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02510707 Fisiologia H um ana Nome negrito parte sem negrito DR. FELIPE NATALI ALMEIDA Fisiologia Humana Fisiologia Humana Dr. Felipe Natali Almeida C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; ALMEIDA, Felipe Natali. Fisiologia Humana. Felipe Natali Almeida. Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. 152 p. “Graduação - EAD”. 1. Fisiologia. 2. Sistema Esquelético . 3. Hormônios 4. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 612.04 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Coordenador de Conteúdo Lilian Rosana dos Santos Moraes. Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Nayara Valenciano e Janaína de Souza Pontes. Revisão Textual Érica Fernanda Ortega, Cíntia Prezoto Ferreira. Editoração Bruna Stefane Martins Marconato. Ilustração Bruno Cesar Pardinho Figueiredo, Ga- briel Amaral Da Silva, Marta Sayuri Kakitani, Ma- teus Calmon, Marcelo Goto e Natalia de Souza Scalassara. Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro Naldei e Thiago Surmani. DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de Design Educacional Débora Leite; Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros; Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock. ISBN 978-85-459-1985-8 PALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Bem-estar, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. APRESENTAÇÃO Prezado(a) aluno(a), com este livro entraremos no universo da fisiologia. A fisiologia é a disciplina que estuda as funções dos sistemas corporais, ou seja, iremos entender como o organismo humano funciona. Falaremos sobre métodos de obtenção de energia (em nosso tópico de bioenergética), ou seja, discutiremos os mecanismos anaeróbios e aeróbios de produção de ATP e traçaremos uma relação destes mecanismos com o exercício físico (em nosso tópico de metabolismo do exercício), ambosna Unidade 1. Posteriormente, trabalharemos com dois sistemas fisiológicos de funda- mental importância para a obtenção de oxigênio e remoção do gás carbô- nico em nosso organismo: o sistema cardiovascular e o sistema respiratório. O primeiro, responsável por, através do sangue, distribuir o oxigênio a todos os tecidos corporais de acordo com a demanda e remover os dejetos metabólicos; o segundo, responsável por oxigenar o sangue e remover o gás carbônico. Ambos aumentam sua atividade em exercício físico. Em geral, uma boa parte da energia produzida ao longo de um dia por meio dos processos aeróbios e anaeróbios tem por finalidade proporcio- nar a contração muscular, em especial quando estamos realizando algum movimento. Na Unidade 4, entramos em contato com os hormônios. Durante nossa discussão sobre o sistema endócrino (nome que damos ao sistema que compreende os tecidos corporais envolvidos na liberação dos hormônios) observaremos o papel dos principais hormônios produzidos pelo organis- mo humano. Finalizando, em nossa Unidade 5, discutiremos sobre uma importante associação: atividade física e o desenvolvimento da saúde. Devemos saber que saúde é muito mais do que ausência de doença, e engloba um com- pleto bem-estar físico, emocional, mental e espiritual. A prática regular de exercícios físicos é um dos elementos fundamentais para uma saúde plena. Além desta relação, também discutiremos sobre a prática de exercícios para populações especiais como diabéticos, hipertensos, idosos entre outros. Espero que você aproveite ao máximo este material, extraia o máximo de informação possível, se dedique e estude para que em um futuro próximo tenhamos profissionais diferenciados ingressando no mercado de trabalho. Um abraço. CURRÍCULO DOS PROFESSORES Dr. Felipe Natali Almeida Doutor em Fisiologia Humana pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo - USP (2012). Mestre em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá - UEM (2008) e graduado em Educação Física pela mesma universidade (2005). Foi professor de Fisiologia Humana e do Exercício, Anatomia e Bioquímica em diversos cursos da área da saúde. Disponível em: http://lattes.cnpq.br/8674351329205771. Bioenergética e Metabolismo: como o Corpo Obtém Energia? 13 Sistemas Fornecedores de Oxigênio: Sistema Cardiovascular e Respiratório 49 O Sistema Nervoso e o Movimento 71 Hormônios 99 Fisiologia da Atividade Física Voltada para a Saúde 123 77 Neurônios Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Dr. Felipe Natali Almeida • Compreender os elementos envolvidos no gasto ener- gético. • Discutir sobre os diferentes tipos de substratos energé- ticos. • Entender o conceito de fosfato de alta energia. • Abordar o conceito de bioenergética por meio da discus- são sobre a produção anaeróbia e aeróbia de ATP. • Discutir o metabolismo energético mediante a interação do uso das vias anaeróbias e aeróbias de ressíntese de ATP no repouso e nas diferentes fases do movimento. Demandas Energéticas Substratos Energéticos Metabolismo do Exercício Bioenergética Bioenergética e Metabolismo: Como o Corpo Obtém Energia? Demandas Energéticas Olá, seja bem-vindo(a), caro(a) aluno(a). Tratare- mos, nesta unidade, de um dos assuntos que nos dão a base para o entendimento da fisiologia. Al- guns conceitos abordados aqui já podem ter sido apresentados inicialmente a você na disciplina de Biologia e Bioquímica Humana e deverão ser trazidos novamente à mente nesta unidade. Iniciamos nosso estudo por meio de uma vi- são geral sobre as necessidades energéticas para o funcionamento corporal e os substratos neces- sários para isso, com os conteúdos abordados em nossas duas primeiras subunidades (demandas energéticas e substratos energéticos). Em adição à visão global do gasto energético, sabemos que milhares de reações bioquímicas ocorrem em todo o corpo a todo o momento, sendo o conjunto destas reações químicas denominadas de meta- bolismo. Dentro do grande grupo “metabolismo”, como todas as células necessitam de energia, não surpreende que as células sejam dotadas de vias bioquímicas capazes de converter alimentos em uma forma de energia biologicamente utilizável, processo este chamado de bioenergética. 15UNIDADE 1 Sendo assim, para que possamos realizar nossas atividades coti- dianas, como se deslocar, escrever, digitar, pensar, assim como para realização de exercícios físicos, nossas células devem ser capazes de extrair a energia contida nos alimentos. Sem essa capacidade de extração da energia dos alimentos, limitaríamos nossa capacidade de resistir aos esforços e rapidamente teríamos que interromper as atividades, visto que, para contração muscular, as fibras musculares precisam de uma fonte de energia contínua, sendo as reações en- volvidas nesses processos descritas no terceiro tópico intitulado de “Bioenergética”. Seguido desse assunto, no quarto tópico, realizamos uma abordagem voltada ao metabolismo no exercício. Em suma, dada a importância da produção de energia celular durante todas as atividades diárias, torna-se essencial um bom nível de conheci- mento sobre esse assunto. Por que alimentamos-nos? Você já se fez esta pergunta? De uma forma geral, nos alimentamos (Figura 1), pois por meio desse ato obtemos, em primeiro lugar, materiais que nos ajudam a construir ou renovar elementos do nosso corpo (como quando você se machuca e precisa produzir tecido para renovar a lesão) e energia que possibilita ao corpo realizar 2 tarefas (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011): 1. Construção do nosso corpo (crescimento dos tecidos, ganho e massa muscular, renovação das células, construção de organelas celulares entre outros). 2. Manutenção de um meio interno equilibrado (manter as fun- ções vitais dentro de uma faixa de normalidade compatível com a vida) e, depois que as necessidades basais (para manutenção de funções vitais) são preenchidas, a energia adicional pode ser canalizada para: • estoque (na forma do gordura corporal ou glicogênio hepático e muscular) e/ou • usada como combustível para uma atividade extra como, por exemplo, um exercício físico, passear com o cachor- ro, lavar o carro, entre outras atividades cotidianas. Figura 1 - Alimentos consumidos cotidianamente formam a base energética para produção de ATP 16 Bioenergética e Metabolismo: Como o Corpo Obtém Energia Logo, para manter nosso organismo funcionando, precisamos gastar energia e ao gasto energético ocorrido em 24 horas damos o nome de “gasto energético diário”. De uma forma geral, ele pode ser subdividido em quatro elementos (Figura 2): a) Taxa metabólica basal (ou de repouso): energia necessária para manutenção dos sistemas corporais. b) Efeito térmico dos alimentos: aumento do gasto de energia que segue a ingestão da comida e está associada à digestão, à absorção e ao metabolismo dos alimentos e de seus nutrientes. c) Efeito térmico das atividades: gasto de energia associado à realização de movimentos es- pontâneos e de atividades musculares planejadas (incluindo aqui atividades cotidianas, como lavar um carro e limpar a casa, por exemplo, assim como a realização de exercícios físicos efetivamente). d) Gastos com o crescimento. - Duração - Intensidade - Massa corporal magraGasto energético diário Atividades físicas cotidianas Exercícios Crescimento Atividade física Efeito térmico dos alimentos Taxa metabólica basal - Dependente da fase do desenvolvimento do indivíduo - Quantidade e tipo dos alimentos consumidos - Genética - Idade - Sexo - Massa corporal magra - Área de superfície - Níveis hormonais - Atividade do sistema nervoso Figura 2 - Elementos do gasto energético diário Fonte: adaptada de Maughan e Burke (2004). Importante salientar que esses quatro elementos podem ser influenciados, aumentando ou diminuindosua participação no gasto energético diário total (MAUGHAN; BURKE, 2004). A Figura 2 também apresenta os principais agentes influenciadores de cada um deles. 