que eles possam ser vistos como distintos é da ordem de 1 minuto de arco (a uma distância de 1 metro, por exemplo, duas linhas precisam estar separados por 0,29 mm para que possam ser percebidos como objetos distintos). A resolução espacial do sistema visual depende de inúmeros fatores relacionados tanto às características do estímulo, como, por exemplo, sua intensidade, quanto às características do próprio sistema visual. A organização morfo-funcional da retina possui um papel fundamental no que se refere à acuidade visual, principalmente em função da distribuição espacial de cones e bastonetes, de suas diferenças fisiológicas e das interações neurais ao longo da circuitaria retiniana. Os axônios das células ganglionares correm ao longo da superfície interna da retina e juntam- se para formar o nervo óptico, II par de nervos cranianos. Em mamíferos, o nervo óptico projeta-se primariamente ao núcleo geniculado lateral (NGL), no tálamo, e daí para o córtex visual primário, no lobo occipital. Como resultado de uma projeção ordenada das aferências retinianas e talâmicas, o córtex estriado possui um mapa completo da retina, preservando aquilo que se denomina de organização retinotópica. A fóvea, região retiniana de maior acuidade visual, ocupa uma grande parte desse mapa retinotópico, de maneira semelhante à organização de outras modalidades sensoriais em que as regiões de maior acuidade possuem uma representação cortical majoritária (por exemplo, a representação da face e das mãos no córtex somestésico). III MATERIAL - lanterna - régua - lápis - cartões 1 e 2 (Anexo 1) IV PROCEDIMENTO Reflexo pupilar direto Um voluntário deverá estar posicionado em um ambiente não muito iluminado, preferencialmente sentado, com os olhos abertos. O experimentador, munido de uma lanterna pequena, deverá iluminar por alguns segundos um dos olhos do voluntário. Uma forma adequada de proceder é, mantendo a lanterna acesa a uns 15 cm da face do voluntário, aplicar o foco de luz sobre seu olho por alguns segundos, afastando em seguida também por alguns segundos, repetindo então o procedimento (Figura 2). Durante a aplicação do foco de luz sobre o olho 19 do voluntário, o experimentador e demais observadores deverão notar o que acontece com o diâmetro pupilar do respectivo olho (olhos claros facilitam a observação do fenômeno). Também deverá ser observado o que acontece com o diâmetro pupilar quando o foco de luz é retirado daquele olho. Figura 2 – Procedimento utilizado na pesquisa dos reflexos pupilares direto e consensual. Reflexo pupilar consensual Aproveitando a boa vontade do mesmo voluntário, o experimentador deverá impedir, com a própria mão, que a luz da lanterna, ao iluminar um dos olhos, atinja o outro olho do voluntário (Figura 2). O procedimento a ser executado é exatamente o mesmo que o descrito acima, exceto que desta vez deverá ser observado o diâmetro pupilar do olho não iluminado. Mecanismo de preenchimento Fixe seu olho esquerdo sobre o símbolo +, na Figura 3, mantendo o olho direito fechado (se preferir usar o olho direito, gire a figura em 180o, posicionando o símbolo + à esquerda do círculo). Sem desviar a fixação do olhar do símbolo +, afaste e aproxime a figura de seu rosto, prestando a atenção no círculo preto. Existe uma posição específica da figura, a uma certa distância de seu rosto, em que algo acontece com o círculo. Determine essa distância, inclusive medindo-a com uma régua. Figura 3 – Estímulo visual utilizado na pesquisa do ponto cego. Repita o mesmo procedimento anterior, utilizando agora a Figura 4: fixando o olho esquerdo no símbolo + (ou girando a figura em 180o caso queira utilizar o olho direito), afaste e aproxime a figura de seu rosto até que algo aconteça com a grade perfurada, desenhada à esquerda da figura. O que acontece com a grade perfurada? Por quê? 20 Figura 4 – Estímulo visual utilizado para evidenciar o fenômeno de preenchimento. Dirija-se a um ambiente pouco iluminado, e coloque-se preferencialmente à frente de uma parede branca. Ilumine um dos olhos com a lanterna posicionada obliquamente próxima à órbita, em sua região temporal (Figura 5). Enquanto olha em frente para parede, faça movimentos delicados com a lanterna até que possa observar uma imagem semelhante à apresentada na Figura 6. Essa é uma imagem da trama vascular de seu próprio olho. Mais rigorosamente, é uma imagem da sombra, projetada em sua retina, da trama vascular que a recobre. Figura 5 – Manobra empregada na visualização da sombra retiniana de sua própria trama vascular. A lanterna deve ser colocada em movimento fazendo o foco de luz oscilar sobre o olho. Figura 6 – Fundoscopia evidenciando, além do disco óptico e da fóvea, a trama vascular, cuja sombra pode ser vista por meio da manobra aqui descrita. Visão central e periférica Peça a um voluntário para se sentar em uma cadeira, mantendo seu olhar fixado em algum ponto à sua frente. Permanecendo de pé atrás da cadeira (Figura 7), segurando na mão algum objeto ignorado pelo voluntário, o experimentador deverá ir lentamente conduzindo o objeto ao longo de um círculo imaginário ao redor da cabeça do voluntário, a partir da região posterior do campo visual do voluntário (maior excentricidade visual), para posições mais anteriores desse campo visual (menores excentricidades visuais). O ponto de partida deverá ser uma posição na qual o voluntário ainda não pode ver o objeto. Previamente instruído, o voluntário deverá indicar, ao longo da realização do movimento 21 pelo experimentador, o instante em que detecta a presença do objeto em seu campo visual. Nesse instante, o experimentador deve interromper o movimento do objeto, mantendo-o naquela posição, e perguntar ao voluntário se, além de detectar a presença do objeto, é também capaz de identificar sua natureza (borracha, apontador, relógio, etc...). Caso o voluntário ainda não possa identificá- lo, continue o movimento ao longo do círculo imaginário até que o voluntário reporte a correta identificação do objeto. Figura 7 – Procedimento utilizado na exploração do campo visual. Pode ser empregado para evidenciar diferenças, em regiões centrais e periféricas do campo, quanto ao poder de resolução espacial e resolução cromática. Ilustra também a diferença perceptiva entre os processos de detecção e identificação de um estímulo. Repita o mesmo procedimento anterior, mas tenha à sua disposição um conjunto de pequenos objetosidênticos (por exemplo, canetas) mas com cores diferentes. Escolha um objeto de uma determinada cor, ignorada pelo voluntário, e conduza-o lentamente de maiores para menores excentricidade visuais (Figura 7), até que o voluntário indique ter detectado a presença do objeto em seu campo visual. Interrompendo o movimento, pergunte ao voluntário qual a cor do objeto