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26 2010 4 - CLASSES LATERAIS E TEOREMA DE LAGRANGE 4.1 - Classes Laterais Proposição 1: i) A relação R sobre G definida por “ aRb se, e somente se, 1a b H− ∈ ” é uma relação de equivalência. ii) Se a G∈ , então a classe de equivalência determinada por a é o conjunto { / }aH ah h H= ∈ . Dem: i) Como 1e a a H−= ∈ , então aRa e, portanto, vale a reflexividade. Se aRb então 1a b H− ∈ , mas sendo H um subgrupo de G , então 1 1 1( )a b b a H− − −= ∈ . Isso mostra que bRa e, portanto, que a simetria também se verifica para R . Suponhamos que aRb e bRc , então 1a b− , 1b c− daí, 1 1 1 1 1 1( )( )a b b c a b bc a ec a c H− − − − − −= = = ∈ Logo, aRc , de onde a transitividade é válida. ii) Seja a a classe de equivalência do elemento a . Se x a∈ , então xRa , ou seja, 1x a H− ∈ . Portanto 1x a h− = , para um elemento h H∈ . Mas 1x ah−= e, portanto, x aH∈ , uma vez que 1h H− ∈ . Por outro lado, se x aH∈ , então x ah= , para algum h H∈ . Daí, 1 1x a h H− −= ∈ e, portanto, xRa , de onde, x a∈ . Segue que a aH= . Definição 1: Para cada a G∈ , a classe de equivalência aH definida pela relação R introduzida na proposição 1 é chamada classe lateral à direita, módulo H , determinada por a . Uma decorrência imediata da proposição anterior é que o conjunto das classes laterais à direita, módulo H , determina uma partição em G , ou seja: A) Se a G∈ , então aH ≠ ∅ B) Se ,a b G∈ , então aH bH= ou aH bH∩ =∅ C) A união de todas as classes laterais é igual a G . O conjunto quociente de G por essa relação, denotado por /G H é o conjunto das classes laterais ( )aH a G∈ . Um dos elementos desse conjunto é o próprio H , pois H eH= . De maneira análoga se demonstra que a relação R definida por “ aRb se, e somente se, 1ab H− ∈ ” também é uma relação de equivalência sobre o grupo G . Só que, neste caso, a classe de equivalência de um elemento a G∈ é o subconjunto { / }Ha ha h H= ∈ , chamado classe lateral à esquerda, módulo H, determinada por a . É claro que, se G for comutativo, então aH Ha= , para qualquer a G∈ . 27 2010 Exemplo 1: No grupo multiplicativo {1, 1, , }G i i= − − das raízes quárticas da unidade, considere o subgrupo {1, 1}H = − . As classes laterais são: 1 {1 1,1 ( 1)} {1, 1}H = ⋅ ⋅ − = − ( 1) {( 1) 1, ( 1) ( 1)} { 1,1}H− = − ⋅ − ⋅ − = − { 1, ( 1)} { , }iH i i i i= ⋅ ⋅ − = − ( ) {( ) 1, ( ) ( 1)} { , )}i H i i i i− = − ⋅ − ⋅ − = − Logo, 1 ( 1)H H= − e ( )iH i H= − Portanto, / {1 , }G H H iH= Essas duas classes laterais unidas coincidem com o grupo G . Exemplo 2: Seja G o grupo aditivo 6Z . Para facilitar, escreveremos os elementos de 6Z sem os traços, ou seja, 6 {0,1,2,3,4,5}=Z . Considerando o subgrupo {0,3}H = , temos: 0 {0,3}H H+ = = 1 {1,4}H+ = 2 {2,5}H+ = A reunião dessas 3 classes é igual a G . Portanto, / { ,1 , 2 }G H H H H= + + . Exemplo 3: Considere o grupo multiplicativo ∗R dos números reais e H o