17UNIDADE 1 Substratos Energéticos Como vimos, o corpo gasta energia para se manter funcionando (gasto energético diário) e durante o processo de consumo alimentar, macro e micro- nutrientes devem fazer parte das refeições diárias e são de fundamental importância para que a ho- meostasia do corpo possa ser mantida. Carboi- dratos, gorduras e proteínas são os representantes dos macronutrientes, elementos que entre outras funções são responsáveis por produzir a energia a ser utilizada pelo corpo. Carboidratos e gorduras são os macronutrientes principais, enquanto as proteínas têm um papel secundário na geração da energia utilizada, tanto em repouso quanto em exercício (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011 e MAUGHAN; BURKE, 2004). Para suprir a demanda por energia ao longo das 24 horas do dia, poucos são os substratos energéti- cos que podem ser utilizados. Dentre os substratos energéticos temos os carboidratos, as gorduras e as proteínas como seus representantes principais. Iniciaremos nosso estudo pelos carboidratos. 18 Bioenergética e Metabolismo: Como o Corpo Obtém Energia Carboidratos Os carboidratos (Figura 3) são compostos por áto- mos de carbono, hidrogênio e oxigênio. Quando armazenados, fornecem ao corpo uma forma de energia rapidamente disponibilizada, com 1 g de carboidrato rendendo pouco mais de 4 kcal de energia. São encontrados em três formas: 1) mo- nossacarídeos, 2) dissacarídeos e 3) polissacarí- deos (DEVLIN, 2011). Os monossacarídeos são os açúcares mais sim- ples e como exemplos temos a glicose (que muitos conhecem pelo açúcar do sangue), a frutose (que seria o açúcar contido nas frutas) e a galactose (o açúcar contido no leite). Já os dissacarídeos são for- mados pela combinação de dois monossacarídeos. Entre eles temos com importância bioenergética o açúcar de mesa, denominado quimicamente de sacarose, formado pela união de uma molécula de glicose e outra de frutose. Em adição, temos o dissacarídeo extraído do leite, a lactose, formado pela união de uma molécula de glicose com uma de galactose, e também a maltose, açúcar presente na cerveja, nos cereais e em sementes em germinação, que é formada pela junção de duas moléculas de glicose (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Os polissacarídeos são os carboidratos com- plexos que contêm pelo menos três monossa- carídeos unidos. Eles podem ser moléculas pe- quenas (que contêm três monossacarídeos) ou moléculas muito amplas (que contêm centenas de monossacarídeos, incluindo várias ramifi- cações de sua cadeia linear). Em geral, os po- lissacarídeos são classificados de acordo com sua origem, sendo possível a origem vegetal e a origem animal. As duas formas mais comuns de polissacarídeos de origem vegetal são a celu- lose e o amido. Os seres humanos não possuem as enzimas utilizadas para digerirem a celulose e, portanto, descartam a celulose como resíduo de material fecal e não conseguem obter ener- gia dela. Por outro lado, o amido (encontrado no milho, na batata, em grãos, entre outros) é facilmente digerido pelos humanos e constitui uma fonte importante de carboidratos da dieta alimentar. Depois de ingerido, o amido é quebra- do para formar monossacarídeos (visto que no trato gastrointestinal só conseguimos absorver carboidratos na forma de monossacarídeos) e pode ser usado imediatamente como energia pelas células ou armazenado nestas (não como amido, mas sim como glicogênio) para atender necessidades futuras de energia (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). O polissacarídeo armazenado no tecido animal é chamado de glicogênio, sintetizado nas células pela ligação de moléculas de glicose. Geralmente, são moléculas amplas e ramificadas que podem conter de centenas a milhares de moléculas de Figura 3 - Exemplos de carboidratos na alimentação cotidiana 19UNIDADE 1 Gorduras Embora as gorduras contenham os mesmos ele- mentos químicos presentes nos carboidratos, a proporção carbono, oxigênio nas gorduras, é significativamente maior do que aquela en- contrada nos carboidratos. A gordura corporal armazenada é um bom combustível para o exer- cício prolongado, pois as moléculas de gordura contêm cerca de 9 kcal de energia a cada 1 g, mais do que o dobro do conteúdo de energia de carboidratos ou proteínas. As gorduras são insolúveis em água e podem ser encontradas tanto nos vegetais como nos animais. Em geral, podem ser classificadas em quatro grupos: 1) ácidos graxos, 2) triglicerídeos, 3) fosfolipídeos e 4) esteroides (NELSON; COX, 2014). Os ácidos graxos são o tipo primário de gor- dura usada pelas células (incluindo aqui as mus- culares) para obtenção de energia. São armazena- dos no corpo na forma de triglicerídeos, que são compostos por três moléculas de ácidos graxos unidos a uma molécula de glicerol (que não é gordura, mas um tipo de álcool). Embora o maior sítio de armazenamento de triglicerídeos seja a célula adiposa, essas moléculas também são esto- cadas em muitos tipos celulares, incluindo o mús- culo esquelético (denominado de triacilglicerol intramuscular, geralmente presente em pequenas gotículas localizadas próximas às mitocôndrias dessas células). Em situações de necessidade, os triglicerídeos podem ser quebrados, por um processo denominado de lipólise, e seus compo- nentes (ácidos graxos e glicerol) são liberados e usados como substrato energético (o glicerol só é utilizado como substrato após ser convertido em glicose no fígado, por gliconeogênese). Dessa forma, a molécula de triglicerídeo inteira pode ser usada como fonte de energia (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). glicose unidas. As células armazenam glicogênio como uma forma de suprir as necessidades de carboidratos como fonte de energia. Durante o exercício, por exemplo, as células musculares que- bram o glicogênio em glicose (processo chamado de glicogenólise) e usa esta glicose como fonte de energia para a contração muscular. Esse processo também pode ocorrer no fígado (local de maior armazenamento de glicogênio no corpo humano), porém a glicose é liberada na circulação e dispo- nibilizada para todos os tecidos (DEVLIN, 2011). Importante salientar que, apesar do corpo hu- mano poder estocar glicose na forma de glicogênio tanto no músculo esquelético quanto no fígado, estas reservas são relativamente pequenas e podem ser depletadas em poucas horas, como resultado de um exercício prolongado, especialmente se estiverem associadas a uma dieta pobre em car- boidrato (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). 20 Bioenergética e Metabolismo: Como o Corpo Obtém Energia Os fosfolipídeos não são usados como fonte de energia (ao menos não como função primordial), são lipídeos combinados a dife- rentes moléculas de ácido fosfó- rico, responsáveis por formarem todas as membranas celulares de todas as organelas das células. Já os esteroides apresentam como elemento principal o colesterol, um componente de todas as membranas biológicas junta- mente com os fosfolipídeos, além de serem utilizados para síntese de todos os hormônios ditos “esteroides”, onde incluímos os hormônios sexuais (estrogênio, progesterona e testosterona), os glicocorticoides (cortisol) e os mineralocorticoides (aldostero- na). As gorduras nos alimentos são encontradas em diversas fontes, podendo ser considera- das nutricionalmente benéficas ou maléficas (Figura 4) (McAR- DLE; KATCH; KATCH, 2011). GORDURAS BOAS GORDURAS RUINS abacates salmão nozes azeite carne gorda queijo sorvete comida frita GORDURAS BOAS vs GORDURAS RUINS Figura 4 - Diferentes tipos de gorduras encontradas nos alimentos Proteínas As proteínas são macronutrientes compostos por unidades menores chamadas de aminoácidos. O corpo necessita de 20 aminoácidos para formar os diversos tipos de proteínas necessárias ao bom fun- cionamento corporal. Existem nove aminoácidos,chamados de aminoácidos essenciais, que não po- dem ser sintetizados pelo corpo e, dessa forma, pre- cisam ser consumidos com os alimentos e incluem a fenilalanina, a histidina, a isoleucina, a lisina, a leucina, a metionina, a treonina, o triptofano e a valina. Já os aminoácidos não essenciais, ou seja, aqueles que podem ser produzidos pelo organismo, são o aspartato, o glutamato, a alanina, a arginina, a asparagina, a cisteína, a glicina, a glutamina, a proli- na, a serina e a tirosina (DEVLIN, 2011). Um indivíduo típico de 70kg dispõe de um reservatório corporal de aproximadamente 12kg de aminoácidos, sendo