detectado, mesmo que não tenha certeza de sua identificação. Continue então o movimento até que o voluntário reporte uma identificação mais segura da cor do objeto. Repita esse procedimento diversas vezes, aleatorizando a cor do objeto, e anotando as respostas dadas, pois acertos casuais podem ocorrer mesmo que não correspondam a uma percepção correta. Um outro procedimento que poderíamos realizar no laboratório, mas que se tornaria mais interessante em uma noite estrelada (dependendo da companhia, é claro) é o seguinte: olhando para o céu estrelado, procure encontrar uma estrela bem pouco brilhante (em termos mais técnicos, com baixa luminância). Compare o que acontece ao olhar diretamente para ela (visão central), e ao fixar o olhar em um outro ponto no céu, mas ainda mantendo a mesma estrela em seu campo visual (visão periférica). Com persistência e um pouco de sorte, você poderá localizar uma estrelinha que, surpreendentemente, só enxergará se não olhar diretamente para ela! Ou seja, verá a estrelinha somente em seu campo 22 visual periférico. O que acontece com o brilho aparente da estrela nas duas condições de observação (visão central e periférica)? Como você explicaria essa diferença? V QUESTÕES PARA APROFUNDAMENTO 1- Como são chamados os reflexos pupilares que ocorrem no olho que recebe um estímulo luminoso e no olho contralateral? Quando apenas um dos olhos foi estimulado, o que ocorreu com o outro olho? Por quê ? 2- Como se chamam os efetores responsáveis pela alteração do diâmetro pupilar? Identifique os elementos desse arco reflexo. Para que serve o reflexo pupilar? 3- Em relação à pesquisa do ponto cego, o que acontece com o círculo preto quando a figura se encontra naquela posição específica? Qual é a causa fisiológica desse fenômeno? Por que não notamos esse fenômeno em nosso dia-a-dia já que, na maior parte do tempo, algum objeto em nosso campo visual encontra-se nessa posição? 4- Em relação à observação da trama vascular, por que essa manipulação nos permite ver uma imagem que normalmente não vemos? Ainda mais intrigante, por que não percebemos rotineiramente essa sombra da trama vascular, já que ela recobre boa parte de nossa retina? Quais mecanismos fisiológicos de percepção visual podem explicar esses achados? 5- Com relação à sondagem da visão central e periférica, qual a diferença, em sua opinião, entre os processos perceptivos de detecção e identificação? Por que o voluntário é inicialmente capaz de detectar a presença do objeto, embora tenha dificuldade em identificá-lo? Em quais excentricidades visuais (maiores ou menores) é mais provável a correta identificação do objeto pelo voluntário? Qual a razão fisiológica dessa diferença entre maiores e menores excentricidades visuais quanto à capacidade de identificação de um objeto? 6- Ainda com relação às diferenças entre visão central e periférica, a detecção da presença do objeto no campo visual é acompanhada da correta identificação de sua cor? Por quê? Qual a razão fisiológica das possíveis diferenças entre maiores e menores excentricidades visuais? VI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Baldo, M. V. C. & Hamassaki-Britto, D. Visão. In: Fisiologia. Ed. M. M. Aires. 2a ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1999. p. 255- 276. Kandel, E. R., Schwartz, J. H, Jessel, T. M. Perception (Section VI). In: Essentials of Neural Science and Behavior. Norwalk, Appleton & Lange, 1995. p. 365-484. 23 SENSIBILIDADE PROPRIOCEPTIVA I OBJETIVOS 1- Demonstrar os mecanismos envolvidos na transmissão nervosa do estímulo proprioceptivo; 2- Demonstrar os diferentes níveis de integração do estímulo proprioceptivo no SNC; 3- Demonstrar a influência do sistema proprioceptivo no controle da motricidade. II FUNDAMENTOS A propriocepção, ou percepção da posição e do movimento do próprio corpo, é uma modalidade sensorial importante para que o indivíduo possa se locomover espacialmente e interagir com o meio ambiente de forma eficaz. Por exemplo, os receptores sensoriais articulares e musculares levam informações até o sistema nervoso central sobre a posição dos membros, os receptores dos tendões informam sobre a tensão da contração muscular e os receptores dos fusos neuromusculares informam sobre comprimento muscular a todo instante. O reflexo de estiramento é assim chamado pois tem início com o estiramento das fibras musculares e resulta na contração do músculo estirado. Quando o músculo é estirado, ocorre um aumento no comprimento das fibras musculares extrafusais, e paralelamente ocorre o tracionamento da região equatorial do fuso neuromuscular, onde estão localizados os receptores de estiramento. Os receptores de estiramento podem ser de dois tipos: em cadeia nuclear e em saco nuclear. A deformação mecânica desses receptores é captada por terminações nervosas aferentes. As terminações nervosas aferentes podem também ser de dois tipos: as primárias (ou ânulo-espirais) e as secundárias (ou em inflorescência). A informação proprioceptiva captada pelas terminações nervosas aferentes primárias e secundárias serão conduzidas até o sistema nervoso central pelas fibras aferentes Ia e II, respectivamente. Na substância cinzenta da medula espinhal, as fibras aferentes Ia fazem sinapse com os motoreurônios alfa, que inervam as fibras extrafusais do músculo estirado, responsáveis pela contração muscular. As fibras aferentes proprioceptivas também emitem ramos colaterais que ascendem pelo funículo posterior da medula espinhal em direção ao córtex cerebral somestésico, onde poderá se tornar consciente. Indivíduos com sífilis em estágio adiantado podem apresentar uma síndrome chamada tabes dorsalis, caractericzada por lesão no funículo posterior e conseqüente 24 perda da propriocepção dos membros cuja inervação foi acometida. III MATERIAL - vibrador - venda para os olhos - corda (ou barbante) de 60 cm de comprimento IV PROCEDIMENTO O voluntário deve permanecer de olhos vendados sentado em uma cadeira. Os cotovelos devem permanecer semifletidos e apoiados sobre uma mesa. O experimentador deve passar a corda ou barbante pela palma da mão esquerda do voluntário e prender as extremidades da corda na perna da mesa. A corda deve ser ajustada de modo a manter-se levemente tracionada na posição se semiflexão do cotovelo esquerdo. Um auxiliar deve segurar a corda perto da extremidade presa à mesa. Orientações ao voluntário: 1) Acompanhar precisamente com o braço direito qualquer movimento que o braço esquerdo fizer. 2) Estar ciente de que será aplicado um estímulo vibratório na região do tendão muscular. 3) Estar atento e relatar qualquer sensação obtida durante todo o experimento. Orientações ao auxiliar: 1) Tracionar a corda levando a uma extensão do cotovelo esquerdo do voluntário para que seja observada sua capacidade de acompanhar os movimentos com o lado direito. Voltar à posição inicial. 