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OBSOLESCÊNCIA E MORTE DE LÍNGUA INTRODUÇÃ O A língua não é um ser vivo, ela pode ser comparada à um parasita que se deteriora ou morre conforme seu hospedeiro. A obsolescência da língua é um resultado do contato entre diferentes línguas que se modificam. “Línguas minoritárias são sufocadas por idiomas maiores”, explica o linguista americano David Harrison, em When Languages Die (“Quando Línguas Morrem”, sem edição no Brasil). Apenas uma centena das línguas do planeta são gigantes, numa lista encabeçada por chinês, espanhol, inglês, hindu e árabe. A AUSÊNCIA DE FALANTES Causa 1: A população deixa de falar uma língua para falar outra, geralmente de um grupo dominante. Causa 2: Quando um povo se desloca para uma região onde já existe uma língua e cultura dominante. Causa 3: Acontece quando o grupo de falantes da língua desaparece. Mufwene (2005) diz que para que uma língua seja considerada viva deve existir ao menos um falante enquanto o autor, Hildo Honório do Couto, alega que deve existir dois, pois a língua, primeiramente, é um instrumento de comunicação. CARACTERÍST ICAS DO PROCESSO Para Jane Hill a língua que não é usada com frequência, por poucas pessoas ou poucas funções, está em obsolescência. Uma língua é moribunda quando nenhuma criança a fala. Acrescenta-se ainda o conceito de língua agonizante quando não há mais crianças falantes e seus últimos falantes já são idosos. Pessoas que adquirem a língua nestas condições são chamadas semifalantes (Nancy Dorian, Hill, 2001: 176-177). CARACTERÍST ICAS DO PROCESSO Há também línguas consideradas mumificadas, que são o caso do latim, sânscrito e árabe clássico, posto que seus usos são subsidiários, ou seja, usados apenas em algumas funções, sobretudo de caráter religioso, e não em interações comunicativas cotidianas. PROCESSOS DE OBSOLESCÊ NCIA Domínios funcionais: se refere a quando a língua é usada em ocasiões e com indivíduos determinados, assim existem menos pessoas para os quais se fala, menos assuntos para se falar e locais oportunos. Erosão no discurso: Abrange os assuntos e os registros, por um lado, certas línguas não possuem palavras que denominam certos assuntos, ou seja, acabam por emprestá-las de outras, por outro lado os registros em línguas obsolescentes carecem de gênero. PROCESSOS DE OBSOLESCÊ NCIA Erosão na sintaxe: comumente para de se usar sentenças complexas, como por exemplo oração subordinada, orações relativas e outras. Erosão na morfologia: os processos morfológicos irregulares que são geralmente substituídos pelos regulares (alguns dos irregulares permanecem sendo utilizados de forma congelada). A EROSÃO DO LÉXICO Erosão no léxico: se refere a perda de palavras de uma língua. Os linguistas consideram este o maior símbolo da decadência de uma língua. Algumas línguas substituem seu léxico mas continuam com sua gramática, processo chamado de relexificação. Enquanto outras, em um processo menos comum chamado regramaticalização (ou reestruturação), substituem sua gramática permanecendo com parte de seu léxico. Neste último, o léxico sobrevive até se tornar apenas um pequeno grupo de palavras ainda usadas na língua dominantes. Muitas vezes, a perda do léxico começa por denominações mais específicas, como o vocabulário da fauna e da flora. ESTATÍSTICA S Segundo Krauss (1992) o total de línguas no mundo seria aproximadamente 6 mil. Apesar de haver números conflitantes, a distribuição do autor é a seguinte: nas Américas são faladas 900 línguas, ou seja, 15% do total. Na Europa e Oriente Próximo, juntos, existiriam 275 (4,58%). Na África, o total de línguas se aproxima de 1,9 mil (31,5%). No Pacifico, elas seriam 3 mil (50%). Das 6 mil línguas, 300 são faladas por 95% da população mundial. Ou seja, grande parte delas está ameaçado de extinção. Aproximadamente 50% das línguas são moribundas, o que significa que em breve 3 mil desaparecerão. CONSEQUÊ NCIAS Para Jane Hill, a perda linguística implica não apenas o desligamento da cultura tradicional, mas também em consequências para a identidade dos indivíduos e sua autoestima. O desaparecimento das línguas tem sido comparado com o desaparecimento das espécies biológicas, porque quanto mais diversidade de espécies existir em um ecossistema, mais rico ele é, do mesmo modo, as diferentes línguas contribuem para riqueza cultural. A imposição de algumas línguas sobre outras faz com que a cultura se torne, também, padronizada. Alguns defensores da globalização alegam que, em geral, são os próprios falantes que abrem mão de sua língua por outra, para que possam ter mais oportunidades. No entanto, realmente o fazem espontaneamente? Ou por motivos socioeconômicos que os obrigam? Abdicariam de sua cultura e língua própria se fosse lhes dado a chance de escolher? MORTE DIALETAL A morte de dialeto também é uma perda cultural e linguística, também representa o empobrecimento. Se não existissem os dialetos rurais, João Guimarães Rosa não poderia ter escrito Grande sertão: veredas como escreveu. Mas infelizmente o Brasil está perdendo muitos traços dialetais em prol do padrão linguístico Rio-São Paulo, em grande parte por conta da televisão. LIBRAS É importante dizer também que existe uma língua que, ao contrário do que estamos tratando, vem crescendo e ganhando espaço: a libras. Graças à multiplicação de associações de surdos, nas quais eles têm oportunidade de aprender essa língua, além de cursos em e sobre ela nas universidades, a libras tem alcançado cada vez mais falantes. FONTES