que a grande maioria de- les existe na forma de proteína e uma pequena quantidade (cerca de 200g), na forma de aminoá- cidos livres. Durante o dia, acontece um processo constante de circulação das proteínas, envolvendo a ocorrência simultânea de sua quebra e síntese e uma troca contínua de aminoácidos entre os vários reservatórios. O sistema musculoesque- lético responde pela maior reserva de proteínas 21UNIDADE 1 do corpo e também por parte significativa dos aminoácidos livres (MAUGHAN; BURKE, 2004). Novos aminoácidos podem entrar no reservató- rio de aminoácidos livres provenientes de três fontes: ingestão alimentar, quebra de proteína existente no corpo e nova síntese dentro do corpo (lembrando que alguns aminoácidos podem ser produzidos pelo organismo e outros devem ser obrigatoriamente Proteínas da dieta (aminoácidos) intestino Fezes (C e N) Nitrogênio perdido na urina ou suor Convertido em carboidratos e gorduras degradação síntese Proteínas do tecido absorção excreção Oxidado para produção de energia Reservatório de aminoácidos livres Como fonte de energia, as proteínas contêm cerca de 4 kcal por grama, mas devem ser quebradas em aminoácidos para poderem ser utilizadas com este propósito. Para fornecerem energia, ou deverão ser convertidas em glicose ou em algum intermediário das vias metabólicas (processo de gliconeogênese) (MAUGHAN; BURKE, 2004). Além dos macronutrientes, os micronutrientes (vitaminas e minerais) também desempenham um papel chave na otimização da saúde e no desempenho de um indivíduo durante a prática de exercício físico. No entanto, não existem normas fixas para ingestão de vitaminas e minerais em atletas. Por enquanto, os estudos ainda não apresentam indícios de que a suplementação vitamínica aumente o desempenho no exercício, exceto nos casos em que havia deficiência preexistente. Entretanto, desperta interesse no que tange as vitaminas um possível papel das antioxidantes na prevenção aos danos causados pela produção excessiva de radicais livres do oxigênio. Em relação aos minerais, sabe-se que alguns atletas correm um risco de fazer ingestões subótimas de ferro e cálcio, o que pode afetar negativamente o desempenho imediato ou a saúde a longo prazo. Fonte: Maughan e Burke (2004). Figura 5 - Ciclo dos aminoácidos no organismo Fonte: o autor. consumidos, conforme visto anteriormente). Por outro lado, a saída do reservatório de aminoácidos livres é via secreção no intestino, incorporação a novas proteínas, oxidação como fonte de energia ou ser convertido em gorduras ou carboidratos (esta última quando as proteínas são consumidas em ex- cesso) (MAUGHAN; BURKE, 2004). A dinâmica desse processo é observada na Figura 5. 22 Bioenergética e Metabolismo: Como o Corpo Obtém Energia Fosfatos de Alta Energia A fonte de energia imediata para o funcionamento do corpo humano (incluindo aqui para a realização da contração muscular) é um composto de fosfato de alta energia, o trifosfato de adenosina (ATP). Embora o ATP não seja a única molécula transportadora de energia na célula, é a mais importante. Na ausência de ATP em quantidade suficiente, a maioria das células morrem rapidamente. Basicamente, a energia obtida dos alimentos e dos reservatórios celulares serve para manutenção dos estoques celulares de ATP. Isso ocorre pelo fato de uma parte da energia contida nas ligações químicas das moléculas dos substratos energéticos serem armazenadas nas ligações químicas existentes entre os átomos do ATP e, ao desfazer estas ligações, a energia liberada será utilizada pelas células (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). A estrutura do ATP consiste em três partes principais: (1) uma porção adenina, (2) uma porção ribose e (3) três fosfatos ligados (Figura 6). A formação de ATP ocorre a partir da ligação do difosfato de adenosina (ADP) com o fosfato inorgânico (Pi) e requer uma ampla quantidade de energia, sendo que uma parte dessa energia é armazenada na ligação química que une essas moléculas. Quando a enzima ATP quebra essa ligação, a energia é liberada e pode ser usada para realização de trabalho (exemplo: contração muscular) (NELSON; COX, 2014). Secreção glandular Transmissão neural Contração muscular Circulação Digestão Síntese tecidual ATP ProteínaAminoácidos ATP Trifosfato Adenosina Ribose Adenina O OO P O- OO P O- O O OH OH C C C C C C C N N N N NH2 CH2 H H HH H HO P O- Figura 6 - Estrutura do ATP Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 140). 23UNIDADE 1 O termo bioenergética engloba as vias energéticas envolvidas no processo de síntese de ATP a partir de substratos energéticos, possibilitando a cons- tante renovação dos estoques de ATP. Vamos adotar como exemplo as células mus- culares. As células musculares armazenam quan- tidades limitadas de ATP. Assim, como o exercício muscular requer um suprimento constante de ATP para o fornecimento da energia necessária à contração (para que esta atividade não seja in- terrompida por falta de ATP), a célula deve ter vias metabólicas capazes de produzir rapidamente ATP. Estas vias de renovação de ATP são sub- divididas em vias anaeróbicas (que não usam o oxigênio) e vias aeróbicas (que usam o oxigênio), apresentadas a seguir. Produção Anaeróbia de ATP As vias anaeróbias para produção de ATP com- preendem: 1) formação de ATP por quebra da fos- focreatina (PC) e 2) formação de ATP via degrada- ção de glicose ou glicogênio (glicólise anaeróbia). Bioenergética 24 Bioenergética e Metabolismo: Como o Corpo Obtém Energia O método mais simples e, consequentemente, mais rápido para produzir ATP envolve a doação da energia contida na PC ao ADP, para que ele possa se unir ao Pi e formar o ATP. Esta reação é catalisada pela enzima creatina quinase e consiste, primeiramente, na quebra da PC em creatina livre e Pi e, posteriormente, a utilização da energia libera- da desta quebra para unir o ADP com o Pi (Figura 7) (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Figura 7 - Reação enzimática de ressíntese do ATP a partir da fosfocreatina Fonte: o autor. Quando um indivíduo necessita de um suprimento rápido de ATP, ele utiliza o sistema ATP-PC (Figura 8)(MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). ATP ADP ATPADP Trabalho biológico Mecânico Químico Transporte PCr + Cr + + Pi + Energia ATPase creatinoquinase Figura 8 - Papel da hidrólise da creatina-fosfato na geração de trabalho Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 142). Uma segunda via metabólica capaz de produzir ATP rapidamente sem o envolvimento de O2 é denominada glicólise. A glicólise envol- ve a quebra de glicose ou glicogênio para formação de duas moléculas de piruvato, que na ausência de oxigênio serão convertidas em duas moléculas de lactato. De forma simplificada, a glicólise é uma via anaeróbia usada para transferir energia das ligações existentes na molécula de glicose para unir a adenosina difosfato (o ADP) com o fosfato inorgânico (Pi) formando ATP. Esse processo envolve uma série de reações químicas (dez reações até piruvato, e uma última que converte piruvato em lacta- to) que ocorrem exclusivamente no citoplasma da célula e pro- move um ganho líquido de duas moléculas de ATP (NELSON; COX, 2014). Na glicólise, observa-se que as reações entre glicose/glicogê- nio e piruvato podem ser subdi- vididas em duas fases distintas, uma fase deinvestimento de energia (primeiras cinco rea- ções) e uma fase de geração de energia ou fase de lucro (últimas cinco reações). As cinco primei- ras reações constituem a fase de investimento de energia pelo fato de gastarmos duas moléculas de ATP para fosforilar os inter- mediários dessa via tornando a molécula energeticamente mais favorável. Já as últimas cinco rea- ções da glicólise representam a fase de geração de energia da gli- cólise na qual quatro moléculas de ATP são produzidas. Dessa forma, o ganho líquido da gli- cólise é igual a dois ATPs (Figura 9). A Figura 10 ilustra a glicólise completa, com suas dez reações juntamente com a conversão do piruvato, último intermediário da glicólise, em lactato. Note que a glicólise envolve a con- versão da glicose, que tem seis carbonos, em piruvato, que tem três carbonos. Por isso que cada molécula de glicose é capaz de formar duas moléculas de piru- vato (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). 25UNIDADE 1 1 Fase de investimento de energia 2 ATP requeridos 4 ATP produzidos 2 NADH produzidos 2 Fase de geração de energia Produção líquida Entrada 1 glicose 2 ADP 2 NAD+ Saída 2 piruvatos ou 2 lactatos 2 ATP 2 NADH 2 piruvatos ou 2 lactatos Glicose Figura 9 - Glicólise Fonte: Powers e Howley (2014, p. 52). Uma pergunta que você deve estar fazendo seria: se o ATP já foi produzido, por que formar o lactato? Sabemos que, na via glico- lítica, o transportador de elétrons NAD+ (nicotinamida adenina dinucleotídeo) recebe elétrons e é reduzido à sua forma NADH (nicotinamida adenina dinucleotídeo reduzido) (reação 6 da gli- cólise), que, necessariamente, deveria entrar na mitocôndria e doar estes elétrons para a cadeia transportadora de elétrons, processo este que só ocorre na presença de oxigênio. Na ausência de oxigênio, para que não haja o acúmulo de NADH no citoplasma das células (que seria prejudicial/tóxico para a célula), o piruvato aceita os elétrons, sendo convertido em lactato (Figura 11) (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Como não há o envolvimento direto do oxigênio na glicólise, a via é considerada anaeróbia, entretanto, na presença de oxigênio na mitocôndria, o piruvato pode participar da produção aeróbia de ATP. Dessa forma, além de ser uma via capaz de produzir ATP sem oxigênio, a glicólise pode ser considerada a primeira etapa da degradação aeróbia de carboidratos. 