2) Segurar com certa firmeza a corda durante a aplicação do estímulo vibratório. 3) Observar as alterações na tensão da corda. Orientações ao experimentador: 1) Localizar a região do tendão do bíceps braquial e aplicar o estímulo vibratório. O experimentador deve então pedir ao voluntário que acompanhe precisamente com o braço direito qualquer movimento que o braço esquerdo fizer nas seguinte situações: a) O auxiliar deve tracionar a corda de modo a estender o cotovelo do voluntário e em seguida voltar à posição inicial. b) O experimentador deve aplicar o estímulo viratório sobre a região do tendão do bíceps braquial esquerdo do voluntário por aproximadamente 30 segundos. O auxiliar deve manter a corda sob leve tensão. c) O voluntário e o auxiliar devem relatar suas sensaçõesdurante o experimento. 25 V QUESTÕES PARA APROFUNDAMENTO 1- Na situação 1, como é possível que o voluntário saiba, sem o auxílio da visão, os movimentos executados pelo braço tracionado? E como é possível que ele acompanhe com precisão os movimentos com o braço direito? 2- O que foi observado na situação 2 do experimento? Como isto se explica, levando em consideração o relato das sensações do voluntário? 3- Como se explicam as sensações relatadas pelo auxiliar durante a execução da situação 2? 4- O que aconteceria se este mesmo experimento fosse feito usando-se um voluntário com tabes dorsalis? VI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Baldo, M. V. C. Propriocepção. In: Fisiologia. Ed. M. M. Aires. Guanabara Koogan, 1999. p. 231- 238. Pearson, K. & Gordon, J. Spinal reflexes. In: Principles of Neural Science. Ed. E. R. Kandel, J. H Schwartz, T. M. Jessel. McGraw- Hill, 2000. pp 713-736. 26 SENSIBILIDADE SOMESTÉSICA I OBJETIVOS 1- Caracterizar a distribuição dos receptores sensoriais cutâneos. 2- Demonstrar as diferentes densidades de inervação sensorial cutânea. 3- Demonstrar as diferentes densidades de inervação sensorial cutânea. 4- Demonstrar o fenômeno de adaptação sensorial. II FUNDAMENTOS A percepção sensorial começa quando um determinado estímulo ativa uma estrutura especializada: o receptor sensorial. De forma geral, o estímulo é codificado pelo receptor sensorial e transmitido pela via sensorial para o sistema nervoso central, onde é interpretado, podendo participar da emissão de uma resposta do organismo. Estímulos de diferentes naturezas (químico, mecânico, térmico, luminoso, sonoro, entre outros) são captados pelos receptores sensoriais específicos, evocando sensações distintas na maior parte das vezes. Tal especificidade é uma propriedade de toda a via sensorial, desde o receptor até a área da interpretação do estímulo, no córtex cerebral. Os cones e bastonetes da retina, por exemplo, são especializados em responder a um estímulo luminoso. Quando o globo ocular é pressionado com um dedo (estímulo mecânico), a via sensorial da visão é ativada e o estímulo é percebido no córtex visual como um borrão de luz. Porém, um estímulo de intensidade constante sobre um receptor faz com que haja diminuição do potencial gerador. Por isso, a freqüência de disparo do neurônio sensorial pode também diminuir com o tempo, conseqüentemente diminuindo a percepção deste estímulo. Este mecanismo é denominado adaptação sensorial. Outra propriedade importante do sistema sensorial é permitir a localização do estímulo. Cada neurônio é responsável pela inervação sensorial de uma determinada área somática periférica, e a esta área chamamos campo receptivo. Essa determinada área somática possui um conjunto de neurônios que a representam no córtex cerebral. Assim, podemos localizar, com maior ou menor grau de precisão, e sem o auxílio da visão, uma pontada de agulha em qualquer parte do nosso corpo. As fibras sensoriais mantém uma correlação topográfica entre a região periférica inervada e a área de representação desta região no córtex cerebral. Assim, a estimulação de um determinado ponto na pele ativa a região correspondente no córtex cerebral, permitindo sua localização. 27 III MATERIAL - caneta esferográfica. - lápis apontado. - régua . - papel em branco. - clipes metálicos abertos, com distâncias variadas entre suas extremidades: 0,5 cm, 1,0 cm, 2,0 cm, 5,0 cm e 10 cm. - três recipientes com água, com diâmetro igual ou maior que 20 cm. IV PROCEDIMENTO Mapeamento dos receptores sensoriais cutâneos Com a caneta esferográfica e a régua deverá ser demarcada, na face ventral do antebraço de um colega, uma área quadrangular de 3,0 cm X 3,0 cm dividida em quadrados de 0,5 cm X 0,5 cm. Em um papel em branco você irá fazer o mesmo desenho. Peça para que o colega permaneça de olhos fechados. Com a ponta do lápis, você irá tocar os vários pontos do antebraço do colega, sempre com a mesma pressão, e este deve relatar o que sente: frio, calor, pressão ou dor. Anote as sensações do colega no mapa reproduzido na folha de papel. Distância entre dois pontos discrimináveis O voluntário para este experimento deve permanecer de olhos fechados e deve relatar, a cada estímulo, se sente o toque em um ou dois pontos da pele. Você deve tocar com os clipes metálicos (um por vez, não importa a ordem), as seguintes regiões da pele: - polpa digital do polegar, - lateral do braço, - região interescapular. Tome cuidado para tocar a pele com ambas as extremidades do clipe simultaneamente. Anote os resultados para cada região. Adaptação sensorial Você deverá encher um recipiente com água à temperatura ambiente, outro com água quente (40o aproximadamente) e o terceiro com água fria (10o aproximadamente). Um voluntário irá mergulhar a mão esquerda no recipiente com água quente e a mão direita no recipiente com água fria ao mesmo tempo, permanecendo por um minuto. Em seguida deverá mergulhar ambas as mãos no recipiente com água à temperatura ambiente e descrever a sensação. V QUESTÕES PARA APROFUNDAMENTO 1- Com relação ao mapeamento dos receptores sensoriais cutâneos, o que se pode concluir acerca da distribuição dos diferentes receptores sensoriais na pele humana? Explique. Considerando que a temperatura da ponta do lápis é constante, como se explica o fato 28 do voluntário relatar algumas vezes que sente frio e outras não durante o experimento? 2- Em relação à medida da distância mínima entre dois pontos percebidos como distintos, explique os resultados observados nas diferentes regiões do corpo pesquisadas. Que importância funcional possuem esses achados? 3- Qual o mecanismo neural responsável pela sensação térmica relatada pelo voluntário na última manipulação sensorial realizada? VI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Baldo, M. V. C. Somestesia. In: Fisiologia. Ed. M. M. Aires. 2a ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1999. p. 217-230. 