subgrupo formado pelos números reais estritamente positivos, ou seja, { / 0}H x x∗= ∈ >R . Como aH H= , se 0a > e { / 0}aH x x∗= ∈ <R , se 0a < então / H∗R é formado por duas classes: a dos números reais maiores que zero e a dos números reais menores que zero. Proposição 2: Seja H um subgrupo de G . Então duas classes laterais quaisquer módulo H têm a mesma cardinalidade. Dem: Dadas duas classes laterais aH e bH , temos que mostrar que é possível construir uma aplicação bijetora :f aH bH→ . Lembrando a forma geral dos elementos dessas classes, é natural definir f da seguinte maneira: ( )f ah bh= , para qualquer h H∈ . Sem maiores dificuldades, prova-se que f é injetora e sobrejetora. De fato: (Injetora) Se 1,h h H∈ e 1( ) ( )f ah f ah= , então 1bh bh= , como, porém, todo elemento de G é regular, então 1h h= . (Sobrejetora) Seja y bH∈ . Então y bh= , para algum h bH∈ . Tomando-se x ah aH= ∈ , então ( ) ( )f x f ah bh y= = = . Em particular, todas as classes têm a mesma cardinalidade de H eH= ( e = elemento neutro). Obviamente, se G é um grupo finito, então o conjunto /G H também é finito. O número de classes distintas do conjunto /G H é chamado índice de H em G é denotado por ( : )G H . Então, no exemplo 1, ( : ) 2G H = , no exemplo 2, ( : ) 3G H = , no exemplo 3, ( : ) 2G H = . 28 2010 Devido ao fato de 1aH Ha−→ é uma aplicação bijetora, como já observamos, então o índice de H em G é o mesmo, quer se considerem classes laterais à direita ou à esquerda, módulo H . 4.2 - O Teorema de Lagrange Proposição 3: (Teorema de Lagrange): Seja H um subgrupo de um grupo finito G . Então ( ) ( ) ( : )o G o H G H= e, portanto, ( ) / ( )o H o G . Dem: Suponhamos ( : )G H r= e seja 1 2/ { , , , }rG H a H a H a H= . Então devido à proposição 1, 1 2 rG a H a H a H= ∪ ∪ ∪ e i ja H a H∩ =∅ , sempre que i j≠ . Mas, devido à proposição 2, o número de elementos de cada uma das classes laterais é igual ao número de elementos de H , ou seja, é igual a ( )o H . Portanto, ( ) ( ) ( ) ( )o G o H o H o H= + + + em que o número de parcelas é ( : )r G H= . De onde: ( ) ( : ) ( )o G G H o H= e ( ) / ( )o H o G . Corolário 1: Seja G um grupo finito. Então a ordem (período) de um elemento a G∈ divide a ordem de G e o quociente é ( : )G H , em que [ ]H a= . Dem: Basta lembrar que a ordem de a é igual à ordem de [ ]a o que, devido ao Teorema de Lagrange: ( ) ( : ) ([ ])o G G H o a= . Corolário 2: se a é um elemento de um grupo finito G , então ( )o Ga e= (elemento neutro do grupo). Dem: Seja h a ordem de a . Portanto, h é o menor inteiro estritamente positivo tal que ha e> (elemento neutro do grupo). Mas devido ao corolário anterior: ( ) ( )o G G H h= : em que [ ]H a= . Portanto ( ) ( : ) ( : ) ( : )( )o G G H h h G H G Ha a a e e= = = = . Corolário 3: Seja G um grupo finito cuja ordem é um número primo. Então G é cíclico e os únicos subgrupos de G são os triviais, ou seja, { }e e o