26 Bioenergética e Metabolismo: Como o Corpo Obtém Energia hexoquinase fosforilase fosfofrutoquinase Glicogênio H H H H OH OH OH Glicose Glicose 6-fosfato frutose 6-fosfato frutose 1,6-fosfato 3- fosfogliceraldeído Aldose 3- fosfogliceraldeído fosfato de di-hidroxiacetona glicose-fosfato isomerase HO CH2OH HO ATP ADP ATP ADP NADH + NAD+ 1 2 3 4 P P triosefosfato isomerase 5 ATP ADP NADH + NAD+ ATP ADP ATP ADP ATP ADP gliceraldeído 3- fosfato desidrogenase 6 fosfogliceratoquinase 7 fosfogliceromutase 8 enolase 9 piruvatoquinase 10 1,3- difosfoglicerato 3- fosfoglicerato Para a cadeia de transporte de elétrons Para a cadeia de transporte de elétrons 2- fosfoglicerato fosfoenolpiruvato fosfoenolpiruvato 2- fosfoglicerato 3- fosfoglicerato 1,3- difosfoglicerato Lactato Piruvato COO - C O CH3 COO- C OH CH3 OH desidrogenase láctica Lactato PiruvatoCOO - C O CH3 COO- C OH CH3 OHdesidrogenase láctica H H HO OH HO CH2H2C H20H20 Figura 10 - Visão geral da glicólise com suas 10 reações representadas Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 150). 27UNIDADE 1 H H H H OH OH OH Regeneração desidrogenase láctica 2 Piruvato 2 Lactato Glicose G lic ól is e HO CH2OH H O COO- C O CH3 COO- C OH CH3 H NAD+ ATP ADP NADH2 2 + 2 2 NAD+ NAD+ Figura 11 - Formação do lactato: passo final da glicólise anaeróbia Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 152). Produção Aeróbia de ATP A produção aeróbia de ATP ocorre dentro da mitocôndria e envolve a interação de duas vias meta- bólicas cooperativas: 1) o ciclo do ácido cítrico (antigo ciclo de Krebs) e 2) a cadeia transportadora de elétrons. A função primária do ciclo do ácido cítrico é completar a oxidação de carboidratos, gorduras ou proteínas, usando o NAD+ e o FAD como transportadores de elétrons que serão enviados para a cadeia transportadora de elétrons onde os doarão para os componentes dessa via. O oxigênio não participa das reações do ciclo do ácido cítrico e é utilizado apenas na cadeia respiratória como o últi- mo aceptor de elétrons, sendo convertido em H2O (Figura 12) (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). 28 Bioenergética e Metabolismo: Como o Corpo Obtém Energia Mitocôndria Fígado Tecido muscular Corrente sanguínea Tecido adiposo Glicogênio Triacilgliceróis Transporte de elétrons Ácidos graxos Aminoácido desaminado Glicose Aminoácido desaminado Ácido graxo livreGlicose ATP Reservas intramusculares de energia • ATP • PCr • Triacilgliceróis • Glicogênio • Esqueletos de carbono provenientes dos aminoácidos Ciclo do Ácido Cítrico Figura 12 - Integração das vias dos diferentes substratos energéticos no ciclo do ácido cítrico Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 148). Ciclo do Ácido Cítrico A entrada no ciclo do ácido cítrico requer a formação de uma molécula de dois carbonos denominada Acetil-CoA, que pode ser formada a partir da quebra dos carboidratos, das gorduras ou proteínas (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Dando um enfoque inicial sobre os carboidratos, sabemos que pela via glicolítica a glicose é convertida em piruvato. Este, na presença de oxigênio, ao invés de ser convertido em lactato (conforme visto anteriormente), será quebrado em Acetil-CoA, que, em seguida, se combinará com o oxaloacetato para formar o citrato, compreendendo a primeira reação do ciclo do ácido cítrico. Posteriormente, um conjunto de sete reações será responsável por ressintetizar o oxaloacetato e ao mesmo tempo formar três moléculas de NADH, uma molécula de FADH2 e uma molécula de GTP (que será convertido em ATP). Para cada molécula de glicose que entra na glicólise, duas moléculas de piruvato são formadas, dando origem a duas moléculas de acetil-CoA que girará o ciclo do ácido cítrico duas vezes (Figura 13) (DEVLIN, 2011). 29UNIDADE 1 coenzima A (CoA) piruvato desidrogenase piruvato Acetil-CoA CoA CoA 1 2 3 4 5 NADH + NADH + FADH2 NADH + NADH + NAD+ NAD+ NAD+ FAD NAD+ ATP ADP GDPGTP 6 78 9 10 11 H20 H20 H20 CO2 CO2 CO2 Ciclo do Ácido Cítrico H3C C S O su cc in at o- Co A sin te ta seSu cc in at os ucc ina to de sid rog en ase Fuma rato Fumarase Malato malato desidrogenase Oxaloacetato citrato sintase Succinil-CoA Oxalossuccinato α-cetoglutarato isocitratodesidrogenase Isocitrato aco nita se cis -ac on ita toac on ita se Ci tra to Com plexo α-cetoglutarato desidrogenase + Pi Dióxido de carbono e hidrogênio liberados na hidrólise de duas moléculas de piruvato 2 moléculas de piruvato 2 moléculas de acetil-CoA Total CO2 2 H 4 4 6 16 20 Figura 13 - Ciclo do ácido cítrico Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 155). 30 Bioenergética e Metabolismo: Como o Corpo Obtém Energia Até aqui enfocamos o papel dos carboidratos na produção de ace- til-CoA para a entrada no ciclo do ácido cítrico, porém, como as gorduras podem ser utilizadas? Se nos lembrarmos do tópico “subs- tratos energéticos”, recordaremos que um dos tipos de gordura presente no nosso corpo é o triglicerídeo. Este, após sofrer a ação de lipases (enzimas que quebram as ligações químicas existentes nos triglicerídeos), libera moléculas de ácido graxo e de glicerol. Os ácidos graxos, após passar por um conjunto de reações químicas (beta-oxidação), resultarão em moléculas de acetil-CoA que serão utilizadas tal qual o acetil-CoA proveniente do piruvato (Figura 14) (DEVLIN, 2011). Transporte de elétrons ATP Ciclo do Ácido Cítrico Ácidos graxos Plasma Tecido adiposo Lipase sensível aos hormônios Músculo Mitocôndria Ácidos graxosÁcidos graxos + Albumina AGL Glicerol Acetil-CoA Triacilglicerol intramuscular (2.000-3.000 kCal) Glicose O2 Triacilgliceróis (50.000-100.000 kCal) Fragmento de pele abdominal Figura 14 - Papel dos lípidos como fonte de energia Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 158). As proteínas conseguem entrar nas vias bioenergéticas em diversos locais. Entretanto, a primeira etapa é a quebra da proteína em aminoácidos. Os eventos subsequentes depen- dem de quais aminoácidos es- tão envolvidos. Alguns aminoá- cidos, por exemplo, podem ser convertidos em glicose ou piru- vato, enquanto outros são con- vertidos em acetil-CoA, e ou- tros, ainda, em intermediários do ciclo do ácido cítrico (Figura 15) (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Em resumo, o ciclo do áci- do cítrico completa a oxida- ção dos carboidratos, gordu- ras ou proteínas, produz CO2 e fornece elétrons que serão passados pela cadeia de trans- porte de elétrons para forne- cer energia destinada à pro- dução aeróbia de ATP (Figura 15). As enzimas catalisadoras das reações do ciclo do ácido cítrico estão localizadas den- tro das mitocôndrias 31UNIDADE 1 Gorduras Carboidratos Proteínas Glicerol + ácidos graxos Glicose/glicogênio Aminoácidos Glicólise Lipídios Piruvato Treonina Serina Cisteína Glicina Isoleucina Leucina Lisina Tirosina Fenilalanina Triptofano arginina asparagina asparato glutamato glutamina histidina isoleucina metonina (metionina) fenilalanina prolina treonina tirosina valina Nucleotídeos Açúcares amino Glicolipídios Glicoproteínas Aminoácidos Pirimidinas Lactato Acetil-CoA Citrato Heme Aspartato Outros aminoácidos Purinas Pirimidinas Glutamato Outros aminoácidos Purinas Succinil-CoA Ciclo do Ácido Cítrico α-cetoglutarato Colesterol Ácidos graxos Oxaloacetato Corpos cetônicos Amônia Ureia Urina Desaminação Alanina Interconversões predomimantes Carboidratos Aminoácidos não essenciais Carboidratos ou gorduras Gorduras Gorduras e aminoácidos não essenciais Proteínas Figura 15 - Papel dos aminoácidos como fonte de energia Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 164). 32 Bioenergética e Metabolismo: Como o Corpo Obtém Energia Cadeia Transportadora de Elétrons A produção aeróbia de ATP é possível graças a um mecanismo que usa a energia potencial disponível nos transportadores de elétrons reduzido, como o NADH e o FADH2, para fosforilar o ADP em ATP. Os transportadores de elétrons reduzidos não reagem diretamente com o oxigênio. Em vez disso, os elétrons removidos dos átomos de hidrogênio passam por uma série de proteínas (complexo I, II, III e IV) e ao final destes é doado ao O2 (Figura 16) (NELSON; COX, 2014). Citoesqueleto Núcleo Nucléolo Ribossomos Membrana plasmática Mitocôndria Citosol Centríolos Retículo endoplasmático Ribossomos Aparelho de Golgi ATP H CO2 CO2 H H H H H H H Ciclo do Ácido Cítrico Acetil - CoA Fase 1 Fase 2 Piruvato proveniente da glicólise coenzima A A cadeia de transporte de elétrons oxida os componentes das coenzimas reduzidas Cadeia de transporte de elétrons ATP As coenzimas reduzidas (moléculas carreadoras) transportam o hidrogênio até a cadeia de transporte de elétrons H H H H H H H H H H e- e- e- e- e- e- H ADP + +2 Pi OH+ H2O Figura 16 - Cadeia transportadora de elétrons Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 154). 