29 PERCEPÇÃO AUDITIVA I OBJETIVOS 1- Evidenciar os mecanismos envolvidos na localização de um estímulo acústico. 2- Demonstrar a ocorrência de reflexos auditivos. 3- Demonstrar as vias de condução de estímulos auditivos (via óssea e via aérea). 4- Demonstrar o limiar absoluto auditivo em diferentes faixas de freqüências e intensidades. II FUNDAMENTOS O som é uma modificação de pressão que ocorre em meios elásticos, propagando-se em forma de ondas mecânicas longitudinais e tridimensionais. Resulta de um movimento ordenado e vibratório de partículas materiais, gerando compressões e rarefações sucessivas nos meios sólido, líquido e gasoso. Esse movimento pode ser percebido como som desde que apresente determinadas características físicas, às quais o ouvido humano é sensível. Freqüência e intensidade são dois parâmetros que caracterizam o som. A mudança da intensidade de um som nos faz considerá-lo como mais "forte" ou "fraco". A freqüência das ondas sonoras nos faz reconhecer alguns sons como graves e outros como agudos. A freqüência de um som é expressa em hertz (Hz) (número de oscilações completas da onda sonora em um segundo). O ouvido humano percebe sons cuja a freqüência varia de 16 à 20000 Hz. A intensidade de um som é a energia resultante do movimento vibratório e é medida em decibel (dB). Indivíduos com audição normal precisam de uma intensidade de 0 a 25 dB para ouvir um tom puro apresentado em um ambiente com isolamento acústico. O ouvido humano apresenta três compartimentos: Ouvido Externo: constituído pelo pavilhão auricular da orelha, pelo conduto auditivo externo e pela membrana timpânica. Ouvido Médio: compartimento que contém a cavidade timpânica, a cadeia ossicular, composta por três ossículos (martelo, bigorna e estribo) que estão mantidos em posição por uma série de ligamentos muito delgados e por dois músculos: o tensor do tímpano e o estapédio. Quando um estímulo sonoro apresenta intensidade superior a 70- 90 dB acima do limiar de audição de um indivíduo, um circuito nervoso denominado arco reflexo estapédio- coclearentra em ação. Nesse circuito, o nervo facial provoca a contração reflexa dos músculos do ouvido médio, impedindo a propagação de um estímulo que poderia lesar as estruturas do ouvido interno. Como o nervo facial também inerva os músculos da face, pode também ser deflagrada a oclusão ocular, caracterizando o que se denomina de reflexo cócleo-palpebral. Ouvido Interno: é constituído pelo labirinto ósseo (vestíbulo, cóclea, 30 canais semicirculares) e pelo labirinto membranoso (ducto e saco endolinfático, sáculo, utrículo, ductos semicirculares e ducto coclear). Nesta última estrutura, encontra-se o órgão de Corti, que contém as células ciliadas internas e externas, as quais se constituem nos receptores auditivos. As perdas auditivas podem ter diferentes características, dependendo das localizações das lesões no ouvido. Se estas lesões ocorrerem no ouvido médio, teremos perdas chamadas de condutivas; se ocorrerem na cóclea ou VIII nervo craniano, serão denominadas perdas neurosensoriais; e se ocorrerem no SNC, serão chamadas perdas centrais. Os testes de diapasão podem ser utilizados clinicamente para se detectar qual a origem de uma perda auditiva, ou seja, se ela se dá por lesões no ouvido externo e médio, ou no interno. O audiômetro é um aparelho que permite estimular o ouvido humano com sons cujas freqüência e intensidade são controladas. Além disso, essa estimulação envolve tons puros, ou seja, constituídos por uma única freqüência (sons esses raramente encontrados na natureza). O principal objetivo dos testes audiométricos é obter o limiar mínimo auditivo do indivíduo (limiar absoluto), ou seja, o som mais fraco, de uma determinada freqüência, que ele pode detectar em 50% das vezes em que os estímulos foram apresentados. O campo dinâmico da audição inicia-se no limiar do indivíduo e termina na zona de desconforto (intensidades muito fortes nas quais o indivíduo refere desconforto). III MATERIAL - FUNDAMENTAL (para realização dos procedimentos A, B e C): - diapasão (de preferência de uma freqüência grave entre 70 e 100 Hz) - qualquer objeto que possa ser utilizado para a produção de sons de alta intensidade. - OPCIONAL (para a realização dos procedimentos D e E): - audiômetro - aparelho de som e fones de ouvido IV PROCEDIMENTO A) Localização do Som Um voluntário deve permanecer sentado em uma cadeira com os olhos fechados e sem mover a cabeça. Outro aluno fará vibrar o diapasão em diferentes distâncias e locais em relação ao plano sagital do voluntário. (Em todos os experimentos em que o diapasão for utilizado, os alunos devem tentar utilizar aproximadamente a mesma força para fazê-lo vibrar, a fim de que a intensidade do som seja semelhante nas diversas manipulações). Anotar os resultados, registrando a posição dos estímulos em relação à cabeça, e observar se o voluntário foi capaz de identificar com precisão o local de origem do estímulo sonoro. 31 B) Limiares de Condução Aérea e Óssea B1) Teste de Schwabach Um voluntário deve permanecer sentado em uma cadeira com os olhos fechados e sem mover a cabeça. Outro aluno deve fazer vibrar o diapasão e colocar seu cabo em contato com o processo mastóideo do voluntário. O tempo de audição deve ser medido e registrado em segundos. A seguir, o aluno deve fazer o diapasão vibrar novamente e deve colocá-lo próximo ao pavilhão auditivo. Novamente o tempo de audição deve ser medido e registrado em segundos. Comparar o tempo de audição nas duas manipulações. B2) Teste de Rinne Um voluntário deve permanecer sentado em uma cadeira com os olhos fechados sem mover a cabeça. Outro aluno deve fazer vibrar o diapasão e colocar seu cabo em contato com o processo mastóideo do voluntário. Assim que o voluntário referir não mais estar ouvindo o diapasão, aproxime-o do seu pavilhão auditivo. Descreva o fenômeno observado . B3) Teste de Weber Um voluntário deve permanecer sentado em uma cadeira com os olhos fechados sem mover a cabeça. Outro aluno deve fazer vibrar o diapasão e colocar seu cabo em contato com o alto da cabeça. Deve- se registrar em que ouvido o som é melhor ouvido. Posteriormente, o voluntário deverá tapar um dos ouvidos e repetir o experimento. Repetir o procedimento alternando-se o ouvido tapado. C) Reflexo Cócleo-Palpebral Um voluntário deve permanecer sentado em uma cadeira olhando para frente. Subitamente outro aluno deverá realizar um ruído alto com o auxílio de algum instrumento ou ferramenta (uma colher e uma panela, por exemplo) próximo ao pavilhão auditivo do mesmo. Observar e descrever o que ocorre ao ouvir subitamente um som de alta intensidade. D) Audiometria O audiomêtro deverá ser ligado e um voluntário colocará os fones de ouvido enquanto outro apresentará sons de diferentes