próprio G . Dem: Seja ( )p o G= . Como 1p > , o grupo G possui um elemento a diferente do elemento neutro. Assim, se [ ]H a= , pelo Teorema de Lagrange garante que ( ) /o H p . Logo, ( ) 1o H = ou p e, portanto, { }H e= ou H G= . Como a primeira dessas hipóteses é impossível, então G H= e, portanto, G é cíclico. Por outro lado, se J é um subgrupo de G , então, ainda devido ao Teorema de Lagrange, ( ) / ( )o J o G . Daí, ( ) 1o J = ou p e, portanto, { }J e= ou J G= . Exemplo 1: Determine todas as classes laterais de {0, 3, 6, 9}H = no grupo aditivo 12Z . Logo, vamos encontrar as classes laterais, módulo H . 0 {0, 3, 6, 9}H H+ = = 1 {1, 4, 7,10} 1H H+ = = + 2 {2, 5, 8,11} 2H H+ = = + 29 2010 Portanto, 12 / { ,1 , 2 }H H H H= + +Z Exemplo 2: Determine todas as classes laterais de 4Z no grupo aditivo Z . Lembrando que 4 {0, 4, 8, 12, }= ± ± ± Z . Temos que 0∈Z vamos verificar se será uma classe lateral módulo 4Z 0 4 {0, 4, 8, 12, }+ = ± ± ± Z 1 4 { , 3,1,5,9,13, }+ = − Z 2 4 { , 2,2,6,10,14, }+ = − Z 3 4 { , 1,3,7,11,15, }+ = − Z Podemos concluir que a união destas 4 classes resulta no conjunto dos Z . Portanto, / 4 {4 ,1 4 ,2 4 ,3 4 }= + + +Z Z Z Z Z Z . Exemplo 3: Sendo {0, , 2 , }H m m= ± ± , m∈Z , um subgrupo do grupo aditivo Z , mostre que {0, 1, , 1} mm − = Z é o conjunto das classes laterais de H . Logo, ( : )H m=Z . Dem: Vamos mostrar que mZ é o conjunto das classes laterais de H . Sendo ( : )H m=Z . Teremos m classes laterais de H . 0 {0, , 2 , } 0H m m+ = ± ± = 1 {1, 1, 2 1, } 1H m m+ = ± + ± + = 2 {2, 2, 2 2, } 2 1 { 1, 1, 2 1, } 1 H m m m H m m m m m m + = ± + ± + = − + = − ± + − ± + − = − Portanto, mZ é o conjunto das classes laterais de H . Exemplo 4: Considerando Z como subgrupo do grupo aditivo Q , descreva as classes (-1)+Z e 1 2 +Z . m∀ ∈Z , temos ( 1) ( 1) 1m m+ − = + − = − =Z Z ( 1)∴ + − =Z Z Agora, 1 1 2 1/ / 2 2 2 nn n n+ + = + ∈ = ∈ Z Z Z 1 2 1, 2 2 n n+∴ + =∈Z Z MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 1 - GRUPOS E SUBGRUPOS 1.1 - Conceito de Grupo 1.2 - Propriedades imediatas de um grupo 1.3 - Grupos Finitos 1.4 - Alguns Grupos Importantes 1.4.1 - Grupo Aditivo dos Inteiros (comutativo) 1.4.2 - Grupo Aditivo dos Complexos (comutativo) 1.4.3 - Grupo Multiplicativo dos Racionais (comutativo) 1.4.4 - Grupo Aditivo de Matrizes m x n (comutativo) 1.4.5 - Grupos Lineares de Grau n (multiplicativo, Não Comutativo se ) 1.4.6 - Grupos Aditivos de Classes Restos (Comutativo) 1.5 - Subgrupos 2 - HOMOMORFISMOS E ISOMOSFISMOS 2.1 - Homomorfismo de Grupos 2.2 - Proposições Sobre Homomorfismo de Grupos 2.3 - Núcleo de um Homomorfismo 2.4 - Isomorfismos de Grupos 3 - GRUPOS CÍCLICOS 3.1 - Potências e Múltiplos 3.2 - Grupos Cíclicos 3.3 - Classificação dos Grupos Cíclicos 4 - CLASSES LATERAIS E TEOREMA DE LAGRANGE 4.1 - Classes Laterais 4.2 - O Teorema de Lagrange BIBLIOGRAFIA
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