33UNIDADE 1 Como o ATP é formado? A resposta para isso é, atualmente, explicada por uma teoria chamada de teoria quimiosmótica. Essa teoria aponta que conforme os elétrons são passados de um complexo ao outro da cadeia respiratória, íons hidrogênio são enviados para o espaço intermembrana existente entre a membrana mitocondrial interna e membrana mitocondrial externa. Com isso, cria-se um gradiente elétrico e um gradiente químico entre o espaço intermembranas e a matriz mitocondrial. Elétrico devido à carga positiva existente nos íons hidrogênio, e a negatividade da matriz mitocondrial; químico devido à maior concentração de íons hidrogênio presente no espaço intermembranas em relação à matriz mitocondrial. Após criado esse gradiente, quando os íons hidrogênios são devolvidos para a matriz mitocondrial, a energia cinética associada a este retorno é canalizada por uma proteína (denominada de complexo V, ou complexo da ATP sintase) e utilizada para unir uma molécula de ADP com uma molécula de Pi, formando o ATP (Figura 17) (DEVLIN, 2011; NELSON; COX, 2014). Tecido adiposo marrom: Você sabia que existem dois tipos de tecido adiposo no corpo humano? Muitos de nós conhecemos apenas o chamado tecido adiposo branco, constituído por células adiposas especializadas (entre outras funções) no armazenamento de energia excedente. Além deste, também apresentamos um segundo tipo de tecido adiposo denominado de tecido adiposo marrom, que ao invés de acumular, gasta energia. Sabemos que esta capacidade é possível devido a uma grande quantidade de mitocôndrias que, ao invés de apresentarem o complexo V da cadeia respiratória, tem uma proteína chamada de UCP (uncoupling protein). Infelizmente, seus níveis em humanos são muito reduzidos em comparação aos demais mamíferos, especialmente na fase adulta, sendo seu papel de pouco significado no gasto energético diário. Fonte: adaptado de Nelson e Cox (2014). 34 Bioenergética e Metabolismo: Como o Corpo Obtém Energia NADH 2H + O21/2 4 H+ 4 H+ Membrana mitocondrial interna Membrana mitocondrial externa 2 H+ H2O NAD+ ATP sintase 1 1 2 3 ADP ATP+ Pi Primeira bomba Segunda bomba Espaço intermembrana Terceira bomba e- Matriz Figura 17 - Teoria quimiosmótica Fonte: Powers e Howley (2014, p. 59). Exemplificando, este acúmulo de H+ no espaço intermembranas é similar à energia potencial da água armazenada em uma barragem de uma represa. Quando abrem-se as comportas e giram-se as turbinas, a energia cinética da passagem da água através das turbinas é canalizada e convertida em energia elétrica. De uma forma geral, cada elétron doado ao complexo I pelo NADH cria um gradiente eletroquímico suficiente para produção de aproximadamente 2,5 moléculas de ATP, enquanto cada elétron doado ao complexo II pelo FADH2 cria um gradiente eletroquímico suficiente para produção de aproxima- damente 1,5 moléculas de ATP (NELSON; COX, 2014). 35UNIDADE 1 Então, por que o oxigênio é essencial à produção aeróbia de ATP? O propósito da cadeia transportadora de elétrons é fazer os elétrons passarem por uma série de proteínas ao longo dos complexos que são reduzidas (quando recebem os elétrons) e oxidadas (quando passam esses elétrons adiante). Se a última proteína desse processo não fosse capaz de se oxidar, ou seja, não tivesse como passar o elétron adiante, não seria possível que essa proteína recebesse elé- trons novamente e o processo seria interrompido. Entretanto, na presença de oxigênio, o elétron é doado a este. Ou seja, o oxigênio que respiramos permite dar continuidade à cadeia transportadora de elétrons ao atuar como aceptor final de elétrons. Essa molécula aceita dois elétrons, reduzindo-se e, então, se liga a dois íons hi- drogênio formando a molécula de água (H2O) (DEVLIN, 2011). Cálculo do ATP Aeróbio Hoje, é possível calcular a produção de ATP total decorrente da quebra aeróbia de glicose. Lembre-se que a produção líquida de ATP da glicólise era de dois ATPs por molécula de glicose. Além disso, quando o oxigênio está presente, as duas moléculas de NADH produzidas na glicólise podem, então, ser transportadas para dentro da mitocôndria e resultar em mais cinco moléculas de ATP. Ainda no processo de conversão de piruvato em acetil-CoA, forma-se mais um NADH para cada piruvato, totalizando 2 NADHs (pois temos 2 piruvatos provenientes da glicose), levando a mais cinco moléculas de ATP formadas. Em adição, ao passar pelo ciclo do ácido cítrico, cada molécula de acetil-CoA forma três moléculas de NADH (como temos duas moléculas de acetil-CoA, teremos seis moléculas de NADH formadas, totalizandoquinze ATPs), uma de FADH2 (logo, teremos duas moléculas de FADH2 formadas, resultando em três moléculas de ATP) e um GTP (no caso, um para cada acetil-CoA, totalizando duas moléculas de GTP que serão convertidas em duas moléculas de ATP). Ao final do processo, teremos um montante de 32 moléculas de ATP para cada molécula de glicose oxidada, um valor 16 vezes maior do que o rendimento líquido da glicólise por via anaeróbia. Metabolismo do Exercício O exercício impõe um sério desafio às vias bioe- nergéticas da musculatura que trabalha. Durante o exercício intenso, o gasto energético corporal total pode aumentar 25 vezes acima do gasto observado em repouso, sendo a maior parte desse aumento usada no fornecimento de ATP para contração dos músculos esqueléticos, podendo aumentar o uso de ATP por estes em até 200 vezes em relação ao utilizado em repouso. Nesta etapa, iniciaremos com uma discussão sobre as necessidades ener- géticas do corpo em repouso, seguida do estudo destas necessidades após o início do exercício. Necessidade Energética Durante o Repouso Em condições de repouso, o corpo humano saudá- vel está em homeostasia e, dessa forma, a necessi- dade energética corporal é igualmente constante. Em repouso, quase 100% da energia requerida para manter as funções corporais é produzida por metabolismo aeróbio. A isso sucede que níveis de lactato sanguíneo em repouso são estáveis e baixos, próximos a 1 mmol/L de sangue (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). 37UNIDADE 1 Como a mensuração do consumo de oxigênio é um índice de produção aeróbia de ATP, a mensuração do consumo de oxigênio em repouso fornece uma estimativa da necessidade energética basal corporal. Em repouso, a necessidade energética total de um indivíduo é relativamente baixa. Um jovem adulto de 70 kg, por exemplo, consome cerca de 3,5 ml de oxigênio/kg de peso em um minuto (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Transição do Repouso ao Exercício Quando saímos da condição do repouso para a condição exercício, as necessidades energéticas também aumentam e com elas o consumo de oxigênio. Porém, durante esta fase de transição, o aumento do consumo de oxigênio não é proporcional à nova demanda energética do organismo. Desta maneira, até o corpo atingir o estado estável (período em que o corpo se readequou à nova demanda e é capaz de fornecer oxigênio de forma satisfatória), as fontes de energia anaeróbia contribuem para geração de ATP no início do exercício (Figura 18) (POWERS; HOWLEY, 2014). De fato, as evidências sugerem que no início do exercício o sistema ATP-PC é a primeira via bioener- gética a ser ativada, seguida da glicólise e, por fim, a produção de energia por via aeróbia. A efetividade das vias anaeróbias é tão grande que mesmo que o uso de ATP se torne muito elevado, com o início do exercício, os níveis de ATP na musculatura permanecem praticamente inalterados. Conforme o consumo de O2 em estado estável é alcançado, as necessidades de ATP no corpo vão sendo atendidas pelo metabolismo aeróbio. O principal ponto a ser enfatizado em relação à bioenergética das transições do repouso ao trabalho (exercício) é o envolvimento de vários sistemas energéticos. Em outras palavras, a energia necessária ao exercício não é fornecida pela simples ativação de uma via bioenergética isolada, e sim por uma mistura de vários sistemas metabólicos que atuam com uma considerável sobreposição (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Dé�cit de O2 VO2 no estado estável Tempo (minutos) 0,5 -2 1 2 2,5 3 3,5 -2 -2 0 1 2 3 4 5 VO2 em pé VO 2 (L • m in -1 ) Figura 18 - Déficit de oxigênio Fonte: Powers e Howley (2014, p. 69). O termo déficit de oxigênio é aplicado ao atraso do consumo de oxigênio que ocorre no início do exercício. Especificamente, o déficit de oxigênio é definido pela diferença entre o consumo de O2 nos primeiros minutos de exercício e um período equivalente após o estado estável ser alcançado (POWERS; HOWLEY, 2014). O que causa o atraso no consumo de oxigênio no início do exercício? Existem duas hipóteses para tal. Primeiro foi sugerido que, no início do exercício, o suprimento de oxigênio disponível para os músculos em contração é inadequado. Isso significa que, pelo menos em algumas mitocôn- drias, ao menos em uma parte do tempo é possível 38 Bioenergética e Metabolismo: Como o Corpo Obtém Energia