freqüências, primeiramente no ouvido direito e posteriormente no esquerdo. Ao ouvir os estímulos, o indivíduo deverá levantar a mão do lado correspondente. Para cada freqüência apresentada deverá ser registrada a intensidade mínima que o voluntário é capaz de ouvir 50% dos estímulos apresentados. Essa intensidade será obtida iniciando-se a apresentação com intensidades elevadas e reduzindo-se até que o indivíduo refira não ouvir mais o estímulo. A partir dessa intensidade apresentar 4 tons puros dessa freqüência e registrar a intensidade na qual o indivíduo indicar ter ouvido dois desses estímulos. Sugere-se que sejam testadas freqüências entre 100 e 15000 hz. Cada grupo deverá 32 construir um gráfico com as freqüências testadas apresentadas no eixo X e as intensidades no eixo Y. E) Retroalimentação auditiva Um voluntário deverá colocar fones de ouvido ligados a um aparelho de som, que deve estar reproduzindo uma música em baixa intensidade, enquanto inicia a leitura de um texto em voz alta. Sem que o voluntário perceba, outro aluno deverá ir aumentando gradativamente a intensidade da música. Descrever o que ocorre com a leitura do indivíduo. V QUESTÕES PARA APROFUNDAMENTO 1- No experimento A, qual a diferença entre os estímulos que tornou possível a discriminação entre as fontes de estímulos sonoros? 2- Que informações podem ser obtidas com base nos resultados dos testes de diapasão dos experimentos do item B? 3- No experimento B3 verificou-se alguma diferença entre a realização do experimento com um dos ouvidos tapados ou não? Como esta diferença poderia ser explicada? 4- Em que tipo de condução (óssea ou aérea) o limiar auditivo é menor? 5- Discuta a integração sensório-motora a partir do reflexo cócleo-palpebral. Quais as vias aferentes e eferentes deste reflexo? Qual a importância dessa resposta? 6- Em que faixa de freqüências a sensibilidade do ouvido humano é maior? 7- Que interpretações podem ser cogitadas acerca da seleção de uma maior sensibilidade nessa faixa de freqüências intensidades? 8- Que fenômeno foi observado no experimento E? Qual a importância desse mecanismo na vida cotidiana? VI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Baldo, M. V. C. Audição. In: Fisiologia. Ed. M. M. Aires. Guanabara Koogan, 1999. p. 239- 246. Kelly, J.P. Auditory System. In: Principles of Neural Science. Ed. E. R. Kandel, J. H Schwartz, T. M. Jessel. McGraw-Hill, 2000. 33 MOVIMENTOS OCULARES I OBJETIVOS Estudar a origem, organização e função dos diversos movimentos realizados pelos olhos. II FUNDAMENTOS Os movimentos do globo ocular são executados por um conjunto de 6 músculos. O músculo oblíquo superior é inervado pelo nervo troclear, IV par craniano, enquanto o reto lateral é inervado pelo abducente, VI par. Os demais músculos oculares extrínsecos são inervados pelo oculomotor, III par de nervos cranianos, responsável também pela inervação do músculo levantador da pálpebra superior. Há cinco classes básicas de movimentos oculares, servindo a diferentes propósitos, e organizados por diferentes sistemas neurais que compartilham os mesmos motoneurônios que inervam os músculos extrínsecos do olho. A Tabela 1 resume as principais funções dessas classes de movimentos oculares. MOVIMENTO OCULAR FUNÇÃO SacádicoPosiciona o olho de tal forma a projetar uma imagem de interesse sobre a fóvea. Perseguição contínua Mantém a imagem de um objeto em movimento sobre a fóvea. Vergência Ajusta o ângulo entre os eixos ântero-posteriores de ambos os olhos em função da distância de uma imagem. Optocinético Utiliza informações visuais também para estabilizar a imagem sobre a retina durante movimentos da cabeça. Vestíbulo-ocular Utiliza informações vestibulares para compensar movimentos da cabeça com movimentos opostos dos olhos. Tabela 1 - Classificação dos movimentos oculares. Movimentos oculares podem ser iniciados e controlados por diferentes subsistemas neurais, dependendo de sua natureza, voluntária ou reflexa. Por exemplo, os movimentos denominados sacádicos são desencadeados por projeções descendentes aos motoneurônios oculomotores, originadas no campo ocular frontal do córtex cerebral. No entanto, o processamento adequado da informação visual exige uma estabilidade mínima da imagem que é projetada sobre a retina. Dentre os reflexos que se destinam a manter essa estabilidade destacam-se os reflexos optocinético e vestíbulo- ocular. O labirinto ósseo é um conjunto de cavidades localizadas na porção petrosa do osso temporal, que abriga as estruturas auditivas e vestibulares. No interior do labirinto ósseo encontra-se o labirinto membranoso, constituído de uma monocamada epitelial, e preenchido com endolinfa. O labirinto vestibular membranoso é composto por dois 34 conjuntos de estruturas: os órgãos otolíticos (sáculo e utrículo) e os canais semicirculares (anterior, posterior e horizontal), sendo que esses três canais formam, aproximadamente, ângulos retos entre si (Figura 1). Enquanto o sáculo e o utrículo são responsáveis pela detecção da posição estática e de movimentos lineares, os canais semicirculares possuem uma estrutura destinada à detecção de movimentos angulares da cabeça. Figura 1 – Vista posterior do crânio de um pombo após dissecção do osso temporal, expondo o labirinto ósseo. Podem ser vistos, bilateralmente, os canais semicirculares anterior, posterior e horizontal. O reflexo vestíbulo-ocular é desencadeado por movimentos da cabeça que tenderiam a deslocar a imagem projetada na retina. Movimentos oculares compensatórios são assim deflagrados a partir da informação vestibular, sendo que os olhos tendem a se mover de tal forma a anular o deslocamento da imagem que seria provocado pelo movimento da cabeça. Por exemplo, um movimento de rotação da cabeça para a direita provoca um movimento reflexo dos olhos para a esquerda, com a mesma velocidade angular, de tal forma que, idealmente, a imagem projetada sobre a retina permanece imóvel. Assim, rotações da cabeça detectadas pelos canais semicirculares darão origem a reflexos vestíbulo-oculares, cuja função é organizar os movimentos compensatórios dos olhos, mantendo a estabilidade das imagens retinianas. III MATERIAL - Régua (30 ou 40 cm) - Cadeira giratória - Cartolina (branca e preta) - Toca-discos (“vitrola”) IV PROCEDIMENTO Movimentos sacádicos Simplesmente peça a um voluntário para executar movimentos oculares voluntários. Por exemplo, peça que ele explore visualmente o ambiente ao redor dele (movimentando apenas os olhos e não a cabeça). Durante a execução desses movimentos, observe como eles ocorrem (principalmente em comparação com os movimentos que serão observados no procedimento a seguir). Movimento de perseguição contínua Com uma caneta na mão, movimente-a à frente do voluntário 35 pedindo que ele acompanhe com