que não haja moléculas de oxigênio disponíveis para aceitar elétrons ao final das cadeias de trans- porte de elétron. Nitidamente, se isso estiver corre- to, a taxa de fosforilação oxidativa e, portanto, todo o consumo de oxigênio corporal, seria restrito. A segunda hipótese sustenta a ocorrência de um atraso, pois os estímulos para fosforilação oxidati- va demoram algum tempo para atingir seus níveis finais e produzir totalmente seus efeitos em uma dada intensidade de exercício. Sabe-se que a cadeia transportadora de elétrons é estimulada por ADP e Pi e no começo do exercício as concentrações de ADP e Pi estão meramente acima dos níveis de repouso, uma vez que a concentração de ATP está sendo mantida pela PC e glicólise acelerada. No entanto, chega um momento que estes dois 0 0 20 15 10 5 2 Duração do exercício (min) Re po us oCo ns um o de o xi gê ni o (m l/k g/ m in ) 4 5 8 10 VO2 no ritmo estável Treinados Destreinados Dé�cit de oxigênio treinados Dé�cit de oxigênio destreinados Figura 19 - Indivíduos treinados atingem estado estável mais rapidamente Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 170). compostos começam a aumentar e passam a sina- lizar para que a cadeia transportadora de elétrons se torne mais ativa (POWERS; HOWLEY, 2014). Os indivíduos treinados atingem o estado está- vel do VO2 mais rápido do que os indivíduos sem treinamento (Figura 19) e, como consequência, apresentam um déficit de oxigênio menor. Qual a explicação para essa diferença? Teoricamente, isso decorre de adaptações cardiovasculares e/ou mus- culares induzidas pelo treinamento de resistência. Em termos práticos, isso significa que a produção aeróbia de ATP está ativa antes do início do exer- cício e acarreta uma produção menor de lactato e H+ no indivíduo treinado, em comparação ao indivíduo sem treinamento (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011; POWERS; HOWLEY, 2014). 39UNIDADE 1 Respostas Metabólicas na Fase de Recuperação do Exercício Da mesma forma que a taxa metabólica não aumenta instantaneamente com o início do exercício, ao finalizar uma sessão de treinamento, a taxa metabólica não cai instantaneamente, mas continua alta por algum tempo, variando esse tempo, principalmente, pela intensidade do exercício realizado. A este consumo elevado de oxigênio após a interrupção do exercício físico, damos o nome de con- sumo excessivo de oxigênio pós-esforço, o EPOC (do nome em inglês excess post-exercise oxygen consumption) (Figura 20). Estudos apontam que o EPOC poderia ser dividido em duas partes: 1) parte rápida, imediatamente subsequente ao exercício (cerca de 2-3 minutos após o exercício) e 2) parte lenta, que persiste por mais de 30 minutos após o exercício (POWERS; HOWLEY, 2014). 3 2,5 2 -4 -2 (a) (b) 0 2 4 6 8 10 12 14 1,5 VO 2 (L • m in -1 ) VO2 em repouso basal Tempo (minutos) O suprimento de ATP aeróbio atende à demanda VO2 em estado estável Componente rápido Componente lento EPOC 1 0,5 Dé�cit de O2 3 4 5 2,5 3,5 4,5 2 -4 -2 0 2 8 10 14 16 20 1,5 VO 2 (L • m in -1 ) VO2 em repouso basal VO2 mais alto alcançável Necessidade de O2 Componente rápido Término do exercício Componente lento EPOC1 0,5 4 6 12 2218 Dé�cit de O2 Figura 20 - Consumo de oxigênio pós-esforço: a) Alcançar o estado estável durante o exercício resulta num EPOC curto b) Não alcançar o estado estável durante o exercício resulta um EPOC prolongado Fonte: Powers e Howley (2014, p. 72). 40 Bioenergética e Metabolismo: Como o Corpo Obtém Energia A restauração das reservas de PC e de oxigênio no músculo (O2 ligadoà mioglobina) e no sangue (O2 ligado à hemoglobina) é concluída em 2-3 minutos de recuperação e compreendem a parte rápida. Em adição, a temperatura corporal elevada, a gliconeogênese para converter lactato em glicose, os níveis elevados de adrenalina e noradrenalina e os valores acima da normalidade de frequência cardíaca e frequência respiratória seriam os influenciadores da fase lenta do EPOC. Respostas Metabólicas ao Exercício: Influência da Duração e da Intensidade A energia usada para realizar um exercício de curta duração e alta intensidade é fornecida primariamente pelas vias metabólicas anaeróbias, porém se a produção de ATP é dominada pelo sistema ATP-PC ou pela glicólise, depende primeiramente da duração da atividade. Em geral, o sistema ATP-PC pode suprir quase todas as necessidades de ATP para realização de trabalho em eventos com duração de 1-5 segundos. O exercício intenso com duração superior a 5 segundos começa a usar a capacidade de produção de ATP por glicólise. É preciso enfatizar que a transição do sistema ATP-PC para uma maior dependência da glicólise durante o exercício não cons- titui uma alteração abrupta e sim uma mudança gradual de uma via para outra (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Os eventos com duração superior a 45 segundos usam uma combinação de todos os três sistemas de energia (ATP-PC, glicólise anaeróbia e vias aeróbias). Em geral, o exercício intenso com dura- ção aproximada de 60 segundos usa uma proporção de produção de energia anaeróbia/aeróbia de 70%/30%, enquanto os eventos com duração de 2-3 minutos empregam vias bioenergéticas anaeróbias e aeróbias praticamente na mesma proporção (50%/50%), para suprir o ATP necessário (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Já a energia necessária à realização do exercício prolongado (dura- ção superior a 10 minutos) é fornecida, primariamente, pelo metabo- lismo aeróbio. Um consumo de oxigênio em estado estável geralmente pode ser mantido durante o exercício submáximo, de intensidade mo- 41UNIDADE 1 derada. Entretanto, essa regra apresenta duas exceções: 1) o exercício prolongado realizado em ambiente quente e úmido acarreta uma ten- dência crescente de consumo de oxigênio, inviabilizando a manutenção do estado estável, mesmo que a taxa de trabalho seja constante; 2) o exercício contínuo a uma taxa de trabalho relativamente alta (>75% VO2máx) ocasiona uma elevação lenta do consumo de oxigênio com o passar do tempo. Nas duas situações, o grande problema está na maior produção de adrenalina e noradrenalina (visto que o bloqueio da ligação desses hormônios ao seu receptor por fármacos possibilita a manutenção do estado estável) e no maior aumento da temperatura corporal (POWERS; HOWLEY, 2014) Nesta unidade, focamos no metabolismo energético e na sín- tese da forma estocável de energia no corpo, o ATP. Abordamos assuntos relacionados ao gasto energético diário, que remeteram grande importância para quatro elementos básicos que envolvem tal condição e falamos sobre alguns fatores que podem refletir em maior ou menor gasto energético diário, por influenciar direta ou indiretamente um destes quatro fatores. Refletimos também sobre o papel dos diferentes substratos ener- géticos, além de descrevermos com algum detalhe os sistemas básicos de geração de energia por via anaeróbia e aeróbia, o que possibilita ao nosso corpo manter o processo de contração muscular na presença ou na ausência de quantidades adequadas de oxigênio. Somado a estes quesitos, abordamos o papel de cada via meta- bólica nas diferentes fases de uma sessão de exercício (déficit de oxigênio, exercício propriamente dito e recuperação pós-exercício), demonstrando o importante papel das vias aeróbias durante o repou- so, das vias anaeróbias durante a fase de transição do repouso para o exercício e a permanência desta via para a ressíntese de ATP até a exaustão em esforços de alta intensidade, ou a transição para as vias aeróbias durante a realização de exercícios de longa duração. Além disso, ainda durante as fases da sessão de exercício, visualizamos o papel das vias aeróbias durante a fase de recuperação, em que o cor- po consome muito oxigênio para restaurar elementos desgastados. Espero que você, caro(a) aluno(a), tenha extraído o máximo possível de informação desta unidade, e nos vemos na próxima. 42 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Ao dormir ou permanecer realizando uma atividade sentado ou deitado, apesar do baixo gasto energético, nosso corpo ainda assim precisa de energia. Baseado nesta colocação, incluindo todas as atividades passíveis de serem realizadas em repouso, qual a principal via de fornecimento de energia que permite a manu- tenção da realização desta atividade? a) Via glicolítica anaeróbia e vias aeróbias. b) Via aeróbia e fosfocreatina. c) Fosfocreatina e glicólise. d) Vias aeróbias. e) Vias anaeróbias e glicose. 2. Durante a fase de transição do repouso ao exercício, o organismo se encontra em déficit de oxigênio. Quais as vias metabólicas utilizadas nesta fase? a) Via glicolítica anaeróbia e vias aeróbias. b) Via aeróbia e fosfocreatina. c) Fosfocreatina e glicólise anaeróbia. d) Vias aeróbias. e) Via anaeróbia e fosfocreatina. 43 3. Quando terminamos uma sessão de exercício, o nosso corpo continua consu- mindo mais oxigênio e gastando mais energia em comparação ao repouso por um determinado período de tempo. Esta fase compreende o EPOC. O EPOC pode ser dividido em uma fase rápida e uma fase lenta. Sendo assim, que condições influenciam a porção rápida do EPOC? a) Frequência cardíaca e respiratória elevadas, níveis dos hormônios adrenalina e noradrenalina elevados. b) Remoção do lactato, ressíntese do ATP e recuperação das reservas de O2. c) Ressíntese da PC e recuperação das reservas de O2 na mioglobina e hemo- globina. d) Temperatura elevada e remoção do lactato da circulação. e) Remoção de lactato, ressíntese do ATP e temperatura elevada. 4. Por que indivíduos correndo em clima quente e úmido apresentam um quadro de fadiga precoce em relação a indivíduos que não o fazem, porém estão cor- rendo na mesma intensidade? a) Sabe-se que fatores como temperatura e umidade elevada, assim como correr próximo do limiar do lactato (85% do VO2max) são fatores que impedem a manutenção do estado estável, levando à fadiga precoce. b) Provavelmente o nível de condicionamento dos indivíduos são diferentes. c) Pelo fato do calor aumentar a transpiração e desidratar o indivíduo que tem que parar devido à sede. d) Ocorre uma menor produção de adrenalina e noradrenalina e um aumento da temperatura corporal. e) Pelo fato de que a energia necessária à realização do exercício prolongado é fornecida, primariamente, pelo metabolismo anaeróbio. 44 5. Na célula, onde ocorrerá a reação da fosfocreatina, glicólise, o ciclo do ácido cítrico e a cadeia transportadora de elétrons, respectivamente? a) Citosol, Citosol, Citosol, Mitocôndrias. b) Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria, Mitocôndria. c) Mitocôndria, Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria. d) Citosol, Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria. e) Citosol, Citosol, Mitocôndria, Citosol. 6. Quais os substratos energéticos utilizados, principalmente, nas seguintes mo- dalidades esportivas: corrida de 100m, corrida de 400m e corrida de 10000m? a) Fosfocreatina, fosfocreatina e glicólise anaeróbia. b) Fosfocreatina, glicólise anaeróbia e vias aeróbias. c) Vias aeróbias, glicólise anaeróbia e fosfocreatina. d) Glicólise anaeróbica, vias aeróbicas e fosfocreatina. e) Vias anaeróbias, glicólise anaeróbia e vias aeróbicas. 45 Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano Autor: Willian D. McArdle, Frank I. Katch, Victor L Katch Editora: Guanabara koogan Sinopse: este livro traz uma abordagem muito ampla sobre os aspectos rela- cionados à bioenergética e ao metabolismo e sua relação com a nutrição e o exercício físico. Para aqueles que desejam aprofundar seusconhecimentos na relação entre as áreas do conhecimento nutrição e exercício, é de grande valia a sua leitura. LIVRO 46 DEVLIN, T. M. Manual de bioquímica com correlações clínicas. São Paulo: Blucher, 2011. MAUGHAN, R. J.; BURKE, L. M. Nutrição esportiva. São Paulo: Artmed, 2004. MAUGHAN, R.; GLEESON, M.; GREEENHAFF, P. L. Bioquímica do exercício e do treinamento. São Paulo: Manole, 2000. McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. I. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. NELSON, D. L. COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. São Paulo: Artmed, 2014. POWERS S.; HOWLEY E. T. Fisiologia do exercício. São Paulo: Manole, 2014. 47 1. D. 2. C. 3. C. 4. A. 5. D. 6. B. 48 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Fornecer uma visão geral da estrutura e da função do sistema cardiovascular. • Entender a estrutura e função do sistema respiratório. Sistema Cardiovascular Sistema Respiratório Dr. Felipe Natali Almeida Sistemas Fornecedores de Oxigênio: Sistema Cardiovascular e Respiratório Sistema Cardiovascular Olá, seja bem-vindo(a) a esta segunda unidade de nosso livro de Fisiologia Humana. Neste mo- mento, após termos aprendido sobre a geração de energia pelo organismo em nossa primeira unida- de, trataremos de um outro importante assunto: a obtenção de oxigênio pelos tecidos corporais. Para tanto, o sistema cardiovascular e respiratório trabalham em sintonia para poderem suprir as demandas corporais deste gás, possibilitando-nos gerar energia de forma aeróbia (conforme visto na unidade anterior), assim como para eliminar efetivamente o gás carbônico, mantendo a ho- meostasia (equilíbrio) corporal. Diante disso, veremos ao longo desta unidade que o principal propósito do sistema cardiorres- piratório é distribuir quantidades adequadas de oxigênio e eliminar os resíduos formados nos tecidos corporais. Além disso, o sistema cardio- vascular também atua transportando nutrientes e ajuda a regular a temperatura, enquanto o sistema respiratório atua como auxiliar no equilíbrio de ácidos e bases do corpo. 51UNIDADE 2 É importante lembrar que o sistema respiratório e cardiovascular atuam como uma “unidade conjunta”, visto que o sistema respiratório adiciona oxigênio e remove dióxido de carbono no sangue, enquanto o sistema cardiovascular é responsável pela distribuição do sangue oxigenado e dos nutrientes aos tecidos, de acordo com suas necessidades. Vamos começar a discutir as formas como o corpo mantém o equilíbrio dos gases (em especial, mantendo o fornecimento adequado de oxigênio e a remoção do gás carbônico), algo que requer o funcionamento em conjunto do sistema cardiovascular e respiratório. Neste primeiro momento, ini- ciaremos com uma visão geral do sistema cardiovascular. Organização do Sistema Cardiovascular O sistema cardiovascular consiste em um sistema fechado por meio do qual o sangue circula por todos os tecidos corporais. Basicamente, consiste em uma conexão contínua de uma bomba, um circuito de distribuição de alta pressão, canais de permuta e o circuito de coleta e de retorno de baixa pressão. Se forem estendidos em uma única linha, os aproximadamente 160.000 km de vasos sanguíneos de um adulto de tamanho médio circundariam a Terra cerca de quatro vezes (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Como dito, a circulação sanguínea requer a ação de uma bomba muscular, o coração, que cria a força propulsora necessária para movimentar o sangue ao longo do sistema de vasos. O sangue viaja pelo corpo saindo do coração pelas artérias e retornando pelas veias. Este sistema é considerado fechado porque as artérias e veias permanecem em continuidade entre si por meio de vasos menores. As artérias ramificam-se extensivamente para formar uma rede de vasos menores denominados arteríolas, que continuam se ramificando em vasos menores denominados de capilares. Estes são os menores e mais numerosos vasos sanguíneos do corpo. A partir deste ponto, o sangue passa a retornar em sentido ao coração por meio do reagrupamento dos vasos capilares em vênulas. Conforme as vênulas seguem de volta ao coração, aumentam de tamanho e transformam-se em veias. As veias principais esvaziam-se no coração (POWERS; HOWLEY, 2014). Coração O coração proporciona o impulso para o fluxo de sangue. Localizado na parte mediana da cavidade to- rácica, cerca de dois terços de sua massa ficam à esquerda da linha média do corpo. Esse órgão muscular pesa cerca de 310 g para um homem adulto de tamanho médio e 255 g para uma mulher de tamanho médio e bombeia cerca de 70 mL em cada batimento, totalizando, em repouso, cerca de 7.200 L/dia (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). 52 Sistemas Fornecedores de Oxigênio: Sistema Cardiovascular e Respiratório Está dividido em quatro câmaras e, frequentemente, é descrito como sendo duas bombas em uma. O átrio e ventrículo direitos formam a bomba direita, enquanto o átrio e ventrículo esquerdos consti- tuem a bomba esquerda. Estes lados são separados por uma parede muscular denominadas de septo interatrial (entre átrios direito e esquerdo) e septo interventricular (entre ventrículos direito e esquerdo), evitando que o sangue presente em cada um dos lados se misture. Funcionalmente, as câmaras ocas que compreendem cada lado do coração apresentam funções distintas (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011; POWERS; HOWLEY, 2014): • “coração direito”: responsável por receber o sangue que retorna de todas as partes do corpo (especificamente o átrio direito) e por bombear o sangue para os pulmões, para que possa ser oxigenado (especificamente o ventrículo direito); • “coração esquerdo”: lado que recebe sangue oxigenado proveniente dos pulmões (átrio esquer- do) e que bombeia o sangue para a aorta a fim de ser distribuído por todo o corpo (ventrículo esquerdo). Figura 1 - Visão simplificada do coração: observe aqui a localização das valvas entre os átrios e ventrículos e entre os ventrículos e os grandes vasos Valva pulmonar Veia cava superior Átrio direito Valva tricúspide Ventrículo direito Ventrículo esquerdoSepto Artéria pulmonar Veia pulmonar Átrio esquerdo Valva mitral Valva aórtica 53UNIDADE 2 Figura 2 - A parede do coração e suas três camadas Fonte: Powers e Howley (2014, p. 192). No coração, o sangue move-se dos átrios para os ventrículos e, a partir disso, para dentro das artérias. Para prevenir o movimento retrógrado do sangue, o coração conta com quatro valvas, as atrioven- triculares (que impedem o movimento retrógrado do sangue do ventrículo de volta para os átrios), a valva semilunar aórtica (que impede o retorno do sangue da aorta para o ventrículo esquerdo) e a valva semilunar pulmonar (que impede o retorno de sangue das artérias pulmonares para o