os olhos a ponta da caneta. Observe o padrão do movimento ocular que é executado e compare-o com o padrão observado no procedimento anterior. Movimento de vergência Com uma caneta na mão, mantenha-a a uma distância de aproximadamente 50 cm à frente do voluntário e na altura de seus olhos. Peça então para que fixe o olhar na ponta da caneta, e vá então a aproximando lentamente dos olhos do voluntário. Peça também para que o voluntário informe o momento em que não consegue mais focalizar a ponta da caneta, ou seja, o momento em que não mais consegue uma imagem nítida da mesma. Nesse procedimento, várias coisas deverão ser observadas. Primeiramente, observe que tipo de movimento ocular é executado pelo voluntário enquanto a caneta é aproximada de seus olhos. Observe também o diâmetro pupilar dos olhos enquanto a caneta é aproximada dos olhos do voluntário. Quais são as semelhanças e diferenças entre esse movimento ocular e os observados nos dois procedimentos anteriores? Quando o voluntário informar que não é mais capaz de manter uma imagem focalizada, meça a distância entre a caneta e os olhos do voluntário. Essa distância é chamada de ponto próximo, sendo a menor distância em que ainda somos capazes de manter um objeto em foco. Procure entre os colegas algum que seja míope e outro que seja hipermétrope, e execute esse procedimento determinando o ponto próximo de cada um em duas condições diferentes: usando os respectivos óculos ou lentes de contato, e sem usá-los. Compare os valores do ponto próximo de cada um deles, nas duas condições, não só entre ambos mas também com os valores de um voluntário que com certeza não apresente erros de refração e não necessite de lentes corretivas. Sem óculos ou lentes de contato, quem apresenta um ponto próximo maior, o míope ou o hipermétrope? Por quê? Nistagmo optocinético Utilizando um toca-discos e cartolinas branca e preta, monte um aparato semelhante ao apresentado na Figura 2, onde faixas de cartolina preta, com aproximadamente 2 cm de largura, são coladas sobre um cilindro de cartolina branca, a intervalos regulares de também 2 cm, aproximadamente (esse padrão visual pode também ser facilmente confeccionado em papel sulfite se um microcomputador e uma impressora estiverem disponíveis). Coloque o cilindro de cartolina sobre o prato de um toca-discos, e posicione um voluntário sentado à frente do aparato. Ligue o toca-discos, colocando o cilindro para girar, pedindo a um voluntário que procure fixar o olhar sobre o cilindro, sem executar movimentos com a cabeça. Observe o que acontece com os olhos do voluntário. 36 Figura 2 – Procedimento empregado na geração do nistagmo optocinético, onde podemos notar o padrão visual utilizado como estímulo (a ser colocado em movimento giratório) e o posicionamento do voluntário. Nistagmo vestíbulo-ocular Posicione um voluntário sentado em uma cadeira giratória, preferencialmente sem rodas ou com os pés bem fixados, e com seu eixo de rotação lubrificado. Garanta que as pernas do voluntário não toquem o chão (peça ao voluntário que se sente sobre as pernas cruzadas). Comece a girar a cadeira, gentilmente, com uma velocidade angular de, aproximadamente, 1 rotação por segundo (1 segundo é aproximadamente o tempo que demoramos para falar, em voz alta, a palavra “Pindamonhangaba”). O voluntário deverá permanecer de olhos abertos, olhando para frente, e sem mover a cabeça, mantida na posição vertical. Enquanto o experimentador (ou seu auxiliar) gira a cadeira (Figura 3), os observadores devem se posicionar ao seu redor, atentos aos movimentos oculares apresentados pelo voluntário. Devem ser observados o sentido e a velocidade dos movimentos oculares executados pelo voluntário enquanto é girado na cadeira com uma velocidade angular aproximadamente constante (a rotação do voluntário na cadeira não deve se prolongar além de uns 20 ou 30 segundos). Figura 3 – Procedimento utilizado na geração do nistagmo vestíbulo-ocular. 37 Repita a mesma manobra descrita anteriormente, mas agora com o voluntário mantendo os olhos fechados. Embora seja uma observação mais difícil, procure identificar, sob as pálpebras do voluntário, a ocorrência de movimentos oculares enquanto é girado na cadeira. Repita ainda a mesma manobra (preferencialmente com um outro voluntário). Gire o voluntário um pouco mais rapidamente, solicitando a ele que segure firmemente nos braços da cadeira. Depois de manter a rotação por uns 20 a 30 segundos, parebruscamente a cadeira em uma posição na qual o voluntário esteja com seu rosto voltado aos observadores. Peça a esses que observem o movimento ocular que o voluntário apresenta depois de interrompida a rotação da cadeira, identificando o sentido dos componentes desse movimento ocular. Repita uma vez mais a manobra de rotação, com o voluntário mantendo os olhos fechados. Gire a cadeira por alguns segundos até que adquira uma certa velocidade, e então deixe-a girar sem qualquer interferência, permitindo que vá desacelerando lenta e espontaneamente. Solicite previamente ao voluntário que, no instante em que notar a parada espontânea da cadeira, levante a mão, mas ainda mantendo os olhos fechados. Para que essa manobra seja bem sucedida, o eixo de rotação da cadeira deve estar bem lubrificado, não só para que possa desacelerar lentamente, mas também para que não produza nenhum ruído que possa sinalizar a presença ou ausência de movimento. Os ruídos da sala (e dos observadores) também deverão ser abolidos ou minimizados, pois servem como pistas auditivas, utilizadas pelo voluntário, para a sua localização espacial, e portanto como indicadores de seu estado de movimento. Uma última manobra constitui- se na rotação do voluntário por uns 30 segundos, solicitando a ele que se levante e ande após a parada brusca da cadeira pelo experimentador. Essa manobra deve ser feita com cuidado, contando com a ajuda dos observadores que deverão fornecer, se necessário, a devida sustentação ao voluntário durante a tentativa de marcha. V QUESTÕES PARA APROFUNDAMENTO 1- Qual é a principal diferença entre os padrões dos movimentos observados nos procedimentos de movimento sacádico e de perseguição contínua? Quais são as regiões do sistema nervoso central responsáveis pela organização desses dois tipos de movimentos oculares? 2- Durante a observação dos movimentos de vergência, o que acontecia com o diâmetro pupilar? Qual a finalidade desse reflexo? Quais estruturas neurais são responsáveis pela organização desse reflexo? 3- Que tipo de lentes (convergentes ou divergentes) são 38 utilizadas por pessoas míopes e hipermétropes? Por quê? 4- Na pesquisa do nistagmo optocinético, qual fenômeno você observa em relação aos olhos do voluntário? Seria possível caracterizar esse fenômeno em fases lenta e rápida? Como? Qual será a função fisiológica desse reflexo? O que você acha que aconteceria se estivesse sentado ao lado da janela de um ônibus ou trem em movimento, e procurasse fixar seu olhar nos postes, árvores, ou outros objetos que estivessem à beira da estrada? 5- Em relação às manobras de pesquisa do nistagmo vestíbulo- ocular, responda as seguintes questões: 5.1- Em qual direção (vertical ou horizontal) ocorre o movimento ocular apresentado pelo voluntário? 5.2- Como se caracterizam os componentes desse movimento quanto à sua velocidade (rápido ou lento)? 5.3- Em que sentido (para a direita ou para a esquerda) ocorrem esses componentes rápido e lento? 5.4- Como o sentido desses componentes se correlaciona com o sentido de rotação da cadeira? 5.5- Qual é o componente (lento ou rápido) associado ao movimento ocular compensatório de origem vestibular? 5.6- Qual é a importância fisiológica desse reflexo vestíbulo-ocular? 5.7- É possível que o reflexo optocinético esteja também participando da organização desses movimentos oculares? Por quê? Como você faria para demonstrar que há “algo mais” além do reflexo optocinético presente nesses movimentos oculares? 5.8- Como o sentido dos componentes do movimento ocular, observado após a parada brusca da cadeira, se correlaciona com o sentido dos componentes do movimento ocular observado durante a rotação do voluntário? Por quê? 5.9- Qual é a razão fisiológica para esse movimento ocular ocorrer mesmo após a interrupção do movimento? 5.10- Quando se permite que a rotação da cadeira termine gradual e espontaneamente, o voluntário reporta que a cadeira parou de girar antes ou depois da rotação ter realmente terminado? Qual é a razão fisiológica de uma eventual “ilusão” apresentada pelo voluntário? 5.11- Quando o voluntário é solicitado a se levantar e andar após a interrupção brusca da rotação da cadeira, como se caracteriza a marcha do voluntário? Qual a 39 relação entre o estímulo rotatório e os respectivos efeitos sobre a marcha do voluntário? O que se observa mesmo que ao voluntário, depois de levantar-se da cadeira, seja solicitado que não ande, mas permaneça na posição ereta? Por quê? VI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Baldo, M. V. C. & Hamassaki-Britto, D. Visão. In: Fisiologia. Ed. M. M. Aires. 2a ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1999. p. 255- 276. Baldo, M. V. C. Propriocepção. In: Fisiologia. Ed. M. M. Aires. 2a ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1999. p. 231-238. Kandel, E. R., Schwartz, J. H, Jessel, T. M. Perception (Section VI). In: Essentials of Neural Science and Behavior. Appleton & Lange, 1995. p. 365-484. Willis, W. D. The visual system. In: Physiology. Eds. R. M. Berne, M. N. Levy. Mosby, 1998. p. 129-153. Willis, W. D. The auditory and vestibular systems. In: Physiology. Eds. R. M. Berne, M. N. Levy. Mosby, 1998. p. 154-177. 40 ELETROMIOGRAFIA DA ATIVIDADE MASTIGATÓRIA I OBJETIVOS Observar a atividade eletromiográfica (EMG) da musculatura mastigatória durante diversos movimentos mandibulares. II FUNDAMENTOS O processo de contração em um músculo estriado esquelético envolve diversas etapas que incluem mecanismos físicos e bioquímicos. Em termos gerais, a contração se inicia a partir de um sinal elétrico que, percorrendo o neurônio motor, passa por intermédio de uma sinapse química às fibras musculares, dando origem novamente a um impulso elétrico que percorre o músculo. É esse conjunto de impulsos elétricos gerados em um músculo que irá dar início aos mecanismos físico-químicos que caracterizam a contração muscular. Embora o evento elétrico relativo a uma única fibra seja de pequena intensidade, o efeito cumulativo gerado pela atividade de centenas ou milhares de fibras produz um sinal suficientemente intenso para ser captado por elétrodos de superfície aplicados à pele. Esse sinal, adequadamente amplificado e filtrado, possui um perfil temporal que se correlaciona de maneira bastante fidedigna a várias características da atividade elétrica muscular durante a contração. Pode, assim, ser utilizado na interpretação tanto de eventos fisiológicos inerentes ao processo de contração, quanto de manifestações patológicas que possam estar associadas ao processo contrátil. III MATERIAL - Eletromiógrafo ou polígrafo (opcionalmente, o Biopac Student Lab, da BIOPAC Systems, Inc., contendo o módulo de EMG). - Elétrodos de superfície. - Martelo neurológico. - Alimentos de diferentes consistência tais como: pé-de- moleque, maçã, e goma de mascar. - Líquidos: água ou refrigerante. IV PROCEDIMENTO Registro unilateral dos músculos masséter e digástrico Nesse procedimento, o par de elétrodos de superfície de um dos canais é colocado sobre o músculo masséter, enquanto o outro par é aplicado sobre o músculo digástrico de um voluntário (Fig. 1). O elétrodo de referência pode ser colocado sobre o processo mastóide. 41 Movimentos mandibulares isolados: A atividade dos dois músculos deve ser observada nas seguintes manobras mandibulares solicitadas ao voluntário: - abaixamento máximo da mandíbula (abertura máxima da boca); - elevação máxima da mandíbula (apertar os dentes com uma força moderada); - realizar movimentos alternados de protrusão e retrusão da mandíbula; - realizar movimentos alternados de lateralização da mandíbula. Durante a realização dessas séries de movimentos mandibulares, o perfil temporal e a amplitude dos dois traçados eletromiográficos deverão ser registrados, sendo que as diversas fases desses traçados deverão ser relacionadas aos respectivos movimentos mandibulares executados (Fig. 2A e 2B). Figura 1 – Músculos mastigatórios a serem registrados. Masséter Digástrico 42 Figura 2 – Exemplos de traçadosde EMG obtidos dos músculos masséter e digástrico durante movimentos de depressão ou elevação (A) e protrusão (B) da mandíbula (registros realizados por meio do Biopac Student Lab, BIOPAC Systems, Inc.). Masséter Digástrico Depressão Elevação Masséter Digástrico Protrusão Protrusão (A) (B) 43 Sequência mastigatória: Ao voluntário deverá ser então solicitado que que se prepare para mastigar e engolir, por exemplo, um pedaço de pé-de-moleque. O registro do EMG deverá ser iniciando antes que o voluntário leve o alimento à boca, sendo que, após mastigá-lo, deverá comunicar o instante em que inicia a deglutição levantando umas das mãos. O registro do EMG poderá, assim, flagar as diferentes fases de uma sequência mastigatória: preparação, redução, e pré- deglutição. Durante a fase de redução, deverão também ser observados os ciclos mastigatórios expressos pelas atividades dos dois músculos registrados, sendo comparadas as seguintes características dos sinais: amplitude, duração, perfil temporal e fase relativa entre os traçados. Essas características deverão ser observadas, comparadas e