ventrículo direito) (Figura 1) (POWERS; HOWLEY, 2014). Outra particularidade do tecido que compõe o coração é sua parede, subdividida em três camadas, sendo, de dentro para fora, denominadas de endocárdio, miocárdio e epicárdio (para uma noção geral das três camadas, conforme a Figura 2). O endocárdio é a camada interna composta por células endo- teliais que atuam como uma barreira entre o sangue presente dentro das câmaras cardíacas e a parede cardíaca. O miocárdio é a camada intermediária formada por células musculares, sendo responsável pela contratilidade do coração e capaz de se adaptar às exigências impostas a ele, hipertrofiando. Já o epicárdio, a camada mais externa, funciona como uma capa protetora e que também minimiza o atrito do coração com estruturas externas a ele (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Camada Características Função Epicárdio (pericárdio visceral) Membrana serosa, incluindo os capilares sanguíneos, capilares linfáticos e �bras nervosas Atua como cobertura externa lubri�cante Miocárdio Tecido muscular cardíaco separado por tecidos conjuntivos e incluindo capilares sanguíneos, capilares linfáticos e �bras nervosas Produz as contraçõesmusculares que ejetam sangue a partir das câmaras cardíacas Endocárdio Tecido endotelial e uma espessa camada subendotelial de �bras elásticas e colágenas Serve de revestimen- to interno protetor das câmaras e valvas Vasos coronários Pericárdio �broso Pericárdio seroso Cavidade pericárdia 54 Sistemas Fornecedores de Oxigênio: Sistema Cardiovascular e Respiratório Volume sanguíneo Área corporal ml % Coração 360 7,2 Pulmões Artérias 130 2,6 Capilares 110 2,2 Veias 200 4,0 Sistêmica Aorta, grandes Artérias 300 6,0 Pequenas Artérias 400 8,0 Capilares 300 6,0 Pequenas Veias 2,300 46,0 Grandes Veias 900 18,00 Total 5,000 100,00 Circulação Pulmonar e Sistêmica Também conhecidas como pequena e grande circulação, a circulação pulmonar e sistêmica (respectivamente) tem características distinti- vas entre elas. A circulação pulmonar é restrita ao coração e pulmão e tem por finalidade a oxigenação do sangue e a remoção do dióxido de carbono presente nessa circulação. O sangue que retorna ao átrio direito por meio das grandes veias passa para o ventrículo direito e é ejetado para as artérias pulmonares, que o direciona ao pulmão para realização das trocas gasosas. Após esta etapa, o sangue oxigenado retorna ao átrio esquerdo pelas veias pulmonares. Note que nesta cir- culação temos sangue desoxigenado circulando por artérias e sangue oxigenado circulando por veias. Já a circulação sistêmica ocorre entre o coração e os demais tecidos do organismo. Inicia-se com o sangue oxigenado fluindo do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo que ejeta este sangue para a aorta que irá distribuí-lo a todos os tecidos do corpo (Figura 3) (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). 55UNIDADE 2 Figura 3 - Visão geral da cir- culação pulmonar e sistêmica, associado a uma visão geral dos ramos da aorta, responsáveis por distribuir sangue para os demais tecidos que não o pulmão Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 314). Artéria carótida interna Artéria carótida externa Artéria carótida comum Artéria braquiocefálica Artéria axilar Artéria vertebral Artéria subclávia Arco aórtico Aorta ascendente Aorta torácica Artéria coronária Artéria renal Artéria gonádica Artéria ilíaca comum Artéria ilíaca interna Artéria ilíaca externa Artéria femoral Artéria poplítea Artéria tibial anterior Artéria tibial posterior Arco dorsal Artéria braquial Artéria radial Artérias digitais Artéria ulnar Palmar profunda Palmar super�cial Artéria mesentérica superior Artéria mesentérica inferior Tronco celíaco: Artéria esplênica Artéria gástrica esquerda Veias provenientes da parte superior do corpo Veia cava superior Aorta Rins Pernas Cabeça e braços Artérias para a parte superior do corpo Artéria pulmonar Veia porta Veias hepáticas Veia cava inferior Veias provenientes da parte inferior do corpo Artérias para a parte inferior do corpo Canal alimentar Átrio esquerdo Artéria hepática Ventrículo direito Ventrículo esquerdo Átrio direito Veia pulmonar Pulmão Pulmão 56 Sistemas Fornecedores de Oxigênio: Sistema Cardiovascular e Respiratório Ciclo Cardíaco O ciclo cardíaco refere-se ao padrão repetitivo de contração e relaxamento do coração. A fase de contração é denominada sístole e o período de relaxamento é chamado de diástole. Átrios e ventrículos se contraem e relaxam. A contra- ção atrial ocorre durante a diástole ventricular, enquanto o relaxamento atrial ocorre durante a sístole ventricular. O coração, portanto, exibe uma ação de bombeamento em duas etapas: pri- meiro, os átrios contraem-se juntos, esvaziando o sangue atrial dentro dos ventrículos e, num se- gundo momento (cerca de 0,1s após a contração atrial), os ventrículos contraem-se e distribuem o sangue para dentro dos circuitos sistêmico e pulmonar. Em repouso, a contração ventricular durante a sístole ejeta cerca de 2/3 do sangue contido nos ventrículos, deixando cerca de 1/3 Sístole Sístole Diástole Diástole 0,5 segundo0,3 segundo 0,13 segundo0,2 segundo Repouso Frequência cardíaca = 75 bpm Exercício intenso Frequência cardíaca = 180 bpm Figura 4 - Tempo do ciclo cardíaco em repouso e exercício Fonte: Powers e Howley (2014, p. 194). ainda nos ventrículos. Esses, então, enchem-se de sangue durante a diástole seguinte (POWERS; HOWLEY, 2014). Para termos uma noção do tempo necessário para realização de cada ciclo, se apresentarmos uma frequência cardíaca de 75 batimentos por minuto, isso significa que o ciclo cardíaco total terá uma duração de 0,8 segundos (60s dividi- do por 75 batimentos), sendo que 0,5 segundos corresponderá à diástole e 0,3 segundos à sístole. Se os batimentos por minuto aumentarem (por exemplo, para cerca de 180 batimentos por mi- nuto), observa-se uma redução no tempo total de cada ciclo cardíaco que, em especial, sofrerá di- minuição no tempo de diástole (a diminuição no tempo da sístole é menor) (Figura 4) (POWERS; HOWLEY, 2014). Durante o ciclo cardíaco também ocorre alteração de pressão dentro das câmaras. De uma forma geral, sabemos que o fluxo sanguíneo sempre se direciona de um ambiente de maior pressão para um ambiente de menor pressão. Desta forma, quando os átrios estão relaxados, a pressão em seu interior é baixa, o que possibilita a entrada de sangue a partir do sistema venoso. Conforme vai se enchendo, sua pressão aumenta e torna-se superior à pressão nos ventrículos, momento que o sangue direciona-se para esta câmara. Conforme o sangue vai se direcionando para os ventrículos, a pressão ali vai aumen- tando também, o que direcionará o sangue para as artérias (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). 57UNIDADE 2 Pressão arterial O sangue exerce pressão ao longo de todo o sis- tema vascular, contudo esta pressão é mais in- tensa junto às artérias, onde, em geral, é medida. Logo, a pressão arterial consiste na força exercida pelo sangue contra a parede das artérias, sendo influenciada pelos seguintes fatores: a) volume sanguíneo; b) frequência cardíaca; c) volume de ejeção; d) resistência vascular periférica; e) visco- sidade sanguínea. Todos os fatores são diretamen- te proporcionais aos valores da pressão arterial, ou seja, um aumento em qualquer um destes levará a um aumento na pressão arterial e uma redução em qualquer um destes levará a uma queda na pressão arterial (HALL, 2011). A pressão arterial pode ser estimada com o uso de um esfigmomanômetro. A pressão arterial normal de um homem adulto é de 120/80 mmHg (milímetros de mercúrio), enquanto a pressão de mulheres tende a ser um pouco mais baixa (110/70 mmHg). O número maior, em geral, re- fere-se à pressão arterial sistólica, sendo a pres- são gerada durante a sístole ventricular. Durante o relaxamento ventricular (diástole), a pressão arterial diminui e representa a pressão arterial diastólica (geralmente o valor mais baixo) (PO- WERS; HOWLEY, 2014). Ao longo de um dia, a pressão arterial não per- manece igual, ou seja, ela apresenta oscilações de acordo com os eventos passados nas 24 horas. Sendo assim, como essas oscilações ocorrem? Conforme visto anteriormente, a pressão arte- rial é dependente de cinco fatores e variações, em qualquer um deles resultará em modificações na pressão. Porém, esta pressão não pode perma- necer alta ou baixa durante todo o tempo. Para tanto, apresentamos mecanismos de regulação da pressão arterial, denominados de mecanismos de regulação aguda (curto prazo) e de regulação a longo prazo. A regulação a curto prazo é realizada pelo sistema nervoso simpático e, de uma forma re- sumida, ocorre da seguinte maneira: uma queda na pressão arterial (que pode ocorrer durante um quadro de desidratação, por exemplo, devido à diminuição do volume sanguíneo associada) será sinalizada ao sistema nervoso central que ativará o sistema nervoso simpático, aumentando a fre- quência cardíaca, a força de contração do coração (aumentando o volume de ejeção) e a resistência vascular periférica, resultando no aumento
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