discutidas quanto à origem fisiológica de suas diferenças. Registro bilateral dos músculos masséteres Nesse procedimento, o par de elétrodos de superfície de um dos canais é colocado sobre o músculo masséter de um lado, enquanto o outro par é aplicado sobre o músculo masséter contralateral. O elétrodo de referência pode ser colocado sobre o processo mastóide. A amplitude, o perfil a duração e a fase relativa do EMG obtido a partir da atividade dos dois masséteres deverão ser comparados nas seguintes condições: - O voluntário deverá realizar os movimentos mastigatórios sobre a goma de mascar, alternando o lado de trabalho e o de balanceio quando solicitado pelo experimentador; - O voluntário deverá realizar uma sequência mastigatória completa utilizando um alimento de menor consistência (p. ex., um pedaço de maçã); o regitro dessa sequência mastigatória deverá ser comparada àquela obtida a partir de um alimento de maior consistência (p. ex., um pedaço de pé-de-moleque). Registro eletromiográfico do reflexo mentoniano Utilizando o martelo neurológico, o experimentador deverá pesquisar corretamente o reflexo mentoniano durante o registro do EMG produzido pelo masséter. A evidência de que o registro obtido deve-se à atividade reflexa do músculo, e não a algum artefato na pesquisa do mesmo, deve ser obtida por meio da delicada percussão do mento, com o martelo neurológico, em algumas outras direções que não deflagrem o reflexo miotático no músculo masséter. A atividade observada no registro do EMG deverá ser discutida quanto ao seu perfil temporal, duração e amplitude. 44 V QUESTÕES PARA APROFUNDAMENTO 1- Nas Figuras 3A e 3B identifique qual dos registros se refere ao par de músculos masséter direito e masséter esquerdo, e qual se refere ao par masséter e digástrico. Naquele registro identificado como masséter direito e esquerdo, identifique o lado de trabalho e o lado de balanceio. Justifique suas respostas. Calcule a freqüência e duração média dos ciclos mastigatórios. 9.0000 10.000 11.000 12.000 13.000 14.000 15.000 16.000 17.000 18.000 seconds -0.20000 -0.15000 -0.10000 -0.05000 0.00000 0.05000 0.10000 0.15000 0.20000 m V E M G C H 1 -0.20000 -0.15000 -0.10000 -0.05000 0.00000 0.05000 0.10000 0.15000 0.20000 m V E M G C H 2 0.00000 0.02000 0.04000 0.06000 0.08000 0.10000 m V In t. C H 1 0.00000 0.02000 0.04000 0.06000 0.08000 0.10000 m V In t. C H 2 15.000 20.000 25.000 30.000 seconds -0.40000 -0.20000 0.00000 0.20000 0.40000 m V E M G C H 1 -0.40000 -0.20000 0.00000 0.20000 0.40000 0.60000 m V E M G C H 2 -0.05000 0.00000 0.05000 0.10000 0.15000 m V In t. C H 1 -0.05000 0.00000 0.05000 0.10000 0.15000 m V In t. C H 2 Figura 3 – EMG dos músculos masséter ou digástrico durante atividade mastigatória (os dois traçados inferiores de cada parte expressam a atividade integrada dos dois registros superiores, refletindo, portanto, o mesmo processo. (A) (B) 45 2- Quais são os fatores, fisiológicos e metodológicos, que podem influenciar a amplitude do sinal eletromiográfico? 3- Qual é a origem fisiológica dos movimentos mastigatórios rítmicos? 4- Quais são os fatores sensoriais que modulam a atividade rítmica mastigatória? VI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Wester, M. & McMullen W. Biopac Student Lab - Complete Reference Manual, v. 2.1, Biopac Systems Inc., Santa Barbara, 1997. Bradley, R. M. Fisiologia oral básica. Editora Médica Panamericana, 1986. Junge, D. Oral sensorimotor function. Pacific, Missouri, MDMI, Inc., 1998. 46 FISIOLOGIA DIGESTÓRIA Quimógrafo de Ludwig-Baltzar 47 REGULAÇÃO NEURAL DA ATIVIDADE MOTORA DO TRATO GASTROINTESTINAL E DA SALIVAÇÃO I OBJETIVOS 1- Visualizar as estruturas que contituem o aparelho gastrointestinal; 2- Visualizar a atividade motora do trato gastrointestinal; 3- Demonstrar o efeito da estimulação simpática e parassimpática sobre a atividade motora do trato gastrointestinal e a secreção salivar. II FUNDAMENTOS A parede do trato gastrointestinal (TGI) consiste de mucosa, submucosa, muscular externa e serosa. Contrações da muscular externa que, caracteristicamente, consiste de duas camadas de células de musculo liso (camada circular interna e longitudinal externa), misturam os conteúdos no lúmen e os impulsionam de maneira controlada em direção ao ânus. A parede do TGI contém muitos neurônios que estão interconectados. Uma densa rede de células neurais na submucosa é chamada de plexo submucoso (plexo de Meissner). Entre as camadas circular e longitudinal de músculo liso encontra-se o plexo mioentérico (plexo de Auerbach). Os plexos submucoso e mioentérico (plexos intramurais) em associação a os outros neurônios e outros plexos do TGI, constituem o Sistema Nervoso Entérico. O sistema nervoso influencia as atividades motoras e secretoras do aparelho gastrointestinal e regulam o calibre dos vasos sangüíneos no TGI. A inervação simpática eferente para o TGI é efetuada, primariamente, por fibras noradrenérgicas pós- ganglionares. A estimulação da eferência simpática para o TGI inibe a atividade motora da muscular externa, mas estimula a contração da muscular da mucosa e de certos esfíncteres. Esta estimulação inibe secundariamente as secreções do TGI em resposta à uma vasoconstricção. A inervação parassimpática eferente para o TGI até o nível do cólon tranverso é efetuada por ramificações do nervo vago. O restante do cólon recebe fibras parassimpáticas dos nervos pélvicos por meio do plexo hipogástrico. As fibras parassimpáticas eferentes para o TGI são predominantemente colinérgicas. A eferência parassimpática estimula a atividade motora e secretora do TGI. Se as inervações simpática e parassimpática para o TGI forem eliminadas, muitas das atividades motoras e secretoras continuam a ocorrer, devido ao controle pelo Sistema Nervoso Entérico. O Sistema Nervoso Autônomo tem papel importante na modulação das atividades motoras e secretoras do TGI. 48 III MATERIAL - Ratos machos Wistar albinos com 200 a 250 g; - Cânulas de polietileno (ref. n0 10); - Éter; - Pentobarbital sódico 3% (Hypnol), dose de 0,15 mg/Kg por peso corpóreo; - Pilocarpina, 0,8 mg/ml (parassimpatomimético); - Noradrenalina, 0,5 µg/ml (simpatomimético); - Solução de KCl 3 M; - Heparina; - Tesoura cirúrgica; - Pinça dente de rato; - 1 seringa marcada para o anestésico; - 1 seringa marcada para o KCl marcada; - 1 seringa com polietileno na agulha para aspiração da saliva; - 2 seringas para injeção de Pilocarpina e de Noradrenalina marcadas; - Papel para forrar a mesa; - Sacos de lixo; - Cotonetes. IV PROCEDIMENTO A - Cirúrgico A1) Os animais são operados no dia anterior ao da aula. Inicialmente anestesiar o animal, já pré-anestesiado com éter, injentando na veia peniana o Pentobarbital Sódico 3% na dose de 0,15 mg/Kg. Após a anestesia, colocar o rato em uma mesa cirúrgica.